Mario Sabino
Metrópoles
Na estimulante Era Pós-Lava Jato, uma discussão bizantina ocorre nas redes sociais sobre o Índice de Percepção da Corrupção, relatório anual da Transparência Internacional. No relativo a 2023, divulgado há dois dias, o Brasil perdeu dez posições em relação ao relatório anterior e hoje ocupa a 104ª posição entre 180 países. Em uma escala de notas de 0 a 100, tiramos 36. Para se ter ideia, a Dinamarca, líder em honestidade, obteve 90.
Desde a divulgação, petistas e bolsonaristas tentam jogar a culpa para o campo adversário. Há também quem procure tirar a credibilidade do índice, dizendo que a metodologia é falha, porque os países do ranking medem a percepção de corrupção com termômetros diferentes.
CORRUPÇÃO LIVRE – Senhoras e senhores, não nos enganemos, por favor: com metodologia falha ou não, qualquer cidadão com um mínimo de lucidez percebe que a corrupção piorou no país. Basta ler o noticiário. Qualquer cidadão com um mínimo de lucidez sabe também que a culpa é de petistas e bolsonaristas. Está no relatório, aliás.
Com a prestimosa ajuda das instituições-que-estão-funcionando, ambos os lados “enfrentaram a Lava Jato”, e as instituições-que-estão-funcionando agora completam o serviço para deixar tudo como sempre foi e até melhor do que jamais foi.
Veja-se o caso do ministro Dias Toffoli. Na esteira da anulação das provas do acordo de leniência da Odebrecht e de suspender a multa de R$ 10,3 bilhões da J&F, o ministro suspendeu os pagamentos do acordo de 3,8 bilhões de reais da empreiteira.
“PLANO” DOS EUA – Nos Estados Unidos, onde a empreiteira também fez lambanças, o Departamento de Justiça referiu-se à Odebrecht como protagonista do “maior caso de suborno estrangeiro da história”. Mas, você sabe como é, a Lava Jato foi arquitetada pelos americanos para criminalizar Lula e o PT, afundar a Petrobras e roubar o nosso petróleo.
Dentro em breve, as instituições-que-estão-funcionando devem cassar o mandato do senador Sergio Moro, se o plano do PL de Jair Bolsonaro e do PT de Luiz Inácio correr como o previsto. Será a chave de ouro do “enfrentamento à Lava Jato”: dar uma lição ao ex-juiz da operação e tirar os seus direitos políticos por 8 anos. Assim, é imperioso o Brasil cair ainda mais no ranking da Transparência Internacional. O nosso potencial ainda não foi inteiramente explorado.
APENAS UM DESVIO – Uma última constatação, por favor: a percepção de que a corrupção aumentou não significa que os cidadãos do país estejam preocupados com o problema. A maioria não está nem aí. Acha contingência inevitável e até desejável, se sobrarem uns trocados.
Aquela história de prender corrupto poderoso foi um desvio da alma nacional devidamente corrigido pelas instituições-que-estão-funcionando.
No fundo e na superfície, quem “enfrentou a Lava Jato” foi o povo brasileiro.
Pois é. O artigo mostra o Brasil real em que a máxima e unica razao de vida é ” se dar bem” seja qual for o método ou associação.
Qualquer um que se mostre disposto a denunciar, romper e maximo pecado, combater esta combinação e vitima de ações em atos sucessivos.
Primeiro ignorar
Depois ridicularizar
Depois usar e aplaudir os amigos de sempre da imprensa para primeiro mostrar as ligagoes escusas do denunciante.
Se nao der certo começarão as teses da fragilidade e ridicularizacao das denúncias e provas apresentadas
Depois a classe politica, sempre zelosa das instituicoes democraticas comece a se movimentar e de-lhe discursos enviesados, obviamente amplificados pela midia vigilante.
Se nao for suficiente, sempre havera o recurso da moralizadora CPI
Se tudo falhar, a espada da justica entrará em cena e sem escrupulos decapitara todos os que ousaram desafiar o sistema, mesmo que sejam membros inatacaveis da propria justica
E o povo?
Ora assistira entre maravilhado combo fim destes agitadores ou bestificado como sempre e os caras de pau ( maioria??) aliviados pois o seu sonho eterno de ” se dar bem ” poderá um dia ser realizado.
Este é o retrato da moral e etica brasileiras
Parabéns pelo artigo