Mario Sabino
Metrópoles
Foi um divertimento acompanhar a cobertura jornalística sobre a derrota nas eleições municipais do PT e adjacências, consagrada com os resultados do segundo turno. Os comentaristas televisivos estavam especialmente aparvalhados com o tamanho do fracasso de Guilherme Boulos em São Paulo.
Na sua falta de rumo, enfatizavam a derrota do bolsonarismo raiz nas capitais para uma direita fofinha, todos em busca de um empate menos desonroso para o lulismo.
FALSO EMPATE – No embalo para proclamar o empate, já se foi decretando o fim da polarização ou o início do seu fim, vá lá, como se houvesse possibilidade de o PT não vir a radicalizar na eleição presidencial e definir qualquer adversário — qualquer um, repita-se — como fascista, extremista de direita, racista, entreguista, vendido, neoliberal perverso, representante das elites exploradoras do povo e delicadezas que tais.
Lembrem-se, amiguinhos, de que foi o PT a disseminar o rancor do “nós contra eles”, e isso foi bem antes da ascensão de Jair Bolsonaro, quando o seu principal oponente era aquele Mussolini chamado Fernando Henrique Cardoso. Os bolsonaristas toparam o jogo e cresceram nele.
O PT é um partido de extrema esquerda eleitoral, que difere pouco da extrema direita eleitoral.
GELEIA GERAL – Muito radical nas campanhas e, uma vez no poder, disposto a se compor com os exploradores do povo, porque o patrimonialismo sempre fala mais alto, não importa o sinal ideológico, e o sistema político brasileiro é o da geleia geral.
Ainda bem, porque o pior é quando o PT encontra um jeito de aplicar um pedacinho do seu programa. O dado tão pitoresco quanto revelador é que os mesmos comentaristas que decretaram o fim da polarização ou o início do seu fim, vá lá, já começaram a pintar Tarcísio de Freitas, grande vencedor em São Paulo e provável candidato da direita ao Palácio do Planalto, em 2026, com as tintas escuras de bolsonarista raiz.
Os comentaristas estão em sintonia com o PT, que nunca deixou de considerá-lo dessa forma, haja vista uma entrevista recente de Fernando Haddad à Folha de S.Paulo.
VOTO DO PCC – Como é que Tarcísio de Freitas pode ter voltado a ser bolsonarista raiz, se pouco antes era tido como um dos fofinhos que derrotaram Jair Bolsonaro?
É que ele disse, com as urnas ainda abertas para votação, que a inteligência da administração penitenciária havia interceptado um “salve” do PCC que orientava o voto em Guilherme Boulos.
Escândalo para os acusadores! Tarcísio de Freitas “rasgou a fantasia”, revelou ser como o seu padrinho político e, assim, joga sujo, não tem escrúpulos, divulga fake news, cometeu crime eleitoral — como se o PT e Guilherme Boulos houvessem mostrado melindre ao repetir continuamente, sem provas, que Ricardo Nunes estava no bolso do PCC e que o candidato apoiado por Tarcísio de Freitas era representante dos espancadores de mulheres.
LIVE COM MARÇAL – Isso tudo, para não falar da live derradeira de Guilherme Boulos com Pablo Marçal, capítulo curto, mas empolgante, da história paulista da infâmia.
Tudo de uma conveniência ululante. “Não deixe a polarização morrer, não deixe a polarização acabar, o PT foi feito de polarização, de polarização para gente polarizar”.
Esse é o samba de uma nota só do PT e da imprensa imparcial que o apoia.
Polarização chancelada por um eleitorado bobo.