Novo texto de projeto pode beneficiar Bolsonaro e condenados do 8 de janeiro

Reunião tensa no PL mostra disputa por narrativa e defesa dramática de Bolsonaro

Assustado, Moraes descumpre a lei para evitar embargos infringentes

Moraes reforça presidência do TSE com juiz da Lava Jato e ex-ministro da  Justiça - 12/03/2022 - Poder - Folha

Moraes faz manobra desesperada para bloquear a defesa

Carlos Newton

Diante de possibilidade de a defesa de Jair Bolsonaro apresentar embargos infringentes que podem levar à absolvição do ex-presidente, conforme a Tribuna da Internet tem divulgado desde que o ministro Luiz Fux passou a integrar a Segunda Turma, o relator Alexandre de Moraes tomou uma decisão totalmente ilegal nesta terça-feira, ao decidir encerrar o processo do golpe de estado, alegando que os advogados perderam o prazo para recorrer.

Na mesma decisão, o ministro do Supremo Tribunal Federal resolveu manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) preso na Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal, oficializando a condenação definitiva do ex-presidente a 27 anos e 3 meses de prisão pela acusação de liderar uma trama golpista.

TRÂNSITO EM JULGADO – Moraes também declarou o trânsito em julgado para os demais réus do núcleo crucial do caso e determinou a prisão dos que ainda estavam em liberdade. Com isso, os ex-ministros Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier foram presos e iniciaram cumprimento da pena à qual foram condenados na mesma ação.

Apanhados de surpresa com a decisão totalmente ilegal de Alexandre de Moraes, os advogados de Bolsonaro afirmaram que Moraes está descumprindo o próprio Regulamento do Supremo, que dá 15 dias de prazo para a apresentação de embargos infringentes.

Celso Vilardi afirmou que o relator jamais poderia encerrar o processo e a defesa fará um recurso para a aceitação de embargos infringentes, cujo prazo ainda não está esgotado e são apresentados depois de julgamentos em que a decisão dos juízes não foi unânime.

SEM CONSIDERAÇÃO – Segundo a jornalista Mônica Bergamo, o advogado Celso Vilardi reivindica maior consideração pela defesa dos réus. Ele relata que no sábado (22), dia em que Bolsonaro foi preso, recebeu uma notificação do STF às 16h30 dando prazo de 24 horas para que a defesa rebatesse as razões apresentadas pela Polícia Federal para a detenção.

“Apesar de ser fim de semana, nossa equipe trabalhou para dar uma resposta no próprio domingo (23), já que a Primeira Turma apreciaria a decisão [de Moraes] no dia seguinte”, diz. Ele afirma que os argumentos dos advogados não foram sequer citados na decisão de Moraes. “O juiz examina os argumentos. Ele pode acolhê-los ou refutá-los. Simplesmente não considerá-los não me parece ser o melhor caminho”, segue.

“A defesa está sendo tratada como algo menor, e isso é ruim para o sistema jurídico, inclusive para aqueles que estão comemorando a prisão neste momento”, finaliza.

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P.S. – A audácia processual do ministro Moraes chegou ao paroxismo, ao tentar impedir o direito de defesa do réu. Sua reação mostra que ele está apavorado com a possibilidade de revisão do processo do golpe de estado, que cabe à Segunda Turma do Supremo, conforme a Tribuna da Internet tem noticiado, com absoluta exclusividade. Moraes pensa (?) que sua manobra processual de encerrar o processo antes do prazo será aceita pela Primeira Turma. Se isso acontecer, será a desmoralização total do Supremo Tribunal Federal, se é que isso ainda não aconteceu… Depois voltaremos ao assunto. (C.N.)

Alcolumbre arma corrida no Senado para barrar Messias e desafia o Planalto

Alcolumbre tenta evitar que Messias mobilize votos de apoio

Malu Gaspar
O Globo

Em sua ofensiva contra a escolha do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já avisou a lideranças do Congresso que avalia acelerar o andamento da indicação, encaminhando o caso para análise do plenário da Casa antes do recesso de dezembro, que começa em 23 de dezembro.

A estratégia, segundo aliados, teria o objetivo de não dar tempo suficiente para Messias mobilizar lideranças evangélicas, integrantes do governo e até mesmo ministros do Supremo para contornar a resistência ao seu nome. Para ser confirmado, o advogado-geral da União precisa de pelo menos 41 votos dos 81 em disputa. A última vez que a Casa barrou um indicado para o STF foi em 1894, no governo Floriano Peixoto.

CONFRONTO – “O governo Lula viu que a coisa ficou feia e quer baixar a temperatura, jogando [a sabatina] para o ano que vem. Já o Davi quer manter a fervura e votar esse ano”, resumiu uma fonte que acompanha de perto as movimentações nos bastidores do Senado.

Segundo um interlocutor de Alcolumbre, o presidente do Senado “não quer cometer o mesmo erro” em que teria incorrido quando da indicação de André Mendonça para o STF, em 2021. Naquela ocasião, Alcolumbre colocou Mendonça em banho-maria por quatro meses e adiou o agendamento da sabatina, o que deu tempo de sobra para ele procurar senadores, mobilizar aliados e virar votos para garantir a aprovação – ainda que por um placar apertado, de 47 votos favoráveis, apenas seis a mais que o necessário.

Judeu, Alcolumbre também foi alvo de uma campanha intensa nas redes sociais promovida por pastores amapaenses, que o acusaram de promover uma “guerra santa” contra o “terrivelmente evangélico” Mendonça.

NOS BASTIDORES – Tanto agora quanto em 2021, Alcolumbre ficou contrariado com os escolhidos para o Supremo e trabalhou intensamente nos bastidores pela rejeição – o amapaense preferia o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o ex-procurador-geral da República Augusto Aras para as vagas que ficaram com Messias e Mendonça, respectivamente.

“Por ora, Alcolumbre trabalha contra [Messias]. Mas se [a sabatina] ficar pro ano que vem, é capaz dele se realinhar com o governo”, afirmou um interlocutor do presidente do Senado, em alusão ao modus operandi do parlamentar de criar dificuldades em um primeiro momento para “vender facilidades” depois. “Quanto mais perto da eleição, se Lula se mantiver favorito [nas pesquisas], aumenta a chance pro Messias [ser aprovado].”

SINAL DE ALERTA –  Uma prévia dos obstáculos que aguardam Messias veio à tona no último dia 12, com o resultado da votação que confirmou a recondução do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Gonet foi mantido no cargo com apenas 45 votos favoráveis, no placar mais acirrado para o cargo desde a redemocratização, o que acendeu o sinal de alerta da base lulista.

Entre aliados de Alcolumbre, a leitura é a de que o resultado de Gonet serviu como uma espécie de recado da Casa sobre o tortuoso caminho de Messias para garantir a aprovação, em um momento em que o Palácio do Planalto enfrenta dificuldades para emplacar uma agenda no Congresso.

“Os ânimos estão quentes e o governo não está entregando sequer para os seus”, disse um senador ao blog, em referência à liberação de emendas e cargos. “Creio que o presidente Lula esteja isolado numa bolha. Está viajando muito e acreditando no que aliados dizem pra ele. Eu vejo um cenário de muito risco de rejeição do Messias”, acrescentou.

APOIO – Mendonça já se comprometeu a ajudar Messias a reduzir a rejeição no Senado, principalmente na tropa de choque bolsonarista e na ala da oposição que o vê como “quadro ideológico do PT” e “homem de confiança do Lula e da Dilma”. Os dois são evangélicos – Messias é membro da Igreja Batista, enquanto Mendonça é pastor da Igreja Presbiteriana.

Em um aceno a Alcolumbre, Messias divulgou nesta segunda-feira uma nota pública endereçada ao presidente do Senado em que afirma que juntos “poderão aprofundar o diálogo” e “encontrar soluções institucionais que promovam a valorização da política”.

A resposta foi meramente protocolar. Alcolumbre disse que o Senado cumprirá “com absoluta normalidade, a prerrogativa que lhe confere a Constituição: conduzir a sabatina, analisar e deliberar sobre a indicação feita pelo Presidente da República”. “E o Senado assim o fará, no momento oportuno, de maneira que cada senador e cada senadora possa apreciar devidamente a indicação e manifestar livremente seu voto”, frisou, sem estabelecer prazos.

PREVISÃO – Aliados de Alcolumbre avaliam que Messias teria, hoje, entre 28 e 31 votos certos pela sua aprovação — um mapeamento feito a partir de conversas informais com os parlamentares, sinais de bastidor e posicionamentos públicos de colegas que não escondem a preferência por Pacheco, considerado o “candidato da Casa”.

“Nesse primeiro momento, há muita coisa emotiva que precisa ser respeitada, mas depois que isso esfria um pouco, acho que as pessoas vão encarar como uma prerrogativa do presidente”, disse o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), em entrevista ao programa Estúdio I da Globonews. “Eu não vou dizer ‘vai ser aprovado, não vai ser aprovado’. Eu vou trabalhar para ele ser aprovado, até porque a exceção é lá do comecinho da República.”

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Tornozeleira foi detalhe: vigília de Flávio e risco de fuga selaram prisão preventiva de Bolsonaro

Pressão sem precedentes expõe lobby político no colapso do Banco Master

Charge de Fred Ozanan (Instagram)

Malu Gaspar
O Globo

Ao longo da investigação que levou à prisão do CEO do Banco Master, Daniel Vorcaro e outros seis alvos na Operação Compliance Zero, técnicos do Banco Central relataram à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público que nunca tinham sofrido tamanha pressão política em favor de uma instituição financeira como a sofrida para tentar salvar o Master – primeiro aprovando a compra pelo BRB, vetada pelo BC em setembro, e depois para adiar a intervenção e dar chance para uma nova oferta, mesmo que inviável.

O lobby foi detalhado aos investigadores por quadros experientes da instituição, que já lidaram com várias outras tratativas e litígios no setor financeiro. Nada comparado à trama do Master, garantem. Após a deflagração das diligências da PF, o BC determinou a liquidação extrajudicial do banco de Vorcaro, que terá como consequência o maior resgate da história do FGC.

BLINDAGEM – De acordo com um investigador, o decreto de liquidação do Master já estava escrito bem antes da operação da PF, mas a direção do BC só efetivou providência depois da ação para se blindar da pressão.

As irregularidades constatadas pelo BC na operação entre Master e BRB já haviam provocado um racha entre as diretorias diretamente envolvidas no caso. Há meses havia fortes indícios de que os créditos bilionários adquiridos pelo Banco de Brasília não tinham lastro.

Uma minuta de intervenção no primeiro banco chegou a ser elaborada, mas jamais se concretizou. A proposta foi costurada por Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro, que contava com o endosso do colega Gilneu Vivan (Regulação) – mas, de acordo com fontes ligadas ao caso, contou com a oposição do diretor de Fiscalização, Aílton Aquino. Em paralelo, o lobby também funcionava no Congresso.

CPI MISTA – Após o anúncio da compra do Master pelo BRB no início do ano, o que surpreendeu o meio político e o mercado, senadores tentaram emplacar uma CPI Mista para apurar as circunstâncias da compra do Master pelo BRB. O requerimento, encabeçado por Izalci Lucas (PL-DF), atingiu o mínimo de assinaturas exigido para a instalação da comissão. No entanto, o pedido foi abruptamente retirado pelo próprio parlamentar sem maiores explicações.

Izalci se limitou a dizer que propôs a criação da CPI em função de dúvidas sobre o processo de aquisição do Master que teriam sido sanadas por meio de documentos supostamente fornecidos pelos dois bancos e que levar o colegiado adiante traria “preocupação” e “instabilidade” no mercado financeiro.

“Quero aqui agradecer aos parlamentares, porque grande parte deles talvez tenha assinado também, em função da credibilidade e do conhecimento que temos da matéria. Tenho aqui já alguns relatórios, tanto do BRB como do Banco Master, e quero tranquilizar [os colegas]”, declarou durante discurso no Senado.

“BANCADA DO MASTER” – O principal articulador contra a CPI do Master foi o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP e aliado próximo de Vorcaro. Ciro sempre negou ter operado para derrubar a comissão. Nos bastidores, ele é tido como líder da chamada “bancada do Master”, o que incluiria outros parlamentares alinhados aos interesses de Vorcaro.

O PP deve formalizar até o fim do ano uma federação partidária com o União Brasil, partido que impulsionou aportes de governos estaduais e municipais em letras financeiras do Master e é presidido por Antonio Rueda, que também é próximo do CEO do banco preso pela PF.

Não foi a única vez em que Ciro Nogueira atuou a favor do aliado. Em 2024, quando o BRB já estava adquirindo carteiras de crédito do Master mas antes das tratativas de compra serem formalizadas, Ciro já havia patrocinado no Senado a inclusão de um dispositivo na PEC da autonomia financeira do Banco Central que aumentaria de R$ 250 mil para R$ 1 milhão a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para as aplicações financeiras como o CDB, principal produto do Master.

“EMENDA MASTER” – A associação com os interesses do banco foi imediata, e a proposição ganhou o apelido de “emenda Master”. Acabou rejeitada pelo relator da matéria, Plínio Valério (PSDB-AM).

A mobilização ocorreu pouco mais depois a cúpula da Caixa Econômica ter destituído dois gerentes que se opuseram à compra de um lote de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master, consideradas arriscadas demais para os padrões do banco.

Um parecer sigiloso da área de renda fixa da Caixa Asset, o braço de gestão de ativos da estatal, desaconselhou enfaticamente a operação, considerada “atípica” e “arriscada”, não só em razão do valor, considerado alto demais, como por causa do rating do Master. Com a repercussão do caso, a operação acabou não avançando.

Hugo Motta rompe com Lindbergh e a crise do PT se agrava

Motta rompe com líder do PT e agrava atrito entre Planalto e Congresso

Motta diz que Lindbergh usa redes sociais para atacá-lo

Andre Shalders e Valentina Moreir
Metrópoles

Uma série de postagens nas redes sociais sobre a fuga do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) para os EUA foi a “gota d’água” da crise entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o líder do governo na Casa, Lindbergh Farias (PT-RJ). No começo da tarde desta segunda-feira, Motta disse ao jornal Folha de S.Paulo que não tem “mais interesse em manter nenhum tipo de relação com o deputado Lindbergh”. A informação foi confirmada ao Metrópoles. Lindbergh respondeu no X (antigo Twitter), dizendo que considera “imatura” a posição de Motta.

“Sempre atuei de forma clara e com posições coerentes, nunca na surdina e erraticamente, como agiu o presidente da Câmara”, escreveu.

CASO RAMAGEM – Nos últimos dias, influenciadores ligados ao petismo passaram a divulgar a tese de que a Câmara dos Deputados, com a anuência de Motta, teria ajudado Ramagem em sua fuga para os Estados Unidos. Mesmo nos EUA, Ramagem está “em exercício”, segundo o site da Câmara.

Em setembro, foi condenado a 16 anos e um mês de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado. Na sexta-feira (21/11), o ministro Alexandre de Moraes (STF) decretou a prisão de Ramagem, quando já estava público que ele se encontrava nos Estados Unidos.

Segundo interlocutores de Motta, ele acredita que Lindbergh e o deputado Rogério Corrêa (PT-MG) teriam sido os responsáveis por orientar a campanha nas redes ligando Motta à fuga de Ramagem. Corrêa chegou a postar sobre o assunto na rede X, mas depois retificou a publicação após uma ligação de Motta.

LÍDER NEGA – Já Lindbergh nega envolvimento com essas postagens e diz não ter relação com o caso. Segundo interlocutores dele, o rompimento com Hugo Motta tem outras razões.

Entre esses motivos estariam a articulação de Lindbergh contra a chamada “PEC da Blindagem”, derrotada na Câmara no fim de setembro, e a escolha de Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o Projeto de Lei Antifacção, enviado pelo governo. Na postagem no X, Lindbergh menciona ainda a derrubada do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), em junho.

Agora, a crise entre Motta e Lindbergh se agravou, justamente quando a presidência da Câmara está preparando a pauta das votações de dezembro, antes do recesso parlamentar, que está marcado para o dia 23, na semana do Natal, mas sempre começa antes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lindbergh é um fracasso como líder. Consegue brigar com todos aos mesmo tempo e acaba prejudicando o PT e o Planalto. (C.N.)

Círculo de Bolsonaro joga com narrativa da “equivalência a Lula” para driblar Papuda

Vereadora do PL gera polêmica ao defender expulsão de imigrantes de Porto Velho

Kids pretos: STF conclui julgamento, mas mistério de “Juca” pode reabrir o caso

Continua desconhecida a identidade de “Juca”, o quarto alvo

Malu Gaspar
O Globo

O julgamento do núcleo 3 da trama golpista, que terminou na última terça-feira (18) na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), reconstituiu a atuação de militares das Forças Especiais do Exército, os kids pretos, na conspiração bolsonarista para impedir a posse de Lula – mas não esclareceu o grande mistério que a Polícia Federal (PF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) não conseguiram responder.

Mesmo após o final do julgamento, continua desconhecida a identidade de “Juca”, o quarto alvo do plano de monitoramento, sequestro e assassinato de Lula, do então vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes, batizado de Punhal Verde e Amarelo.

NOME NO PAPEL – O esquema golpista estava descrito em um papel encontrado pela PF com o general Mário Fernandes, que era o número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro na ocasião da trama contra Lula. De acordo com as investigações, o plano foi elaborado pelo próprio Fernandes e impresso dentro do Palácio do Planalto em novembro de 2022, após a derrota do então presidente para o petista na eleição.

Os alvos dos golpistas, segundo o documento, eram Jeca, Joca e Juca. A PF concluiu que os dois primeiros apelidos se referem, respectivamente, a Lula e Alckmin. Diálogos captados pelos investigadores demonstram ainda que Moraes era chamado de “Professora” pelos golpistas.

Mas o inquérito não chegou a uma definição sobre o Juca, como deixa claro o relatório que embasou o indiciamento de Bolsonaro e outros réus da trama golpista divulgado em novembro de 2024.

SEM ELEMENTOS – “Ao final, o último codinome utilizado é de JUCA. Citado como ‘iminência parda [sic] do 01 e das lideranças do futuro gov’, o autor indica que sua neutralização desarticularia os planos da ‘esquerda mais radical’. A investigação não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso”, destaca o documento.

Da mesma forma, a denúncia apresentada pelo procurador-geral, Paulo Gonet, não avança sobre a identidade do alvo do plano de assassinato. “O plano utilizava o codinome ‘Jeca’ para Lula da Silva e ‘Joca’ para Geraldo Alckmin. Visava, também, atingir um quarto alvo, apresentado com o codinome ‘Juca’, que ainda não foi identificado pela autoridade policial”, ressalta o PGR em uma nota de rodapé da acusação apresentada em março deste ano.

De acordo com o Punhal Verde e Amarelo, a eliminação de Juca serviria ao propósito de desarticular “os planos da esquerda mais radical”. O general Fernandes conclui ainda que seu assassinato não provocaria “grande comoção nacional”.

MANOBRA – Já a morte de Jeca (Lula) “abalaria toda a chapa vencedora”, “colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos Três Poderes, sob a tutela principal do PSDB”, destaca trecho do ´plano em referência à legenda à qual Alckmin foi filiado durante 30 anos. Por esse motivo, ainda no raciocínio de Mário Fernandes, a “neutralização” do vice-presidente eleito “extinguiria a chapa vencedora”.

Como publicamos no blog na ocasião da divulgação do relatório da PF, os investigadores do caso especulavam à época que o quarto alvo fosse Flávio Dino, atualmente ministro do Supremo. Outra possibilidade é que se tratasse de José Dirceu, ex-ministro de Lula que é um alvo constante da extrema direita.

OS “SUSPEITOS” –  Na ocasião do plano de golpe orquestrado pelos bolsonaristas, Dino havia sido recém eleito senador do Maranhão pelo PSB e era cotado como potencial integrante do futuro governo Lula, o que se confirmou com sua indicação para o Ministério da Justiça no início de dezembro.

Por essa lógica, o então senador eleito, aliado próximo de Lula e aliado histórico do PT, se encaixaria na perspectiva de uma “eminência parda” do terceiro mandato do petista, mas os agentes não encontraram elementos para cravar a hipótese.

Já nos círculos militares a principal aposta era que Juca seria, na verdade, José Dirceu. Braço direito de Lula no primeiro mandato, Dirceu chefiou a Casa Civil até deixar o cargo após o escândalo do Mensalão do PT, em 2005. Meses depois teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados e foi condenado pelo STF em 2013.

CONSELHEIRO – Embora nunca mais tenha ocupado cargos nos governos Lula ou Dilma Rousseff, Dirceu era visto entre bolsonaristas como um dos conselheiros mais poderosos do presidente eleito.

Uma viagem do ex-ministro a Cuba após as eleições de 2022 chegou a ser citada em um diálogo entre um coronel do Exército condenado no núcleo de desinformação do caso, Guilherme Marques de Almeida, e o também coronel Dougmar Mercês, que não está entre os denunciados pela PGR.

“Ele deve estar querendo ficar de fora desse período. Se der M, ele já está em asilo”, escreveu Almeida. “Vdd[Verdade]! Vai articular lá de fora a reação”, respondeu Mercês. Dino e Dirceu jamais reivindicaram publicamente a possibilidade de terem sido alvos da trama golpista.

REAL IDENTIDADE – Seja como for, fato é que os autos do maior julgamento da história do Supremo Tribunal Federal deixaram de esclarecer a real identidade de Juca e relegaram ao campo especulativo um relevante detalhe do plano que conspirou contra a democracia brasileira.

O quarto alvo do Punhal Verde e Amarelo só será conhecido caso o general Mário Fernandes ou algum dos réus da trama golpista decidam revelá-lo no futuro por iniciativa própria.

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Ramagem alega perseguição e afirma que está protegido nos EUA

‘Lógico que que não ia ficar no Brasil’, afirmou Ramalho

Rafaela Gama
O Globo

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou que está “seguro” nos Estados Unidos com a “anuência do governo americano” e que deixou o Brasil para que suas filhas não o vissem ser preso. O comentário foi feito em entrevista ao programa Conversa Timeline, no YouTube, apresentado pelo blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, também foragido da Justiça brasileira desde 2021.

— É lógico que eu não ia ficar no Brasil, com as minhas filhas me vendo ser preso sem ter cometido crime nenhum e sofrendo diante de uma ditadura — disse. — Hoje estou seguro aqui [nos Estados Unidos] com anuência do governo americano. Essa perseguição contra mim é grave, a gente só vai tomar ciência e dos porquês disso ao longo do tempo.

“ABRAÇADO” – Durante a entrevista, Ramagem também afirmou que via uma equivalência entre a situação de Bolsonaro no Brasil e o que aconteceu com o presidente Donald Trump e, por isso, disse que tem sido “abraçado” em solo americano.

O parlamentar teria deixado o país em setembro, mesmo mês em que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) analisou a ação penal contra os réus do chamado “núcleo crucial” da trama golpista. Ao final do julgamento, ele foi condenado a 16 anos de prisão.

A fuga para os Estados Unidos teria acontecido após ele apresentar um atestado médico na Câmara dos Deputados para um período de 9 de setembro a 12 de dezembro. De acordo com informações da TV Globo, a Polícia Federal (PF) apura se ele atravessou a fronteira de carro a partir de Boa Vista e, a partir daí, se deslocou para os EUA.

PRISÃO – A informação veio à tona na última quinta-feira, poucos dias antes de sua condenação transitar em julgado e se tornar definitiva, uma vez que o ministro Alexandre de Moraes poderá analisar os recursos finais apresentados pela defesa a partir desta segunda-feira. Após tomar conhecimento da fuga, o magistrado determinou a prisão do deputado na última sexta-feira.

A saída do país também foi comentada pela mulher dele, a delegada de Polícia Civil Rebeca Ramagem. Em um post em suas redes sociais neste domingo, ela mostrou o momento que chegou no território americano com as filhas de avião e encontra o marido no aeroporto, sem dar detalhes de como entrou no país. Na publicação, ela também conta que a ida foi uma decisão para que todos continuassem unidos e afirma que o deputado está diante de uma “perseguição política desumana”.

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