Abin apresentou relatório responsabilizando Ministério da Justiça e GSI pelo 8 de janeiro

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Marcela Mattos
Veja

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é fonte de intriga e desconfiança desde o início do governo Lula. Após a eleição, a Polícia Federal, por ordem de Andrei Rodrigues, que viraria o diretor-geral da corporação, fez uma série de ações para isolar os servidores da agência. Eles tiveram, por exemplo, o acesso bloqueado à sede do governo de transição, onde as principais balizas do novo mandato eram decididas. Também foram recusados os computadores cedidos pelo órgão e até mesmo a rede de internet foi alterada.

A suspeita, desde então, era a de que haveria algum tipo de espionagem contra os petistas por parte dos agentes de inteligência, à época vinculados ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), então comandado pelo general Augusto Heleno.

ROTA DE COLISÃO – Ao assumir a cadeira presidencial, Lula tirou a Abin do guarda-chuva do GSI, transferindo-a para a Casa Civil – ou seja, para o braço-forte do Palácio do Planalto. O movimento, no entanto, não foi suficiente para pacificar as relações.

A PF e a Abin sempre estiveram em rota de colisão, principalmente pelo fato de o chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, ter mantido em postos de confiança pessoas que eram consideradas ligadas a Jair Bolsonaro e a Alexandre Ramagem.

Um dos alvos de suspeição, desde o início, era Alessandro Moretti, que acabou demitido por Lula na última terça-feira, dia 30.  Pessoas influentes do governo, como o então ministro da Justiça Flávio Dino, tentaram uma espécie de intervenção para barrar o número 2 da agência, que foi braço-direito de Anderson Torres, ministro de Bolsonaro, na secretaria de Segurança do Distrito Federal. Lula, no entanto, dizia que havia dado carta branca a Corrêa para montar a sua equipe e não iria interferir nas escolhas.

CLIMA BELICOSO – Um episódio ocorrido na Casa Civil no auge das investigações da CPMI sobre o 8 de janeiro ilustra o clima belicoso. No encontro, Moretti apresentou um relatório com potencial de trazer problemas ao governo – o documento indicava responsabilização do Ministério da Justiça e do então chefe do GSI, Gonçalves Dias, pelos atentados às sedes dos Três Poderes.

O parecer, portanto, dava ressonância à estratégia dos oposicionistas da CPMI, que acusavam o governo de ter sido negligente diante das ameaças de ataques obtidas por órgãos de inteligência na véspera.

Participantes da reunião, os ministros Rui Costa e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), e o então secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, se indignaram com o posicionamento e cobraram explicações do chefe da Abin. Eles viram, ali, justamente um jogo duplo da cúpula da agência para atingir Lula e seu governo.

LEALDADE A LULA – Luiz Fernando Corrêa reagiu: “Vocês estão duvidando da minha lealdade ao presidente?”, questionou. Ao fim, não se sabe se por lealdade ou por falta de embasamentos, o relatório acabou descartado – governistas, claro, dizem que o material era inócuo.

Não foi a primeira vez que materiais produzidos pela Abin foram contestados por governistas. Em conversas privadas, auxiliares de Lula chegaram a fazer chacota da qualidade dos documentos de inteligência.

Entregues lacrados e tarjados como ultraconfidenciais, os relatórios não costumam passar de um mero apanhado de reportagens jornalísticas, acompanhadas de alguns comentários.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O artigo de Marcela Mattos mostra os arapongas batendo cabeça na Abin, onde reina a esculhambação. É a repartição ideal para contratar o Inspetor Clouseau e a Pantera Cor-de-Rosa, não acham? (C.N.)

Inflação da comida, da picanha e da cerveja será um problema para Lula

Inflação de alimentos em tempos pandêmicos - Disparada

Estão previstos problemas climáticos neste início de ano

Bruno Boghossian
Folha

Poucas promessas de campanha eram consideradas tão sensíveis para a largada deste mandato de Lula como aquelas relacionadas ao preço da comida. A ideia de fartura na mesa foi uma das ferramentas mais exploradas pelos petistas para agitar uma base eleitoral de rendas baixa e média, crucial para a vitória sobre Jair Bolsonaro.

Não por acaso, o Planalto bateu bumbo quando os alimentos fecharam o primeiro ano de governo em deflação (-0,52%). Lançou um vídeo publicitário, torceu gráficos e tirou proveito de um quadro de aumento da safra, contenção de riscos externos e ampliação da disponibilidade de produtos como carne e leite.

PRINCIPAL ITEM – A percepção do eleitor sobre a economia é tradicionalmente o primeiro item de formação de opiniões sobre um governo. O preço dos alimentos, em particular, pode ser estratégico para garantir um colchão de apoio entre os mais pobres, mas também costuma ser um fator simbólico para controlar humores de segmentos menos simpáticos a um presidente.

O quadro explica a situação de alerta no governo para um trimestre bem mais difícil neste início de 2024.

A estiagem prevista para o Nordeste e as pancadas climáticas esperadas em outras regiões do país ameaçam lavouras e rebanhos, além de agravar o risco da fome em redutos já castigados pela pobreza.

MAIS INFLAÇÃO – O impacto sobre a economia é, por enquanto, alvo de prognósticos mais ou menos informados. Alguns analistas estimam que o preço da comida pode subir 4,5% neste ano. Não seria uma disparada, mas estaria acima das projeções gerais de inflação (3,8%) e — o pior do ponto de vista político — representaria uma baita reversão após a deflação de 2023.

Lula e seus auxiliares sempre apostaram que a economia seria uma maneira de romper a resistência de grupos como evangélicos e a fatia da classe média que aderiu ao bolsonarismo.

Qualquer notícia morna pode virar munição para mantê-los onde estão. O governo sabe que precisa de todos os bumbos que puder usar para penetrar nesses grupos.

Ramagem nega atuar na ‘Abin paralela’ e põe a culpa em ex-diretor que demitiu

O ex-diretor da ABIN sob Jair Bolsonaro e hoje deputado federal, Alexandre Ramagem

Ramagem culpa Fortunatoi, que ninguén consegue achar…

André Shalders
Estadão

Ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) no governo de Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem disse, em vídeo publicado no Instagram neste sábado, que nunca ordenou nenhum monitoramento de autoridades usando o sistema First Mile enquanto chefiou a agência.

O First Mile é um equipamento de espionagem que invade as redes das operadoras de telefonia para determinar a localização aproximada de um aparelho celular – e, por extensão, do seu proprietário. Em janeiro deste ano, a Polícia Federal (PF) chegou a cumprir mandado de busca e apreensão em endereços de Ramagem, por suspeita de uso ilegal da ABIN no monitoramento de adversários políticos da família Bolsonaro.

DIZ RAMAGEM – Na publicação do Instagram, Ramagem diz que nunca determinou nenhum monitoramento usando o First Mile e nem mandou apagar os logs (registros) de uso do sistema. Ele também afirma ter mandado fazer uma revisão geral dos processos e ferramentas da ABIN logo no começo da sua gestão, seguida de uma apuração específica sobre o uso do First Mile por parte do Departamento de Operações da agência.

Ramagem também diz, sem citá-lo nominalmente, que quem controlava o uso do First Mile à época era o ex-secretário de Planejamento e Gestão da agência, Paulo Maurício Fortunato Pinto. Ele foi exonerado do cargo em outubro do ano passado, após a PF apreender 171,8 mil dólares em dinheiro vivo na casa dele.

“Então, na gestão Lula, quem é que voltou para a alta administração da ABIN? A pessoa, o oficial de inteligência (Paulo Maurício Fortunato Pinto), que eu havia exonerado. Ele voltou numa posição superior. Na posição de Secretário de Planejamento e Gestão. A função que faz todas as averiguações”, diz ele.

APAGANDO OS REGISTROS – “Com base em notícias de operações da Polícia Federal, é ele quem tem suspeitas de estar apagando logs (registros). As notícias, quando cumpriram mandado de busca na casa dele, foi lá que encontraram 170 mil dólares (USD), quase R$ 1 milhão. Então, aqui você está verificando quem é a ABIN paralela”, diz Ramagem. Mas a reportagem do Estadão não conseguiu contato com Fortunato Pinto.

Nesta sexta-feira (03) veio a público uma lista de autoridades que teriam sido monitoradas de forma ilegal pela ABIN. A relação inclui ministros do Supremo Tribunal Federal, como Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes; ex-ministros do governo Bolsonaro, como Abraham Weintraub (Educação) e Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública); e congressistas, como o deputado Kim Kataguiri (União-SP) e os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), dentro vários outros. A PF não confirma a relação.

‘Marta que responda pelas contradições dela’, ironiza Valente, deputado do PSOL

Ivan Valente defende a proibição completa da prática de 'fracking', técnica  poluente de extração de gás | PSOL na Câmara

Ivan Valente abandonou o PT quando ocorreu o mensalão

Ramiro Brites
Veja

O deputado Ivan Valente não é a figura mais animada com a composição da chapa de seu colega de bancada Guilherme Boulos, que vai concorrer nas eleições de outubro. Valente deixou o PT, em protesto contra o mensalão, dez anos antes de Marta Suplicy fazer o mesmo, mas tomar o rumo oposto do parlamentar que adotou uma posição crítica à esquerda sobre o petismo. Valente é um dos fundadores do PSOL e Marta se filiou ao MDB.

“O prefeito é do meu partido. A escolha de vice era do PT e decidiram pela Marta. Ela que responda pelas contradições dela”, disse Valente.

Marta, que há poucas semanas estava na Secretaria de Relações Internacionais do prefeito Ricardo Nunes, adversário de Boulos nas eleições, apoiou publicamente o impeachment de Dilma e concorreu ao governo de SP pelo MDB.

SUPLICY NO PALCO – O ato de “renovação de votos” de Marta Suplicy com o PT, nove anos após deixar o partido, foi aberto pelo seu ex-marido Eduardo Suplicy, que cantou a música “Eu sei que vou te amar”, de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes.

O deputado estadual chegou a defender uma eleição prévia no PT para escolha do candidato da vice de Guilherme de Boulos, mas retirou a proposta de pauta em reunião do diretório paulistano do partido no início do ano.

A escolha partiu de cima e foi fruto de uma articulação de Lula com parlamentares petistas, como o ex-presidente da sigla Rui Falcão, e o atual marido de Marta, o empresário Márcio Toledo.

“Eu sei que vai doer…”, cantou Eduardo Suplicy aos 82 anos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É impressionante o amor declarado, assumido e demonstrado por Eduardo Suplicy à sua ex-mulher. Em abril de 2001, quando Marta resolveu se separar, ele tentou evitar de todas as formas, inclusive recorrendo aos três filhos. Como Marta ficou irredutível, Suplicy aceitou a separação, mas disse que a amaria pelo resto da vida. Duas décadas depois, Marta já se casou duas vezes, mas Suplicy continua solteiro. Ao cantar uma das músicas mais famosas da MPB, diante daquela plateia imensa, Suplicy confirmou que desesperadamente vai amar Marta por toda a sua vida, como dizia Vinicius de Moraes. (C.N.)

Joesley e Wesley iludiram (?) Dias Toffoli para anular a bilionária multa da J&F

Tribuna da Internet | Neste Natal, ninguém ganhou presentes como os irmãos Wesley e Joesley Batista

Wesley e Joesley Batista manobram nos bastidores do poder

Deu na “piauí “

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu na quinta-feira, dia 1º de fevereiro, a multa de 8,5 bilhões de reais da Novonor, o novo nome da antiga Odebrecht, aplicada no bojo do acordo de leniência que a empreiteira assinou em 2016. Na véspera do recesso judiciário em dezembro, Dias Toffoli tomou decisão semelhante e suspendeu a multa de 10,3 bilhões de reais da J&F, a holding dos irmãos Batista, também assinada no âmbito de um acordo de leniência. Pelo menos no caso da J&F, é certo que o ministro embarcou numa narrativa furada.

Toffoli aceitou o argumento do diretor jurídico da J&F, Francisco de Assis e Silva, segundo o qual a empresa só aceitou pagar a multa bilionária porque estava sendo pressionada por um conluio formado por procuradores e a ONG Transparência Internacional.

CONLUIO SINISTRO – O objetivo do conluio, diz o diretor jurídico, era sufocar a empresa com penalidades financeiras pesadas de modo a forçá-la a vender ativos importantes, como a empresa Eldorado, uma das maiores fábricas de papel e celulose do país.

Para embasar sua tese, o diretor jurídico Assis e Silva afirmou que diálogos da Vaza Jato revelavam a existência do conluio, selado entre procurador Anselmo Lopes, responsável pelas investigações sobre a J&F, e o empresário Josmar Verillo, acusado então de ser ligado à Transparência e à Paper Excellence.

Diz Assis e Silva: “O valor teratológico da multa contida na leniência forçou a venda de ativos, esse era o ‘preço’ da alforria imposta pela Lava Jato. Justamente para não perder tudo, houve a venda da Eldorado, venda esta que beneficiaria diretamente o empresário Josmar Verillo”.

TUDO CONVERSA FIADA – O que Assis e Silva não disse ao ministro Toffoli é que, antes de negociar a venda da Eldorado com a Paper, os irmãos Batista estavam prestes a vendê-la para a companhia Arauco, do Chile, que lhes ofereceu 13,2 bilhões de reais.

Mas, numa demonstração de que não se sentia pressionada para vender a Eldorado, a J&F deixou vencer o prazo da proposta chilena – porque a Paper havia aparecido com uma oferta melhor, de 15 bilhões de reais. Embora essa negociação com a Arauco seja conhecida, o ministro Toffoli, aparentemente, não a considerou relevante na sua decisão.

O diretor da J&F também não disse – e Toffoli também desconsiderou – é que o próprio Joesley Batista desmentiu a tese da pressão durante um depoimento prestado ao tribunal de arbitragem que analisava a venda da Eldorado. Joesley afirmou que a multa de 10,3 bilhões não foi o motivo que levou a J&F a vender ativos importantes, entre eles a Eldorado.

JOESLEY DESMENTE – No depoimento, ocorre o seguinte entre Joesley e o advogado da Paper Excellence, Maurício Ferro:

–  Senhor Batista, eu estou correto em assumir que esse processo de desinvestimento foi um movimento forçado do senhor em razão da multa imposta ao grupo no acordo de leniência? – pergunta o advogado.

–  Não, o senhor está errado – responde Joesley.

–  Eu estou errado? – insiste o advogado.

–  Isso – repete Joesley.

Até agora, não apareceu nenhum diálogo entre Anselmo Lopes e Josmar Verillo nas comunicações da Vaza Jato.

MAIS DESMENTIDOS – O procurador escreveu uma manifestação a Toffoli rebatendo a acusação do conluio e alegando que sequer conhecia Verillo. Além disso, ao contrário do que dizia a ação da J&F, Verillo não era da Transparência e só foi contratado pela Paper Excellence em agosto de 2018, um ano depois da assinatura do acordo de leniência.

A alegação da J&F apresentada a Toffoli, portanto, é um cipoal de contradições. A suspensão da multa é um dos capítulos do litígio entre a Paper Excellence e os Batista. O caso envolve cifras bilionárias, espionagem, ameaça de morte, golpes e contragolpes, orgulho, ganância e até questões de soberania nacional.

Durante cinco meses, o repórter Breno Pires investigou a fundo o caso, que também mostra que o governo Lula voltou a apoiar o grupo J&F, Arthur Lira tentou ajudar os irmãos Batista na Câmara e até a OAB tomou o lado da holding dos irmãos na disputa bilionária.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Demolidora a reportagem da revista Piauí, enviada pelo sempre atento José Guilherme Schossland. A matéria do repórter Breno Pires exibe às escâncaras a falta de base jurídica da decisão vexaminosa de Dias Toffoli, que realmente está enfiando a imagem do Supremo na lata do lixo. É lamentável. (C.N.)

Este momento de exceção é estratégico para garantir a aplicação da lei no país

Dino e Moraes lutam pela manutenção da segurança nacional

Janio de Freitas
Poder360

Segurança pública, assim anunciada pelo ministro Ricardo Lewandowski como sua prioridade no Ministério da Justiça, é uma ideia imprecisa em uma expressão pretensiosa. O uso mais comum dessa expressão quer significar, mais ou menos, a liberdade de ir, vir e estar, sem o risco de ser vítima de importunação ou ato criminoso, em qualquer forma.

Aí se incluem problemas graves de polícias, de justiça, de discriminações e outros. A essa ideia mais difundida é que a referência de Lewandowski conduziu.

PROBLEMAS GRAVES – Para o momento brasileiro, como prioridade é pouco. Mesmo que seja a preocupação maior da população entre as novas responsabilidades de Lewandowski.

As revelações recentes sobre um sistema de espionagens ilegais da Abin, visando a magistrados e opositores ao golpismo, relembram o quanto Bolsonaro e seus fascistóides avançaram na degradação das instituições democráticas.

Logo, advertem para o quanto há por investigar nos subterrâneos do governo passado ainda pouco ou nada iluminados, e são muitos. Sem esquecer que a corrupção espera por sua vez.

FORA DA HISTÓRIA – Poucos perceberam que em 2023 o Brasil viveu um ano fora da história. O presidente Lula, ao escolher o ministro Flávio Dino e dar-lhe autoridade institucional, e o ministro Alexandre de Moraes, pelo Supremo, criaram um Poder sem precedente no Brasil: o Poder decidido a cumprir a Lei com sua aplicação aos que transgrediram criminalmente a Constituição Democrática.

Este momento de exceção está em aberto. Ao país, de hoje e de amanhã, convém aproveitá-lo, como prioridade absoluta. Inclusive pela expectativa é de que a ação contra os transgressores da legalidade institucional projete alguns efeitos restritivos em outros transgressores. Senão por aprendizado, por temor à ordem legal.

MELHORES RESULTADOS – Sem restrição alguma ao ministro Lewandowski, muito ao contrário, nem aos assessores escolhidos, a saída de Flávio Dino e sua linha de ação interrompe um processo que dava os melhores resultados, mesmo nas circunstâncias mais adversas.

A Flávio Dino e seu vice Ricardo Cappelli deve-se um dos dois ou três lances que decidiram o 8 de Janeiro. Políticas de segurança pública e de defesa das instituições democráticas não se excluem. Tanto que o novo ministro encontrará sugestões esboçadas pelo antecessor para um serviço único de segurança, um conselho nacional de polícia e várias outras.

Mas a chamada segurança pública só pode existir como decorrência de outra segurança – a segurança da legalidade democrática, prioridade nacional absoluta.

Folha diz que é “um escárnio” a decisão de Toffoli sobre a multa da Odebrecht

Toffoli suspende multa bilionária da Odebrecht - Revista Oeste

Tooffoli ultrapassa todos os limites da ética e da moralidade

Deu na Folha

É um escárnio a medida do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, que suspende o pagamento de multas decorrentes de corrupção confessada pela Novonor — a empresa outrora conhecida por Odebrecht que, em dezembro de 2016, firmou acordo de leniência com o poder público para sanar os danos que causara ao erário.

A admissão de fraudes há pouco mais de sete anos dá lugar agora a um revisionismo despudorado no qual se unem envolvidos nos desmandos e autoridades. Os abusos da Operação Lava Jato não deveriam servir de pretexto para uma corrida acintosa à impunidade.

MILITANTE PARTIDÁRIO – Uma avenida foi aberta por decisões de Toffoli que, embora solitárias, contam até aqui com o beneplácito por omissão da corte mais elevada do país. Foi com retórica de militante partidário que o magistrado, em setembro, declarou imprestáveis as provas obtidas a partir do acordo com a Odebrecht.

Ali se escancarava o propósito de desqualificar por inteiro as investigações de corrupção — como se não tivessem havido confissões e bilhões devolvidos aos cofres públicos. Causa estranheza, aliás, o silêncio do principal beneficiário da dinheirama, o governo federal.

À ofensiva contra os fatos se somou o descaso com o dinheiro do contribuinte quando foi suspensa a multa de R$ 10,3 bilhões aplicada ao grupo J&F, que firmou acordo de leniência em 2017.

SEM SUSPEIÇÃO – Não foi embaraço para a benesse o fato de a mulher de Toffoli, Roberta Rangel, ser advogada da J&F em um litígio empresarial. Poucos meses antes, afinal, o Supremo derrubara a proibição de magistrados julgarem causas de clientes de seus cônjuges.

Com a interrupção dos pagamentos restantes da ex-Odebrecht, chegam a R$ 14,1 bilhões as perdas que elevarão o déficit do Tesouro, sua dívida e os juros com os quais arcará toda a sociedade — nada que pareça impressionar um Judiciário que lidera rankings globais de custo.

A desenvoltura do revisionismo só é possível com a cumplicidade interesseira instalada em Brasília, com raras exceções.

PROMISCUIDADE – Passado o momento mais agudo de indignação da opinião pública, governo e oposição, congressistas e juízes se irmanam na preservação de privilégios e na derrubada de punições.

Renovam, assim, os incentivos à improbidade e à intromissão de interesses privados na gestão da coisa pública. Semeiam o descrédito na política e nas instituições, que tão perigoso se mostrou.

Há que estancar esse processo. O exame das canetadas de Toffoli pelo plenário do STF e a restrição a decisões monocráticas de magistrados são apenas as providências mais urgentes a tomar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sensacional o editorial da Folha, pois escárnio é a palavra correta para classificar a atual situação da Justiça brasileira, que hoje trabalha irmanada com o crime, perdoando multas bilionárias e soltando criminosos que lideram facções. Depois da Folha, o Estadão e O Globo seguiram o mesmo caminho, revoltados com o Supremo e mostrando que ainda existe jornalismo de verdade na grande imprensa. (C.N.)

Lava Jato foi um desvio, corrigido pelas “instituições-que-estão-funcionando”

TRIBUNA DA INTERNET

Charge do Bonifácio (Arquivo Google)

Mario Sabino
Metrópoles

Na estimulante Era Pós-Lava Jato, uma discussão bizantina ocorre nas redes sociais sobre o Índice de Percepção da Corrupção, relatório anual da Transparência Internacional. No relativo a 2023, divulgado há dois dias, o Brasil perdeu dez posições em relação ao relatório anterior e hoje ocupa a 104ª posição entre 180 países. Em uma escala de notas de 0 a 100, tiramos 36. Para se ter ideia, a Dinamarca, líder em honestidade, obteve 90.

Desde a divulgação, petistas e bolsonaristas tentam jogar a culpa para o campo adversário. Há também quem procure tirar a credibilidade do índice, dizendo que a metodologia é falha, porque os países do ranking medem a percepção de corrupção com termômetros diferentes.

CORRUPÇÃO LIVRE – Senhoras e senhores, não nos enganemos, por favor: com metodologia falha ou não, qualquer cidadão com um mínimo de lucidez percebe que a corrupção piorou no país. Basta ler o noticiário. Qualquer cidadão com um mínimo de lucidez sabe também que a culpa é de petistas e bolsonaristas. Está no relatório, aliás.

Com a prestimosa ajuda das instituições-que-estão-funcionando, ambos os lados “enfrentaram a Lava Jato”, e as instituições-que-estão-funcionando agora completam o serviço para deixar tudo como sempre foi e até melhor do que jamais foi.

Veja-se o caso do ministro Dias Toffoli. Na esteira da anulação das provas do acordo de leniência da Odebrecht e de suspender a multa de R$ 10,3 bilhões da J&F, o ministro suspendeu os pagamentos do acordo de 3,8 bilhões de reais da empreiteira.

“PLANO” DOS EUA – Nos Estados Unidos, onde a empreiteira também fez lambanças, o Departamento de Justiça referiu-se à Odebrecht como protagonista do “maior caso de suborno estrangeiro da história”. Mas, você sabe como é, a Lava Jato foi arquitetada pelos americanos para criminalizar Lula e o PT, afundar a Petrobras e roubar o nosso petróleo.

Dentro em breve, as instituições-que-estão-funcionando devem cassar o mandato do senador Sergio Moro, se o plano do PL de Jair Bolsonaro e do PT de Luiz Inácio correr como o previsto. Será a chave de ouro do “enfrentamento à Lava Jato”: dar uma lição ao ex-juiz da operação e tirar os seus direitos políticos por 8 anos. Assim, é imperioso o Brasil cair ainda mais no ranking da Transparência Internacional. O nosso potencial ainda não foi inteiramente explorado.

APENAS UM DESVIO – Uma última constatação, por favor: a percepção de que a corrupção aumentou não significa que os cidadãos do país estejam preocupados com o problema. A maioria não está nem aí. Acha contingência inevitável e até desejável, se sobrarem uns trocados.

Aquela história de prender corrupto poderoso foi um desvio da alma nacional devidamente corrigido pelas instituições-que-estão-funcionando.

No fundo e na superfície, quem “enfrentou a Lava Jato” foi o povo brasileiro.

Ala do PT cita o “passado” de Marta Suplicy para impugnar a filiação dela

Ficheiro:Dilma Rousseff e Marta Suplicy em abril de 2010.jpg – Wikipédia, a  enciclopédia livre

Marta foi ministra de Dilma, mas apoiou o impeachment

Juliano Galisi
Estadão

Valter Pomar, dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), publicou na manhã deste sábado, 3, um manifesto em que pede a impugnação da filiação de Marta Suplicy ao partido, confirmada em cerimônia na última sexta-feira, 2. Pomar é líder da tendência Articulação de Esquerda (AE), conhecida por posições contrárias às alas majoritárias do PT, e baseou seu pedido em declarações e posições da ex-prefeita que foram contra o interesse da sigla nos últimos oito anos.

Pomar já havia se posicionado contra o retorno de Marta desde os primeiros sinais de reaproximação da ex-prefeita com o PT, partido em que ela esteve durante mais de três décadas e da qual estava afastada desde 2015. O processo de aproximação foi mediado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca a nomeação de Marta como vice na chapa do pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo.

PROTESTO SIMBÓLICO – As chances do pedido ser levado adiante são mínimas. O retorno de Marta, confirmado na sexta, já havia sido aprovado pelo Diretório Municipal do PT por 12 votos a 1. A terceira vice-presidente do PT paulistano, Barbara Corrales, foi a única que se opôs à medida.

“A refiliação de Marta Suplicy, sem qualquer balanço de seu passado pregresso, é um elemento de desmoralização não dela, mas do partido”, afirmou Barbara, que integra a corrente interna O Trabalho, em nota enviada ao Estadão.

Por outro lado, o presidente do PT paulistano, Laércio Ribeiro, saudou a volta de Marta. “O Diretório Municipal recebe com bom grado e dará as boas-vindas ao retorno da Marta Suplicy”, justificou Ribeiro. No mesmo sentido, a tônica do evento de ontem foi de elogios à volta da ex-prefeita.

MARTA FALOU DEMAIS – A carta divulgada por Pomar na manhã deste sábado elenca, como argumentos, quatro declarações públicas de Marta Suplicy no período após o rompimento com o PT.

Essas falas, segundo o dirigente, “são fatos inquestionáveis, duros de explicar e de engolir”. As citações envolvem tópicos sensíveis ao PT e nos quais Marta se posicionou de forma contrária aos interesses do partido, tais como o impeachment de Dilma Rousseff, a reforma trabalhista de 2017 e os escândalos de corrupção envolvendo petistas.

Para Pomar, é irônico que os dirigentes adeptos do retorno da ex-prefeita ao PT ignorem o posicionamento de Marta durante os oito anos em que ela esteve fora do partido. “Como se a partir de 2015 ela tivesse saído em viagem interestelar, regressando só agora”, satirizou Pomar no documento.

“MEU ACONCHEGO” – Na noite de sexta-feira, Marta – que já foi ministra de Estado em governos do PT – discursou na solenidade em que confirmou a filiação. “Eu estou de volta ao meu aconchego, à minha raiz”, disse na ocasião.

Pomar respondeu diretamente a esse discurso em seu manifesto. “Chega a ser desrespeitoso, depois de tudo o que aconteceu, sem que se faça um mínimo balanço sobre o que ocorreu desde 2015, falar em voltar ao ‘aconchego’ do partido”, criticou o dirigente, que cobra de Marta “alguma versão, alguma explicação, alguma interpretação, alguma justificativa” sobre os posicionamentos que adotou desde então.

Como explicou o Estadão, o Partido dos Trabalhadores possui 14 tendências internas com representação no seu Diretório Nacional. Organizados no âmbito interno do PT, esses grupos podem divergir entre si, como ocorre no caso da concordância ou não em refiliar Marta Suplicy. Gleisi Hoffmann, presidente nacional da sigla, representa a corrente interna de maior influência dentro do partido, a Construindo um Novo Brasil (CNB).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O PT tem mais tendências do que a Psicanálise. O chamado “direito de tendência” é reconhecido pela Justiça Eleitoral como uma forma a abrigar a liberdade de pensamento dentro dos partidos. Gleisi Hoffmann é acusada de impor suas decisões às demais correntes da sigla de maneira unilateral. Pomar foi derrotado por Gleisi na última disputa à presidência do PT, em novembro de 2019. Em suma, quando Lula se aposentar, o PT vai de dividir completamente, e o último a sair que apague a luz. (C.N.)

O Globo propõe que seja revista a decisão de Toffoli sobre a multa da Odebrecht

Dias Toffoli tenta desconhecer que as provas são abundantes

Deu em O Globo

Em mais uma decisão individual, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu os pagamentos do acordo de leniência firmado pela antiga Odebrecht (atual Novonor) com o Ministério Público na Operação Lava-Jato. O acordo prevê multas de R$ 3,8 bilhões (ou R$ 8,5 bilhões em 23 anos de pagamento).

Em cinco meses, foi a terceira decisão individual de Toffoli invalidando acordos firmados com grandes empresas cujos executivos confessaram corrupção. Em setembro, ele anulou as provas do mesmo acordo de leniência da Odebrecht, sob o argumento de que houve conluio entre Ministério Público e Justiça Federal.

MULTAS SUSPENSAS – Em dezembro, suspendeu o pagamento de multas de R$ 10,3 bilhões no acordo de leniência da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, no âmbito da Operação Greenfield.

Na época, disse que mensagens captadas ilegalmente levavam a uma “dúvida razoável” sobre o caráter voluntário essencial aos acordos. Ignorou que elas não poderiam ser usadas como prova de acusação. Agora, decidiu sozinho suspender as multas da Odebrecht.

Não é difícil concluir que essas decisões abrem caminho a outras. O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro já pediu a Toffoli que suspenda a multa aplicada em seu acordo de delação premiada na Lava-Jato. Na certa virão outros pedidos.

ÔNUS E BÕNUS – Empresas que confessaram ter pagado propina ficam agora em situação confortável, uma vez que se livram do ônus das multas, mas mantêm os bônus pactuados nos acordos.

Embora aleguem que assinaram os termos sob coerção, não reivindicam anulação, para não perder autorização para participar de obras públicas e receber empréstimos de bancos estatais.

Pelo impacto desse tipo de decisão, o ideal seria que, havendo recurso da Procuradoria-Geral da República (PGR), ele fosse submetido ao plenário do STF (e não à Segunda Turma, que cuida da Lava-Jato). E com a maior urgência possível (Toffoli não deu prazo para que a Odebrecht analisasse os diálogos ilegais a que agora obteve acesso).

NARRATIVA FALACIOSA – As decisões de Toffoli também deixam o governo diante de um dilema. Como escreveu no Globo a colunista Vera Magalhães, caso o Supremo as confirme, derrubando recurso da PGR, a União poderia recorrer, mas isso equivaleria a abandonar a narrativa falaciosa de que a Lava-Jato foi armação contra o PT.

Mas não recorrer significaria deixar de receber multas bilionárias num momento em que o governo precisa arrecadar (a União poderia ter até de devolver o que já recebeu).

Não há dúvida de que a Lava-Jato cometeu erros. Porém isso em nada anula a roubalheira confessada. Ela está documentada em milhares de páginas e vídeos nos processos.

PROVAS ABUNDANTES – A Odebrecht entregou de forma voluntária provas de corrupção em 49 contratos. Mais de 70 executivos assinaram delações. A empresa mantinha um setor apenas para gerir as propinas. Também firmou acordos na Suíça e nos Estados Unidos admitindo ter pagado US$ 788 milhões de suborno em 12 países.

Não há falta de provas, mas excesso. É um absurdo querer passar a borracha em tudo. Pretextos jurídicos, ainda que legítimos, não podem escamotear a realidade. O Brasil não deve jogar por terra o que foi desmascarado.

A corrupção desvia recursos públicos escassos, pune o contribuinte e degrada a imagem do país. Retrocessos desse tipo transmitem ao cidadão uma sensação de frustração, corroendo a crença na Justiça, nas instituições e na democracia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Aleluia, irmão! Primeiro foi a Folha, que sexta-feira publicou um editorial demolidor contra a decisão de Toffoli, considerando-a “um escárnio”. Depois, o Estadão, que divulgou um editorial investindo contra as insanidades do ministro do Supremo. Agora, o Globo mostra que o Supremo precisa rever essas decisões, enquanto a revista piauí comprova que Toffoli se baseou em alegações falsas e mentirosas da defesa da J&F, para suspender a multa bilionária. Quando a grande imprensa se une contra graves irregularidades desse tipo, isso significa que o Brasil ainda pode alimentar esperanças de se tornar um país melhor.  (C.N.)

CGU não descarta que registros da Abin tenham sido apagados no governo Lula

Charge 31/01/2024

Charge do Marco Jacobsen (Folha de Londrina)

Deu no Poder360

O ministro da CGU (Controladoria Geral da União), Vinícius de Carvalho, disse nesta sexta-feira (2.fev.) que o descarte de informações sobre a suposta espionagem ilegal na Abin (Agência Brasileira de Inteligência) “tem tendência a ter acontecido” durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele não descartou, no entanto, que funcionários do órgão possam ter dado fim às informações já na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pelo caráter sigiloso da investigação, Carvalho disse que não poderia afirmar com precisão a data em que os materiais haveriam sido descartados. As informações foram dadas durante entrevista à Globonews.

REGISTROS DE IMPRESSÃO – O ministro disse, no entanto, que a CGU encontrou registros de impressão de documentos por servidores da Abin.

Os arquivos impressos não foram encontrados nas buscas feitas pelo atual governo. Vinícius de Carvalho afirmou, ainda, que a CGU não encontrou obstáculos impostos pela atual direção da Abin nas investigações.

Nos próximos dias, o órgão deve ter acesso – por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal – a cerca de 200 GB ligados a investigações envolvendo o governo de Jair Bolsonaro.

ENTENDA O CASO – A PF (Polícia Federal) apura suposta espionagem ilegal feita pela Abin durante a gestão de Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje deputado federal, como diretor do órgão no governo de Jair Bolsonaro.

O órgão de inteligência teria utilizado o software First Mile para monitorar os celulares de jornalistas, autoridades e servidores durante meses. As informações seriam encaminhadas a pessoas ligadas ao então presidente, como seu filho, o vereador carioca Carlos Bolsonaro. Segundo as investigações da PF, o monitoramento ilícito servia para fornecer informações que beneficiassem os filhos de Bolsonaro. Relatórios teriam sido enviados para as defesas de Flávio e Jair Renan Bolsonaro, ambos com inquéritos na Justiça.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Até agora, muita espuma e pouco chope, como dizem os cariocas. É um escândalo à brasileira. Primeiro, faz-se o estardalhaço. Depois, então, é que se procura encontrar as provas. Até lá, fica essa esculhambação e ninguém entende nada. Daqui a pouco surge outro assunto e vida que segue, diria João Saldanha. (C.N.)

Entre os governantes, Biden é 8º líder mais velho do mundo, e Lula é o 14º

Thomas Traumann | Adivinhe quem não vem para jantar?

BIden e Lula pretendem disputar eleição aos 81 anos

Deu na Folha

Com seus 81 anos e mais uma vez na disputa pela chefia da Casa Branca, Joe Biden deu gás ao debate sobre as idades de líderes globais. À sombra de acusações de etarismo —preconceito relacionado à idade—, multiplicam-se nos Estados Unidos os críticos à candidatura do democrata que afirmam que ele já não tem fôlego para o posto.

Um dos receios desses detratores é o de que, caso Biden seja reconduzido ao cargo, em algum momento de seu segundo mandato o país possa ter de acionar a 25º emenda da Constituição. Esta prevê, entre outros, que o vice-presidente se torne líder interino no caso de morte ou incapacidade (cognitiva ou física, por exemplo) do presidente.

BIDEN E LULA – Biden é atualmente o líder mais velho das Américas. Entre os chefes de governo mundiais, a faixa etária gira em torno de 50 a 60 anos, com idade média de 61,7. O presidente brasileiro, Lula (PT), está bem acima desta média: aos 78 anos, ele é o 14º líder mais velho do mundo — o segundo das Américas e o mais velho da América Latina.

Para fazer esse levantamento, a reportagem usou um banco de dados produzido pelo instituto americano Pew Research Center e o atualizou até a data de publicação deste texto.

O levantamento conta com 188 países e deixou de fora alguns, como Afeganistão e Burkina Fasso, pela inconsistência das informações disponíveis no que se refere a seus respectivos líderes.

VELHOS DITADORES – Em geral, estão na África e no Oriente Médio os líderes mais velhos do mundo. Isso tem um motivo: é também nessas regiões que estão concentrados alguns dos principais regimes autoritários, nos quais há baixa ou nenhuma rotatividade de poder. Seus líderes tendem, portanto, a estar há muitos anos em seus cargos de forma ininterrupta.

Para classificar os regimes políticos, foi usado o banco de dados da Freedom House, outro instituto americano.

A entidade divide os países entre “livres”, “parcialmente livres” e “não livres” com base em indicadores de direitos políticos (como eleições livres e plurais) e de liberdades civis (como as liberdades de expressão e de imprensa).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Cazuza e seu parceiro Arnaldo Brandão fizeram questão de nos lembrar que o tempo não para, não adianta reclamar. É a idade avançada de Lula que faz com que sua sucessão já comece a ser disputada entre Fernando Haddad, ministro da Justiça, e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, que também se considera apta a disputar a presidência da República pelo partido. E o problema maior não é a idade de Lula, mas sua incontida ânsia de poder, que aos 78 anos o faz percorrer o país e o mundo incessantemente, dando entrevistas e pronunciando um discurso atrás do outro, sem nem prestar atenção às bobagens que anda dizendo, e tudo isso para se manter em campanha permanente e disputar a Presidência pela sétima vez, em 2026, e aos 81 anos… Tudo isso para quê? Ora, “para nada”, como dizia Miguel de Cervantes, ao descrever os cavaleiros de Granada, sempre em louca disparada.  (C.N.)

Com 1,4 mil casos, Toffoli julgou no recesso apenas a multa bilionária da Odebrecht

Decisão de Toffoli contra acordo de leniência deverá ter efeito dominó | Política | Valor Econômico

Dias Toffoli priorizou justamente o recurso da Odebrecht

Rafael Moraes Moura
O Globo

Dos 1.426 processos do acervo do gabinete do ministro Dias Toffoli no Supremo Tribunal Federal (STF), apenas um ganhou especial atenção do magistrado em pleno recesso da Corte: o que trata do pedido da Odebrecht para suspender as multas determinadas no acordo de leniência firmado com a Lava-Jato em 2016.

Em dezembro, a assessoria do STF informou que Toffoli se mantinha em atividade “apenas para a adoção de medidas ou petições relacionadas a uma ação específica”, que era justamente a da Vaza-Jato. Ou seja, os outros mais de mil processos no gabinete do ministro não seriam priorizados até a retomada das atividades regulares da Corte.

REPETINDO A DEFESA – Aparentemente, o caso da Odebrecht/Novonor tem um grau especial de prioridade. Na manhã da última quinta-feira (31), Toffoli divulgou uma decisão de 62 páginas, das quais 48 se resumem a descrever os pontos apresentados pela empreiteira.

Entre outras coisas, a empreiteira alega que as trocas de mensagens entre o ex-juiz federal Sergio Moro e procuradores da então força-tarefa da Lava-Jato, que vieram à tona após a atuação ilegal do hacker Walter Delgatti Neto, “revela um quadro de atuação comum de todas essas autoridades visando à derrocada da Novonor, tendo isso se dado por meio de procedimentos ilícitos”.

Procurado pela equipe da coluna, Toffoli não quis esclarecer por que priorizou a ação da Vaza-Jato durante o recesso, nem por que assinou a decisão que suspendeu os pagamentos da multa da Odebrecht/Novonor em pleno 31 de janeiro, antes mesmo da abertura do ano Judiciário no STF, que só ocorreu um dia depois.

DE MÃO BEIJADA -A ação chegou às mãos de Toffoli, um dos expoentes da ala mais contrária à Lava-Jato, após uma manobra interna do STF. Em maio do ano passado, o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato, provocou estranhamento dentro do tribunal ao abrir mão da relatoria “interina” do caso e entregar o processo de mão beijada para Toffoli.

O relator original era o ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou em abril de 2022 por completar 75 anos.

O caso em questão é, originalmente, uma reclamação apresentada pela defesa de Lula em agosto de 2020 – na época, capitaneada por Cristiano Zanin Martins – com o objetivo de garantir ao petista acesso a documentos e provas do acordo de leniência da Odebrecht.

GRAVAÇÕES PIRATAS – A ação ganhou novos contornos depois que vieram à tona as mensagens entre Moro e procuradores da Lava-Jato de Curitiba, captadas pelo hacker Delgatti Neto e apreendidas na Operação Spoofing, da Polícia Federal.

Como Zanin foi escolhido para ocupar a vaga aberta com a aposentadoria de Lewandowski no STF, ele herdou o acervo do ministro, mas ficaria impedido de assumir a relatoria de uma ação da qual ele mesmo é o autor.

Em tese, o processo deveria então ser redistribuído para um novo ministro, mas a manobra de Fachin impediu que isso ocorresse e evitou os riscos de a ação, acompanhada com lupa pelo meio político e a classe empresarial, cair nas mãos de um magistrado mais simpático ao legado da Lava-Jato.

ANULANDO EM SÉRIE – Depois disso, entre maio e setembro do ano passado, Toffoli anulou as provas da Odebrecht utilizadas contra o advogado Tacla Duran, o ex-ministro Paulo Bernardo, os ex-governadores Anthony Garotinho Sérgio Cabral e Gilberto Kassab, e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, entre outros.

O ministro anulou então todas as provas obtidas no acordo de leniência da Odebrecht em todas as esferas e para todas as ações, ainda que a ação inicialmente seja apenas referente a Lula. Em dezembro, as mesmas mensagens obtidas pelo hacker Walter Delgatti Netto levaram Toffoli a suspender a multa de R$ 10,3 bilhões que foi parte do acordo firmado em 2017 pelo grupo J&F. A decisão fez a Odebrecht “pegar carona” na ação da J&F e também pedir a suspensão dos pagamentos, com base nos mesmos argumentos.

Resume um integrante da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR) ouvido reservadamente pela equipe da coluna: “Toffoli abriu a porteira para passar a boiada.” Nem que para isso tivesse que trabalhar em pleno recesso.

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FACHIN TENTA SE JUSTIFICAR

Após a publicação desta reportagem, o ministro Edson Fachin divulgou a nota abaixo, sobre a entrega da ação a Toffoli.

Em relação às informações publicadas na coluna da jornalista Malu Gaspar, o gabinete do Ministro Edson Fachin esclarece que, ao contrário do que afirma o texto, o Regimento Interno e os precedentes do Supremo Tribunal Federal foram observados no envio da reclamação citada ao Ministro Dias Toffoli, conforme detalhes expostos a seguir.

O Ministro Fachin não foi o “relator” da Rcl 43007, mas o substituiu circunstancialmente, como Ministro imediato em antiguidade, apenas para deliberar sobre medida urgente (nos termos do artigo 38, I, do Regimento Interno do STF), enquanto estava vaga a cadeira do Ministro Ricardo Lewandowski.

Cessada a vacância com a transferência do Ministro Dias Toffoli e havendo prevenção da Segunda Turma, nos termos do artigo 10 do Regimento Interno, houve nova alteração da ordem de antiguidade, o que não mais autorizaria a atuação do Ministro Edson Fachin como substituto eventual.

Muito embora a Presidência do Tribunal tenha decidido pela redistribuição dos processos entre os Ministros da Turma competente, como notoriamente ocorreu no âmbito da operação Lava a Jato, decisões mais recentes da Presidência passaram a acionar o disposto no artigo 38, IV, “a”, do Regimento Interno, para determinar a remessa direta para o sucessor da vaga (Isso ocorreu, por exemplo, no RMS 27.182, na decisão de 25.11.2022). Seguindo o precedente e o Regimento, o Ministro Fachin enviou o processo para o Ministro Toffoli, que passou a ser o imediato em antiguidade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Apesar das explicações do ministro, a coluna de Malu Gaspar corajosamente manteve as informações publicadas, já que o precedente usado por Fachin envolve dupla aposentadoria de ministros e julgamento paralisado com pedido de vista, uma situação diferente da reclamação da Vaza-Jato. Em tradução simultânea, Fachin não quis segurar a bomba e a deixou no colo de  Toffoli, como ocorreu em 1981, no Atentado do Riocentro. (C.N.)

Estadão afirma que “o Supremo insulta os brasileiros”, ao blindar a corrupção

Emílio Odebrecht: 'Por que não fizeram isso há 10, 15, 30 anos?' - Rede Brasil Atual

Emilio Odebrecht prestou depoimento espontaneamente

Deu no Estadão

No que depender do Supremo Tribunal Federal (STF), em particular do ministro Dias Toffoli, falta muito pouco para que milhões de brasileiros passem a acreditar que, talvez, no auge da Operação Lava Jato, tenham vivido uma espécie de surto coletivo.

O que viram, leram e ouviram a respeito do monumental esquema de corrupção envolvendo as maiores empreiteiras do País durante os governos do PT, a despeito das inúmeras provas fornecidas pelos próprios acusados, aceitas como perfeitamente válidas em todas as instâncias judiciais ao longo de anos, tudo isso simplesmente não aconteceu – e, pior, as empresas envolvidas foram vítimas de uma sórdida conspiração da Lava Jato.

PROVAS ANULADAS – Em setembro do ano passado, o ministro Dias Toffoli decidiu liminarmente anular todas as provas que consubstanciaram o acordo de leniência da Odebrecht, hoje rebatizada como Novonor. Como dissemos nesta página na ocasião, o despacho com tintas imperiais “foi uma decisão exagerada e desequilibrada que, numa só canetada, colocou abaixo o trabalho de anos de várias instituições estatais”.

Quase três meses depois, o mesmo Dias Toffoli voltou a apor sua pena sobre o papel em que decidiu reescrever a história recente do País.

Com mais uma infeliz canetada, o ministro, aproveitando o recesso de fim de ano do Poder Judiciário, suspendeu o pagamento da multa de R$ 10,3 bilhões prevista no acordo de leniência firmado entre a J&F e as autoridades brasileiras.

CONSPIRAÇÃO JURÍDICA – Dias Toffoli parece seguir imparável no que se revela como uma autoatribuída missão de mostrar à sociedade que as investigações da Operação Lava Jato, as revelações da imprensa profissional e as confissões de centenas de executivos envolvidos em tramoias com agentes públicos – sem falar na extraordinária soma em dinheiro que tiveram de devolver ao erário – não passaram de uma conspiração urdida nos corredores do Poder Judiciário e do Ministério Público Federal em Curitiba.

Na quinta-feira passada, foi a vez de o ministro suspender o pagamento da multa de R$ 6,8 bilhões da Odebrecht (em valores corrigidos), sob quase os mesmos argumentos que o levaram a decidir favoravelmente ao pleito da J&F. Dias Toffoli foi convencido pela equipe de defesa da Odebrecht de que seus executivos teriam sofrido “chantagem institucional” para assumir a autoria dos crimes e firmar os acordos de leniência.

SUPOSTA COAÇÃO – É curiosa, para dizer o mínimo, a interpretação exótica que o ministro Dias Toffoli faz da suposta coação, ou “chantagem”, de que teriam sido vítimas os executivos da Odebrecht.

Em primeiro lugar, são necessárias doses generosas de candura ou boa vontade para acreditar que uma das maiores empresas privadas do País, assessorada, portanto, por uma equipe de advogados de primeira linha, poderia ser forçada a assinar o que quer que fosse.

Ademais, que constrangimento ilegal ou abuso de autoridade seriam esses que, ora vejam, só serviriam para sustar os ônus do acordo de leniência, mantendo íntegros os bônus do pacto? Não faz sentido.

ANULAR TUDO – Se firmados à força, sob chantagem, todos os acordos devem ser anulados em seus termos, inclusive os que beneficiam as empreiteiras, como a possibilidade de voltar a participar de licitações públicas e o fim do acordo de não persecução criminal. No limite, que os processos voltem à estaca zero, os erros cometidos pela força-tarefa da Operação Lava Jato sejam saneados e os implicados voltem a responder por seus atos.

Tudo é ainda mais estupefaciente quando se observa que, até hoje, nenhuma das decisões monocráticas do ministro Dias Toffoli sobre os acordos de leniência foi submetida ao crivo do plenário do Supremo. Ocioso esperar que seus pares cassem essas liminares, algo que raramente acontece na Corte. Mas os outros dez ministros poderiam ao menos dar um sinal à sociedade de que o Supremo ainda é um tribunal colegiado, como diz a Constituição.

Na abertura do ano Judiciário, no dia 1º passado, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, comemorou o fato de que “as instituições funcionam na mais plena normalidade” hoje. Resta a pergunta: para quem?

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enviado pelo excelente José Carlos Werneck, que é um misto de analista político e advogado especialista em tribunais superiores, este editorial do Estadão demonstra que ainda existem jornalistas independentes nas redações da grande imprensa. Conforme temos afirmado aqui na Tribuna da Internet, os ministros do Supremo parecem ter perdido o senso do ridículo, não há outra explicação para o que anda acontecendo por lá. É uma vergonha nacional. (C.N.)

O que a Alemanha comunista ensina sobre a “Abin paralela” de Bolsonaro

Imagem ilustrativa da imagem Charge 21/10/2023

Charge do Marco Jacobsen (Arquivo Google)

Diogo Schelp
Estadão

A Stasi, acrônimo em alemão para Segurança de Estado, foi o serviço de inteligência da Alemanha Oriental que, ao longo de 40 anos, monitorou potenciais inimigos externos e internos do regime socialista. É considerada o suprassumo histórico da vigilância do Estado sobre os cidadãos com o propósito de garantir a perpetuação de uma determinada ideologia no poder.

A história da Stasi tem dois momentos de inflexão que moldaram sua forma de atuação. O primeiro foi o levante de 1953, que deu ao regime a convicção de que, para não ser surpreendido pelo próprio povo, precisava manter vigilância constante sobre os cidadãos com o objetivo de coibir atitudes contrárias ao socialismo antes mesmo de elas se tornarem ameaças reais. Com isso, todo e qualquer cidadão tornou-se um potencial inimigo ao menor sinal de dissidência ou crítica ao governo.

BISBILHOTAGEM – O segundo ponto de inflexão deu-se no início da década de 70, quando a busca por legitimação internacional da Alemanha Oriental levou a Stasi a desenvolver métodos mais sutis de perseguição e repressão política, em detrimento da brutalidade explícita adotada até ali.

Para municiar as novas táticas de manipulação, divulgação de boatos e falsa imputação de crimes com o propósito de destruir carreiras e isolar as pessoas de seus círculos sociais, a polícia secreta aprofundou a bisbilhotagem na vida privada dos cidadãos, não se restringindo às suas atividades políticas, culturais e profissionais.

A suspeita é de que, durante boa parte do governo de Jair Bolsonaro, a Abin – cujo papel é identificar ameaças à ordem constitucional, não defender um projeto político de poder.

EXEMPLO DA STASI – Ai espionar políticos, ministros do STF, jornalistas, advogados e até uma promotora responsável pela investigação do caso Marielle, a ação da Abin remete ao exemplo da Alemanha por vários motivos.

Primeiro, pelas aspirações ditatoriais dos beneficiados diretos da bisbilhotagem. Segundo, pela motivação ideológica na escolha dos alvos dos monitoramentos. Terceiro, pela prática de arrastão investigativo, ou seja, de espionar o maior número possível de pessoas para encontrar alguma coisa contra elas.

Afinal, se o software FirstMile foi usado 30 mil vezes para identificar a geolocalização em tempo real de 1.800 pessoas, fica claro que os agentes da Abin estavam procurando conexões entre pessoas aleatoriamente, sem ter uma suspeita objetiva em relação a elas.

LER OS ARQUIVOS – Na Alemanha, qualquer cidadão pode verificar se foi alvo da espionagem da Stasi e ler os arquivos com suas informações.  Desde 1992, mais de 2 milhões de pessoas já usufruíram desse direito.

A Abin paralela de Bolsonaro não chegou aos pés da Stasi em alcance e em eficiência, mesmo com os atuais recursos tecnológicos.

Mas o mínimo que se espera é que qualquer brasileiro que tenha sido espionado ilegalmente possa se informar sobre isso e ter acesso irrestrito aos dados levantados.

‘Papel do general Heleno precisa ser conhecido’, diz diretor-adjunto da Abin

Marco Cepik, agora número 2 da Abin

Cepik diz que a democracia tem como aprimorar a Abin

Janaína Figueiredo
O Globo

O novo diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Marco Cepik, vem do mundo acadêmico e, menos de 48 horas depois de ter sido escolhido como sucessor de Alessandro Moretti, exonerado na última terça-feira, ainda tenta se adaptar à sua nova realidade.

Acostumado a circular por universidades, dar palestras — no Brasil e no exterior — e pesquisar sobre temas como inteligência e democracia, Cepik faz pausas para pensar suas respostas, sobretudo quando é perguntado sobre temas como as investigações sobre a existência de uma Abin paralela no governo Bolsonaro e a possibilidade de que o caso chegue a membros da família do ex-presidente.

“Seria um prazer dar opinião como cientista político, ou cidadão, mas como diretor adjunto da Abin não posso me manifestar”, disse Cepik ao Globo, na sede da agência, em Brasília.

PAPEL DE HELENO – Consultado sobre o papel do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao qual estava subordinada a Abin durante o governo Bolsonaro, numa suposta agência paralela de inteligência, o novo diretor adjunto foi taxativo:

“Isso, como com qualquer outro agente público, deve ser esclarecido. Por omissão ou cometimento do ato, qual foi seu envolvimento nos atos que estão sendo investigados?”.

Cepik também defendeu a sindicância sobre a contratação do programa espião de monitoramento de celulares israelense FirstMile no governo Michel Temer, usado pelo governo Bolsonaro. “A ideia de que houve obstrução ao processo investigatório me parece inconsistente, mas se há uma preocupação tem de ser apurado”, respondeu Cepik, um estudioso da inteligência no Brasil e na América Latina.

MEDIDAS CORRETIVAS – O diretor-adjunto disse que esta rede de colaboradores do presidente [Bolsonaro] era informal, aparentemente, mas ela se manifestou em relatórios e algumas ações que agora estão vindo à luz.

“Existe uma preocupação legítima da cidadania quanto a isso. Espero que o resultado das apurações comprove ou não essa hipótese investigativa, e que os fatos e as condutas dos indivíduos sejam apurados e que eles respondam por isso”, frisou.

Em sua opinião, apesar da crise em que mergulhou a agência, “os problemas da democracia brasileira ainda podem ser corrigidos com as medidas corretivas que a democracia prevê”, cenário mais favorável do que se vê, apontou o diretor adjunto da Abin, em países como Equador, “onde a própria autoridade do Estado está sendo questionada violentamente”.

Devido a crenças religiosas, navajos pedem que Nasa limite missões à Lua

Índios adoram a Lua e não querem que seja “profanada”

Hélio Schwartsman
Folha

O povo navajo venera a Lua e entende que alguns projetos empresariais, como o de levar para repousar eternamente no satélite cinzas de humanos que foram cremados, a profanam. Com base nisso, os navajos procuraram a Nasa, pedindo que esse tipo de missão não se realize.

Sou um entusiasta da liberdade religiosa. Acho que qualquer indivíduo ou grupo é livre para acreditar no que bem entender e exercer quaisquer ritos ou liturgias que não violem a lei. É importante, porém, observar que a simples universalização desse direito já implica a impossibilidade de preservar todos os sistemas religiosos de questionamentos e mesmo profanações.

CRENÇAS CONFLITANTES – Pelo menos para os que insistem em interpretações literais, as diferentes histórias da criação são incompatíveis umas com as outras. Quem afirma que foi Brahma quem gerou o Universo está negando que o autor de tudo seja o Deus das religiões abraâmicas.

Cada vez que um padre lê certas passagens do Gênesis numa homilia, ele pode estar desrespeitando convicções pessoais de mais de 1 bilhão de hinduístas.

E as incompatibilidades não ficam restritas ao campo das narrativas religiosas. Elas se estendem também para terrenos mais universais, como o da investigação científica.

DEUSES DIVERSOS – A ciência não nega diretamente a existência de nenhuma divindade, mas produz explicações para fatos do mundo que tornam deuses menos necessários para suportar a realidade. Alguns grupos tomam isso como heresia e se põem a combater o ensino de certas teorias científicas, como o darwinismo, nas escolas.

Meu ponto, e aí vou contra os ventos identitários, é que não podemos considerar a suscetibilidade individual ou grupal a supostas ofensas em critério principal para definir o que é ilegal ou antiético, sob pena de sancionar uma guerra de todos contra todos.

Indivíduos merecem respeito; ideias, não. Qualquer ideia, não importa quão antiga, sagrada ou oprimida, pode e deve ser desafiada.

Pochmann quer programa na TV Brasil para apresentar números do ‘novo IBGE’

Ministra do Planejamento, Simone Tebet, e presidente do IBGE, Marcio Pochmann

Pochmann apresentou o pedido à ministra Simone Tebet

Roseann Kennedy
Estadão

O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, quer mais espaço para divulgar as conclusões estatísticas do que chama de “novo IBGE” e pretende usar a estrutura da TV Brasil com essa finalidade. A ideia é lançar um programa semanal na emissora para debater os temas com técnicos, autoridades e representantes da sociedade. A proposta consta no Plano de Trabalho de 2024 do instituto, apresentado na quarta-feira, 31.

O documento diz que o Plano atende efetivamente o cumprimento da missão institucional do IBGE: “Retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania”.

CENTRALIZADOR – O texto, com 94 páginas, sustenta críticas que Pochmann tem feito desde que assumiu. Diz, por exemplo, que o conjunto das estatísticas, geociências e dados oficiais do Brasil se encontra exposto a “gravíssimas vulnerabilidades” que precisam ser urgentemente enfrentadas”, fala na “defasagem da legislação” e defende maior centralização de dados no “novo IBGE”.

No ano passado, Pochmann recebeu críticas quando indicou uma possível mudança nas divulgações de estatísticas do instituto. Na ocasião, ele classificou o modelo atual como “comunicação do passado” e citou estatística chinesa. A declaração foi dada em palestra a funcionários no dia 24 de outubro numa cerimônia transmitida e gravada no YouTube, embora não esteja listada.

A EBC -Empresa Brasil de Comunicação, estrutura à qual a TV Brasil é vinculada, disse em nota enviada à Coluna do Estadão, que seu plano de trabalho para 2024, aprovado em dezembro do ano passado pelo Conselho de Administração da empresa, “não prevê produção ou veiculação de programa em parceria com o IBGE na grade da TV Brasil para este período”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Foi só o petista Pochmann assumir o IBGE que o desemprego começou a acabar. Desde sua posse, os números estão em queda e só vão parar quando atingirmos o pleno emprego. Quanto às estatísticas chinesas, são consideradas as mais manipuladas do planeta. Os dados oficiais dizem que morrem 400 mil chineses por ano devido à crescente poluição urbana, mas o resultado deve ser 20 vezes maior, pelo menos. Assim, os chineses confirmam a definição de que a estatística é a ciência de torturar os números até que eles confessem o resultado que pretendemos. (C.N.)

Suspensão das multas de empresas na Lava Jato torna Toffoli um alvo móvel

Dias Toffoli está realmente ultrapassando todos os limites

Hélio Schwartsman
Folha

Ah, Dias Toffoli… O ministro do STF, numa canetada, livrou a Novonor, o novo nome da velha Odebrecht, de pagar as multas do acordo de leniência que firmara com o MPF por seu protagonismo na corrupção levantada pela Lava Jato. Estamos falando de R$ 3,8 bilhões. Um mês antes, Toffoli já tomara decisão semelhante em relação à J&F, no valor de R$10,3 bilhões.

É difícil entender o que anima o ministro. Meu palpite literário é que, como um Macbeth tropical, ele se vê assombrado pelo fantasma da culpa, que o faz agir de forma desconexa.

DECISÃO CRUEL – Veio da pena de Toffoli a mais cruel das decisões judiciais contra Lula, quando ele cumpria pena em Curitiba, que na prática o impediu de comparecer ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá.

Toffoli, vale lembrar, não era um estranho para Lula. Ele foi indicado pelo petista para o cargo e não tinha em seu currículo muito mais do que o fato de ter prestado serviços ao próprio Lula e ao PT.

Minha impressão é que, assaltado por uma espécie de espectro de Banquo, Toffoli tomou para si a tarefa de desfazer a Lava Jato. Não há dúvida de que os abusos cometidos na operação devem ser corrigidos, mas há limites fáticos para as revisões.

CORRUPÇÃO REAL – É claro que a corrupção não foi imaginada. Participantes dos esquemas confessaram seus crimes e entregaram provas dos malfeitos. Não o fizeram por hipossuficiência. Estavam assistidos pelos melhores advogados do país, que avaliaram a situação e os aconselharam. Descrever a Odebrecht como vítima excede o surrealismo possível.

De todo modo, Toffoli deveria ser mais cuidadoso. Casos desse tamanho jamais deveriam ser decididos monocraticamente, mas sempre passar pelo plenário.

E nem falo do fato de o ministro não se ter declarado impedido de atuar em caso de um cliente de sua mulher, Roberta Rangel, que advoga para o grupo J&F. Tão importante quanto acertar contas com fantasmas do passado é evitar os fantasmas do futuro.

Ramagem mandou apurar ilegalidades e houve até demissão de diretor na Abin

Após operação, Ramagem é excluído dos grupos do PL e da oposição

Ramagem pretende provar que está sendo perseguido

Arthur Guimarães
Metrópoles

Deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem admite que havia indícios de que monitoramentos clandestinos estariam sendo feitos pelo órgão. “Acredito que uma minoria possa ter desvirtuado (a Abin)”, afirmou ao Metrópoles, dizendo que, em sua gestão, mandou apurar irregularidades no órgão.

Ramagem negou ter feito pedidos de pesquisas ilegais usando o software espião First Mile ou repassado informações confidenciais para benefício da família Bolsonaro, da qual é íntimo. “Eu acredito que a utilização, na sua grande maioria, quase a totalidade, deve ter sido para trabalhos de inteligência corretos. Porque eles, os oficiais de inteligência que trabalham ali, são oficiais de inteligência que fazem bom trabalho.”

TINHA SUSPEITAS – O parlamentar, no entanto, levantou suspeitas sobre a conduta de Paulo Fortunato, que ocupava o posto de diretor de Operações, ou seja, seu subordinado na Abin. No governo de Lula da Silva (PT), Fortunato chegou a ocupar o terceiro posto na hierarquia da agência. Em outubro do ano passado, o servidor foi afastado das funções, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), e exonerado, dentro da investigação sobre o uso do software espião.

Foi na casa dele que foram encontrados quase US$ 170 mil. O dinheiro, segundo a defesa dele, seria proveniente de uma poupança da família.

APURAÇÃO INTERNA – Ramagem disse que a Agência Brasileira de Inteligência tem as atribuições de combater espionagem industrial, proteção do conhecimento sensível, proteção de estruturas estratégicas, como Itaipu”.

O ex-diretor-geral acrescentou ter sido o responsável por identificar indícios de irregularidades e encaminhar uma investigação interna, que teria sido determinante para a saída de Fortunato.

“Fui em quem fez toda apuração que gerou a exoneração dele e isso demonstra que pode ter atividades ilícitas lá dentro. Então, por que eu agora estou sendo investigado? Esse é o absurdo da perseguição. Por quê?”