À sombra da inelegibilidade de Bolsonaro, Michelle testa protagonismo na direita

Pizzaria, fachada e propina: Stefanutto é apontado como peça-chave do esquema de descontos ilegais

No “Ponteio”, de Edu e Capinam, uma mensagem contra o regime militar

Paulo Peres
Poemas & Canções

O médico, publicitário, poeta e letrista baiano José Carlos Capinam explica que, a vitória de “Ponteio” no III Festival da Record, em 1967, música de raiz sertaneja, trazia na letra uma interação política bem ao gosto da plateia mais politizada, com alusões certeiras ao desejo de mudança.

Certo dia que sei por inteiro/ eu espero, não vá demorar/ este dia estou certo que vem/ digo logo o que vim pra buscar (…) / vou ver o tempo mudado/ e um novo lugar pra cantar” — era o bordão contra a ditadura militar, então,  vigente no pais desde 1964. Esta música foi gravada no LP Edu Lobo, Marília Medalha, grupo Momento Quatro e grupo Quarteto Novo, em 1967, pela Philips.

PONTEIO
Edu Lobo e Capinam

Era um, era dois, era cem
Era o mundo chegando e ninguém
Que soubesse que eu sou violeiro
Que me desse ou amor ou dinheiro
Era um, era dois, era cem
Vieram pra me perguntar
Ô, você, de onde vai, de onde vem
Diga logo o que tem pra contar

Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via
Nem sombra, nem sol, nem vento

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar

Era um dia, era claro, quase meio
Era um canto calado, sem ponteio
Violência, viola, violeiro
Era morte em redor, mundo inteiro
Era um dia, era claro, quase meio
Tinha um que jurou me quebrar
Mas não lembro de dor nem receio
Só sabia das ondas do mar

Jogaram a viola no mundo
Mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo a viola ponteio
Meu canto não posso parar, não

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar

Era um, era dois, era cem
Era um dia, era claro, quase meio
Encerrar meu cantar já convém
Prometendo um novo ponteio

Certo dia que sei por inteiro
Eu espero, não vá demorar
Este dia estou certo que vem
Digo logo o que vim pra buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar pra cantar

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar

Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, recorre a vaquinha para pagar defesa

Pressão nos EUA e trama golpista: STF decide futuro de Eduardo Bolsonaro

PF aponta papel “estratégico” de ex-ministro de Bolsonaro em fraude contra aposentados

PF define estratégia para prisão de Bolsonaro e aguarda ordem de Moraes

Atualmente, o ex-presidente cumpre prisão domiciliar

Patrik Camporez
O Globo

Com o processo que condenou Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, chegando à reta final, a Polícia Federal (PF) já traçou um plano para a eventual detenção do ex-presidente. Os preparativos incluem desde o uso de aeronaves até métodos para uma operação “rápida e discreta”.

Os detalhes estão sendo discutidos na cúpula da corporação enquanto se aguarda uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação em que o ex-mandatário foi sentenciado. Integrantes da corporação com conhecimento do assunto afirmam que a PF se prepara para “todos os cenários” e que o planejamento “já está pronto” para cumprir uma eventual ordem de prisão.

AÇÕES COORDENADAS – O plano prevê ações coordenadas para evitar tumultos, incluindo contingências para manifestações em frente ao condomínio onde Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, em Brasília, e a mobilização de efetivo reforçado caso seja necessário garantir a segurança da operação. Tudo é avaliado — do tamanho do comboio à logística de transporte aéreo.

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam que a prisão em regime fechado de Bolsonaro deve ocorrer até o fim de 2025. A expectativa é que, com o avanço dos trâmites judiciais e a baixa probabilidade de reversão da condenação, o caso seja encerrado este ano.

RESTRIÇÕES – Na última terça-feira (11), Bolsonaro (PL) completou 100 dias em prisão domiciliar. O ex-mandatário também está cumprindo medidas cautelares como não usar celular e não ter contato com investigados. A condição foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.

Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada após descumprir uma série de medidas restritivas impostas a ele, no âmbito do inquérito que apurou a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o sistema Judiciário. Nesse processo, o filho do ex-presidente foi denunciado pela PGR (Procurador-Geral da República).

Dessa forma, as restrições de liberdade em cumprimento pelo ex-presidente não estão relacionadas à condenação dada pelo STF de 27 anos e três meses de prisão por liderar o plano de golpe. Apesar disso, a defesa poderá pedir o abatimento desse período quando for determinado o cumprimento de pena pela Justiça.

RISCO DE FUGA – Após essa condenação, em 13 de outubro, Moraes negou o pedido da defesa de Bolsonaro para revogar a prisão domiciliar e as medidas cautelares impostas ao ex-presidente. Segundo a decisão de Moraes, a manutenção das medidas cautelares e a prisão domiciliar são necessárias e adequadas diante do risco de fuga de Bolsonaro.

Nesse período em que ficou em domiciliar, Bolsonaro já saiu pelo menos três vezes de casa para ir ao hospital. Duas das vezes foi com autorização de Moraes e uma por emergência. Sob esse regime, o ex-presidente só pode receber visitas com autorização de Moraes. Frequentemente, a defesa solicita a permissão para entrada de aliados políticos de Bolsonaro e um grupo de oração, às quartas-feiras.

Outras medidas cautelares às quais o ex-presidente está submetido são: uso de tornozeleira eletrônica, proibição de acessar embaixadas e consulados, de manter contato com embaixadores e autoridades estrangeiras e de utilizar redes sociais, direta ou indiretamente, inclusive por intermédio de terceiros.

Até quando seguiremos aturando presidentes como Lula e Bolsonaro?

Lula, Bolsonaro e Tarcísio: o que as novas pesquisas revelam sobre as  eleições de 2026 | Exame

A polarização Lula/Bolsonaro é o que pode acontecer de pior

Carlos Newton

Em resposta a um amigo, que se mostrou preocupado com a série de matérias sobre a atuação do ministro Luiz Fux para libertar Bolsonaro e possibilitar sua candidatura, o editor da Tribuna da Internet esclarece que não passou a ser eleitor de Jair Bolsonaro, embora respeite as razões que levam brasileiros a admirá-lo.

Não mudei minha opinião a respeito dele. Conforme deixei claro desde 2018, quando foi lançada sua candidatura, relatei que conheço Bolsonaro pessoalmente e tenho convicção que ele é despreparado para exercer a Presidência da República. “Um idiota completo”, resumi, na época, minha opinião sobre ele.

NADA MUDOU – Quase oito anos depois, nada mudou. Bolsonaro continua o mesmo e só serve para fazer contraponto a Lula da Silva, outro estorvo que ocupa ilegalmente a Presidência da República.

Aliás, Lula só existe por obra e graça de um grupo de ministros do Supremo, com destaque para Edson Fachin, que inventou a “incompetência territorial absoluta”, uma situação inexistente no Direito e que passou a ser adotada apenas no Brasil, criada especialmente para possibilitar a candidatura ilegal de Lula da Silva em 2021.

Após “limpar” o tenebroso passado de Lula, o Supremo tratou de destruir Bolsonaro, deixando o presidente petista tranquilo, governando praticamente sem oposição, bastando liberar uma ou outra emenda, e vamos em frente.

“DESCONDENADO” – Mas de repente, com Luiz Fux na Segunda Turma, que vai julgar os recursos de Bolsonaro, o ex-presidente fica na mesma situação de Lula, na perspectiva de também ser “descondenado” – uma palavra inexistente, criada para indicar a situação jurídica especial de Lula.

Juridicamente, essa “descondenação” de Bolsonaro é justa e necessária, ele realmente foi perseguido pelo Supremo, que chegou a lhe proibir a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para dirigir a Polícia Federal (PT), um ato absurdo e tirânico. E a perseguição prosseguiu no Tribunal Superior Eleitoral, não há dúvida.

Mas agora, a passagem de Fux para a Segunda Turma dá maioria a Bolsonaro, que tem apoio também de Nunes Marques e André Mendonça.

Juridicamente, repita-se, é justa e necessária essa limpeza do currículo de Bolsonaro, mas traz um efeito colateral lamentável, pois recria a deletéria polarização entre entre ele e Lula.

EMPATE TÉCNICO – A mais nova pesquisa indica empate técnico entre Lula e Bolsonaro. O petista aparece com 42%, ante 39% de Bolsonaro —diferença dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Em outubro, Lula marcava 46% contra o ex-presidente, que registrava 36%.

É lamentável que a polarização ressurja justamente quando há um candidato de terceira via capaz de derrotar Lula. Estou me referindo, é claro, ao governador de São Paulo, que tem óbvias condições para vencer a disputa, somando seus votos, que não são poucos, com os votos de Bolsonaro e do Centrão.

Além disso, Tarcísio está no Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, e teria a maioria dos votos evangélicos

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P.S. –
O problema é que Bolsonaro, mesmo doente e cansado de guerra, vai insistir em sair candidato, caso Fux vença a parada no Supremo e elimine a inelegibilidade do ex-presidente. E os eleitores voltarão à situação de escolher entre dois candidatos de validade vencida, ambos incompetentes e desprezíveis. Realmente, mais quatro anos de Lula ou de Bolsonaro será uma overdose num país já altamente debilitado. Que Deus tenha piedade do povo brasileiro! (C.N.)

Pesquisa indica que maioria apoia ação no Rio, mas rejeita em seus estados

67% dos brasileiros aprovam a megaoperação no Rio

Malu Gaspar
O Globo

A nova pesquisa Genial/Quaest divulgada na última quarta-feira (12) aponta que 67% dos brasileiros aprovam a megaoperação que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, no último dia 28. Mas apesar do apoio expressivo, o levantamento também revela que 55% dos entrevistados rejeitam o mesmo tipo de ação policial nos estados onde vivem.

Ao todo, apenas 25% dos brasileiros reprovam a ofensiva liderada pelo governo Cláudio Castro (PL) contra o Comando Vermelho (CV), enquanto 4% afirmaram que nem aprovam e nem rejeitam e outros 4% não responderam ou disseram não saber.

REJEIÇÃO – Quando questionaram se gostariam que o mesmo tipo de operação ocorresse em seus estados, apenas 42% dos entrevistados responderam que sim. A rejeição é maior no Sudeste (58%) e em municípios com 20 a 50 mil habitantes (63%), além de ser preponderante entre os que se dizem alinhados à esquerda, mas não lulistas (75%).

O apoio à realização de ações idênticas à da polícia fluminense é um pouco maior entre moradores de cidades com mais de 500 mil habitantes (43%) e nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sul (44%). O índice salta apenas entre pessoas de direita que não se classificam como apoiadoras de Jair Bolsonaro (63%) e aquelas que se rotulam como bolsonaristas (53%).

Outros dados obtidos pela pesquisa sugerem que a contradição entre os índices reflete a percepção dos entrevistados sobre o contexto da segurança pública no Rio. Quase nove a cada dez entrevistados (84%) disseram acreditar que a violência no estado é pior do que onde vivem. Apenas 11% respondeu que a situação é parecida, enquanto 4% disse que o ambiente no Rio é menos violento do que onde vive.

VIOLÊNCIA – Essa leitura é ainda mais forte no Sul (91%), na região Sudeste como um todo (86%) e no Centro-Oeste (85%). No Nordeste, 78% dos entrevistados avaliam o Rio como um estado mais violento. Dados da edição 2025 do anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, porém, apontam o Rio de Janeiro apenas como o 15º estado mais violento do Brasil – atrás de unidades federativas de quase todas as outras regiões do país com exceção do Sul, como Amapá (Norte), Bahia (Nordeste) e Espírito Santo (Sudeste).

O referencial da entidade é a taxa de mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes. Ao todo, a Genial/Quaest entrevistou 2.004 brasileiros com 16 anos ou mais em 120 municípios entre os dias 6 e 9 de novembro, pouco mais de uma semana após a operação contra o CV no Rio de Janeiro.

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Bolsonaro não morreu, apesar do Supremo, da imprensa e dos filhos

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Tudo em Lula soa envelhecido e exibe perda de validade

Mario Sabin
Metrópoles

Jair Bolsonaro não morreu politicamente, apesar de todas as tentativas de matá-lo para a vida pública, de todos os obituários apressados da imprensa e das trapalhadas dos seus filhos. Acho que já escrevi isso, mas o Brasil é um país redundante também na sua negação da realidade. Não sou eu a constatar que Jair Bolsonaro continua vivo, é a pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje.

Lula permanece à frente em todos os cenários eleitorais apresentados pela pesquisa, mas não com tanto conforto. No cenário que não existe por obra do STF, o do presidente da República contra Jair Bolsonaro, a diferença no segundo turno caiu de dez para três pontos percentuais em um mês (42 a 39), praticamente dentro da margem de erro, que é de dois pontos. Empate técnico. Entre os cenários que existem, a distância do presidente da República para Tarcísio de Freitas, ainda visto como candidato bolsonarista, encurtou de 12 para 5 pontos no segundo turno (41 a 36).

REVERTÉRIO – Lula estava de salto alto, achando que já não tinha mais para ninguém, e que bastava seguir com o barco afundando em velocidade de cruzeiro para ele continuar ao leme. Mas aí veio a megaoperação policial no Rio de Janeiro.

Ele e os petistas receberam um tapa da vida real: o apoio maciço dos cidadãos às forças policiais que enfrentaram os bandidos do Comando Vermelho no favelão carioca. As forças policiais vilanizadas pelo presidente da República e pelo seu partido.

Não poderia ser diferente: a segurança pública, desprezada tradicionalmente pela esquerda, é a principal preocupação dos brasileiros, muito mais do que a economia. E, para a maioria dos cidadãos, bandido bom é bandido preso ou, se resistir, morto. Pensam como Jair Bolsonaro, não gostaram de saber que Lula acha que traficantes são vítimas de usuários (não foi gafe).

E A MOLDURA? – O centro do quadro atual é esse, mas não se deve desprezar a moldura, e o ex-presidente prestes a se tornar presidiário é um dos lados dela.

O STF e a imprensa podem pintar Jair Bolsonaro como o diabo na Terra, e uma expressiva parte dos eleitores não mudará da opinião de que ele é um perseguido político (não conte para ninguém, mas o homem é mesmo perseguido, e se dar conta disso não significa necessariamente isentá-lo das suas muitas culpas).

A perseguição a Jair Bolsonaro acirra o antipetismo em relação a tudo isso que está aí, visto que o ex-presidente encarna o seu avesso, embora não devesse ser assim.

CAMINHO ERRADO – Temos ainda como parte da moldura o fato de que ninguém acredita realmente que a economia e todo o resto vão bem.

Não se esqueça do pano de fundo: sempre segundo as pesquisas, boa parte dos cidadãos acha que estamos no caminho errado, e não dá para eximir Lula e o PT dessa roubada (sem trocadilho, só um pouco, vá lá), uma vez que o chefão e o seu partido estão no poder desde o início do século, à exceção do intervalo bolsonarista.

Por último, há o cansaço de um país jovem com a figura de Lula. A sua visão de mundo é velha, o seu discurso é velho, as suas piadas são velhas, o seu populismo é velho.

Senado aprova projeto que barra descontos em benefícios do INSS

Papuda pode não ter condições de receber Bolsonaro, diz governador

Governador afirma que cabe ao DF cumprir decisão do STF

Marianna Holanda
Folha 

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), disse à Folha não poder garantir que o presídio da Papuda tenha condições de receber Jair Bolsonaro (PL), por desconhecer o quadro de saúde do ex-presidente. Bolsonaro enfrenta a reta final do processo da trama golpista no STF (Supremo Tribunal Federal), pelo qual foi condenado a 27 anos e três meses de prisão. Quando os recursos forem considerados esgotados, a corte poderá determinar o cumprimento de pena em regime fechado.

A chefe de gabinete de Alexandre de Moraes, do STF, vistoriou a Papuda e a “Papudinha”, como é conhecido o 19º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal, que fica em frente ao presídio. Em 2023, o ex-ministro Anderson Torres ficou preso preventivamente naquele batalhão.

SEM GARANTIA – “Não posso garantir. Nós não conhecemos as condições de saúde dele”, disse o governador, ao ser questionado pelo Folha sobre se o presídio teria condições de receber e de se responsabilizar por Bolsonaro. Sobre a possibilidade de o Governo do Distrito Federal recorrer de eventual decisão da corte nesse sentido, Ibaneis disse que a decisão é do Supremo e da Vara de Execuções Penais e que só cabe à Secretaria de Administração Penitenciária de Brasília cumpri-la.

A pasta enviou, na semana passada, um ofício a Moraes, solicitando que o ex-presidente faça uma avaliação médica para verificar sua condição de ser mantido em presídios da capital federal. Mas o magistrado viu “ausência de pertinência” no pedido do GDF e indicou que só deve analisar o pedido após o fim do processo da trama golpista.

QUADRO DE SAÚDE – A justificativa apresentada é que o documento enviado pelo governo, sob gestão Ibaneis, trata de execução penal, que é uma fase posterior ao julgamento dos recursos. O governador disse desconhecer o quadro de saúde de Bolsonaro, de quem é aliado no Distrito Federal, mas afirmou que sua vice, Celina Leão (PP), tem mais condições de avaliar.

“Quanto às condições de saúde dele, a Celina esteve recentemente [com o ex-presidente] e sabe melhor, além de ser muito amiga da Michelle [Bolsonaro]”, disse. A vice-governadora esteve com Bolsonaro em 15 de agosto. À época, ela não se manifestou, mas, em entrevista ao SBT News na segunda-feira (11), ela disse que a Papuda não teria condições de receber o ex-presidente.

“A Papuda não tem condição de receber o Bolsonaro. Ele precisa de uma dieta especial, tem idade avançada, trata-se de um ex-presidente. Se for bem cuidado, vai ter uma vida prolongada”, afirmou.

COMIDAS ESPECIAIS – Celina disse ainda que o sistema penitenciário não tem condições de garantir o preparo de comidas especiais para Bolsonaro — que precisaria de dieta específica por causa das cirurgias no abdômen. A vice-governadora é pré-candidata ao Governo do DF, em uma chapa que deve ter PL, PP, MDB e Republicanos como aliados.

O grupo político tenta costurar um acordo por meio do qual Michelle seria candidata ao Senado, Ibaneis também, e Celina ficaria no Palácio do Buriti. Nessa configuração, o atual secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, seria o seu vice. Ele se filiou recentemente ao Republicanos. Rocha trabalhou na SAJ (Subchefia de Assuntos Jurídicos da Presidência) no governo Michel Temer (MDB), do qual Moraes foi ministro da Justiça.

Ameaça o plano de união da direita no DF o surgimento de uma possível candidatura da deputada federal Bia Kicis (PL-DF) ao Senado, o que poderia implodir o acordo com o governo Ibaneis.

Ex-presidente do INSS é preso pela PF por descontos ilegais em aposentadorias

Stefanutto foi afastado do cargo por decisão judicial em abril

Sarah Teófilo
Bruna Lessa
O Globo

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira o ex-presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Alessandro Stefanutto durante uma nova fase da Operação Sem Desconto, que apura descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Estão sendo cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 63 de busca e apreensão e outras medidas em 14 estados e no Distrito Federal.

A PF informou que “estão sendo investigados os crimes de inserção de dados falsos em sistemas oficiais, constituição de organização criminosa, estelionato previdenciário, corrupção ativa e passiva, além de atos de ocultação e dilapidação patrimonial”. A última fase da operação havia sido deflagrada em outubro.

AFASTAMENTO – Stefanutto foi afastado do cargo no INSS por decisão judicial em abril deste ano, quando a PF deflagrou a primeira fase da operação. Ele é servidor público de carreira e aliado do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, que deixou o cargo após a operação.

Além de ocupar cargos de indicação política, Stefanutto foi técnico da Receita Federal e procurador da Advocacia-Geral da União (AGU), onde permanece vinculado. Filiado ao PSB, chegou a ter a indicação à chefia do INSS comemorada em nota oficial do site do partido. Após a operação, a legenda divulgou comunicado negando ter o indicado ao cargo.

OUTRAS FUNÇÕES – Antes de assumir o posto mais alto do INSS, Stefanutto chegou a ocupar outras funções dentro da instituição. Em 2023, chefiou a Diretoria de Orçamento, Finanças, Licitações, Contratos e Engenharia, e entre 2011 e 2017 atuou como procurador-geral do órgão. Também representou o INSS como conselheiro na Caixa Seguradora. Participou, ainda, da equipe de transição do governo Lula na área de Previdência.

Formado em Direito pela Universidade Mackenzie, Stefanutto possui especializações em instituições como a FGV e a Universidade de Alcalá (Espanha), onde se tornou mestre em Sistemas de Seguridade Social. Seu currículo inclui pós-graduação em Gestão de Projetos, estudos em Mediação e Arbitragem, além de mestrados internacionais em Direito pela Universidade de Lisboa e pela Università degli Studi di Milano.

PRODUÇÃO ACADÊMICA – A trajetória profissional teve início na Marinha do Brasil e passou por cargos como técnico da Receita Federal, com atuação em tributos internos e área aduaneira, e procurador federal da AGU. Além da atuação técnica e jurídica, Stefanutto também tem produção acadêmica: é autor do livro “Direitos Humanos das Mulheres e o Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos”, cuja introdução foi escrita por Maria da Penha Fernandes, símbolo da luta contra a violência de gênero no Brasil.

Ao assumir a presidência do INSS, Stefanutto enfrentou desafios como a fila de mais de 1,7 milhão de requerimentos de benefícios, a necessidade de modernização do sistema Meu INSS e um quadro de servidores defasado. Sua indicação, celebrada pelo PSB – partido ao qual é filiado –, foi vista como tentativa de combinar conhecimento técnico com sensibilidade política em uma área central para milhões de brasileiros.

Por 45 votos a 26, Senado aprova recondução de Gonet na PGR

Com a aprovação, Gonet permanece no cargo até 2027

Mariana Muniz
Camila Turtelli
O Globo

Por 45 votos a 26, o plenário do Senado aprovou a recondução do procurador-geral da República, Paulo Gonet. O resultado ocorreu após o nome do chefe do Ministério Público Federal ser aprovado na sabatina realizada na Comissão de Constituição e Justiça também nesta quarta-feira. Com a aprovação, o indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece no cargo até 2027.

O placar de Gonet foi o mais apertado desde a redemocratização. O primeiro chefe da PGR pós-88, Aristides Junqueira, foi aprovado com 47 votos pelo plenário do Senado — até então o mais baixo para a indicação de um procurador-geral da República. O número mais alto foi obtido por Raquel Dodge, que em 2017 obteve 74 votos.

FOLGA MAIOR – Para que fosse aprovado em sua recondução, o procurador-geral da República precisava obter 41 votos, maioria simples no plenário do Senado. Em 2023, quando passou pelo mesmo crivo pela primeira vez, obteve uma folga muito maior: 65 votos a favor.

Nos bastidores, a recondução de Paulo Gonet à Procuradoria-Geral da República foi cercada por apreensão quanto ao quórum no Senado. Desde o início da manhã, havia o temor de que a baixa presença de senadores pudesse comprometer o placar — especialmente após aliados do governo reconhecerem dificuldades em mobilizar a base em uma semana de votações esvaziadas.

Para uma ala do Senado, o próprio presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União-AP), teria usado o calendário de votações como instrumento de pressão política, ao pautar o tema justamente agora, em meio à sua tentativa de convencer o Planalto a indicar Rodrigo Pacheco ao Supremo Tribunal Federal, em vez do advogado-geral da União, Jorge Messias.

PACIFICAÇÃO – Aliados de Alcolumbre, no entanto, rejeitam essa leitura e afirmam que o assunto está “pacífico”, assegurando que ele não pretende criar obstáculos à escolha de Lula. O plenário demorou a reunir um número confortável de parlamentares, e, para ganhar tempo, Alcolumbre chegou a pautar de surpresa um projeto que proíbe descontos indevidos em benefícios do INSS — uma manobra para prolongar a sessão até a chegada de mais senadores governistas.

O próprio Pacheco esteve no plenário atuando nos bastidores para garantir apoio a Gonet e evitar que a votação se transformasse em um termômetro da disputa pelo STF.

Senadores governistas descartam que o placar apertado signifique um recado negativo à uma eventual indicação de Jorge Messias ao Supremo por parte do presidente Lula. Segundo esses parlamentares, a aprovação de Gonet era dada como certa, e não mobilizou todos os senadores aliados.

SABATINA – Durante a sabatina, Gonet buscou demonstrar equilíbrio e distanciamento político. Em sua fala inicial, afirmou que a PGR deve manter “posição arredia à interferência sobre opções próprias dos Poderes legitimados pelo voto popular” e destacou que o Ministério Público deve se guiar pela Constituição e não “pela busca de aplauso transitório ou exposição midiática”.

— Reafirmo o compromisso com o respeito, pela Procuradoria-Geral da República, às competências dos Poderes da República, o que se traduz em posição arredia à interferência sobre opções próprias dos Poderes integrados por agentes legitimados diretamente pelo voto popular — disse.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS – Gonet também afirmou que “não há criminalização da política” em sua atuação e que as manifestações da PGR são guiadas por fundamentos jurídicos, e não por motivações ideológicas.

— As tintas da Procuradoria são lançadas nos papéis encaminhados às instâncias corretas. Essas tintas não têm cores de bandeiras partidárias. São resultado da avaliação mais ampla e mais detida possível, feita da forma mais sóbria, conscienciosa e respeitosa com todos os envolvidos — afirmou.

TENSÃO – Apesar do tom conciliador, a sessão teve momentos de tensão. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que em 2023 havia votado pela aprovação de Gonet, anunciou que desta vez votaria contra a recondução e fez duras críticas à sua gestão.

— Eu quero lamentar sua recondução. O senhor aceitou passivamente o Ministério Público Federal ser esculhambado. Foi ignorado em vários momentos pelo ministro Alexandre de Moraes e sequer consultava o Ministério Público Federal para tomar alguma iniciativa. Os membros do MPF devem ter vergonha do senhor — declarou o filho do ex-presidente, num dos momentos mais duros da sabatina.

A mudança de posição de Flávio Bolsonaro foi acompanhada por outros senadores da oposição, como Márcio Bittar (União-AC), que também afirmou ter votado em Gonet anteriormente, mas não o faria novamente.

RELAÇÃO COM MORAES – A oposição questionou a relação de Gonet com o ministro Alexandre de Moraes, a quem acusam de concentrar poder nos inquéritos sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Em resposta, o procurador negou qualquer alinhamento político com o magistrado e afirmou que os contatos entre a Procuradoria-Geral Eleitoral e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são de natureza administrativa, não jurisdicional.

— Há muito de malícia ou ignorância em torno desse episódio. No sistema eleitoral brasileiro, a Justiça Eleitoral tanto exerce funções administrativas quanto jurisdicionais. No campo administrativo, é natural que haja troca de informações e recebimento de dados. Não houve nada de impróprio nas relações da Procuradoria-Geral Eleitoral com a Presidência do TSE — rebateu.

ANISTIA – Gonet também foi questionado sobre a posição da PGR contrária a uma eventual anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro. Disse reconhecer que o tema cabe ao Congresso, mas reafirmou que há dúvidas jurídicas quanto à constitucionalidade da medida.

— Essa é uma decisão que cabe ao Congresso Nacional tomar. Eu não tenho dúvida da competência do Congresso para se manifestar sobre anistia, mas entendo que há polêmica em torno disso do ponto de vista jurídico. Não interfiro nas decisões que serão tomadas pelo Parlamento, nem em temas que estejam em debate político — afirmou.

CRIME ORGANIZADO – Ao longo da sabatina, Gonet foi questionado também sobre o combate ao crime organizado e o fortalecimento da atuação dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos) no Ministério Público Federal. Ele afirmou que o combate às organizações criminosas e a proteção da primeira infância são as duas prioridades de sua gestão, e citou ações conjuntas com outros países, como a Operação Carbono Oculto, deflagrada em setembro.

— Elegemos duas metas prioritárias: o combate às organizações criminosas e a proteção da primeira infância. Proteger as crianças é também uma forma de combater o crime, retirando das facções o fascínio que elas exercem sobre a juventude — disse.

A recondução de Gonet foi relatada pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), que defendeu a aprovação do nome e ressaltou a “atuação técnica e apartidária” do procurador-geral. A sessão foi presidida por Otto Alencar (PSD-BA) e se estendeu por mais de quatro horas, marcada por trocas de críticas e defesas em torno do papel da PGR e da relação entre os Poderes.

STF adia decisão sobre acusados de tramar assassinatos de autoridades