Lula não precisaria cortar gastos se tivesse mantido teto, diz Meirelles

Meirelles diz que apoio a Lula vem da confiança de que ele pode mudar  fiscal | Exame

Meirelles volta a defender o teto de gastos que criou

Andreza Matais
do UOL

Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, disse à coluna que, se o governo Lula tivesse mantido o teto de gastos, não estaria na iminência de uma crise fiscal, com a necessidade de medidas para controle de gastos. … – Meirelles está em Lisboa, participando de um evento econômico da Lide e do UOL.

A regra foi criada no governo Michel Temer e substituída no governo Lula pelo arcabouço fiscal. Os petistas diziam que o teto de gastos limitava a capacidade do Estado de investir em áreas essenciais, como saúde, educação e infraestrutura.

REGRAS RÍGIDAS -O teto estabelecia regras mais rígidas para o controle das despesas públicas, que não podiam crescer acima da inflação do ano anterior. O arcabouço é mais flexível e atrela o aumento de despesa ao da arrecadação.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem alertado o governo de que, sem um pacote de medidas para conter os gastos, o país pode comprometer a sustentabilidade das finanças públicas.

Haddad repete o discurso há três semanas, sem apresentar as medidas. O PT divulgou nota criticando um pacote que ainda não existe. Toda essa especulação tem afetado a economia, com o dólar chegando a R$ 6,00.

ECONOMIA PIORA – A discussão pública dentro do governo é alvo de crítica entre empresários e políticos. “A economia está bem, mas quando o governo fala ela piora”, observou o ex-senador e ex-ministro Romero Jucá.

O presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse no evento do Lide/UOL que “há uma trajetória fiscal que não é sustentável” celeridade nessa discussão.

“O Brasil vivencia um paradoxo. A gente tem dados correntes da economia excelentes, como PIB, varejo e consumo, mas, por outro lado, temos questões estruturais no campo das finanças públicas, sem as quais é difícil alcançar o crescimento. Há uma trajetória fiscal que não é sustentável. É preciso um bom ambiente de negócios, que depende de um ambiente macroeconômico estável. A direção do Brasil está correta, mas precisamos imprimir um ritmo mais forte na contenção dos gastos públicos”, avaliou, no debate em Lisboa.

O efeito das gafes de Janja que mais irritou o entorno de Lula

Lula assume presidência temporária do G20 - 10/09/2023 - Mundo - Folha

No G20 de Lula, foi Janja quem conquistou as manchetes

Malu Gaspar
O Globo

O que mais irritou o entorno de Lula sobre as gafes em sequência de Janja na programação social do G20 não foi propriamente a repercussão do “fuck you, Elon Musk” na política internacional. Embora a provocação da primeira-dama seja vista como um problema em potencial para a diplomacia, fontes próximas ao presidente afirmam que é possível contornar o estrago nas relações entre os dois países.

O que frustrou o Palácio do Planalto foi o fato de que as falas de Janja ofuscaram o ato final do evento, programado para gerar manchetes positivas sobre o legado da presidência brasileira do G20.

De acordo com esses interlocutores do presidente, todo o evento – a primeira programação paralela a um evento do G20 destinada a organizações sociais – foi pensado para reforçar o discurso de Lula sobre o combate a fome e à desigualdade.

NAS MANCHETES – Justamente no dia em que os movimentos sociais entregaram ao presidente uma carta com propostas para os chefes de estado que se reúnem a partir desta segunda-feira (18) no Rio de Janeiro, as principais manchetes sobre o G20 social no Brasil e no exterior são relacionadas a Janja.

A declaração causou tanto desconforto interno que até Lula a corrigiu em público, ao dizer, no evento em que recebeu a carta, que “não temos que xingar ninguém”. A atitude de Lula, que nunca tinha feito nenhum reparo público a Janja – e internamente também sempre se recusou a aceitar críticas a ela – surpreendeu alguns assessores.

As falas de Janja ocorreram neste sábado (16), durante um painel sobre desinformação com o influencer Felipe Neto e outros debatedores. A primeira-dama não participava da discussão no palco, mas pediu o microfone da plateia para falar.

SEIS MINUTOS – Numa fala de apenas seis minutos, ela xingou o dono do X e futuro secretário do governo de Donald Trump sem razão aparente, referiu-se ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes como “um grande parceiro na questão das fake news” e chamou de “bestão” o homem-bomba que fez um atentado contra o STF e depois se matou.

Na sexta-feira (15), em outro painel, ela já tinha dado uma bronca em uma pessoa da plateia que chamou de Janjapalooza o festival de música que ocorreu durante o evento do G20.

“Não, filha, é aliança global contra a fome e a pobreza, vamos ver se consegue entender a mensagem, tá?”, respondeu ela do microfone.

Estou preparado para fazer 80 anos construindo um legado bem positivo

Em Manaus, movimento indígena alerta a ONU sobre a negociação dos direitos dos povos primitivos - Blog Pedrinho Aguiar

Limongi com Carla, uma das filhas, e a neta Manuela

Vicente Limongi Netto

Próximo dia 21, quinta-feira, abrirei a porta para saudar meus 80 anos de idade e 54 anos de casado com a guerreira amada, Wrilene. Olhando pelo retrovisor da alma, percebo que acertei mais do que errei.  Sou feliz porque tenho família unida e amigos leais e dedicados. Não abro mão deles. O verdadeiro amigo é aquele que critica e elogia. Mas não bajula.

Tenho alegria de viver. Acordo feliz. Alinhado com esperança e otimismo.  Não me desespero diante dos obstáculos. Aprendi a enfrentar as dificuldades com destemor.

MUITA FÉ – Tenho Deus e Maria no coração. Aplaudo e incentivo talentos.  Apartidário, diferencio, sem temor, o bom do errado. O correto do hipócrita. O bom combatente do venal e covarde. Desprezo aproveitadores, dissimulados e oportunistas.

Dentro dos meus limites, faço questão de ajudar quem precisa. A fome, a miséria, a insegurança e o desemprego humilham e envergonham. Minhas convicções são inabaláveis. Tenho credibilidade e isenção para elogiar e criticar quem mereça.

Peço desculpas diante dos desatinos. Não me tira pedaços. Permaneço íntegro e digno. Com a autocritica em dia. Admitir erros engrandece a alma.

NOVO HOSPITAL – A pedido do presidente da Confederação Nacional do Comércio e do Sistema S (Sesc-Senac), Roberto Tadros, o presidente do Sistema Fecomércio do Distrito Federal, José Aparecido Freire, entregou à governadora em exercício, Celina Leão, um livro com detalhes do futuro  hospital da CNC, já em construção, em Brasilia, com conclusão prevista para setembro de 2026.

Serão dois prédios interligados para atender às necessidades de diversas modulações hospitalares. A obra fica na 613 Sul, e já movimenta, com entusiasmo, a construção civil de Brasília.

Qual a importância em olhar o adolescente numa perspectiva histórica?

Adolescentes se sentem mais felizes quando estão sem redes sociais, diz  pesquisa

Na História da Humanidade, adolescência é coisa recente

Luiz Felipe Pondé
Folha

Sempre existiram adolescentes? De certa forma, não. Fisiologicamente, provavelmente, sim. Assim como provavelmente sempre existiu menopausa, apesar de muitas mulheres morrerem antes da idade da menopausa. Fome, guerras, estupros, pestes.

Qual a importância em olhar o adolescente em perspectiva histórica? Como sempre, quando se trata de olhar um fenômeno na perspectiva histórica, o que está em jogo é a desnaturação, isto é, parar de achar que a condição adolescente seja natural como uma pedra.

UMA COMMODITY – Claro que hoje existe uma “ciência do adolescente”, que vai da medicina à psicologia, da sociologia a antropologia, da política ao marketing. Mas isso nada significa em termos de afirmar consistentemente que o adolescente seja um fato tão natural quanto uma pedra. Ainda mais em pleno século 21, quando uma ciência implica um mercado. O adolescente, hoje, é uma commodity.

Como prova do profundo caráter histórico —e social— do fenômeno, basta ver como o adolescente hoje pode ter até 40 anos de idade. Adultos regredidos, figura típica do século 21, são adolescentes tardios, diriam os especialistas.

Eu acrescentaria: são prova incontestável de que, apesar de existirem fenômenos fisiológicos no corpo dito adolescente, há um elemento comportamental de base social e histórica que transcende a tal fisiologia.

ALGUMAS QUESTÕES – Para pensar a partir de uma perspectiva histórica concreta — e não se perder em conceitos complexos do tipo “como era a sociedade do neolítico ou da Idade Média”— pergunte algumas questões como as que listo abaixo.

Sem fuga – Teria o adolescente na Idade Média um quarto onde ele pudesse se esconder para ficar ouvindo música, remoendo “daddy issues”? Evidentemente que não. Poderia ele “fugir” para qualquer canto “dele”, distante da opressão dos pais ou da sociedade? Evidentemente que não. Um dos riscos seria morrer de fome.

Sem folga – Pessoas, digamos, com 15 anos de idade —que nem sabiam em absoluto que tinham 15 anos de idade e que, portanto, “cientificamente” seriam adolescentes, e, por consequência, seria esperado que entrassem em conflito com “a sociedade”— trabalhavam duro de Sol a Sol para não morrer de fome, de frio —na dependência de que região do globo viviam— ou seriam assassinados a qualquer momento. Meninos poderiam já estar guerreando, e meninas grávidas aos montes.

Sem acolhida – Seus pais não poderiam garantir acolhida a surtos ditos adolescentes em busca de si mesmos. Não teriam como escolher suas roupas ou exigir o direito de ter “suas próprias ideias acerca de como se deve viver”. Enfim, o adolescente é uma criação histórica e social tanto quanto a roda, o trem, o avião.

Condições materiais – Existiria algum especialista que interpretaria suas “necessidades psicológicas”? Evidentemente que não.

Claro que podemos arriscar dizer que o adolescente exige certas condições materiais para se manifestar enquanto adolescente no mundo real e, por isso mesmo, sem essas condições, ele deixaria de existir.

Uma consequência da aceitação de que um fenômeno seja histórico é a consciência de que o desaparecimento das condições sociais, políticas e econômicas —as tais condições materiais— que o trouxeram à realidade o faria também desaparecer, muito possivelmente.

FIM DA ADOLESCÊNCIA – Portanto, uma catástrofe de dimensões gigantescas pode, simplesmente, fazer desaparecer da face da Terra os adolescentes num curto espaço de tempo.

Assim como, em muitos lugares do mundo, eles nunca existiram, talvez apenas como o sujeito de um ritual de passagem rápido, muito mais curto do que a chamada adolescência, e, evidentemente, sem nenhuma chance de fazer escolhas, crises com os pais, ou direitos de serem exigentes.

Sem quartos pessoais, escolas com psicólogas preocupadas em não perder o aluno para o concorrente em épocas de baixíssima natalidade, sem redes sociais, sem música, sem educação formal que leve anos, sem profissões que exigem formação anterior e cara, sem tempo livre, sem férias, sem incontáveis livros ensinando como ter um filho adolescente que será empreendedor e feliz, o adolescente desaparecia do mapa.

LONGA DURAÇÃO – Levando o argumento ao seu plano mais duro —uma redução ao absurdo, como se diz em filosofia—, poderíamos arriscar dizer que o adolescente é uma moda, até a agora, de longa duração.

Mesmo assim, se olharmos de um ponto de vista em que a espécie se veja na duração dos seus, digamos, 200 mil anos, essa moda vista agora como de longa duração não passaria de um piscar de olhos no oceano do tempo indiferenciado.

É sempre bom pensar em nós mesmos de um ponto vista pré-histórico. Isso evita que pareçamos tão ridículos.

Insulto gratuito de Janja a Musk enfraquece diplomacia brasileira

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja

Se Lula não mantiver Janja calada, vai virar uma nova Dilma

José Manuel Diogo
Folha

A frase tem impacto, não há dúvida. Um “fuck you” dito pela primeira-dama do Brasil a Elon Musk num evento internacional ressoa como um trovão. Mas impacto e estratégia não são a mesma coisa. E, talvez por isso mesmo, Janja não devia ter mandado Musk se foder.

Primeiramente, porque a frase transformou o debate em espetáculo. O tema —a desinformação e a irresponsabilidade das plataformas digitais— era sério e urgente. Mas o “fuck you” desviou os holofotes para o estilo, não para o conteúdo.

DUELO PESSOAL – Em vez de usar Musk como símbolo da falta de regulação no mundo digital, Janja transformou a discussão num duelo pessoal. O resultado? Musk reagiu com sarcasmo: “Vão perder a próxima eleição.” E a narrativa saiu do controle.

Segundo: a frase enfraqueceu a posição do Brasil. Num mundo em que a diplomacia é uma dança cuidadosa, usar o insulto como ferramenta política não ajuda a construir pontes ou a influenciar decisões. Ao contrário, reforça estereótipos de impulsividade e dificulta o trabalho de quem tenta posicionar o país como voz relevante no cenário global.

Por fim, a força de uma liderança está em não descer ao nível do adversário. Musk é mestre em provocar e transformar qualquer oposição em espetáculo. Responder no mesmo tom não é enfrentá-lo, é capitular.

EXEMPLO OPOSTO – Quando Lula venceu Bolsonaro, não foi imitando o grito, mas oferecendo uma alternativa de diálogo e reconciliação. O episódio de Janja mostra o oposto: ceder ao impulso e abandonar o terreno ético e estratégico que diferencia o debate político da briga de rua.

Janja não precisava ter mandado Musk se foder. Ela podia ter usado o momento para expor as falhas de sua atuação, apontar a urgência da regulamentação digital e destacar o papel do Brasil nesse debate global.

Uma frase firme, mas sem insulto, teria sido muito mais poderosa. Porque, no fim das contas, para ganhar deles, nunca podemos ser iguais a eles.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGComo diria o senador Romário, dona Janja da Silva, calada, é uma poetisa. (C.N.)

Trump ergueu um partido nacional e populista, realmente muito eficaz

A imagem mostra um homem com cabelo loiro e um boné preto que diz 'MAKE AMERICA GREAT AGAIN'. Ele está de perfil, olhando para um painel de vidro que reflete sua imagem. O fundo é claro, sugerindo um ambiente ao ar livre

Agora, Trump precisa encontrar um sucessor para 2028

Demétrio Magnoli
Folha

No 6 de janeiro de 2021, o vice de Trump, Mike Pence, cumpriu seu dever e, contrariando o desejo golpista do presidente, certificou a vitória de Biden. Logo mais, no próximo 6/1, Kamala Harris, a vice derrotada, certificará sem rodeios a vitória de Trump. Nesse ato, ganha nova luz o 6/1 de 2017, quando Biden, então vice de Obama, certificou a primeira vitória de Trump.

Até dias atrás, descreveu-se Trump como um desvio passageiro, um breve interlúdio na história dos EUA. Hoje, é mais apropriado interpretar a presidência de Biden como hiato efêmero na era inaugurada pela surpreendente derrota de Hillary Clinton. Há quatro anos, Biden triunfou graças à epidemia de Covid-19. Mas, desde 2016, rompeu-se a tradição política inaugurada por Franklin Roosevelt e atualizada no imediato pós-Guerra Fria.

MUITA MUDANÇA – As tecnologias da informação e a globalização provocaram uma profunda cisão no mundo do trabalho. Em busca de custos de produção menores na Ásia ou no México, a indústria tradicional lançou-se à aventura da relocalização.

Enquanto isso, floresceram nos EUA os clusters da economia digital, apoiados em vastos fundos de capital de risco. A economia americana bifurcou-se, intensificando o contraste entre detentores de diploma superior e os que só completaram o ensino médio. Daí surgiu um novo cenário político: o palco para a ascensão de Trump.

NOVA REALIDADE – O advento da economia digital e a desindustrialização dissolveram a coalizão de trabalhadores sindicalizados, negros e hispânicos que sustentava o Partido Democrata.

Os democratas converteram-se no partido da classe média cosmopolita das grandes cidades, que enxerga a política pelas lentes da crise ambiental, dos direitos reprodutivos femininos e, no caso dos setores militantes, também da bíblia identitária escrita nas universidades.

Trump identificou, nessa mutação, a oportunidade para refundar o Partido Republicano. Seu movimento, o Maga (Make America Great Again), destruiu o antigo partido liberal-conservador que representava as corporações empresariais.

POLÍTICA PRÁTICA – No lugar dele, ergueu de fora para dentro um partido nacional-populista que oferece uma interpretação política para as inseguranças econômicas dos órfãos da economia tradicional.

A base social do Maga não vive no mundo dos bytes, mas no dos combustíveis fósseis. Almeja a restauração de uma segurança econômica básica. Não se interessa pela “política do corpo”, mas pelo preço dos alimentos e das hipotecas. Rejeita a ideia de “reparações históricas” para minorias.

Na ausência de um argumento democrata consistente, compra a lenda de Trump sobre a “invasão de imigrantes” que colocaria em risco os empregos e a renda do povo comum.

EM EXPANSÃO – O partido nacional-populista não mais se circunscreve à baixa classe média branca das cidades do interior e dos campos de milho. O voto hispânico, bastião democrata no passado recente, move-se rumo ao Partido Republicano –e fenômeno semelhante, em escala menor, verifica-se na fortaleza democrata do eleitorado negro. De certa forma, o Maga é inclusivo.

Milhões de eleitores de Trump votaram, antes, em Barack Obama. Os democratas podem escolher o álibi conveniente de classificá-los como uma massa de “deploráveis”: racistas, fascistas ou misóginos. É o caminho mais curto para colher derrotas eleitorais em série.

Ofensa a Musk vira munição bolsonarista e prejudica o G20

Janja xinga Elon Musk em evento do G20

Janja se julga uma superstar e a vaidade não cabe em si

Marianna Holanda e Patrícia Campos Mello
Folha

O xingamento da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, ao empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), virou munição para o bolsonarismo nas redes sociais. Jair Bolsonaro (PL), que já chegou a falar em “pólvora” para criticar o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante o seu governo, disse após o episódio: “Já temos mais um problema diplomático”.

Aliados do ex-presidente ecoaram o discurso, e a primeira-dama chegou aos trending topics no X com menções depreciativas e machistas.

O insulto de Janja, noticiado pela Folha, foi durante painel do G20 Social, organizado pelo governo para fazer uma ponte entre temas tratados pelo grupo e a sociedade civil.

DISSE JANJA – A primeira-dama discursava sobre a regulamentação das plataformas quando houve uma interferência em sua fala. Em tom de brincadeira, ela disse: “Acho que é o Elon Musk”. Em seguida, emendou: “Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”.

Horas depois, Lula disse, sem menção direta ao episódio, que “não temos que xingar ninguém”.

“Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém. Nós precisamos apenas indignar a sociedade”, disse o petista no festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.

CRÍTICA ANTERIOR – Em agosto passado, no auge da crise entre Musk e o STF (Supremo Tribunal Federal) em que o bilionário se recusava a respeitar ordens judiciais, Lula havia dito que o empresário estava sujeito às leis do país e completou: “Ele [Musk] não pode ficar ofendendo. (…) Ele pensa que é o quê? Ele tem que respeitar a decisão da Suprema Corte brasileira.”

No governo, a declaração da primeira-dama gerou desconforto e dor de cabeça para diplomatas, muitos deles reunidos no G20, encontro das maiores potências mundiais, sediado nesta edição no Rio de Janeiro.

Reservadamente, eles e integrantes da Esplanada disseram que o xingamento pode atrapalhar as tentativas do governo de estabelecer uma relação pragmática com Donald Trump.

CARGO NO GOVERNO – O presidente eleito dos Estados Unidos já indicou Musk para integrar sua gestão, no cargo de chefe do novo Departamento de Eficiência Governamental.

Desde a eleição do republicano, no início do mês, Lula tem sido cuidadoso em suas declarações a respeito. Ele sempre buscou dizer que era uma prerrogativa da população americana eleger quem achasse melhor e que ele se relacionaria, enquanto chefe de Estado, com quem ganhasse o pleito no país.

O tom pragmático vem depois de uma declaração na reta final da campanha em que o petista citou risco de “nazismo com outra cara” para defender a vitória da democrata Kamala Harris e relembrar o 6 de janeiro dos Estados Unidos —data de ataque ao Capitólio por apoiadores de Trump.

ATRITOS COM MILEI – Em outra frente, diplomatas avaliaram que a declaração de Janja também atrapalha a tentativa do governo brasileiro de chegar a consenso no G20 e reduzir atritos com a Argentina, cujo presidente, Javier Milei, também é próximo de Musk.

O país vizinho se opôs, nas negociações da cúpula, a trechos na declaração final sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres —o que também foi criticado por Janja em um discurso no Rio.

Além disso, agora os argentinos abriram uma ofensiva contra a taxação dos super-ricos, bandeira do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e tema caro para o governo brasileiro.

APOIO A JANJA – Integrantes da gestão Lula concordam, reservadamente, com avaliação crítica da primeira-dama que, em seu discurso, defendia a regulamentação das plataformas e o combate à desinformação.

Houve ainda quem, como o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), defendesse a primeira-dama. “A verdade é que a Janja falou o que estava preso nas nossas gargantas. Esse é o sentimento sobre Elon Musk e sua interferência negativa na política internacional”, disse no X.

A avaliação geral, contudo, é que o insulto foi desnecessário ao dar munição ao bolsonarismo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Daqui para a frente, a tendência é de Janja piorar, ao invés de melhorar, em função do excesso de vaidade.  (C.N.)

Aliados de Trump pressionam órgão internacional a agir contra Moraes

Deputada americana exibe a foto de Alexandre de Moraes

Paulo Cappelli e Augusto Tenório
Metrópoles

Congressistas norte-americanos aliados do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciaram uma nova ofensiva contra o ministro Alexandre de Moraes (STF). Quatro lideranças do Partido Republicano enviaram um ofício à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e, empoderados com a mudança na Casa Branca, ameaçaram cortar verba do órgão internacional caso não tome ações contra o magistrado.

A carta endereçada nesta quinta-feira (14/11) é assinada pelos deputados Christopher H. Smith, Maria Elvira Salazar, Darrel Issa e Carlos A. Gimenez.

CONSEQUÊNCIAS – No documento, eles apontam uma “contínua situação no Brasil”, com relação às ações de Moraes sobre a rede social X, o antigo Twitter. Os congressistas dizem que as decisões afetariam “milhares de brasileiros, assim como cidadãos estadunidenses que vivem ou possuem negócios no país, assim como uma companhia americana”.

O documento foi endereçado à presidente da CIDH, Roberta Clarke, e ao relator especial de liberdade de expressão do órgão, Pedro José Vaca Villarreal.

De acordo com os deputados, em maio deste ano eles foram ignorados ao solicitar informações sobre quais ações o subcomitê da CIDH tomou em relação às denúncias de violação à liberdade de expressão.

PIOR SITUAÇÃO – “Desde então, a situação no Brasil piorou consideravelmente, como visto no bloqueio ilegítimo da plataforma X no país, com Alexandre de Moraes declarando sua intenção de cercear o discurso político protegido por leis internacionais de direitos humanos”, diz um trecho da carta. “Apesar de o funcionamento do X ter sido restaurado, isso só aconteceu após as eleições, com a plataforma coagida em compliance”, concluíram os parlamentares sobre a rede social de Elon Musk.

SUPERVISIONAR – No documento, os republicanos, que serão maioria tanto na Câmara quanto no Senado dos EUA a partir do ano que vem, afirmam:

“É nosso dever supervisionar o gasto dos pagadores de impostos, incluindo o desembolsado para a Comissão e o relator especial. Vamos permanecer atentos às suas respostas, elas irão informar nossas futuras ações e postura diante de pedidos orçamentários para esse propósito”.

Em 2023, o governo dos Estados Unidos destinou US$ 7,3 milhões, por meio de um fundo, à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

INFORMAÇÕES – Eles pedem que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o relator especial de liberdade de expressão informem quais ações o órgão tomou para “monitorar e ajudar a terminar essa flagrante conduta”.

Darrel Issa e Maria Elvira Salazar, que assinam a carta à CIDH, protocolaram um projeto que impede a entrada nos EUA de qualquer autoridade estrangeira que “promova censura contra cidadãos americanos”. A proposta foi uma reação ao bloqueio do X pelo STF. “O ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil Alexandre de Moraes é a vanguarda de um ataque internacional à liberdade de expressão contra cidadãos americanos como Elon Musk”, disse Salazar na ocasião.

Pressionado a recuar nos inquéritos que miram Jair Bolsonaro e aliados do ex-presidente, Moraes tem dito que em nada mudará a sua forma de atuar no Supremo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Será uma vergonha o bloqueio dos vistos dos ministros do Supremo, que serão impedidos de ingressar no Estados Unidos, por desrespeitos aos direitos humanos. Agora, com Trump no poder, tudo indica que esse vexame possa mesmo acontecer. (C.N.)

Depois de xingar Musk, Janja cancela sua participação em evento

Rio de Janeiro (RJ) 14/11/2024 – A primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva, na mesa de abertura do G20 Social, no Museu do Amanhã. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Ninguém sabe se ela cancelou ou Lula mandou cancelar

Mariana Haubert e Mateus Maia
Poder360

A primeira-dama Janja Lula da Silva desistiu de participar do Global Citizen Now, evento paralelo ao G20, realizado neste domingo (17.nov.2024) no Rio, depois de ter xingado o bilionário norte-americano Elon Musk no sábado (16.nov.2024).

A declaração repercutiu mal no governo brasileiro e foi criticada pela oposição. Janja seria uma das palestrantes no evento, organizado pelo governo brasileiro em parceria com a presidência do G20 e a Global Citizen, uma organização internacional de educação e defesa do combate à pobreza extrema e em prol da justiça social.

A primeira-dama participaria de um painel com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, e líderes do setor privado. O Poder360 procurou a assessoria da primeira-dama, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para eventual manifestação.

ENTENDA O CASO –  A primeira-dama Janja Lula da Silva disse neste sábado (16.nov.2024) que não tem medo do dono do X (ex-Twitter), o bilionário sul-africano Elon Musk, e mandou ele “se foder”, em inglês. A fala se deu durante o  Cria G20, um hub de produtores de conteúdo que integra a programação paralela da Cúpula.

A fala da primeira-dama foi improvisada. Ela estava na plateia enquanto painelistas, dentre eles o influenciador Felipe Neto, discutiam o tema. Segundo ela, esse era uma dos painéis mais importantes do evento. Janja também defendeu a regulamentação das redes sociais.

“Se não fizermos essa discussão de forma global, nós não vamos conseguir vencer. Não adianta a gente ter leis no Brasil –e que tá difícil de acontecer, a gente sabe dos empecilhos –se a gente não discutir essa questão de forma global. […] Não adianta nada fazer isso e os EUA chegar e ‘não vamos fazer’”, afirmou.

Sob Milei, Argentina critica termos e se afasta de consensos no G20

Autodefinição poética de Décio Pignatari, sempre criativo e revolucionário

G1 - Poeta Décio Pignatari morre aos 85 anos em São Paulo - notícias em Pop & Arte

Pignatari, um poeta surpreendente

Paulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, ator, professor, tradutor, ensaísta e poeta paulista Décio Pignatari (1927-2012) autodefiniu-se nos versos de seu “Eupoema”.

Décio Pignatari<br/>Beba Coca-Cola, 1957 - Disciplina - Arte###
EUPOEMA

Décio Pignatari

O lugar onde eu nasci nasceu-me
num interstício de marfim,
entre a clareza do início
e a celeuma do fim.

Eu jamais soube ler: meu olhar
de errata a penas deslinda as feias
fauces dos grifos e se refrata:
onde se lê leia-se.

Eu não sou quem escreve,
mas sim o que escrevo:
Algures Alguém
são ecos do enlevo.

Discurso do ódio de “Lady Janja” contra Musk trará problemas

Janja: um dos hackers faz músicas com discurso de ódio, misóginas e  racistas | Revista Fórum

“Você acha mesmo que exagerei?”, pergunta Janja a Lula

José Fucs
Estadão

Ao mandar o empresário americano Elon Musk “se fuder” em público, num evento internacional que o Brasil hospeda, a sra. Janja da Silva, mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mostrou ao mundo, mais que tudo, que é uma “lady”, com a “delicadeza” e a “educação” que só se julgavam possíveis de encontrar na “esgotosfera” da política nacional.

Para quem não a conhecia lá fora, a baixaria da sra. Janja deixou claro que ela é uma primeira-dama “como nunca se viu na história desse País”, como diria Lula, e quiçá do planeta, uma primeira-dama que ninguém ou quase ninguém imaginaria existir, nem aqui nem alhures.

LIVRE PARA PENSAR – É certo que a sra. Janja da Silva, que já estava sob os holofotes nos últimos dias com o seu “Janjapalooza”, o festival de música que ela produziu com patrocínios milionários de estatais graças ao apoio do maridão, pode pensar o que quiser sobre Elon Musk ou quem quer que seja. Mesmo que a censura que ela defende para as redes sociais, como o X, de Musk, seja realmente instituída numa canetada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), como parece que será o caso, seu pensamento ainda estará livre para voar.

Ao menos por enquanto, pelo que se sabe, a Polícia do Pensamento de que falava o escritor George Orwell em 1984, sua obra imortal, ainda não está no radar do ministro Alexandre de Moraes e de seus colegas da Corte.

Obviamente, entre quatro paredes, a sra. Janja também pode compartilhar suas opiniões, se quiser, com Lula e seus “companheiros” e “companheiras”, da forma como achar mais conveniente, sem grandes contraindicações, se não houver ninguém gravando suas falas com o celular.

ALGO INACEITÁVEL – Agora, proferir palavrões e xingamentos em público, da forma como ela o fez, independentemente de a quem eles se dirigiam, e num evento do porte do que o Brasil está abrigando, é algo totalmente inaceitável, ainda mais quando vindos de uma figura com a sua visibilidade e na sua posição.

Que a sra. Janja – que deveria ser um exemplo para os brasileiros de bem, especialmente para os mais jovens, que buscam um modelo no qual se espelhar – tenha se sentido livre para dizer o que disse, revela muito sobre o nível de barbárie a que chegamos no Brasil de hoje.

Como a manifestação de grosseria explícita da primeira-dama ilustra com perfeição, estamos longe, muito longe, de ser o tal “povo cordial” do qual o ministro Luís Roberto Barroso afirma sentir saudades – e o problema, como se pode observar, começa lá de cima, nos círculos mais altos da República, bem distante das redes sociais que eles querem “regular”, para conter a disseminação do que chamam de “discurso de ódio” e “desinformação”.

OFENSAS GRATUITAS – O pior de tudo, porém, é que os impropérios da sra. Janja, proferidos de forma gratuita contra Musk, ainda tiveram o agravante de ter sido dirigidos a um dos principais integrantes e assessores do novo governo de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo, criando um incidente diplomático totalmente descabido, cujos desdobramentos só o tempo vai revelar quais serão.

E, como se isso não bastasse, a manifestação da sra. Janja da Silva ocorreu durante um debate no qual ela estava à mesa, ao lado do influenciador Felipe Neto, hoje uma das principais vozes de apoio ao governo Lula nas redes sociais, em que se discutia justamente o “discurso de ódio” no mundo digital.

O xingamento de Elon Musk nesse contexto pela sra. Janja – defensora intransigente da “regulação” das redes, assim como Felipe Neto – só reforça a percepção de boa parte da sociedade de que a “tolerância” pregada pela esquerda no País não passa, na verdade, de uma forma de restringir o direito à livre expressão de seus adversários políticos à direita.

ÓDIO DO BEM – Para os integrantes e apoiadores do “governo do amor”, esse discurso de “ódio do bem”, como o da sra. Janja da Silva, está liberado.

Pode se manifestar até num evento internacional como o G-20 Social, que antecede a reunião do G-20, o grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana, a ser realizada no Rio de Janeiro a partir desta segunda-feira, 18, com a presença dos principais líderes políticos globais.

Para essa turma, o que deve ser coibido nas redes ou fora delas é só o “discurso de ódio” dos outros – dos “fascistas”, dos “nazistas”, como eles dizem, e de todos os que, no fim das contas, pensam diferente deles.

Centrão quer recauchutar imagem para ser decisivo em 2026

Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge: Centrão

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Vera Rosa
Estadão

“A direita só pensa em falar de impeachment, de aborto e de outras coisas que não dizem respeito à vida do cidadão. Estou cansado disso.” A frase cairia bem na boca de qualquer político de esquerda. Ao contrário do que se imagina, porém, é de autoria do senador Ciro Nogueira, presidente do PP, o partido de Arthur Lira, expoente do Centrão que está prestes a deixar o comando da Câmara.

Em julho de 2021, Ciro assumiu a Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro dizendo que atuaria como um “amortecedor” para evitar trepidações no governo. Passados três anos e quatro meses, o senador afirma agora que não pode ser um “acelerador” de crises.

PERDENDO TEMPO – “Sou de centro-direita e não tenho a menor identidade com essas questões de armas nem com a pauta de costumes. Não vou ficar mais perdendo tempo com esses extremos”, disse o senador, em conversa com a Coluna.

“O Brasil precisa de menos ideologia e mais dia a dia. O Trump não ganhou porque foi contra o aborto, mas, sim, porque a vida das pessoas não melhorou nos últimos anos”, emendou ele, numa referência à vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.

Como se vê, após o resultado das urnas, lá e aqui, há um novo Centrão na praça. No Brasil, seus integrantes querem se desvencilhar do elo com a extrema direita e disputam espaço para definir não apenas quem será o herdeiro dos votos de Bolsonaro, em 2026, como também os rumos da oposição.

LÁ E CÁ – Enquanto a direita faz movimentos para se descolar do “bolsonarismo raiz”, correntes do PT brigam para dar as cartas na segunda metade do governo comandado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Uma ala do partido prega uma guinada ao centro, a partir de 2025, mas outra acha que a salvação é virar à esquerda, mesmo se for para tirar de cena o arcabouço fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Nós não podemos fazer corte de gastos em cima dos mais pobres”, afirma a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, repetindo palavras de Lula.

ÚLTIMA PALAVRA – É o próprio presidente, aliás, quem estimula essa queda de braço de petistas com Haddad e lança desafios na direção do tal “mercado”, a quem promete vencer. Na prática, Lula sempre teve o hábito de incentivar conflitos na equipe para depois dar a última palavra.

Do outro lado, apesar do discurso de Bolsonaro de que conseguirá derrubar a inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para concorrer em 2026, poucos aliados acreditam nisso.

É nesse cenário que desponta o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como um dos candidatos ao espólio de Bolsonaro. Mas os movimentos de Tarcísio, que fez campanha no interior paulista contra candidatos do PP, irritaram Ciro, principalmente porque essas ações deram musculatura ao PSD de Gilberto Kassab.

UNIÃO NO CONGRESSO – Apesar da rota de colisão nos objetivos, Bolsonaro, Ciro e o PT estão unidos no apoio a Motta e a Davi Alcolumbre (União Brasil), candidato à presidência do Senado.

 “O PL está quase como zumbi no Senado, com todo respeito à nossa bancada. Não temos espaço na Mesa Diretora nem em comissões”, reclamou o ex-presidente Bolsonaro.

Não é de hoje, porém, que fantasmas sobrevoam o Congresso e zumbis aparecem por lá. Aliás, o que mais se diz em Brasília é que forças ocultas agem por toda parte, na Praça dos Três Poderes. Com ou sem harmonização facial.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Essa estranha união no Congresso é vital para aprovar a anistia a Bolsonaro, que se tornou a meta número 1 de Lula e do PT, para tirar Tarcísio de Freitas da disputa presidencial em 2026. (C.N.)

Com volta de Trump, o gato subiu no telhado da transição energética

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As maiores potências precisam se definir de imediato

Jerson Kelman
Folha

A China é responsável por cerca de 35% das emissões globais de GEE (Gases de Efeito Estufa), devido principalmente ao uso do carvão, atualmente superior a 4 bilhões de toneladas por ano. E o carvão é o combustível com maior teor de carbono, duas vezes mais intensivo em CO2 do que o gás natural.

O governo chinês tem encarado o desafio de diminuir esse “protagonismo energético negativo” como uma oportunidade econômica. Usa cada vez mais as fontes renováveis para gerar energia e armazená-la em baterias e usinas hidráulicas reversíveis.

GANHO EM DOBRO – No processo, alavanca o parque industrial para atendimento tanto à demanda interna quanto à externa. Assim, consegue combinar o politicamente correto —atenuar a emissão de GEE— com o desenvolvimento do país.

A consultora Thunder Said Energy fez uma avaliação do esforço que seria necessário para que a China reduzisse significativamente a emissão de GEE até 2050, considerando os ganhos de eficiência, o crescimento populacional e do PIB e a participação final de diferentes fontes de geração.

Utilizando previsões do Banco Mundial, a consultora assumiu que a população chinesa diminuirá suavemente do atual 1,4 bilhão para 1,2 bilhão em 2050 e que o PIB per capita em 2050 estará no mesmo nível da Europa e do Japão hoje, porém 50% abaixo dos EUA.

MAIOR DEMANDA – Com essas hipóteses, a consultora prevê que a demanda total de energia da China será 50% maior que a atual, o que coincide com sua própria previsão para a demanda global.

Assim, será preciso aumentar a eletrificação e a produção de energia renovável num ritmo alucinante: a geração solar, 10 vezes, a eólica, 3,5 vezes, a nuclear, 3,7 vezes, e a demanda por gás natural, 4 vezes —o equivalente a 200% do mercado global total de GNL (Gás Natural Liquefeito) hoje.

A demanda por petróleo deverá ainda subir, com queda gradual só a partir de 2030, para chegar a 12 milhões de barris por dia em 2050. Isso supondo eletrificação de 80% do transporte. Mesmo sob hipóteses tão otimistas, não será possível zerar a emissão de CO2 equivalente: a previsão é de redução dos atuais 11 bilhões para 7 bilhões de toneladas por ano em 2050.

AMBIENTE BENIGNO? – Esse estudo supõe um ambiente internacional benigno. Todavia, se o Ocidente continuar criando barreiras ao comércio internacional, provavelmente a China diminuirá o esforço de descarbonização e aumentará o de adaptação às mudanças climáticas.

Diferentemente da China, que atualmente produz e exporta bens para a indústria da transição energética, o Brasil tem desenvolvido uma estratégia industrial baseada no uso de nossa abundante energia renovável para a futura produção e exportação de produtos com baixo conteúdo de carbono.

Porém, é preciso reconhecer que, com a eleição de Trump, o gato subiu no telhado.

RITMO MAIS LENTO – O cenário mais provável é que a transição energética ocorra em ritmo mais lento do que seria necessário para mitigar a emissão de GEE e que prevaleça o “salve-se quem puder”.

Nesse caso, devemos escapar da armadilha de encarecer ainda mais os nossos produtos industriais para consumo interno, sem a contrapartida de aumento das exportações.

E concentrar nossos escassos recursos na construção de infraestrutura resiliente capaz de resistir às mudanças climáticas

Aumentar os preços dos livros é um assunto bem complicado…

Livraria Cultura - Curitiba

As livrarias têm atrativos por serem pontos de lazer

Hélio Schwartsman
Folha

Fixar preço do livro priva consumidor de ser beneficiado pelos ganhos de produtividade de empresas

A Amazon vende livros por preços inferiores aos da concorrência e isso estaria matando pequenas e grandes livrarias. A resposta do mundo político a esse dilema é fazer uma lei que proíbe descontos em livros recém-lançados. Hum, complicado…

POSSIBILIDADES – Se a empresa de Jeff Bezos estiver incorrendo em alguma prática anticoncorrencial fixada em lei, que se solte o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) ou mesmo um Alexandre de Moraes em cima dela. Mas, se vende mais barato por ganhos de escala e de eficiência, acho ruim privar o consumidor de ser beneficiado com isso.

Se o, vá lá, capitalismo fez algo de bom para a humanidade, foi criar uma era de prosperidade material sem precedentes. E fez isso principalmente pela via da redução de preços relativos.

Já comentei aqui o livro “Superabundance”, em que os autores se valem de exaustivas listas de preços de commodities e produtos finais calculados em horas de trabalho necessárias para adquiri-los para mostrar como as sociedades ficaram mais ricas ao longo das últimas décadas.

HABITANTE MÉDIO – Num exercício semelhante, Deirdre McCloskey estima que, ao longo dos últimos dois séculos, o habitante médio do planeta viu sua riqueza multiplicar-se por dez, chegando a 30 nos países desenvolvidos.

Esse habitante médio tem hoje acesso a mais bens e serviços do que os mais ricos monarcas do século 18.

Isso não é mérito do capitalismo, mas do desenvolvimento tecnológico, dirá o leitor atento. É um bom argumento, mas que não faz tanta diferença na prática, se considerarmos que o capitalismo é o sistema que mais incentiva a inovação tecnológica e gerencial.

SÉRIE DE ÔNUS – O capitalismo já impõe uma série de ônus a nosso habitante médio do planeta; seria maldade privá-lo do que de positivo esse sistema econômico lhe proporciona.

Quanto às livrarias, não acho que desaparecerão, ainda que o negócio possa ficar menor.

Ir a uma livraria, vasculhar suas estantes e tomar um café é muito mais agradável do que surfar nas páginas da Amazon. Assim como já ocorre com cinemas e restaurantes, o diferencial a monetizar é o passeio.

Ofensa a Elon Musk prejudica a tentativa de Lula dialogar com Trump

“Fuck you, Elon Musk”, diz Janja em evento do G20; veja vídeo

Janja faz afirmações ofensivas e deixa Lula de saia justa

Felipe Frazão
Estadão

O xingamento proferido pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao bilionário Elon Musk prejudica a tentativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de estabelecer um elo com o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração se choca com a tentativa do Palácio do Planalto de minimizar divergências e abrir canais com o futuro ocupante da Casa Branca, agindo de forma menos ideológica e mais “pragmática”.

Sem razão aparente, Janja ofendeu não apenas um apoiador e financiador de Trump, empresário com negócios no Brasil, mas um futuro integrante do governo norte-americano, indicado por Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, órgão que o republicano pretende criar.

SEM COMENTÁRIO – O Estadão procurou a assessoria da primeira-dama para ouvi-la sobre o caso. A resposta chegou neste domingo. Não haverá qualquer comentário.

Embaixadores brasileiros ficaram constrangidos ao serem indagados sobre o episódio. Por receio de serem retaliados no governo, eles jamais aceitam falar publicamente e mesmo assim são muito cautelosos. “É a nova diplomacia”, ironizou um deles. “Com essas palavras?”, reagiu outro espantado. A definição de um terceiro diplomata: “Contraproducente”.

Um secretário do Itamaraty disse que a eleição de Trump “mudou o mundo como a gente conhece”, chocado com as escolhas de Trump para a montagem de governo e com o impacto que a eleição já tem nas discussões do G-20 e nos fóruns multilaterais. Para ele, todas as reações são compreensíveis, embora não devessem ser verbalizadas.

“FUCK YOU” – Neste sábado, dia 16, Janja participava de uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto sobre combate à desinformação no Cria G-20, um dos eventos paralelos à Cúpula de Líderes, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio.

Ao fim do painel, ela pediu a palavra para destacar a dificuldade de aprovação de leis para regulamentar plataformas de mídias sociais e reforçou seu impacto em tragédias climáticas por causa da disseminação de informações falsas.

Então, sem razão aparente, abaixou-se por causa do que parecia ser um ruído no ambiente onde estava. Ela interrompeu o discurso e disparou: “Acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disse Janja.

DANDO RISADAS – O bilionário reagiu em seu perfil no X momentos depois, indicando por meio da sigla “lol” que estava dando risadas do ocorrido. Ao comentar outro post na plataforma, Musk afirmou que “eles”, em indicação ao governo atual, vão perder as próximas eleições.

Como o Estadão antecipou, a diplomacia brasileira trabalhava em prol de um telefonema entre Trump e Lula. O Planalto não tinha canais de diálogo com Trump e seu entorno, muito ligados ao bolsonarismo. A tarefa coube à embaixada brasileira em Washington, que nos últimos meses cultivou laços com integrantes do Partido Republicano, como congressistas, e assistiu a eventos da campanha de Trump.

A esperança do governo brasileiro era que Lula e Trump pudessem conversar por telefone dentro de semanas após a eleição. O próprio Lula reconheceu rapidamente a vitória de Trump e, numa mensagem pública nas redes sociais, indicou estar aberto ao “diálogo” com o republicano.

BUSCA DE DIÁLOGO – A chave era a montagem do próximo governo trumpista. A partir das indicações, figuras-chave, como o senador Marco Rubio, próximo secretário de Estado dos EUA, deveriam ser buscadas pelo governo Lula.

O maior sinal de reprovação a Janja veio do próprio Lula. Horas depois da fala de sua mulher, ele a desautorizou em público, embora sem fazer uma menção direta a ela. “Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém”, afirmou o presidente, no encerramento do festival de música para promover a Aliança Global Contra a Fome a Pobreza, na zona portuária do Rio.

A série de shows havia sido elaborada pelo governo sob medida para a própria Janja. A primeira-dama irritou-se com o apelido “Janjapalooza” dado ao festival.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Já era esperado esse comportamento de Janja, que faz o possível e o impossível para aparecer. E o pior é que Lula parece não ter ascendência sobre ela, que é por demais voluntariosa. (C.N.)

‘Bestão acabou se matando com fogo de artifício’, diz Janja sobre Tiu França

Felipe Neto sai em defesa de Janja após polêmica com Musk

Além de xingar Musk, Janja ironizou o homem-bomba

Deu no Estadão

Em um evento paralelo ao G-20 neste sábado, 16, a primeira-dama do Brasil, Rosângela da Silva, Janja, fez referência à morte de Tiu França na explosão em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última quarta-feira, 13, afirmando que o “bestão acabou se matando com fogo de artifício”.

A declaração foi feita durante uma mesa de debates com o influenciador Felipe Neto sobre combate à desinformação, e provocou risos entre a plateia. A assessoria da primeira-dama não comentou o assunto.

DISSE JANJA – “O ministro Alexandre de Moraes tem sido um grande parceiro nessa questão das fake news, por mais que seja difícil, ele está enfrentando… E por conta do que aconteceu em Brasília, inacreditavelmente aconteceu em Brasília essa semana, o bestão lá acabou se matando com fogo de artifício”, disse Janja, provocando reações na plateia. “A gente ri, mas é sério gente. Olha só o que faz as redes sociais na mente das pessoas, né?”.

Na quarta-feira, 13, Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiu França, morreu em um atentado com bombas, provocado por ele mesmo, na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), e nas proximidades da Câmara dos Deputados.

Horas antes de morrer, Tiü França, fez publicações nas redes sociais que indicavam pretensões terroristas, além de criticar os chefes dos Três Poderes. Em 2020, ele foi candidato pelo PL a vereador de Rio do Sul, cidade no oeste catarinense.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Dona Janja virou um problema para a República. No mesmo evento deste sábado, a primeira-dama xingou o empresário Elon Musk. “Fuck you, Elon Musk, eu não tenho medo de você”, disse Janja. O presidente Lula ficou furioso, mas nada pode fazer, porque dona Janja tem ascendência sobre ele. A mulher se considera uma superstar e agora ele tem de aturá-la. (C.N.)

Entenda o que acontece com Mauro Cid se a delação for anulada

Tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), prestará novo depoimento à Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 19.

Mauro Cid “esqueceu” fatos importantes na sua delação

Karina Ferreira
Estadão

Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel da ativa do Exército Mauro Cid prestará um novo depoimento para a Polícia Federal (PF) na próxima terça-feira, 19. O oficial militar, entretanto, corre o risco de ter anulada a delação, aceita pela corporação em setembro do ano passado.

Caso isso ocorra, o pedido de anulação ainda precisará ser avaliado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse caso, Cid perderia os benefícios negociados pela colaboração premiada.

FIM DO INQUÉRITO – O conteúdo da delação, porém, não deve ser anulado, e continuará integrando o relatório da investigação, que tem previsão de ser concluído e entregue na próxima semana a Moraes, o relator do caso.

Cid ainda deve responder no Exército porque a delação premiada não exclui as consequências administrativas de seus atos perante a Força, pontua o criminalista Alberto Toron. O advogado avalia que caso a PF descubra fatos que Cid deixou de falar e que eram relevantes, o ex-ajudante pode perder os benefícios da delação.

Para o doutor em direito penal pela USP e coordenador do curso de Direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Marcelo Crespo, uma possível anulação da delação não deve ter uma relação imediata com qualquer função de Cid em razão de ser militar do Exército. O advogado pontua que, além de perder os benefícios conquistados, com o processo criminal retornando a tramitar para as penas anteriormente devidas, nesses casos, o réu também perde a credibilidade.

FALSO TESTEMUNHO – Crespo acrescenta que, caso seja comprovado que Cid mentiu, pode haver também um processo de responsabilização por falso testemunho. O advogado explica que nesse caso o depoimento fica invalidado, mas o conteúdo que se provar verdadeiro e as provas que a PF levantou a partir dele, seguem valendo e podem ser usadas contra ele.

“Se o contrato for quebrado por se entender que ele está mentindo, o processo passa a ser analisado sob a perspectiva de que nem tudo que ele falou é verdade. Então, não é uma questão imediata, porque tem coisas que ele pode ter dito que se confirmem verdadeiras”, diz.

Advogado do tenente-coronel, Cezar Bittencourt foi procurado para comentar o caso, mas não respondeu.

FALHAS E OMISSÕES – Como mostrou o Estadão, o oficial foi intimado para explicar falhas e omissões no que ele contou sobre a articulação de um golpe de Estado durante o governo de Bolsonaro.

Graças a um equipamento israelense chamado Celebritti, a PF descobriu novas informações sobre a tentativa de golpe. O aparelho é capaz de recuperar mensagens apagadas em celulares e em HDs de computadores, e foi usado nos dispositivos de Cid que foram apreendidos durante as investigações.

Segundo um delegado que acompanha diretamente o caso, a corporação deu um recado direto para Cid e sua defesa, afirmando que o tenente-coronel precisa “falar tudo que sabe”, e não apenas “confirmar” as informações que a PF já possui. O depoimento desta terça ocorre após a descoberta de novas informações obtidas com o aparelho, que, inclusive, atrasaram a conclusão do inquérito.

ANULAR A DELAÇÃO – A PF ameaça anular acordo de delação se Mauro Cid não contar o que sabe sobre tentativa de golpe. Nos depoimentos, o tenente-coronel apontou o ex-presidente como o mandante das fraudes no sistema de saúde e revelou a existência de reuniões entre Bolsonaro e comandantes das Forças Armadas para discutir uma forma de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em março deste ano, um vazamento de áudios em que o ex-ajudante de ordens afirma que o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado é uma “narrativa pronta” o fez voltar para a prisão por descumprimento das medidas cautelares, e ameaçou a anulação da delação – que foi mantida por Moraes. Cid foi solto novamente em maio, em liberdade provisória concedida pelo ministro.

O ex-ajudante de ordens é peça-central nos inquéritos que se debruçam sobre os ataques às urnas eletrônicas, os atos golpistas, as fraudes no cartão de vacinação do ex-chefe do Executivo e o suposto esquema de venda de joias e presentes entregues a Bolsonaro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os inquéritos conduzidos pela força-tarefa de Alexandre de Moraes se arrastam, numa vagareza irritante. Justamente por isso, a investigação inicial sobre milícias digitais ganhou o apelido de Inquérito do Fim do Mundo, um monstrengo processual, que numa democracia verdadeira teria o mesmo valor de uma moeda de três dólares. (C.N.)

Fala de Lula sobre redução de jornada é sólida como gelatina

Charge do dia

Charge do Hector (Jornal da Bahia)

Josias de Souza
do UOL

Discursando na cerimônia de encerramento do G20 Social, Lula fez uma pálida defesa da redução da jornada de trabalho. Disse que o grupo integrado pelas maiores economias do planeta “precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas.” Declarou que é preciso “ouvir a juventude, que enfrentará as consequências das tarefas que deixarmos inacabadas.”

O comentário soou desmoralizante, contrangedor e oportunista. Desmoraliza porque Lula expôs em duas frases um objetivo que não alcançou nos seus dois mandatos anteriores, de 2003 a 2010. Constrange, porque a redução da jornada voltou a existir para o governo apenas no mundo das palavras quando o terceiro mandato do orador está prestes a completar aniversário de dois anos.

ESCALA 6X1 – A manifestação é oportunista porque pega carona no debate sobre o fim da escala 6X1, que bombou nas redes sociais. Lula surfa na onda da PEC do PSOL abstendo-se de mencionar a iniciativa da deputada Erika Hilton.

De resto, transfere para a agenda futura do G20 uma discussão que o Planalto hesita em travar no Congresso. Desconsidera que vários países do bloco já implantaram jornadas “equilibradas”.

A ligeireza com que Lula tratou do tema resultou numa fala sólida como gelatina. Se serviu para alguma coisa foi para revelar que Lula pode ter compreendido uma obviedade: sob o efeito das redes sociais, a conjuntura muda tão rapidamente que aquele que inventa pretextos para que alguma coisa não seja feita acaba sendo surpreendido por alguém que está fazendo a coisa.

Governo inventa conspiração e diz que chaveiro-bomba não agiu sozinho

Terrorismo de bolsonarista em Brasília teve origem no gabinete do ódio, segundo Moraes - CTB

Procuram-se os cúmplices de Tiü França, o chaveiro-bomba

J.R. Guzzo
Estadão

Há uma porção de fatos objetivos quando se olha de forma racional para o que aconteceu nas explosões ocorridas na Praça dos Três Poderes dias atrás. Que tal, então, começar por eles? Um chaveiro do interior de Santa Catarina foi a Brasília com a intenção de detonar um ou mais artefatos explosivos dentro do STF. Foi barrado na portaria e aí voltou para a praça, onde se suicidou explodindo em cima de si mesmo as bombas que levava.

Mensagens deixadas por Tiü França comprovam que estava com problemas mentais. Ao levantar cada passo dos seus últimos movimentos em Brasília, a polícia verificou que ele não teve contato com ninguém em posição de autoridade, ou ligado à militância política, ou com qualquer grau de influência.

SEM TREINO… – Estava hospedado numa pensão de Ceilândia, usou o próprio carro para se deslocar em Brasília e não tinha treinamento em explosivos – ou se tinha não aprendeu nada, tanto que só conseguiu matar a si próprio.

Não se conhece casos de terroristas que tenham tentado matar ministros pedindo um crachá de entrada na portaria do edifício onde eles já encerraram o expediente.

Em nenhum momento, nas ações finais de Tiü França, alguém esteve concretamente sob o risco de ser morto pelos seus explosivos – a não ser ele mesmo. Não tinha nenhuma importância como militante político. O máximo a que chegou foi uma candidatura para vereador numa cidade do interior de Santa Catarina, pelo PL, na eleição de 2020. Teve 98 votos.

TEORIAS E CONSPIRAÇÕES – O exame desses fatos, porém, foi o que menos interessou à Polícia Federal, ao STF e ao restante da máquina estatal de investigações criminais até agora.

Em vez de serem a base da apuração a ser feita, foram expostos nos primeiros momentos e imediatamente substituídos por teorias, suposições e conclusões definitivas por parte das autoridades do governo.

Ou seja: o que interessa não é saber o que aconteceu, mas sim chegar à conclusão que querem. Trabalham com “todos os cenários”, como dizem, menos um – o de que Tiü França tenha sido apenas o sujeito de carne e osso descrito acima.

CONSPIRAÇÃO – Todo o interesse das autoridades, desde o primeiro minuto, foi dizer que o terrorista-suicida não agiu sozinho, e que não ocorreu um “ato isolado”. Com quem ele agiu, então? Se fez parte de uma conspiração, como diz o governo, é impossível que não tenha aparecido nenhum nome, nenhuma ligação e nenhuma pista.

O STF, por sua vez, já decidiu que o chaveiro-bomba é “um prosseguimento dos atos golpistas de 8 de janeiro”; colocou o seu caso no mesmo inquérito, que lida com fatos ocorridos dois anos atrás. Mais que tudo, por causa de Tiü França, a anistia foi declarada “impossível”. Fica tudo resolvido, então. Só que nada se resolveu.