Pepita Ortega e Daniel Haidar
Estadão
Tendo participado como motorista no assassinato da vereadora Marielle Franco, o ex-PM Élcio Queiroz ressaltou em sua delação premiada o ‘acréscimo patrimonial muito grande’ de Ronnie Lessa – autor dos disparos no dia 14 de março de 2018 – após o crime. Ele comprou uma Dodge Ram blindada, uma lancha, queria fazer uma casa de praia em Angra dos Reis.
Para os investigadores, as revelações do delator sobre as aquisições de bens de Ronnie Lessa podem reforçar a suspeita de que ele foi financiado por mandantes. Esta é a próxima etapa da apuração. Nesta segunda-feira, 24, o ministro da Justiça indicou o avanço do inquérito nessa direção.
“NENHUM CENTAVO” – Em sua delação, Elcio Queiroz relatou que Ronnie Lessa jurava que ‘não levou nenhum centavo’ do assassinato. A Polícia Federal questionou se o delator acreditava nessa versão. Ele respondeu que não.
“Por que depois do fato, vi um acréscimo muito grande… como se diz…no patrimônio; tinha a Evoque; comprou uma DODGE RAM blindada; uma lancha, uma nova; que a dele tinha virado no quebra mar, que ele refez e quase deu perda total, mandou reformar, vendeu e pegou uma zero; e depois disso viajou com o meu filho”, frisou.
Queiroz também comentou sobre a situação de uma terreno de Lessa em Angra dos Reis. Segundo o ex-PM, ele queria fazer a ‘casa dele ali, do jeito dele’, ‘uma casa e mais umas outras casinhas lá’.
QUEIXAS DA MULHER – “E a esposa reclamando que ele estava vivendo de aluguel, pagando na verdade duas casas, a 566 que ele morava; dois condomínios; que ele estava gastando, dando dinheiro pros outros e tal; podendo estar na nossa casa, não faz nossa casa”, indicou.
“Falei com ele: ‘pô cara, ao invés de fazer sua casa, você tá gastando dinheiro com casa de praia, podendo fazer sua casa, o seu pessoal tá chateado’; aí ele falou: ‘cara, eu tenho dinheiro pra fazer essa casa e fazer a da Barra, dinheiro eu tenho para as duas’”, completou o delator.
A delação de Queiroz, fechada após a Polícia Federal angariar novas provas sobre o caso Marielle/Anderson, foi o que abasteceu o inquérito sobre o crime cometido em março de 2018.
DEUSA DA ESPERANÇA – Com base nos relatos do ex-PM delator, corroborados pelos investigadores, a PF abriu na manhã desta segunda-feira, dia 24, a Operação Élpis, anunciando a conclusão da apuração sobre a mecânica do crime.
Agora, a apuração deve usar as provas colhidas nas diligências realizadas hoje para seguir na investigação sobre os mandantes e financiadores do assassinato de Marielle e Anderson. Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, o nome da operação faz referência à ‘esperança’ de responder à pergunta ‘quem mandou matar Marielle e Anderson’. Élpis é o nome da deusa que seria a personificação da esperança.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Para achar o mandante, é preciso encontrar o elo perdido da investigação. Afinal, o que Marielle estava fazendo de tão importante, a ponto de sua morte ter tanto valor financeiro? Reformulando: a quem Marielle estava incomodando tanto, a ponto de Lessa passar meses em sua campana e ganhar tanto dinheiro com a execução? (C.N.)