Trump fala em impor medida à Europa
Pedro do Coutto
Depois de várias ameaças, chega agora a confirmação oficial. Os Estados Unidos avançam com a aplicação de tarifas aduaneiras de 25% aos vizinhos Canadá e México e de 10% à China.“Promessas feitas, promessas cumpridas”, dissea porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt. Para já, ainda não são conhecidas as tipologias de produtos que vão ter de pagar uma taxa adicional para entrarem no mercado norte-americano.
A Casa Branca decidiu antecipar a imposição destas tarifas, que estavam inicialmente previstas apenas para o mês de março. Afinal, avançaram já neste sábado. Segundo a porta-voz da Casa Branca, a imposição de uma tarifa adicional de 10% sobre os produtos chineses é uma retaliação ao que a administração Trump considera ser a intenção propositada de Pequim de fazer entrar fentanil nos EUA. “Uma taxa de 10% à China, devido ao fentanil que deixaram entrar no nosso país e que matou dezenas de milhões de americanos”, justificou Karoline Leavitt, referindo-se a droga opióide.
JUSTIFICATIVA – Já quanto ao México e ao Canadá, a explicação para a imposição de tarifas está relacionada com a falta de segurança nas fronteiras com território norte-americano. Nos últimos dias, vários membros indicados para a administração Trump, como o secretário do Comércio, avisaram que os dois países ainda poderiam evitar as tarifas se reforçassem a segurança fronteiriça.
Na última sexta-feira, três ministros canadenses fizeram um último esforço diplomático para evitar uma guerra comercial com os Estados Unidos. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Mélanie Joly, o ministro da Segurança Pública, David McGuinty e o ministro da Imigração, Marc Miller, deslocaram-se a Washington para tentarem convencer os membros republicanos do Congresso e os membros da administração Trump a demover o presidente a prosseguir com as tarifas. Sem sucesso.
Já antevendo o fracasso do périplo na capital federal norte-americana, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que, caso os EUA avançassem com tarifas, o país estaria pronto para responder de forma “proporcional, forte, mas razoável e imediata”. Na ofensiva, Trump ameaçou também a União Europeia com a possibilidade de alíquotas mais elevadas. A repercussão foi intensa, como aliás era esperado, pois Trump assume uma posição de intimidação permanente, explicitando que se a sua vontade prevalecerá ao bom senso.
AUMENTO DE CUSTOS – O mundo e o Brasil vão enfrentar aumento de custos, já que a taxação de insumos tornará os produtos exportados pelos Estados Unidos mais caros. Cerca de 85% da importação brasileira são de produtos manufaturados vindos da China, EUA e UE, nessa ordem. Possivelmente, com o confronto americano, a economia mexicana será estrangulada e haverá o encarecimento dos custos para a indústria americana. Os Estados Unidos importam muito do México, principalmente bens intermediários. E não é fácil substituir fornecedor de um dia para o outro. Vai acabar estrangulando também a indústria americana.
Sobre a promessa de tarifas sobre a UE, isso vai promover uma “rearrumação no comércio mundial”. Com as exportações e importações mais caras, a tendência também é reduzir o consumo dentro dos países, com queda no ritmo de crescimento do comércio global.Taxar os produtos da União Europeia é uma decisão política que visa “equilibrar o jogo” e impedir que o bloco atraia investimentos globais, por ter mais vantagens comparativas em relação a outros parceiros dos Estados Unidos.
Trump acredita estar acima de qualquer cenário diplomático, tendo a sua vontade como principal bússola das ações do governo americano. Se terá um retorno positivo para a sua imagem e para a própria economia, só o tempo dirá.