Fabio Serapião
Folha
O FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, começou a colaborar com as investigações de autoridades brasileiras sobre o esquema de venda de joias e outros artigos de luxo recebidos como presente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A PF havia feito um pedido de cooperação internacional para as autoridades americanas, que foi aceito pelo governo dos Estados Unidos.
Com essa cooperação do FBI, a Polícia Federal —que investiga o caso no Brasil— pretende amealhar mais detalhes sobre as negociações das joias feitas nos Estados Unidos por Bolsonaro e seus aliados, como o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid.
COOPERAÇÃO – Segundo a Folha apurou, o FBI já está cooperando com as apurações. Os investigadores pretendem, entre outros pontos, refazer todo o caminho do dinheiro proveniente das negociações para saber quem se beneficiou da venda ilegal das joias.
Tanto a família Cid como Bolsonaro mantêm contas em bancos nos Estados Unidos que podem ter sido utilizadas nas transações, segundo pessoas que acompanham as apurações ouvidas pela Folha.
Além disso, a loja e a leiloeira onde as joias foram negociadas estão no país. Nesse caso, o objetivo é mapear quem procurou essas lojas e para quem elas repassaram os valores provenientes da venda.
EM NOVA YORK – Como mostrou a Folha, uma caixa de joias dada a Bolsonaro pela Arábia Saudita foi colocada à venda por uma loja de artigos de luxo de Nova York no começo deste ano. E a investigação da PF indica que Mauro Cid participou da tentativa de venda do conjunto com joias e relógio da grife Chopard.
Os itens aparecem como destaque no catálogo de Dia dos Namorados da Fortuna Auction, publicado em 30 de janeiro, com preço estimado de US$ 120 mil a US$ 140 mil, ou seja, de cerca de R$ 611 mil a R$ 713 mil, conforme a cotação da época. O leilão foi aberto no começo de fevereiro.
Em delação à PF, Mauro Cid afirmou que entregou nas mãos de Bolsonaro parte do dinheiro da venda de relógios de luxo recebidos como presentes de Estado. O valor seria de US$ 68 mil, entregue de forma parcelada, com uma parte repassada em solo americano e outra no Brasil.
NA CONTA DO PAI – O dinheiro da venda dos relógios Rolex e Patek Philippe foi depositado na conta do pai de Cid, o general da reserva Mauro Lourena Cid, sacado e entregue diretamente para o ex-presidente em mãos, de acordo com Cid.
Bolsonaro nega recebimento de dinheiro referente à venda de joias.
A defesa do ex-presidente chegou a colocar a movimentação bancária à disposição das autoridades e disse que ele “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos”.