Pressão dos militares pela anistia preocupa os ministros do Supremo

Altamiro Borges: Villas Bôas e os generais golpistas - PCdoB

Charge do Beto (Arquivo Google)

Carlos Newton

Desde o início, temos afirmado aqui na Tribuna que o golpe de estado somente não ocorreu porque o governo Bolsonaro, as Forças Armadas e o PL não conseguiram encontrar a menor prova de fraude na votação ou na apuração eletrônica, mesmo com o partido de Bolsonaro tendo contratado por R$ 1 milhão o engenheiro militar Carlos Rocha, um dos criadores do modelo brasileiro de urna, que chegou a pedir patente em seu nome, mas o Instituto Nacional de Propriedade Industrial recusou o requerimento.

O fato concreto é que os militares aguardavam apenas esse gatilho para anular as eleições e tirar Lula do circuito, com possibilidade até de premiá-lo com nova cadeia. Ele escapou de boa, como se diz hoje.

SEM FRAUDE – Como não foi encontrada nenhuma evidência de fraude nas eleições, os comandos militares de Exército e Aeronáutica se recusaram a fazer o papel sujo. Somente a Marinha aceitou, mas, sozinha, não tem condições de dar nem mesmo golpe do vigário. Assim, o então comandante, almirante Almir Garnier, foi escanteado, ficou falando sozinho e está hoje indiciado pela Polícia Federal.

Como dizia Machado de Assis, a confusão é geral. Os ministros do Supremo foram apanhados de surpresa pela notícia da jornalista Eliane Cantanhêde, do Estadão, e a pressão dos militares pela anistia tornou-se o assunto mais comentado pelos ministros que compareceram ao casamento do ministro Flávio Dino, neste domingo.

A ordem no Planalto, no Supremo e nas Forças Armadas é ignorar o assunto e alegar que o encontro de Lula com o ministro da Defesa e os comandantes, em pleno sábado, teria sido apenas para retardar os cortes de gastos no setor militar.

FICARAM ATÔNITOS  – A surpresa com a reunião no Palácio da Alvorada foi geral. Lula e o ministro da Defesa, José Múcio, ficaram atônitos e não se comprometeram. Jamais esperavam essa reação das Forças Armadas. Desde a redemocratização do país, os militares somente fizeram pressão ao governo no primeiro ano da gestão de Bolsonaro, quando pediram que seus privilégios na previdência e na assistência médica fossem preservados, conforme aconteceu.

Mas agora é outra conversa e eles defenderam a anistia, a pretexto de “zerar o jogo” e “desanuviar o ambiente político”. O que dizer? O que pensar? Os 25 militares estão na condição de indiciados, pois a denúncia ainda tem de ser aceita pela Procuradoria, e as Forças Armadas se adiantam e já pedem anistia?

Quem decide a anistia é o Congresso. Se a resposta dos parlamentares for “não”, qual será a reação das Forças Armadas? Essa é a dúvida cruel que aflige a democracia à brasileira.

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P.S. 1
As pressões não param. A jornalista Eliane Cantanhêde amaciou a informação neste domingo, publicando que “a questão da anistia é, sim, discutida entre as Forças e entre elas e setores do governo civil, inclusive do Palácio do Planalto, mas ainda de forma informal, sem caracterizar um pedido ao presidente Lula. Publicamente, a posição da Defesa e das três Forças é que não há nenhuma ingerência e nem mesmo pedido de informações nem à Polícia Federal nem ao Supremo Tribunal Federal sobre o andamento das investigações e as apurações”. Então, fica combinado assim.

P.S. 2 – O jurista Sobral Pinto costumava dizer que não existe democracia à brasileira. “O que existe é “peru à brasileira, com arroz, salada e farofa”, ironizava.

P.S. 3Em termos teóricos, Sobral Pinto tinha razão, mas na prática existe uma “democracia à brasileira”, caracterizada por essa esculhambação na qual o país vive eternamente enrolado. (C.N.)

Bolsonaro tenta atribuir golpe a Heleno e Braga, e militares reagem

Heleno e Braga iriam chefiar o “Gabinete da Crise”

Cézar Feitoza
Folha

A defesa de Jair Bolsonaro (PL) passou a trabalhar nos últimos dias com a tese do “golpe do golpe”, segundo a qual militares de alta patente usariam a trama golpista no fim de 2022 para derrubar o então presidente e assumir o poder —e não para mantê-lo no cargo.

A estratégia para livrar Bolsonaro do enredo golpista implica os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto como os principais beneficiados por uma eventual ruptura institucional.

QUEBRA DE CONFIANÇA – Aliados dos dois militares afirmaram à Folha, sob reserva, que a divulgação dessa linha de defesa causou quebra de confiança. O movimento é visto como um oportunismo do ex-presidente na tentativa de se livrar das acusações de que conhecia os planos golpistas.

A base para essa tese é um documento elaborado pelo general da reserva Mario Fernandes, um dos principais suspeitos de arquitetar a trama golpista revelada pela Polícia Federal. Esse texto previa a criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise, comandado por militares, logo após o golpe de Estado.

As reações de militares sobre essa linha de defesa se intensificaram nesta sexta-feira (29) após Paulo Amador da Cunha Bueno, um dos advogados de Bolsonaro, dizer em entrevista à GloboNews que o ex-presidente não se beneficiaria com um eventual golpe.

DISSE O ADVOGADO – “Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do ‘Plano Punhal Verde e Amarelo’ e, nessa junta, não estava incluído o presidente Bolsonaro”, disse Bueno.

O advogado voltou a dizer que Bolsonaro não tinha conhecimento do plano identificado pela PF que definia estratégias para matar o presidente eleito Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) e então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“Não tem o nome dele [Bolsonaro] lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”, reforçou o advogado.

BRAGA NETTO REAGE – Em nota divulgada após o indiciamento, Braga Netto criticou a “tese fantasiosa e absurda de ‘golpe dentro do golpe’”.

“[O general] lembra, ainda, que durante o governo passado, foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis”, diz o texto assinado pela defesa do militar.

Apesar do desapontamento, interlocutores de Heleno e Braga Netto dizem que os militares responsabilizam mais os advogados do que o ex-presidente.

HELENO CHEFIARIA – A minuta de criação do Gabinete Institucional de Gestão de Crise previa que o general Augusto Heleno seria o chefe do grupo. Braga Netto aparece como coordenador-geral, enquanto o general Mario Fernandes e o coronel Elcio Franco seriam assessores estratégicos.

O texto previa ainda outras estruturas no gabinete de crise, como as assessorias de comunicação social e de inteligência. Ao todo, seriam 18 militares no grupo, com maioria de integrantes da reserva do Exército.

Militares aliados de Braga Netto e Heleno destacaram que a linha de defesa mostra que o projeto político do ex-presidente foi colocado acima das amizades com os fardados que demonstraram lealdade durante o governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se continuar essa brigalhada, os envolvidos vão se acusar mutuamente, será uma festa de delações. Na forma da lei, o único que não pode fazer delação é o chefe. Mas quem era mesmo o comandante do golpe? Bolsonaro, Heleno ou Braga? (C.N.)

Governo misturou dois assuntos que não devia e criou um problemão

Estrago foi feito' no pacote fiscal de Haddad, defende analista – mas ainda  existe um fator que pode afastar a tempestade do Ibovespa – Money Times

FernandoHaddad explica, mas não justifica o pacote fiscal

Míriam Leitão
O Globo

O pacote não é ruim. Ele, de fato, reduz despesas. O problema foi o governo ter feito o anúncio de dois assuntos que não deveriam ser misturados: as medidas fiscais e a ampliação da isenção do IR para faixa de renda até R$ 5 mil e a cobrança de imposto de quem ganha mais.

Essa Reforma da Renda vai ser analisada pelo Congresso no ano que vem e só passará a valer em 2026, o corte de gasto trata de medidas imediatas. Na busca de neutralizar o impacto político ruim que o anúncio do corte de gastos poderia ter, o governo resolveu antecipar uma boa notícia para quem ganha até R$ 5mil e criou essa grande confusão.

AUMENTO DE DESPESA – Para os economistas, aumento de isenção é aumento de despesa, apesar de a equipe econômica ter apresentado medidas compensatórias.

As mudanças no Imposto de Renda acabaram ficando sob os holofotes, quando o governo deveria ter se concentrado no pacote de medidas fiscais, como a mudança da forma de reajuste do salário mínimo. Essa é uma medida que não é simples e tem grande impacto, pois o mínimo é o que vincula benefícios sociais como aposentadoria e pensão, BPC, seguro desemprego, abono salarial, entre outros, que representam uma grande parte das despesas públicas.

O Brasil é um país que precisa de políticas de apoio social. Há muitos pobres, muitos aposentados, apesar de só agora o país estar envelhecendo, por regras que no passado que permitiram que as pessoas entrassem no sistema de pensão e aposentadoria ainda jovem, antes do fim do seu período laboral.

SEM EQUILÍBRIO – Apesar de ter boas medidas, os economistas avaliam que o pacote não é o suficiente para garantir o equilíbrio fiscal brasileiro. A ministra Simone Tebet, ponderou que esse é o pacote possível, lembrando que as propostas terão que passar pelo Congresso.

Esse, aliás, é o dilema de qualquer governo: se fizer medidas ideais, pode não ter aprovação política, se apresenta as medidas possíveis de serem aprovadas pelos parlamentares, os economistas e o mercado financeiro vão dizer que não é o suficiente.

É esse equilíbrio fino que deve ser buscado. Mas o fato é que ao misturar uma bondade, digamos assim, no anúncio de um pacote de reajuste fiscal, o governo criou um problema de comunicação. E vamos ter que ver como o governo sai dessa confusão que ele mesmo criou.

Turma do golpe tentou usar vandalismo do 8 de janeiro como “gatilho”

Exclusivo: câmeras mostram ministro do GSI no Palácio do Planalto durante  ataques do 8 de janeiro | CNN Brasil

General GDias passeou no Planalto durante vandalismo

Elio Gaspari
O Globo

As mil páginas dos dois relatórios da Polícia Federal provaram à exaustão que Jair Bolsonaro e um punhado de oficiais palacianos armaram um golpe de Estado em 2022 para cancelar o resultado da eleição vencida por Lula.

Caberá à Justiça estabelecer as responsabilidades pela trama de dezembro de 2022 e dos possíveis atentados contra Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. Outra questão será estabelecer a responsabilidade desses golpistas no 8 de janeiro de 2023.

É POUCO – Os relatórios da Polícia Federal não cuidam dos acontecimentos desse dia. Mostram apenas como a turma do golpe tentou jogar o 8 de janeiro no colo de Lula e do então ministro da Justiça, Flávio Dino. É pouco.

Àquela altura, Lula já estava no governo. Todas as armações de 2022 ficaram no condicional. Bolsonaro não instaurou o estado de defesa, a campana de Alexandre de Moraes foi abortada e os “kids pretos” ficaram no quartel.

No dia 4 de janeiro, trocando mensagens com um coronel que lhe perguntava se “ainda tem algo para acontecer”, o tenente-coronel Mauro Cid respondeu duas vezes, mas apagou os textos. O coronel voltou a perguntar: “Coisa boa ou horrível?”. Então Cid respondeu: “Depende para quem. Para o Brasil é boa”.

NÃO FOI ADIANTE – No 8 de janeiro foram invadidos e depredados o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal e o Congresso. Coisas aconteceram e não foram adiante porque Lula, num lance instintivo, salvou o regime recusando-se a assinar um decreto de Garantia da Lei e da Ordem.

Se tivesse assinado, daria poderes a militares e só Asmodeu sabe o que aconteceria. A ideia da GLO circulou entre ministros de Lula. Além disso, foi enunciada (às 17h10) pelo general da reserva Hamilton Mourão, senador eleito e ex-vice-presidente de Jair Bolsonaro.

O 8 de janeiro seria o “evento disparador” de que falava em novembro o general da reserva Mario Fernandes. Tardio, não disparou coisa alguma.

É PARA ADERIR – O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, acompanhava o ex-presidente nos Estados Unidos e lá recebeu fotos do que acontecia em Brasília naquele domingo. De lá, escreveu: “Se o Exército Brasileiro sair dos quartéis… é para aderir”.

Os relatórios da Polícia Federal mostram que o general da reserva Mario Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Bolsonaro, havia frequentado o acampamento montado em frente ao QG de Brasília.

Tratava com o caminhoneiro Lucão e cuidava dos interesses dos acampados que foram para a praça dos Três Poderes, convocados para a “Festa da Selma”.

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GOLBERY E O SEQUESTRO DE BRIZOLA

Nos anos 70 não existiam as Forças Especiais. Os paraquedistas eram vistos como uma tropa de elite. Certo dia, Heitor Ferreira, secretário do presidente Ernesto Geisel, viu que o general Golbery, chefe da Casa Civil, havia recebido um coronel paraquedista encrenqueiro.

Heitor, velho protegido de Golbery, resolveu cobrar a esquisita gentileza. O ministro explicou-lhe que, na sua função, recebia pessoas para inflar-lhes os egos, ao que Heitor perguntou-lhe o que o coronel queria.

— Ele disse que estava organizado um comando para ir ao Uruguai e sequestrar o Leonel Brizola. (Brizola vivia exilado no Uruguai desde 1964.)

— E o que o senhor disse?

— Disse que fosse, Heitor.

Diante da perplexidade do amigo, Golbery explicou: — Se eu dissesse para não ir, ele iria para a rede de vôlei e pelo resto da vida diria que havia organizado um comando para sequestrar o Brizola e eu não deixei. Liberado, ele nunca mais vai tocar no assunto.

E assim foi.

Faz de conta que Haddad não é Lula, e fica combinado assim…

Fernando Haddad com mão no rosto -- Metrópoles

Haddad procura explicar o inexplicável e se enrola todo

Mario Sabino
Metrópoles

Faz de conta que Lula está preocupado com responsabilidade fiscal. Faz de conta que Fernando Haddad não é Lula. Faz de conta que Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann não são as duas faces da mesma moeda. Faz de conta que, a cada seis meses, o governo vai economizar 70 bilhões nos próximos 2 anos ou 300 bilhões nos próximos 5 ou 600 bilhões nos 10 anos seguintes, não importa, porque é tudo faz de conta.

A realidade é que o governo Lula tem como único norte a gastança desenfreada e, assim, abre a porteira também para que estados e municípios avancem no cheque especial.

DÍVIDA SOLTA – Em dezembro de 2022, antes de o petista assumir, a dívida pública era de 71,7% do PIB. Em agosto deste ano, já estava em 78,3% do PIB. Até o final do mandato de Lula, deverá chegar a 84,1% do PIB, segundo a Instituição Fiscal Independente, vinculada ao Senado.

Em 2023, o gasto médio por funcionário público federal aumentou, revertendo a queda nos três anos anteriores. Passou a ser de R$ 376 mil. A estimativa é que haja nova alta em 2024.

O pacote fiscal anunciado e mal explicado por um descabelado Fernando Haddad não vai dar freio ao esbanjamento. É populismo desbragado comemorado pela imprensa amiga como reforma sobre a renda.

MAIS ISENÇÕES – Como essa noite se improvisa, ao isentar de imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil reais e promover a tunga progressiva de 5% a 10% de quem ganha a partir de R$ 50 mil, não foi feito um cálculo exato sobre se haverá compensação para manter a arrecadação.

“Todos à espera de ajuste fiscal, e nasce com ele uma proposta de mais isenções. Ruim, sem dúvida. A ver como será desenhada a compensação”, resumiu o economista Felipe Salto para a jornalista Gabriela Jucá.

Isentar 25 milhões de brasileiros de pagar imposto de renda nasceu como promessa eleitoreira em 2022 e visa à exploração eleitoreira em 2026. É o único projeto de Lula e do PT: manter-se no Palácio do Planalto a qualquer custo para o Brasil.

PACOTE VAZIO – Não houve o essencial em um pacote fiscal digno desse nome: o corte substancial e necessário nos gastos, mas anúncio de redução de ritmo de crescimento de despesas. Anúncio, enfatize-se, porque a farra em Brasília vai continuar desenfreada.

Fica combinado, então, que faz de conta que os cidadãos não trabalham para Lula ser reeleito, para o Centrão continuar a meter a mão e, cereja do bolo, para a toga ter quinquênios, e retroativos, como noticiado ontem, em sincronia perfeita com a divulgação desse pacote fiscal que não é pacote fiscal coisíssima nenhuma, mas faz de conta que é.

Botafogo foi heroico e brilhante, unindo velocidade com talento

Botafogo bate o Atlético-MG e é campeão inédito da Libertadores

Luiz Henrique está cada vez mais consagrado

Tostão
Folha

O Botafogo é campeão pela primeira vez da Libertadores. Mesmo com 10 jogadores desde o primeiro minuto de jogo, conseguiu fazer três gols. Artur Jorge foi brilhante, o craque da partida.

Como o Atlético-MG só ataca pelos lados, cruzando bolas na área, o técnico reforçou a marcação pelos lados e o Galo, sem nenhuma criatividade no meio-campo, só criou chances de gols com bolas altas na área. Assim fez o gol no segundo tempo, porém foi insuficiente.

FAZER O ÓBVIO – Muitos vão dizer que o técnico Artur Jorge fez o óbvio. Poucos fazem o óbvio. John Textor, dono da SAF do Botafogo, disse antes do jogo que o time chegou a uma final da Libertadores antes do previsto. É o campeão com grandes chances de vencer também o Brasileirão.

A equipe venceu também a desconfiança de que não suportaria a pressão psicológica por ter perdido o campeonato no ano passado quando tinha uma grande vantagem. Essas coisas só acontecem com o Botafogo.

No futebol e em todos os esportes de alta competitividade estão sempre presentes o medo dos atletas de não serem capazes e de perderem o jogo, ainda mais uma decisão. Os grandes times e atletas campeões são os que conseguem vencer essas dificuldades. Não são os que dizem estar tranquilos e que não sentem a pressão emocional.

MANEIRA DE JOGAR – O Botafogo parece com o Liverpool na maneira de jogar. Sem comparar a qualidade, os dois times são compactos, intensos, marcam e defendem em bloco, recuperam rapidamente a bola e unem a força física e a velocidade com o talento individual.

O Manchester City e o Real Madrid, que dominaram o futebol mundial nos últimos anos, passam por maus momentos. Diferentemente do Liverpool e do Botafogo, os dois times priorizam a posse de bola e a troca de passes até chegarem ao gol. Há vários jogadores contundidos nas duas equipes. Faltam os dois grandes meio-campistas: Rodri, que há muito tempo não joga, e Kross, que parou de jogar.

Os ótimos times atacam e defendem bem. Cruzeiro, Bahia e Grêmio trocam muitos passes, avançam com muitos jogadores, mas deixam muitos espaços na defesa. O Bahia, quase sempre, cria inúmeras chances de gols e com frequência perde, por causa dos erros de finalização e da fragilidade defensiva.

GANHAR E PERDER – O futebol possui também lógica. Em um campeonato longo e por pontos corridos, como o Brasileirão, no final prevalecem os times com melhores elencos, com raras surpresas.

O Fortaleza, que não tem jogadores com o mesmo prestígio dos de outras grandes equipes, está entre os primeiros colocados porque se prepara há tempos para isso. O Fluminense, que luta para não ser rebaixado, não suportou a glória e a pressão do título da Libertadores.

Nesta reta final de decisões, espero que os vencedores e os perdedores não criem tumultos. É preciso saber ganhar e perder. O Atlético-MG lutou bravamente. Após a eliminação da seleção brasileira na primeira fase da Copa de 1966, depois de ser bicampeão em 1958 e 1962, o poeta maior Carlos Drummond de Andrade, escreveu uma poesia para os atletas brasileiros: “Depois da hora radiosa/ a hora dura do esporte,/ sem a qual não há prêmio que conforte,/ pois perder é tocar alguma coisa/ mais além da vitória, é encontrar-se/ naquele ponto onde começa tudo/ a nascer do perdido, lentamente”. 

Bolsonaro, golpista? Não é novidade para quem lembra como ele agia…

A ilustração de Adams Carvalho, publicada na Folha de São Paulo no dia 01 de Dezembro de 2024, mostra o desenho do ex-presidente Jair Bolsonaro durante uma polêmica entrevista ao Programa Câmara Aberta, da Band, nos anos 90.

Ilustração de Adams Carvalho (Folha)

Antonio Prata
Folha

Imagina só. É uma história bem doida, tá? Super inverossímil, mas façamos esse exercício mental. Um capitão do exército, insatisfeito com o salário, faz um plano para explodir quartéis e o fornecimento de água de uma das maiores cidades do país. O plano é descoberto.

Sai na Veja: um “croqui feito a mão pelo próprio Bolsonaro que mostrava a adutora de Guandu, que abastece o Rio de Janeiro, e o rabisco de uma carga de dinamite detonável por intermédio de um mecanismo elétrico”.

NA RESERVA – Imagina que, apesar disso, no Exército – essa instituição que se diz tão ciosa da ordem e da disciplina – o terrorista é absolvido e colocado na reserva. Continua a receber seu salário pago por mim, por você, por sua tia-avó dura que não consegue viver da aposentadoria e pelo resto da população brasileira. Inimaginável né?

Daí, só por um exercício (ou delírio?) mental, imagina que, com esse currículo, o cara concorre a vereador pelo RJ. É eleito. Depois vira deputado federal. Imagina esse cara, a vida toda, dando entrevistas elogiando a ditadura militar. Ou melhor, emendando: “O erro da ditadura foi torturar e não matar”.

Imagina ele dizendo na TV que tinha que assassinar 30 mil pra resolver o Brasil. Sobre a milícia: “Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo”.

HOMENAGEM – Como certas doenças são hereditárias, o filho Flávio Bolsonaro, em 9 de setembro de 2005, concedeu a Adriano da Nóbrega, miliciano, guarda-costas de bicheiro e assassino de aluguel (vejam “Vale o escrito”) a maior condecoração do Poder Legislativo fluminense, a Medalha Tiradentes. O condecorado estava então na cadeia, por homicídio.

Ao presidente da OAB, que teve o pai “desaparecido” na ditadura, Bolsonaro disse: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”. Outro “desaparecimento” sobre o qual Bolsonaro pode saber detalhes é o de Rubens Paiva (assistam a “Ainda estou aqui”).

Em 2014, um busto do Rubens Paiva foi colocado na Câmara. Bolsonaro, diante de toda a família da vítima, simulou uma cusparada na estátua. Repito. Bolsonaro simulou uma cusparada na estátua de uma pessoa assassinada pela ditadura, diante dos filhos e da viúva.

BRILHANTE USTRA – Dois anos depois, no impeachment da Dilma (não importa o que você ache do governo ou do impeachment da Dilma) dedicou seu voto ao torturador dela e de muitos outros. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”. Já tinha dito antes: “Pau-de-arara funciona. Sou favorável à tortura, tu sabe disso”.

Agora, imagina esse sujeito se candidatar a presidente do Brasil. Daí, imagina ele ganhar. Imagina ele enchendo o governo de militares. Imagina ele passando quatro anos falando que as eleições são fraudadas.

Imagina que nos setes de setembro ele faça comícios antidemocráticos e bote uns tanques fumacentos para desfilar por Brasília. Imagina que ele diga que só sai do poder preso ou morto.

O QUE IRIA FAZER? – Pois, tendo imaginado isso tudo, o que vocês imaginam que essa flor de ser humano iria fazer ao perder as eleições?

  1. A) Passar a faixa democraticamente ao vencedor?
  2. B) Mexer mundos e fundos para dar um golpe de estado e fugir pra Disney?

Se as questões da Fuvest fossem tão fáceis, teríamos 100% da população brasileira cursando universidade a partir de janeiro de 2025.

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PS. –
Bolsonaro é covarde e obviamente vai fugir. Prendam logo. (A.P.)

Moraes devia se afastar, para não contaminar processo do golpe

Tribuna da Internet | Sem exibir provas, Moraes pretende que todos  acreditem no “plano” para matá-lo

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Wálter Maierovitch
do UOL

Um idiomatismo italiano espalhou-se pelo mundo: “À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”. Ou seja, pessoas públicas precisam parecer acima de qualquer suspeita. Pompeia Sula, a esposa de Júlio Cesar, precisava parecer observadora das leis. Pesava contra ela a suspeita de haver traído o imperador em face de relacionamento amoroso com um tal Clodio.

Júlio Cesar não pediu o divórcio pelo adultério, com a declaração de indignidade de Pompeia. Frisou que a esposa do imperador não poderia ser atingida por suspeitas, estava acima delas, era e parecia honesta, pela voz do povo.

NO SUPREMO – Isso deveria ser recordado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) diante da iminência de apresentação de denúncia (ação penal pública) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais de três dezenas de indiciados por crimes graves: golpe de Estado, abolição violenta ao Estado democrático de Direito e organização criminosa.

Não bastasse o problema de tardar o afastamento de Alexandre de Moraes, dada sua flagrante parcialidade, com resistência em continuar a atuar na futura fase processual, há, pelo noticiado, tendência de distribuição, por prevenção, para a Primeira Turma do STF. Uma turma integrada por Moraes, que seria o relator do caso e o prolator do primeiro voto, contra a Constituição e o Direito positivo.

Do Oiapoque ao Chuí, o ministro Moraes, para os cidadãos pensantes não contaminados pela polarização política, não aparenta ser isento para ser relator e julgador.

IMPARCIALIDADE – Enviar a iminente e certa denúncia do procurador Paulo Gonet para recebimento ou rejeição pelo plenário seria, até pela repercussão interna e internacional, uma resposta a Júlio Cesar: a imparcialidade do STF não pode ser nunca colocada em dúvida. E o STF deve se mostrar uno e não dividido em turmas divergentes.

Diante da pletora de processos e ações submetidas ao STF, num certo momento histórico, realizou-se a divisão de tarefas, para melhor e mais rapidamente ser dada a resposta jurisdicional, social.

Assim, dez ministros foram separados em duas turmas julgadoras, reservando ao plenário a competência para casos exemplificados. Portanto, pode-se decidir em mandar o caso ao plenário, pois não temos números fechados (“numerus clausus”, em juridiquês).

TURMAS E CÂMARAS – Os tribunais federais e estaduais também são compostos, além do plenário, por turmas e câmaras. Todos mantêm a competência plenária para casos especiais.

Na hipótese da futura e mais do que certa propositura de ação penal contra Bolsonaro, o STF irá continuar a receber questionamentos sobre ser caso de enviar o inquérito, pela perda da prerrogativa do foro por parte de Bolsonaro (que não é mais) para o primeiro grau de jurisdição.

Em primeiro grau, manobras procrastinatóriaS poderiam levar à prescrição. Fora isso, o STF, que tem a última palavra, já decidiu pela sua competência.

OFENSA DIRETA – Pela razão de estar em jogo ofensa direta à Constituição, à qual o STF, por determinação constitucional, tem o dever de defender e preservar, era mais do que razoável a jurisdição única. Em outras palavras, uma vez recebida a denúncia, caberá ao STF processar e julgar Bolsonaro e demais corréus.

Diante desse quadro e de não se poder nunca transigir com a imparcialidade dos juízes e a boa imagem da Justiça, o STF, pelos seus magistrados, não deveria esquecer do episódio referente à mulher de Cesar.

Não se pode usar como paradigma, a fim de se manter a competência da Primeira Turma, os bagrinhos usados como massa de manobra no golpismo do 8 de Janeiro.

SESSÃO PLENÁRIA – Os fatos, com um feixe de provas convergentes sobre o golpe, com Bolsonaro comandando e liderando uma organização criminosa, têm gravidade que exige sessão plenária, sem a participação dos magistrados impedidos e suspeitos.

Observando a história recente do STF, houve um processo em que o então presidente José Sarney aparecia como parte interessada.

O ministro Celso de Mello deu-se por suspeito por motivo de foro íntimo, uma vez que foi indicado, por notórios méritos, por Sarney. Ninguém pediu ou cogitou a suspeição. Mas o ministro não se sentia confortável para julgar caso de interesse daquele que o havia indicado para a cadeira do STF.

Pressionar Lula a anistiar Bolsonaro é erro gravíssimo dos militares

Os 41 anos da Lei de Anistia - Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Humberto (Folha de Pernambuco)

Carlos Newton

Quem não conhece a política brasileira realmente deve ter ficado muito surpreendido com a notícia divulgada neste domingo no Estadão pela colunista Eliane Cantanhêde, sobre a reunião do presidente Lula da Silva com o ministro da Defesa, José Múcio, e os três comandantes militares – general Tomás Paiva (Exército), almirante Marcos Olsen (Marinha) e brigadeiro Marcelo Damasceno (Aeronáutica).

Eles pediram essa reunião fora de agenda, no Palácio da Alvorada, e Lula aceitou recebê-los neste sábado a contragosto, pois queria descansar e assistir à decisão da Copa Libertadores da América.

NOS BASTIDORES – Até aí, nada de novo no front ocidental. Em política, muita coisa se resolve mesmo é nos bastidores, em conversas diretas, fora da agenda e sem maiores formalismos. O problema é que toda a imprensa noticiou que os chefes militares foram apenas pedir ao presidente que adiasse as mudanças pretendidas para corte de gastos nas Forças Armadas.

Somente a colunista Eliane Cantanhêde publicou versão diferente, anunciando no Estadão que os chefes militares fizeram um pedido adicional que nada tem de republicano, ao propor que Lula e os partidos da base aliada ajudem a aprovar a anistia aos golpistas, sob justificativa de “zerar o jogo” e “desanuviar o ambiente político”.

Em sendo assim, “cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta”, como dizia Luiz de Camões em “Os Lusíadas”, porque agora a coisa muda completamente de figura.

PRESSÃO INDEVIDA – Fica claríssimo que os militares estão fazendo uma pressão indevida ao presidente da República, ao se intrometerem em questões institucionais da maior relevância, digamos assim, e que não lhes competem.

Com os generais Eduardo Villas Bôas e Augusto Heleno à frente, em 2018 as Forças Armadas cometeram um erro incomensurável ao apoiar e inflamar a candidatura de Jair Bolsonaro, mesmo sabendo se tratar de “um mau militar”, conforme disse o general Ernesto Geisel ao jornalista e historiador Elio Gaspari.

O fato é que Bolsonaro tentou usar as Forças Armadas e acabou sendo usado por elas, que elevaram soldos e gratificações, criaram penduricalhos, foram excluídas da reforma previdenciária e ainda ganharam cerca de 6 mil cargos para oficiais e suboficiais da reserva. Nada mal…

SEM COMENTÁRIOS – Na semana passada, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, disse que somente após o fim de todas as operações é que se manifestará sobre a ação da Polícia Federal que prendeu militares por participação na suposta trama golpista. “Isso nós vamos falar quando recebermos os inquéritos. Aí teremos uma informação mais oficial”, afirmou o general.

Aliás, é melhor mesmo que o comandante fique calado. Se abrir a boca, terá de mentir, porque a imensa maioria dos oficiais é antilulista e estava animadíssima com o golpe, caso houvesse alguma suspeita sobre as urnas ou a apuração. Como a fraude não foi constatada, tiveram de desistir da conspiração.

A jornalista Eliane Cantanhêde prestou um serviço à nação, ao relatar a pressão dos militares. Como quase todos estavam entusiasmados com a possibilidade de golpe, para se livrarem de Lula, o número de milicos envolvidos na verdade é muito maior.

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P.S. 1
O problema é aparecer outro militar cagão, tipo Mauro Cid, que também caia no choro e pretenda fazer delação premiada, entregando quem ainda está fora da formação.

P.S. 2Daqui para a frente, o principal tema político será a anistia, que o próprio Bolsonaro já pediu semana passada, em seu primeiro pronunciamento após ser oficialmente indiciado junto com 25 dos militares. Logo voltaremos ao assunto, é claro. (C.N.)

Pacheco e Lira adotam cautela sobre proposta de mudança no IR

Os pobres na estação rodoviária despertam a solidariedade de Lêdo Ivo

Frase Lêdo IvoPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, cronista, romancista, contista, ensaísta e poeta alagoano Lêdo Ivo (1924-2012), no poema “Os pobres da estação rodoviária”, critica as desigualdades sociais existentes no país.

OS POBRES DA ESTAÇÃO RODOVIÁRIA
Lêdo Ivo

Os pobres viajam. Na estação rodoviária
eles alteiam os pescoços como gansos para olhar
os letreiros dos ônibus. E seus olhares
são de quem teme perder alguma coisa:
a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco
que tem a cor do frio num dia sem sonhos,
o sanduíche de mortadela do fundo da sacola,
e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos.
Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus
eles temem perder a própria viagem
escondida na névoa dos horários.

Os que dormitam nos bancos acordam assustados,
embora os pesadelos sejam um privilégio
dos que abastecem o ouvido e o tédio dos psicanalistas
em consultórios assépticos como o algodão
que tapa o nariz dos mortos.
Nas filas os pobres assumem um ar grave
que une temor, impaciência e submissão.
Como os pobres são grotescos! E como os seus odores
nos incomodam mesmo à distância.
E não têm a noção das conveniências,
não sabem portar-se em público.

O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado
que do sonho reteve apenas a remela.
Do seio caído e túrgido um filete de leite
escorre para a pequena boca habituada ao choro.
Na plataforma, eles vão e vêm, saltam
e seguram malas e embrulhos,
fazem perguntas descabidas nos guichês,
sussurram palavras misteriosas
e contemplam as capas das revistas com o ar espantado
de quem não sabe o caminho do salão da vida.

Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas,
esses amarelos de azeite de dendê que doem na vista delicada
do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos,
e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá?
Os pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se.
Tampouco sabem morar: não têm noção do conforto
embora alguns deles possuam até televisão.
Na verdade os pobres não sabem nem morrer.
(Têm quase sempre uma morte feia e deselegante).
E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,
viajantes importunos que ocupam os nossos
lugares mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.

Para buscar reeleição, Lula precisa fazer Bolsonaro e Marçal elegíveis

Eleição 2024: Primeiro turno indica que Lula terá de buscar o centro para  reeleição em 2026

Rejeição a Lula já é de 51%, segundo recente pesquisa

Bruno Soller
Estadão

“Divide et Impera” é um conceito amplamente difundido na teoria das relações internacionais e presente nos manuais de sociologia política da história. Dividir para conquistar é ensinamento dos grandes teóricos e parece cada vez mais necessário para o atual presidente do Brasil, dado ao contexto de polarização enrijecida e um governo bastante deficitário em entregas e que tão pouco tem conseguido devolver aos seus eleitores a expectativa que gerou no último pleito com sua volta.

Lula amarga sua pior avaliação como presidente em seus três mandatos, mesmo tendo passado por crises do tamanho de um mensalão em outras oportunidades. O fato é que a sua reeleição vai se tornando cada vez mais difícil e a estratégia de dividir a oposição tem se tornado cada vez mais necessária para que possa continuar no poder, pós-2026.

UM PANORAMA – As eleições de 2024, apesar de terem objetivos muito diferentes das de 2026, deram um panorama interessante sobre o que pode ocorrer daqui dois anos. Lula e Bolsonaro mostraram que continuam dividindo as preferências gerais do eleitorado e que seus apoios e presença são fortes para definir raias e impulsionar candidaturas.

Todavia, a ampla vitória de partidos de centro deixou claro que Lula e Bolsonaro possuem teto. Se tiverem adversários que consigam transpassar a linha de diálogo com os setores menos radicalizados da sociedade, estes conseguem absorver o voto da rejeição a esses polos e saem vitoriosos no confronto geral.

Nenhum candidato de Lula e Bolsonaro, direto, conseguiu vencer a eleição nas grandes cidades quando enfrentaram um candidato mais moderado no segundo turno. Bruno Engler perdeu em Belo Horizonte para o centrista Fuad Noman, Guilherme Boulos para Ricardo Nunes, em São Paulo, Ramagem para Paes, no Rio de Janeiro, Maria do Rosário para Melo, em Poro Alegre e assim por diante.

MAIORES GANHADORES – Para a preocupação do entorno de Lula, além da pouca capacidade de vencer em 2024, candidatos não bolsonaristas da centro-direita foram os principais ganhadores dessa contenda. Nesse ínterim, enfrentar uma candidatura à direita, que não carregue a pecha do bolsonarismo mais duro é o grande pesadelo para Lula.

Com a inegibilidade de Bolsonaro, nomes tem surgido à rodo para ocupar essa raia e todos tem potencial destrutivo muito maiores para Lula do que se enfrentar o adversário conhecido.

Contra Bolsonaro, o jogo é duro, mas é uma guerra de rejeições. Já, contra os demais postulantes, a possibilidade de crescimento com rejeição mais diminuta em função de terem níveis de conhecimento muito menores e espaço para construção de imagem, o desafio ganha tons muito mais dramáticos.

ATÉ MARÇAL – Fenômeno nacional por sua participação na eleição paulistana, Pablo Marçal tem sido ventilado como um player provável no jogo presidencial. Sua situação eleitoral depende dos desdobramentos jurídicos do processo que tenta cassar seus direitos políticos, após a irresponsável divulgação de um laudo médico falso que dizia que Guilherme Boulos, seu adversário, era usuário de entorpecentes, na véspera das urnas.

Por pouco menos de 60 mil votos, Marçal não conseguiu ir para o segundo turno, número ínfimo pensando no universo de eleitores da maior metrópole da América Latina.

Esse resultado surpreendente e a projeção de imagem que ganhou pelo País, com sua postura beligerante nos debates e propostas tidas como ousadas e pouco convencionais, mas principalmente pela conexão que criou com um eleitorado mais jovem, evangélico e morador da periferia, tem feito de Marçal um nome com potencial interessante para a disputa, mas que carrega algo de suma importância para Lula, altíssima rejeição.

CONCORRENTES – A proliferação de nomes para enfrentar Lula, no campo da direita, tem também dedo de culpa de Bolsonaro, que ao invés de tentar unificar esse campo ao seu redor e ser o grande guardião dessa chave para 2026, por falta de capacidade de liderança, fez de vários desses nomes seus adversários no último pleito.

Com o dólar atingindo pela primeira vez na história os R$ 6 e com uma agenda econômica que tem gerado muitas críticas, além de uma estagnação completa de mobilidade social da população, Lula terá dificuldades até o final de seu governo, que já passa da metade do mandato para se reerguer.

Pesquisa do Instituto Paraná mostra que 51% dos brasileiros desaprovam a gestão federal, sendo que 42,3% deles consideram o terceiro governo de Lula ruim ou péssimo. Como mudar essa situação?

Militares pedem a Lula anistia para golpistas e alívio no corte de gastos

Governo Lula recebe pressão da cúpula das Forças Armadas para evitar que corte de gastos atinja os militares

Chefes militares não estão solidários ao resto do país

Eliane Cantanhêde
Estadão

Apesar de generais, coronéis e capitães estarem no centro do inquérito do golpe de Estado, o atual comando legalista do Exército lidera dois movimentos das Forças Armadas junto ao presidente Lula. Um para defender o indefensável: anistia dos golpistas, para “zerar o jogo” e “desanuviar o ambiente político”. Outro para aliviar a cota militar no corte de gastos. Esses “pedidos” são para valer, ou só encenação para agradar às tropas?

O ministro da Defesa, José Múcio, e os três comandantes militares – general Tomás Paiva (Exército), almirante Marcos Olsen (Marinha) e brigadeiro Marcelo Damasceno (Aeronáutica) – se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste sábado, 30. Nenhum dos dois pedidos faz sentido, e não só porque as Forças Armadas não estão no seu melhor momento, após o apoio além do institucional ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a inclusão (até agora) de 25 militares, seis deles generais, entre os 37 indiciados por um golpe com detalhes sórdidos.

PASSAR PANINHO? – Como “zerar o jogo”, anistiando quem desonrou a farda e participou de minutas de decretos, cronogramas, slogans, fake news e ações para um golpe e até de planos para assassinar o presidente eleito, seu vice e um ministro do Supremo, então presidente TSE? Nada poderia ser mais desastroso para o Brasil, particularmente para as Forças Armadas, do que passar pano.

Uma anistia a criminosos desse naipe seria “abrir a porteira” dos quartéis, multiplicar o erro histórico do Exército ao fechar os olhos para a transgressão do general Eduardo Pazuello ao subir num palanque de Bolsonaro e incinerar os princípios basilares de ordem, disciplina e patriotismo.

Bolsonaro provocar Lula e Alexandre de Moraes para decretarem (a sua) anistia, vá lá. Bolsonaro é Bolsonaro, capaz de qualquer absurdo e apontado como mandante de um golpe para instalar uma ditadura militar. Mas oficiais legalistas, sérios, respeitáveis, que entram de queixo erguido para a história, pedirem anistia para bandidos por corporativismo?

PARTE NO LATIFÚNDIO – Também não faz sentido as FA quererem rever a parte que lhes cabe no latifúndio do corte de gastos. O argumento é que, por exemplo, criar idade mínima de 55 anos para a reserva remunerada e acabar com a “morte ficta” (o sujeito expulso é dada como “morto”, e mantém a pensão integral para a família) desgastariam os comandos junto às suas tropas para uma economia mínima do Tesouro.

Bem, se a economia é pequena, a perda dos militares também é. E por que livrar só as FA, se o salário mínimo, abono salarial, BPC, cultura, saúde, educação, supersalários nos Três Poderes e, mais adiante, as maiores rendas privadas estão na mira da tesoura?

Todos têm de contribuir para o equilíbrio fiscal e, no caso dos militares, até mais por simbologia e exemplo do que por economia. O bônus para a imagem é melhor do que o ônus em certos bolsos. Tomara que os “pedidos” sejam só encenação para o “público interno”.

Financiamento climático prenuncia o fracasso da COP30

A imagem mostra uma grande sala de conferências com várias pessoas sentadas em cadeiras. No fundo, há um palco com uma mesa retangular e várias cadeiras. Em uma tela grande, há uma apresentação com a imagem de uma pessoa sorrindo e o logotipo da ONU. O ambiente é bem iluminado e organizado, com bandeiras visíveis ao lado do palco.

A discussão ecológica está totalmente fora da realidade

Demétrio Magnoli
Folha

À undécima hora, a COP29 fechou o acordo sobre o financiamento climático. Os países desenvolvidos comprometeram-se com US$ 300 bilhões anuais, três vezes mais que o compromisso anterior. Não obtiveram aplausos: os países em desenvolvimento e os mais vulneráveis qualificaram o valor como “pífio” e os ativistas ambientais declararam o fracasso da COP. De fato, porém, o resultado iluminou a falência do conceito que preside as negociações financeiras desde o Acordo de Paris (2015).

As COPs converteram-se em teatros farsescos. A penúltima ocorreu nos Emirados Árabes e esta última, no Azerbaijão, países cujas economias assentam-se sobre o petróleo e o gás.

MIRAGEM NO DESERTO – Os tais US$ 300 bilhões, além de insuficientes para amenizar o aquecimento global e promover adaptação às mudanças climáticas, são uma miragem no deserto, pois a maior parte dos recursos emanaria de fontes incertas. Mas o núcleo do impasse é outro: a regra que só impõe pagamentos às nações desenvolvidas.

A regra deita raízes no princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas, consagrado na ECO-92. O Acordo de Paris o interpretou como isenção absoluta às economias em desenvolvimento.

A China, maior emissor mundial de gases de estufa, com 30% do total, detentora de vastas reservas financeiras, não tem responsabilidade de financiamento. O mesmo ocorre com a Índia, fonte de 7,4% das emissões, situada no terceiro posto, com o Brasil (2,4%), no quinto posto, e com grandes exportadores de petróleo com elevada renda per capita, como Arábia Saudita e Emirados Árabes.

SEM EXPLICAÇÃO – Como explicar aos eleitores espanhóis, portugueses, gregos ou mesmo alemães que tais países não precisam contribuir com nenhum dólar?

A justificativa ritual investe numa versão ambiental da ideia de “reparação histórica”: “Vocês fizeram a Revolução Industrial e, portanto, devem limpar a sujeira”.0

A Revolução Industrial teve seu berço nos países desenvolvidos, que foram seus maiores beneficiários, mas esculpiu todas as sociedades modernas. Só povos que vivem da caça, pesca e coleta têm o direito de sintetizá-la como mera sujeira. As tecnologias industriais revolucionaram os transportes, as comunicações e a produtividade agrícola, pariram a medicina atual, geraram as vacinas. A “Revolução Industrial deles” pertence ao domínio da caricatura militante.

NA REALIDADE… – O Brasil de hoje é fruto da Revolução Industrial. A metrópole paulistana surgiu do café, droga típica do mundo industrial. A borracha deflagrou a expansão de Manaus, que se tornaria a segunda maior metrópole equatorial do globo. A certidão de nascimento do PT tem como endereço as montadoras do ABC paulista. Lula foi torneiro mecânico nas Indústrias Villares.

A COP30, em Belém, daqui a um ano, ocorrerá à longa sombra de Trump. A perpetuação do discurso da “reparação histórica”, que já desvia votos para partidos europeus engajados no negacionismo climático, é receita certa de um novo fracasso.

O governo brasileiro, anfitrião do encontro, dispõe de pouco tempo para articular uma regra sustentável de financiamento climático, com base no PIB per capita, nas emissões per capita ou numa combinação de indicadores. A alternativa é um intercâmbio estéril de acusações – isto é, apenas teatro político para entreter a audiência.

Censura avança na China contra as ‘bolhas’ nas redes sociais

Charge da semana: Internautas chineses não podem criticar a economia - A Referência

Charge do Kin (Site A Referência)

Lionel Lim
Fortune/Estadão

Os censores chineses são o mais novo grupo a se preocupar com a propensão das mídias sociais de selecionar aos usuários apenas o que eles querem ler. No último domingo, dia 24, a Administração do Ciberespaço da China, o principal regulador da internet do país, deu às empresas de tecnologia três meses para consertar seus algoritmos.

Os censores miraram particularmente nas práticas que criam “bolhas”, onde os usuários só experimentam conteúdo que se alinha com seus próprios interesses e preferências. As plataformas também devem parar de usar técnicas que incentivam o uso excessivo e o vício.

A CURTO PRAZO – As empresas terão até o final do ano para conduzir uma autoinspeção. As autoridades avaliarão os resultados em janeiro e, potencialmente, exigirão mais melhorias até 14 de fevereiro.

A medida abrangente também mirou nos preços que têm desconto com base em diferentes dados demográficos e nos maus-tratos a trabalhadores temporários por meio de medidas como cronogramas de entrega irrealistas. O órgão regulador também encorajou as plataformas a garantir conteúdo “saudável” para usuários idosos e crianças.

A economia digital da China é dominada por algumas grandes empresas, como Alibaba, JD.com e PDD Holdings no comércio eletrônico; e Tencent e ByteDance no reino das mídias sociais.

CONTROLE TOTAL – As autoridades de Pequim rotineiramente ordenam que essas empresas alterem suas práticas internas, como mandar que as plataformas de mídia social suprimam conteúdo excessivamente materialista.

Os reguladores também multaram os gigantes do comércio eletrônico do país, como Alibaba e Tencent, por práticas monopolistas, como forçar os comerciantes a vender exclusivamente em uma plataforma.

Nos últimos anos, os censores têm se concentrado na propensão das mídias sociais para criar “bolhas”, onde os usuários gravitam para plataformas com conteúdo que se alinha com suas próprias visões políticas e culturais. Algoritmos de recomendação servem mais do mesmo conteúdo para manter as pessoas presas na plataforma.

CÂMARA DE ECO – As plataformas de mídia social da China também foram acusadas de se tornarem uma câmara de eco. Por exemplo, um ataque violento a uma mãe e filho japoneses em Suzhou no final de junho foi atribuído à retórica nacionalista nas plataformas de mídia social chinesas.

Uma mulher chinesa morreu tentando proteger as vítimas do agressor; em resposta, empresas como Tencent e NetEase mais tarde reprimiram o conteúdo antijaponês.

Os censores de Pequim não são os únicos frustrados com as Big Tech. Na semana passada, Zhong Shanshan, presidente da empresa de água engarrafada Nongfu Spring e a pessoa mais rica da China em algumas medidas, a concorrente PDD Holdings, por descontos agressivos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
A China é capitalista nos negócios, mas continua a ser uma ditadura implacável. No dia em que se tornar democrática, será dividida numa série de países que têm idiomas, costumes e religiões diferentes, e se odeiam entre si, numa confusão danada, pior do que a antiga União Soviética. (C.N.)

Há cúmplices passivos do golpe, que fingiam não haver nada

Estranhas movimentações nos quartéis indicam que o fantasma golpista voltou  - por Carlos Newton - Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Montanaro (Folha)

Dora Kramer
Folha

Jair Bolsonaro não fez o que fez exatamente às escondidas. Todo mundo viu as contínuas investidas à ordem constituída, mas só o Judiciário em sua expertise institucional e, reconheça-se, o ministro Alexandre de Moraes com sua experiência de polícia —foi secretário da Segurança Pública em São Paulo—, tiveram a visão de conjunto desde o início.

Agora a Polícia Federal vem de ligar os pontos em detalhado relato sobre a elaboração, no coração do governo anterior, de um plano para anular o resultado das eleições, impedir a posse de Lula, dominar os três Poderes e seguir no comando do país contra a vontade da maioria, expressa nas urnas.

NADA VIRAM – Muita gente importante também viu e fez de conta que não via. Caso de parlamentares da base governista, do comando do Congresso e de integrantes da equipe presidencial que não conspiravam diretamente, mas estavam próximos o suficiente para observar e até testemunhar o que se passava.

Não cometeram os crimes imputados aos 37 indiciados pela PF, mas foram espectadores que se pode dizer engajados pela via da omissão. O Legislativo não deu demonstração ativa de compactuar, mas pareceu indiferente em seu contentamento por ter recebido do chefe da nação acesso livre ao cofre da União.

Deputados e senadores farrearam à vontade no manejo abusivo das emendas, enquanto Bolsonaro se ocupava desde 2019 em urdir uma trama ilícita a fim de se precaver de possível derrota na tentativa de reeleição adiante.

INIMIGO Nº 1 – O presidente mobilizava a militância com seu ativismo de cercadinho e nas internas pregava a sublevação. Na internet, no rádio e na televisão, seus adeptos reverberavam o discurso de desmoralização do sistema de votação e descredibilização do Supremo Tribunal Federal, então já detectado como o inimigo primeiro a ser abatido.

Uma parte do complô está gravada e divulgada. A outra, mais ampla, revelou-se nas investigações.

Pegos os comparsas ativos, os cúmplices passivos não podem dizer que a cigana os enganou e, mesmo longe do alcance da Justiça, precisarão dormir com um barulho desse em suas consciências. Isso, claro, se neles escrúpulos houver.

Bolsonaro sonhava com um golpe dentro das quatro linhas

Bolsonaro e Braga Netto estão amarrados pelo tornozelo

Bruno Boghossian
Folha

Por ordem do STF, Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto não podem manter contato um com o outro. É uma medida comum para impedir que investigados combinem versões, troquem ameaças ou fechem acordos de sobrevivência. Uma conversa entre o capitão e o general, no entanto, ocorre em público.

As reações da dupla ao indiciamento por tentativa de golpe revelam a busca por um pacto. Braga Netto divulgou duas notas em que foi incapaz de negar de forma categórica seu envolvimento nos planos para permanecer no poder. O general afirmou apenas que “nunca se falou em golpe”. Seus advogados gastaram caracteres para dar outros recados.

ESTÃO AMARRADOS – Braga Netto se amarrou a Bolsonaro pelo tornozelo. Em sua primeira manifestação, ele rejeitou o que seria a “tese fantasiosa e absurda” de que, após o golpe, os generais tirariam o capitão de cena para controlar o regime.

O ex-ministro declarou lealdade absoluta ao antigo chefe e, na prática, derrubou a ideia de que poderia haver um duplo comando naquela conspiração.

Os dois principais líderes da trama agiam com o mesmo propósito. Bolsonaro deixou suas digitais no decreto que efetivaria o golpe e na convocação dos comandantes das Forças Armadas para a conspiração. Braga Netto trabalhou para coagir os chefes militares e coordenou uma reunião dos agentes que desenhavam o plano para matar Lula e Alexandre de Moraes.

DEFESA INDIVIDUAL – As manifestações de Braga Netto sugerem que a chamada família militar prefere se defender de forma unida. Bolsonaro mostrou uma certa hesitação diante dessa expectativa. No primeiro pronunciamento sobre o indiciamento, o ex-presidente fez o que parecia ser uma defesa individual: “Da minha parte, nunca houve discussão de golpe”.

A desfaçatez, porém, forja a aliança entre Bolsonaro e Braga Netto. As declarações de ambos são baseadas na teoria furada de que jamais houve uma tentativa de golpe porque não havia adesão suficiente ou tanques nas ruas.

O que nenhum deles refuta é que houve a elaboração de um decreto golpista para instituir um estado de sítio e impedir a posse do presidente eleito. Seria o tal golpe “dentro das quatro linhas”.

Reparar os ódios antigos poderá nos salvar do ódio futuro

Questão Legislativo Texto IO hate speech, ou discurso de ódio, como tem  sido denominado esse fenômeno nos países de l...

Charge do Ricardo Wilbert (Arquivo Google)

José Manuel Diogo
Folha

Começou em João Pessoa o FliParaíba, um espaço onde, em 10 conversas com escritoras e escritores de cinco países de língua oficial portuguesa, debatemos 10 ideias para um futuro descolonizado. Aqui, o mistério da vida de Camões, um poeta tão estranho ao seu tempo quanto ao nosso, encontra os mistérios e tensões dos dias que vivemos, marcados pela radicalização, pelo ódio e pela manipulação.

Estamos diante de uma crise que vai além da linguagem: vivemos uma batalha pela alma das sociedades democráticas. A produção em massa de fake news, a mentira transformada em arma política e o ódio usado como trampolim de poder tornaram-se os novos instrumentos de colonização das mentes e dos corpos.

UMA PERGUNTA – É nesse cenário que surge a pergunta: como reverter séculos de desigualdades e injustiças históricas enquanto lutamos contra as novas ferramentas de destruição social?

As dez ideias para um futuro descolonizado nasceram dessa inquietação. Um homem branco, europeu e caucasiano, perguntando-se qual é o seu lugar num debate onde tantas vezes se decreta o fim da sua legitimidade. É um lugar de escuta, mas também de fala. Porque contribuir para a reparação histórica exige coragem para errar, aprender e seguir.

Ao lado de Tom Farias, um irmão de língua e de luta, aprendi que o peso da história não nos concede a neutralidade. Estar presente é uma escolha política.

NOVAS PONTES – Aqui na Paraíba, graças à visão e ao apoio do governador João Azevêdo, reunimos 30 escritores de cinco países para discutir como a literatura, o pensamento e o diálogo podem construir novas pontes.

Essa é uma mesa de debates onde as diferenças são protagonistas: mais mulheres do que homens, mais não brancos do que brancos. Mas será que estamos realmente prontos para enfrentar os fantasmas que nos assombram? Ou seguimos prisioneiros das polarizações que tanto criticamos?

Lembro de um episódio em Itabira, no ano passado, que me ensinou o quanto essas conversas podem ser difíceis. Durante uma mesa que mediava Lívia Sant’ana Vaz e Jefferson Tenório, uma escritora branca interrompeu a plateia para decretar a minha “extinção como homem branco”. Não direi o nome porque não importa – ela sabe quem é.

CÚMPLICE DA INÉRCIA – Então, a fala foi considerada injusta, mas foi essa mesma fala que me fez perceber que o silêncio não é uma opção. Não porque o meu desconforto importe mais, mas porque o silêncio é cúmplice da inércia.

Ontem, no CPF Sesc São Paulo, em conversa com a escritora travesti Amara Moira e o jornalista Jamil Chade, essa reflexão ganhou nova profundidade. Amara disse, com a clareza de quem vive a discriminação na pele, que não são os detalhes da linguagem que importam, mas a substância.

“Não importa se você diz ‘negro’ ou ‘preto’, ‘bicha’ ou ‘veado’, se o pensamento por trás ainda é racista, transfóbico ou discriminatório.” É a ação, o pensamento que molda o discurso, que precisa mudar. Não precisamos de purismos linguísticos, mas de uma transformação genuína.

OUTRO CAMINHO – Essa é a essência do FliParaíba: reunir pessoas diferentes, de lugares diferentes, para propor caminhos que desafiem tanto o passado quanto os preconceitos do presente.

Um futuro descolonizado exige mais do que boas intenções: requer enfrentamento, reparação e, sobretudo, ação. Sem isso, continuaremos reféns do ódio –o velho e o novo– que insiste em nos dividir.

Aqui, em João Pessoa, entre escritores e pensadores de várias línguas e cores, escolhemos fazer diferente. Não é fácil, nem confortável, mas é necessário. Porque, se não fizermos agora, corremos o risco de ver um futuro onde a barbárie, sob o disfarce do populismo digital, destruirá tudo o que ainda resta de humanidade em nossas sociedades.

Tendência da política é caminhar para centro-direita em 2026

Tribuna da Internet | No mundo atual, conceitos de esquerda e direita já  não fazem muito sentido

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

O que a farta comprovação da trama golpista de Jair Bolsonaro e seus asseclas representará, enfim, para a direita? Afora os fanáticos que continuarão a idolatrar o Mito caído, o transatlântico do conservadorismo e do liberalismo econômico já vem manobrando em busca de nova rota. A adesão de figurões da centro-direita à candidatura Lula no segundo turno foi um sinal de que a carona no cavalo das trevas se revelava equivocada.

Lula carrega em sua posição de centro-esquerda o pacote petista, com suas visões estatistas em economia, avessas ao mercado e à livre iniciativa. Não é, obviamente, o candidato ideal da centro-direita, embora palatável dentro de certas circunstâncias.

CONSERVADORES – Na esfera federal, a direita vinha de seis anos no poder antes da derrocada de Bolsonaro. Temer, que fazia parte da bagunçada aliança com Dilma Rousseff, apoiou a conspiração que desalojou a presidente do poder, e tratou de construir com articulações direitistas sua pinguela (como dizia FHC) para o futuro –só que um futuro do passado obscuro, que ainda projeta suas sombras sobre a política nacional.

Embora sobrem diagnósticos de que a sociedade brasileira é conservadora e majoritariamente de direita, o fato é que essa hegemonia não tem-se traduzido no empoderamento de projetos políticos vitoriosos com vistas à Presidência.

No plano federal é o Congresso Nacional que mais tem conseguido expressar essa faixa do espectro ideológico, mas de maneira muitas vezes oportunista, gastadora e irresponsável.

SEM TUCANOS – Fernando Henrique Cardoso e o PSDB representaram momentos virtuosos da centro-direita, mas de lá para cá, nada. A carona no extremismo bolsonarista repetiu em outra fase histórica uma tardia aliança dos tempos da ditadura.

Não por acaso, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, que seria uma espécie de fiador dessa adesão à nostalgia de 1964, mal disfarçava sua admiração pelo Chile de Pinochet –que acompanhava sua perversa visão anti-pobre.

Agora, a moda nos salões, além do café, do azeite e do carro elétrico, é a “direita civilizada”. Menos mal. Resta saber o que vai sair daí.

TARCÍSIO DESPONTA – Por ora o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ainda em processo de remodelagem da sua argila bolsonarista, destaca-se como nome mais badalado.

Lula, no entanto, está vivo e até poderá renovar o fôlego a depender da queda de braço do ajuste fiscal em curso. Mesmo que o clima melhore, Lula tende a não ser o ungido pela grande iniciativa privada.

O antipetismo é muito forte e uma quarta gestão, com o pretendente já chegando aos 80, não é tida como a melhor opção.

OUTROS FATORES – Tarcísio, de fato, reúne condições favoráveis a uma candidatura, mas, como já se ponderou, dependerá de outros fatores, em especial de como a continuidade do atual governo se apresentará em 2026, seja com a proposta de uma reeleição ou com outro nome.

Há ainda a considerar uma dose de imponderável. O surgimento de um candidato tipo raio em céu azul, como Pablo Marçal na eleição paulistana, não pode ser descartado.

É certo que o eixo político, como escreveu Christian Lynch nesta Folha, desloca-se para a centro-direita sob um presidencialismo de coalização fraco. Não é condição suficiente, porém, para garantir uma conquista presidencial.

No almoço com banqueiros, Haddad respondeu perguntas indigestas

Pacote de corte de gastos deve ser anunciado nesta semana, diz Haddad |  Agência Brasil

Haddad se livrou dos jornalistas saindo pela porta da cozinha

Alexa Salomão
Folha

Frustraram-se os jornalistas que chegaram na hora ao almoço anual da Febraban para pegar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já na entrada. O tempo passava, e ele não aparecia. Descobriu-se, depois: chegara antes da hora.

O gesto poderia ser visto como ansiedade. O ministro iria se encontrar com a banca financeira nacional, e a cotação do dólar no mercado à vista já havia ido a R$ 6,11, outro recorde constrangedor pós-anúncio do pacote de corte de gastos. A interpretação da performance no evento, porém, foi outra: de que Haddad aproveitou, do jeito certo, uma boa oportunidade.

PERGUNTAS PESADAS – Em vez de fazer o tradicional monólogo que marca esse tipo de encontro, o ministro foi entrevistado pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney, e pelo diretor de comunicação da entidade, João Borges. A dupla perguntou o que todo mundo na plateia tinha vontade. Não aliviou. A entidade jura que as perguntas não foram combinadas.

Para o leitor entender o nível de clareza da conversa, Sidney chegou a lembrar Haddad de que se o presidente Lula prometeu, durante a campanha, ampliar a faixa de isenção do IR, também prometeu equilíbrio fiscal.

Haddad deu todo tipo de explicações. Reforçou o seu empenho pelo corte de gastos. Falou de como é árduo contornar despesas herdadas de outros governos. Sinalizou que pode trazer outras medidas para aprimorar o ajuste fiscal. Nas entrelinhas, uns viram desabafo; outros, pedido de desculpas.

BODE DO CÂMBIO -O dólar cedeu depois de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado, garantirem que não haverá votação sobre o aumento da faixa de isenção do IR neste ano (lida no mercado como ‘enterraram o bode’).

Ainda assim, não foram poucos na plateia a afirmarem que a boa vontade do ministro deu uma contribuição à queda da moeda americana. O fato é que rolou uma empatia pelo sufoco que Haddad revelou estar passando em defesa do equilíbrio das contas públicas.

Isso não quer dizer que o dólar vai voltar para onde estava antes da confusão. Agora, é monitorar o andamento do que foi apresentado, e ver se vem mais coisas, como Haddad sugeriu.