Grandes craques costumam se adaptar a novas funções e esquemas

Embarque no Cruzeiro fecha ciclo de mudanças radicais na vida de Gabigol -  Blog Drible de Corpo

Gabigol, muito festejado ao chegar ao time do Cruzeiro

Tostão
Folha

Não basta contratar ótimos jogadores e de prestígio. É preciso escalá-los nos lugares certos que, necessariamente, não seja a única posição. Grandes jogadores costumam se adaptar a novas funções.

No Cruzeiro, Dudu, Gabigol e Matheus Pereira, por jogarem melhor em posições diferentes e se completarem em suas características técnicas, podem formar um ótimo trio do meio para frente. Dudu é insinuante, driblador, rápido e atua melhor pelos lados, principalmente da esquerda para o meio. Gabigol é um excepcional finalizador que gosta de jogar da meia direita para o centro e para o gol. Matheus Pereira é um meia centralizado, criativo, com passes surpreendentes e precisos.

HÁ INCERTEZAS – Porém, há sempre um porém, existem incertezas nas contratações do Cruzeiro. Dudu ficou um longo tempo sem jogar por causa de uma grave contusão e não sabemos como estará neste ano. Gabigol não foi bem nos últimos dois anos, especialmente em 2024, quando foi mais uma estrela do que um atleta.

Será que Fernando Diniz irá escalar um quarto atacante, um centroavante ou um ponta? Esta é uma dúvida presente em quase todo treinador. No Brasil, os técnicos adoram colocar atacantes e deixar um vazio no meio campo. Esquecem que os gols nascem da própria intermediária com os meio-campistas.

No Newcastle, Bruno Guimarães joga muito melhor do que na seleção brasileira. O time inglês possui um trio no meio de campo, com o italiano Tonali centralizado e um brasileiro de cada lado, Bruno e Joelinton. Os dois marcam, constroem e avançam. Na seleção, Bruno joga à frente dos zagueiros, próximo de Gerson e muito distante dos quatro da frente.

CONTRATAÇÃO – O Palmeiras contratou um excelente atacante, Paulinho, mas que ainda ficará um bom tempo sem jogar por causa de uma contusão. Paulinho não é um centroavante nem um ponta esquerda, posições em que o time precisa de mais qualidade. Ele é um atacante que se movimenta bastante, que dá passes e faz muitos gols, ideal para formar dupla de ataque como fazia no Atlético com Hulk.

Abel Ferreira já disse que gosta de separar os camisas 5, 8, 9 e 10, além dos dois pontas, como se fossem bonecos em um jogo de botões.

O futebol caminha de uma maneira diferente, com jogadores que se movimentam bastante, que ocupam várias posições em campo de acordo com o momento do jogo, como Paulinho. Isso não diminui outras ótimas qualidades do técnico do Palmeiras.

UM NOVO FUTEBOL – No Rio Grande do Sul, enquanto o Grêmio se ilude de que basta contratar um bom técnico, o argentino Gustavo Quinteros, sem trazer bons jogadores, o Inter mantém o seu ótimo elenco e o excelente treinador Roger Machado. Ele, que foi um importante jogador do Grêmio, está acima das paixões clubistas.

Depois de várias décadas de futebol medíocre repetitivo, defensivo, feio, em que cada time esperava o outro e nada acontecia, o futebol evoluiu bastante, progressivamente, nos últimos 20 anos, impulsionado pelos avanços tecnológicos e científicos.

O jogo está mais intenso, bonito e eficiente. A beleza não está apenas na individualidade, nos dribles e nos efeitos especiais, mas também no jogo coletivo e nas diversas estratégias. É um novo futebol.

Candidatura de Gusttavo Lima seria um “jogo armado” com Caiado

Gusttavo Lima comprou iate de luxo de Roberto Carlos, o Lady Laura IV, por R$ 25 milhões — Foto: Reprodução Instagram

Lima comprou o iate de Roberto Carlos por 25 milhões

Rafael Moraes Moura e Johanns Eller
O Globo

A declaração do cantor sertanejo Gusttavo Lima de que pretende disputar a Presidência da República em 2026 foi recebida entre ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva com desconfiança e ceticismo. Assim como o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro, o anúncio do artista foi visto entre três integrantes do primeiro escalão da gestão petista como um “jogo armado” entre Lima e o governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), que é pré-candidato ao Palácio do Planalto.

O chefe do Executivo de Goiás é amigo pessoal do cantor e chegou a tirar férias para celebrar o aniversário de 35 anos de Lima, celebrado em um iate na paradisíaca ilha de Mykonos, na Grécia. Na leitura de ministros de Lula e aliados de Bolsonaro, Caiado teria incentivado as declarações do artista ao site Metrópoles para se blindar de críticas da direita e receber o endosso do colega mais à frente.

SENADO EM 2026 – Como publicou o colunista Lauro Jardim, além da estratégia visando a disputa presidencial, o entorno do ex-presidente também vê uma jogada ensaiada do governador do União Brasil para emplacar dois aliados no Senado em 2026: sua esposa, Gracinha Caiado, e o próprio Gusttavo Lima, que desistiria da empreitada nacional a seu favor.

No campo da direita bolsonarista, há ainda a avaliação de que Lima “traiu” Bolsonaro, uma vez que o artista conversou com o ex-ocupante do Palácio do Planalto na véspera e não citou qualquer pretensão de disputar a presidência.

O ex-presidente diz ser o “plano A” da direita em 2026, embora esteja inelegível até 2030 após ser condenado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

HOMEM DAS BETS – “Isso parece jogo armado com Caiado. O negócio do Gusttavo Lima é apostar, é um homem das bets. Não passa de uma grande aposta”, ironiza um influente ministro, próximo de Lula.

Outro ministro ouvido pelo blog concorda: “É tudo fake. Tudo é para confundir, o interessante é que eles estão brigando entre si, um canta e os outros dançam.”

Gusttavo Lima foi indiciado pela Polícia Civil de Pernambuco por lavagem de dinheiro e organização criminosa, em uma investigação de um esquema que envolve jogos ilegais e bets de apostas. Em setembro do ano passado, ele chegou a ter a prisão preventiva decretada pela juíza Andrea Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal do Recife (PE), a pedido da Polícia Civil estadual. A decisão, no entanto, foi derrubada pelo Tribunal de Justiça pernambucano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Gusttavo Lima é um pobre menino rico, que conseguiu amealhar um patrimônio gigantesco fazendo caríssimos shows para prefeituras paupérrimas, e agora também ganha dinheiro bancando apostas esportivas. Na Presidência, conseguiria ser pior do que Lula, podem apostar. (C.N.)

Crise das emendas pode afetar reforma ministerial de Lula

Tribuna da Internet | Acordo para destravar emendas é mais que uma simples  malandragem

Charge do JBosco (O LiberaL)

Bruno Boghossian
Folha

A voracidade do Congresso na apropriação das emendas orçamentárias provocou um desarranjo radical nas relações entre o Executivo e o Legislativo. Ao longo da última década, parlamentares conseguiram a garantia de uma verba gorda para seus redutos políticos sem depender da generosidade do presidente ou de seus ministros.

Nesse processo, o controle de gabinetes na Esplanada dos Ministérios passou a valer menos para os grupos partidários na extração de benefícios do poder. A indicação de integrantes para o primeiro escalão ainda oferece prestígio e acesso a dinheiro público, mas deixou de ser fator absoluto nas negociações para a formação de coalizões políticas.

PONTO DE VIRADA – A lógica teve um ponto de virada com Jair Bolsonaro, que fez propaganda em torno do princípio moral da limitação do acesso de partidos à Esplanada, enquanto entregou os cargos a outros grupos de interesse de sua coalizão, como militares, evangélicos e ruralistas. Para conseguir sustentação política em votações, deu ainda a chave do cofre do Orçamento para o centrão.

Lula enfrenta um quadro um pouco diferente. O presidente fez uma partilha de cargos que não se mostrou tão eficaz quanto em seus mandatos anteriores.

Manteve postos apetitosos nas mãos do PT e nomeou alguns ministros de outros partidos que se mostraram pouco determinantes na disciplina das bancadas em votações no Congresso, como é o caso dos políticos do União Brasil.

FICOU VICIADO – A razão principal é que o centrão aprendeu a se alimentar de emendas. A crise provocada pela intervenção do Supremo na distribuição assanhada dessa verba acrescenta um elemento de incerteza ao futuro das relações do governo com o Congresso, com possíveis reflexos na reforma ministerial que Lula pretende fazer nos primeiros meses deste novo ano.

Lula disse a auxiliares que faria trocas pontuais na equipe e sinalizou que o PT pode ser forçado a ceder espaço para outros partidos.

O presidente, porém, pode ser obrigado a fazer uma mudança maior caso o centrão enxergue neste momento uma oportunidade para diversificar suas ferramentas de poder e exigir uma reconfiguração da coalizão governista baseada em ministérios.

Até quando Moraes vai desfrutar de tantos superpoderes?

Charge: com imagem de vilão e personificando a Justiça brasileira - Jota A! - Portal O Dia

Charge do Jota A (O Dia/PI)

Glenn Greenwald
Folha

O manual do governo para adquirir e manter poderes extraordinários sobre a população já é bem conhecido. E ele é o mesmo em todo o mundo. Primeiro, os políticos convencem os cidadãos de que estão sob grave ameaça de um novo perigo existencial (comunistas, fascistas, terroristas etc.).

A única forma de se proteger contra essas ameaças, insistem, é permitir que os líderes assumam poderes antes inimagináveis.

AÇÕES TEMPORÁRIAS? – Se houver preocupações sobre os riscos desses poderes, os líderes políticos dizem: não se preocupem, essas medidas são apenas “temporárias”. Mas raramente são.

Nas semanas após o ataque de 11 de setembro nos EUA, o governo Bush convenceu o Congresso e o público a aceitarem uma lei radical chamada “Patriot Act”. Essa lei concedeu ao governo americano poderes antes impensáveis de detenção e vigilância.

Mas George W. Bush e seus aliados tranquilizaram os críticos: não há com o que se preocupar, esses poderes são apenas temporários, até que a ameaça terrorista diminua.

SEMPRE RENOVADA – Essa lei, caracterizada como temporária, foi repetidamente renovada pelo Congresso. Na maioria das vezes, ele tem sido usado muito além de seu propósito original de combater o terrorismo. E agora, tornou-se, 24 anos depois, uma parte normalizada da vida política americana que poucos questionam.

Não há dúvidas de que, no Brasil, o STF concedeu a si mesmo poderes extraordinários e radicais. Sabemos disso porque o próprio STF reconheceu isso repetidamente.

Em 2019 – há cinco anos completos –, o tribunal criou o “inquérito das fake news” e concedeu a um ministro, Alexandre de Moraes, poderes praticamente ilimitados para investigar criminalmente críticas ao tribunal (a maioria do STF caracteriza críticas como “ataques” à democracia brasileira).

SUPERPODERES – Durante as eleições presidenciais de 2022, Moraes tornou-se o supervisor singular do discurso político online, ultrapassando os poderes de qualquer autoridade no mundo democrático.

Na época, a ministra do STF Cármen Lúcia reconheceu que a aprovação desses poderes era uma medida “extremamente grave”, acrescentando que era necessário devido à “situação excepcionalíssima” das eleições de 2022. Mas ela garantiu que os poderes de Moraes eram temporários e seriam válidos apenas “até o dia 31 de outubro”, expirando automaticamente “exatamente um dia subsequente ao do segundo turno”.

Mas Moraes simplesmente continuou a usar esses poderes supostamente temporários muito após a data de expiração e, de fato, nunca parou de utilizá-los. Enquanto isso, o “temporário” inquérito das fake news do STF está agora em seu sexto ano completo, sem fim à vista.

DIZ BARROSO – Tudo isso levou o New York Times a entrevistar o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em outubro. O jornal perguntou:

“Já se passaram dois anos desde a eleição, e o tribunal manteve seus poderes ampliados. Vários altos funcionários do governo me disseram que estão preocupados porque essas investigações ainda não terminaram. Quando isso vai acabar?”

Barroso respondeu: “Acho que em breve. Quase tudo que precisava ser investigado já foi investigado… Não é razoável imaginar que, até o final deste ano ou início do próximo, isso possa ser encerrado”. O presidente assumiu compromissos semelhantes em entrevista a este jornal em agosto.

QUEM ACREDITA? – O fim do ano chegou e passou. Estamos agora no “início de” 2025. Alguém acredita que o STF está sequer considerando, muito menos planejando, finalmente renunciar a esses poderes radicais nas mãos de Moraes? Pelo contrário, essa perspectiva parece cada vez mais improvável, dado que – como sempre ocorre com os “poderes temporários” – há novos supostos perigos, na forma de mais evidências de uma tentativa de golpe, que, insistirão, exigem que o STF mantenha esses poderes indefinidamente.

As pessoas podem – e de fato o fazem – debater se o STF deveria ter se permitido conceder esses poderes de censura e autoridade investigativa radical. Independentemente da opinião de cada um, até o próprio presidente do tribunal reconhece que esse esquema deve chegar ao fim em breve. Isso acontecerá? E, se sim, quando?

Trump será sentenciado antes de assumir, mas prisão é descartada

A condenação de Trump será calculada em dinheiro

Jamil Chade
do UOL

O presidente eleito Donald Trump será sentenciado no dia 10 de janeiro, depois de ter já sido condenado criminalmente. Nesta sexta-feira, numa decisão de 18 páginas, o juiz Juan Merchan rejeitou os recursos do republicano para anular o veredicto do júri que o considerou culpado de 34 crimes.

Apesar de a sentença ser anunciada dez dias antes de Trump tomar posse, em 20 de janeiro, Merchan admitiu que não condenará o vencedor da eleição à pena de prisão. Segundo ele, essa não seria uma opção “viável”. Na decisão, o juiz apontou que não é provável que ele “imponha qualquer sentença de encarceramento”.

MULTICRIMINOSO – Trump foi condenado, em maio, por 34 crimes, incluindo falsificação de registros comerciais para ocultar US$ 130.000 pagos à estrela pornô Stormy Daniels, pouco antes da eleição presidencial de 2016.

Stormy Daniels e o próprio ex-advogado de Trump, Michael Cohen, admitiram que o pagamento tinha como objetivo silenciar a atriz e impedir que ela falasse sobre suas relações sexuais com Trump enquanto ambos participavam de um torneio de golfe de celebridades em 2006. Trump sempre negou a versão de Daniels.

Ainda que condenado, a sentença acabou sendo adiada. O argumento da defesa era de que isso poderia interferir nas eleições, que Trump acabaria vencendo.

SEM ARQUIVAMENTO – Mas, agora, o juiz rejeitou a tese da defesa de Trump de que o caso deveria ser arquivado, diante da vitória do republicano nas eleições. A justificativa dos advogados era de que isso iria afetar a transferência de poder nos EUA.

“Tal decisão prejudicaria o Estado de Direito de forma imensurável”, escreveu o juiz. Sua decisão ainda estipulou que uma imunidade presidencial não protege Trump de enfrentar a sentença por sua condenação.

Ainda assim, o juiz foi explícito em indicar que não pretende anunciar a prisão do presidente eleito. Uma sentença de “dispensa incondicional” poderia ser a “solução mais viável”. Assim, ele seria condenado e sentenciado, pagaria multas e indenizações, mas sem ter de passar um só dia numa prisão.

INCONSTITUCIONAL – O entendimento é de que seria inconstitucional um tribunal estadual prender um presidente em exercício ou impor medidas que impediriam sua capacidade de cumprir seus deveres como chefe de estado.

A defesa do presidente eleito, porém, criticou a decisão. “A ordem de hoje é uma violação direta da decisão da Suprema Corte sobre imunidade”, disse o porta-voz de Trump e novo diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung.

“Esse caso nunca deveria ter sido apresentado e a Constituição exige que ele seja imediatamente arquivado. O presidente Trump deve ter permissão para continuar o processo de transição presidencial e executar os deveres vitais da presidência, sem ser obstruído pelos restos desse ou de qualquer resquício da caça às bruxas”, defendeu.

ATÉ O FIM – Cheung ainda completou que “não deve haver sentença, e o presidente Trump continuará lutando contra essas fraudes até que todos estejam mortos.”

Em entrevista à rede Fox News, o presidente eleito atacou o magistrado que tomou a decisão, indicando que haveria uma “caça às bruxas”. “O juiz é corrupto”, disse. Trump acusou Merchan de ser “um juiz totalmente conflituoso que está fazendo o trabalho para o Partido Democrata porque todos os outros casos falharam”.

“Eu não fiz absolutamente nada de errado”, continuou Trump. “Essa é uma caça às bruxas política de Biden”. “Não havia caso algum. Ele criou um caso do nada porque queria que meu oponente político ganhasse”, completou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA democracia americana dá show e demonstra que a voz do povo prevalece até sobre a Justiça, se os crimes do presidente não afetaram direitos dos cidadãos. É a democracia sendo elevada à última potência. (C.N.)

Na psicologia do futuro, otimismo local contrasta com pessimismo global

Pesquisa mostra como reage a psicologia do futuro

Hélio Schwartsman
Folha

A lógica e o pensamento racional são só um efeito colateral da miríade de impulsos cognitivos com que a evolução natural nos dotou. A melhor prova disso está na lista telefônica de vieses e erros sistemáticos que marcam nossos raciocínios.

Nutrimos um excesso de confiança em relação a nós mesmos e nossas capacidades (otimismo local) pareado com um irrazoável catastrofismo no que diz respeito ao mundo exterior (pessimismo global).

PREDISPOSIÇÃO – O Datafolha, mais uma vez, flagrou essa predisposição. De acordo com o instituto, 67% dos brasileiros acreditam que a inflação vai aumentar em 2025 e 41% apostam na alta do desemprego. Não obstante, 60% julgam que sua situação pessoal será melhor em 2025 do que foi em 2024.

Esse pequeno paradoxo tem lógica à luz da evolução. Em situações nas quais a nossa performance afeta diretamente o resultado, faz sentido favorecer a autoconfiança, mesmo que exagerada. O atleta que já entra na competição achando que vai perder perde mesmo.

Nas questões sobre as quais temos pouco ou nenhum controle, é prudente imaginar o pior e tentar fugir dos perigos.

VENCER DEBATES – E isso é só um pedaço da história. Dan Sperber e Hugo Mercier, cujos trabalhos já comentei aqui, sustentam que a razão não evoluiu para nos tornar capazes de apurar fatos objetivos e encontrar verdades, mas para nos fazer vencer debates e ficar bem diante do grupo.

A pergunta que se coloca então é como, com um legado desses, conseguimos desenvolver a ciência e as tecnologias que nos trouxeram até aqui. A resposta é complexa e tem a ver com a evolução cultural cumulativa, uma empreitada necessariamente coletiva, nunca individual. Newton só foi Newton porque, como ele mesmo dizia, pôde colocar-se no ombro dos gigantes que o antecederam.

E isso nos leva a uma pergunta ainda mais intrigante: por que diabos a matemática e a lógica funcionam tão bem na ciência? Para o físico Eugene Wigner, que propôs essa reflexão, não existe resposta racional. Não há nenhum motivo a priori para que as leis da natureza sejam capturáveis por ferramentas matemáticas.

É certo que um dia os oprimidos irão revidar contra a opressão

Ao centro da imagem, o rosto de um homem  encara de frente. De cima para baixo, uma mancha branca retira a pintura feita em tons de cinza e, parte do rosto deste homem tem apenas contornos sem preenchimento e volume.

O revolucionário Fanon , retratado por Bruna Barros

Mario Sergio Conti
Folha

A vida errante e curta de Frantz Fanon foi de procura de uma identidade. Em seus documentos oficiais, ele era um homem francês de raiz que enfrentou os nazistas na Segunda Guerra Mundial, foi ferido em combate e ganhou a Cruz de Guerra.

Na prática, foi discriminado por ser negro e colonizado. Descendente de escravos, nasceu na Martinica, departamento francês no Caribe. No ultramar, pertencia a um grupo minoritário, a classe média negra; na metrópole, o racismo que sofreu o levou a jogar fora a Cruz de Guerra.

NA ARGÉLIA – Fanon estudou psiquiatria em Lyon, pegou o diploma e nunca mais voltou à França. Tampouco ficou na Martinica. Foi à Argélia ser um negro entre árabes, um ateu em meio a muçulmanos, um internacionalista entre nacionalistas.

Ficou pouco ali. Aderiu à Frente de Libertação Nacional, a FLN, e o governo colonial o expulsou. Exilou-se na Tunísia, vagou pela África e morreu de leucemia nos Estados Unidos —um “país de linchadores”, dizia.

A sua identidade final foi dada por “Os Condenados da Terra”, publicado pouco antes de ele morrer, aos 36 anos, em 1961. Assim que o livro saiu, o manifesto em prol da violência decolonial foi censurado na França por “atentar contra o Estado”.

HINO COMUNISTA – O título do livro cita a Internacional, o hino comunista: “de pé, malditos da Terra”, que no Brasil virou “de pé, ó vítimas da fome”. O renome do ensaio veio menos de Fanon —mais analítico que panfletário— e mais do autor do prefácio, Sartre —menos filósofo que militante.

É de Sartre a frase que marcou época: “Abater um europeu é matar dois coelhos com uma cajadada só, eliminar ao mesmo tempo um opressor e um oprimido: sobram um homem livre e um homem morto”. É uma sentença bem mais aguda que a de Fanon: “Todo espectador é um covarde ou um traidor”.

O psiquiatra conclamou os amaldiçoados a uma grande luta armada. A violência, disse-lhes, era “sine qua non” para expulsar os colonizadores das terras que eles lhes roubaram. E mais: a violência era terapêutica, desintoxicaria os argelinos do veneno colonial. Era imperativo categórico para a vitória material, cultural, até existencial. Por si só, a violência libertaria.

OS OPRESSORES – Já Sartre se dirigiu aos europeus. Argumentou que eram opressores irremediáveis porque, quisessem ou não, haviam se beneficiado das colônias “per omnia saecula saeculorum”. Porque, no presente, eles seguiam sugando o sangue dos colonizados, alienando-os, coisificando-os. Os europeus, pontificou, eram alvos válidos para a violência dos colonizados.

“Os Condenados da Terra” deixava implícito que a violência dos colonizados era tendencialmente generalizadora, poderia ser empregada não só contra gendarmes e guardiões das metrópoles.

 Sartre explicitou que todo e qualquer europeu, por ser europeu, poderia ser agredido. Trouxe o terrorismo para o primeiro plano, ainda que não tenha escrito a palavra.

LONGA CONVERSA – “A Clínica Rebelde”, a alentada biografia de Fanon de Adam Shatz publicada no fim do ano no Brasil, revela que o psiquiatra e o filósofo conversaram por três dias seguidos em Roma. O primeiro, admirador ardente do segundo, veio a pedir que fizesse o prefácio. Contudo, ao lê-lo, Fanon, um falador compulsivo, emudeceu. Saiu do longo silêncio para dizer a seu editor, François Maspero, que iria comentá-lo, mas morreu em seguida.

Com isso, a identidade final de Fanon foi de apóstolo da violência indiscriminada. Suas considerações culturais ficaram em segundo plano, enquanto a luta armada foi assimilada por grupos palestinos e pelos Panteras Negras americanos.

 Shatz diz que guerrilheiros latino-americanos também adotaram Fanon. É um exagero descabido. Sua influência, se é que ocorreu, foi anulada pelo impacto da revolução cubana e de Che Guevara nas esquerdas latino-americanas.

TERCEIRO MUNDO – Fanon partiu de um conceito que não existe mais, Terceiro Mundo, que reuniria os países explorados pelo Primeiro (Estados Unidos e Europa) e manipulados pelo Segundo Mundo (União Soviética e satélites).

O termo foi substituído pelo Sul Global, rubrica sem consistência política. Talvez o certo seja trocar Terceiro Mundo por “Estados Falidos”, os países absolutamente corrompidos, sem infraestrutura nem instituições perenes, controlados por milícias antagônicas ou gangues.

O mundo político mudou. O que persiste é a violência. Dos colonizadores contra os colonizados e vice-versa, num círculo infernal que erode o presente e inviabiliza o futuro. Não é preciso ler Fanon para constatar que, fatalmente, os oprimidos revidarão a opressão.

Processo contra Musk é saia justa do Supremo no governo Trump

O que ganha Elon Musk ao apoiar Donald Trump? - BBC News Brasil

Processo contra Musk é uma tremenda barbeiragem

Gustavo Côrtes
Estadão

A partir de 20 de janeiro de 2025, quando Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos, o Brasil terá, de forma inédita, uma autoridade daquele país investigada pelo Supremo Tribunal Federal. Dono da SpaceX e do X (antigo Twitter), o empresário Elon Musk será chefe do departamento de Eficiência Governamental americano.

Ele é um dos alvos do inquérito das milícias digitais, que apura a atuação de grupos suspeitos de disseminar notícias falsas em redes sociais.

CONTROVÉRSIA – Procurada, a presidência do Supremo não quis se manifestar, mas seus integrantes afirmam reservadamente que o status de Musk não interfere nas diligências. Mas especialistas ouvidos pelo Estadão divergem sobre a questão.

O próprio status do cargo de Musk no governo ainda não está claro, já que houve declarações divergentes sobre se a função seria oficial, como anunciou publicamente Trump, ou de caráter externo à gestão.

Dono do X (antigo Twitter) e da Space X, Elon Musk será chefe do Departamento de Eficiência Governamental do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. 

AUTORIZAÇÕES – Segundo o advogado Pablo Sukiennik, mestre em direito internacional pela Universidade de Brasília (UnB), o Brasil é signatário de tratados internacionais que exigem autorização do país de origem para a abertura de processos contra autoridades estrangeiras. Ou seja, seria necessário aval do governo americano para processar Musk.

“A corrente majoritária interpreta essa regra de forma ampla, para qualquer ato cometido, mas há visões que defendem sua aplicação somente em casos de atos praticados em nome do Estado. Essa leitura poderia ser adotada pelo STF para Musk, já que ele passou a ser investigado pelo que fez enquanto empresário e antes de ocupar cargo no governo americano.”

CONVENÇÃO DE VIENA – Sukiennik explica que a regra foi estabelecida na Convenção de Viena criada para dar segurança a membros de governos estrangeiros de que não seriam punidos em casos de mudança brusca de regime político.

O professor de direito internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Menezes, por sua vez, avalia que Musk deve estar submetido às mesmas regras de qualquer envolvido no inquérito.

“Não muda nada. O Elon Musk pode responder a um processo como qualquer outra pessoa. Em havendo a condenação, a aplicação da pena seria mais complexa, porque os Estados não costumam submeter seus cidadãos ao cumprimento de pena no exterior.”

INVESTIGAÇÕES – Wagner Menezes também afirma que uma eventual sanção a Musk ainda depende de avanços no inquérito. “Existe de fato um risco potencial de isso acontecer, mas é preciso que haja o desenvolvimento do inquérito. As condições são ainda bem embrionárias.”

Por sua vez, Pablo Sukiennik critica a conduta da Corte que, na sua visão, violou procedimentos processuais adequados em ocorrências envolvendo o empresário.

É o caso, segundo ele, da intimação a Musk feita pelo ministro Alexandre de Moraes por meio de publicação no X, porque, no documento, o magistrado exigiu que a rede social nomeasse um representante legal no Brasil no prazo de 24 horas, sob risco de suspensão, o que ocorreu após descumprimento da determinação.

E O ITAMARATY? – “O procedimento correto é oficiar o Itamaraty, que então comunicaria as autoridades americanas para comunicarem a intimação”, defende Sukiennik. “Não imagino que Musk faça visitas ao Brasil para testar a interpretação do STF”, ironiza.

O jurista lembra que Trump já fez críticas à política comercial do Brasil e que a investigação em curso contra Musk pode suscitar questionamentos às instituições do País. “Se houver um ataque retórico contra o Brasil, isso pode ser usado para descredibilizar o Judiciário.”

Os especialistas também divergem sobre possíveis repercussões para a reputação do Brasil e para as relações entre os dois países. Menezes vê a inclusão do empresário no inquérito como uma demonstração de que o Brasil pode punir pessoas independentemente de seu poder político e econômico.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes criou um problema diplomático, ao processar Musk, que se postava contra censura prévia nas redes sociais. Pior, sem se importar com os contratos de Musk com o governo brasileiro, as Forças Armadas, a Polícia Federal e outros órgãos públicos, incluiu o empresário no inquérito do fim do mundo, que investiga disseminação de informações falsas, milícias digitais, a invasão do 08/01, o golpe de estado e mais o que passar pele frente do prédio do STF, digamos assim. (C.N.) 

Conseguiremos alinhar rigor e equilíbrio ao punir os golpistas?

ESSA “ANISTIA” É CONTRA A DEMOCRACIA! Hoje a Comissão de Constituição e  Justiça da Câmara dos Deputados vota o PL que absolve e livra todos os  envolvidos nos atos contra o Estado

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Pablo Ortellado
O Globo

A decisão do Supremo e dois relatórios da Polícia Federal sinalizam o fim da longa investigação sobre os “atos golpistas”. Finalmente podemos ter uma visão um pouco mais clara do que aconteceu nas altas esferas do poder em Brasília e do papel desempenhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro entre o final de 2022 e o começo de 2023.

O quadro geral que vemos é de inconformismo com o resultado das urnas e de grande movimentação para reverter a eleição de Lula. Não houve uma única tentativa de golpe, mas diversas movimentações golpistas, em paralelo, algumas mais violentas, outras se esforçando para conferir aparência de institucionalidade.

FALTA CLAREZA – Não fica claro se elas chegaram a ser integradas num plano só nem de que maneira se conectam com o que aconteceu depois, no 8 de Janeiro.

Quase todas as tramas envolveram Mauro Cid, o ajudante de ordens de Bolsonaro. Informá-lo e envolvê-lo era chave, porque significava informar o presidente indiretamente, sem comprometê-lo diretamente.

Há várias linhas de ação identificadas pela PF que não sabemos exatamente como se encaixam. O monitoramento da movimentação do ministro Alexandre de Moraes e o plano de prendê-lo no dia 15 de dezembro estavam subordinados à linha de ação proposta na minuta do golpe? Ou era uma ação clandestina, paralela — talvez para executar Moraes? E por que foi abortada no dia da execução?

DEFESA DE BOLSONARO – Se nenhum fato novo importante surgir, a defesa de Bolsonaro já está estruturada. Juridicamente, ele alegará que não sabia das movimentações mais violentas, como a tentativa de envenenar Lula, Geraldo Alckmin e Moraes.

Caso surjam indícios de seu envolvimento, a estratégia será tratar essas ações como meras especulações ou cogitações, um estágio anterior à tentativa e, portanto, não passível de punição.

Em paralelo, no debate público, seus apoiadores disseminarão a interpretação de que todos esses planos golpistas não foram adiante porque Bolsonaro não deu sinal verde para eles, segurando os radicais. O ex-presidente será apresentado não apenas como alguém que não conspirou contra a democracia, mas como alguém que, de fato, a preservou.

Projeto de Trump é implantar um Estado burocrático religioso

Donald Trump confirma que Elon Musk terá cargo em... | VEJA

Musk faz parte da estratégia megalomaníaca de Trump

Muniz Sodré
Folha

Nos EUA, o novo ano tem o mesmo número de um plano conservador chamado “Projeto 2025”, ainda mal conhecido entre nós. Elaborado pela Heritage Foundation e por gente que auxilia Trump desde seu primeiro mandato, o plano visa a um regime autocrático, por meio do debilitamento da Constituição, com abolição de direitos femininos que vão do aborto ao voto.

É projeto explícito de um “revival” dos anos 50, quando uma patriarquia protestante dirigia o país.

ALÉM DE TRUMP – Não se trata, portanto, de mais uma bizarrice trumpista. A retrospecção parte do período em que a ideia de um Estado teocrático despontou com força entre nacionalistas cristãos, bilionários e a John Birch Society.

Isso foi corroborado nos anos 80 pelo presidente Reagan, que estimulou a politização dos grupos cristãos de extrema direita e a penetração extremista em alas republicanas.

Depois, as presidências dos Bush, pai e filho, fizeram avançar esse movimento com a introdução de ensino religioso em escolas públicas (cerca de 30% da população é secular, não adere a nenhuma religião) e fundos públicos para escolas privadas cristãs.

“TERROR SAGRADO” – As preocupações liberais com as inclinações teocráticas dessa tendência política estão bem delineadas no livro “Terror Sagrado”, de Jim Siegelman e Flo Conway, aclamado nos anos 80, quando Reagan deu sinal verde para os batistas do Sul e os evangélicos de um modo geral.

É o mesmo dado por Trump aos nacionalistas cristãos, os bilionários e o republicanos do Maga, empenhados numa “América novamente grande”.

Entende-se assim por que gente como Elon Musk e figurões corporativos de menor porte pairam sobre o aparelho estatal trumpista. Uma teocracia tecnológica permitiria, acima dos entraves constitucionais, uma mega desregulamentação suscetível de manter os EUA como principal competidor no mercado mundial.

IMIGRANTES TREINADOS – Esse pano de fundo é uma sombra ominosa que torna nada risíveis as conhecidas bizarrices de Trump. Não tem mesmo nenhum motivo para sorrir a classe trabalhadora que o apoiou na última eleição.

O que Musk, os tecnocratas e agora Trump privilegiam são imigrantes altamente treinados para ingresso nas indústrias competitivas. Essa clivagem tem algum potencial para cindir a base republicana, mas sem relevância na ótica do Projeto 2025, lastreado por uma ideologia religiosa que nivela “god” a “gold”.

Resta determinar a natureza dessa religião, em que cristianismo é só um “branding” de mercado. Nada a ver com espiritualidade, e sim com o fetiche de uma prosperidade ilusória, além de protocolos rasteiros de conduta.

LIVRE TRÂNSITO  – Em vez da negatividade implícita nos mandamentos cristãos (a dialética do “não”), o livre trânsito empreendedor.

Para tanto conflui uma mistura de coaching e autoajuda, que não ajuda ninguém, mas atenua a angústia com fragmentos verbosos de mitos consoladores. É espantoso o relato de um imigrante brasileiro marcado para a deportação, mas que ainda assim apoia Trump. Outra versão da síndrome do torturado que ama o torturador.

Tudo isso já reverbera entre nós há muito tempo. Não serve a grandes tecnocratas empreendedores, que aqui não existem. Mas agrada a um tipo novo de capitalismo, que não precisa se assustar com fantasmas do passado, como a teologia da libertação. E é um maná pastoral para a extorsão predatória de manés.A

Cegueira ideológica e envelhecimento prejudicam atuação de Lula

Após alta hospitalar, Lula diz que está tranquilo e vai se cuidar —  Assembleia Legislativa do Piauí

Lula leva na brincadeira um governo que requer seriedade

William Waack
Estadão

O governo não se adapta às condições externas e domésticas em mudança. O que impede Lula de entender o efeito cumulativo dessas mudanças de circunstâncias é a óbvia cegueira ideológica e a solidão trazida pelo envelhecimento.

Pesa sobre a segunda metade do atual mandato de Lula a definição de estratégia (repetida várias vezes aqui) fornecida por Mike Tyson. ”Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca”, disse quem sabia nocautear mas também foi nocauteado.

Ou seja, o sucesso de qualquer planejamento é a capacidade de adaptação a circunstâncias em mudança. Lula não entendeu (repetido várias vezes aqui) como mudaram as condições políticas e econômicas desde seu primeiro mandato, e insiste no mesmo plano.

NÃO ENTENDE… – Exibe a mesma dificuldade para entender a rapidez com que dois conjuntos de circunstâncias estão se alterando. Um deles é externo, sobre o qual nunca teve qualquer controle. O segundo é doméstico, e também ameaça escapar do controle.

Lá fora o cenário geopolítico é de enorme imprevisibilidade e já era difícil mesmo sem as incertezas personificadas em Trump. Que já se consolidam em juros e inflação mais altas nos Estados Unidos, o que é sempre ruim para o Brasil — especialmente quando fica vulnerável a aversão internacional ao risco (o que explica boa parte da má performance do real).

LIÇÃO DE CASA – Seria possível ao Brasil fazer frente a esse cenário externo menos favorável se efetuasse a “lição de casa” que o próprio Lula impede. Ele mesmo acentuou (repetido várias vezes aqui) os elementos de uma armadilha fiscal que tornou virtualmente impossível o equilíbrio das contas públicas.

O resultado disso foi resumido em um número cruel mencionado por último por Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do FMI e atualmente lecionando em Harvard. “O Brasil está com um déficit fiscal de 10% do PIB, não é possível afastar especuladores fazendo isso”, afirmou, em entrevista a este jornal. Só países em guerra exibem déficits dessa magnitude.

EMPECILHOS – O que impede Lula de entender o efeito cumulativo dessas mudanças de circunstâncias e a grave ameaça embutida para seu próprio projeto político de levar as próximas eleições? De um lado é a óbvia cegueira ideológica, que o prende a postulados superados historicamente. De outro parece ser a solidão trazida pelo envelhecimento, perda do Estado Maior de melhor qualidade de antigamente e o fato de ouvir apenas a própria voz.

Essa falta de foco nos dados da realidade que realmente pesam promete ser agravada pela distração trazida por acontecimentos políticos já previstos. Um deles é o agravamento das tensões entre os Poderes por questões não só orçamentárias, para as quais Lula nunca teve compreensão nem respostas.

O outro é a denúncia e julgamento de Jair Bolsonaro e as esperadas turbulências políticas. Um tipo de situação da qual Lula já soube extrair vantagens táticas e imediatas e da qual parece hoje apenas um refém.

Indignado, embaixador chora na ONU por silêncio sobre Gaza

O que sabemos sobre a autoria do bombardeio no hospital de Gaza? | CNN  Brasil

Único hospital que restava no Norte de Gaza foi destruído

Jamil Chade
do UOL

Num momento de profunda comoção dentro da sala do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador da Palestina, Riyad Mansour, não se conteve ao descrever a situação de Gaza e a incapacidade de a comunidade internacional reagir aos crimes. A reunião havia sido convocada para lidar com os ataques contra hospitais, que se transformaram em campos de batalha e alvos de Israel.

Ao tomar a palavra para fazer seu discurso, Mansour leu mensagens deixadas por médicos mortos em Gaza. “Mahmoud Abu Nujaila, que foi morto em um ataque aéreo israelense ao Hospital Al-Awda, escreveu uma mensagem há muitos meses em uma lousa no hospital, normalmente usada para planejar cirurgias: “Quem ficar até o fim contará a história. Fizemos o que podíamos. Lembrem-se de nós”, relatou o embaixador.

INDIGNAÇÃO – Aos prantos e visivelmente indignado, ele repetiu o que estava naquela lousa. “Aquele que ficar até o final, vai contar a história. Fizemos o que pudemos. Lembre-se de nós. Lembre-se de nós”, insistiu, batendo sobre a mesa.

Para o diplomata, o mundo deve mais que apenas lembranças. “Nada pode explicar que, por 15 meses, palestinos em Gaza tiveram de viver o inferno e abandonados a seu destino”, disse.

Ao longo dos meses, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado, em vão, sobre os ataques contra hospitais. O governo de Israel alega que os membros do Hamas passaram a usar as facilidades médicas para se esconder.

MORRER DE PÉ – O embaixador, porém, insistiu em denunciar a falta de reação internacional. Ele contou como outro médico, Adnan Al Bursh, também morto, escreveu: “Morreremos de pé e não nos ajoelharemos. Tudo o que resta no vale são suas pedras, e nós somos suas pedras”, continuou.

“Temos o dever de salvar vidas. Este Conselho tem a obrigação de salvar vidas”, pediu o diplomata, diante de um Conselho de Segurança abalado em sua credibilidade diante da incapacidade de dar uma resposta à crise.

“Os médicos e a equipe médica palestinos levaram essa missão a sério, mesmo com o risco de suas vidas. Eles não abandonaram as vítimas. Não as abandonem. Acabem com a impunidade israelense. Acabem com o genocídio”, insistiu.

OLHOS DO MUNDO – O encontro ainda contou com o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk.

“Uma catástrofe de direitos humanos continua a se desenrolar em Gaza diante dos olhos do mundo. Os meios e métodos de guerra de Israel mataram dezenas de milhares de pessoas, causaram grandes deslocamentos e devastaram o território. Isso levantou grandes preocupações sobre o cumprimento da lei internacional”, disse Türk.

Türk mencionou a destruição causada pelos ataques militares israelenses na última sexta-feira ao Kamal Adwan Hospital, o último hospital em funcionamento no norte de Gaza.

FORTE IMPACTO – Segundo ele, as operações militares israelenses dentro e ao redor dos hospitais tiveram um impacto profundo, “justamente em um momento de grandes demandas na área da saúde devido ao conflito em andamento”.

“Elas têm sido particularmente devastadoras para alguns civis palestinos. Seis bebês teriam morrido de hipotermia somente nos últimos dias”, disse.

“As mulheres, especialmente as grávidas, sofreram gravemente. Muitas mulheres deram à luz com pouco ou nenhum apoio, aumentando os riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Meu escritório foi informado de que recém-nascidos morreram como resultado direto dessa falta de cuidados”, declarou.

CRIME DE GUERRA – Segundo Turk, “dirigir intencionalmente ataques contra hospitais e locais onde os doentes e feridos são tratados, desde que não sejam objetivos militares, é um crime de guerra”.

“Se cometidos como parte de um ataque generalizado ou sistemático a uma população civil, esses atos também podem ser considerados crimes contra a humanidade”, completou.

Já Rik Peeperkorn, representante da OMS na Palestina, alertou que sete por cento da população foi morta ou ferida desde outubro de 2023. Segundo ele, mais de 25% dos mais de 105 mil civis feridos em Gaza enfrentam “lesões que mudaram suas vidas”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Diante da omissão da ONU em relação à tragédia em Gaza, pode-se dizer, sem medo de errar, que a Organização das Nações Unidas melhor faria se fechasse as portas. (C.N.)

Dino suspende emendas para ONGs e OASs sem transparência

Dino não aceita resposta da Câmara e dá prazo até as 20h para deputados  explicarem emendas de comissão #charge #cartum #cartoon #humor #política  #humorpolitico #desenho #art #caricatura #caricature #jornal #opovo  #jornalismo #illustration #

Charge do Clayton (O Povo)

Daniel Gullino
O Globo

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão dos repasses de emendas parlamentares para as organizações não governamentais (ONGs) e entidades sem fins lucrativosOASs que, de acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU), não apresentam transparência adequada sobre o destino dos recursos nos últimos anos.

Em dezembro, foram empenhados R$ 137 milhões para as 13 ONGs e OASs  afetadas pela decisão. No mesmo período, foram pagos R$ 16,9 milhões para elas.

DEU PRAZO – As entidades que apresentaram informações incompletas têm um prazo de 10 dias para complementar os dados. Caso contrário, também serão alvo da suspensão.

O relatório da CGU analisou 33 entidades, entre 676 organizações sem fins lucrativos beneficiadas com emendas parlamentares em dezembro de 2024. A amostra foi feita com as 30 organizações que mais tiveram recursos empenhados e as seis que mais receberam pagamentos no período — três delas aparecem nas duas listas.

A partir daí, foi analisada a transparência dada aos recursos recebidos entre 2020 e 2024. Entretanto, sete das entidades não receberam nenhum pagamento neste período. Com isso, a análise se concentrou em 26 organizações;

SEM TRANSPARÊNCIA – De acordo com o relatório, apenas 15% tiveram a transparência sobre a aplicação dos recursos. Metade das entidades não tiveram a transparência adequada, e 35% apresentaram informações de forma incompleta.

O relatório avaliou se a “organização divulga na internet, de forma acessível, clara, detalhada e completa, o recebimento e a execução dos recursos”. O critério só foi plenamente atendido em quatro dos casos.

“Extrai-se que apenas 4 das 26 ONGs/Entidades que deveriam promover a transparência sobre a aplicação dos recursos oriundos de emendas parlamentares o fizeram conforme regramento estabelecido (15%), outras 35% divulgam as informações de forma parcial, e 50% não divulgam ou divulgam de forma inadequada”, diz o texto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Dino já mostrou que não está de brincadeira. Se mantiver o rigor contra corrupção das emendas, denunciando ONGs e OASs que corroem os recursos públicos, o povo vsi exigir que saia candidato. (C.N.)

Desilusão com os políticos já predomina entre os brasileiros

Observe a charge Infere-se sobre a charge:

Charge reproduzida do Arquivo Google

Vera Rosa
Estadão

Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, em parceria com a QuestionPro, mostra que apenas 4% dos entrevistados acreditam que o governo federal pode contribuir para sua vida melhorar em 2025. As expectativas são ainda piores sobre outras esferas de poder: somente 2% creem que o governo estadual tem como ajudar a alcançar seus objetivos e outros 2% citam a prefeitura.

Quase metade dos consultados (46%) se vê como principal responsável pela conquista das metas estabelecidas e 22% acham que a ajuda virá de Deus e/ou de sua igreja. Para 13% é a família quem pode colaborar e 5% dizem contar com a própria sorte. O local de trabalho foi mencionado por 3% e amigos, por 2%. Além disso, 2% afirmaram que ninguém pode contribuir para que sua vida seja melhor.

DENTRO DA PREVISÃO – Quando perguntados sobre quais temas deveriam constar de suas resoluções para 2025, as respostas variaram de mudança de hábitos à abertura de um negócio próprio, passando por mais tempo com a família, desenvolvimento pessoal, estudos e emprego.

Na avaliação do presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, os resultados estão em sintonia com as dificuldades enfrentadas pelo governo Lula. “Lula precisa voltar a falar com o brasileiro médio”, disse Meirelles. “O presidente que sempre foi o maior comunicador do País está distante de um eleitor que não aceita mais o mínimo.”

O levantamento também revelou que, em relação às metas fixadas para 2024, 57% dos entrevistados conseguiram guardar ou investir dinheiro, como planejado. “Mas as fórmulas do passado não são suficientes na nova realidade”, observou o presidente do Instituto Locomotiva.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A pesquisa mostra que a desilusão com a política já é muito mais forte do que a polarização, propiciando o crescimento do pessimismo, que hoje predomina. (C.N.)

Ao dar relógio Cartier a Lula, o TCU acabou ajudando Bolsonaro

Lula diz a ministros que vai devolver relógio Cartier ao TCU - @aredacao

Para pegar Bolsonaro, Lula queria devolver seu Cartier

Rafael Moraes Moura
O Globo

Cinco meses após o julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU) que abriu uma brecha para ajudar Jair Bolsonaro no caso das joias sauditas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não devolveu o relógio Cartier de R$ 60 mil recebido no seu primeiro mandato, em 2005, durante uma visita oficial à França.

No julgamento de agosto do ano passado, o TCU livrou Lula de devolver o presente francês, mas na prática criou um atalho jurídico para tentar ajudar Bolsonaro no caso das joias sauditas, o que enfureceu aliados do petista.

NÃO HÁ LEI – Isso porque, capitaneado pela ala bolsonarista da Corte de Contas, o tribunal decidiu que, a menos que o Congresso edite uma lei específica sobre o tema, qualquer ex-presidente da República pode ficar com os presentes, independentemente do valor. A nova decisão implodiu um entendimento do próprio TCU, firmado em 2016, que foi usado pela Polícia Federal para indiciar Bolsonaro nas joias.

À época, Lula procurou interlocutores no governo e no meio jurídico depois da decisão do TCU, se mostrando irritado com o novo entendimento do tribunal e se dizendo disposto a devolver o relógio.

Procurada pela equipe da coluna, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República informou que “por orientação da Advocacia-Geral da União [AGU], está aguardando o julgamento do recurso do caso” para tomar qualquer medida relacionada à devolução do relógio. A AGU, por sua vez, não se manifestou.

VOLTE À PAUTA – A expectativa no TCU é a de que o processo retorne à pauta do plenário entre fevereiro e março deste ano, com o julgamento de dois recursos, mas uma reviravolta é considerada pouco provável.

Na avaliação de ministros do TCU, Lula foi mal assessorado e demorou para agir no episódio, que veio à tona por meio de uma representação do deputado federal bolsonarista Sanderson (PL-RS).

Além disso, o gesto de devolver o relógio agora não seria capaz de derrubar o novo entendimento da Corte de Contas, nem seria mais tão simples do ponto de vista burocrático. “Como o TCU já disse que o relógio é dele, Lula teria que fazer uma doação à União”, disse ao blog um ministro ouvido em caráter reservado, para quem a devolução do presente, até aqui, mais parece um “factoide” da administração petista.

EM 2005 – Lula recebeu o relógio da própria Cartier em 2005, durante uma visita oficial a Paris para as celebrações do Ano do Brasil na França. A peça é feita de ouro branco 16 quilates e prata de 750 e, na época, era avaliada em R$ 60 mil.

Em setembro do ano passado, um mês após o julgamento, a AGU entrou com um recurso contra o novo entendimento do TCU que abriu uma brecha para ajudar

O objetivo da AGU é manter de pé a regra estabelecida pela própria Corte de Contas em 2016, segundo a qual o presidente da República só pode levar consigo após deixar o cargo peças de uso pessoal e baixo valor – os chamados “itens personalíssimos”.

DOIS RECURSOS – O recurso do governo Lula está alinhado a um outro, apresentado pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, e ao voto defendido pelo relator do caso, ministro Antonio Anastasia.

Anastasia acabou derrotado no julgamento, ao defender o direito de Lula permanecer com o relógio francês, já que na época em que o petista recebeu o presente – no ano de 2005 – as regras fixadas pelo TCU ainda não existiam.

Para a AGU, o novo entendimento da Corte de Contas está “em desacordo com o arcabouço normativo que rege a administração pública a partir da Constituição de 1988, além de violar, em específico, o interesse público na preservação dos bens da União”.

INDICIAMENTO – Portanto, a Polícia Federal usou entendimento impwlodido pelo TCU para indiciar Bolsonaro

Bolsonaro foi indiciado em julho do ano passado pela Polícia Federal por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro no inquérito das joias sauditas, sob a acusação de se apropriar indevidamente de presentes dados por autoridades estrangeiras durante o período em que ocupou o Palácio do Planalto.

Conforme informou o blog, no relatório de 476 páginas, a PF mencionou 26 vezes o acórdão do TCU de 2016 que dizia que presentes de luxo deveriam ser incorporados ao patrimônio público – em todas, como referência legal para o tratamento dos itens recebidos por presidentes da República.

PF CONFIRMA CRIME – Após o julgamento, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que a decisão do TCU não interfere na investigação de Bolsonaro porque ela vai além de “questões meramente administrativas” e envolve “diversas condutas além do recebimento das joias, tais como a omissão de dados, informações, ocultação de movimentação de bens e advocacia administrativa”.

De acordo com ele, cabe à justiça criminal definir se houve ou não crime, e isso não passa pelo TCU. Essa é a mesma avaliação da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR), a quem cabe denunciar Bolsonaro no caso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É um rolo danado. Mas é óbvio que relógio de pulso é bem personalíssimo, como gravata, chapéu e cueca, que o presenteado usa quando e como quiser. O resto é frescura, diria Clodovil. (C.V.)

Maduro não é de esquerda; ele é de direita, como todo ditador

Nicolas Maduro, presidente da Venezuela e aliado de Lula que diz ter sido alvo de plano de assassinato

 Nicolás Maduro conseguiu empobrecer um país riquíssimo

Janio de Freitas
Poder360

A presença de representante brasileiro na posse presidencial de Nicolás Maduro será, se confirmada, uma capitulação do Brasil. O resultado eleitoral proclamado pelo governo de Maduro não teve o reconhecimento do governo brasileiro, que o condicionou à apresentação das atas oficiais de votação. O governo venezuelano não as apresentou.

Nem mesmo em parte, para contestação, se possível, das provas de divergência entre atas e o alegado pelo governo. A candidatura do ex-juiz Edmundo González exibiu-as.

ELEIÇÃO FRAUDADA – Convalidar a posse é subscrever a legalidade e a legitimidade de um resultado eleitoral não reconhecido como legal e legítimo. É incoerência com efeito retroativo: nega todo valor -–político, humanitário e moral–- à atitude brasileira precedente, de defesa dos mesmos fundamentos pelos quais aqui se lutou contra a fraudulência e o golpismo.

A falta de certeza sobre o resultado eleitoral não enfraquece os indícios, múltiplos em tipos e quantidade, de estarem os venezuelanos vivendo como derrotados o que conseguimos viver como vencedores. As diferenças são factuais, não conceituais.

As sanções econômicas que a diplomacia faroeste dos Estados Unidos aplica, e a Venezuela de Maduro está sob o castigo, leva sofrimento aos povos e não aos governos.

PREJUÍZO AO POVO – O rompimento de relações também prejudicaria sobretudo a população. Foi o que fez o presidente Lula repelir, como disse, a ruptura em reação à farsa eleitoral venezuelana. Este é o mais provável motivo da representação brasileira noticiada pelo jornalista Jamil Chade.

A ausência total poderia levar ao rompimento, resposta de Maduro. E há, ainda, a intenção de conversar com os dois 2 lados, se a ameaça de Maduro à Guiana se agravar.

Nessas preliminares planaltinas talvez falte considerar um risco muito maior. Resultado eleitoral falso é traição à vontade, às esperanças e às lutas da maioria. Não dá para imaginar que Luiz Inácio Lula da Silva –a pessoa e o presidente– esteja atento ao risco de ver-se, pelo apoio à posse de um golpista, como apoiador de uma traição feroz à maioria do povo venezuelano.

E VAI PIORAR… – Maduro já endureceu, no meio ano pós-eleitoral, e vai tornar ainda pior a sua ditadura. Por ser uma cabeça bruta e por necessidade, no país agitado. Não fez e não fará nada do que o povo precisa.

É enganosa a ideia de que a situação social venezuelana seja tão grave por consequência das sanções econômicas. Maduro e seus ministros se ocupam de criar demagogia e de suas próprias ambições. Daí, as dificuldades que opõem o acesso a dados do país, em especial aos sociais.

A Venezuela é riquíssima. Tem, para resumir, a maior reserva de petróleo do mundo. Isso mesmo: do mundo. Petróleo de ótima qualidade. O que não tem é governo.

É DE DIREITA – Nicolás Maduro não é de esquerda, como em geral o veem. É de direita como todo ditador. Se não comprovou a vitória eleitoral, é porque não a teve.

Está tomando posse do que, bom ou mau, foi desejado e conquistado pela maioria do povo venezuelano.

Disso Lula entende, e por isso não se entende a ordem de prioridades do governo brasileiro nas relações com Nicolás Maduro.

Justiça Militar quer excluir Supremo e assumir julgamento dos militares

Mulher de Braga Netto cobra 100.000 reais do Banco... | VEJA

Braga Netto quer ser julgado pelo tribunal militar

Carlos Newton

Conforme anunciamos esta semana aqui na Tribuna da Internet, com absoluta exclusividade, as Forças Armadas estão aguardando serem comunicadas pela Procuradoria-Geral da República sobre a ocorrência de crimes envolvendo militares no chamado inquérito do fim do mundo, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes.

A notícia da TI foi confirmada nesta sexta-feira pelo jornalista Eduardo Barreto, na Coluna do Estadão. “A expectativa é que isso aconteça no início deste ano, quando a Procuradoria-Geral da República deve denunciar os investigados, que incluem o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto, preso desde dezembro”.

ALTA GRAVIDADE – Esta notícia é importantíssima e pode causar problemas no relacionamento das Forças Armadas como o Supremo Tribunal Federal.

O informante do repórter do Estado passou a notícia alegando que, se a Procuradoria-Geral da República constatar crimes militares, esses casos específicos irão para a Justiça Militar, embora o Supremo continue julgando as outras ações.

Isso significa que o informante do Estadão quer esvaziar a notícia da Tribuna da Internet, que diz exatamente o contrário, porque haverá intensa controvérsia quando for discutido se os militares cometeram apenas crime civil.

ESTÁ ESCRITO – No Código Penal Militar há pelo mesmo três dispositivos que enquadram em crime militar os 25 oficiais superiores e subalternos já indiciados pela força-tarefa do ministro Moraes, que realiza as investigações e assina relatórios em nome da Polícia Federal propriamente dita.

É claro que o ministro Alexandre de Moraes vai tentar impedir que haja réus julgados pela Justiça Militar. Surgirá, assim, uma polêmica do melhor gabarito. Por isso, vamos voltar ao assunto amanhã, sempre com absoluta exclusividade. É justamente esse tipo de jornalismo que a Tribuna da Internet busca, sob o signo da liberdade e dedicado ao interesse público.

BALANÇO DO MÊS – Aproveitamos para agradecer aos amigos e amigas que colaboram conosco, conscientes da importância de manter a TI nas ondas da web.

Primeiro, vamos divulgar as contribuições na Caixa Econômica Federal:

DIA  REGISTRO  OPERAÇÃO                       VALOR
02    021914       TRANS. MOHEDANO……..200,00

11    111312          DEP DIN LOT………………100,00
26    000001      CRED JPVIDAL………………..30,00
30    301347       DEP DIN LOT…………………230,00
31    311516        TRANS. MOHEDANO……200,00

Agora, as colaborações no banco Itaú:

02   PIX TRANSF JOSE FR………………………150,00
03   PIX TRANSF PAULO R03/12…………….100,00
05   TED 001.5977.JOSE A P J………………..605,12
13   TED 001.4416.MARIO A C R O………..300,00
16    PIX TRANSF JOAO NA……………………..50,00
23    PIX TRANSF DUARTE……………………..210,00
30    TED 033.3591.ROBERTO S N………….200,00

Por fim, os depósitos no Bradesco:

04    DEP TRANSF BDN JF DANTAS…………..60,00
13    TED-T ELET MARIA GUERREIRO……..100,00

Agradecendo muitíssimo aos amigos e amigas que partilham conosco essa utopia de manter um espaço independente na internet, vamos em frente, sempre em defesa dos interesses nacionais. (C.N.)

Sucessão de 2026 complica a reforma ministerial de 2025

19/10/2024 - Cláudio de Oliveira | Folha

Charge do Cláudio de Oliveira (Folha)

Dora Kramer
Folha

O anúncio oficial da reforma ministerial está previsto para abril próximo, mas na prática ela já começou. O mestre da obra, também arquiteto e decorador —o presidente Luiz Inácio da Silva (PT)—, deflagrou o processo ao comunicar à equipe a necessidade de mudanças.

Sem usar a palavra demissão, Lula demitiu Paulo Pimenta (PT) do comando da comunicação ao fazer severas críticas ao desempenho do setor.

MARQUETEIRO – Sem a presença na foto oficial, o marqueteiro Sidônio Palmeira foi convidado à mesa da confraternização de fim de ano no Palácio da Alvorada por onde circulou visto como substituto de Pimenta, ainda na incerteza de que tenha sido convidado e se aceitaria a missão.

Sem desmentir os rumores sobre sua saída da pasta da Defesa, José Múcio Monteiro sinalizou missão cumprida e cansaço dos embates internos com a esquerda.

Os pés atrás são recíprocos. Seguirão sendo, embora a substituição, eventualmente pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), possa dar um respiro temporário aos humores.

MANDANDO RECADOS – Sem especificar nomes ou cargos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), recorreu ao velho truque de mandar recados por intermédio de conversas atribuídas a “aliados” para marcar sua posição ainda de poder nos últimos dias de mandato.

O deputado apontou desequilíbrio nas forças políticas representadas no primeiro escalão e aconselhou trocas de comandos nos ministérios. Há quem tenha interpretado essas falas a “aliados” como uma oferta pessoal para sair do Legislativo rumo ao Executivo.

De fato, tanto Lira quanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), têm sido citados como prováveis futuros ministros, dado que deixam as presidências do Parlamento com café ainda quente. São perfis diferentes, no entanto.

DOIS ESTILOS – Pacheco, conciliador e integrante do partido comandado por Gilberto Kassab, um ás na arte de navegar em duas canoas, teria como objetivo o governo de Minas Gerais para o qual a visibilidade e poder de um ministério serviriam bem.

Já Lira é do enfrentamento. Faz o estilo trator, é do partido presidido por Ciro Nogueira, defensor de Jair Bolsonaro e para quem não há hipótese de haver outro plano para a direita em 2026 que não uma candidatura própria a presidente da República com reforço nas bancadas do Congresso.

Não quer dizer que uma ampliação de espaços na Esplanada seria rechaçada, ao contrário, mas para servir aos interesses do PP e companhia, jamais para firmar aliança eleitoral com o PT. Além disso, Arthur Lira —postulante ao Senado— tem dito que prefere operar nas internas do Congresso que, segundo ele, precisa se impor de maneira ainda mais contundente.

DIFÍCIL CONCILIAR – Como, então, iria conciliar essa visão de mundo com os interesses do governo? Difícil. A menos que mudasse totalmente seus planos. Ainda assim estaria na equipe de Lula sempre sob a suspeita (e tiroteio do PT) de que jogaria contra. Resta uma questão crucial: o grau de confiança entre Lula e Lira.

Ao que circula por Brasília sobre a reforma ministerial, ela teria três critérios principais: melhoria na comunicação do governo; utilidade na atração de votos no Congresso à agenda do governo e para barrar pautas da agenda da direita radical; e compromisso de apoio ao PT —com Lula ou sem ele— em 2026.

É no terceiro item que a coisa pega. Em que termos seria firmado esse acordo? Até que ponto iria a confiabilidade de tal acerto? Um contrato assinado agora teria cláusulas de rescisão submetidas a circunstâncias futuras? Como se vê, sobrariam incertezas e faltaria firmeza na execução.

Farra das emendas chegou ao ápice ou ainda vai piorar em 2025?

A emenda é minha e ninguém tasca!” | Jornal de Brasília

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

Eliane Cantanhêde
Estadão

O ‘ápice da balbúrdia’ azedou as relações entre os Três Poderes e o humor da sociedade contra o Congresso Nacional em 2024 e tende a ficar ainda pior em 2025, caso Câmara e Senado não admitam a gravidade da situação e o quanto isso desgasta a já tão desgastada imagem da política no Brasil.

Assim, a pergunta que está no ar é: o ápice foi na gestão de Arthur Lira, ou pode ser na de Hugo Motta, seu sucessor na presidência da Câmara a partir de fevereiro?

COMPRA DE VOTOS – As emendas parlamentares são válidas, pois aproximam o deputado e o senador de suas bases e dos interesses dos seus municípios e Estados. O problema é que os valores se multiplicam desenfreadamente e são usados sem controle.

O poder sobre o Orçamento sai do Executivo para o Legislativo, o governo fica na mão do Congresso e o resultado é o de sempre: compra de votos e corrupção.

Como Alexandre de Moraes pegou o touro a unha no inquérito do golpe, Flávio Dino pegou no escândalo das emendas. Um enfrenta um ex-presidente da República e militares de alta patente que articularam até o assassinato do sucessor eleito. O outro bate de frente com os audaciosos parlamentares, capazes de botar a faca no pescoço e chantagear o presidente por emendas a rodo, sem controle e rastreabilidade.

RETROCESSOS – Em vez de debater e aprovar tempestivamente projetos essenciais para o Brasil e os brasileiros, como o corte de gastos e a regulamentação da reforma tributária, Câmara e Senado gastaram um tempo precioso – e escasso, em ano eleitoral – para provocar o Supremo e o Planalto e promover retrocessos para a sociedade.

Exemplo: as investidas da CCJ da Câmara, comandada, aliás, por uma deputada, para abolir o aborto legal, inclusive por estupro ou risco de morte da grávida.

No sentido oposto ao que se espera do Legislativo, comissões e plenários pareciam mais preocupados em prejudicar os dois outros Poderes e o País do que em garantir avanços na economia.

CORPORATIVISMO – Não vai mudar em 2025, com Hugo Motta na presidência da Câmara e Davi Alcolumbre de volta à do Senado. Ambos têm apoio nas bancadas de praticamente todos os partidos e Alcolumbre, particularmente, mantém boas relações com o Supremo, mas, acima dos interesses nacionais, prevalece o corporativismo movido a emendas que atingiram R$ 50 bilhões em 2024, “ápice da balbúrdia” – até agora.

Vem aí a reforma ministerial do presidente Lula, disputada a tapa por políticos das mais variadas tendências, que querem status de ministro, com avião da FAB, carro oficial e visibilidade, mas, no fundo, o que compra votos no Congresso não é cargo, é emenda na veia. Se Flávio Dino deixar.

É hora de reconhecer heroínas discretas e silenciosas da justiça

Uma mulher sorridente, vestindo um traje formal com uma faixa, está sentada em uma mesa de tribunal. Ela aplaude com as mãos juntas, enquanto dois homens ao seu lado a observam. O ambiente é decorado com painéis de madeira escura e cadeiras de estilo clássico.

Ministra Elizabeth Rocha deu um voto firme e verdadeiro

Conrado Hübner Mendes
Folha

Nas frestas do sistema de justiça, há heroísmo. Não está em atitudes judiciais autoritárias ou em condutas espalhafatosas e midiáticas que tentam coreografar superioridade moral. Não está no falso-heroísmo da autolegalidade, cacoete daquele juiz que defende legitimidade de interpretação jurídica medíocre e sectária com base na sua autoatribuída qualidade de caráter, disfarçando a falta de qualidade de sua decisão.

Nas frestas, há heroísmo silencioso e discreto. Que se destaca por sua fibra moral e intelectual, produz decisões que se sustentam na integridade e exemplaridade da conduta do juiz que estuda, pensa e escreve. A simplicidade e a inteligência de quem respeita o compromisso ético e intelectual da magistratura precisam ser reportados e conhecidos.

FAROL DA INTEGRIDADE – As façanhas juspornográficas da magistocracia são comemoradas anualmente no JusPorn Awards. Para iluminar o heroísmo judicial genuíno, temos agora o Farol de Integridade Judicial. Não é troféu nem “awards”, mas reconhecimento público.

Quem, no apagar de 2024, encarnou o Farol de Integridade Judicial foi uma juíza, a ministra Maria Elizabeth Rocha, do STM (Superior Tribunal Militar).

Em 2019, no Rio, dez militares metralharam carro do músico Evaldo dos Santos Rosa, ao lado de sua esposa e filho. Após 257 tiros, Evaldo e o catador de lixo Luciano Macedo, todos pretos, morreram.

FORAM ABSOLVIDOS – Condenados em primeira instância, o STM absolveu os militares por 8 votos a 6. O voto do relator, ministro tenente-brigadeiro do ar Carlos Oliveira, resumiu assim:

“Não há como desconsiderar a ocorrência de infortúnio, de fatalidade […]. Verifica-se que não queriam o resultado morte, principalmente de cidadãos civis, porém desejavam conter ação criminosa, ainda que imaginária, em cidade dominada pelo medo e violência.”

A ministra Elizabeth, primeira e única mulher da corte, proferiu voto vencido mais corajoso do ano. E ofereceu um norte para a autocorreção da usina judicial de produção de crueldade, injustiça e sofrimento, não bastasse a ilegalidade.

DENTRO DA LEI – A filosofia jurisprudencial resumida nos trechos a seguir, apesar de rejeitada pelo raciocínio magistocrático, é a única compatível com a Constituição brasileira:

“A violência do Estado não é apenas consequência de desvios ou excessos pontuais, mas reflexo de estrutura que historicamente escolhe determinados corpos e identidades como merecedores de proteção e outros como alvos de exclusão. Reconhecer e enfrentar essa realidade é fundamental para atingir os objetivos constitucionais da República.”

“A violência estatal perpetrada por meio de atos discriminatórios institucionais não é capaz de mitigar a responsabilidade de agentes públicos na construção de sociedade mais justa e igualitária. Neste sentido, isentar responsabilidade de agente público por ato voluntário, manifestamente discriminatório, significa legitimar a violência estatal que concebe corpos negros, femininos e homossexuais como de menor valor.”

“A pessoa alvejada pelos militares era um homem pobre, pardo, que trabalhava reciclando lixo e, ao ajudar um pai de família que fora atingido por disparo de arma de fogo, foi concebido como bandido e morto.”

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P.S. – Militares que viram dois homens pretos e, por serem pretos, atiraram, foram absolvidos. Não foi infortúnio, nem fatalidade. (C.H.M)