Fronteira abre e fecha, mas os brasileiros já estão no Egito, para voltar para casa

Fronteira de Gaza foi aberta e os brasileiros conseguiram chegar ao Egito

Pedro do Coutto

Era praticamente impossível saber o que estava acontecendo na fronteira entre Gaza e o Egito, na medida em que brasileiros ainda esperavam o sinal definitivo para cruzarem o espaço.  A passagem dependia de autorização formal de Israel, do Hamas através do Catar, e dos Estados Unidos. Ou seja, há uma múltipla responsabilidade sobre a autorização final.

Neste sábado passaram ambulâncias liberadas pelo Egito. Somente neste domingo os brasileiros tiveram autorização e chegaram ao Egito. Dos 34 que estavam no grupo, dois desistiram e resolveram permanecer em Gaza, arriscando suas vidas.

CONFLITO – Enquanto isso, as bombas continuam caindo no território de Gaza e, no norte, o combate se desloca para um hospital de grande porte que, por falta de energia, será obrigado a suspender os socorros que prestam aos feridos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pronunciou-se dizendo que chega de mortes de palestinos. Um aviso destinado a Israel, a exemplo do realizado pelo presidente da França, Macron, sobre a morte de civis, inclusive crianças. Na Folha de S. Paulo, matéria de Igor Gielow. No O Globo, reportagem de Alice Cravo, com base nas agências internacionais.

LUCRO – No terceiro trimestre deste ano, os quatro maiores bancos do país alcançaram um lucro de R$ 25 bilhões. O Itaú / Unibanco lidera os lucros com  R$ 9 bilhões. Em segundo lugar está o Banco do Brasil com R$ 8,8 bilhões. Bradesco em terceiro com R$ 4,6 bilhões e Santander em quarto com R$ 2,7 bilhões.

Verifica-se que os lucros dos bancos são em grande parte em função da demanda de créditos, sobretudo de pessoas físicas. Se os salários no país não perdessem para a inflação, não haveria a necessidade de brasileiros e brasileiras buscarem créditos junto aos bancos para as suas despesas, pagando juros altíssimos. O déficit social é maior do que a dívida interna brasileira de R$ 6 trilhões.

RESPOSTA –  O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, rebateu indiretamente as declarações do presidente do Congresso, o senador Rodrigo Pacheco e frisou que existem muitas coisas no Brasil a serem mudadas antes da preocupação  em mudar o STF. Tem razão, na minha opinião.

A concentração de renda, por exemplo, é um ponto que a legislação brasileira deveria focar. Mas não o faz. Assim, verifica-se o endividamento da população. Investimentos sociais são esperados, mas é preciso que as palavras tornem-se ações efetivas pelo governo.

Duas mancadas! Embaixador israelense reúne-se com Bolsonaro e Milei critica Lula

Reforma tributária pode marcar um grande avanço na legislação brasileira

Déficit zero nunca existiu pois não é computado o custo dos juros sobre a dívida

Charge do Amorim (correiodopovo.com.br)

Pedro do Coutto

O déficit zero nas contas públicas, na realidade, nunca existiu. Foi uma ficção criada na época do ministro Delfim Neto de estabelecer o que se chama até hoje de déficit primário ou superávit primário.

Ocorre que as contas primárias incluem os impostos recebidos e as despesas, e não incluem o volume dos gastos públicos que resultam da incidência da taxa Selic, hoje em 12,25% ao ano, sobre a dívida interna do país que se eleva a cerca de R$ 6 trilhões. Logo, chamar o equilíbrio da receita de impostos e das despesas públicas de déficit zero é uma ficção. Não existe.

TÍTULOS DO TESOURO – Há necessidade de o governo informar à opinião pública a verdade sobre esse processo. A dívida interna do país é lastreada pelos títulos do tesouro, e os vencimentos dos papéis têm datas diferentes, esse é um aspecto da questão. O essencial é o resultado da incidência dos 12,25% sobre os R$ 6 trilhões.

A pergunta que se impõe para iluminar a verdade é como são computadas essas despesas nas contas do país? O déficit só poderia ser igual a zero a partir do momento em que a dívida pública fosse zerada. Mas isso não acontece. Como não há recursos para pagar a dívida, e nem como zerar os juros pelo montante que representam, o governo capitaliza os juros, ou seja, emite outros títulos para estabelecer o equilíbrio. Por isso, não aparece essa despesa. Ela está embutida na rolagem dos juros cobrados sobre a dívida.

META FISCAL  –  Sérgio Roxo, Gabriel Saboya, Alice Cravo e Alvaro Gribel, O Globo, com base em declarações do deputado Danilo Forte, relator da lei de Diretrizes Orçamentárias para 2024 destacam que, até o próximo dia 16, o governo anunciará se altera ou não a meta fiscal para o próximo ano.

Existe uma incerteza refletida na questão. E o Palácio do Planalto, de acordo com opinião do ministro Rui Costa, poderá alterar a meta fiscal prevista com base no déficit zero. Seja como for, a questão dos juros sobre a dívida não será incluída nos cálculos das despesas governamentais.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Na tarde de terça-feira, o projeto do governo de reforma tributária avançou no Senado, sendo aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, podendo ser votado ainda hoje pelo Plenário.

Recebeu emendas ampliando exceções fiscais, incluindo as contas de gás, receitas do futebol e de venda de veículos. Mas são dispositivos que o presidente Lula poderá vetar se assim achar adequado. De qualquer forma, a presença política se fez sentir, como era esperado.

FALTA DE ENERGIA – O vendaval que atingiu a Região Metropolitana de São Paulo, na quinta-feira, acarretou a queda e o embaralhamento de fios de energia elétrica operados pela Enel, distribuidora com grande número de usuários.

Passados cinco dias, a energia não foi restabelecida numa área bastante grande e o presidente da empresa, Nicola Cotugno, numa longa entrevista a Alexa Salomão e Nicola Pamplona, Folha de S. Paulo de ontem, procura justificar a falha ocorrida tanto pela violência do vento que arrastou árvores, quanto por uma falta de entrosamento entre a empresa e a Prefeitura da capital paulista.

Porém, ele não explicou porque não foram executadas as obras para restabelecer o fornecimento. Sobre a hipótese de os fios deixarem de ser aéreos e passarem a ser instalados de forma subterrânea, há um problema de custo. Mas isso nada tem a ver com o restabelecimento da energia para livrar os usuários da angústia e dos prejuízos.

BC consulta bancos e empresas sobre universo financeiro, mas não ouve assalariados

Morrem centenas de crianças por dia e a insensibilidade transforma-se em rotina

Ao vencer a Libertadores, o Fluminense ganha uma visibilidade internacional

Com palavras vazias, Lula abala Fernando Haddad na forma e no conteúdo

Haddad tem tentado convencer Lula a manter a meta de déficit zero 

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva, na reunião com ministros para tratar sobre assuntos relativos à Infraestrutura, contestou na prática o projeto de déficit zero em 2024 colocado pelo ministro Fernando Haddad e objeto de votação no Congresso Nacional, sobretudo quando for decidido o orçamento para o próximo exercício.

A impropriedade das declarações do presidente da República, visto sob o ângulo da posição de Haddad, foi flagrante, principalmente quando acentuou que quem está na Fazenda considera bom o dinheiro no Tesouro, mas para quem está na Presidência, dinheiro bom é o transformado em obras públicas.

CORRENTES – O presidente Lula tem essa posição voltada mais para a recuperação da economia do que para o equilíbrio monetário. Mas teria outras oportunidades para formular a sua ideia fora de uma reunião em que estavam presentes ministros, inclusive o da Fazenda. O governo tem várias correntes sobre o assunto; a corrente que se pode chamar de desenvolvimentista e a que luta pelo equilíbrio monetário.

Haddad participa dos dois pensamentos. Mas para que prevalecesse o pensamento da recuperação econômica, com base em investimentos públicos, não havia necessidade de Lula forçar demais a situação e expor Fernando Haddad de forma mais marcante. A repercussão foi grande, os reflexos no universo financeiro devem se registrar amanhã e, como é lógico, fazendo-se sentir nos juros bancários.

Na edição de O Globo de ontem, Alvaro Gribel e Alice Cravo sustentam que apesar de ter sido atingido em seu projeto político e econômico, o ministro Fernando Haddad permanece à frente da Fazenda. O presidente da República poderia ter tido mais cuidado na sua manifestação.

GAZA – O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que só pode aceitar a trégua humanitária se o Hamas libertar os 217 prisioneiros que mantém em seu poder. Na edição de ontem da Folha de S. Paulo, Nelson de Sá publica matéria sobre o fato de a China ter assumido no dia 1º a Presidência do Conselho de Segurança da ONU.

Ressalta que a ideia de Pequim volta-se para a suspensão do conflito, sobretudo com base na definição de que é preciso proteger os civis que estão sofrendo a consequência de uma luta para a qual não contribuíram.

Na Cisjordânia também se verificam choques entre os colonos radicais e forças israelenses. Beatriz Coutinho, O Globo, focaliza declarações do líder do Hezbollah que admite que a guerra pode se expandir pela região sul do Líbano, país ao qual o Hezbollah é ligado. A situação continua das mais tensas.

A guerra e as mortes seguem em Gaza

Milhares de inocentes continuam sendo vítimas dos ataques 

Pedro do Coutto

As forças israelenses cercaram a cidade de Gaza e continuam os ataques nos túneis do Hamas. Bombardeios têm sequência e outro centro de refugiados foi atingido na noite de quinta-feira. O presidente Biden tenta sem sucesso uma pausa que ele chama de “humanitária”.

Um nome disfarçado para o cessar-fogo, expressão rejeitada por Netanyahu. A solução, como se observa, está muito distante e a tendência que predomina continua sendo a da destruição total do território de Gaza, com a perspectiva de saída de parte da população para o Egito.

NOVO IMPASSE –  Mas o Egito não poderá aceitar uma onda de refugiados e um novo impasse se criar no Oriente Médio. Um amigo, Filipe Campello, comentando a situação, observou que os avanços da tecnologia, especialmente ao longo dos últimos 20 anos, foram extraordinários. Mas eles não foram acompanhados de avanços civilizatórios, de preocupação com o ser humano, com a miséria, com a pobreza e, no caso de Gaza, com a morte.

O impasse essencial permanece com a ameaça de expansão do conflito que se verifica a partir das últimas notícias sobre ataques do Hezbollah. Na Ucrânia, por sua vez, a Rússia aproveitou a situação e Putin ampliou fortemente os ataques ao território do país, inclusive recrutando mulheres para os combates, destacando a importância dos salários a serem pagos pelas adesões.

PREOCUPAÇÃO   – Além disso, insinuou um risco muito grande para o mundo no momento em que se desligou o grupo de ações que veda o experimento de novos nucleares. A situação mundial volta a ser preocupante e ameaça repetir a crise de 1962 com os mísseis em Cuba. O desentendimento entre Rússia e Estados Unidos, entretanto, encontra um ponto de neutralidade na posição da China.

A China hoje se pronuncia pela suspensão das hostilidades no Oriente Médio e a partir deste mês de novembro assume a Presidência do Conselho de Segurança da ONU. Já está sob o seu comando a proposta brasileira de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. A posição americana aproxima-se da posição brasileira. As dificuldades, entretanto, continuam. E as milhares de mortes se incorporam ao cotidiano terrível que atinge toda a população mundial.

OBSTÁCULOS – Eliane Oliveira e Vinicius Neder, O Globo desta sexta-feira, destacam mudanças propostas no Senado ao projeto da reforma tributária do governo. O ministro Fernando Haddad acentua que mudanças recomendadas farão com que a alíquota única da matéria passe de 27% para 27,5%.

Mas, existem exceções que reduziram os efeitos da iniciativa, importante para o equilíbrio das contas fiscais no exercício de 2025, cuja previsão era de serem zeradas, mas que agora incluem uma estimativa também da ordem de 0,5% sobre o Produto Interno Bruto brasileiro.

DECISÃO HISTÓRICA –  Na tarde deste sábado, no Maracanã, mais uma decisão histórica do futebol. Fluminense e Boca Juniors decidem a Taça Libertadores da América num clima que vem assinalando tensões, como as brigas que ocorreram no anoitecer de quinta-feira nas areias de Copacabana.

Esperemos que os ânimos se acalmem e o policiamento convocado evite a repetição de cenas assim, sobretudo nas proximidades do Maracanã e no final da partida que deve ser das mais intensas. Estamos na torcida pelo Fluminense, é claro. No fundo, a disputa será entre o Brasil e a Argentina.

É acertada a participação de forças militares na segurança do Rio e de São Paulo

Estados Unidos propõe controle internacional do território de Gaza

Atuação do Brasil na ONU em favor da humanidade foi clara e firme

País comandou principal órgão das Nações Unidas 

Pedro do Coutto

A atuação do Brasil na ONU foi clara e firme em favor dos princípios humanísticos que regem a posição do país e, sem dúvida, destacam a diplomacia brasileira. O chanceler Mauro Vieira teve um desempenho eficiente na defesa dos valores defendidos pelo Brasil, uma tradição do Itamaraty.

No momento em que escrevo esse artigo, ainda não havia sido iniciada a reunião do Conselho de Segurança, a última convocada pelo nosso país, cujo mandato na Presidência terminou ontem, dia 31 de outubro. Seja qual for a decisão final, antes de a China assumir o cargo dentro do critério de rodízio, a posição brasileira ficou marcada no calendário dos conflitos, nos quais morrem mais vítimas inocentes, incluindo crianças, do que os participantes das correntes em choque deflagrado pelo Hamas no dia 7 de outubro.

CONFRONTO – Os tanques de Israel estão avançando no território de Gaza, uma área de no máximo quinhentos quilômetros quadrados, em que vivem 2,3 milhões de pessoas, que em sua maioria abominam o Hamas, mas têm que suportar agora os efeitos dos bombardeiros e das rajadas que são as peças do confronto para o qual não se vislumbra nenhuma saída.

É possível que o Conselho De Segurança da ONU aprove uma medida humanitária, incluindo o cessar-fogo. Mas o ministro Netanyahu já adiantou que o país não aceita o cessar-fogo, da mesma forma que já citou como exemplo os americanos que não aceitaram (no caso nem poderiam aceitar) o cessar fogo depois do bombardeio de Pearl Harbour.

A comparação não se articula, pois com o ataque de Pearl Harbour, o Japão iniciava uma guerra que durou até 1945. Mas a disposição israelense ficou assinalada, o que pode significar que Tel Aviv não aceitará a decisão projetada. As mortes atingem mais de mil pessoas diariamente. Um desastre para a humanidade.

META –  Álvaro Gribel e Renan Monteiro, reportagem na edição de O Globo desta terça-feira, focalizaram o empenho do ministro Fernando Haddad para manter seu projeto de déficit fiscal zero em 2024, procurando consertar as declarações do presidente Lula no último fim de semana de que seria difícil atingir plenamente esse objetivo.

Haddad busca apoio do Congresso e tentará antecipar medidas previstas para 2024 ainda este ano, objetivando assegurar um período maior de seus reflexos na economia. Um dos objetivos principais é o de deter a queda na arrecadação que vem atingindo percentuais baixos, mas decisivo no equilíbrio visado. O déficit zero é importante para que se verifique uma nova queda de juros da Selic.

Massacre em Gaza significa uma derrota colossal de toda a humanidade

Armazéns saqueados: a dramática situação da ajuda humanitária

Pedro do Coutto

A situação no território de Gaza, como demonstraram as reportagens do Fantástico, na noite de domingo, e do O Globo nesta segunda-feira, atingiu uma situação absolutamente dramática com o início dos saques pela população civil dos estoques de comida e água enviados pela ONU.

Agora, os estoques baixaram e a desordem geral se estabeleceu numa área que é ocupada pelo Hamas, bombardeada por Israel, sem energia elétrica, sem água, sem perspectiva de uma saída imediata, capaz de preservar a integridade humana.

REUNIÃO –  A confusão que se estabeleceu parece não ter solução. Neste momento em que escrevo, o Conselho de Segurança da ONU começa a se reunir. Mas a perspectiva de término do confronto não parece estar próxima. Não houve negociação sobre a questão dos reféns de Israel em poder do Hamas. As consequências atingem todos que têm a consciência voltada para a sobrevivência do ser humano.

A situação de Gaza transparece que uma catástrofe geral pode acontecer. Afinal, são dois milhões de pessoas que estão no alvo de vários tipos de violência. A fome e a sede estão gerando resultados na desordem que ameaça se generalizar.  A capacidade humana de suportar situações desse tipo se esgota. Pessoas disseram em reportagens que diante da violência, esperam até a morte.

O governo americano está procurando agir agora de forma a conter os bombardeios de Israel. Mas as investidas do presidente Joe Biden nesse sentido têm sido em vão. O desespero e a alucinação tomam conta do território. A vida humana perde seguidamente qualquer valor. A esperança de viver começa a sair do pensamento da população do território.

ENERGIA – Reportagem de Alexa Salomão, Folha de S. Paulo desta segunda-feira, destaca que, com o pagamento da parcela restante da dívida da construção de Itaipu, no valor de US$ 64 bilhões, o governo brasileiro, pela legislação relativa ao funcionamento da usina, a segunda maior do mundo, pode reduzir o percentual relativo aos pagamentos que foram repassados nas contas de energia elétrica, incluindo, portanto, as residências.

A energia gerada por Itaipu, de acordo com Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, pode levar a que as contratações, sobretudo após a privatização da Eletrobras, possam ser feitas através de leilões envolvendo todas as distribuidoras e, em consequência, para os seus consumidores livres. O argumento para desonerar o percentual cobrado nas contas terá que ser estabelecido pelo Ministério de Minas e Energia. Vejamos o que acontece.

DÉFICIT – Na edição desta segunda-feira, Alice Cravo e Vitória Abel, O Globo, publicaram matéria sobre esforços que o governo está desenvolvendo, principalmente na área da Fazenda, para reduzir os efeitos da afirmação do presidente Lula de que no exercício de 2024 seria difícil zerar o déficit fiscal.

A declaração foi negativa para o governo, sobretudo ao que se refere à queda dos juros. Pois, para cobrir o déficit orçamentário, o governo depende da colocação de títulos públicos no mercado financeiro à base da taxa Selic. Há uma perspectiva de recuo de meio por cento, mas a declaração não somou para esse fato.

Lula está se desgastando ao perder sucessivos confrontos para o Centrão

Charge do Zé Dassilva (nsctotal.com.br)

Pedro do Coutto

Ao demitir Rita Serrano e entregar a Presidência da Caixa Econômica Federal a um indicado pelo deputado Arthur Lira, comandante efetivo do Centrão, o presidente Lula da Silva, na realidade, perdeu mais um confronto com os responsáveis pela pressão política que, em nome da maioria parlamentar e da governabilidade, vão ocupando seguidamente postos de importância fundamentais para o governo.

Assim foi no Ministério dos Esportes, com a demissão da Ana Moser, assim foi agora com Rita Serrano, cuja atuação vinha sendo elogiada, assim foi com Silvio Costa que assumiu a pasta de Portos e Aeroportos. Em nenhum dos casos foi levado em conta a competência e a afinidade com o posto, mas apenas a indicação partidária. Com isso, Lula perdeu pontos com a opinião pública, como assinalaram ontem, no O Globo, Míriam Leitão e Bernardo Mello Franco.

NEM AÍ – O ministro dos Esportes, André Fufuca, não apareceu em nenhum evento esportivo, e nem se congratulou com Rebeca Andrade pelo desempenho dos Jogos Pan-Americanos de Santiago do Chile. Para ele, parece que os resultados esportivos não têm importância, mas sim as verbas financeiras que envolvem a estrutura do ministério ocupado.

Lula não percebeu ainda que perde substância ao ceder absurdamente ao Centrão, bastando que exigências sejam feitas em troca de votos. No fundo, é uma chantagem política, da qual o presidente participa, uma vez que não mostrou reação em nome da ética e da produtividade. É possível que algum dos nomeados possa apresentar resultados positivos. Mas até agora isso não foi visto.

É incessante a investida do Centrão e de Arthur Lira em busca de cargos na administração federal. Atender às pressões de forma parcelada parece o melhor caminho para o presidente. Mas a prática não confirma essa certeza, pois a cada atendimento se sucede uma nova pressão.

DÍVIDA – Reportagem de Alexa Salomão, Folha de S. Paulo de ontem, destaca que o Brasil pagou este ano US$ 63,3 bilhões da dívida total pela construção da Usina de Itaipu, segunda maior do mundo. O contrato com o Paraguai pelo aproveitamento das águas do rio Paraná representa, em consequência, um aumento percentual nas contas de energia elétrica pagas mensalmente pelos brasileiros. E o Paraguai lucra na medida em que recebe uma energia sem maiores custos.

Um amplo estudo do Instituto Acende Brasil, presidido por Cláudio Sales, focaliza o assunto, e é focalizado na Folha de S. Paulo, esclarecendo o tema e o custo do Brasil. O contrato com o Paraguai está para ser renovado. Vejamos em que base será feito.

Ter 65 anos ontem era uma coisa; hoje é muito diferente e dá para encarar…

Hoje, a chamada terceira idade continua ativa e produzindo

Pedro do Coutto

O IBGE divulgou na última sexta-feira o resultado do censo que realizou, chegando à conclusão de que se verificou na última década o envelhecimento da população brasileira, acompanhado de um número menor de nascimentos. Reportagem de O Globo, de Cássia Almeida, Ana Flávia Pilar e Pamela Dias, focaliza amplamente o tema e o trabalho do Instituto.

A matéria revela que 11% da população têm acima de 65 anos, demonstrando, no entender do IBGE, um processo de envelhecimento. Mas acredito que o que ocorre com pessoas com mais de 65 anos não é o envelhecer, mas a manutenção de um período de vida praticamente idêntico ao dos homens e mulheres com idade entre 40 a 50 anos, por exmeplo. Os hábitos mudaram, as atividades físicas também, os atendimentos médicos para as classes mais altas modernizaram-se, resultando em reflexos diferentes do que o de anos anteriores.

OUTROS TEMPOS – Antigamente, na década de 30, por exemplo, uma pessoa com 40 era considerada idosa. Hoje, uma pessoa com esta idade é vista até em campeonatos de futebol. O que há na queda do índice de nascimentos é que as famílias reduziram o número de filhos, até mesmo pelo avanço das técnicas anticoncepcionais. São fenômenos naturais.

Um número de pessoas com mais de 80 anos, cerca de 4,6 milhões, segundo o IBGE, significa cerca de 2% da população brasileira. É claro que a longevidade é maior nas regiões Sul e Sudeste. A explicação é simples, é onde existe um sistema de saneamento compatível com as necessidades populacionais, com exceção das faixas de pobreza.

REJUVENESCIMENTO – O que deve ser destacado é o rejuvenescimento da população acima de 65 anos. Não há motivos de preocupação, até porque a atividade econômica passou a ser acrescida por pessoas que mesmo aposentadas, continuam em atividade no mercado de trabalho, produzindo e consumindo.O fato deve ser representado como avanço social.

Quanto mais a vida útil estiver se alongando, melhor para todos os seres humanos. O problema que existe no Brasil é o da redistribuição de renda, que depende do mercado de emprego, que apresenta reações, e também do sistema salarial para que os vencimentos do trabalho parem de perder a corrida para a inflação.

PERSPECTIVAS – Reportagem de Vera Rosa e Wesley Galzo, O Estado de S. Paulo, e de Marianna Holanda, Matheus Vargas e Renato Machado, Folha de S. Paulo, focalizam o comentário  do presidente Lula da Silva, no café da manhã de seu aniversário, na sexta-feira, admitindo que será difícil cumprir a meta do déficit zero em 2024, como vem sendo defendido pelo ministro Fernando Haddad.

Ao fazer a afirmação, evidentemente, o presidente da República contribuiu para manter alto o nível dos juros, inclusive da Selic. Quando se verifica déficit, o governo tem que colocar no mercado papéis para cobri-lo. Foi uma falha política a afirmação feita por Lula da Silva. Certamente, ele tentará consertar a falta cometida. A aceitação dependerá de como o mercado reagirá a partir de amanhã, segunda-feira.

TRÉGUA –  O Plenário da ONU, por ampla maioria de votos, mais de 120 países, formularam a proposta de uma trégua humanitária no teatro da guerra em Gaza, capaz de fazer pelo menos cessar as mortes de milhares de pessoas a cada 24 horas. Mas está difícil. Reportagem de O Globo, revelou que Israel ampliou a ofensiva por terra no território de Gaza, que além de não receber água, alimentos e energia elétrica, está agora sem comunicação porque a internet foi bloqueada.

É dramático sentir que a cada dia pessoas perdem a vida e milhares de outras sofrem mutilações. É uma tragédia deflagrada pelo Hamas em 7 de outubro e que agora se prolonga com a reação israelenese. O Plenário da ONU marcou a sua posição humanista. Vamos torcer para que a guerra seja cessada.

Decisão do STF leva pânico a devedores e ampliará a operação Desenrola

Bancos podem tomar imóveis de devedores em 30 dias

Pedro do Coutto

O Supremo Tribunal Federal, na quinta-feira, autorizou os bancos a iniciarem processos de retomada de imóveis dados como garantia a financiamentos cujas prestações encontram-se em atraso. A relação dos devedores é muito grande com a interrupção do pagamento das prestações em atraso. Os bancos, entretanto, dificilmente irão utilizar de forma concreta a absorção de imóveis porque isso implicaria, como é claro, na interrupção absoluta dos pagamentos mensais. E nada acrescentaria aos bancos formarem um patrimônio imobiliário decorrente da falta de pagamentos.

A decisão fará com que devedores que possuem recursos para pagar as prestações voltem a fazê-lo. Mas nem todos os casos são assim. A maioria dos inadimplentes não têm condições efetivas para cumprir seus compromissos em dia. E há também que distinguir entre os prazos de atrasos se pequenos, médios ou grandes. Essa situação levará a negociações que se assemelham àquelas que marcam a operação desenrola, bancada, no fundo, pelo governo para livrar um número enorme de devedores das consequências naturais da falta de pagamentos.

EFEITO – Psicologicamente o efeito já está sendo muito grande. Mas os bancos esbarram também no reflexo junto à opinião pública na hipótese da expropriação, sem novas decisões judiciais, na forma como foi decidido pela Corte Suprema. Reportagem de José Marques, Folha de S. Paulo, e de Daniel Gullino e Letícia Lopes, O Globo, edições de ontem, focalizam amplamente o assunto. E as repercussões já se fazem sentir, começando a deslocar a solução do problema para a área do governo Lula da Silva.

Se o Ministério da Fazenda entrou em ação para resgatar dívidas pequenas de 74 milhões de pessoas, fica implícito que com uma grande dose de razão, se sentirá obrigado a evitar milhares de casos de despejo que levariam a um agravamento enorme da crise social do país. A decisão foi com base numa lei que permite a operação radical (tomada do imóvel), ultrapassando o caráter sócio-econômico da medida.

Se grande parte da população brasileira não tem certeza à noite se terá como se alimentar no dia seguinte, fica claro que a ameaça adicional da perda da própria residência será um fator de pânico junto às classes de menor renda, embora a inadimplência se verifique também nos segmentos de renda mais alta, não só nos financiamentos imobiliários, mas, sobretudo, isso sim, nos financiamentos empresariais.

DÉBITOS – Quem duvida de tal afirmação pode consultar, por exemplo, o que ocorre há muitos anos no BNDES, na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil. Os grandes devedores retém débitos infinitamente superiores aos das pessoas comuns, principalmente em épocas de desemprego, de juros altos e de salários baixos, reduzidos cada vez mais pela perda na corrida contra a inflação, mesmo a do IBGE.

A decisão do STF, na realidade, criou um problema enorme para o governo Lula porque os grupos mais atingidos dos segmentos pobres recorrerão a ele para escapar das ameaças e das consequências pela perda de suas residências. Por esse aspecto, espanta a decisão da Suprema Corte.

OFENSIVA – Uma ofensiva terrestre na Faixa de Gaza pelas forças de Israel foi iniciada na quinta-feira, conforme reportagem da Folha de S. Paulo, focalizando a movimentação de tanques numa etapa inicial que antecede a invasão em grande escala.

Blindados israelenses cruzaram a fronteira e de onde se encontram é pouco provável que venham a retornar. Portanto, aproxima-se o auge de um conflito que não consegue ser resolvido de forma não mortal pela diplomacia. As perspectivas levam à ideia de milhares de mortos e mutilações por dia de forma repetida e incessante. Um desastre para a humanidade e sobretudo para a intenção humanista da paz.

SEM CELULAR – Dando sequência à qualidade de seus artigos na Folha de S. Paulo, na edição de ontem, Ruy Castro escreveu uma ótima peça de humor dizendo que no governo Bolsonaro ele não pôde ser monitorado através do telefone celular simplesmente porque é umas das raras exceções, já que não utiliza o aparelho.

Recentemente lembrou que, possivelmente, um dia nas ruas, será apontado por alguém dizendo: “lá vai aquele ali que não usa telefone celular”. O monitoramento sobre ele teria que ser realizado na forma dos filmes americanos da década de 1940, com agentes tentando se disfarçar usando capas e chapéus, com olhares oblíquos nas esquinas das ruas e das praças.

ONU não aprova resoluções: guerra e mortes continuam

ONU veta resoluções dos EUA e da Rússia para a guerra

Pedro do Coutto

O Conselho de Segurança da ONU, reunido na quarta-feira, não aprovou nenhuma resolução destinada a suspender ou, pelo menos, reduzir o clima de guerra, os bombardeiros, as mortes e mutilações que atingem mais de mil pessoas por dia. O projeto do Brasil havia sido rejeitado no início da semana e, ontem, foram vetadas as resoluções propostas pelos Estados Unidos e pela Rússia. Não se verificou, portanto, nenhum avanço.

Também creio que, mesmo que alguma resolução tivesse sido aprovada, ela não seria cumprida na prática. Logo, seu efeito seria nulo e a situação continuaria no ponto de calamidade que já atingiu. Agora, a catástrofe humana se delineia em toda a sua forma, sobretudo porque o primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, tem afirmado que “nos encontramos na véspera da invasão terrestre na Faixa de Gaza”. Portanto, a tragédia encontra-se por horas, talvez dias, mas se prolongará no tempo como o próprio comando militar israelense já admitiu.

CONFLITOS – A ONU, criada em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, foi a melhor solução possível, como admitiu Santiago Dantas. Mas nem por isso exequível na prática, tanto que não impediu, por exemplo, as guerras da Coréia e do Vietnã e as de 1967 e 1973 no Oriente Médio, para ficarmos apenas nesses, suficientes para mostrar que uma coisa é a ideia e outra é a prática marcada por fatos concretos.

São contradições eternas. Em inúmeros casos os recursos da ONU evitaram o pior, sem dúvida. Porém, nem por isso pode-se dizer que o seu saldo seja amplamente positivo, principalmente ao que se refere às vidas humanas atingidas pelos conflitos. Entre as guerras não impedidas, acrescento a da Ucrânia, consequência da invasão russa contra o governo Zelenski. No conflito não faltou sequer a contratação de mercenários.

A ONU, é preciso que se esclareça, não possui força militar capaz de impor as suas decisões. Por aí se constata a dificuldade inultrapassável  de fazer valer suas deliberações. Devemos, porém, manter a esperança humanista, o que não é fácil, mas é preciso diante da perspectiva trágica que permanece na véspera de um desfecho.

CEF – Em mais uma decisão política, sob o argumento da necessidade de assegurar maioria no Congresso, o presidente Lula da Silva demitiu a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, cuja administração elogiou, para substituí-la por Carlos Antonio Vieira Fernandes, indicado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira.

Lira e o Centrão desenvolvem uma atuação profunda em troca de apoio que deixa o presidente Lula e o governo muito mal junto à opinião pública. Não há preocupação com a eficiência e com o projeto que se dirija em benefício da população. Os interesses predominantes são outros. No O Globo, reportagem de Alice Cravo, Sérgio Roxo e Geralda Doca, focaliza muito bem o assunto. No Estado de S. Paulo, a reportagem é de Vera Rosa e Roseann Kennedy.

ARGENTINA –  O apoio de Patricia Bullrich a Javier Milei dividiu a oposição argentina, uma vez que uma corrente volta-se para Sergio Massa. Bullrich criticou Milei ao longo da campanha e chegou a chamar suas ideias de “perigosas e ruins”. Em entrevista nesta quarta, no entanto, ela afirmou que quer impedir o “perigo do kirchnerismo”, em referência a Sérgio Massa, aliado dos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner.

No primeiro turno, Patricia Bullrich alcançou 24% dos votos. Indicando um racha dentro de sua coligação “Juntos por el Cambio”, Bullrich disse ainda que sua decisão de pedir votos para Milei é pessoal, e não de toda a coligação. Aguardemos as pesquisas sobre a disputa eleitoral.

Surge mais um plano mirabolante para salvar o sistema de segurança do Rio

Milícia incendiou 35 ônibus e atacaram um trem da SuperVia

Pedro do Coutto

No artigo que publicou ontem no O Globo e na Folha de S.Paulo, Elio Gaspari lembrou que no ano 2000, passagem do século, o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou um plano de integração federal para o apoio ao combate à criminalidade no Rio de Janeiro que se expandia acentuadamente.

Vinte e três anos depois ressurge um novo plano com a participação de Forças Nacionais e uma preocupação intensa do governo Lula em relação ao que aconteceu na última segunda-feira no Rio de Janeiro. As milícias efetivamente tomaram conta da Cidade, incendiando por etapas 35 ônibus e atacando um trem da SuperVia. Foi uma ação coordenada que fez transbordar uma preocupação coletiva para o panorama dramático fabricado pela insegurança, provocada pelo tráfico quanto pelas milícias.

METRALHADORAS –  Na tarde de terça-feira, entrevistado pela GloboNews, o coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante geral da PMERJ, colocou a questão com bastante clareza e chamou atenção para uma unidade progressiva que passou a existir no relacionamento entre o tráfico de drogas e as milícias, incluindo o tráfico de armamentos.

O recente episódio do roubo de 21 metralhadoras do Exército em São Paulo expõe claramente a força e a audácia da corrupção que atingiu níveis altíssimos e cujo combate tem que ser desencadeado em várias frentes simultaneamente.

O governador Cláudio Castro falou em asfixia do poder tanto do tráfico quanto da milícia. O caminho é conhecido, mas o problema não é a sua citação, mas de ações concretas para enfrentar as raízes da insegurança e a transformação de agentes da ordem em personagens da desordem. Na raiz da questão, entretanto, a meu ver, encontra-se o consumo de drogas.

Enquanto o consumo das drogas ilícitas estiver alto, a situação da insegurança não se resolverá. Inclusive porque tal mercado estabeleceu um câmbio interno. As áreas de maior conflito, é evidente, são as de baixa renda. Mas, agora, analistas da matéria passaram a incluir a Barra da Tijuca e parte da Zona Oeste, onde residem figuras marcadas como alvos policiais não atingidos.

PREJUÍZOS –  As armas chegam ao país juntamente com substâncias nocivas à vida humana, mas apesar disso são consumidas por grupos sociais da classe média e rica.

Os ataques de segunda-feira na Zona Oeste, incluindo Jacarepaguá, causaram prejuízos muito além do valor dos ônibus destruídos e o pânico projetado. Paralisaram parcelas expressivas de trabalho, fecharam estabelecimentos de comércio, impediram atendimentos médicos e causaram a suspensão de aulas na rede de ensino.

A questão da Segurança torna-se mais grave porque o poder público estadual  tem conhecimento sobre os grandes chefes da criminalidade. O governador fala em asfixia financeira e combate à corrupção. É só entrar em contato com o Coaf e ler a lista dos que desenvolvem operações financeiras muito além de sua renda declarada. Os exemplos vão surgir aos milhares.

Em guerra aberta no Rio, crime organizado desmoraliza o sistema de segurança

Rio teve o maior número de ônibus queimados da história

Pedro do Coutto

A investida assustadora do crime organizado deixou configurada a existência de uma guerra no Rio de Janeiro, entre estas e o governo estadual que, na tarde de segunda-feira, não conseguiu conter as ações que incendiaram 35 ônibus e até um trem da SuperVia. A cidade foi envolvida pelo terror e pela insegurança que se generalizou diante da ofensiva criminosa desencadeada contra o governo de Cláudio Castro.

O Ministério da Justiça teve que praticamente intervir, na medida em que enviou para o Rio um contingente ainda maior da Força Nacional. Mas o episódio deixou claro, como todos sabiam ou suspeitavam, da força dos criminosos que se organizam sob as lideranças do narcotráfico e da milícia.

VULNERABILIDADE – O avanço da milícia com os ataques de segunda-feira revelou a vulnerabilidade do sistema de segurança policial que não conseguiu agir, seja lá por qual motivo for, para impedir a alucinação criminosa e a sua capacidade de destruição. A guerra aberta iniciada na Cidade é a sequência de muitos outros episódios e de omissões que se acumularam no tempo, inclusive por falta de desenvolvimento social em áreas carentes que retiram dos jovens opções pelo trabalho honesto.

O crime foi se tornando, assim, uma opção para os grupos de menor renda das comunidades nas Zonas Norte e Oeste do Rio. O impasse é enorme. Os ataques de segunda-feira demonstraram duas faces do problema gravíssimo. A disposição e os armamentos explosivos usados pelo crime nas mãos de bandidos e a hesitação do sistema de segurança. Revelada a demonstração de força e capacidade destrutiva, o crime organizado mantém o estado de guerra. Diante de tudo isso, há ainda a intensa preocupação de todos os habitantes da Cidade e da Baixada Fluminense de que novos acontecimentos sinistros voltem a acontecer.

A situação do Rio de Janeiro é de descalabro. Uma ofensiva contra 35 ônibus que foram destruídos e um trem atacado ocuparam o noticiário até internacionalmente. O crime organizado avançou no tempo. A sociedade recua e começa a se sentir aprisionada pela insegurança. A qualquer momento, os bandidos agem. As densas fumaças que surgiram dos incêndios, e bem focalizadas pela GloboNews, poluíram a população carioca e fluminense, atingindo também a consciência humana.

PETROBRAS –  Reportagem de Nicola Pamplona, Marcelo Azevedo, Stéfanie Rigamonti, Folha de S. Paulo, destaca que a circulação de notícias de que poderá haver indicação política para a direção da Petrobras, derrubou as ações da Bovespa numa proporção em que o seu valor de mercado encolheu na escala de R$ 32 bilhões. Isso porque está sendo debatido o novo estatuto da empresa.

Após a repercussão negativa, a empresa disse que a ideia é suprimir do estatuto o parágrafo que enumera vedações às indicações previstas na Lei das Estatais —como membros do governo ou de partidos políticos e sindicatos, por exemplo— mas que o texto continuará seguindo a lei.

Na chegada, peronismo leva Sergio Massa à vitória no primeiro turno

Massa defende governo de unidade e quer atrair eleitorado de Bullrich

Pedro do Coutto

Nos dias finais da campanha à Presidência da Argentina, o peronismo se movimentou e deu a vitória ao candidato Sergio Massa no primeiro turno, na minha opinião indicando também a sua vitória no dia 19 de novembro, segundo turno, pois dificilmente Javier Milei reunirá o apoio da terceira colocada, Patricia Bullrich, que terminou com 24% da votação.

Em números redondos, Sergio Massa alcançou praticamente 37 pontos contra 30% de Javier Milei, demonstrando que os demais candidatos e os votos nulos e brancos ficaram contidos numa fração muito pequena. Somando-se as votações de Massa, Milei e Bullrich, temos cerca dos 90% dos que compareceram às urnas argentinas.

RESISTÊNCIA – O peronismo deu quase 37% dos votos a Sergio Massa, apesar de ser ele o ministro da Fazenda num governo que se defronta com uma inflação de 134% para os últimos 12 meses. Mas o peronismo demonstrou, mais uma vez, que é o único movimento político que resistiu à passagem do tempo, após chegar ao poder em 1948.

Quando digo que Massa deve ser vitorioso no segundo turno, é porque tenho a impressão de que Patricia Bullrich dificilmente poderá apoiar Javier Milei. Inclusive porque qualquer negociação política torna-se mais fácil com Alberto Fernandez na Casa Rosada, do que com Milei numa perspectiva remota. As forças políticas devem isolar a extrema direita, como tem acontecido em várias eleições em diversos países.

Na GloboNews, vi filmes de propaganda de Milei, com ações exacerbadas, violentas e desnecessárias. Milei afirmou na campanha que o governo brasileiro de Lula da Silva é um governo comunista. Anunciou que cortaria relações com o Brasil e com a China. Portanto, as duas principais economias que se encontram no comércio com a Argentina.

PROPOSTAS – A privatização do ensino, também proposta por Milei, isolaria os estudantes de colégios oficiais, levando as famílias a terem que pagar pelos seus estudos. A privatização da Previdência Social, outra de suas propostas, causou impacto entre os que pretendem se aposentar e os que já se encontram aposentados. Milei, inclusive, assustou profundamente os empresários, sobretudo os investidores financeiros. Uma sequência de excentricidades e agressões que se refletiram nas urnas.

Milei não ofereceu nenhuma melhoria de vida e também anunciou a dolarização absoluta da moeda argentina. Lance arriscadíssimo, uma vez que a Argentina não emite dólares. Enfim, o destino do poder na Argentina está traçado.

ADIAMENTO – Na manhã desta segunda-feira, a GloboNews noticiou que o presidente Joe Biden sugeriu ao primeiro-ministro Netanyahu que o governo de Israel adiasse a invasão por terra ao território palestino, uma vez que tal incursão abalaria o socorro humanitário que começou a ser realizado a partir do ingresso na Faixa de Gaza de caminhos com água, alimentos e remédios.

Tenho a impressão de que a sugestão terá que ser aceita, pois não é provável que o governo de Tel Aviv não aceite a indicação de seu principal aliado, o governo dos Estados Unidos. Entretanto, de outro lado, como a Folha de S. Paulo destacou em sua edição de ontem, Israel aumentou os ataques aéreos na Faixa de Gaza.

Num artigo muito bom publicado ontem no O Globo, Fernando Gabeira destaca a posição do Brasil em relação à guerra e elogia a iniciativa de o Conselho de Segurança da ONU ter convocado para hoje uma reunião bastante ampla em Nova York. O Brasil está enviando seus esforços para fazer cessar a guerra no Oriente Médio.