Internação de Lula expõe fragilidades e anomalias nas relações de poder

Ton Molina/Getty Images

Alckmin é um vice-presidente que jamais assume

Bruno Boghossian
Folha

A cirurgia que deve tirar Lula de campo até a próxima semana exibe sintomas agudos de deformações conhecidas do governo e das relações de poder no país. A internação do presidente não oferece um grande risco político imediato, mas expõe anomalias institucionais e fragilidades domésticas da gestão petista.

A concentração da autoridade política nas mãos de Lula é a marca mais cantada deste mandato. Não é uma grande deformação para os padrões do presidencialismo brasileiro, mas essa característica condicionou toda a estrutura do poder a uma dependência acentuada da porta para dentro e da porta para fora.

GASTOS PÚBLICOS – A coincidência da internação com a corrida acelerada para a aprovação do ajuste fiscal mostra o quanto Lula precisa de Lula. Ainda que o presidente esteja disposto a despachar do hospital, o momento politicamente delicado é um lembrete de que parte da influência do petista está ancorada em seus gestos públicos e conversas reservadas em Brasília.

Nenhum ministro de Lula teve disposição ou força para adoçar o remédio amargo da contenção de gastos em dois setores cruciais para a deglutição do pacote: a base social do governo e o PT.

Até aqui, o presidente não puxou para seu colo o desgaste das medidas, mas auxiliares avaliavam que só ele teria condições de cumprir a missão. No hospital, seu alcance fica limitado por alguns dias.

DISTORÇÃO NÍTIDA – Dentro dos palácios, a distorção é ainda mais nítida. Horas antes da internação, o próprio Lula precisou endossar um acordo de liberação de emendas para tentar destravar a votação do pacote num Congresso que nunca considerou suficiente a palavra de ministros destacados pelo petista.

A aberração política aparece na forma de uma chantagem que só funciona quando é apresentada diretamente ao presidente.

O tamanho dos eventuais prejuízos da ausência parcial de Lula ainda será medido. Os possíveis efeitos de curto prazo na operação política do governo, porém, são mais palpáveis do que as precoces especulações sobre 2026 e a sucessão do petista. Considerada a previsão dos médicos de uma boa recuperação, tudo indica que essa questão também dependerá mais do próprio Lula do que de outros personagens.

6 thoughts on “Internação de Lula expõe fragilidades e anomalias nas relações de poder

  1. Lula disse em Pernambuco , antes de passar mal, que “até dava vontade de ficar doente, só para ser atendido por unidade pública de saúde”, Acabou no Hospital Português, que é privado e um dos melhores do Brasil..”..

    “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como informam todos os sites noticiosos e não precisa ser repetido em detalhes aqui, já está bem, devidamente monitorado por aquilo que de melhor a medicina pode oferecer no mundo, “…

    Por Reinaldo Azevedo

    https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/lula-disse-em-pernambuco-antes-de-passar-mal-que-8220-ate-dava-vontade-de-ficar-doente-8221-so-para-ser-atendido-por-unidade-publica-de-saude-acabou-no-hospital-portugues-que-e-privado-e-um-dos-melhor

  2. Alckmin não seria refém do PT em eventual nova circunstância

    É importante lembrar nesse momento que o compromisso político de Alckmin com o presidente Lula é de cunho puramente pessoal, e que esse acordo entre ambos não chegaria nem à Janja, e muito menos ao pessoal do PT, isso desde a sua inclusão como candidato a vice na chapa presidencial.

    E, assim sendo, Alckmin manteria até aqui uma aparente convivência política com o ora fraco PT, por ser ‘protegido’ pessoal de Lula, digamos assim.

    Lembrando ainda que o vice-presidente apoiou a candidata Tabata Amaral, do PSB, para prefeita de São Paulo.

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