“Lula hoje perderia reeleição e Haddad é muito fraco”, avalia Kassab

Kassab afirma que Lula perderia se eleição fosse hoje, e chama Haddad de  'fraco' - Portal 98 FM Natal

Kassab elogia Tarcísio, que não disputará a Presidência

Gustavo Uribe
da CNN

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, disse nesta quarta-feira (29) que vê o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com dificuldades de se “impor no governo”. Segundo ele, ter um ministro “fraco” no comando da equipe econômica é um indicativo negativo para o governo.

“Hoje, o que a gente vê é uma dificuldade do ministro Haddad de comandar. Ele prioriza convicções, projetos, que não acabam se tornando realidade porque ele não consegue se impor no governo. Um ministro da Fazenda fraco sempre é um péssimo indicativo”, disse em evento com investidores em São Paulo.

MINISTROS FORTES – Na conversa, Kassab mencionou ministros anteriores, como Antonio Palocci, Henrique Meirelles e Paulo Guedes. “Eu acredito no sucesso da economia quando você tem ministros da economia fortes”, declarou.

A CNN procurou a assessoria de Haddad sobre as declarações de Kassab e aguarda resposta.

No evento, Kassab foi questionado sobre as perspectivas para as eleições presidenciais de 2026. Segundo ele, a possibilidade de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “hoje não é fácil”. Apesar disso, não descartou uma “reviravolta” que fortaleça o chefe do Executivo até a campanha eleitoral.

REVIRAVOLTA – “O Lula, como eu disse, acho que se fosse hoje perderia a eleição, mas sempre é um candidato forte. Tem muita experiência, pode haver uma reviravolta no seu governo”, afirmou.

Kassab mencionou a última pesquisa Genial/Quaest, que mostrou queda na popularidade do governo petista. De acordo com ele, o fato de o apoio ao PT ter caído no Nordeste – tradicionalmente um reduto petista – é um “indicativo muito grande de que o PT, se fosse hoje, entraria na campanha, não na condição de favorito, [mas] na condição de derrotado”.

Segundo Kassab, para vencer as eleições, um candidato à Presidência precisará necessariamente do apoio de partidos de centro. “

APOIO DO CENTRO – Eu acho muito difícil ganhar a eleição de presidente quem não tiver com o centro. Seja um candidato de esquerda, seja de direita ou do próprio centro”, disse.

Atual secretário de Governo e Relações Institucionais do estado de São Paulo, Kassab afirmou que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) seria o nome mais forte da oposição para a disputa à Presidência.

Ele indicou, no entanto, que Tarcísio não deve se candidatar para presidente e ainda prefere buscar a reeleição ao governo do estado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Por sua extraordinária esperteza política, Kassab e tornou uma espécie de Oráculo de Delfos nos tempos modernos. Criou um partido para chamar de seu e está sempre no poder. Não apoia nenhum candidato na campanha, fica estrategicamente em cima do muro, e depois participa do governo apoiando quem ganha a eleição. É um velho malandro de cabelos pintados que analisa contextos como ninguém. Por isso, o PSD é o partido que mais cresce no país. (C.N.)

Simone Tebet intervém no IBGE, suspende fundação e humilha Pochmann

Simone Tebet afirma que gastos sociais não são problema no orçamento |  Radioagência Nacional

Simone Tebet colocou Pochmann em seu devido lugar

Fernanda Trisotto e Daniela Amorim
(Broadcast)

O Ministério do Planejamento e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram nesta quarta-feira, 29, nota conjunta em que decidem, “em comum acordo”, suspender temporariamente a iniciativa da fundação privada IBGE+. O IBGE tem autonomia administrativa, mas é subordinado ao Planejamento, por isso receberá apoio, via lei orçamentária, para a formulação do Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola.

Como o Estadão/Broadcast vem mostrando, há meses o IBGE vive uma crise interna provocada por inúmeras razões, incluindo a criação da fundação de direito privado IBGE+.

MANIFESTAÇÃO – Contra o que apelidaram de “IBGE paralelo” e o “autoritarismo” de seu criador, Marcio Pochmann, servidores do órgão realizaram uma manifestação na manhã desta quarta-feira, 29, em frente à sede do instituto, na região central do Rio de Janeiro (saiba mais abaixo).

A suspensão foi anunciada poucas horas depois de Pochmann ter dado entrevista defendendo a criação da fundação como fonte para financiar as pesquisas.

Na nota conjunta, o Ministério do Planejamento e o IBGE informam que resolveram “em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO, para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE”, diz o texto.

MODELOS ALTERNATIVOS – Os órgãos afirmam que, diante desse desafio, estão sendo mapeados modelos alternativos que podem implicar em alterações legislativas, “o que requererá um diálogo franco e aberto com o Congresso Nacional”.

O Planejamento e IBGE esclareceram ainda que “qualquer decisão que oportunamente for tomada seguirá o debate no IBGE e com o Executivo e o Legislativo”.

Sobre o aperfeiçoamento institucional, a nota ressalta que o IBGE foi reconhecido como Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT). Por isso, vai elaborar sua Política de Inovação, conforme determinação da Lei de Inovação para ICTs, com a instituição de um comitê próprio, composto por servidores de todas as diretorias e membros das superintendências.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, Pochmann foi desautorizado pela ministra Simone Tebet, que não participou da nomeação dele. Agora, tornou-se um presidente “pro tempore” – ou seja, por algum tempo, que não manda mais nada e precisa se demitir o mais rápido possível, cada ainda tenha alguma dignidade, ou vergonha na cara, como dizia o historiador Capistrano de Abreu. (C.N.)

Trump cria aliança ultraconservadora em ofensiva global contra aborto  

Trump oferece indenizações para que funcionários federais resistentes ao  trabalho presencial deixem serviço público nos EUA

Trump se mete em coisas demais, tudo ao mesmo tempo

Jamil Chade
do UOL

O governo de Donald Trump fará uma ofensiva diplomática para tentar impor políticas contrárias ao aborto em agências da ONU e outros organismos internacionais. Para isso, os EUA anunciam que vão retomar uma aliança ultraconservadora que tem como objetivo impedir qualquer avanço nas pautas de direitos sexuais e reprodutivos no âmbito mundial.

A aliança havia sido originalmente criada por Trump em 2020 e ficou conhecida como Consenso de Genebra. A derrota do republicano nas urnas, naquele momento, transferiu para o governo de Jair Bolsonaro a missão de liderar o processo, que passou a contar com cerca de 30 países.

NOVA REALIDADE – Mas a ausência americana e, depois, a derrota de Bolsonaro nas urnas, mudou a história do grupo. Joe Biden anunciou a ruptura com a aliança e Luiz Inácio Lula da Silva também seguiu no mesmo caminho.

O bloco passou a ser liderado pela Hungria, também governada pela extrema direita. Governos conhecidos por leis discriminatórias contra mulheres —como a Arábia Saudita e Bahrein— também faziam parte do bloco. Mas a aliança perdeu força e relevância no debate internacional.

Agora, numa carta obtida pelo UOL, a diplomacia americana informou às missões de governos na ONU que estava retomando sua adesão à aliança. Segundo o documento, o governo Trump quer “promover a saúde da mulher e as necessidades de mulheres, crianças e suas famílias em todos os estágios da vida”.

VAI MUDAR TUDO – A expectativa de diplomatas é de que, em resoluções e políticas criadas pela ONU e outros órgãos, o governo Trump pressionará por vetos ou mudanças substanciais no texto.

Trata-se da primeira medida concreta do governo americano na retomada de sua ofensiva contra o aborto. Documentos da ONU que lidem com esses temas serão rejeitados pelos EUA e recursos serão congelados para agências que promovam direitos reprodutivos.

No Brasil, a aliança havia sido uma das principais bandeiras do ministério liderado por Damares Alves e Ângela Gandra.

Governo não percebe a nova crise de credibilidade que vem do IBGE

Da colonização portuguesa ao contexto neoliberal atual - Jornal da Unicamp

Pochmann quer usar as estatísticas para favorecer Lula

Sergio Denicoli
Estadão

Há uma crise pronta e embalada para explodir nas redes sociais, arrancando mais um pedaço da credibilidade do governo, que anda em baixa. É a crise IBGE. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que sempre foi uma espécie de guardião dos números que moldam o Brasil, está no meio de uma tempestade política, que se tornou evidente ainda no ano passado, quando foi anunciada a criação da Fundação IBGE+, pelo presidente do órgão, Márcio Pochmann.

A fundação tem como objetivo captar recursos da iniciativa privada para apoiar as atividades do Instituto. No entanto, essa iniciativa gerou preocupações entre servidores, que temem que o financiamento privado possa comprometer a autonomia e a credibilidade da instituição.

IBGE PARALELO – Eles, inclusive, passaram a chamar a fundação de IBGE paralelo e acusar o presidente de tomar medidas autoritárias, que poderiam comprometer o instituto.

Pochmann chegou a ser alvo de uma carta aberta dos servidores do IBGE, que expressaram preocupações com a falta de planejamento e diálogo, mediante medidas que consideram autoritárias.

Houve ainda pedidos de demissões de diretores, insatisfeitos com a forma de gestão do presidente. Essa situação tem sido explorada pela oposição, que não perdeu tempo em usar o episódio para buscar corroer, mais uma vez, a credibilidade do governo.

IPCA EM QUESTÃO – A narrativa mais recente das redes tem colocado em questão os dados do IPCA – o principal indicador de inflação no Brasil, que monitora o aumento ou a queda do custo de vida no País.

Como a inflação dos alimentos tem se tornado uma pedra no caminho do governo que vislumbra permanecer no poder, os dados do IBGE passaram a ser alvo de ampla contestação.

Os números que compõem a prévia da inflação e formulam o IPCA-15 foram anunciados nesta sexta-feira, mostrando uma desaceleração da alta de preços. Algo que já está envolvido em dúvidas e questionamentos, diante da percepção nítida nas redes de que os produtos alimentícios subiram muito mais do que o divulgado oficialmente.

CPI DO IBGE – Nas redes sociais, há perfis que já pedem, inclusive, a instauração de uma CPI do IBGE no Congresso Nacional.

Enquanto isso, seguindo o mesmo modelo que vigorou durante a recente crise do Pix, o governo segue inerte, esperando talvez um novo vídeo da oposição para tomar uma atitude, depois que a crise escalar.

A inércia, na política feita na era das redes, custa muito caro e causa danos que podem ser irreversíveis. Se o governo perder de vez a capacidade de dar esperança às pessoas, pode começar a se preparar para passar o bastão para seus opositores.

E Carlos Drummond de Andrade um dia descobriu que Deus é triste…

HIPÓTESE E se Deus é canhoto e criou... Carlos Drummond de Andrade - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira, no poema “Deus é Triste” expõe sua visão sobre a tristeza divina diante da realidade da vida na terra, com tanta desigualdade e miséria.

DEUS É TRISTE
Carlos Drummond de Andrade

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.

A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

Pochmann devia pedir logo para sair e deixar o IBGE em paz

homem branco de cabelo preto, camisa branca e paletó, segura os óculos com expressão compenetrada

Pochmann não tem a menor condição de ficar no IBGE

Elio Gaspari
O Globo

Com a credibilidade de Lula em baixa, o melhor que o economista Marcio Pochmann tem a fazer é sair da presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ele é um antigo quadro do PT e, em menos de dois anos, envenenou sua gestão com a proposta de criação de um IBGE +. Em tese, a novidade abriria uma janela para que o instituto firmasse parcerias com empresas privadas.

Quando interesses privados se misturam com a academia, coisas horríveis podem acontecer. Professores de Harvard e da London School of Economics meteram-se com o falecido ditador líbio Muammar Gaddafi. No Brasil, um braço da Fundação Getulio Vargas meteu-se com o então governador Sérgio Cabral.

IBGE PARALELO – Servidores e diretores do projeto de Pochmann batizaram-no de “IBGE Paralelo”. Ironia da vida: em 2007, quando o doutor presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada era acusado de cumprir a tarefa de “estatizar” o Ipea. (Em 2010, o instituto abriu um escritório na Caracas de Hugo Chávez.) Agora, acusam-no de querer privatizar o IBGE.

O estatuto da Fundação IBGE + tem trechos idênticos ao da malfadada similar da saúde do Rio. Até aí pode ter sido preguiça, mas prever que certas matérias exigiriam a aprovação de dois terços de um Conselho Curador de cinco membros foi uma demasia para um texto do IBGE. Dois terços de cinco dão 3,333.

Nas últimas semanas, duas diretoras do instituto pediram demissão, e 134 servidores (125 dos quais em cargos de chefia) assinaram uma carta condenando o IBGE + e o estilo de chefia de Pochmann. Na semana passada, demitiu-se o diretor-executivo da Fundação IBGE +.

ESTILO POCHMANN – É por causa do estilo que Pochmann deve pedir para sair. Ele assumiu em julho de 2023, e seu projeto de um IBGE + foi criticado em setembro de 2024. Em novembro, Pochmann pediu ao Ministério Público que apurasse supostas irregularidades e conflito de interesses de funcionários do órgão.

Seriam serviços privados de consultoria prestados a uma instituição parceira do instituto. Só Deus conhece os labirintos das consultorias, mas chamar o Ministério Público para investigar dois meses depois das críticas cheira a revide.

Pochmann é uma flor do jardim da Unicamp e um petista raiz. Disputou duas vezes a Prefeitura de Campinas e tentou se eleger deputado.

GOSTA DE DISSENSO – Quando sua gestão no Ipea gerou chuvas e trovoadas, ele se defendeu: “Tenho mais de duas décadas de atividade acadêmica. Sou polemista, gosto da polêmica”. “Não estou lá [no Ipea] para organizar o consenso, mas para organizar o dissenso.”

Desde que começou a crise no IBGE, a presidência do instituto fala por meio de notas, sempre altaneiras. Numa delas, acusou os críticos de moverem “uma campanha de desinformação”. Desinformação foi o doutor que estimulou, em outubro de 2020, ao dizer que o Pix do Banco Central era “mais um passo na via neocolonial”.

Pochmann parece ter perdido gosto pela polêmica e, se em algum momento quis organizar o dissenso, só conseguiu ampliá-lo.

Desaprovação de Lula supera aprovação e assusta o Planalto

Levantamento já capta efeitos da ‘crise do Pix’

Pedro do Coutto

A pesquisa do Instituto Quaest vem acender o sinal de alarme para o presidente Lula da Silva, pois pela primeira vez o índice dos que desaprovam o governo, 49%, é maior dos que aprovam, 47%. É a primeira vez na série histórica do levantamento que a avaliação negativa supera a opinião positiva. As porcentagens se encontram dentro da margem de erro, de um ponto percentual. O levantamento foi encomendado pela Genial Investimentos e entrevistou 4,5 mil pessoas presencialmente.

Na última pesquisa Genial/Quaest, realizada em dezembro do ano passado, a aprovação do trabalho de Lula estava em 52%, e a desaprovação, em 47%. Ou seja, enquanto a desaprovação subiu dois pontos, a aprovação do governo caiu cinco pontos. Em ambos os casos, os movimentos foram acima da margem de erro da pesquisa. O intervalo de confiança do levantamento é de 95%.

BOA INTENÇÃO – Apesar disso, o percentual dos eleitores que acredita que Lula é bem intencionado ainda supera o daqueles que acreditam que ele tem más intenções, por 47% a 46%. No entanto, 65% dizem que ele não tem conseguido fazer o que prometeu em campanha, e só 20% acham que tem conseguido.

A mesma conclusão é possível quando a pergunta é sobre a avaliação do governo – e não só do trabalho do presidente. De dezembro para cá, o percentual dos que avaliam o governo de forma negativa subiu de 31% para 37%, superando pela primeira vez a avaliação positiva. Esta caiu de 33% para 31%. Já os que avaliam o governo de forma “regular” eram 34% em dezembro, e agora são 28%.

O levantamento é o primeiro a captar os efeitos da crise do Pix sobre a avaliação do governo. Na semana passada, a oposição usou as redes sociais para acusar o governo de ampliar a coleta de informações de pagamentos via Pix para cobrar mais impostos. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira sobre o assunto ultrapassou a marca de 300 milhões de visualizações no Instagram.

IMPACTO – Na pesquisa Quaest, o impacto do assunto é perceptível, já que a “regulação do Pix” foi a notícia negativa mais citada, de longe, com 11% – a segunda colocada foi mencionada por 3%. São 66% os brasileiros que acham que o governo errou em sua atuação sobre o tema.

O governo tem que agir rapidamente para conter os números em queda, uma vez que o declínio pode estabelecer um processo de maior duração. É muito difícil inverter uma tendência dessa, mas é viável, bastando a execução de ações concretas, não ficando apenas nas palavras. É necessário que a opinião pública veja o empenho do governo e a execução das ideias.

Colômbia mostra que é praticamente impossível enfrentar abusos de Trump

Petro anuncia que Colômbia romperá relações com Israel | Internacional

Petro, da Colômbia, tentou enfrentar Trump e se deu mal

Hélio Schwartsman
Folha

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, até que tentou peitar Donald Trump na questão dos voos de repatriação em que os deportados viajam algemados e são submetidos a outros tratamentos degradantes absolutamente desnecessários. A valentia do colombiano não durou um dia.

Como resposta à negativa de Bogotá de receber os voos, a Casa Branca anunciou que iria impor uma tarifa alfandegária de 25% a produtos colombianos, que passaria a 50% na semana seguinte. Petro rapidamente recuou e Washington suspendeu as sanções.

TRUMP TROGLODITA – Em relações internacionais, Trump age como um troglodita. A questão que se coloca para o mundo então é a de como lidar com um valentão não cooperativo. Não é um problema novo.

Como descendentes de primatas gregários, convivemos com esses dilemas há milhões de anos. Eles já estão bem mapeados pela biologia matemática.

Simplificando a história, a cooperação só é possível se conseguirmos disciplinar quem não sabe viver em grupo. E o modo de fazê-lo é através de respostas que envolvem algum tipo de reciprocidade, direta ou indireta. Na literatura, as estratégias vencedoras ganham nomes como “tit-for-tat” e “win-stay, lose-shift”.

PUNIR TRAPACEIROS – Uma das marcas dessa teoria dos jogos que já vem embutida em nossas mentes é a disposição que temos em punir trapaceiros mesmo que precisemos pagar um preço por isso. Vários experimentos psicológicos mostram que temos essa tendência.

Basicamente, Petro teve a intuição correta, mas só a Colômbia não basta. Para enquadrar Trump, vários países teriam de agir de forma coordenada. Imagine todas as nações latino-americanas bloqueando as deportações, o Panamá fechando o canal para navios americanos, a Dinamarca e a Groenlândia mandando Washington desativar a base aérea de Thule, e vários países impondo taxas a produtos americanos.

É mais ou menos zero a chance de isso acontecer. Os próximos anos serão marcados pelo bullying diplomático. Minha aposta, porém, é a de que a democracia americana mais uma vez sobreviverá a Trump.

Logo saberemos se Trump é apenas fanfarrão ou tem problemas mentais

Trump Renomeia Golfo do México para 'Golfo da América'. Veja o Que Ele Pode  — e Não Pode — Fazer

Trump exibe seu decreto ilegal que só durou 48 horas

Carlos Newton

Conforme temos afirmado aqui na Tribuna da Internet, Donald Trump é um excelente ator, que no momento faz o papel de presidente dos Estados Unidos, podendo se sair bem ou mal, depende das circunstâncias. Lembrem que seu primeiro governo não foi lá essas coisas e ele até perdeu a reeleição em 2020.

Agora está de volta, aos 78 anos, e resolveu entrar no palco de maneira apoteótica, surpreendendo o mundo de todas as maneiras possíveis e imagináveis, inclusive assinando um decreto inconstitucional logo após assumir, a pretexto de estar “reinterpretando” a Emenda Constitucional 14, que garante cidadania norte-americana a quem nascer no país.

UM PSICOPATA – Ao assistir a esta cena pela TV, fiquei de tal modo surpreso que levantei a hipótese de Trump estar desequilibrado. Afinal, se age como psicopata e se fala como psicopata, só pode estar “variando”, como se diz no Nordeste.

Mas nem tudo que reluz é ouro. Fica bem mais fácil entender o furacão Donald Trump quando se tem conhecimento do método usado por ele para fazer sucesso como empresário e apresentador de TV.

Em artigo na Folha, o cientista político Marcus André Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, publica um trecho de um livro escrito por Trump há duas décadas, no qual Trump revela sua estratégia de vida.

DISSE TRUMP – “A chave final para a maneira como eu consigo as coisas é a bravata. Eu jogo com as fantasias das pessoas. Elas nem sempre pensam grande, mas ainda podem se entusiasmar muito com aqueles que pensam. É por isso que um pouco de hipérbole nunca faz mal. As pessoas querem acreditar que algo é o maior, o melhor e o mais espetacular. Eu chamo isso de hipérbole verdadeira. É uma forma inocente de exagero — e uma forma muito eficaz de se conseguir o que quer”, revela Trump em “The Art of the Deal” (“A Arte da Negociação”).

Em tradução simultânea, o presidente americano admite que tem por costume fazer bravatas que soam como ameaças, que ele tenta amaciar dizendo tratar-se de “hipérboles verdadeiras”.

SEM JUSTIFICATIVA – Esse jogo de palavras serve para explicar, mas não pode servir de justificativa para o destrambelhado comportamento de Trump, porque uma coisa é fazer bravata numa reunião empresarial, para fechar um negócio; outra coisa muito diferente é se portar assim na presidência da mais importante potência mundial.

A política não pode ser conduzida assim. No primeiro mandato, Trump até se comportou de maneira bem diferente, mais contido e cauteloso.

Agora, sem nenhum motivo, resolve chutar o balde, desnecessariamente. O decreto inconstitucional somente durou 48 horas. Foi suspenso liminarmente e o juiz federal ainda ironizou o governante, ao indagar onde estavam os advogados do Planalto…

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P.S. –
Mais para a frente, saberemos o estado mental de Trump. Não é difícil perceber o que é bravata e o que passa a ser insanidade. Até porque todo excesso de bravata representa uma insanidade, especialmente quando o fanfarrão mostra não ter limites e está sentado no Salão Oval da Casa Branca(C.N.)

Rombo na Eletros de R$ 1 bilhão leva seus aposentados à miséria

Fundo de pensão da Eletrobrás.

Aposentados agora são obrigados a cobrir o rombo

Liane Thedim
Valor Econômico

Cerca de 630 aposentados da Eletros, fundo de pensão da antiga estatal Eletrobras, começam a receber nesta semana contracheques com descontos de quase a totalidade do benefício. Essas pessoas, com idade média de 80 anos, estavam amparadas por uma liminar que suspendeu em 2020 a cobrança de parcelas extraordinárias para cobrir déficits do plano de benefício definido da fundação em 2011, 2013, 2015, 2020 e 2021.

A decisão, no entanto, foi cassada em 2024 e, agora, tudo que deixou de ser pago no período, o equivalente a R$ 170 milhões, será descontado em percentuais levando em conta a expectativa de vida de cada um.

DÉFICIT-MONSTRO – O quadro do plano é grave. De acordo com balancete de 26 de dezembro de 2024, se todos os déficits forem somados, o total chega a R$ 1,04 bilhão, o equivalente a 63% do patrimônio de 1,667 bilhão. Em 2023, o resultado acumulado ficou no negativo em R$ 78 milhões e em 2024, até novembro, em R$ 234 milhões.

Cristina Almeida, da Associação dos Assistidos dos Planos Previdenciários da Eletros (AABD), diz que a rentabilidade do plano de benefício definido em 2024 foi de 0,2% para uma taxa atuarial de 10,2% no ano de 2024. Ou seja, outro plano de equacionamento terá de ser feito em breve, se nada mudar nas regras.

“A gestão não é eficiente. É um plano que está entrando em colapso e precisa de ajustes estruturais e financeiros”. afirma.

ALTOS DESCONTOS – A AABD reúne 142 participantes do plano de benefício definido, com idade média de 76 anos, que não foram à Justiça e desde 2020 estão pagando as parcelas extraordinárias. Os valores hoje correspondem a 30,35% dos proventos brutos. Somados às contribuições correntes (que garantem pensão após a morte do beneficiário), os descontos levam mais de 40%, sem contar o Imposto de Renda e, quando é o caso, plano de saúde e pensão alimentícia em folha.

A entidade que obteve a liminar em 2021 suspendendo os descontos foi a Associação dos Aposentados Participantes da Eletros (Apel). Agora, essa associação aguarda a decisão do recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que pode sair até abril.

O presidente da Apel, Paulo Roberto Silveira, conta que, nesse meio tempo, mais de cem participantes morreram. Atualmente, são 635, sendo 570 assistidos e 65 pensionistas.

FACE VISÍVEL – Os dois grupos de aposentados são a face visível de um problema que se arrasta desde 2005, quando Eletros e Eletrobras decidiram criar um plano de contribuição definida.

O déficit era uma questão de tempo. No entanto, na ocasião da migração, foi incluído no estatuto do plano de benefício definido um artigo que garantia que rombos futuros seriam totalmente cobertos pela Eletrobras para os já aposentados, apelidados pela Eletros de “blindados”.  A Eletrobras chegou a pagar os primeiros déficits, mas entrou na Justiça e se livrou do pagamento.

Jany Mosso, 77 anos, está na Justiça contra a Eletros e há sete meses vive um pesadelo com os descontos, que agora ficarão ainda maiores com os atrasados. “Estou vivendo das poucas economias que tenho e que terminarão em breve”, diz. Aposentada há 30 anos, Mosso conta que os cálculos indicam mais 13 anos de descontos. “Tenho colegas que não tinham reserva e estão sem a mínima condição de viver.”

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGReportagem enviada por Mário Assis Causanilhas. Mostra o que significa pagar por uma aposentadoria e depois perder o direito, devido a erros de gestão. É uma situação injusta e deprimente.  (C.N.)]

Na História, a colonização é sempre feita com perseguição étnica

A imagem retrata uma cena de conflito entre colonizadores e indígenas em uma praia. No fundo, há um navio à vela. Os colonizadores estão armados e em pé, enquanto os indígenas estão em uma posição mais vulnerável, alguns no chão e outros em pé. A cena é colorida, com predominância de tons terrosos e um céu cinza.

Ilustração de Anette Schwartsman (Folha)

Hélio Schwartsman
Folha

Como sempre ocorre quando o João Pereira Coutinho elogia um livro, corri para adquiri-lo e lê-lo. Não foi diferente com “On Settler Colonialism” (sobre o colonialismo de assentamento), de Adam Kirsch. O livro é bom.

Confesso que não conhecia essa moda ideológica universitária. Se seus proponentes se limitassem a reconhecer que várias nações foram forjadas a partir de um processo de colonização que resultou na subjugação ou eliminação de populações que já viviam naquelas áreas, eu seria o primeiro a subscrevê-la. Não dá para negar a história.

BEIRA O DELÍRIO – Os adeptos dessa escola interpretativa, porém, vão mais longe. Para eles, o processo de formação dessas nações carrega uma mácula que só seria sanada com a devolução das terras aos povos originários e a retirada dos invasores.

E isso beira o delírio. Dos mais de 300 milhões de norte-americanos, menos de 3% descendem dos indígenas. Algo parecido vale para Brasil, Austrália etc.

Na congestionada Eurásia, a coisa fica pior. Lembro o caso da Crimeia. De 700 a.C. para cá, a península foi controlada por cimérios, búlgaros, gregos, citas, romanos, godos, hunos, cazares, bizantinos, venezianos, genoveses, kipchaks, otomanos, tártaros, mongóis, russos, alemães e ucranianos. Pode ser desafiador distinguir invasores de invadidos. O colonizador de ontem tende a ser a vítima da invasão subsequente.

ANTISSEMITISMO – O propósito de Kirsch ao escrever a obra é explicar a mais recente transfiguração do antissemitismo, que ganha adeptos nas universidades. Seria legítimo lançar os judeus ao mar porque eles seriam os novos colonizadores, que roubaram a terra da população palestina originária.

Não é um raciocínio que passe no teste da historiografia. Não se trata por óbvio de negar que Israel comete crimes contra os palestinos. Eles se dão à vista de todos.

Mas não dá para esquecer que, em algum momento da história, os judeus foram a população invadida daquela região. E houve outro momento em que os palestinos apareceram ali como invasores, desalojando algum outro povo. Essa é mais ou menos a história de todas as nações.

Penduricalhos levam ministros do TST a receber R$ 419 mil num mês

Que justiça é essa - por Siro Darlan - Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Arthur Guimarães de Oliveira
Folha

Penduricalhos garantiram a ministros do TST (Tribunal Superior do Trabalho) rendimentos líquidos de até R$ 419 mil em dezembro, segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Embora os pagamentos de verbas extras a magistrados tenham alcançado valores vultosos em diferentes instâncias do Judiciário pelo país, os valores recebidos na corte trabalhista se destacam entre os tribunais superiores —e com benefícios que se estendem a quase todos os seus integrantes.

Dos 27 ministros do TST, 26 receberam em dezembro uma remuneração acima de R$ 240 mil líquidos. A média por magistrado, já com os descontos, chegou a R$ 357 mil —em valores brutos, R$ 514 mil.

PENDURICALHOS – O cálculo inclui salário fixo (remuneração fixa e mensal de magistrados, que não chega a R$ 42 mil), pagamentos retroativos e benefícios como abonos e auxílios, após os descontos de previdência, Imposto de Renda e retenção pelo teto constitucional (correspondente a R$ 44 mil).

Os dados relativos à folha de pagamento constam em painel mantido pelo CNJ com base em informações disponibilizadas pelos próprios tribunais.

Quem liderou o ranking pelo rendimento líquido no período foi o ministro Sergio Pinto Martins, que obteve R$ 419 mil livres (ou R$ 533 mil brutos). Já com base no rendimento bruto foi o vice-presidente da corte, Mauricio Godinho Delgado (R$ 394 mil líquidos e pouco mais de R$ 706 mil brutos).

STJ E STM – No STJ (Superior Tribunal de Justiça), a remuneração de maior valor de um ministro no período foi de R$ 119 mil líquidos. De acordo com dados do painel, a média de dezembro entre os magistrados da corte ficou em R$ 88 mil. Já no STM (Superior Tribunal Militar), a maior quantia chegou a R$ 318 mil —e a média, R$ 286 mil.

O STM diz que a remuneração dos ministros ficou acima do vencimento mensal normal em razão de pagamentos de indenizações de exercícios anteriores.

Foram pagos valores relativos a, por exemplo, adiantamento de gratificação natalina, remuneração antecipada de férias e terço constitucional de férias, além de direitos eventuais, incluindo licença compensatória, gratificação por exercício cumulativo de jurisdição e verbas de exercícios anteriores.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Será que nenhum desses ministros tem noção do mal que fazem a este país e da decepção que provocam aos brasileiros por agirem com essa ganância que chega a parecer insana? Será que não têm espelho em casa? Merecem o título de ministros? Ah, Capistrano de Abreu, se você vivesse nos dias de hoje, certamente conseguiria aprovar o artigo constitucional de que “todo brasileiro precisa ter vergonha na cara”. (C.N.)

 

Morre aos 87 anos Marina Colasanti, grande nome da literatura brasileira

Marina Colasanti Morre Aos 87 Anos: Escritora De Mais De 70 Obras Deixa Legado Literário

Marina Colasanti era uma das mais cronistas do país

José Perez

A jornalista, escritora e apresentadora de TV Marina Colasanti, de 87 anos, morreu nesta terça-feira (28) em sua casa em Ipanema, no Rio. Autora de mais de 70 obras para crianças e adultos, Marina ganhou nove vezes o prêmio Jabuti. A causa da morte ainda não foi divulgada.

O velório será no Parque Lage, onde a escritora morou de 1948 a 1956. A cerimônia restrita a familiares e amigos acontece das 9h às 12h desta quarta-feira (29). Marina era sobrinha da cantora lírica Gabriela Bezansoni, dona do Parque Lage na Zona Sul do Rio.

NASCEU NA ERITRÉIA – Marina Colasanti nasceu na então colônia italiana da Eritreia. Viveu sua infância na Líbia e então voltou à Itália onde viveu onze anos. Por conta da difícil situação vivida na Europa após a Segunda Guerra Mundial, Colasanti e sua família emigram para o Brasil em 1948, fixando residência no Rio de Janeiro.

Em 2023, se tornou a 10ª mulher a conquistar o cobiçado Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras e considerado um dos principais prêmios literários do país.

Em nota, a Academia Brasileira de Letras lamentou a morte de Marina e exaltou o seu legado. “Escritora brilhante, autora de mais de 70 obras que encantam crianças e adultos, Marina deixa um legado inesquecível para a literatura e a cultura brasileiras”, diz o comunicado.

Marina era casada com o poeta Affonso Romano de Sant’Anna e deixa uma filha, a atriz, roteirista e diretora Alessandra Colasanti, e um neto.

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EU SEI, MAS NÃO DEVIA
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Trump arrisca trégua em Gaza ao propor “limpeza étnica” a Israel

Milhares de palestinos deslocados retornam ao norte de Gaza

Palestinos voltam a Gaza, como se a guerra tivesse acabado

Wálter Maierovitch
do UOL

O novo presidente americano começou o mandato com intenção de assustar o mundo. Para tanto, usou a truculenta “doutrina Trump”. Depois de mostrar os músculos ao presidente colombiano Gustavo Petro, que recuou no caso das deportações por real tratamento desumano a colombianos, Trump avisou:

“Os eventos de hoje [deportações] mostram claramente ao mundo que os EUA já estão sendo respeitados novamente”.

ESTILO MILOSEVIC – No embalo das deportações, Trump sente-se à vontade até para, na trégua de cessar-fogo por 42 dias celebrada entre Israel e Hamas, por meio da intermediação de Qatar, Egito e EUA, fazer vibrar na sepultura até Slobodan Milosevic, o ditador que tentou a limpeza étnica na ex-Iugoslávia, com a criação da Grande Sérvia e a expulsão de muçulmanos, croatas e bósnios.

Trump, sem mais, demonstrou, em face do incidente de sábado, com relação à combinada troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, a sua brutal irracionalidade.

Como decorrência do incidente, as forças de Israel (IDF) fecharam a passagem de Netzarim, uma linha militar que corta a faixa geográfica de Gaza de leste a oeste. Com isso, impediu-se o gigantesco fluxo migratório em direção ao norte, com a volta dos palestinos para suas casas (se ainda existirem).

CRISE CONTORNADA – O caso depois foi resolvido pela exitosa intervenção do Qatar e pelo receio de Netanyahu de não recuperar os reféns que estão há 15 meses em cativeiro do Hamas.

Nesta terça-feira, os jornais Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo mostram, nas suas capas, impressionante foto de milhares de palestinos em deslocamento ao norte. Lembrava um fotograma de deslocamento bíblico, mostrado no cinema. Segundo o Hamas, mais de 300 mil palestinos já retornaram ao norte de Gaza, o que representaria uma vitória da organização, no campo da resistência.

Como se fosse um estúpido ou um desinformado, Trump propôs o esvaziamento da faixa geográfica de Gaza. Ou seja, cerca de 2,4 milhões de palestinos migrariam para a Jordânia e o Egito.

LIMPEZA ÉTNICA – À luz do direito internacional público, o direito das gentes, tal proposta tipifica ilícito definido como “limpeza étnica”.

Trump recebeu um retumbante “não” dos governantes árabes da região, incluindo a autoridade nacional da Palestina, sediada na Cisjordânia, em faixa do território contemplado nos acordos de Oslo, ao tempo da presidência de Bill Clinton. Diante disso, Trump chamou Netanyahu para um futuro encontro.

Nem o sanguinário premiê israelense, que conhece a história da desocupação palestina para a instalação do Estado de Israel, a “nakba” (catástrofe em árabe), seria capaz de propor tamanho despautério.

TRÉGUA EM RISCO -A futura conversa com Netanyahu tornou-se uma incógnita. Por evidente, se Trump inventar algo, a precária trégua entre Israel e Hamas poderá ser rescindida.

O bloqueio militar do corredor de Netzarim ocorreu depois de o Hamas ter devolvido apenas quatro das cinco reféns. Faltou libertar a civil Arbel Yerud, de 29 anos.

As quatro mulheres libertadas, soldadas israelenses que estavam de plantão próximo à invadida linha de fronteira quando do ataque terrorista, foram entregues pelo Hamas à Cruz Vermelha Internacional. Tudo depois de uma encenação de deliberações e batidas de carimbos sob olhares de palestinos concentrados dando plateia. O Hamas pretendeu mostrar à população que ainda mantém o controle e o governo do território.

Arbel será devolvida ainda na primeira fase do acordo, que prevê a entrega de 33 reféns.

OITO MORTOS – Segundo noticiam os sites e jornais americanos, europeus e israelenses, há rumores de que, dos 33 nomes constantes da primeira lista de reféns, oito estão mortos. Assim, apenas os seus corpos serão devolvidos: os cadáveres, como se sabe, são moedas de troca. Por isso, são congelados e permanecem conservados.

A trégua celebrada é muito frágil, segundo os especialistas em geopolítica e os 007 dos serviços de inteligência europeus.

A trégua prevê desenvolvimento em três fases. Ainda estamos no início da primeira. Além da fragilidade, um novo elemento de ruptura passou a ser considerado: o protagonismo de Trump.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA trégua só existe por uma questão financeira – israelenses e palestinos estão exauridos e seus respectivos financiadores estão fazendo jogo duro, devido ao efeito Trump. O ódio entre as duas nacionalidades é eterno e corrosivo. Enquanto não existirem dois Estados, jamais haverá um só dia verdadeiro de paz. (C.N.)

Trump tem razão: o Brasil não é nada e os brasileiros nem se importam

Em visita a Trump, Bolsonaro cede aos interesses dos EUA e volta "de mãos abanando"

Charge do Paulo Batista (Brasildefato)

Mario Sabino
Metrópoles

Muitos brasileiros ficaram indignados com Donald Trump por causa da resposta que ele deu à pergunta sobre como seriam as relações, a partir de agora, dos Estados Unidos com a América Latina e com o Brasil.

“A relação é ótima. Eles precisam de nós muito mais do que precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todo mundo precisa de nós”, disse o presidente americano à jornalista Raquel Krähenbühl.

No mundo animal, Donald Trump seria um carnívoro solto entre herbívoros — ou seja, todos nós, que obedecemos aos códigos tradicionais da diplomacia e acreditamos piamente que as nações podem colocar a solidariedade e o idealismo à frente de interesses econômicos e militares.

DISSE MACRON – A metáfora é de Emmanuel Macron, ao comentar a vitória do republicano. “O mundo é feito de herbívoros e de carnívoros. Se decidirmos continuar a ser herbívoros, os carnívoros vencerão e nós seremos um mercado para eles”, disse o presidente francês.

É uma imagem feliz. Donald Trump nos confronta com nós mesmos. A sua franqueza carnívora expõe as nossas fraquezas herbívoras. Expõe as nossas escolhas.

Somos nós, brasileiros, que escolhemos ser desimportantes para os Estados Unidos. O que é o Brasil, no contexto das nações? Um gigante bobão, comandado por uma fauna política sem projeto que não o de dilapidar a sociedade.

DESIMPORTÂNCIA – Os números estão aí. Como os brasileiros podem querer ser relevantes, se a sua participação no comércio mundial é de menos de 1%, a mesma que era em 1980? Se nos comprazemos em ser exportadores de commodities?

Qual pode ser a relevância de um país cuja bolsa de valores teve, em 2024, um dos piores desempenhos entre todas as outras dignas deste nome? Um país que representa ridículos 0,5% da carteira de investimentos do mundo e entre diminutos 6% e 7% nas carteiras de mercados emergentes?

Qual é a produção tecnológica do Brasil? Insignificante. No Índice Global de Inovação do ano passado, ficamos em 50º no ranking de 133 países. Para se ter ideia, em 2022, a China fez 70.015 pedidos de patentes, os Estados Unidos fizeram 59.056 e o Brasil, somente 548. Não mudou nada de dois anos para cá.

E A EUROPA? – Guardadas as devidas e enormes diferenças, provocada por Donald Trump, a Europa também se vê confrontada consigo própria.

O continente europeu tem excesso de regulação, com as suas escolhas enérgicas caras, com o seu modelo social impagável, com o envelhecimento da sua população, com o empobrecimento da sua classe média, com a sua dependência militar dos americanos.

Os europeus, no entanto, partem de um patamar de riqueza material e intelectual muito mais elevado do que o dos brasileiros para fazer frente aos Estados Unidos de Donald Trump.

QUANTO AO BRASIL… – O que o Brasil deveria fazer neste mundo de competição carnívora? O primeiro passo seria enxergar-se do tamanho que é. Isso não significa ser vira-lata, mas ter princípio de realidade e, a partir daí, seguir no caminho certo.

Somos desimportantes por culpa nossa. Por causa das nossas opções erradas desde sempre. Ninguém no mundo precisa do Brasil.

A julgar pela maneira com a qual se comportam, nem os brasileiros precisam do Brasil.

Por que a indignação com deportações de Trump se Biden fazia igual?

Homens em fila para embarcar em avião militar

Não há novidade alguma nas deportações acorrentadas

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

As deportações dos últimos dias foram basicamente iguais às feitas pelos EUA já há alguns anos. No governo Biden, por exemplo, mais de 7 mil brasileiros foram deportados para cá, inclusive com o uso das algemas. Os 88 brasileiros que chegaram na sexta-feira, aliás, tinham sido apreendidos no governo Biden e aguardavam a deportação.

O que mudou, então? Primeiro: agora foram aviões militares. Segundo: o presidente agora é Trump. Ele próprio alardeia seu combate contra a imigração como algo sem precedentes. Ele de fato promete aumentar substancialmente as deportações, mas o que vimos esses dias foi continuidade, não mudança.

TRUMP APROVEITA – As reações escandalizadas de agora, portanto, se devem a nossos vieses. E caem como uma luva para Trump, que quer ser visto como duro com a imigração. Deixar progressistas indignados é um ganho para ele. Foi para isso que foi eleito.

Assim, a reação do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de proibir o pouso do avião de deportados foi um prato cheio para Trump. Primeiro, porque foi uma decisão completamente equivocada e, portanto, à qual foi fácil de se contrapor. Petro mandou o avião americano que já tinha sido autorizado dar meia-volta.

Mais grave ainda: impediu os cidadãos de seu próprio país de voltarem para casa, fazendo com que ficassem mais tempo presos em centros de detenção americanos. Armar um circo de ultraje moral performático às custas dos próprios cidadãos não é boa política.

DOSE DE WHISKY – Petro ainda subestimou o preço que a Colômbia pagaria. Trump reagiu à pequena ofensa colombiana com força brutal: tarifaço para todos os produtos colombianos e sanções diplomáticas a membros do governo e seus apoiadores.

Petro até tentou reagir: também ameaçou tarifas e ainda publicou um textão sentimental e patriótico na rede X em que citava “Cem Anos de Solidão” e sugeria a Trump a tomarem “uma dose de whisky”.

Imagino que seus assessores devem ter deixado claro ao presidente que a fantasia de ser um Aureliano Buendía numa guerra trágica fadada à derrota não faria nada bem ao país.

PETRO HUMILHADO – Em poucas horas, Petro voltou atrás e aceitou todos os termos dos EUA. Saiu humilhado. O governo Trump, por sua vez, pôde publicar que “os eventos de hoje deixam claro para o mundo que a América [ou seja, os EUA] é respeitada novamente”.

Tudo que Trump deseja é enfrentar a oposição no campo puramente moral. De um lado, o interesse do país, que ele representa; do outro, o respeito a direitos abstratos exigidos por uma classe de intelectuais e políticos de esquerda (e que, subentende-se, não servem ao interesse nacional).

Já o Brasil mostra mais inteligência. O confronto direto com Trump é um erro. Em cada conflito individual com países latino-americanos, ele provavelmente conseguirá o que quer, dada a disparidade de armas.

DISTÂNCIA DE TRUMP – Fica, contudo, a lição: não dá para contar com os EUA no futuro. Ele vai querer impor sua vontade de qualquer maneira, usando todos os meios à sua disposição. Portanto, também não dá para depender dele.

Cada arroubo de superioridade americana nos faz querer mais distância do valentão do parquinho. O saldo final, para os EUA, será afastar seus aliados cada vez mais. Precisaremos de novos parceiros.

O único jeito de convencer os EUA a serem cooperativos novamente é mostrar que o egoísmo excessivo é um mau negócio.

O retrato daquela mulher deitada na praia, na poesia de Carlos Pena Filho

Tribuna da Internet | Um soneto muito original, bem no estilo poético de  Carlos Pena FilhoPaulo Peres
Poemas & Canções

No retrato apaixonado do advogado e poeta pernambucano Carlos Pena Filho (1929-1960), sua amada está debruçada na areia, diante do mar.

RETRATO NA PRAIA
Carlos Pena Filho

Ei-la ao sol, como um claro desafio
ao tenuíssimo azul predominante.
Debruçada na areia e assim, diante
do mar, é um animal rude e bravio.

Bem perto, há um comentário sobre estio,
mormaço e sonolência. Lá, distante,
muito vagos indícios de um navio
que ela talvez contemple nesse instante.

Mas o importante mesmo é o sol, que esse desliza
por seu corpo salgado, enxuto e belo,
como se nuvem fosse, ou quase brisa.

E desce por seus braços, e rodeia
seu brevíssimo e branco tornozelo,
onde se aquece e cresce, e se incendeia.

Governo Lula esconde as informações oficiais sobre Janja

Janjapalooza': O que se sabe sobre festival organizado pela primeira-dama?

Janja quer gastar recursos públicos, mas sem ser cobrada

Rafael Moraes Moura
O Globo

Enquanto finaliza um projeto para mudar o trecho da Lei de Informação (LAI) que permite sigilo de até 100 anos, o governo Lula tem escondido dados de interesse público sobre a agenda da primeira-dama, a socióloga Rosângela Lula da Silva, a Janja.

Do ano passado para cá, o governo tem se recusado a responder uma série de pedidos apresentados pelo blog e pela ONG Fiquem Sabendo, especializada no acesso a informações públicas, sobre o trabalho da primeira-dama.

AGENDA DE JANJA – No mês passado, o blog solicitou à Presidência da República a agenda de compromissos de Janja, com a descrição dos eventos e o inteiro teor digitalizado de atas das reuniões que contaram com a sua participação. A Casa Civil negou, e o blog entrou com recurso, que ainda aguarda resposta.

Bem antes disso, em março e abril de 2024, a Fiquem Sabendo pediu agenda detalhada de compromissos e reuniões da atual primeira-dama, assim como uma planilha indicando a quantidade de assessores à disposição de Janja e a lista com nomes completos e cargos/funções.

A Casa Civil também se recusou a fornecer as informações. “Esclarecemos que as informações solicitadas não poderão ser disponibilizadas, posto que a sra. Primeira-Dama não ocupa cargo público, conforme a definição dos artigos 2º e 3º, da Lei nº 8.112/90. Diante disso, não possui obrigação de registrar e divulgar agenda.”

NA CONTRAMÃO – A resposta vai na contramão do protagonismo político que Janja tenta desempenhar nos bastidores, se envolvendo em questões de governo e tendo influência até em indicações para o Poder Judiciário.

A primeira-dama possui inclusive uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos metros de distância do gabinete de Lula, onde mantém uma intensa agenda de despachos – mas quem entra lá é um mistério que o governo não pretende esclarecer.

Desde então, a Fiquem Sabendo entrou com outros dois pedidos e apresentou três recursos tentando reverter as negativas do governo, mas a última instância de análise — a Controladoria-Geral da União (CGU) manteve sempre o entendimento pró-sigilo.

IGUAL A BOLSONARO – Para Bruno Morassutti, cofundador e diretor de advocacia da Fiquem Sabendo, o governo Lula está reproduzindo a mesma prática que tanto criticou durante a gestão Bolsonaro.

Diz o advogado que, durante a campanha eleitoral, Lula mais de uma vez prometeu acabar com o “sigilo de 100 anos” imposto a Bolsonaro a uma série de documentos – da carteira de vacinação ao conteúdo dos crachás de acesso ao Planalto dados a seus filhos.

“É uma coisa que nós vamos ter que fazer: um decreto, um revogaço desse sigilo que o Bolsonaro está criando para defender os seus amigos”, disse o então candidato do PT em eventos de campanha.

PROMESSA INÚTIL – O relatório da equipe de transição também prometia acabar com o sigilo de até 100 anos, considerado “inibidor da transparência” e indevido.

“O recurso à imposição de sigilos foi usado como forma de manter ocultas circunstâncias vinculadas à conduta de autoridades e integrantes próximos ao círculo do poder, sob falso pretexto de proteção da segurança nacional e segurança do Presidente da República, seus familiares, apoiadores e auxiliares diretos”, dizia o documento.

Depois da posse, porém, a conduta mudou, e o governo Lula já recorreu ao expediente do sigilo em casos como visitas de filhos do presidente da República ao Palácio do Planalto, gastos do governo com o helicóptero presidencial e alimentação no Palácio da Alvorada.

OUTROS SIGILOS – O governo também esconde os processos disciplinares contra servidores do Ministério da Educação (MEC), as comunicações diplomáticas sobre o caso do jogador Robinho, condenado por estupro, e os ofícios enviados pelo Itamaraty ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições presidenciais na Venezuela.

As negativas sobre Janja vão além e simplesmente consideram que o que a primeira-dama faz, ainda que usando dinheiro público, não é de interesse do público.

“As informações sobre a atuação pública da primeira-dama estão sendo negadas da mesma forma que eram negadas as dos filhos do ex-presidente”, diz Morassuti, da Fiquem Sabendo. Além de contraditório, isso prejudica e desmerece a imagem da própria primeira-dama, ao vincular suas atividades aos mesmos critérios opacos e descomprometidos com a transparência adotados pela gestão anterior.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Personagens como Janja da Silva são consideradas nos Estados Unidos como “social climbers”, que significa alpinista social ou arrivista. Ela adora aparecer e ser elogiada, mas pretende ficar imune a comentários negativos. Isso non ecziste, diria Padre Quevedo, porque quem ama a vida pública não tem sossego nem na privada, como diria o Barão de Itararé, que não era nobre, mas se comportava como se fosse. (C.N.)

Delação de Cid implica Michelle e Eduardo Bolsonaro em trama golpista

Ala “mais radical” do grupo incluía Michelle e Eduardo Bolsonaro

Pedro do Coutto

O tenente-coronel Mauro Cid disse em seu primeiro depoimento no processo de delação premiada à Polícia Federal, em agosto de 2023, que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro tinham envolvimento com a suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo ele, a mulher e o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro eram a ala “mais radical” na articulação da ação antidemocrática.

Segundo a íntegra da delação de Cid, Michelle e Eduardo teriam incentivado o ex-presidente a tomar medidas extremas após a vitória nas urnas do presidente Lula da Silva. No entanto, no relatório final da Polícia Federal, concluído em novembro de 2024, a alegação não é referida, além da ex-primeira-dama não ter o nome citado e o deputado apenas ser mencionado tangencialmente. Ainda de acordo com Cid, Michelle e Eduardo teriam alegado a Jair que ele tinha o apoio popular e dos CACs.

“ALA RADICAL” – Além dos familiares, Cid disse que a “ala radical” era composta também pelo deputado Filipe Martins, o ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência Onyx Lorenzoni, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, o general Mário Fernandes, e os senadores Jorge Seif e Magno Malta. Destes, apenas Martins Fernandes foi formalmente indiciado pela PF. À época, Michelle e Eduardo teriam negado envolvimento em alguma articulação de golpe. A defesa da ex-primeira-dama disse que as acusações são “absurdas e sem fundamento” e Eduardo classificou a delação de Cid como “delírio” e “ficção”.

Segundo o texto, Mauro Cid disse que o ex-presidente se encontrava com três grupos distintos depois que perdeu a disputa para Lula da Silva. Eram os “conservadores”, que teriam uma linha bem política. A intenção desses indivíduos era transformar Bolsonaro em um “grande líder da oposição”. Alguns dos integrantes seriam o senador Flávio Bolsonaro e Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União.

“MODERADOS “ – Tinham também os “moderados” que diriam concordar com “as injustiças” do Brasil, mas não eram a favor de uma intervenção radical. “Entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições, qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”, afirma o texto.

Participantes incluiriam o general Júlio César de Arruda, militar e então comandante do Exército, além do general Paulo Sérgio Nogueira, então Ministro da Defesa. POr fim, existia ainda os “radicais”, em que parte seria a favor de ir atrás de uma suposta fraude nas urnas. Outra parcela “era a favor de um braço armado”. Estavam inclusos o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.

DEFENSORES – “É muito grave saber que Michele e Eduardo Bolsonaro estavam entre os maiores defensores do golpe armado contra a posse de Lula”, postou a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann em sua rede social. “Eram e ainda são as pessoas mais próximas do inelegível e seus maiores porta-vozes na política. Fica cada vez mais insustentável a conversa mole de que ele não tinha nada a ver com a trama contra a democracia, que previa até o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. A hora da verdade está chegando”, assinalou Gleisi.

Complicações graves à vista para os envolvidos diante da trama golpista que envolve a participação do próprio ex-presidente da República. A situação política do país revela que a delação de Mauro Cid não pode ser um lance isolado. O projeto vem à tona com suas faces expostas e verdadeiras, deixando principalmente mais claras as ações de Bolsonaro.

Copom subirá nesta quarta, na primeira reunião presidida por Galípolo

Imagem colorida de Galípolo - Metrópoles

Galípolo comanda hoje a reunião do Copom sobre juros

Mariana Andrade e Flávia Said
Metrópole

Nesta terça-feira, o mercado financeiro está na expectativa para a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deste ano. Além do aumento da taxa básica de juros (a Selic) previamente contratado, a data marca o primeiro debate sob o comando de Gabriel Galípolo, que foi indicado pelo presidente Lula (PT) e assumiu oficialmente a presidência da autoridade monetária em 1º de janeiro de 2025.

A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação, que ficou acima do teto da meta em 2024. Em 2024, a taxa básica de juros do país (a Selic) ficou em 12,25% ao ano – voltando ao mesmo patamar de novembro de 2023. Esse foi o terceiro aumento consecutivo na taxa de juros.

NOVAS ALTAS – A expectativa é de novas altas nos juros ainda nos primeiros meses deste ano. Isso porque, na última ata do Copom, o BC adiantou que deveria fazer mais duas elevações, de pelo menos 1 ponto percentual, na taxa Selic no começo de 2025.

O mercado financeiro estima que a Selic ficará em 15% ao ano até o fim de 2025, segundo o relatório Focus. Assim como o próprio BC, analistas financeiros projetam um aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros, que passaria dos atuais 12,25% ao ano para 13,25% ao ano.

Projeções mais recentes mostram que o mercado financeiro desacredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT), que termina em 2026.

INFLAÇÃO OFICIAL – A reunião do Copom ocorre quase três semanas após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar que a inflação oficial foi de 4,83% no acumulado de 2024 — 0,33 ponto percentual acima do teto da meta, que era de 4,5%.

Com isso, o Banco Central não cumpriu o papel de controlar o avanço dos preços no país e precisou enviar uma carta aberta explicando os motivos para o estouro da meta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Em meio à sombra do descumprimento da meta de inflação, da pressão dos preços dos alimentos e da valorização da taxa de câmbio (dólar frente ao real), a taxa Selic poderá chegar a 14,25% ao ano ainda nos primeiros meses deste ano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Márcio Pochmann, presidente do IBGE, conseguiu esse milagre de conter a inflação, embora todos os brasileiros saibam que os preços subiram muito mais no ano passado. Pochmann é daquele tipo de economista que tortura os números até que eles aceitem ficar do jeito que ele pretende. É um mau brasileiro. (C.N.)