CPI da Braskem no Senado vai trazer a Odebrecht como personagem principal

Tribuna da Internet | Odebrecht avalia desprezar a decisão de Toffoli e respeitar o acordo da leniência

Fotocharge (Arquivo Google)

Aline Brito
Correio Braziliense

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar os responsáveis pelo afundamento das minas de sal-gema da Braskem na área urbana de Maceió será instalada nesta quarta-feira (13/12), às 9h. A informação foi confirmada ao Correio pela assessoria do senador Otto Alencar (PSD-BA).

O início da CPI estava marcado para esta terça-feira (12), às 15h, mas foi adiado pelo senador baiano, que vai presidir a sessão de instalação.

RENAN RELATOR – O senador Renan Calheiros (MDB), que deve ser o relator da CPI, tinha convocado a instalação para hoje, mas Otto Alencar entrou como membro do Colegiado e, automaticamente, passou a ser o integrante mais velho. Regimentalmente, a condução dos trabalhos de instalação de uma CPI cabe ao parlamentar de mais idade.

Para que a comissão seja instalada, é necessário ter, pelo menos, sete parlamentares presentes, mas, de acordo com Alencar, ele não foi procurado por “nenhum senador” para abrir a sessão.

Com isso, Otto alegou que não teria tempo hábil nesta tarde para instalar a CPI e informou que a reunião de abertura do Colegiado será amanhã de manhã.

HAVIA INCERTEZA – Até o início desta tarde, a CPI da Braskem era considerada uma incerteza nos corredores do Senado. Isso porque o governo estava resistente à instalação da comissão.

Como adiantou a Coluna BSB-DF, do Correio, a reunião desta terça-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu todos os principais atores políticos interessados na investigação.

Estiveram presentes, no Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); o senador Renan Calheiros (MDB-AL); o ministro dos Transportes, Renan Filho; o governador de Alagoas, Paulo Dantas; e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, conhecido como JHC. Se houvesse algum meio de segurar a CPI, a saída sairia desse encontro. Entretanto, o senador Otto Alencar afirmou que a instalação da comissão parlamentar é “irreversível” e que não passará de quarta-feira.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Depois de terem sido “inocentadas” pelo diligente ministro Dias Toffoli, as sujeiras da Odebrecht estão voltando às manchetes dos jornais. Desta vez, além da poluição e do afundamento de parte de Maceió, a megaempresa terá de explicar por que tem “fabricado” lucros quando o balanço está no vermelho. Vai ser sensacional. (C.N.)

Piada do Ano! Após recessão e pedaladas, Dilma é eleita Mulher Economista de 2023

Charge: Dilma no controle da inflação

Charge reproduzida do Arquivo Google

Deu na Folha

A ex-presidente Dilma Rousseff foi eleita no sábado (9) a Mulher Economista de 2023 pelo sistema Cofecon/Corecons, que reúne os conselhos federal e regional de economistas. Como se sabe, Dilma é desde março deste ano a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), conhecido como Banco dos Brics, com sede em Xangai, na China.

Nos anos em que esteve à frente do Planalto, de 2011 a 2016, o PIB (Produto Interno Bruto) retraiu em dois anos consecutivos: 3,6% em 2015 e 3,3% no ano seguinte. O ciclo de recessão da atividade econômica foi um dos mais longos da história do país, somando 11 trimestres, do segundo trimestre de 2014 ao quarto de 2016. A queda acumulada foi de mais de 8% do PIB no período.

PREMIAÇÃO – A votação do prêmio foi secreta e ocorreu durante uma plenária da Cofecon, realizada em formato híbrido. A honraria será entregue em 2024, durante a posse da nova diretoria do conselho, em data a ser confirmada.

“A premiação marca não apenas a celebração do mérito da economista, mas também destaca a importância de reconhecer e valorizar as mulheres que desempenham papéis relevantes na promoção do desenvolvimento com responsabilidade social”, disse o Cofecon, em nota.

Segundo o conselho, a escolha da ex-presidente reflete sua expertise no campo econômico e seu papel fundamental na implementação de políticas que moldaram a trajetória econômica do Brasil. “O Sistema Cofecon/Corecons reafirma seu compromisso com a promoção da igualdade de gênero e o reconhecimento do talento feminino em todas as esferas profissionais”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Caramba! Quando a gente vê uma matéria assim, enviada pelo José Guilherme Schossland, pensa que é gozação, porque ninguém acreditaria numa fake news tão amalucada. Se fosse no dia 1º de abril, faria parte da brincadeira mundial, mas estamos em dezembro, nada a ver. Na dúvida, então é melhor registrar logo como Piada do Ano, pois fica mais adequado, digamos assim. (C.N.)

Lula e os governadores não sabem como enfrentar a violência que assusta o país

Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge do dia: Insegurança

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Ricardo Rangel
Veja

Em Brasília, a Polícia Federal descobriu que o Primeiro Comando da Capital enviou para lá um grupo de criminosos com a tarefa de realizar uma operação que teria como alvos o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, recebeu uma ameaça de morte cujo autor diz ser outra facção criminosa, o Comando Vermelho. Há poucos meses, a PF abortou uma operação do PCC para sequestrar Sergio Moro. 

JUSTICEIROS – No Rio de Janeiro, casos recentes de assaltos e agressões no bairro de Copacabana levaram “justiceiros” (isto é, criminosos) a se organizar para fazer justiça com as quatro mãos. É o tipo de resposta que, há cerca de 20 anos, levou originalmente à criação das milícias que hoje aterrorizam a população.

Mesmo assim, um deputado estadual bolsonarista apresentou projeto para a criação de milícias de moradores, pagas pelo Estado (!), para agir na contenção da violência onde moram. Há pouco mais de um mês, no ataque terrorista mais assustador de que se tem notícia no estado, foram queimados 35 ônibus e 1 trem para protestar contra a morte de um miliciano em uma operação policial.

Quando o assunto é violência, no entanto, Brasília e Rio estão longe de ser casos isolados, nem sequer estão entre os maiores problemas do Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022, o Rio está em 20º lugar na lista de homicídios nas capitais. O Distrito Federal inteiro apresenta a taxa mais baixa dos últimos 46 anos, e estaria em penúltimo se estivesse na lista. Os campeões da violência são Macapá, Salvador e Manaus.

DOIS EXEMPLOS – Nem por isso Brasília e Rio deixam de ser emblemáticos. A capital é o centro do poder no país: o fato de organizações criminosas ameaçarem figuras importantes da República demonstra seu grau de ambição e atrevimento.

O Rio não só é uma espécie de vitrine do Brasil, como muitas das iniciativas ali criadas acabam sendo exportadas para o resto do país (é o caso das facções do tráfico, que datam dos anos 1970, com a criação do Comando Vermelho).

Não há a menor dúvida de que nossa política de segurança está redondamente equivocada. A Guerra às Drogas, em prática há 40 anos, só tem aumentado a violência. E as abordagens da direita — aumentar a violência contra traficantes nas favelas (sobrando para os inocentes que estiverem perto) — e da esquerda — omissão pura e simples — são ineficazes.

FUGINDO DO ASSUNTO – O governo federal foge do assunto há pelo menos 20 anos, insistindo que o problema é dos governos estaduais. Os governadores, quando não têm administrações infiltradas por criminosos, estão perdidos.

O governo Lula aparentou chamar a si alguma responsabilidade… mas sem apresentar qualquer plano ou projeto. No momento, o Brasil sequer tem ministro da Justiça e da Segurança: a principal atribuição do (quase) ex-ministro Flavio Dino, atualmente, é fazer campanha para o STF no Senado. Não se sabe quem será o novo ministro ou mesmo se o ministério permanecerá como está ou se será cindido entre Justiça e Segurança.

Enquanto isso, continuamos a insistir na mesma política que não dá certo há décadas. Lula e os governadores precisam sair da pasmaceira de sempre e apresentar propostas mais eficazes. Se não por espírito público, por interesse eleitoral.

Israel tem cometido crimes de guerra, mas isso não deve ser considerado “genocídio”

Ataque israelense em Gaza

Ataque israelense em Gaza atinge civis, é crime de guerra

Dorrit Harazim
O Globo

O vídeo dura menos de um minuto e meio. Quem a ele assiste torna-se, para sempre, condenado a ser testemunha do horror. Não há escapatória, impossível “desver”, inútil buscar racionalidade à cena. Ela ultrapassa qualquer régua moral, política ou religiosa. É, em essência, o retrato da guerra captada pelo fotojornalista Motaz Azaiza, em Gaza.

Há quase dois meses, Azaiza registra o que vê à sua volta, e posta o que viu nas redes sociais. Na semana passada, quando novo bombardeio israelense atingiu seu bairro e vizinhos, Azaiza estava a postos. É esse minuto e meio que precisa ficar registrado aqui. Não fazê-lo seria silenciar o horror.

DISPARO À DISTÂNCIA – No massacre do Hamas contra civis israelenses, em 7 de outubro, os momentos mais sórdidos da infâmia foram mano a mano, com o algoz terrorista inebriado pelo terror da vítima em suas mãos. Missão cumprida. No caso dos bombardeios punitivos de Israel, o disparo vem à distância, não tem autoria, e as mortes que provoca não têm rosto. Os ainda vivos, em fuga, também não. Missão em curso.

Psicólogos sociais esquadrinham pesquisas atestando quanto o ser humano procura encontrar alguma coerência, propósito ou significado à vida, ao ato e ao fato de viver.

Neste fim de 2023, os tempos são de desnorteamento e dor — uma dor, ora individual, ora coletiva, que não usa máscara. De qualquer ângulo que se olhe, o que se vê é um vácuo — vácuo de compaixão, excesso de certezas vazias. Tomar conta deste mundo dá trabalho e exige paciência, já sabia Clarice Lispector.

SITE REVELADOR – Em tempos assim, é um deleite inofensivo e terno frequentar o site The Red Hand Files, criado por Nick Cave cinco anos atrás.

O extraordinário músico australiano, que frequentou os cantos mais escuros da alma humana, havia perdido dois filhos (o adolescente Arthur caiu de um precipício na Inglaterra, e Jethro, aos 31 anos, sofreu morte súbita).

Cave conseguiu se reerguer abrindo um canal de comunicação direta com a vida, na pessoa de sua legião de fãs. Passou a responder, pessoalmente, à enxurrada de perguntas que lhe chegam por escrito — até o ano passado elas somavam mais de 50 mil. Suas respostas são singelas e profundas, nunca impensadas ou insinceras.

OTIMISMO – Uma alma inquieta chamada Raymond, de Dallas (Texas), queria saber se o cantor se considerava otimista. Recebeu a seguinte resposta:

“Esperança e otimismo podem ser forças diferentes, quase opostas. A esperança brota de um sofrer sentido. É a centelha desafiadora e dissidente que se recusa a ser extinta. O otimismo pode ser o negacionismo do tal sofrer, o medo de encarar a escuridão, a ausência de percepção, uma espécie de cegueira do real. Esperança é amadurecimento e desobediência. Otimismo pode ser temeroso e falso”.

Outro seguidor, da Eslovênia, perguntou se a inteligência artificial seria capaz de criar o sublime (na canção ou em música). Cave primeiro citou o autor de “Sapiens”, Yuval Noah Harari, para quem a IA será capaz de criar músicas ainda melhores que os humanos, pois conseguirá mapear o estado d’alma de quem faz o pedido. Um algoritmo sob medida para satisfazer à necessidade emocional do cliente — se está sentindo alegria, tristeza, saudade, desejo.

UMA RESSALVA – “Só que músicas fazem bem mais que isso” — esclareceu o cantor. “Uma canção excepcional nos inunda de assombro, e essa sensação deriva exclusivamente de nossos limites como seres humanos. Tem a ver com a audácia humana de ir além de nosso potencial”.

Ou, como definiu Franz Kafka, música é o som da alma, a voz direta do mundo subjetivo.

Até mesmo à pergunta raiz das civilizações (“Deus existe?”, ele respondeu de forma franca: “Não tenho nenhuma evidência num sentido ou noutro, mas talvez essa não seja a pergunta correta. Para mim, a questão é “o que significa crer?”. Mesmo contra a vontade, acho impossível não crer ou, pelo menos, não se envolver com a busca por uma resposta, o que no fundo dá no mesmo. Minha vida está dominada pela noção de Deus, seja por sua presença ou ausência.

São muitas as dores do mundo, e neste período de festas judaico-cristãs parece até imperativo embalar-se em crenças. Só que elas de pouco ou nada adiantam quando o ser humano perde contato com a humanidade.

Não valia a pena ler ‘”Antimemórias”, de Malraux, mas peguei o livro para me distrair

Libro: Antimemorias - 9788466359832 - Malraux, André (1901-1976) - · Marcial Pons Librero

Malraux, sempre polêmico, perde-se na vaidade

Mario Vargas Llosa
Estadão

Para me distrair, peguei as memórias de André Malraux, um livro que 100 vezes decidi que não valia a pena ler, porque os personagens, entre os quais estão alguns dos principais líderes do século 20, encolhem-se para se submeterem à estatura desproporcional de Malraux e, tímidos e sempre às ordens de seu interlocutor, dizem tudo o que o autor quer que digam.

Em meados dos anos 60, quando por meia década foi ministro dos Assuntos Culturais do general De Gaulle na Quinta República, Malraux fez uma longa viagem ao Extremo Oriente, enviado pelo próprio chefe do estado francês, ao que parece, para se curar de algumas doenças causadas, entre outras coisas, pelo álcool e por uma vida familiar muito tensa.

MARCO DAS MEMÓRIAS – Essa viagem é a principal referência das Antimemórias, surgidas em 1967, depois de vários anos sem livros publicados, embora muitas das coisas que Malraux conta ou inventa tenham ocorrido antes ou depois dessa viagem, que serve de marco às suas memórias e reflexões.

Há tanta invenção e vaidade no autor que é impossível saber o que é verdadeiro nos seus diálogos com Mao ou Nehru, nos seus encontros com De Gaulle, nas suas explorações arqueológicas ou históricas, nas suas façanhas durante a Guerra Civil espanhola (ele ajudou, por meio do governo francês, a organizar uma esquadra com aviões franceses e a colocou à disposição dos republicanos, os quais comandou, embora não soubesse pilotar nem atirar) ou na Resistência contra os nazistas (à qual parece que aderiu em 1944 e não, como nos fez crer, no início da década), pela qual recebeu condecorações.

RAINHA DE SABÁ – Por certo, há um feito indiscutível: a aventura singular de procurar, aos trinta e poucos anos, juntamente com o capitão Édouard Corniglion-Molinier e outro companheiro, no deserto do Iémen, o reino da Rainha de Sabá, que é meio fantástica – o mínimo que se pode dizer dela –, que, nas brumas, aparece guiando esta dupla de personagens e que aqui atua como uma presença silenciosa, sempre sob as ordens de Malraux, que descreve sua musa de um jeito deslumbrante.

Malraux, grande admirador do britânico T.E. Lawrence, tem aquela paixão pela aventura de certos europeus fascinados por mundos que são ou parecem exóticos – e encontra o que quer encontrar, exista ou não.

Tudo indica que o que estava nas fotografias que tirou do avião que sobrevoou a zona do Iémen onde acreditava que se encontravam os restos da cidade morta da Rainha de Sabá era simplesmente um oásis com algumas casinhas e ruínas sem a menor relação com o reino bíblico, embora isso seja o que menos importa na sua aventura.

PERSONAGEM PRINCIPAL – A partir daí, tudo é um declínio singular nesse livro em que os personagens principais são, em aparência, De Gaulle, Mao, Nehru ou aventureiros lendários muito anteriores, como o francês Marie-Charles David de Mayréna.

Mas, na verdade, o personagem mais importante é o próprio Malraux. Os demais se referem a Malraux como a uma estátua, e, em cada relato que faz de seus encontros com eles, o próprio autor transmite uma lição que apaga instantaneamente tudo o que ele diz – ou pelo menos é este o efeito dos intermináveis monólogos que ele nos inflige.

O autor de “A Condição Humana” não tem interesse em nos contar sobre sua vida privada, como acontece nas memórias confessionais, ou o que está por trás da vida pública, como acontece nas memórias de figuras públicas. Parece mais interessado em sua própria importância como protagonista dos acontecimentos históricos ou na forma como os outros protagonistas, os verdadeiramente decisivos, se referem ao que ele diz ou às coisas que ele fez.

CONDIÇÃO HUMANA – “O que me interessa em qualquer homem”, diz Malraux, “é a condição humana e certas características que expressam não tanto uma personalidade individual, mas sua relação particular com o mundo”.

Essa frase, que resume sua visão dos personagens que desfilam ao longo do livro e sua forma de abordá-los, na verdade descreve melhor seu papel nestas Antimemórias, em que tudo gira em

torno de seu impacto nos acontecimentos históricos que o tocam de perto ou de sua influência na ideia que seus interlocutores têm dos acontecimentos dos quais participaram ou foram protagonistas.

Em outro momento do livro, o autor afirma algo que parece uma justificativa para sua obsessão pela grandiloquência histórica: “De que me importa aquilo que só importa para mim?”. O resultado é um texto desajeitado, retórico e enfadonho que não leva a lugar nenhum.

MUNDO DA AVENTURA – As melhores passagens são aquelas que têm a ver com o mundo da aventura que tanto o fascina, aqueles exploradores loucos e extravagantes que levam a vida em jornadas cujo objetivo não é sempre claro, pois mais importa o percurso que o propósito.

Ele chama esse tipo de personagem de farfelus [termo francês para “doido” ou “excêntrico”] e é evidente que ele teria gostado de ser um deles ou que tentou sê-lo em certos momentos. Quando não pôde, inventou que tinha sido. Porque para ele a fronteira entre literatura e realidade era muito confusa, como o livro demonstra.

Mas tudo isso, que poderia ter dado um livro apaixonante, perde-se entre intermináveis páginas dedicadas às suas teorias sobre acontecimentos históricos e aos seus diálogos com líderes a quem faz dizer coisas que justificam essas teorias. Em todas essas longas passagens não há parênteses nem diferenciações, todas seguem um perfil teimoso e cego, a serviço de Malraux e de algum amigo ocasional, por exemplo Nehru e De Gaulle, que por vezes parecem quase seus discípulos.

NO MESMO ESTILO – Todos os “discípulos” são tratados com o mesmo estilo, em descrições infinitas e nas quais só por vezes há alguma referência ou reflexão sobre a arte oriental, de que o autor tanto gostava.

Como era diferente o ministro dos Assuntos Culturais nos seus esforços cotidianos, quando inaugurava casas dedicadas à cultura e organizava grandes exposições, nos discursos que proferia (sem falar, claro, nos seus grandes romances). Ninguém que os ouviu foi capaz de esquecê-los. Eu morava em Paris naqueles anos e me lembro do enorme impacto que tiveram.

As orações fúnebres, como a que proferiu por ocasião do traslado das cinzas de Jean Moulin, herói da Resistência, para o Panteão, ou durante o funeral de Le Corbusier, no pátio do Louvre, pouco depois de regressar da viagem ao Extremo Oriente, em 1965, são joias literárias.

ERA UM GÊNIO? – Mas este foi o canto do cisne de Malraux, como comprovam estas Antimemórias, que surgiram alguns anos depois daqueles discursos. Era um gênio? De certa forma, sim. Não há dúvida de que “A Condição Humana”, seu romance sobre uma rebelião comunista fracassada em Xangai, é uma obra-prima. E seus discursos não eram retórica vazia, como os de tantos políticos, mas sim uma literatura magnífica, tanto no conteúdo quanto na forma. Mas, ao mesmo tempo, era um homem que acreditava na sua glória e cultivava essa vaidade ao exagero.

Os discursos inflamados, que jamais esqueceremos, são a negação dessas, Antimemórias e a prova de que, na fase final da vida, escrevendo ele superava a si mesmo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG Enviado por Mário Assis Causanilhas, o artigo mostra que Vargas Llosa continua em forma, sempre brilhante na criação e na demolição. (C.N.)

Governo e Congresso estão empurrando conta de luz bilionária para o consumidor 

Eletrobras (ELET3)(ELET6): qual a projeção da Genial após escolha de novo CFO? - SpaceMoney

Privatizar a Eletrobras foi um erro colossal de Bolsonaro

Johanns Eller
O Globo

A conta dos jabutis inseridos no projeto de lei das eólicas offshore para beneficiar uma série de empresários ligados ao setor, como Carlos Suarez (grupo OAS), conhecido como rei do gás, já circula nos bastidores do Ministério da Fazenda. E é bilionária. A estimativa dos técnicos do governo Lula, obtida com exclusividade pela equipe da coluna, é de que a manobra que revelamos no blog no final de novembro vá custar pelo menos R$ 33,8 bilhões ao consumidor brasileiro – que já paga uma conta alta, mesmo sem risco de apagão ou crise no abastecimento.

É praticamente o mesmo valor – até um pouco mais – que a Fazenda pretende arrecadar com a taxação dos fundos exclusivos e offshore até 2025 (R$ 30,5 bilhões).

SUBSÍDIOS DIVERSOS – O dinheiro vai ser consumido com a ampliação, a criação ou a prorrogação de subsídios variados, das térmicas a gás (R$13,2 bilhões) à usinas a carvão (R$ 2,2 bilhões) e outras modalidades de geração de energia que hoje já são mais baratas e competitivas – como as pequenas centrais hidrelétricas (R$ 8,6 bilhões).

O período de concessão dos benefícios varia conforme o subsídio e pode chegar até 20 anos. E a despesa será toda transferida ao consumidor, como alerta um técnico do governo.

“Essa é a tragédia do setor elétrico. Acharam um jeito de fazer benesses sem passar pelo orçamento. Vai do bolso do consumidor para o do empresário. O impacto na distribuição de renda é péssimo, pois a conta de luz é um item muito importante no orçamento das famílias de mais baixa renda”.

DERRUBAR O PROJETO – Preocupada com os efeitos na economia, uma ala do governo, mais ligada à Fazenda, vai trabalhar para tentar derrubar o projeto no Senado.

Mas devem enfrentar dificuldades, porque os jabutis incluídos no projeto aprovado na Câmara contemplam uma série de interesses e empresários poderosos – como o próprio Suarez, que tem vários defensores no Congresso.

O projeto, de autoria do ex-senador Fernando Collor (PTB-AL) e relatado pelo deputado federal Zé Vitor (PL-MG), chegou na última sexta-feira (dia 8) à Secretaria Legislativa do Senado Federal. Até o fechamento desta reportagem, aguardava despacho da mesa diretora da Casa para entrar na pauta.

JABUTI ESTRATÉGICO – No jargão político de Brasília, jabutis são dispositivos ou trechos incluídos na redação de leis ou medidas provisórias sem relação direta com o tema em discussão com o objetivo de serem aprovados sem alarde.

Apesar de o objetivo do PL em tese ser o de estabelecer um marco regulatório para eólicas offshore (parques eólicos em alto mar), um jabuti que atende aos interesses de Suarez foi incluído no texto pelo relator Zé Vitor no último dia 22.

No novo artigo costurado pelo MME, o custo do transporte do gás deixa de ser incluído no preço do megawatt a ser oferecido nos leilões pelas partes interessadas na construção das usinas – que, por sua vez, contratariam o transporte a partir de uma chamada pública feita pelo governo estadual junto com as distribuidoras regionais de gás.

MAIS FAVORECIMENTO – Outra medida que beneficia diretamente Suarez é a prorrogação dos subsídios a pequenas centrais hidrelétricas, conhecidas como PCHs, por mais 20 anos no chamado Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) – ao custo de R$ 2 bilhões por ano. Além de ser forte no ramo da distribuição de gás, o empresário baiano tem uma participação relevante no mercado de PCHs.

Os outros bilhões estão espalhados por outros jabutis inseridos no texto pelos articuladores do lobby pró-Suarez para dirimir as resistências de setores à obrigatoriedade das usinas térmicas – um dos pontos mais controversos da lei de privatização da Eletrobras – e viabilizar um texto consensual para ser aprovado pelas duas Casas do Congresso.

Isso porque a lei da Eletrobras obrigava o governo a contratar o fornecimento de 8 mil megawatts de térmicas no Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste a partir de 2026. Suarez, dono da Termogás, seria o principal favorecido por ser o dono das concessões para o fornecimento de gás às usinas previstas nas três primeiras regiões, mas não dispõe de gasodutos.

CUSTO DO TRANSPORTE – Porém, como o jabuti patrocinado pelo MME estabelece que o custo do transporte não será computado no preço a ser oferecido no leilão das térmicas, mas apenas após a construção das usinas, a conta do transporte ficaria na conta do consumidor – já que não há outra forma de transportar o gás senão construindo os gasodutos.

Para aplacar a controvérsia, o texto final diminuiu a quantidade de usinas a serem licitadas de 8 mil megawatts para 4.250 MW e redirecionou parte do potencial energético previsto para outras fontes energéticas que não eram condicionantes da lei que privatizou a Eletrobras.

É o caso, por exemplo, das usinas de hidrogênio líquido e as termelétricas movidas a carvão mineral – uma das fontes energéticas mais poluentes. A intenção dos congressistas é aprovar o PL antes do recesso, previsto para começar no dia 23. Pelo visto, tanto o governo Lula quanto os congressistas parecem empenhados em garantir a Carlos Suarez um inesquecível presente de Natal.

Datafolha reforça a ação do Congresso para tirar “superpoderes” do Supremo

De olho no STF? Veja charges do Tacho sobre a Justiça - Entretenimento - Jornal NH

Charge do Tacho (Jornal NH)

Matheus Leitão
Veja

Nova pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo, dia 10, revela que o Supremo Tribunal Federal tem perdido apoio popular em meio à nova crise institucional com o Senado.

A desaprovação do trabalho dos ministros subiu de 31% para 38%, enquanto a aprovação caiu de 31% para 27%. É uma alteração bastante significativa e que chega em um momento de fragilidade da corte.

PAUTA ADVERSA – O Senado passou a priorizar uma pauta contrária ao STF, como a proposta de emenda constitucional que limitou decisões monocráticas dos ministros, priorizando o plenário.

Outras medidas, como a que impõe um mandato para os membros do tribunal, terão a tramitação acelerada em breve.

No STF, esses avanços dos senadores estão sendo vistos como afrontas e intimidação ao poder judiciário. E a pesquisa, com a impopularidade crescente do STF, dá mais um importante empurrão ao Senado no avanço contra a corte.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Desde o célebre banho de banheira do genial matemático e filósofo grego Arquimedes, que séculos
 depois veio a influenciar a segunda lei de Isaac Newton, a humanidade sabe que toda ação gera uma reação. O Supremo, descumprindo a lei, resolveu assumir o trabalho legislativo do Supremo. Obviamente, essa bagaça não poderia dar certo, diria o comentarista Délcio Lima. Agora, o STF tem de aturar a reação do STF. Se não gostar, que então se queixe a Pitágoras ou a Newton. (C.N.)

Corte de ministérios em ritmo de tango, na Argentina, renovada por Milei

Em primeiro decreto, Milei cortou pela metade número de ministérios

Pedro do Coutto

O presidente Javier Milei assumiu o governo da Argentina anunciando o corte de ministérios e cortes de gastos, lembrando que o período inicial de seu governo será destinado à recuperação da economia.  No domingo, poucas horas depois de tomar posse como presidente, em Buenos Aires, Milei assinou o seu primeiro decreto na Casa Rosada, reduzindo o número de ministérios de 18 para nove.

De acordo com o texto, “é necessário adaptar as disposições da Lei de Ministérios e os objetivos estabelecidos com o objetivo de racionalizar e tornar mais eficientes as ações do Estado Nacional”. O caminho é difícil, pois se o simples corte de ministérios resolvesse problemas econômicos não haveria dificuldades no mundo, bastando enxugar a máquina pública.

REUNIÃO – Nesta segunda-feira, estava prevista a primeira reunião ministerial convocada por Milei e de acordo com a assessoria do novo governo, todos os ministros participariam do encontro.

As pastas que funcionarão a partir de agora são Segurança, a cargo da terceira colocada no pleito, Patricia Bullrich; Justiça, chefiado por Mariano Cuneo Libarona; Economia, sob comando de Luiz Caputo; Relações Exteriores, com Diana Mondino à frente; Interior, chefiado por Guillermo Francos; Saúde, de Mario Russo; e Defesa, sob domínio de Luís Petri. E os recém-criados: Capital Humano, liderado por Sandra Pettovello, e Infraestrutura, de Guillermo Ferraro.

PENDÊNCIAS – Já por aqui, o ano se aproxima do final e problemas continuam existindo entre o governo e o Congresso. Reportagem de Vitória Abel e Geralda Doca, O Globo, anuncia a intensificação das articulações do ministro Fernando Haddad para aprovar medidas que elevam receita em R$ 47 bilhões. Haddad conta com isso para alcançar o seu objetivo de zerar o déficit público no próximo ano.

O governo continua refém do Centrão e não há no país o que é essencial, o avanço da economia, única forma capaz de produzir recursos financeiros. Os problemas ainda se avolumam e notamos, além disso, a questão da insegurança pública que atemoriza a todos, em diversas cidades, influenciando o ânimo da população.

O governo Lula tem que se ajustar às realizações de obras concretas de interesse da população, essenciais para o desenvolvimento social e para o avanço econômico de modo geral. De outra forma, tanto no Brasil quanto na Argentina, não terá ajuste fiscal que dará jeito. Temos um quadro desafiador na passagem do tempo de um exercício para o outro.

“Upa upa, sobre o pampa e sobre o mar”, lá vem o Minuano, encantando o poeta…

Meyer, retratado por Portinary

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, folclorista, ensaísta e poeta gaúcho Augusto Meyer (1902-1970), descreve no poema “Minuano” este vento que vem de longe e traz todas as vozes, todas as dores e todas as raivas, em uma única voz, em uma única dor e em uma única raiva.

MINUANO
Augusto Meyer

Este vento faz pensar no campo, meus amigos,
Este vento vem de longe, vem do pampa e do céu.

Olá compadre, levante a poeira em corrupios,
Assobia e zune encanado na aba do chapéu.
Curvo, o chorão arrepia a grenha fofa,
Giram na dança de roda as folhas mortas
Chaminés botam fumaça horizontal ao sopro louro
E a vaia fina fura a frincha das portas.

Olá compadre, mais alto, mais alto!
As ondas roxas do rio rolando a espuma
Batem nas pedras da praia o tapa claro…
Esfarrapadas, nuvens nuvens galopeiam
No céu gelado, altura azul.

Este vento macho é um batismo de orgulho.
Quando passa lava a cara, enfuna o peito,
Varre a cidade onde eu nasci sobre a coxilha.
Não sou daqui, sou lá de fora…
Ouço o meu grito gritar na voz do vento:
– Mano Poeta, se enganche na minha garupa!

Comedor de horizontes, 
Meu compadre andarengo, entra!
Que bem me fez o teu galope de três dias
Quando se atufa zunindo na noite gelada…

Ó mano
Minuano
Upa upa
Na garupa!

Casuarinas cinamonos pinhais
Largo lamento gemido intenso, vento!
Minha infância tem a voz do vento virgem:
Ele ventava sobre o rancho onde morei.
Todas as vozes numa voz, todas as dores numa dor,
Todas as raivas na raiva do meu vento!

Que bem me faz! Mais alto, compadre!
Derrube a casa! Me leva junto! Eu quero o longe!
Não sou daqui, sou lá de fora, ouve o meu grito!
Eu sou o irmão das solidões sem sentido…
Upa upa sobre o pampa e sobre o mar…

Lewandowski no Ministério repetirá o equívoco da gestão anterior de Sérgio Moro

Aliados de Lula veem Lewandowski com favorito para Ministério da Justiça

Uma dúvida: Lewandowski vai servir a Lula ou ao governo?

Merval Pereira
O Globo

Nada mais exemplar da “calcificação” das posições ideológicas na sociedade brasileira – termo já consagrado pelo livro “Biografia do abismo”, do cientista político Felipe Nunes e do jornalista Thomas Trauman –  do que a constatação de que as mesmas atitudes criticadas por um lado são adotadas por esses mesmos críticos quando lhes convém.

A possibilidade de o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski vir a ser o próximo ministro da Justiça do governo Lula, tratada com naturalidade por petistas e associados, tem o mesmo significado de o então juiz Sérgio Moro ter aceitado ser ministro da Justiça do governo Bolsonaro.

TIPO “CONFISSÃO” – A aceitação por parte de Moro foi considerada uma confissão de que ele condenou o ex-presidente Lula para beneficiar Bolsonaro, o que é desmentido pelos fatos.

Ficou famoso o vídeo em que Bolsonaro, ainda candidato inexpressivo, bate continência para o juíz Sérgio Moro, então o todo poderoso da Operação Lava Jato. Moro nem lhe dá confiança, parece não saber de quem se trata. Tanto que, depois da repercussão, sentiu-se na obrigação de ligar para o deputado para se desculpar pela deselegância.

Fatos posteriores demonstraram, porém, que Moro cometeu um erro político trágico ao associar-se a Bolsonaro. Na ocasião em que aceitou o convite, disse a interlocutores que estava indo para controlar os exageros do presidente eleito na questão das armas e dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que considerava possível ganhar espaço no governo para acelerar a política de combate à corrupção. A ida para o STF seria um bônus ambicionado. Não conseguiu nada disso e, como aconteceu com muitos, inclusive militares, acabou enredado numa associação política tóxica.

VIROU ASSESSOR – Depois de romper com Bolsonaro, apareceu a seu lado como assessor em debate eleitoral na televisão, explicitando que seu alvo preferencial sempre foi Lula, não importando a quem se aliasse. E que sua proximidade com Bolsonaro, da mesma forma que seu antagonismo a Lula, eram bem mais ideológicos do que deveriam ser.

E o que dizer do ministro Ricardo Lewandowski no ministério da Justiça de Lula? Por que sua eventual aceitação do cargo é avaliada com normalidade, depois de toda sua história ligada ao presidente, desde a nomeação por influências familiares até sua atuação sempre coerente a favor do ex-presidente, mesmo quando preso por acusações de corrupção?

O que dizer da teratológica interpretação da Constituição que permitiu que a presidente Dilma fosse impedida para o exercício do cargo, mas pudesse concorrer ao Senado dois anos depois? Coube ao eleitorado mineiro fazer valer a vontade constitucional, derrotando-a nas urnas.

IGUAL A MORO – A atuação do ministro Lewandowski a favor dos governos petistas pode ser vista como lealdade, ou mesmo uma coerência ideológica, o que lhe favorece na avaliação dos seus iguais, mas não difere da do ex-juiz Sérgio Moro.

Da mesma maneira, os erros de português do hoje senador Sérgio Moro são usados abusivamente pelos petistas para desmoraliza-lo.

Quando falou “conge” em vez de “conjuge”, foi ridicularizado, sem que se ao menos se desse a chance de ter sido uma decorrência do sotaque caipira. No áudio em que supostamente fala “com mim” em vez de “comigo”, não fica claro o erro, mas os ataques a ele são os mesmos.

CRÍTICAS ELITISTAS – Quando se criticam os erros de português do presidente Lula, os que o fazem são corretamente taxados de elitistas, arrogantes, preconceituosos. Por que não qualificar da mesma maneira os que criticam Moro?

Pode-se dizer que, sendo um juiz, Moro deveria dominar melhor o português. É um fato. Acho até que a história de superação de vida de Lula merece todas as homenagens, e sua origem humilde justifica erros de português (que já são raríssimos hoje, e às vezes até propositais), enquanto, como professor universitário e magistrado, os erros de Moro não deveriam existir.

 Só quero chamar a atenção para a situação esdrúxula de o erro depender do lado em que nos encontramos politicamente.

Cabe a Lula e aos moderados encontrar um idioma para tratar com a oposição

Charge do dia: Oposição circular!

Charge do Tiago Recchia, (Gazeta do Povo)

Maria Hermínia Tavares
Folha

Os estudos sobre o populismo de extrema direita têm crescido na mesma medida do reconhecimento de sua presença perturbadora nas democracias atuais. Os especialistas divergem tanto em identificar suas causas quanto ao seu poderio de destruir os sistemas democráticos.

Concordam, porém, que líderes populistas promovem a polarização política afetiva e dela se nutrem. O que, por sua vez, torna mais crispada a livre competição por votos e mais difícil a construção posterior de convergências que facilitem a vida dos eleitos.

CASO DO BRASIL – A profunda fenda política aberta pela vitória de Bolsonaro e ampliada sob o seu infausto mandato é o tema da obra “Biografia do Abismo”, do cientista político Felipe Nunes e do jornalista Thomas Traumann, a caminho das livrarias.

Nutridos por uma fartura de pesquisas, sustentam que nos últimos anos a natureza da polarização mudou. A extrema direita bolsonarista alçou ao topo do embate político a defesa de valores próprios da vida privada —modelos de família, crenças religiosas, educação dos filhos— em detrimento de questões socioeconômicas mais aptas e gerar convergências, como o papel do Estado e o combate à pobreza.

Facilitou assim a decantação de identidades políticas de natureza afetiva e, por isso mesmo, virtualmente irredutíveis e inegociáveis.

REDES SOCIAIS — A explosão do uso e abuso das redes sociais, onde as informações circulam a jato em grupos homogêneos de opinião, só reforçou o processo pelo qual a polarização foi dando lugar ao enrijecimento de posições que os autores denominam “calcificação política”.

Ela teria extravasado da velha disputa pelos corações e mentes do eleitor para invadir relações pessoais e familiares, entre colegas de trabalho e até nas escolhas de onde fazer compras.

Entre os petistas raiz teria ocorrido algo semelhante, de tal forma que, segundo os autores, o conflito calcificado poderá ter vida longa.

DEPENDE DE LULA – Se depender da extrema direita, a tendência se manterá, pois só a beneficia. Mas, a julgar pelas sondagens, nada indica que os eleitores de Bolsonaro sejam todos feitos da mesma matéria rija e impermeável. Ou que o petismo puro-sangue seja majoritário. Até porque o seu mentor maior sempre foi pragmático e afeito a buscar consensos.

Assim, dependerá dele e dos moderados que se agrupam em torno do seu governo reconhecer as diferenças no campo adversário e encontrar o idioma comum do reconhecimento e do diálogo.

Em alguns casos, isso poderá levar à ampliação de espaços na administração federal. Ou, como se viu há pouco, à nomeação de um procurador-geral de passado conservador.

Alagoas vai ao Supremo para retirar da Braskem a “propriedade” dos bairros 

Flexal: a incrível história do bairro que está afundando em Maceió - Giz  Brasil

A BraskemOdebrecht pensou (?) que os imóveis seriam dela…

Bernardo Mello
O Globo

Em carta divulgada nesta segunda-feira, dia seguinte ao rompimento da Mina 18 da Braskem, o governo de Alagoas preparou terreno para ingressar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para desapropriar terrenos da empresa na área afetada pelo afundamento do solo.

O documento, assinado pelo governador Paulo Dantas (MDB) e por um representante do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), estabeleceu, entre outros compromissos, que as autoridades locais vão acionar a Justiça “pleiteando a restituição dos bens” que passaram formalmente a ser propriedade da Braskem, em cinco bairros da capital alagoana que tiveram cerca de 57 mil pessoas realocadas desde 2019.

ACORDO NEFASTO – O Globo apurou com representantes da administração estadual que o governo de Alagoas prepara a apresentação de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo.

O objetivo é pleitear a inconstitucionalidade de acordos assinados pela Braskem com o poder público, desde 2019, que transferiram à empresa os direitos sobre imóveis e terrenos desocupados, cujos moradores originais receberam indenizações de realocação.

O segundo item da carta fala em “iniciar ação na Justiça pleiteando a restituição dos bens aos proprietários”. É com base neste item que o governo de Alagoas pretende acionar o STF, alegando que a transferência dos direitos de imóveis e terrenos à Braskem é inconstitucional.

ERA INDENIZAÇÃO – O argumento das autoridades estaduais é que a verba paga pela empresa aos moradores tem natureza indenizatória, e não de transferência do direito sobre bens.

A Braskem afirma já ter desembolsado R$ 3,8 bilhões em indenizações para a desocupação de 14,5 mil imóveis em cinco bairros — Bebedouro, Bom Parto, Farol, Mutange e Pinheiro — que estão classificados como áreas de risco, por conta do afundamento do solo detectado em 2018.

Em 2019, o primeiro acordo celebrado entre a Braskem e quatro órgãos de fiscalização — Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público de Alagoas (MP-AL), Defensoria Pública da União (DPU) e Defensoria Pública de Alagoas (DPE-AL) — previu que “pagamentos referentes aos terrenos e edificações pressupõem a transferência do direito sobre o bem à Braskem”.

POSSE DIRETA – Já o acordo firmado entre a Braskem e a prefeitura de Maceió neste ano, prevendo R$ 1,7 bilhão em indenizações, previu o município “nada mais tendo a pleitear” após a reparação financeira, “nem mesmo a título de direito de regresso”.

No acordo, a prefeitura também se comprometia a “atualizar o cadastro fiscal dos imóveis” que integram a área de risco “com base no Termo de Desocupação, documento subscrito pelos então possuidores das áreas desocupadas que atesta a transferência à Braskem da posse direta dos imóveis”.

A gestão de Paulo Dantas vem usando essa previsão do acordo da prefeitura para fustigar a atuação de Caldas, ou JHC, como é conhecido o prefeito de Maceió. Dantas já acusou a Braskem de usar as indenizações, com transferência de posse à empresa, para fazer “especulação imobiliária”.

ACORDO ANTERIOR – Em meio às acusações do governo estadual, um outro acordo assinado pela Braskem com o MPF, em 2020, para estabelecer indenizações por danos socioambientais e urbanísticos, também estipulou que a empresa “compromete-se a não edificar, para fins comerciais ou habitacionais, nas áreas originalmente privadas e para ela transferidas em decorrência” do programa de realocação.

O acordo, porém, abria uma brecha: a edificação poderia ocorrer se “após a estabilização do fenômeno de subsidência, caso esta venha a ocorrer, isso venha a ser permitido pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade de Maceió — AL”.

Representantes da prefeitura de Maceió avaliam que a transferência da posse dos imóveis à Braskem ocorreu para que a empresa pudesse empreender ações, inclusive de demolição, que buscam garantir a segurança da área afetada pelo afundamento.

SEM NOVAS CONSTRUÇÕES – A legislação atual do município proíbe novas construções ou exploração comercial desta região. No entanto, para atender a pressões do governo estadual, a proibição foi incluída de forma explícita na carta de compromissos.

A carta assinada nesta segunda-feira estabelece, em outro ponto, que a prefeitura de Maceió se comprometa a “não permitir a comercialização dos imóveis contidos nas áreas afetadas”.

A assinatura da carta foi a primeira ação conjunta adotada por Dantas e JHC desde o início do alerta de risco de colapso da Mina 18, no dia 29 de novembro. Desde então, governador e prefeito, que são adversários políticos em Alagoas, sequer haviam se falado diretamente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
A Piada do Ano era a Braskem/Odebrecht pensar (?) que poderia lucrar com a tragédia, tornando-se proprietária de três bairros inteiros e parte de outros dois, que já contam com ruas asfaltadas e serviços de água, esgoto e energia. Agora o jogo virou e o novo sonho da família Odebrecht virou pesadelo. (C.N.)

Uso do termo “genocídio” para a reação israelense visa à condenação dos judeus

Presidente Lula conversa com o presidente da Autoridade Palestina — Planalto

Lula devia parar de falar em “genocídio” dos palestinos

Demétrio Magnoli
Folha

Amin al-Husseini, mufti de Jerusalém, deflagrou em 1936 a Revolta Árabe na Palestina britânica. No exílio, em novembro de 1941, redigiu uma declaração conjunta com a Alemanha nazista e a Itália fascista destinada a “resolver” a “questão judaica” no Oriente Médio “como foi solucionada na Alemanha e na Itália”. O documento paradigmático continua, até hoje, a nortear os defensores da eliminação do Estado de Israel.

A guerra de 1948 nasceu da rejeição da Liga Árabe à bipartição da Palestina aprovada pela ONU. A Guerra de 1967 foi precipitada pela aliança entre Egito e Síria baseada no objetivo de supressão do Estado judeu. O Hamas, fundado com uma carta que reafirma o antigo objetivo exterminista, surgiu em campanha de terror contra os Acordos de Oslo de 1993. A guerra em Gaza representa a continuação da resistência judaica ao plano de varrer os judeus da Terra Santa formulado em 1941.

PROPAGANDA – Os parágrafos anteriores parecem história, mas são propaganda. O método que os orienta é a seleção e descontextualização, não a falsificação. Eles obedecem à estratégia de produzir uma narrativa de conspiração. Foi assim que Arlene Clemesha, professora de História Árabe na USP, escreveu seu artigo sobre a Nakba. A diferença: no lugar de propaganda pró-Israel, fabricou propaganda anti-Israel.

O também professor e cientista político Leonardo Avritzer já refutou essa narrativa histórica enviesada, evidenciando os matizes e a complexidade da questão. Resta iluminar o lugar da conspiração no discurso ideológico de Clemesha.

Narrativas de complô adoram textos originários: o plano dos conspiradores. Pode ser a declaração Husseini/Hitler ou, na versão de Clemesha, o Plano Dalet. O documento, um entre tantos produzidos por atores diferentes, nos dois lados, em épocas e contextos diversos, emerge no artigo dela como a prova de algo como uma “Nakba permanente”. O artigo é sobre a guerra atual, embora simule abordar a guerra de 1948.

CONSPIRAÇÃO JUDAICA – O ponto relevante: a noção de uma conspiração judaica apoiada num plano escrito tem sua própria história. A fonte do antissemitismo contemporâneo encontra-se nos Protocolos dos sábios de Sião, a fraude policial inventada na Rússia czarista sobre um projeto de dominação mundial articulado por sombrios líderes judeus.

No artigo de Clemesha, o Plano Dalet cumpre a função dos Protocolos. Seria um roteiro ancestral seguido por sucessivos governos sionistas com o objetivo de concluir a despossessão palestina. Sábios de Sião, parte 2.

Arlene Clemesha não quer a paz em dois Estados. Acha que israelenses e palestinos precisam “encontrar formas de viverem juntos, do rio ao mar” –a senha do “Estado único” inscrito na carta do Hamas de 2017, cujo pressuposto óbvio é o desaparecimento de Israel. Para isso, sugere um intercâmbio esdrúxulo destinado a “gerar a reparação”: o reconhecimento dos sofrimentos dos judeus no Holocausto e dos palestinos na Nakba.

E A REPARAÇÃO? – A equiparação dos dois eventos é, quase, negação do Holocausto. Mas o truque vai além. A “reparação” pelo Holocausto não caberia jamais aos palestinos, que não participaram do genocídio nazista. Já a “reparação” pela Nakba caberia a Israel, a quem o artigo atribui veladamente a autoria de um genocídio continuado. Finalidade: traçar um sinal de equivalência entre o Estado judeu e a Alemanha de Hitler.

O artigo não surpreende: nove anos atrás, na hora do massacre terrorista da redação do Charlie Hebdo, Clemesha atribuiu às vítimas a responsabilidade por suas mortes. O que deveria surpreender é o uso ritual do termo “genocídio” para mencionar a operação de guerra israelense.

Lula faz isso, noite e dia. Prefere, sempre, “genocídio” a “crimes de guerra”. Há um motivo para isso, exposto de modo (mal) oculto no artigo de Clemesha: não se trata de condenar atos desse ou daquele governo de Israel, mas de condenar inapelavelmente o próprio Estado judeu.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Belíssimo artigo de Demétrio Magnoli. É inaceitável a demonização que fazem dos judeus. O problema é que os palestinos islamitas transformaram Israel num motivo para morrerem como heróis. Na verdade, são escravos em vida, acorrentados por uma religião que lhes proíbe a alegria de viver, aprisiona as mulheres e persegue os homossexuais. Assim, a maioria dos jovens islamitas prefere ir logo para o paraíso, onde cada um é esperado por 72 virgens e um punhado de viúvas sedentas de amor. Quando morrem, seus pais se orgulham, é uma inversão total de valores. Os islamitas acreditam nisso, ninguém jamais conseguirá vencê-los sem guerra. Depois de destruírem os judeus, vão atacar os cristãos, os espiritualistas, os ortodoxos, os umbandistas, será um nunca-acabar. Como dizem os árabes, “Maktub” (Assim estava escrito), (C.N.)

Pesquisa confirma que o povo não aguenta mais a prepotência do Supremo

Ditadura do Supremo em plena democracia indica que o Brasil é altamente  criativo - Flávio Chaves

Charge do Bier (Arquivo Google)

Vicente Limongi Netto

Pobre Suprema Corte. O povo cansou da falta de isenção, da falsa humildade, da evidente parcialidade e da absurda arrogância dos togados, com banca de donos da verdade. Se antes os formidáveis ministros não botavam os pés na rua, sem escoltas, agora, então, com o melancólico e assustador resultado da pesquisa Datafolha, os ministros Barroso, Fux, Moraes, Fachin, Gilmar, Zanin e companhia foram lembrados pela Polícia Federal que a prudência vale ouro.

Números do Datafolha revelam que cresceu a reprovação do Supremo Tribunal Federal (STF) junto aos brasileiros. Atingiu 38%. Enquanto a aprovação recuou para 27%. Tristeza. Números amargos, desoladores e preocupantes. O melancólico quadro começou quando a Suprema Corte virou caixa de ferramentas do PT, de Lula e de desprezíveis capachos. Será difícil reverter o jogo. Acabou a lua de mel do povo com os garbosos juízes do STF.

MANGA COM SAL – Seguramente, time que tem Paulo Henrique Ganso, em excelente forma física e técnica, considerado “gênio”, pelo técnico Fernando Diniz, não precisa do bom, mas em fim de carreira,  Renato Augusto (Esportes – Correio Braziliense – 11/12). No Corinthians. o meia já não rendia o esperado. Atleta cerebral, sabe jogar, mas as pernas não aguentam mais jornadas duras. A vitalidade não é mais a mesma.

Acredito que mesmo com Ganso contundido, Renato Augusto não suporta mais jogar uma partida inteira. A não ser que o Fluminense esteja com ampla vantagem no placar. Nessa linha, a matéria do Correio especula – a meu ver, açodadamente – que caso Renato Augusto seja mesmo contratado pelo Fluminense, André, Martinelli, Arias, Ganso ou Keno, um deles sairá do time.

É mais fácil acabar com as capivaras que infestam Brasília, do que o atilado Diniz barrar algum jogador dos citados. O técnico interino da seleção brasileira não comeu manga verde com sal.

ONÇAS E DRAGÕES – O Globoplay anuncia o documentário “Diário de uma Onça”.  Não sei por quê, mas botei na cabeça que o interessante trabalho jornalístico foi inspirado nas deputadas Bia Kicis, Gleisi Hoffmann e Maria do Rosário, na senadora Damares Alves e na ministra Marina Silva.

Na pauta da emissora, depois virá uma série sobre os dragões. Deve haver políticos brigando de foice para ver quem ganha os principais holofotes, para competir com as onças. 

Nova Piada do Ano! Governo federal multou a Braskem em apenas R$ 2,5 mil…

foto colorida da mina operada pela Brasken em Maceió

A poluição das águas já começou e está sendo monitorada

Paulo Cappelli e Petrônio Viana

Após o tremor de terra de 2018 que revelou o afundamento do solo em cinco bairros de Maceió (AL), a Agência Nacional de Mineração (ANM), autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia, multou a Braskem em R$ 2,5 mil por descumprir exigências da fiscalização em 2017.

O valor irrisório aplicado na gestão Temer chamou a atenção do deputado alagoano Alfredo Gaspar (União Brasil), que se debruça sobre a questão.

AFUNDAMENTO – A multa se referia exatamente à ausência de um programa de monitoramento de subsidência, ou seja, do afundamento abrupto ou gradativo do solo. O estudo não foi realizado, e, em 2018, ocorreu o primeiro tremor de terra provocado pelas cavidades no subsolo da capital alagoana.

A exploração mineral vem sendo apontada por especialistas e autoridades públicas como a principal causa do problema. A multa só foi aplicada em 2020, dois anos depois do problema geológico provocado pela exploração de sal-gema ser revelado.

Neste domingo, o problema se agravou com o rompimento da mina de exploração 18. Um alerta máximo foi emitido pela Defesa Civil Estadual, e o local foi isolado. Neste caso, a multa aplicada à Braskem pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), órgão estadual, foi de R$ 72 milhões, por danos ambientais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É claro que o problema está apenas começando. Com as chuvas do verão, as rachaduras vão aumentar, com risco de novos afundamentos, como o que ocorreu neste domingo, que ainda está sendo avaliado. As múltiplas maracutaias da Odebrecht somente serão amplamente divulgadas quando a CPI for iniciada, em fevereiro. Até lá, será esse novela no dia-a-dia. (C.N.)

Brasil precisa se posicionar de forma clara sobre a disputa entre Venezuela e Guiana

Maduro usa a Guiana para reconquistar apoio popular

Murillo Aragão
Veja

As Guianas sempre foram foco de certa confusão política e diplomática. Dom João VI, em retaliação às invasões napoleônicas, ocupou a Guiana Francesa. Posteriormente, através de um acordo, o Brasil devolveu essa região aos franceses.

No início do século XX, o Brasil teve uma disputa territorial com a Inglaterra, que colonizava a Guiana, a mesma região que hoje é objeto de controvérsia entre a Venezuela e a Guiana. Este episódio histórico é conhecido como “A Questão do Rio Pirara” onde fomos derrotados diplomaticamente.

JÂNIO MADUROU – Na década de 1960, Jânio Quadros, numa iniciativa controversa, criou a Operação Cabralzinho com o objetivo de ocupar a Guiana Francesa, alegando ser território brasileiro. Isso se assemelha, de certa forma, às pretensões de Maduro em disputar uma terra cuja decisão internacional lhe foi contrária. A ridícula iniciativa de Quadros era sintetizada pelo codinome escolhido. Não podia ter dado certo.

Voltando à atualidade, para o Brasil, é crucial definir uma postura clara nessa questão. Primeiramente, o governo Lula deve distinguir claramente o que são simpatias do governo de hoje com políticas de estado.

O governo brasileiro, embora aliado de Maduro, deve aderir às políticas de Estado de neutralidade e pacificação. Esta é a conduta esperada do país.

ESTABILIDADE REGIONAL – Neste contexto, o Brasil deve agir diplomaticamente, instando a Venezuela a aceitar as decisões dos tribunais internacionais e a se abster de quaisquer ações unilaterais.

O Brasil, enquanto potência regional, já acatou decisões internacionais adversas aos nossos interesses. Respeitá-las é uma política de Estado.

Portanto, o Brasil não deve mostrar ambiguidade em relação a possíveis agressões da Venezuela à Guiana. Deve se posicionar de maneira firme e clara. Se o Brasil aspira a ser um líder global, deve começar zelando pela paz e estabilidade regional.

Preocupado com o comunismo, Jânio queria fazer “intervenção” na Guiana 

Anjovida: O Jânio que ficou na retina

Jânio não sabia aonde ir, estava completamente perdido

Elio Gaspari
O Globo/Folha

Presidente tatarana querendo encrenca com a Guiana não é uma exclusividade da Venezuela. Jânio Quadros namorou essa ideia, quando não se conheciam suas reservas de petróleo. No dia 31 de julho de 1961 ele mandou um bilhete aos ministros militares armando o bote:

“1) Desejo chamar a atenção de Vossas Excelências para o problema das três Guianas, submetidas a intenso trabalho autonomista ou de emancipação nacional, com a presença de fortes correntes de esquerda, algumas, reconhecidamente, comunistas.

2) Cumpre traçar, com urgência, planos em relação às mesmas, e executá-los.

Haverá, ainda, a possibilidade da nossa penetração nesses três Estados e, eventualmente, a da integração respectiva, no todo ou em parte, a nosso país?”

INSISTIU NO TEMA – Uma semana depois ele voltou ao tema, anunciando que trataria das Guianas numa próxima reunião ministerial.

No dia 21 de agosto haviam-se realizado eleições na Guiana Inglesa, vencidas pelo primeiro-ministro Cheddi Jagan, um líder popular, que se afastava da Inglaterra.

Jânio voltou ao assunto, no dia 23, sem falar em anexação territorial, e escreveu aos ministros militares:

“Excelências:

1) Com as recentes eleições da Guiana Britânica instalar-se-á, sem dúvida, ao Norte do Brasil, um país de estrutura soviética. Conheço o dirigente desse novo governo e considero-o da mais alta periculosidade;

2) Solicito de Vossas Excelências, nas respectivas pastas e no Conselho de Segurança, a máxima vigilância no que respeita à infiltração comunista nas Forças Armadas e nos setores fatais [vitais] da economia e do trabalho da nação.”

RENUNCIOU – No dia 25 de agosto, Jânio teve outra ideia e renunciou à Presidência da República achando que voltaria ao poder nos braços do povo.

Deu no que deu.

(Dois anos antes, o cubano Fidel Castro havia renunciado ao cargo de primeiro-ministro depois de se desentender com o presidente Manuel Urrutia. Dias depois o povo reconduziu-o ao poder.)

EREMILDO, O IDIOTA – Eremildo é um visionário e defende a criação de um organismo supranacional para resolver todos os problemas do mundo, sem que o Congresso de cada país possa barrar suas decisões.

O cretino achou correta a decisão do Itamaraty de classificar o plebiscito para decidir a questão da anexação do Essequibo como “um assunto interno da Venezuela”.

Eremildo teme apenas que Javier Milei resolva denunciar o laudo arbitral do presidente americano Grover Cleveland de 1895 e convoque um plebiscito para que os argentinos decidam se ele deve anexar o oeste de Santa Catarina.

Campos Neto dá aviso indireto a Rui Costa sobre PAC com investimentos públicos

Ilustração de Caio Gomez (Correio Braziliense)

Denise Rothenburg
Correio Braziliense

Ao traçar o cenário de 2024 para um grupo de parlamentares na Frente Parlamentar do Empreendedorismo, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fez um alerta para o governo. Em especial, ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, que planeja trazer crescimento econômico via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com investimentos públicos, como se tentou fazer no governo Dilma Rousseff.

“Achar que vai crescer com investimento público, a gente não consegue fazer isso”, disse Campos Neto.

INVESTIMENTO PRIVADO – O presidente do Banco Central assinalou que, dos 19% investidos no Brasil, o setor privado contribui com 17% e o setor público com apenas 2%.

“Temos que fazer o dever de casa. Importante passar a mensagem de consolidação do arcabouço fiscal”, afirmou.

Obviamente, o presidente do BC não citou nem o PAC nem Rui Costa. Mas, para os parlamentares bons entendedores da política presentes à palestra de Campos Neto, o recado tem nome e endereço.

HADDAD (AINDA) TEM LASTRO – Os operadores do mercado financeiro veem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como a personalidade de destaque do governo, conforme detecta a nova pesquisa da Fatto Inteligência Política. O segundo destaque vai para o secretário especial da Reforma Tributária, Bernard Appy.

Se tiver juízo, o  PT precisa apoiar mais decididamente o seu ministro da Fazenda. Afinal, o mercado não fecha com o governo para o que der e vier, mas apoia Haddad.

Pelos dados da pesquisa, Lula, neste primeiro ano, não conseguiu obter a confiança total dos agentes financeiros.

Antissemitismo exibe a podridão moral das elites progressistas nos Estados Unidos

ONU alerta para avanço do antissemitismo na Europa e nos Estados Unidos | As Nações Unidas no Brasil

ONU tem criticado o antissemitismo nos EUA e na Europa

Mario Sabino
Metrópoles

Uma comissão do Congresso dos Estados Unidos ouviu esta semana, em audiência sobre as manifestações antissemitas nos campi universitários do país, ocorridas depois da eclosão da guerra entre Israel e o Hamas, as presidentes de três das mais prestigiosas universidades americanas: Claudine Gay, de Harvard, Liz Magill, da University of Pennsylvania, e Sally Kornbluth, do Massachussetts Institute of Technology. As respostas delas mostram o apodrecimento moral de uma elite que se guia pelo relativismo progressista.

A deputada Elise Stefanik fez a seguinte pergunta a Claudine Gay, Liz Magill e Sally Kornbluth: “Incitar ao genocídio dos judeus viola o código de conduta ou as regras da sua universidade relativas a bullying ou a assédio?”.

A MESMA RESPOSTA – As três presidentes deram basicamente a mesma resposta, assim resumível: “Depende do contexto, de o discurso se tornar ação”. Ou seja, a incitação ao genocídio só violaria as regras dessas instituições se judeus fossem efetivamente massacrados.

É escandaloso. É de um cinismo nojento. Incitar ao genocídio dos judeus não tem nada a ver com liberdade de expressão, como quiseram fazer supor Claudine Gay, Liz Magill e Sally Kornbluth, por meio das suas respostas abjetas.

É discurso de ódio sob medida para alimentar as violências físicas e psicológicas que vêm sendo cometidas contra estudantes universitários judeus pela horda antissemita que prega a destruição de Israel, em nome de uma Palestina que vá “do rio (Jordão) até o mar (Mediterrâneo)”.

FORTE REAÇÃO – Como não poderia deixar de ser — ainda bem — a indecência causou clamor dentro e fora das instituições que elas presidem. Horas depois, Liz Magill pediu desculpas: “Naquele momento, eu estava focada nas políticas de longa data da nossa universidade alinhadas com a Constituição dos Estados Unidos, que diz que o discurso por si só não é punível. Eu não estava focada, mas deveria estar, no fato irrefutável de um apelo ao genocídio do povo judeu é um apelo a uma das mais terríveis violências que seres humanos podem perpetrar. É o mal, pura e simplesmente”.

Claudine Gay também se retratou: “Há quem confundiu o direito à liberdade de expressão com a ideia de que Harvard tolera incitações à violência contra estudantes judeus. Vou ser clara: incitações à violência ou genocídio contra a comunidade judaica ou qualquer grupo religioso ou étnico são vis, não têm lugar em Harvard, e aqueles que ameaçam nossos estudantes judeus serão responsabilizados.”

Ambas só se desculparam porque se viram obrigadas a fazê-lo (Sally Kornbluth ainda não havia se manifestado até o fechamento deste artigo). Difícil acreditar que a resposta das presidentes das três universidades seria a mesma se a pergunta da deputada Elise Stefanik fosse sobre incitação ao genocídio de negros, como Claudine Gay. É que no relativismo progressista e antissemita uns são mais relativos do que os outros. Podridão moral.

A insegurança pública avança no país, eis uma realidade inquestionável

Charge do Sinovaldo (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

O problema da insegurança pública tem se agravado nos últimos meses e uma pesquisa do Instituto Quaest feita em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais revela uma estatística alarmante: mais da metade da população brasileira foi vítima de assalto nas ruas ou em praças públicas.

Reportagem de Marlen Couto, O Globo de ontem, analisa o resultado e revela a preocupação crescente com o processo que se verifica e ameaça todas as pessoas. A avaliação das ações públicas contra crimes desse tipo aponta deficiências estruturais e assinala a falta de iniciativas concretas nas áreas urbanas.

INVESTIMENTOS SOCIAIS  – Rio e São Paulo, principalmente, até por suas dimensões, são regiões de intensas ações de criminosos. Uma das faces da questão está na incorporação de adolescentes cada vez maior nas zonas urbanas de roubo e violência. As ações governamentais, como todos sabem, não são acompanhadas de investimentos sociais nas áreas mais críticas.

Propagandas políticas exibidas em horários destinados a partidos nas emissoras de televisão chocam-se com a realidade dos fatos. Ao contrário do que os políticos acentuam e repetem, o cenário real é desolador. Nas mensagens de deputados e dirigentes partidários espalham-se visões positivas que não são confirmadas pelos fatos do dia a dia.

O problema assume uma dimensão nacional e exige uma mobilização de estados e municípios. A situação atingiu um ponto crítico como atestam os fatos deste fim de semana.Os jornais e as telas da televisão estão repletos de exemplos profundamente tristes de ataques a carros, como foi o caso da deputada Tabata Amaral. A inação do poder público é um dos fatores do aumento das ações do crime.