O homem liberal não existe e o Estado só cresce, opressivamente

Adam Smith: biografia, teoria e a riqueza das nações - Toda ...

Adam Smith, o mestre, não previu a decadência moral

Luiz Felipe Pondé
Folha

A filosofia política desde o século 17 criou modelos de ser humano que impactaram muito as práticas e expectativas políticas. Esses modelos são chamados de antropologia filosófica.

A verdade é que essas antropologias filosóficas têm sido marcadamente utópicas nas suas concepções. A consequência da natureza utópica desses modelos é que muitas das propostas políticas, incluindo visões de sociedade e de futuro, de organização institucional, ou mesmo do alcance da ação humana no tempo e no espaço, têm sido marcadas por esse sopro de ar utópico.

PROGRESSO MORAL? – A própria noção de progresso moderno, típico desses modelos desde o século 17, é a marca registrada dessas utopias. A ideia de que o homem progride moralmente, politicamente e socialmente é filha desses modelos. A questão é: progresso técnico não implica progresso no resto, coisa que quase ninguém parece notar.

No campo socialista, filho dos revolucionários do século 19, esse caráter utópico aparece na crença de que o ser humano realizaria sua infinita capacidade criadora, uma vez que os meios de produção deixassem de ser propriedade privada de alguns setores da sociedade e, portanto, o resultado do trabalho humano deixaria de ser alienado de toda a sua infinita autonomia criativa.

Na raiz dessa utopia está a crença de que através da ação política coletiva os seres humanos se tornariam mais convergentes nos seus desejos e ações, criando menos mal social e corrupção.

UTOPIA FRACASSADA – Apesar do fracasso retumbante desse tipo de utopia ao longo do século 20, ela permanece ativa em vários setores do espectro político e social. O que sustenta expectativas utópicas — o cristianismo é um caso evidente — é a afirmação de que certas condições de possibilidade para elas se realizarem não foram devidamente preenchidas.

Algo deu errado no processo e a utopia não aconteceu. Como esse tipo de utopia deve se realizar no tempo histórico, e ele não acabou, permanece em aberto a possibilidade de que a expectativa em questão se realize da forma prevista no modelo num futuro próximo.

Já o caso do socialismo é marcado pela hipótese de que, uma vez dada certa mudança na estrutura política e econômica, o ser humano verdadeiro, aquele alienado de suas potências, viria à tona ao longo do curso histórico transformado.

Essa ideia socialista é descrita como o nascimento do “novo homem”, que já existia, mas sob opressão do mal social, político e econômico.

MODELOS UTÓPICOS  – Mas, esses modelos utópicos nem sempre implicam um curso histórico transformado, dado para que o sonho se torne realidade. Nem sempre o modelo de homem em questão está no “fim da história”. Muitas vezes, ele pode estar no “princípio da história”, como no caso do liberalismo.

No caso da utopia liberal, a natureza humana aí concebida é de partida capaz de realizar a promessa. Essa diferença faz com que o objeto da crença utópica se faça, no caso liberal, invisível.

No liberalismo, a concepção de homem afirma que somos todos portadores de uma capacidade de fazer escolhas racionais todo o tempo e em todas as esferas da vida.

FAZER ESCOLHAS – A prova é que no início dos tempos pré-políticos —ideia esta já irreal— homens e mulheres escolheram racionalmente criar um ordenamento político para proteger suas vidas sórdidas, breves e brutas. Este ordenamento é o Estado liberal que existiria para proteger essa autonomia.

À diferença da utopia socialista, no liberalismo não existe a necessidade propriamente de uma ruptura de caráter violento e radical, mas, simplesmente, de passos graduais por meio do quais essa liberdade racional se faria cada vez mais eficiente.

O fato é que não existe esse homem racional que escolhe o tempo todo, sabendo o que faz a partir do acúmulo de informação dado pelos meios à disposição —nem a educação tem sido capaz de comprovar esse homem utópico, nem a mídia, ciência ou tecnologia, hoje fora de controle.

AMBOS UTÓPICOS – Ele é tão utópico quanto o “novo homem” socialista. Passados anos, essa utopia criou a economia de mercado e a democracia liberal. Ambas estão muito longe da ideia de que uma racionalidade econômica, política, social ou moral exista em plena forma.

A ideia de que o Estado existiria para garantir a ordem do homem livre e racional não aconteceu. Pelo contrário, o Estado só cresce, se metendo em todos os níveis da vida de todos.

O liberalismo moderno, econômico e político destruiu todas as referências que ao longo dos milênios conduziram a humanidade ao presente porque seu princípio lógico é de que tudo antes do indivíduo racional pleno era lixo a ser esquecido. Restou-nos o vazio de valores, a não ser o dólar e a espada do Leviatã.

Campanha antecipada de Lula na TV poderá ser considerada ilegal

Um homem de cabelos grisalhos e barba, vestido com uma camisa azul clara e um paletó escuro, está falando em um ambiente interno com grandes janelas ao fundo. Ele gesticula com as mãos enquanto se expressa. À direita da imagem, há uma pessoa fazendo linguagem de sinais. Na parte inferior da imagem, está escrito: 'mas que está mexendo com o Brasil!'.

Lula não faz distinção entre propaganda pública e privada

Mariana Brasil
Folha

O plano do presidente Lula (PT) de convocar rede de rádio e televisão para fazer pronunciamentos oficiais a cada 15 dias, como estratégia para a divulgação de ações do governo, pode não configurar uma ilegalidade no atual momento, mas pode ser questionado em 2026, diante da proximidade do período eleitoral, segundo advogados e cientistas políticos ouvidos pela Folha.

Lula convocou a cadeia de rádio e televisão na noite de segunda-feira (25) para um pronunciamento no qual exaltou os seus programas Pé-de-Meia e Farmácia Popular.

SEM NOVIDADES – Com uma linguagem informal, buscou requentar a divulgação de ações do seu governo, sem apresentar novidades, em um momento de crise de popularidade.

“Com a proximidade do próximo pleito eleitoral de 2026, vai haver realmente um questionamento com relação a essa questão dessa periodicidade de pronunciamentos feitos pelo governo Lula. Mas a princípio não há essa restrição”, diz Vera Chemim, advogada constitucionalista e mestre em direito público administrativo pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Segundo ela, no próximo ano será preciso considerar a legislação eleitoral.

JÁ É PROPAGANDA – Vera Chenim avalia que ainda não há elementos suficientes para afirmar que Lula estaria utilizando esses pronunciamentos para se autopromover. No entanto, ressalva que o comunicado, por si só, já traz propagandas das ações da gestão.

“O que está por detrás, um pano de fundo, é ele se mostrar cada vez mais à sociedade brasileira, tentar demonstrar que está fazendo algo produtivo no governo. E é lógico que isso vai configurar uma propaganda eleitoral antecipada, não há dúvida sobre isso”, diz.

O pronunciamento acontece em um momento delicado para o governo. Segundo recente pesquisa do Datafolha, a aprovação do presidente caiu para 24%, o pior índice de seus mandatos.

AUTOPROPAGANDA – Daniel Burg, especializado em direito penal e processual econômico pela Escola de Direito do Brasil, diz que os pronunciamentos podem configurar uma autopropaganda, embora seja “algo natural diante de experiências que vemos em outros países”.

“Se é uma ferramenta que está à disposição dele e for praticada dentro dos ditames legais, é um direito. Se for considerada infração eleitoral, certamente algum partido político vai pedir a abertura de um procedimento administrativo para apurar”, diz.

“Esse tipo de exposição que o Lula fez passará a ser mais questionado pela oposição quando chegar em 2026 e tiver um calendário eleitoral”, afirma Eduardo Grin, cientista político e professor da FGV. “A oposição poderá dizer ‘a campanha é antecipada, a campanha não começou ainda, isso é ilegal’.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É claro que se trata de propaganda eleitoral antecipada, até porque Lula já se declarou candidato, isso é público e notório. E o pior é que está usando espaço no rádio e televisão sem pagar por isso. “É de grátis”, como dizia seu Creysson no Casseta Popular. (C.N.)

Oscar de Salles mostra que, no final do filme, a democracia vence

Ainda Estou Aqui vence Oscar de melhor filme estrangeiro | Agência Brasil

Além de cineasta, Salles é um grande cultor da democracia

Vera Iaconelli
Folha

Sentei para assistir à entrega da estatueta do Oscar, tomada por uma sensação tão inédita quanto a premiação. Foi curioso estar ali, sem grande preocupação com o desfecho do evento, mais interessada na forma como nos unimos em torno desse acontecimento.

Até aí, não havia novidade. Estamos acostumados a torcer juntos nas Copas, e a comparação entre os dois eventos era inevitável – mesmo com Fernanda Torres pedindo encarecidamente que lhe tirassem o fardo das costas. Mas mal sabia ela que a natureza dos acontecimentos era outra.

TORCER JUNTOS – A torcida até era de Copa do Mundo, só que não, pois se tratava de comemorar… a própria torcida! Mais do que torcer, tratava-se de comemorar que houvesse algo em torno do qual ainda pudéssemos torcer juntos, diante da polarização que dividiu o país.

E não é de menor importância que fosse algo ligado à cultura, sustentado na figura de uma mulher, num filme que denuncia a ditadura. Tudo isso depois de uma tentativa de golpe que reedita nosso maior fantasma: o traço conservador e autoritário que nos assombra.

E, como se o universo conspirasse para que a celebração fosse à altura, tivemos nada mais, nada menos do que as bênçãos de um domingo de Carnaval para lhe servir de esquenta. Bom para lembrar que também somos adoradores de Eros.

ESTRATÉGIA VITORIOSA – Enquanto se podia assistir à propaganda dos filmes concorrentes em intervalos de famosos podcasts, outdoors e ônibus norte-americanos, a campanha de “Ainda Estou Aqui” fez outro percurso. Como informou Walter Salles em entrevista, essa não foi a estratégia do filme brasileiro, baseada no corpo a corpo entre os atores, o diretor, os formadores de opinião e o público.

Trabalho de fôlego, que exigiu da equipe jogar-se numa maratona infindável de exibições seguidas de entrevistas coletivas, na participação em talk shows, em ensaios fotográficos, nos deslocamentos de costa a costa, nas festas para “fazer amigos e influenciar pessoas”, nas premiações em festivais mundo afora que antecederam ao Oscar.

Some-se a isso o fato de que Fernanda Torres leva algumas horas a mais que seus colegas homens fazendo cabelo, maquiagem e prova de modelitos de tirar o fôlego, e teremos uma ideia do tamanho da empreitada.

CAVALO DE TROIA – De forma insidiosa, falando de família, por intermédio de uma personagem feminina maternal, deixando a violência pairar opressivamente sem nunca explicitá-la, Salles, fiel ao tom do livro de Marcelo Rubens Paiva, criou seu cavalo de Troia. Perfurou barreiras que têm impedido que o contraditório compareça nas discussões, cada vez mais empobrecidas por cancelamentos e outras formas de violência.

O filme renovou a discussão sobre os desaparecidos na ditadura militar, o destino de seus algozes e a obscena ideia de anistia que nos trouxe até aqui. Foi responsável por apresentar à nova geração algo que lhes parecia anacrônico e improvável.

Filme certo, na hora certa, que cumpriu uma função muito maior do que se podia prever e que está longe de dizer respeito só ao Brasil: a questão sobre a democracia se coloca para todos os governos mundiais. Se cabe à arte trazer reflexão, inspiração e alento diante das agruras de estar vivo, “Ainda Estou Aqui” ganhou em todas as categorias.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGFez-se justiça a Walter Salles, um dos maiores cineastas do mundo. Já era para ter ganho o Oscar antes, com “Central do Brasil”, “Diários de Motocicleta” ou “Abril Despedaçado”. O Brasil precisa se orgulhar dele, uma pessoa verdadeiramente notável. (C.N.)

Fritura de Nísia foi ‘dura, cruel e desrespeitosa’, diz ex-ministro Temporão

Folha do Sul / Política / Nísia Trindade é substituída no Ministério da  Saúde

Nisia Trindade foi demitida de uma forma cruel por Lula

Bernardo Mello Franco
O Globo

A forma como o presidente Lula demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde foi “cruel” e “desrespeitosa”, afirma o ex-ministro José Gomes Temporão. Titular da pasta no segundo governo Lula, ele critica a fritura que culminou na queda da ministra, após dois anos e dois meses no cargo.

“Foi um processo muito desagradável. Essa maneira dura, cruel e desrespeitosa de demiti-la deixa um sabor amargo para nós, sanitaristas” — diz Temporão.

MUITO RUIM  – “O que aconteceu nas últimas duas semanas foi muito ruim. O presidente pode trocar quem quiser, mas a forma como isso ocorreu não condiz com a coragem e com o desempenho que ela teve no ministério” — defende.

Ministro entre 2007 e 2010, Temporão integrou a equipe de transição montada após a eleição de Lula para o terceiro mandato. Ele diz que Nísia assumiu uma pasta “devastada” pelo governo de Jair Bolsonaro.

“O ministério estava destruído. Nísia teve que colocar a casa em ordem, reorganizar o SUS e lançar novas políticas públicas” — afirma.

BALANÇO FAVORÁVEL – O ex-ministro reconhece que a gestão “teve problemas”, como a explosão dos casos de dengue em 2024, mas considera o balanço favorável à ministra.

— Nossa expectativa é que o ministro Alexandre Padilha tenha condições de manter e avançar no que foi feito. Ele tem experiência e competência para isso — conclui.

Além de Moraes, outras autoridades entram na mira do Congresso dos EUA

Joaquim Ribeiro on X: "Procurador Geral da República Paulo Gonet e o  delegado da Polícia Federal Fábio Shor, estão na mira do Congresso dos EUA  e poderão sofrer sanções semelhantes a de

Paulo Gonet já entrou para a lista do governo americano

Paulo Cappelli
Metrópoles

Além do ministro Alexandre de Moraes (STF), duas autoridades brasileiras entraram na mira de congressistas dos Estados Unidos. Os parlamentares norte-americanos passaram a discutir sanções também ao procurador-Geral da República, Paulo Gonet, e ao delegado da Polícia Federal Fabio Alvarez Shor.

O PGR e o policial viraram alvo de deputados e senadores próximos a Donald Trump por causa da atuação em inquéritos que bloquearam perfis de políticos e militantes de direita em redes sociais. Esses parlamentares sustentam que, ao avalizar e embasar decisões de Moraes, Gonet e Shor teriam promovido censura e também deveriam sofrer sanções.

LEI MAIS DURA – A medida contra o PGR e o delegado da Polícia Federal envolve a recusa de visto para ingresso nos Estados Unidos. Já em relação a Alexandre de Moraes, a Casa Branca estuda punição mais dura, com a aplicação da Lei Magnitsky, destinada a pessoas que o presidente dos EUA considere ter violado questões de direitos humanos.

Cabe unicamente a Donald Trump decidir os nomes que entram na lista. Para isso, o presidente americano precisaria apenas expor “evidências confiáveis”.

Os punidos com a Lei Magnitsky, além de não poderem entrar em solo norte-americano, ficam impedidos de fazer transações financeiras com cidadãos e empresas dos EUA.

Mulher de Rubens Paiva foi monitorada até o final da ditadura

Quem foi Eunice Paiva, vivida por Fernanda Torres no cinema?

Eunice foi exemplo de resistência contra a ditadura

Géssica Brandino
Folha

Assunto: Eunice Paiva. O carimbo “confidencial” marca o relatório de duas páginas sobre uma palestra da esposa de Rubens Paiva enviado em 17 de julho de 1979 ao então ministro da Justiça. Oito anos após o desaparecimento do ex-deputado, ela era uma voz do movimento pela anistia monitorada por militares.

A palestra ocorreu em 13 de maio daquele ano, durante um ato que reuniu cerca de 150 pessoas em Londrina (PR). O evento fora registrado antes, em 12 de junho, pelo braço de Curitiba do SNI, o serviço de inteligência da ditadura.

DISSE A VIÚVA – No discurso, Eunice cobrou esclarecimentos sobre o desaparecimento do marido, em 20 de janeiro de 1971, questionou a versão do Exército de que Rubens havia sido sequestrado por terroristas, mostrou descrença em relação à punição dos envolvidos e citou uma promessa de que ele seria solto.

Tal promessa, segundo o relatório, fora feita pelo então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid. Ele teria dito que conversara com Rubens Paiva. Este estaria vivo, mas machucado, no 1º Exército. “Me disse também que, para ele sair de lá, era uma questão de tempo, faltava cumprir certas formalidades”, disse Eunice.

Depois, Buzaid negou o encontro com a viúva e afirmou que Rubens Paiva havia fugido.

LINHA DO TEMPO – Cerca de 150 documentos reunidos pela Folha no Arquivo Nacional e na Embaixada dos Estados Unidos permitem refazer a linha do tempo desde o desaparecimento.

A reportagem organizou e traduziu arquivos pela ferramenta de inteligência artificial Google NotebookLM. Depois disso, cada documento foi checado individualmente.

O acervo traz registros não contemplados no filme “Ainda Estou Aqui”, indicado ao Oscar, e até mesmo no livro de Marcelo Rubens Paiva, que baseou a obra cinematográfica.

MÃE E FILHA – Eunice Paiva e sua segunda filha, Eliana, foram presas no dia 21 de janeiro, enquanto Rubens ainda estava vivo. Enquanto a garota, à época com 15 anos, foi solta no dia seguinte, a mãe só seria liberada em 2 de fevereiro. Foi quando ela começou a busca por respostas que chegariam meses, anos depois ou nunca.

Reportagem da Folha de 1981 conta que a confirmação da morte chegou a Eunice pelo então deputado Pedroso Horta (MDB-SP).

No livro, Marcelo diz que a mãe foi informada por um jornalista. Ela não dividiu a notícia com a família e providenciou a mudança para Santos – não para São Paulo, como no filme.

NA EMBAIXADA… – Enquanto Eunice levou seis meses para saber da morte do marido, um memorando da embaixada dos Estados Unidos registrou o fato 22 dias depois do sequestro.

“Paiva morreu sob interrogatório por ataque cardíaco ou outras causas”, diz o documento da embaixada americana. O funcionário escreveu que o caso era “outro exemplo da forte irresponsabilidade das forças de segurança do Brasil”, com potencial para se tornar um problema na gestão Nixon.

Dias antes, em 8 de fevereiro, outro membro da embaixada descreveu o relato de Eunice sobre a prisão.

PAU DE ARARA – “A senhora Paiva foi interrogada em todas as horas, e muitas vezes acordada à noite para interrogatório. Em uma das salas onde seu interrogatório ocorreu, ela viu o pau de arara e equipamento de choque elétrico. Ela também ouviu gritos frequentemente no local”, diz.

“Sua pequena cela continha um colchonete de palha e um chuveiro aberto. Ela não recebeu troca de roupa e, depois de vários dias, conseguiu tomar banho e se secar com o vestido dela, enquanto, discretamente, os guardas olhavam em outra direção. Após cinco dias, sua família conseguiu mandar algumas roupas.”

Anexados, os documentos incluem uma cópia de uma reportagem do New York Times com o relato de Eliana Paiva sobre a prisão dos pais. As publicações foram apontadas como a razão pela qual um correspondente daquele jornal acabaria preso em setembro do mesmo ano.

APELOS INÚTEIS – Além de acionar a imprensa internacional, em fevereiro de 1971 Eunice também escreveu a Alfredo Buzaid, que presidia o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Um mês depois, ela apelou ao presidente Emílio Médici, pedindo “ao chefe da nação a justiça que deve resultar da obediência das leis”.

“É a carta de uma mulher aflita, que viu desabar sobre sua família uma torrente de arbitrariedades inomináveis, e de que é ainda vítima seu marido, engenheiro Rubens Beyrodt Paiva, preso por agentes da Segurança da Aeronáutica no dia 20 de janeiro, mantido até agora incomunicável, sem que se conheça o motivo da prisão, quem efetivamente a determinou e o local onde se encontra”, diz a missiva de Eunice a Médici.

“Não é possível que, mais de 60 dias decorridos, conserve-se assim desaparecida uma pessoa humana! Recusamo-nos a acreditar no pior”, escreve Eunice, em 22 de março de 1971.

CRIME SEM CASTIGO – A correspondência é citada pela jornalista e pesquisadora Juliana Dal Piva no livro “Crime sem castigo: como os militares mataram Rubens Paiva”, lançado em fevereiro.

Apesar dos apelos, o caso foi arquivado pelo conselho em agosto de 1971. Em seu parecer, o relator, na época senador Eurico Rezende (Arena-ES), acolheu como verdadeira a tese dos militares de que Rubens havia fugido.

Eunice é citada como subversiva em relatórios sobre políticos e outros ativistas monitorados pela ditadura. Um informe da Aeronáutica sobre um ato pela anistia em 23 de julho de 1979 revela que a viúva de Paiva criticou o regime e chamou o governo de “camelô, porque está a fim de fazer propaganda”.

ASSUNTO TABU – Contudo a ditadura evitava retaliar familiares de vítimas no período, diz o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que presidiu o Comitê Brasileiro pela Anistia. “Era um assunto do qual a repressão fugia como o diabo foge da cruz.”

Nos anos 1980, Eunice ainda era monitorada pelos militares, que registram sua filiação ao PT, em 1981, em um ato com a presença de Lula. Em 1983, quando Eunice tentou vender um imóvel, o banco pediu uma procuração do marido. Ela questionou a exigência na Justiça e só então o caso Rubens Paiva foi reaberto.

Após a posse de Fernando Henrique Cardoso na Presidência, em 1995, Eunice passa a cobrar do Estado reparação aos familiares de desaparecidos políticos. Recortes de jornais do período mostram o então deputado federal Jair Bolsonaro como um dos opositores da pauta.

NA COMISSÃO – Em 1996, Eunice é a primeira representante da sociedade civil a ser indicada por FHC para a Comissão Especial de Desaparecidos Políticos. Naquele período, ela contribuiu por alguns meses com análises para que outras vítimas da repressão fossem reconhecidas e suas famílias indenizadas.

Os pareceres feitos por Eunice foram citados em 2014 nos relatórios produzidos pela Comissão Nacional da Verdade.

Em seu livro, Marcelo conta que naquele ano a mãe já estava no terceiro estágio do Alzheimer, inerte na cadeira de rodas, quando viu uma reportagem sobre Rubens Paiva na TV. Ela reagiu, repetindo “olha, olha, olha” e “tadinho, tadinho, tadinho”.

O que Dirceu diz em conversas reservadas com integrantes do governo Lula

Zé Dirceu: 'Por justiça com a minha história, tenho o direito de voltar à  Câmara como deputado' - Brasil de Fato

A necessidade faz Lula se reaproximar do mentor Dirceu

Malu Gaspar
O Globo

Não foi só com Lula que José Dirceu falou ao telefone nos últimos dias a respeito das mudanças que ele defende que sejam feitas no governo do PT para recuperar a popularidade do presidente e garantir a reeleição em 2026.

Além de Lula, com quem esteve pessoalmente há alguns dias e falou ao telefone na semana passada, o ex-ministro da Casa Civil também já teve conversas reservadas com o chefe de gabinete, Marco Aurélio Ribeiro, o Marcola, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o favorito de Lula à presidência do PT, Edinho Silva.

PEDE MUDANÇAS – Em todas as conversas, Dirceu defendeu mudanças na organização do governo para melhorar a articulação política não só com o Congresso mas também com os empresários, o agronegócio e o mercado financeiro.

Aliado de Haddad no PT e seu defensor no governo, o ex-ministro da Casa Civil do primeiro mandato de Lula tem feito duras críticas ao governo nos bastidores. O discurso se repete em público, ainda que de forma mais comedida.

ARTIGO NA FOLHA – No final de janeiro, Dirceu publicou um artigo na Folha de S. Paulo com uma lista de pontos que considera importantes para que o governo se reinvente nessa segunda parte do terceiro mandato.

No texto, ele defende que Haddad lidere a agenda econômica (em contraposição à corrente interna do PT que diz que o ministro é excessivamente fiscalista e obediente à Faria Lima). Diz também que não adianta mudar a comunicação sem melhorar a articulação com os setores econômicos.

Na agenda de Dirceu também consta o estímulo à agricultura familiar e a formação de estoques reguladores para conter a inflação dos alimentos, além de uma nova política industrial e o reforço de alianças com a China para enfrentar a ofensiva tarifária dos Estados Unidos sob Donald Trump sobre os produtos de exportação.

VOLTA À POLÍTICA – Depois da publicação, Dirceu passou a fazer essas conversas reservadas com integrantes do governo e da cúpula do PT com quem tem mais afinidade.

O movimento visa ganhar terreno na disputa interna do partido para influenciar o rumo do governo Lula nesta segunda metade do terceiro mandato.

O presidente, que já conversou com Dirceu pelo menos duas vezes nas últimas semanas, não tem dado muitas pistas do que fará. Mas a troca da ministra da Saúde Nísia Trindade por Alexandre Padilha, da mesma corrente de Dirceu no PT, mostra que aos poucos o ex-ministro de Lula vai retomando a influência que já teve no partido e no governo.

DESAGRAVO DE LULA – No evento de aniversário de 45 anos do partido, no Rio de Janeiro, Lula fez um desagravo público a seu ex-ministro ao dizer que “o José Dirceu sabe o que é ser vítima da mentira. O companheiro Delúbio também sabe. O companheiro Vaccari não está aqui hoje”, referindo-se às condenações e à prisão de Dirceu nos casos do mensalão e do petrolão.

“Eles primeiro contam mentiras para tentar nos destruir. Eu sei o que eles fizeram comigo”, afirmou Lula sobre os 580 dias de prisão em Curitiba, entre 2018 e 2019.

Soberania do Brasil não tem nada a ver com a conduta ditatorial de Moraes

Lula quer Brasil soberano com fronteiras defendidas por militares  nacionalistas - Hora do Povo

Lula ainda não tem ideia do que seja soberania nacional

J.R. Guzzo
Estadão

Há uma falsificação fundamental nas dissertações que nos são apresentadas em torno dos infortúnios do ministro Alexandre de Moraes na justiça americana. A ideia geral, sustentada com indignação pelo governo, os comunicadores e a classe que reúne os “especialistas”, é que o ministro está sendo vítima de um ataque à soberania nacional.

Mas os fatos mostram uma realidade que não tem nada a ver com a versão oficial. Em matéria de Alexandre de Moraes, a única vítima até hoje tem sido o Brasil – devastado, cada vez mais, por sua ação destrutiva contra a lei, os direitos individuais e a ordem pública.

HORA DE PAGAR – Aqui se faz, aqui se paga – ou, pelo menos, há a possibilidade de se pagar, em sociedades que são governadas por leis, e não por delegacias de polícia política. Moraes fez. Na verdade, fez o diabo, e na cara de todo o mundo. Agora está na hora de pagar.

Não vai pagar aqui, porque aqui ele e o STF, que há pelo menos seis anos funciona para atender à suas exigências, destruíram o ordenamento legal. Mas pode pagar nos Estados Unidos, uma democracia onde a lei ainda é cumprida e os condenados ainda são punidos.

A soberania do Brasil não tem nada a ver com a conduta individual de Moraes. Por que haveria de ter? Há um vasto número de brasileiros, embora nenhum magnata do regime Lula-STF, condenados no estrangeiro por delinquência contra as leis locais.

NADA DE SOBERANIA – Ninguém acha, quando são castigados, que o país que aplica a sentença está agredindo a soberania brasileira, ou interferindo em nossos assuntos internos. Não tem de ser diferente com Moraes. Ele é acusado de violar as leis americanas. Problema dele – e não do Brasil.

O ministro terá nos Estados Unidos o que ele nega aos brasileiros perseguidos em seus inquéritos: o pleno direito de defesa, a proteção do processo legal e a segurança jurídica de que a lei será cumprida como ela é, e não de acordo com a vontade ou os interesses do juiz.

FAZ-SE JUSTIÇA – Se a acusação provar que Moraes violou a lei americana, ele será condenado e receberá sentença. Se as acusações não forem comprovadas ele será absolvido. É assim que as coisas funcionam lá.

Estão invertendo as faltas neste jogo. Moraes não está sendo perseguido por ninguém; é ele quem persegue os outros e, pior, persegue sem provas, sem culpa e sem respeitar o que diz a lei.

“Não é possível dois ‘cidadões’ atacarem a soberania deste país”, disse o presidente Lula em sua contribuição para os debates – junto com a mediocridade rasa das notas do Itamaraty. É o oposto. Estão chocados com o encaminhamento na Câmara de Representantes de um PL que proibiria Moraes de entrar nos Estados Unidos. É a soberania americana, certo?

‘Mundo livre precisa de um novo líder’, diz Europa depois de briga de Trump

Thierry Monasse/Getty Images

Kaja Kallas decepcionou-se com a postura de Trump

Jamil Chade
do UOL

“Ficou claro que o mundo livre precisa de um novo líder. Cabe a nós, europeus, assumir esse desafio”. Foi assim que a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, reagiu depois da crise no Salão Oval entre os presidentes Donald Trump e Volodymyr Zelensky.

Sua declaração foi a tradução pública de um sentimento de mal-estar por parte da Europa diante de seu parceiro histórico, os EUA.

REUNIÃO AMPLA  – Neste sábado, em Londres, governos de 16 países se reuniram com a União Europeia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para estabelecer bases de uma unidade sobre a defesa do continente. Reino Unido e França anunciaram neste domingo que irão trabalhar em um plano de paz com Kiev para apresentá-lo aos EUA. A cúpula, assim, se transformou em uma resposta às investidas de Trump contra a Ucrânia.

Uma segunda reunião, na próxima quinta-feira, tem como objetivo desenhar uma posição comum dos 27 países da UE para a eventual negociação entre russos e ucranianos.

Uma das ideias defendidas por britânicos e franceses é o deslocamento de tropas de paz da Europa em território da Ucrânia, um tema que vinha sendo negociado com Trump.

TRUMP ASSUSTA – O americano já havia causado um choque quando anunciou que a Ucrânia deveria ceder territórios aos russos e que não deveria entrar na Otan. Trump também forçou para que os EUA tenham acesso aos recursos naturais do país, como parte de um acordo para acabar a guerra.

A exclusão da participação da Europa numa solução para o confronto tinha causado indignação em Berlim, Paris e Londres.

Mas, desde a briga entre os líderes ucraniano e americano, na sexta-feira, as principais diplomacias da UE mergulharam numa operação para admitir a existência de uma ruptura promovida pela Casa Branca e apressar uma nova organização de sua própria segurança.

NOVA ETAPA – Para muitos, o ato tem o potencial de gerar uma nova etapa na relação transatlântica e na própria condução da política da UE, profundamente ligada aos EUA desde o final da Segunda Guerra Mundial.

A constatação é de que se tratou de uma arapuca, montada pelos americanos para humilhar e deslegitimar o líder ucraniano, reforçando a tese de que o único parceiro viável para uma negociação é Vladimir Putin.

Se o russo sempre teve como objetivo a queda de Zelensky e a promoção de uma mudança de regime em Kiev, essa possibilidade ficou ainda mais forte diante do comportamento de Trump.

TROCA DE PRESIDENTE – Para os europeus, o objetivo da armadilha foi acelerar a troca de liderança na Ucrânia. Diplomatas destacam como as provocações começaram mesmo antes da troca de farpas. Ao chegar à Casa Branca, Zelensky foi recebido com um comentário irônico por parte de Trump.

O presidente americano “elogiou” a roupa que o ucraniano vestia, seu tradicional uniforme usado desde o primeiro dia da guerra. Momentos depois, no Salão Oval, ele seria uma vez mais criticado por não usar gravata.

A difusão de teorias conspiratórias, em sites e contas de trumpistas nas redes sociais, também reforçou a ideia de que a briga pode não ter sido tão espontânea como os republicanos querem fazer supor.

MACRON AO TELEFONE – Neste fim de semana, coube ao presidente da França, Emmanuel Macron, telefonar para Trump e para Zelensky, na tentativa de apaziguar a crise.

Enquanto isso, as declarações de apoio aos ucranianos, que surgiram ainda na sexta-feira, começaram a ser traduzidas em atos.

Zelensky foi ao Reino Unido e viu demonstrações de apoio dos europeus. Os líderes britânicos não apenas o receberam, como prometeram um novo pacote de dinheiro para resistir aos russos, no valor de 2,2 bilhões de libras esterlinas. Neste domingo, ele será recebido pelo rei Charles, uma rara audiência política do monarca.

MAIS RECURSOS – Annalena Baerbock, ministra de Relações Exteriores da Alemanha, pediu que seu governo libere 3 bilhões de euros para a defesa da Ucrânia.

No Uruguai, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, se reuniu com diversos líderes sul-americanos ontem e deixou explícita sua preocupação com a crise. “A diplomacia fracassa quando os parceiros de negociação são humilhados diante do mundo”, disse.

Steinmeier apontou que a cena na Casa Branca o “deixou sem fôlego”. “Eu nunca teria acreditado que teríamos que defender a Ucrânia dos Estados Unidos”, disse. “Devemos evitar que a Ucrânia seja forçada a aceitar a escravidão”, completou.

DISSE LULA – O presidente Lula, que se encontrou com o colega alemão no Uruguai, classificou como “cena grotesca” e disse que Trump quis humilhar Zelensky. O brasileiro declarou que disse ao presidente da Alemanha que “é bem possível que a Europa fique responsável pela reconstrução da Ucrânia, fique responsável pela manutenção da Otan”.

O primeiro-ministro tcheco, Petr Fala, destacou que a Europa vive um “teste histórico” e que o caso mostra que “ninguém mais vai cuidar” da segurança do continente. Para ele, novos recursos devem chegar aos ucranianos.

O único a destoar da unidade europeia foi Viktor Orbán, primeiro-ministro de extrema-direita da Hungria e aliado tanto de Trump como de Putin. Ameaçando bloquear um consenso da UE, ele alertou que apenas a postura dos EUA na negociação pode ter êxito.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Tudo isso significa que o mundo não mudou nada. Apesar de alcançar um desenvolvimento tecnológico espantoso, tudo continua como antes nesse mundo verdadeiramente cão, apesar de os canídeos não serem tão abjetos e desprezíveis. (C.N.) .

Deputado pede que a Casa Civil esclareça a corrupção na COP30

Alfredo Gaspar fortalece o combate ao crime com aprovações de projetos de sua autoria contra a violência - TribunaHoje.com

Gaspar diz que a corrupção na COP30 está itolerável

Deu no Poder360

O deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) protocolará um pedido de esclarecimentos à Casa Civil pela contratação da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos) para organizar a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).

O acordo, assinado em dezembro de 2024 e com validade até junho de 2026, custou cerca de R$ 478,3 milhões. Por se tratar de uma organização internacional, a contratação dispensou a realização de uma licitação. Ou seja, a OEI foi escolhida de forma discricionária pelo governo federal.

PEDIDO À CASA CIVIL – Logo após o Carnaval, o deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) protocolará um pedido de esclarecimentos à Casa Civil pela contratação da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos) para organizar a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).

O acordo, assinado em dezembro de 2024 e com validade até junho de 2026, custou cerca de R$ 478,3 milhões.

Alfredo Gaspar, que é ex-procurador-geral de Alagoas disse ao Poder360 que o contrato se dá sem “qualquer garantia de que esse dinheiro será bem empregado”.

MAIS CRÍTICAS – Outros nomes da oposição também questionaram a iniciativa do governo. O líder da Oposição na Câmara, Zucco (PL-RS), quer apresentar uma Proposta de Fiscalização e Controle, enquanto o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) acionou o TCU (Tribunal de Contas da União) contra a medida, pedindo a suspensão do contrato.

Já Alfredo Gaspar questiona o processo de escolha da OEI e por que o governo não avaliou outras entidades internacionais. O deputado alagoano também pediu os parâmetros avaliados para mensurar a eficiência da contratação.

Em nota, a Secretaria Extraordinária para a COP30 disse que a organização internacional “não fará a gestão financeira dos recursos”.

CORRUPÇÃO EM ALTA – A gestão de Rodrigo Rossi, atual diretor da OEI no Brasil, deu um salto nas contratações sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foram cinco acordos só no segundo semestre de 2024. A soma desses contratos com o assinado para a COP30 é de quase R$ 600 milhões.

Os governos de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) fecharam, juntos, contratos também suspeitos com a OEI, mas num total bem inferior, de R$ 50 milhões.

O deputado Alfredo Gaspar questiona essa alta e indaga se o governo realizou estudos comparativos sobre o custo-benefício desses contratos em relação a outras entidades. “Sem esses esclarecimentos, a sociedade pode ficar sem garantias de que os recursos públicos estão sendo utilizados de maneira responsável e dentro dos princípios da administração pública”, declarou Gaspar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente matéria do Poder360, mostrando que parte da imprensa está atenta ao escândalo da corrupção na COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que ocorre em Belém, de 10 a 21 de novembro deste ano. Quanto à Casa Civil, não vai esclarecer nada, porque está envolvida até o pescoço. C.N.)

Brasil não é mais colônia, gringo! Aprenda que a censura é coisa nossa!

Triste Fim de Policarpo Quaresma: análise, contexto histórico e mais - Toda  Matéria

Lima Barreto descreveu o Brasil com minúcias e detalhes

Mario Sabino
Metrópoles

E eis, então, que o Brasil não é mais colônia desde 1822, salve, salve, embora a data correta seja 1815, desculpe a nossa falha, mas o que importa a história, ela, quando é a gente que a escreve e que a reescreve, que a rasga, junto com a Constituição, a minha, a sua, a deles, seja a de quem for, a lei, ora a lei?

Quem é essa gringalhada para pensar que a gente não pode censurar quem a gente quiser, onde a gente quiser, quando a gente quiser e pelo motivo que a gente quiser? A gringalhada acha que a gente é vira-lata com complexo de? A censura é coisa nossa! Quem for contra, é só sair ou nem precisa vir: ame-o ou deixe-o.

TIRANIA DO LAR – O patriotismo é o último refúgio de um censor, mas vamu que vamu, porque a concepção de governo da gente não é o despotismo, nem a democracia, nem a aristocracia, é a de uma tirania doméstica. O bebê portou-se mal, castiga-se.

Levada a coisa ao grande, o portar-se mal é fazer oposição, ter opiniões contrárias, e o castigo não são mais palmadas, sim, porém, prisão e morte. Plagio Lima Barreto sobre Floriano Peixoto, lembra dele?, deles?, claro que não, Triste Fim de Policarpo Quaresma, o Florianão Peixoto, ninguém mais lê, mas está lá, está aqui, os Florianões redivivos, bumbum paticumbum prugurundum, o nosso samba, minha gente, é isso aí.

CADA VEZ MELHOR – Aí vem a nossa escola, olhaí o enredo, decoraí a letra, capricharam na resposta: “com coragem, estamos construindo uma República independente e cada vez melhor”, skindô, skindô, mas continuo no inquérito, o primeirão a entrar, o último a sair, será?, euzinho, agora aos quase 63 do tempo derradeiro, já faz seis anos nos nobres anais, mas com todo o respeito, excelência, juro, eu ainda tinha empresa, filho pequeno, alguns sonhos, não muitos, e uma verdade inconveniente, o amigo do amigo de meu pai, aquele um e aquele outro, ô Barroso, diz pra mim, cantaí, solta a voz, sou só ouvidos.

Lá vou eu, repetitivo como todo velho, era menos há seis anos: e quando o seu patriotismo se fez combatente, o que achou? Decepções. Onde estava a doçura da nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros?

OUTRA DECEPÇÃO – A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções: Policarpo Quaresma, outra vez, e outra vez plágio, cadê as aspas?, manda calar, manda prender, manda sumir, que a pátria que ele queria ter era um mito, era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete, a que existia, de fato, era a do homem do tribunal, dos hômi, a nossa soberania, vou explicar: manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Bumbum paticumbum prugurundum, o nosso samba, minha gente, é isso aí, e gringo, go home, mas tu não tá a salvo nem aí da nossa democracia doméstica.

Lula enfrenta desafios semelhantes aos de Dilma Rousseff em 2015

Presidente Lula indica Dilma Rousseff para comandar Banco dos Brics

Dilma imitou Lula ou agora é Lula que tenta imitar Dilma?

Iuri Pitta
CNN

O cenário enfrentado por Lula atualmente, com a queda em sua aprovação registrada pela pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (14), apresenta semelhanças com o que viveu Dilma Rousseff em 2015, principalmente no que diz respeito ao enfraquecimento da economia do país.

Geralmente, quedas expressivas na aprovação de presidentes estão associadas a fatos marcantes ou desgastes ao longo do tempo.

DILMA EM 2015 -Podemos ter como exemplo as jornadas durante o governo Dilma Rousseff, com o povo nas ruas e dificuldades que resultaram em uma queda de quase 27 pontos percentuais na aprovação da então presidente, e depois a pandemia de Covid-19, em que o ex-presidente Jair Bolsonaro sofreu desgastes junto à opinião pública.

O atual momento de Lula se assemelha mais ao início do segundo mandato de Dilma, que após ser reeleita em 2014 com a promessa de que a economia estava bem, mudou a política econômica adotando medidas mais fiscalistas, o que impactou negativamente a imagem dela.

E embora o governo mencione a necessidade de mudar a comunicação, as fórmulas propostas, como viagens pelo país e anúncios de obras, podem não ser suficientes.

SEM MÁGICA – Enquanto a população sentir dificuldades com o aumento do preço dos alimentos e gastos essenciais, não haverá “varinha mágica” para resolver o problema.

O governo precisa abordar efetivamente a questão da inflação dos alimentos e adotar políticas que melhorem a sensação de bem-estar da população.

Apesar dos desafios, esse não é o “fim do mundo”. Outros governantes conseguiram melhorar sua imagem durante o ano de reeleição. No entanto, Lula terá um ano muito difícil se não conseguir enfrentar as questões econômicas que afetam diretamente a vida dos brasileiros.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Recordar é viver. Realmente, Dilma pode ser comparada com Lula, porque os dois adoram dar pitacos em assuntos econômicos e deixaram Mantega implantar a maquiagem dos números da economia. Dilma e Lula são faces da mesma moeda. (C.N.)

Se Fernanda Torres não ganhar, será mais uma mancada na história do Oscar

A imagem mostra uma estátua dourada do Oscar, parcialmente visível entre cortinas claras. O fundo é de um tom neutro, destacando a figura brilhante da estatueta.

Nem sempre o Oscar sai para quem realmente merece

Ruy Castro
Folha

Se Fernanda Torres perder o Oscar de melhor atriz para as lambisgoias que concorrem com ela, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood estará apenas confirmando sua tradição de bolas fora. Afinal, 2025 não é 1950, quando o Oscar de melhor atriz foi disputado por nada menos que Gloria Swanson em “Crepúsculo dos Deuses”, Bette Davis e Anne Baxter em “A Malvada”, Eleanor Parker em “À Margem da Vida” e Judy Holiday em “Nascida Ontem”. Gloria e Bette eram as favoritas, mas qualquer uma poderia ter levado. Judy levou e ninguém se queixou.

Em 1959, a sublime Simone Signoret foi premiada por “Almas em Leilão”, mas a vitoriosa deveria ter sido Marilyn Monroe por “Quanto Mais Quente Melhor” —e olhe que Marilyn não foi nem indicada. Em 1960, os jurados deram a Elizabeth Taylor, pelo opaco “Disque Butterfield 8”, o Oscar que poderiam ter-lhe dado no ano anterior por seu arrasador trabalho em “De Repente, no Último Verão”. E, com isso, deixaram de premiar Shirley MacLaine por “Se Meu Apartamento Falasse”.

Em 1965, os jurados se confundiram e premiaram a insípida Julie Christie por “Darling” quando, nitidamente, queriam dar o Oscar a Julie Andrews por “A Noviça Rebelde”. A culpa foi da cédula eleitoral, impressa num corpo minúsculo, difícil de ler pelos velhinhos eleitores.

Mas nada supera a tragédia de 1954. Judy Garland, favorita disparado por “Nasce uma Estrela”, ia ter neném na noite da cerimônia. Fotógrafos e cinegrafistas tomaram o hospital com câmeras e luzes para registrar sua emoção ao ver, pela televisão, seu nome ser anunciado. Mas a vitoriosa foi Grace Kelly, por sua apagada atuação em “Amar é Sofrer”. Em dois minutos, todas as câmeras e luzes foram desmontadas e os rapazes deram o fora sem ver a expressão de profunda decepção de Judy.

Por que ela não ganhou? Porque “Nasce uma Estrela” teve uma produção caótica, a Warner o odiava e o distribuiu pessimamente. Nem todos os jurados o viram. Às vezes, vence a atriz do filme mais assistido.

Gleisi é uma aposta de alto risco e pequena possibilidade de sucesso

Quem é Gleisi Hoffmann, que assume a articulação política do governo Lula

Depois do Carnaval, Gleisi assume a Articulação Política

Dora Kramer
Folha

A escolha de Gleisi Hoffmann (PT) para comandar a articulação política mostra que o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) não usou de força de expressão quando disse que precisava de “mais agressividade” no governo.

A menos que a nova ministra tenha uma identidade secreta a ser revelada na função, Lula parece ter desistido de aplacar ânimos e fez opção preferencial pelo enfrentamento.

QUAL É O PLANO – À primeira vista não dá para entender, como, de resto no mundo político, ninguém entendeu qual é o plano do presidente para atender às seguintes urgências: desanuviar o ambiente no Congresso, garantir alianças para 2026, fortalecer o ministro Fernando Haddad (PT) e ampliar o governo ao centro.

A indicação de Gleisi sinaliza o oposto. Por óbvio, a repercussão no Parlamento foi negativa. Uma decisão surpreendente para o desenho de uma equipe palaciana onde Rui Costa (PT) já é objeto de desagrado explícito por parte do Legislativo e de outros ministros.

Ao ministro da Casa Civil junta-se uma deputada que tampouco é vista com grande simpatia. O bom relacionamento na cena não é o forte de Gleisi Hoffmann, escolhida justamente para manejar relações.

CRISE ANUNCIADA – As avaliações iniciais são as de que há crise contratada à frente. Se a intenção do presidente é a de investir na combatividade da nova articuladora, talvez tenha errado no cálculo do equilíbrio de forças.

Os adversários —os assumidos, os enrustidos e os aliados descontentes com a escolha— também são bons de combate. Num primeiro momento, a insatisfação tende a se disfarçar para, em seguida, manifestar-se no aumento do preço do apoio.

Se lá na frente a aprovação de Lula continuar ruim, pulam do barco depois de sugar o que puderem. Caso ele consiga recuperar a popularidade e os planos eleitorais da oposição fizerem água, aí há chance de o universo conspirar a favor do presidente. Pode ser que o jogo de Lula se baseie na certeza de que a sorte lhe garantirá vitória por gravidade, mas é aposta de alto risco e baixa taxa de sucesso.

Nos últimos meses, Lula entrou numa decadência notável, e muito rapidamente.

charge-estrela-decadente

Charge reproduzida do Arquivo Google

Merval Pereira
O Globo

O mito analógico está fragilizado diante dos problemas que a era digital trouxe para o palco político? As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias, especialmente a Quaest/Genial, mostram uma percepção de que os dois primeiros anos do terceiro governo de Lula repetem programas e histrionismos que estão com data vencida.

O público, que voltou ao teatro para ver uma peça nova de seu ídolo, não se contenta mais com o que é mostrado em cena, quer coisas e caras novas no proscênio.

FRANCA DECADÊNCIA – Os oito estados escolhidos pela equipe de Felipe Nunes para a pesquisa resumem os centros que devem decidir a eleição de 2026, e a situação do governo é francamente decadente.

Nos três maiores colégios eleitorais — Rio, São Paulo e Minas —, a desaprovação está na casa dos 60%, e em estados do Nordeste, que Lula dominava eleitoralmente, a ponto de se eleger em 2022 por causa da região, a aprovação já está abaixo da reprovação.

Nos últimos meses, o governo Lula está em decadência notável, e muito rapidamente. A pesquisa Quaest tem um detalhe de longo prazo: Lula não está apenas mal avaliado nos maiores colégios eleitorais, mas tem em São Paulo um adversário crucial, o governador Tarcísio de Freitas, muito bem avaliado.

REELEIÇÃO DIFÍCIL – Em Minas, também o governador Zema é um player importante na sucessão, com boa aprovação. A baixa popularidade de Lula em Minas mostra que a disputa em 2026 será muito difícil.

Não se elege presidente quem não ganhar em Minas, dizem as pesquisas dos últimos muitos anos. O estado espelha o país de maneira exemplar: tem região industrializada, tem parte na Sudene, tem agropecuária, tem eleitorado urbano forte, é próximo do Rio.

São Paulo é outro ponto crucial. Quem não tiver votação forte em São Paulo não vence a eleição. O PSDB já foi dono desse eleitorado, que agora foi para a direita com Tarcísio, mantendo o antipetismo.

ELEIÇÕES PASSADAS – Fernando Henrique venceu Lula duas vezes no primeiro turno porque obteve votação espetacular em São Paulo. Aécio Neves ganhou em São Paulo com votação do mesmo tamanho, mas perdeu em Minas para Dilma, que também era mineira e conseguiu se impor.

O candidato que perder nos dois estados está praticamente fora da disputa. Lula começa a decair no Nordeste, onde era muito forte. Terá de fazer um esforço muito grande este ano, com ações muito melhores do que tem feito. Ir para televisão a cada 15 dias, sem ter nada para falar, como aconteceu agora, é muito arriscado, aborrece as pessoas.

No afã de recuperar a popularidade, ele se arrisca muito. Outro dia desafiou seus adversários a ir para a rua se quiserem vencê-lo, mas, nas últimas vezes em que isso aconteceu, foi um fracasso.

SEM ATUALIZAÇÃO – Bolsonaro reuniu muito mais gente nas ruas do que Lula. Também não é mais esse o campo do PT, que já mobilizou multidões, por causa dos sindicatos, hoje decadentes.

Empregados não querem saber de sindicato, e eles não mobilizam mais ninguém. O PT precisa atualizar sua comunicação digital, porque não está atingindo o público que pretende.

A percepção dos entrevistados pela Quaest é que o governo parece fragilizado, correndo atrás da popularidade, mas sem força para impor suas decisões, diante da opinião pública mobilizada pela direita e do Congresso majoritariamente oposicionista.

GRANDE DESGASTE – A visibilidade quase única de Lula expõe o presidente a um desgaste, pois ele se baseia no passado para garantir um futuro que não chega.

A figura icônica de Lula foi rebaixada pela agressividade de Bolsonaro e seus seguidores. A oposição tucana sempre foi feita em alto nível e, até mesmo na crise do mensalão, não soube se aproveitar da situação. Lula já havia sofrido rachadura em sua imagem quando foi preso, mesmo que a narrativa de perseguição política tenha sido vitoriosa formalmente.

Nas campanhas eleitorais, Bolsonaro tem enfrentado Lula sem meias palavras, tratando-o como político ladrão “descondenado”, e não como um mito político. Brevemente, pode estar na cadeia onde Lula já esteve. Talvez assim apareça algum novo caminho.

Mesmo com aprovação de 62%, Zema terá muita dificuldade para eleger o sucessor

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema

R|omeu Zema tem excelente avaliação em Minas, porém…

Deu em O Globo

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta-feira mostrou que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), terá dificuldade para popularizar o nome de seu vive, Matheus Simões (Novo), seu preferido para concorrer a sua sucesso em 2026.

De acordo com o cenário proposto pelo levantamento, o político tem apenas 4% das intenções de votos e ficaria atrás dos senadores Cleitinho (Republicanos), Rodrigo Pacheco (PSD) e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (Republicanos).

POPULARIDADE – O mesmo levantamento testou a popularidade do governo de Zema, que é aprovado por 62% dos entrevistados, desaprovado por outros 30% e 8% não souberam responder.

Já a avaliação do governo para os participantes é considerada positiva por 41%, regular por 37%, negativa por 14% e 8% não souberam responder.

A análise positiva para Zema não indica ser, no momento, um fator de peso na tentativa do atual governador de cacifar Matheus Simões para a disputa ao governo do estado em 2026, quando acaba o seu mandato. Segundo o levantamento, o atual vice-governador teria 4% dos votos. Em primeiro lugar, com 33%, aparece Cleitinho, seguido de Kalil com 16% e Pacheco com 8%. Outros 18% se disseram indecisos e outros 21% afirmaram que votariam branco ou nulo.

BRAÇO DIREITO – Zema tem falado abertamente do seu desejo em ter o vice como sucessor e chegou a chamá-lo de “braço direito” na última semana. Questionado sobre a declaração, Simões respondeu apenas que Zema está “convicto” de que é necessário garantir seu nome na sucessão:

— Não acredito em milagre e, para que isso continue, precisamos de uma sucessão bem definida. O meu braço direito tem sido o professor Mateus, que espero que possa me suceder — disse Zema.

Ele tem feito ainda sucessivos movimentos privilegiando Matheus. Na última semana, dois indicados do vice-governador ganharam uma cadeira no governo: Mila Corrêa da Costa e Luiz Otávio Gonçalves, foram anunciados como novos secretários da gestão e assumirão o Desenvolvimento Econômico e a Casa Civil, respectivamente.

Esta é a primeira vez que a AGU defende ministro do Supremo no exterior

8 de janeiro: documento coloca sob suspeita juiz auxiliar de Moraes no STF  | Blog do Gustavo Negreiros

AGU contratará escritório nos EUA para defender Moraes

Rafael Moraes Moura
O Globo

A atuação da Advocacia-Geral da União (AGU) a favor do ministro Alexandre de Moraes no caso Trump/Rumble na Justiça dos Estados Unidos, não é inédita. Integrantes da AGU dizem que o órgão já atuou no exterior em outras causas, mas é a primeira vez que defende um integrante do Supremo Tribunal Federal (STF) em causas fora do país.

Uma das funções legais da AGU é justamente defender autoridades públicas em ações decorrentes da atuação deles nos cargos. Por isso, ela já defendeu ministros do Supremo, como Luiz Fux e Kassio Nunes Marques, mas em ações movidas no território nacional, não no exterior.

ESCRITÓRIO AMERICANO – Na guerra entre o Rumble, Donald Trump e Moraes no Judiciário norte-americano, a defesa do ministro deverá ser realizada, segundo a AGU, “em parceria com escritório internacional com competência para atuar na justiça norte-americana, como previsto na legislação brasileira”, o que tem levantado críticas de parlamentares da oposição, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

“O Alexandre de Moraes, na sua insanidade, está colocando a AGU para defendê-lo, está tentando colocar a Advocacia-Geral da União, que é paga com o meu e o seu imposto, para fazer a defesa dele, num caso particular dele, em um conflito que ele está buscando, ao tentar censurar redes sociais”, criticou Eduardo em vídeo publicado em suas redes sociais.

A lei 9.028, de abril de 1995, que trata das atribuições institucionais da AGU prevê que o órgão fica autorizado a representar judicialmente “os titulares e os membros dos Poderes da República” quanto a “atos praticados no exercício de suas atribuições constitucionais, legais ou regulamentares, no interesse público”.

SEM LIMITES – A lei não especifica os limites da atuação da AGU, mas técnicos e especialistas ouvidos pelo blog avaliam que a redação também abarca situações como a de Moraes no caso Rumble.

“Não dá para fulanizar a discussão. Não é a AGU atuando em nome do ministro Alexandre de Moraes, e sim a favor das decisões de um ministro do Supremo”, diz o advogado Álvaro Palma de Jorge, professor de direito constitucional da FGV Direito Rio.

“Está dentro das atribuições legais da AGU defender os agentes públicos, o que inclui os ministros do STF e as suas decisões. Esse processo não diz respeito a uma ação privada do ministro Alexandre de Moraes”, acrescenta, em referência ao episódio em que o magistrado e sua família foram hostilizados no aeroporto de Roma por uma família de São Paulo.

Análise: Delação de Cid implode esperança de livrar Bolsonaro em caso de cartão de vacina e joias

DIZ A AGU – Procurada pela equipe da coluna, a AGU informou ao blog que tem contratos vigentes com escritórios de advocacia para defesa de interesses do Estado brasileiro e de seus agentes no exterior, inclusive nos Estados Unidos, “mas ainda não houve decisão sobre qual será o parceiro na defesa do ministro do STF”.

“A AGU vai avaliar como se dará a representação do ministro de acordo com as características jurídicas do caso específico, seguindo os passos exigidos nesse tipo de representação”, frisou.

A AGU também esclareceu que já atuou no exterior em 2017, no auge da Lava-Jato, defendendo “agentes públicos em ações movidas contra atos praticados no exercício de suas funções”.

TEVE SUCESSO – “Na época, tratou-se de ação ajuizada pelos Estados Unidos por ato praticado no território brasileiro e tivemos sucesso na representação”, comunicou o órgão, sem detalhar os agentes envolvidos. O blog apurou que não eram ministros do STF.

Na última terça-feira (25), a Justiça dos Estados Unidos negou um pedido de liminar apresentado pela plataforma Rumble e pela Trump Media & Technology para que decisões do ministro não fossem cumpridas nos Estados Unidos.

A juíza Mary S. Scriven não chegou a analisar o mérito do pedido feito pelas empresas, mas ressaltou que as decisões de Moraes não se aplicam à jurisdição dos Estados Unidos. Além disso, a parte ré precisa ser intimada de acordo com os protocolos estabelecidos na Convenção de Haia e um tratado de assistência jurídica mútua assinado por Estados Unidos e Brasil.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O problema de Moraes é justamente este, pois nas redes sociais ele julga e pune de imediato, sem intimar e ouvir a parte ré. Mas quem se interessa? (C.N.)

Queremos devassar contrato da COP30 no TCU, diz líder da oposição

Zucco

Líder da oposição, Zucco ficou estarrecido com a denúncia

Deu na CNN

Em entrevista à CNN, o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Luciano Zucco (PL-RS), disse que é preciso um “maior aprofundamento” sobre o contrato firmado pelo governo federal com uma organização internacional para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em Belém.

Zucco vai recorrer ao Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar o acordo de quase R$ 500 milhões.

APROFUNDAMENTO – “Estamos acionando nossa equipe técnica para tratar junto ao TCU pedido de informações, para podermos ter um maior aprofundamento sobre essa questão relacionada à contratação sem licitação”, afirmou Zucco nesta sexta-feira (28) ao CNN 360º.

A instituição contratada é a Organização dos Estados Ibero-Americanas (OEI), com sede na Espanha. A vigência do contrato vai até junho de 2026. A apuração é do analista de política da CNN, Caio Junqueira.

Pelo acordo entre governo e a OEI, a organização vai atuar na “preparação, organização e realização da COP30, incluindo a realização de ações administrativas, organizacionais, culturais, educacionais, científicas e técnico-operacionais”.

EMPRESAS NACIONAIS – “Podemos ter empresas aqui, de capital nacional, que, com licitação, pudessem ser contratadas”, sugeriu Zucco. “Será que só temos essa organização capacitada para a COP30?”, indagou, em outro momento.

O líder disse que os trabalhos da oposição serão feitos com “responsabilidade”, mas que, quando as comissões da Câmara forem instaladas, representantes do governo podem ser chamados a prestar esclarecimentos sobre o contrato.

Zucco afirmou também ver “possíveis irregularidades” pelo fato de haver pessoas que estiveram na organização contratada e, hoje, fazem parte do governo Lula.

RELAÇÕES PERIGOSAS – O atual diretor da OEI no Brasil, Rodrigo Rossi, assumiu o posto em julho de 2024. Ele substituiu Leonardo Barchini, que deixou o cargo para comandar a Secretaria Executiva do Ministério da Educação.

A relação entre OEI e o governo federal se intensificou após a entrada de Barchini no MEC. No segundo semestre de 2024, cinco contratos foram fechados entre as partes, totalizando mais de R$ 80 milhões.

A CNN entrou em contato com o Planalto e aguarda posicionamento.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Vai bem a CNN, a primeira empresa jornalística a denunciar o escândalo da COP30, que foi criado e se realizou dentro do Palácio do Planalto. Nesta domingo, dia 2, vamos voltar ao assunto, que antecipou a quarta-feira de cinzas no Planalto. (C.N.)

Trump, Putin e Xi Jinping formam a nova ordem antiliberal e autocrática

Donald Trump is trusted less than China's Xi Jinping and Russia's Vladimir  Putin in Pew global opinion survey | South China Morning Post

Nova ordem mundial parece estar meio fora de ondem

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Quando entrou em cena para anunciar sua genuflexão ao governo de Donald Trump, Mark Zuckerberg sabia bem em que alvos deveria mirar. Como comentou-se aqui ainda antes da posse do republicano, o dono da Meta, ao decidir levantar as checagens factuais de suas redes, dirigiu as baterias ao mundo ocidental.

Mais precisamente, Zuckerberg atacou a Europa reguladora, que tolheria a liberdade de expressão de seus negócios, e a América Latina, periferia do Ocidente onde funcionariam tribunais secretos, igualmente inimigos do free speech. O bilionário do Facebook sintomaticamente poupou a China de suas queixas, bem como a Índia.

UM MÊS DEPOIS… – Agora, mais de um mês desde que Trump assumiu a lojinha, as inclinações antieuropeias e antiliberais do presidente americano tornaram-se patentes. O candidato a autocrata dos EUA parece respeitar muito mais as lideranças fortes da Rússia e da China do que os aliados europeus, vistos como fracos e dependentes.

Além das ameaças diretas a Canadá, México, Dinamarca, ONU e Otan, Trump comprou a versão de Putin para a invasão da Ucrânia e acabou com a terceirização da guerra que vinha sendo alimentada por Joe Biden e os governos da UE.

Zelenski foi reduzido a um comediante que usurpou o poder, desviou recursos e tornou impossível negociar algum tipo de paz. Agora vai ter que ceder.

SEM ALTERNATIVA – Não é preciso apoiar a visão de Trump para dizer que a situação anterior se mostrava insustentável, em que pese a retórica de defesa das “leis internacionais” e a brutalidade do ato invasor. Estava claro que não haveria alternativa a uma guerra prolongada sem alguma concessão territorial por parte da Ucrânia. Há quem aposte que a paz articulada pelo republicano será um convite a novas aventuras de Putin rumo à Europa. A ver.

O fato é que Trump, Putin e Xi Jinping são a nova base decisória da geopolítica global. Neste mundo iliberal autocrático, são esses os senhores que apitam e preenchem o papel de instituições multilaterais. Esqueça Nações Unidas, Otan e quejandos. A nova partilha está em curso.

Cada um deles quer dirigir seu respectivo país e áreas de influência o mais possível sem empecilhos institucionais. O russo vai no velho estilo imperial, e o chinês tem tudo controlado e planejado. Nenhuma das duas nações acumula experiência democrática.

SALVAGUARDAS – São diferentes dos EUA, onde um sistema de regras e balanços subsiste, mas não se sabe como se comportará e até quando. Para Trump e seus rapazes, o que vale é o ultracapitalismo triunfante que transforma a administração do país em administração de uma empresa. Quem manda é o CEO, e o povo é acionista.

É chover no molhado dizer que a denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal é histórica. As evidências de uma trama golpista articulada em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro são de extrema gravidade.

A democracia brasileira vai se deparando com uma nova etapa de sua consolidação, rompendo tabus e hesitações que poderiam antes enfraquecê-la. Em que pesem as vozes sinistras da extrema direita, o caso jurídico é sólido.

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P.S. –
Um reparo: embora o assunto já pareça superado, estou entre os que consideraram um erro do ministro Alexandre de Moraes evitar o julgamento pelo plenário do STF. (M.A.R.)

Lula está à espera de um milagre que não virá para aumentar popularidade

Lula chega à metade do mandato com 28% das promessas concluídas #charge  #cartum #cartoon #humor #política #humorpolitico #desenho #art #caricatura  #caricature #jornal #opovo #jornalismo #illustration #ilustração  #editorialcartoon #politicalart ...

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Fabiano Lana
Estadão

Para quem costuma fazer associações entre a popularidade e economia, a rápida erosão da aprovação do presidente Lula é ainda um mistério. Se por um lado há sinais de paralisia na atividade econômica no ar, por outro um crescimento de cerca de 3,5% do PIB em 2024 e menores taxas de desemprego da história sugeririam números mais generosos para a atual gestão.

A rejeição ao Lula tem facetas conhecidas, mas também possui elementos enigmáticos. Mas a questão não para por aí.

COMO REVERTER? – O ponto seguinte é: como reverter essa popularidade hoje no vermelho? Inclusive, uma espécie de Rio Rubicão já foi atravessado…

Além do ex-presidente Bolsonaro –provavelmente um futuro presidiário pela tentativa de golpe de Estado – figurar na frente das intenções de voto, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já se encontra em empate técnico segundo sondagem da CNT/MDA. A maré está antipetista.

Em 2005, há 20 anos, Lula também enfrentou um inferno astral. Seu partido ficou seriamente abalado e companheiros de vida tiveram carreiras políticas exterminadas por causa do escândalo do mensalão.

NO ENTANTO, VENCEU – Mas no ano seguinte, 2006, Lula sagrou-se vencedor nas eleições derrotando o então fascista, então privatista, então fanático religioso Opus Dei, o ex-governador tucano Geraldo Alckmin – que atende neste momento como socialista vice-presidente da República.

Há duas décadas Lula foi dado como morto politicamente. Decidiram “deixá-lo sangrar” até as eleições do ano seguinte, conforme expressão tão usada na época, para conquistarem novamente o Palácio do Planalto.

Ficou fora do radar uma retomada surpreendente da economia a partir do chamado boom das commodities, processo que fez a arrecadação do Estado crescer e o otimismo e a sensação de bem-estar dos eleitores ser bem maior do que eventuais reservas populares contra o PT.

FEZ O CONTRÁRIO – Um detalhe crucial, em seu primeiro mandato Lula se concentrou em ajustar as contas públicas e depois em distribuir benesses.

Mas o que o presidente tem hoje a apresentar? O que tem a esperar? Será que os programas “Pé-de-Meia” e “Farmácia Popular”, incensados agora em rede nacional de TV, podem ter um papel semelhante ao poder eleitoral de um programa Bolsa Família? Sem chances.

A sociedade é outra, os mais jovens não assistem mais televisão, e a oposição também lembra muito o PT dos anos 90: é implacável com o governo, só quer o seu pior.

SEM OUTRO BOOM – Há algum outro boom de commodities à vista? Não é o que dizem os especialistas. Pelo jeito, só um milagre – que não parece provável quando se examinam as circunstâncias.

Aliás, a pensar no programa oficial de televisão de Lula, os anúncios veiculados são páreo para correntes de WhatsApp que, verdadeiramente, mostram a primeira-dama Janja da Silva em viagem de classe-executiva para Roma, num valor acima de R$ 30 mil, mesmo sem ter direito legal a esse privilégio?

São páreo para o ex-ministro Antonio Palocci, mesmo após tantas confissões públicas, estar livre das garras da lei?

GOVERNO ÓTIMO? – Que tipo de informação corre mais rápido, a oficial ou a das correntes anárquicas das redes? Será que alguém acredita de verdade que o governo é ótimo, mas prejudicado pelas fake news que embaçam a capacidade da sociedade de avaliá-lo? A ilusão é uma droga poderosa.

Há aquele dito de Maquiavel de que o mal se faz de uma vez e o bem aos poucos. Lula, que se acha o sabe tudo geral da humanidade, fez ao contrário. Optou pelo populismo e começou com o “bem”, ao estender o aumento do Bolsa Família no seu mandato.

Agora, com inflação, déficit persistente, juros altos e certa paralisia econômica pela frente, parece só ter maus resultados aos poucos a mostrar. Talvez devesse ter ficado mais atento ao que dizia o pensador florentino da política real. Agora é tarde e a outra opção é o milagre ou uma divisão bizarra dentro da direita.