O que a direita brasileira tem a aprender com o ex-socialista Emmanuel Macron

Macron nomeia primeiro-ministro mais jovem da França para relançar seu mandato - Folha PE

Novo premier de Macron é Gabriel Attal, de apenas 34 anos

Mario Sabino
Metrópoles

Para enfrentar a direita populista de Marine Le Pen nas eleições europeias que ocorrerão em junho, o presidente da França, Emmanuel Macron, virou mais à direita. É o primeiro teste para a eleição presidencial de 2027.

O presidente francês trocou de primeiro-ministro. Saiu a senhorinha Elisabeth Borne, com jeito de professora universitária, e entrou Gabriel Attal, de apenas 34 anos, gay assumido, loquaz, hiperativo e representante da elite parisiense da margem esquerda do Sena. Deve ser o sucessor de Emmanuel Macron, se os planos do presidente francês derem certo.

ESQUERDA CAVIAR – Além da juventude e do estilo engomadinho, Gabriel Attal tem outra semelhança com Emmanuel Macron: era do Partido Socialista, meio esquerda caviar (sabe fingir, portanto, que gosta de pobre) e migrou para o liberalismo de centro-direita. Eu ia escrever “evoluiu”, mas achei que era demais para a sensibilidade de alguns leitores desta coluna.

Gabriel Attal já fez a reforma ministerial projetada pelo chefe e deu mais pastas à direita. Por exemplo: o Ministério da Cultura, que na França é coisa muito séria, visto que eles têm cultura, foi para Rachida Dati, adversária figadal e renal da socialista Anne Hidalgo, a pior prefeita que Paris já teve.

Rachida Dati quer ser prefeita da capital francesa e, como ministra, deverá azucrinar ainda mais Anne Hidalgo até a próxima eleição municipal. Como Rachida Dati esticou o olho para mim em uma entrevista coletiva de infelizmente contáveis anos atrás (estou lustrando o ego que anda meio opaco), torcerei por ela, apesar de não ser mais morador de Paris. Vou até fingir que esqueci os dinheiros suspeitos que Rachida Dati embolsou quando era eurodeputada.

CONTRA LE PEN – Eu ia dizendo que Emmanuel Macron virou mais à direita para enfrentar Marine Le Pen, com a qual polariza há sete anos. Ele não só nomeou gente que embrulha os estômagos delicados da esquerda, como também levou adiante causas da direita populista — por exemplo, a de ter rigor contra a imigração ilegal.

Os políticos de esquerda espernearam contra a nova lei, a imprensa de esquerda reclamou, a universidade chorou, mas a esmagadora maioria dos franceses aprovou.

É uma estratégia inteligente. Depois de praticamente liquidar os socialistas, restringindo a gauche ao campo populista de Jean-Luc Mélenchon, stalinista antissemita que é amigão de Lula, o presidente francês tenta esvaziar o partido de Marine Le Pen da sua própria pauta, abraçando-a de modo mais ou menos atenuado. Ordem, segurança, autoridade: a pauta populista é cada vez mais popular.

A DIREITA AVANÇA – Não apenas na França. Emmanuel Macron também observa o que acontece na vizinhança do seu país. A ascensão da direita mais extrema na Europa Ocidental é um fato, e ele antecipa-se para evitar que a França siga o mesmo caminho, o que poderia levar à derrocada do prêt-à-porter macronista.

A direita brasileira tem um bocado a aprender com o presidente francês. A lição, em resumo, é a de que é preciso ouvir vozes que vêm do outro lado da rua. Aqui no Brasil, como a polarização é à l’ancienne, trata-se de esvaziar a esquerda, virando um pouco à esquerda em certos temas, que na bússola bolsonarista não chega perto da centro-direita.

Sob o populista Jair Bolsonaro, o discurso da direita que se pretende liberal ficou truculento, raivoso, sem concessões. Não dá. Brasileiro é carente em mais de um sentido, quer sempre de volta o amor que ele nunca teve volte.

7 thoughts on “O que a direita brasileira tem a aprender com o ex-socialista Emmanuel Macron

  1. Gay assumido ? Independentemente de ser assumido ou não (Álvaro, candidato no RJ), parece que os progressistas definirão esta – digamos – qualidade como pré-requisito para se lançar qualquer candidatura.

  2. Poderia aprender que essa direita em crescimento na Europa é nacionalista. Lacron por exemplo estatizou a EDF em 2022, a Eletrobras francesa, alegando razões estratégicas, enquanto na parte debaixo do Equador a direitinha entreguista tem aversão a tudo que for nacional.

    • Pois é, caro Rafael Santos. O autor fala em liberalismo do centro -direita. Mas isso quer dizer o quê? Em economia, principalmente, parece que não há muito liberalismo, talvez seja mais próximo de um fascismo ligth, o que parece ser a preferência da maioria, inclusive dos brasileiros.

  3. A esquerda tem um nome, um só mais já é suficiente, a direita não tem nenhum, ou tem muitos e quem tem muitos não tem nenhum. O imbrochável ainda tem um bando andando atrás dele, mas este bando não é suficiente para reconduzi-lo novamente ao trono do Planalto. E as demais “lideranças” da direita ou do centro também não tem força para emplacar ninguém. À esquerda está nadando de braçada no momento, a direita e o centro ainda não pararam de bater cabeça, mas se pararem e derem as mãos, bye bye esquerda.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *