Pedro do Coutto
A disparada do dólar levou o Banco Central a anunciar que faria na manhã de ontem um leilão de venda da moeda americana à vista no valor de até US$ 3 bilhões. O anúncio veio após o encerramento de um pregão em que o dólar disparou 2,78%, fechando em novo recorde de R$ 6,2679.
O BC interrompeu nesta quarta uma série de quatro sessões seguidas de intervenções em que inundou o mercado com mais de US$ 12,75 bilhão, em operações à vista e também em leilões de linha, em que a autarquia empresta dólares ao mercado com o compromisso de recompra.
TENSÃO – A cotação do dólar não cedeu no período, com o mercado sinalizando nervosismo crescente com o cenário para as contas públicas em meio a esforços do governo para aprovar até o final do ano legislativo os três projetos de contenção de despesas que compõem o pacote fiscal anunciado no final de novembro. Ainda na tarde de quarta-feira, o real levou novo baque com o anúncio do Federal Reserve (Fed) de que pretende desacelerar seu ritmo de afrouxamento monetário, após anunciar novo corte na taxa básica de juros dos EUA de 0,25 ponto percentual, como amplamente esperado.
Várias são as causas apontadas para a alta do dólar. Uma delas é a incerteza quanto ao pacote do governo. Outra é a subida dos juros no mercado americano. E a terceira é a redução que a Câmara fez dos gastos obrigatórios ao lado da elevação do fundo partidário, algo inexplicável, uma vez que a intenção é cortar gastos.
Falta confiança do mercado quanto às ações do ministro Fernando Haddad, e isso é um ponto fatal para o governo. A Câmara dos Deputados, por outro lado, reduziu a percentagem de corte nas despesas oficiais e adiou a votação do pacote fiscal para ontem. A crise parece ser de confiança. O mercado não crê nas ações do governo, e daí porque surge uma corrida para o dólar a fim de assegurar o valor das transações no país na base da moeda internacional.
APROVAÇÃO – Na tarde de ontem, a Câmara dos Deputados finalmente aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria novas regras para o abono salarial e prorroga a desvinculação de receitas da União, que libera recursos alocados anteriormente em outras áreas. O texto, que seguirá para o Senado, foi aprovado em dois turnos, durante sessão com baixa presença física de parlamentares.
Para elevar a chance de aprovação, depois de adiar a análise na noite de quarta, o presidente da Casa, Arthur Lira, flexibilizou a presença, permitindo registro remoto. A medida subiu o quórum da Casa, com 503 deputados presentes. Os deputados também acordaram, no 1º turno, excluir um trecho que tratava do Benefício de Prestação Continuada (BPC). As mudanças relativas ao BPC serão discutidas em um projeto de lei.
A PEC compõe o pacote de ajuste fiscal enviado pelo Ministério da Fazenda ao Congresso para equilibrar as contas públicas. Um outro texto, que cria “gatilhos” para frear despesas, foi aprovado pelos deputados nesta quarta. O mercado acompanha de perto as movimentações no Parlamento. O temor de que a contenção de despesas seja insuficiente, o que tem levado à queda na Bolsa de Valores e à alta na cotação do dólar.
Segundo um economista francês e também outro grego (que escreveu um livro sobre esse conceito), hoje o capitalismo é outra coisa. Eles o chamam de tecnofeudalismo. O rentismo tomou conta do mundo.
E só o Brasil está sofrendo desvalorização da moeda, fazendo o BC vender dólares para defendê-la?
https://www.infomoney.com.br/economia/guinada-hawkish-do-fed-faz-com-que-mercados-emergentes-corram-para-salvar-suas-moedas/