
Michelle ainda não recebeu a benção oficial de Bolsonaro
Carolina Brígido
Estadão
Embora Jair Bolsonaro não tenha ainda apontado o herdeiro de seu capital político para as eleições de 2026, Michelle Bolsonaro se consolida como candidata a cada evento que participa. Na tentativa de se cacifar para a disputa – seja para a Presidência da República ou para o Senado, como prefere o marido -, a ex-primeira-dama tem repetido as ideias que alçaram a direita ao poder no Brasil.
Durante discurso em um evento do PL Mulher em Londrina (PR), Michelle elencou as bandeiras de seu grupo político. Hoje, a principal delas consiste em atacar o Supremo Tribunal Federal (STF). No dia anterior, a defesa de Jair havia sido derrotada no julgamento do recurso à condenação pela tentativa de golpe de Estado.
“DE JOELHOS” – Michelle afirmou que o Congresso Nacional “está de joelhos em frente ao STF”. Disse que isso “é uma tristeza” e que “só quem governa é o Judiciário”. E arrematou: “Os nossos deputados aprovam leis e, se não tiver em concordância, eles anulam”.
De fato, na estrutura dos Três Poderes, cabe ao Judiciário fazer o controle de constitucionalidade das lei aprovadas pelos parlamentares. Isso inclui derrubar a validade de normas em julgamentos posteriores a votações no Legislativo, se houver incompatibilidade com a Constituição Federal.
Michelle não mencionou no discurso, mas, além da condenação de Bolsonaro, outro episódio na atuação do STF incomoda a direita: o fato de a Corte não ter deixado o caminho aberto para o Congresso aprovar a anistia aos condenados pela trama golpista. Com a certeza de que o perdão seria derrubado pelo Supremo, o Congresso preferiu adiar esse plano para um futuro distante.
“ÚNICA OPÇÃO” – Bolsonaro está inelegível desde 2023 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com a condenação do STF, as urnas ficam ainda mais trancadas para ele em 2026. Ainda assim, Michelle tenta conquistar o eleitor bolsonarista raiz ao glorificar o marido a afirmar que ele é a única opção para governar o País. Fez isso também no último sábado.
“Não há outra opção para a Presidência da República. A única opção para presidente da República da direita chama-se Jair Messias Bolsonaro. Se não acontecer, não existe democracia, se não acontecer, este é o verdadeiro golpe que o Judiciário está dando no povo de bem, no povo brasileiro”, disse aos paranaenses. Também declarou que Jair veio para “para resgatar o patriotismo e o amor à pátria”.
Michelle aproveitou a ocasião para dar notícias do marido, prestes a completar 100 dias de prisão domiciliar. “Meu marido passou pela última cirurgia e nunca mais ele conseguiu se recuperar do soluço. Ele chega a exaustão, ele tem vários problemas de saúde decorrentes dessa última cirurgia, por ele não ter tido tempo para se recuperar, paz de espírito para se recuperar, um ambiente favorável”, contou.
TRANSFERÊNCIA – Com esse mesmo raciocínio, a defesa de Bolsonaro tem esperança de garantir que ele continue na prisão domiciliar para o cumprimento da pena. Se isso não acontecer, o ex-presidente poderá ser transferido para a Penitenciária da Papuda ou para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília ainda neste mês. “Um abismo foi puxando o outro. Ele tem vivido dias muito difíceis, tendo todos os seus direitos violados. Mas essa injustiça vai acabar, eu creio”, concluiu.
No evento, Michelle desfilou críticas a outros inimigos da direita. Disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz “aliança com o crime” e “fica do lado do crime e abandona a vítima”. Aproveitou para criticar também o “comunista ou socialista raiz” Pepe Mujica, que presidiu o Uruguai e morreu em maio deste ano.
Jair Bolsonaro foi alçado à liderança da direita no Brasil com essa mesma fórmula de ataques ao STF, a Lula e à esquerda. Também foi impulsionado pelo discurso de combate violento à criminalidade e a ode à família e à pátria.
PREFERÊNCIA – Mesmo sem a benção oficial do marido, que resiste em indicar um nome para disputar a presidência da República, Michelle é um dos nomes preferidos dos eleitores de direita a um ano da disputa. Pesquisa publicada pelo Instituto Gerp na sexta-feira, 7, mostra que ela teria 30% das intenções de voto contra 35% de Lula em uma disputa no primeiro turno.
Ainda segundo o levantamento, em um eventual segundo turno entre os dois, ela teria 47% dos votos contra 44% do atual presidente. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Por outro lado, em 9 de outubro, a Quaest indicou que nenhum nome do campo conservador demonstrava força suficiente para se destacar na disputa, embora Michelle tivesse sido apontada com um nome em crescimento.








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