Acuado, Trump diz que não vai participar de nenhum outro debate

Várias pesquisas mostram que Kamala venceu o último encontro

Pedro do Coutto

Nos Estados Unidos, Donald Trump anunciou que não participará de mais nenhum debate com Kamala Harris, e não apresentou motivos concretos para tal atitude, a não ser ter levado a pior no confronto na semana que passou. O candidato republicano à Casa Branca, em uma rede social, na última semana, disse que venceu o debate presidencial da ABC News, contrariando resultados de pesquisas.

Horas depois, em um comício, Kamala disse que acredita que os candidatos “devem aos eleitores” outro debate. A campanha dela já havia proposto um novo encontro, que poderia ser marcado para outubro. A emissora Fox News se propôs a organizar o programa.

“TERCEIRO DEBATE” – Entretanto, Trump afirmou que não haverá um “terceiro debate”, já que ele também participou de um encontro com Joe Biden em junho. Segundo o republicano, Kamala deveria focar no fim do mandato dela como vice-presidente dos Estados Unidos. Pesquisas feitas pela imprensa norte-americana mostram que os eleitores avaliaram que Kamala se saiu melhor que Trump no debate da ABC News. Um levantamento da CNN, por exemplo, indica que ela venceu por 63% a 37%.

Analistas e comentaristas de política dos Estados Unidos avaliaram que Kamala deixou Trump na defensiva, tendo uma postura mais equilibrada e presidencial. O republicano, por sua vez, se destacou na economia. Por outro lado, foi criticado por alegar que imigrantes estavam comendo pets de moradores de uma cidade de Ohio. Trump acabou sendo desmentido pelo mediador do debate.

DESEMBARAÇO – Sem dúvida alguma, Harris levou a melhor, mostrou mais desembaraço. O temor de Trump está na vantagem de Kamala Harris nos estados considerados chaves para o desfecho da eleição. O que ficou demonstrado foi a vantagem marcante de Kamala Harris pela sua atenção em frente às câmeras.

A televisão, assim, além das redes sociais, demonstra o seu caráter decisivo nos desfechos eleitorais. Se não fosse, não haveria motivo de Trump recuar diante de novos debates. A televisão revela perfis importantes, sobretudo porque leva ao ar mensagens independentes, de um lado e de outro, ao contrário das redes sociais, nas quais o público mostra apenas o seu lado da versão dos fatos.

Com saudades de Lili, Rubem Braga faz um poema em Ipanema, sem esperanças

Sentiu uma coisa boa dentro de si, uma... Rubem Braga - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Considerado o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, o capixaba Rubem Braga (1913-1990), sempre afirmou que a poesia é necessária, tanto que escreveu vários poemas, entre eles este “Poema em Ipanema, numa Quarta-feira sem Esperança”, que retrata o seu amor e a sua paixão por sua bela prima Lili.

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POEMA EM IPANEMA, NUMA QUARTA-FEIRA SEM ESPERANÇA

Rubem Braga

Podias ir à proa de barcos antigos
Cortando ventos salgados
Com espumas fervendo em teus seios de virgem
Figure étroite en proue de bâtiment
Galga esgalga
Lili

És menina nos bicos dos seios e
na pevide do sexo —
estranhamente pequenos os três,
como botões de irrevelada flor.
És menina na voz tímida, saccadée,
Nervosa e doce.

És mulher na arquitetura de teus braços
longos como asas de ave do mar
na ousada arcadura de teus ombros
na firmeza de tuas coxas e na longura
nobre de tuas pernas.

De todas as primas feias da roça que eu já tive
és uma insensatamente linda.
Gostaria de ver-te em um vestido de chita —
entretanto desenhado por Chanel —
úmido nos seios e nos lombos
porque terias saído de um banho de rio
descalça, com um pouco de lama e areia
entre os artelhos

Teus olhos luzindo na sombra do bambual
eu te daria pitangas de sangue
jabuticabas de um negrume azul com
a polpa de um branco azul —
cor elusiva — como és —
e cajus, sapotis.
Te ensinaria nomes de passarinhos de nossa terra mas
não prestarias atenção e eu
te amaria de um amor tão complicado apaixonado
brasileiro e chato
que sumirias de mim em uma esquina de Saint-Germain
deixando-me apenas de lembrança a úlcera de teu estômago
doendo e ardendo para sempre em meu desatinado coração,
Lili.

Ministério tentou esconder o nome de Roberto Marinho em papéis falsificados

roberto-marinho-e-figueiredo | A Postagem

Marinho mandava e desmandava no regime militar

Carlos Newton

Muitos comentaristas que acompanham as reportagens exclusivas da Tribuna da Internet sobre as ilegalidades cometidas por Roberto Marinho para se apossar da TV Paulista, canal 5 de São Paulo, sempre perguntam se ainda há como punir seus herdeiros na Justiça, ou se eles vão usufruir da impunidade hoje reinante na Justiça brasileira.

Bem, tudo é possível, porque ato nulo não gera direitos, não pode ser apagado pelo tempo para propiciar benefícios a quem desobedece a lei. Esta é a raiz de qualquer ação rescisória de decisão do Supremo Tribunal Federal a ser implantada pelos herdeiros da família Ortiz Monteiro, legítima proprietária das ações da antiga Rádio e Televisão Paulista S/A.

GRANDE NOVIDADE – O que há de novidade neste caso é que, pela primeira vez, os servidores do Ministério das Comunicações cumpriram sua obrigação de extrair do chamado arquivo morto alguns documentos falsificados para beneficiar Roberto Marinho.

Está é a grande novidade no caso. E que não se diga que foi inadvertidamente, porque o corpo funcional das telecomunicações já deu seguidos pareceres, destacando que a questão era apenas societária “interna corporis” e, em assim sendo, a Administração Federal não deveria se intrometer.

Agora, porém, depois desses vergonhosos atos omissivos e comissivos praticados por diversos governos em favor da Rede Globo, desta vez a verdade dos fatos pôde emergir e as falsificações se tornaram oficialmente públicas, acessíveis a qualquer cidadão. Assim, a matéria está agora sob exame na Procuradoria da República do Distrito Federal e do Departamento de Fiscalização da atuação das concessionárias de televisão.

ÚLTIMA TENTATIVA – Por outro lado, fica claro que o Ministério das Comunicações não revela o menor interesse em cumprir a Lei de Acesso à Informação. Muito pelo contrário, continua dedicado a encobrir das falsificações cometidas por Roberto Marinho.

Antes de abrir vista desses dois processos adulterados, inexplicavelmente, em menos de 30 dias, algum dedicado servidor, não se sabe a mando de quem, colocou centenas de listras escuras em todos os documentos de transferência de ações, para esconder os nomes de Roberto Marinho, dos verdadeiros cedentes das ações e dos procuradores sem procuração e dos cedentes falecidos ou não encontrados.

Mesmo assim, fica a dúvida se o atual governo e o ministro das Comunicações decidiram pagar para ver e pôr um ponto final nesse desvio de conduta sem fim.

E A JUSTIÇA? – Bem, sobre o desenrolar do caso na Justiça há quatro caminhos que podem ser trilhados:

1 –  As partes envolvidas assinam um termo de ajustamento de conduta, esquecendo o passado e assinando um contrato verdadeiro entre os que têm tem legitimidade para tanto;

2 –  Face aos fatos recentes, ajuiza-se uma ação popular que por isso deixa de ser prescritível, pois há ofensas explícitas à legalidade, moralidade…

3 –  Os fatos novos e recentíssimos amparam o ajuizamento de ação de ressarcimento, com juros e correção monetária, incluindo a capitalização do grupo, com os dividendos totais apurados, ao longo dos anos e revertidos para a Rede Globo.

4 – Por fim, se comprovadas infrações penais, isso caberá ao MPF averiguar.

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P.S. –
Durante décadas, Roberto Marinho e seus filhos souberam como conseguir o apoio criminoso da burocracia federal para esconder seus atos nulos. Mas isso acabou, esquentando a briga jurídica. Portanto, comprem pipocas, amigos. (C.N.)

Deputado americano pede que o X seja autorizado a funcionar no Brasil

Chris Smith confirms he's supporting Trump for president - New Jersey Globe

Chris Smith quer informações sobre a censura prévia

Paulo Cappelli e Petrônio Viana
Metrópoles

O presidente do Subcomitê Global de Direitos Humanos da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, deputado republicano Chris Smith.  enviou pedido ao governo brasileiro pelo desbloqueio do X, antigo Twitter, no país. No pedido, o congressista disse que o Brasil “deve reverter imediatamente o curso” e acusou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de provocar uma “crise”.

O X, que pertence ao empresário Elon Musk, foi bloqueado por Moraes e teve seus downloads proibidos nas lojas de aplicativos virtuais no dia 30 de agosto, depois do descumprimento de ordens de suspensão de perfis acusados de disseminar informações falsas e do não pagamento de multas.

CRÍTICA AO GOVERNO – “O governo do Brasil aumentou as apostas e atingiu um novo nível – ele passou da perseguição à oposição política, removendo-a das mídias sociais, para proibir uma das maiores redes sociais de notícias do mundo e tornar ilegal o acesso dos brasileiros a ela”, diz Smith, no pedido.

“O Brasil deve reverter imediatamente o curso. As ameaças à liberdade de expressão são ameaças às eleições livres e à própria democracia”, acrescentou o parlamentar americano, que integra o Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA.

No documento, Chris Smith disse não ter recebido respostas a pedidos de informações enviados a Moraes e ao Congresso brasileiro. “No dia 21 de junho, enviei uma carta ao ministro Alexandre de Moraes solicitando informações sobre alegações relativas ao papel de Moraes nas violações generalizadas de direitos humanos cometidas. O ministro Moraes não respondeu – nem tive notícias dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, que também receberam minha carta”, reclamou o congressista americano.

AÇÃO DO NOVO – O Supremo Tribunal Federal analisa uma ação apresentada pelo Novo questionando a decisão de bloqueio do X. O relator da ação é o ministro Nunes Marques, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A expectativa era de que Nunes Marques determinasse o desbloqueio da plataforma de midia social.

O ministro, porém, pediu a Moraes que enviasse mais informações sobre as razões que levaram ao bloqueio e encaminhou o caso ao plenário do STF para que seja tomada uma decisão.

“Para responder à crise que Moraes criou no Brasil, estou agora trabalhando com colegas na legislação sobre o assunto”, disse Smith.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO nome da iniciativa do STF contra a plataforma X é “censura prévia. Esta semana, Musk deve se curvar à ditadura brasileira, para que o X volte a funcionar aqui. Daqui para frente, a todo momento ele vai esculhambar o Brasil, como a democracia da país da censura prévia. E não poderemos dizer nada, porque a acusação é  verdadeira. (C.N.)

Após pesquisas, Bolsonaro se anima e enfim entra na campanha de Nunes

Da esquerda para a direita: Pablo Marçal (PRTB), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB)

Bolsonaro bancou o malandro e esperou uma definição

Bela Megale
O Globo

O crescimento de Ricardo Nunes (MDB) nas pesquisas desta semana sobre a eleição para prefeitura de São Paulo fez com que Jair Bolsonaro mudasse sua aposta. No início do mês, o ex-presidente acreditava que a vitória de Pablo Marçal (PRTB) era garantida e orientava o governador de São Paulo a abandonar Nunes. Hoje, porém, Bolsonaro acredita que o prefeito vai conseguir a reeleição.

Conhecido por desacreditar publicamente as pesquisas, Bolsonaro foi influenciado pelos levantamentos da Quaest e Datafolha que mostram Nunes na liderança. A Quaest mostrou Nunes à frente em números, com 24% das intenções de voto, seguido por Marçal, com 23%, e Guilherme Boulos, com 21%, empatados. Já o Datafolha trouxe o prefeito com 27%, Boulos com 25% e Marçal com 19%.

MUDOU DE IDEIA – Bolsonaro, que havia feito gestos a Marçal, inclusive abrindo espaço para que ele fosse ao 7 de setembro, mudou de postura nos últimos dias. O ex-presidente criticou o candidato do PRTB depois de Marçal tentar subir no trio da Av. Paulista no momento em que os discursos estavam encerrados.

Vetado, o influenciador entrou em rota de colisão com o pastor Silas Malafaia, o organizador do ato. A partir de então, também entrou na mira do ex-presidente.

Na noite de quinta-feira, Bolsonaro retomou apoio a Nunes e fez uma participação online em um jantar com o emdedebista e a comunidade libanesa. No vídeo, defendeu o voto no prefeito e disse: “seremos vitoriosos”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Antes tarde do que nunca, diz o ditado. Oportunista, Bolsonaro continuava em cima do muro, sem definir se apoiaria o prefeito Ricardo Nunes, que parece uma reedição do picolé de chuchu, ou se iria aderir ao furacão Pablo Marçal, que parece cavalo paraguaio e perde impacto na reta de chegada. Se Bolsonaro estivesse apoiando Nunes desde o início, dificilmente Marçal se aventuraria nessa candidatura. Ele é daquele tipo de “político” que tenta vencer antes da hora, no grito, como se dizia antigamente. Mas na prática não funciona assim. Agora, com apoio declarado de Bolsonaro, Nunes fica tranquilo, porque Boulos, invasor de propriedade alheia, tem muito telhado de vidro. (C.N.)

Na utopia iremos ser julgados sem considerar gênero, raça ou renda

Charge do Tacho (Jornal NH)

Fabiano Lana
Estadão

Haveria uma hierarquia metafísica no mundo. Iria do homem, branco, rico, hétero e anglo-saxão, como ponta da pirâmide, a representar os mais poderosos, até uma mulher, preta, pobre e homossexual, de um país subdesenvolvido, na base. De um lado, o detentor de todos os poderes e privilégios; do outro, a vítima de todas as injustiça e humilhações. Na mística identitária (ou o nome que se queira dar ao movimento), inclusive, haveria uma superioridade moral dos grupos oprimidos – em sua luta contra a opressão de quem está no ápice.

Se o topo da pirâmide for um homem branco, rico, americano e de direita, como o exemplo concretíssimo do ex-presidente americano Donald Trump, a mitologia opressor-oprimido que paira acima das circunstâncias individuais ficará mais completa.

TUDO ERRADO – A perplexidade que o caso da demissão do ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida gera – após supostas acusações de importunação sexual feitas pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco – é porque colocou em choque duas pessoas que, em tese, deveriam, como representantes de seus grupos, estarem unidos e coesos, e em luta contra a branquitude opressora – nunca em conflito interno.

Mas quando as situações são vistas com uma lupa, as pessoas, em sua humanidade, mesquinharias, atos de grandeza, contradições, tudo junto, costumam jogar por terra as grandes teorias – à esquerda ou à direita.

O racismo e as consequências de uma sociedade forjada na escravidão são mais do que evidentes. E não se mostram apenas nas estatísticas gritantes. Observem um restaurante sofisticado, a cor da pele de quem serve e quem é servido. Nas profissões mais serviçais e em quem as ocupam. O racismo pode estar num olhar reprovador de quem não consegue se disfarçar. Pode estar interiorizado em quem alisa obsessivamente o cabelo em busca de um padrão europeu.

DISSE FANON -“Por mais que me exponha ao ressentimento dos meus irmãos de cor, direi que um negro não é um homem”, afirmou o filósofo antilhano Frantz Fanon, no brilhante e controverso libelo: “Pele negra, máscaras brancas” – obra, dos anos 50, entre os pilares do movimento decolonial e incontornável na luta que segue até os dias atuais.

Mas há um efeito colateral de julgar – para o bem ou para o mal – as pessoas pelo que representam e não por suas ações individuais. Por exemplo, se um preto, por um lado, sofre preconceito de cor de brancos, é o suspeito eterno, digamos, à direita; por outro, é pressionado a agir como militante de causa, pela esquerda. Se não, pode ser visto como um traidor do seu povo.

Mas a verdade é que ninguém, seja pobre, negra, mulher, LGBT, é o obrigado a ser militante, mesmo que a causa seja justa e urgente. As pessoas podem ser o que querem ser. Forçá-las a agir de determinada maneira só porque há a convicção da necessidade da luta é um movimento autoritário.

CULPA PREMATURA – Aqui não se discuteM os acontecimentos factuais das denúncias contra Silvio Almeida. Ainda não conhecemos com exatidão os pormenores e casos diversos começam a irromper na imprensa. Mas o ministro Silvio Almeida foi tragado por um tipo de movimento que ele também era visto como um símbolo – de que a vítima, quando pertencentes a grupos de base da pirâmide relatada acima, tem sempre razão.

Uma espécie de dogma de seu grupo político do qual agora não consegue se defender sem entrar em contradição. Por ser homem, por sua posição intelectual, de formação, ele está algumas escalas acima de Anielle. Logo, é culpado.

É quase impossível contar esse caso do Silvio x Anielle sem olhar para a nossa longa história. Por milênios, a humanidade escravizou-se uns aos outros. De certa maneira, a história da civilização é a história da escravidão. Levaremos séculos para nos livrarmos dessa nódoa.

NO FUTURO – Mas poderíamos traçar uma meta: que essas questões que nos dividem como raça, gênero, sexo, opção sexual um dia deixem de ser uma questão relevante. Que fiquem no passado das divisões que por tanto tempo nos impediram de sermos justos. Precisaremos de muito desenvolvimento econômico, de milhares de grandes passos em direção à uma igualdade de opções para isso. Mas pode ser um rumo.

Por fim, mas não menos importante. Para uma pessoa miscigenada, do ponto de vista individual e existencial, a discussão sobre branquitude e negritude pode não fazer sentido. Porque o miscigenado não se identifica com noções de raças ou etnias estanques – compartilha todas em seus genes que definem a cor da pele. Parte dos militantes mais ortodoxos da causa negra condena a miscigenação alegando que sua origem se deve a estupros de senhores contra escravas.

Vamos partir do pressuposto de que seja uma verdade histórica. Entretanto, a mescla de cores se tornou hoje um fato, nos constituiu como brasileiros – a sua maioria, aliás. Logo, milhões de miscigenados não podem ser tirados do debate por quem ainda, no final das contas, vê a questão de cores no Brasil sem contrastes, distinções e sutilezas.

Qual é a novidades nas queimadas. Por que não ensinar a proteger a floresta?

Como spray à base de fungos pode ajudar a capital mais poluída do mundo - BBC News Brasil

Fazenda é queimada na Índia para renovar a pastagem

José Maria Lira de Oliveira

Já estive nessa trincheira. Estou aposentado após 45 anos de serviço pelo Ibama. Colocar o Exército para evitar queimadas não funciona. Tem que ser trabalho de conscientização. Os focos têm início com a queima de pastagens para renovação de pasto, e surge a queima às margens de estradas e rodovias, adentrando o fogo nas capoeiras e frestas primárias.

 Dificilmente as pessoas entram na floresta que está intacta para atear fogo. Esta operação só é possível precedida de corte raso. Já pensou perfilar soldados do exército ao longo das estradas e rodovias para inibir transeuntes de atear fogo?

Quanto a proliferação de fogo nas propriedades, geralmente os proprietários alega, que vem dos vizinhos ou das margens das estradas. Portanto, o remédio é conscientização, para evitar o início da queimada. Depois de iniciado o fogo, não tem batalhão de Exército que dê jeito.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
As autoridades se comportam como se as queimadas não existissem. Depois, quando o problema se agrava, começam a anunciar medidas absolutamente midiáticas, como a criação da chamada Autoridade Climática.

Desde sempre, sabe-se que quase sempre é o pecuarista que coloca fogo no pasto, para renová-lo, conforme explica o especialista José Maria Lira de Oliveira. Por isso, tem queimada nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Índia, grandes produtores agrícolas.  Quando ele fala em conscientização, isso significa explicar ao fazendeiro que a queimada precisa ser protegida. O que significa isso?

A queimada fica protegida e não se espalha quando antes é removido o capim da faixa de 100 metros contigua à floresta ou à área de proteção ambiental, que na Amazônia é de 80%, no imóvel situado em área de florestas; 35% no imóvel situado em área de Cerrado e Pantanal; e 20% (vinte por cento) no imóvel localizado nas demais regiões do País, além das áreas que protegem nascentes e cursos d’água.

A legislação é a mais avançada do mundo, mas não há fiscalização nem multas. Reina a esculhambação. Se o governo fiscalizasse quem faz queimada sem faixa de proteção, já estaria de bom tamanho, mas nem isso a Fadinha da Floresta faz. (C.N.)

Nunes sobe e Boulos precisa dizer que está sendo apoiado por Lula

Triplo empate técnico agitam uma eleição espetacular

Bruno Boghossian
Folha

A nova pesquisa do Datafolha dá algumas pistas do cenário por trás da névoa do empate triplo que marcou a campanha nas últimas semanas. Os números indicam que a aposta de Ricardo Nunes (MDB) nas vias tradicionais da política surtiu efeito, reforçam a leitura de que a disparada de Pablo Marçal (PRTB) cessou e dão um respiro à questionada campanha de Guilherme Boulos (PSOL).

Nunes aparece com destaque neste ciclo. Depois de estancar uma fuga de eleitores, o prefeito manteve uma trajetória de alta baseada na combinação da propaganda de TV com a potência da máquina da prefeitura.

ALTA CONSISTENTE – O principal indício de que o canhão duplo funcionou é o crescimento do candidato do MDB em quase todos os segmentos de renda e idade, além da melhora na avaliação de seu governo. É o primeiro sinal de que Nunes experimenta uma alta consistente.

Na concorrência pelo voto na direita, o quadro ainda é acirrado. Entre eleitores de Jair Bolsonaro, o prefeito recuperou terreno (31% para 39%), mas continua pressionado por Marçal (48% para 42%). Nesse campo, o ex-coach ocupou um espaço que limita o crescimento de Nunes. Além disso, 70% dos eleitores de Marçal dizem que não pretendem mudar de voto.

A sequência de pesquisas do Datafolha indica que o candidato do PRTB se mantém no mesmo patamar há três semanas, quando chegou a 21% (agora, ele tem 19%). É o suficiente para cravar que o ex-coach parou de crescer, ainda que seja cedo para decretar que atingiu um teto.

MAIOR REJEIÇÃO – A curva mais relevante da pesquisa começa a ser desenhada pelos números de rejeição a Marçal. Os dados mostram uma trajetória ascendente acelerada. O índice bateu em 44% e se aproximou de uma perigosa maioria que se recusa a dar um voto ao candidato do PRTB.

O ex-coach fez barulho e conseguiu o que queria: virou protagonista e fez uma escalada íngreme até o primeiro pelotão. A tática foi suficiente para produzir uma reviravolta, mas o custo aparece agora como uma taxa de rejeição que pode definir o desfecho deste primeiro turno.

A oposição a Marçal cresce inclusive entre eleitores de Ricardo Nunes, o que sugere que a opção pelo prefeito toma algum impulso entre paulistanos que descartam votar no ex-coach. Os números reforçam a percepção de que Marçal seria um candidato vulnerável num eventual segundo turno, facilitando os apelos por uma adesão antecipada à campanha do prefeito.

AJUDA A BOULOS – Em alguma medida, esse quadro também ajuda Boulos, ao reduzir o risco de deixá-lo num amargo terceiro lugar. As próximas pesquisas farão um retrato mais claro da questão.

O principal problema do candidato do PSOL ainda é a transferência lenta de votos de Lula para sua campanha. Em três semanas, passou de 41% para 48% o índice de eleitores do petista que declaram voto em Boulos.

Sua esperança se mantém no fato de que muitos eleitores de baixa renda (cerca de 40%) ainda não sabem que ele é o candidato de Lula.

Medo de apostar no perdedor deixa Bolsonaro numa situação ridícula

Bolsonaro pode ficar até 15 anos preso por fraude em vacinação ...

Até quando Jair Bolsonaro continuará em cima do muro?

Bruno Boghossian
Folha

Se pudesse, Jair Bolsonaro só escolheria um candidato em São Paulo depois da apuração dos votos. O medo de apostar no cavalo perdedor expõe o ex-presidente a uma situação ridícula. Após fechar negócio com Ricardo Nunes, bater boca com Pablo Marçal e ameaçar virar a casaca, o capitão chega ao último mês de campanha sem saber o que fazer.

Bolsonaro estava pronto para romper com Nunes e abraçar Marçal. O ex-presidente estava duplamente abalado. Corria o risco de sofrer uma derrota humilhante ao lado do prefeito, vendo o ex-coach ganhar terreno na direita sem pedir licença. A solução seria mudar de lado.

MUITO CEDO? – A última pesquisa do Datafolha confundiu a cabeça de Bolsonaro mais uma vez. Nunes mostrou que ainda é capaz de contestar o favoritismo de Marçal na direita. Como nenhum dos dois tem vaga garantida no segundo turno, Bolsonaro assumiu o próprio oportunismo e disse que “está muito cedo” para entrar de cabeça na campanha do prefeito.

A vitória de candidatos de esquerda não é o maior perigo que se apresenta diante de Bolsonaro nestas eleições. A pior derrota que o ex-presidente poderia sofrer seria o sucesso de candidatos de direita que não precisaram ou até abriram mão de seu apoio.

A hesitação de Bolsonaro reflete esse receio. Marçal e Nunes aparecem na ponta das pesquisas sem nenhum impulso direto do ex-presidente. Ao contrário, o ex-coach passou uma semana sob artilharia dos bolsonaristas, enquanto o prefeito foi praticamente ameaçado de abandono.

EM CIMA DO MURO – O capitão tenta corrigir a rota de maneira envergonhada, sem escolher um caminho. No 7 de Setembro, o ex-presidente abriu espaço para “qualquer candidato” que quisesse comparecer à manifestação, com uma restrição: “Obviamente, não vão usar o microfone porque seria um comício”.

Bolsonaro deveria calcular com cuidado seus próximos passos. Se rifar Nunes de vez e o prefeito sobreviver, o mérito será do candidato e de Tarcísio de Freitas, que parece disposto a permanecer a seu lado.

Se o ex-presidente continuar em cima do muro e Marçal avançar, o ex-coach não precisará dividir os louros. A cada dia que passa, a bênção de Bolsonaro tem menos peso nessa disputa.

PF defende que a investigação sobre Silvio Almeida tramite no Supremo

Silvio Almeida prometeu "cair atirando" em meio a acusações de assédio sexual | Brasil 247

Almeida só será ouvido pela Polícia no final deste mês

Elijonas Maia
da CNN

A cúpula da Polícia Federal (PF) defende que a investigação envolvendo o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida seja conduzida no Supremo Tribunal Federal (STF). A notícia-crime foi encaminhada nesta quinta-feira (12) para que a Corte analise a questão do foro privilegiado e determine a instância competente para tramitação do inquérito.

Segundo investigadores ouvidos pela CNN, os supostos casos de assédio sexual teriam ocorrido durante o período em que Silvio Almeida ocupava o cargo de ministro de Estado, supostamente valendo-se da função para cometer os crimes.

NOTÍCIA-CRIME – Uma investigação na PF foi instaurada por meio de uma notícia-crime ainda na quinta-feira (5), à noite, logo que as denúncias contra o então ministro se tornaram públicas. Ele foi demitido no dia seguinte.

Na terça-feira (10) desta semana, a PF ouviu, com base na notícia-crime, uma denunciante que acusou Silvio Almeida de importunação sexual. Com o relatório preliminar elaborado, a petição foi encaminhada ao STF, que deve se instaura inquérito, se a relatoria será mantida no Corte – com ministro a definir – ou se o caso será remetido a outra instância, como a Justiça Federal.

Delegados afirmam que o envio do caso ao STF pode evitar qualquer chance de nulidade no processo, garantido que a Suprema Corte defina a competência para a condução da investigação.

SEM FORO – O ex-ministro não possui mais foro privilegiado desde sua demissão. No entanto, há um movimento no STF para ampliar a aplicação dessa regra, de modo a abranger também autoridades que deixaram o cargo, mas que ocupavam funções com prerrogativa de foro.

Com o envio do caso ao STF, surgiram dúvidas entre os próprios ministros sobre qual instância é competente para a tramitação do processo, conforme divulgado pela analista da CNN Luísa Martins.

Silvio Almeida nega as acusações de assédio e declarou que pretende comprovar sua inocência durante o curso das investigações. Sua defesa informou à reportagem que contará com uma equipe de advogados “coordenada” e “multitarefa” para conduzir o caso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O relator no Supremo é André Mendonça, tremendamente evangélico. Ele vi decidir se manda o caso para primeira instância. Esse caso vai demorar a se resolver. Ao que parece a Polícia Federal só interrogará o ex-ministro no fim de mês. Até, haja tiroteio, de lado a lado. Comprem pipocas, amigos e amigas. (C.N.)

No Brasil, a onda de impunidade agora tem um nome –  chama-se Dias Toffoli

Tribuna da Internet | Toffoli, o “Amigo do Amigo”, suspende multa  bilionária que Odebrecht se ofereceu a pagar

Charge do Kacio (Metrópoles)

Deu no Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli deve estar orgulhoso de seu revisionismo histórico da Operação Lava Jato, sua magnum opus como juiz. Um ano depois de anular todas as provas obtidas por meio do acordo de leniência da Odebrecht, hoje Novonor, seu nome batiza um movimento de dezenas de delatores, alguns criminosos condenados, que têm acorrido aos tribunais para obter os mesmos benefícios processuais concedidos pelo ministro ao presidente Lula da Silva, autor do pedido de anulação.

É o “Efeito Toffoli”, algo que, sem qualquer prejuízo semântico, também pode ser chamado de festim da impunidade.

VISÃO PECULIAR -Em 6 de setembro de 2023, vale lembrar, Toffoli usou um despacho monocrático em uma Reclamação (RCL 43007) interposta pela defesa de Lula, na véspera do feriadão da Independência, para submeter a sociedade brasileira à sua visão muito peculiar sobre o que foi a maior operação de combate à corrupção de que o País já teve notícia.

Com uma canetada, Toffoli declarou “imprestáveis” as provas obtidas a partir dos sistemas Drousys e My Web Day, dois instrumentos que fizeram rodar com eficiência germânica o notório “departamento de propina” da então Odebrecht, o centro nervoso do esquema do petrolão nos governos lulopetistas.

Segundo esse realismo fantástico toffoliano, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba teria se valido de “tortura psicológica”, algo que ele havia chamado de “um pau de arara do século 21?, para obter provas contra pessoas “inocentes”.

PRISÃO DE LULA – De acordo com o ministro em sua decisão, a prisão de Lula teria sido “um dos maiores erros judiciários da história do País”, “uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado”.

Rasgando a toga para se lançar como analista político, Toffoli ainda avaliou que a prisão do petista seria fruto de “uma verdadeira conspiração com o objetivo de colocar um inocente como tendo cometido crimes jamais por ele praticados”, ação esta que representaria “o verdadeiro ovo da serpente dos ataques à democracia e às instituições” a partir da ascensão de Jair Bolsonaro.

Sabe-se que, entre idas e vindas, o STF entendeu que a 13.ª Vara Federal de Curitiba não era o foro competente para julgar Lula da Silva. A Corte entendeu ainda que o princípio da presunção de inocência não autoriza o cumprimento da pena antes do trânsito em julgado da decisão penal condenatória. Mas escapou ao ministro Dias Toffoli, por razões que não cabe a este jornal perscrutar, que as provas que o levaram a anular o acordo de leniência da Odebrecht e deram a largada para essa corrida pela impunidade foram obtidas por meios flagrantemente ilegais, o que ficou evidente no âmbito da Operação Spoofing.

RÉUS CONFESSOS – Toffoli também parece ignorar que os delatores que agora pedem a anulação de seus acordos de colaboração premiada – e a devolução de milhões de reais pagos a título de multa – confessaram seus crimes e concordaram em devolver milhões de reais cada um à Petrobras e/ou ao erário. Ademais, todos esses acordos que teriam sido assinados “sob tortura psicológica”, um rematado disparate, foram considerados hígidos pelo próprio STF, que os homologou.

Essa esquizofrenia jurídica, chamemos assim, somada ao voluntarismo, à criatividade e às intenções pessoais de Dias Toffoli – que não esconde de ninguém sua genuflexão de penitência diante de Lula da Silva –, é o que tem levado uma plêiade de ex-executivos da Odebrecht e de outras empresas à Justiça para pedir a anulação de seus acordos com o Ministério Público Federal, entre outros órgãos de controle, e a devolução de multas milionárias que foram pagas como contrapartida da não persecução criminal em casos de desvios de recursos públicos confessados com espantosos níveis de detalhe.

Por piores que sejam as decisões do ministro Dias Toffoli sobre a Operação Lava Jato nesse ano que passou – decisões que, é bom enfatizar, até hoje não foram submetidas ao crivo do plenário do STF –, mais aviltante é o desrespeito da Corte à inteligência e à memória dos cidadãos e ao próprio Poder Judiciário como um todo, pois a ninguém interessa, como já sublinhamos, um STF voluntarista, instável e politizado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGUm editorial para ficar na História , exibindo as entranhas de uma Justiça comprometida e corrupta, que envergonha o Brasil perante o resto do mundo. (C.N.) 

Datafolha: Nunes dispara e vai a 27%; Boulos tem 25%, e Marçal recua para 19%

Nunes está tecnicamente empatado com Guilherme Boulos

Pedro do Coutto

A luta pela Prefeitura de São Paulo está entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos e o terceiro lugar, como aponta pesquisa do Datafolha desta quinta-feira , é de Pablo Marçal. Porém, diante dos números apresentados, já não se pode dizer que existe um empate técnico entre os três. A pouco mais de três semanas do primeiro turno das eleições municipais, o levantamento registrou uma nova reviravolta na disputa.

De acordo com a pesquisa, o prefeito Ricardo Nunes, candidato à reeleição, retomou a liderança da corrida municipal, subiu 5 pontos percentuais em uma semana e aparece com 27% das intenções de voto. Nunes, que tinha 22% na pesquisa anterior, está tecnicamente empatado com o deputado federal Guilherme Boulos, que marca 25% da preferência do eleitorado (oscilou dois pontos percentuais para cima).

RECUO – Quem perdeu força, segundo o Datafolha, foi o empresário e influenciador Pablo Marçal, que recuou três pontos percentuais e agora aparece com 19%, se descolando do pelotão à frente, isolado em terceiro lugar. A deputada federal Tábata Amaral oscilou de 9% para 8% das intenções de voto, enquanto o apresentador José Luiz Datena teve uma variação de 7% para 6%.

A pesquisa divulgada indica que a chamada “onda” em favor da candidatura do empresário e influenciador Pablo Marçal pode ter sido contida. No penúltimo levantamento, por exemplo, Marçal havia subido 7 pontos percentuais, bem acima da margem de erro, e chegado à liderança (em empate técnico com os dois rivais) pela primeira vez. Na última pesquisa, quando marcou 22%, Marçal havia oscilado positivamente um ponto percentual. Nesta nova rodada da pesquisa, o candidato do PRTB perdeu 3 pontos percentuais, ainda dentro da margem de erro, o que pode indicar que pode ter batido no chamado “teto”.

EMPATE – Pode-se considerar um empate técnico entre Nunes e Boulos, mas não um empate triplo, pois Marçal está mais distante. Não se trata apenas de números, mas também de percentagens entre os três candidatos. A diferença percentual de Nunes para Marçal é superior a 20%. A diferença de Boulos para Marçal pode ser estimada em 15%. Logo, não há uma igualdade decorrente da diferença aritmética de um candidato para o outro. É preciso analisar a diferença de percentagens. Nas últimas horas, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos avançaram, enquanto Pablo Marçal recuou.

O segundo turno é inevitável como os números mostram e esse cenário entre Nunes e Boulos é o mais provável. Marçal perdeu pontos e deixou o espaço aberto. Tábata Amaral perdeu o embalo, Datena caiu substancialmente e o quadro assim se define. Não se sabe a que ponto Lula se envolverá na campanha. Se Boulos vencer, Lula marcará pontos importantes para a sucessão presidencial.

“E a gente se afasta sem querer e se perde dos velhos amigos”…

Herdeira da Bossa Nova, Joyce (Moreno) faz 70 anos

Joyce, grande nome da Bossa Nova

Paulo Peres
Poemas e Canções

A cantora, instrumentista e compositora carioca Joyce Silveira Moreno encontrou, como inspiração, a saudade dos velhos amigos com quem ela deixou de conviver, para compor “Revendo Amigos”, música que ela mesmo gravou no LP Feminina, lançado pela EMI, em 1980.

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REVENDO AMIGOS
Joyce

Vontade de rever amigos
Os gestos de sempre, a risada em comum
Contando as histórias e os casos antigos
As músicas novas
Sem moda, sem tempo nenhum

Vontade de rever amigos
Dizer que estou solta na minha prisão
Gritar pras pessoas
Vem cá que eu tô viva
Me tira a tristeza de dentro
Do meu coração

Saber quem morreu
Perguntar quem chegou de viagem
Se foi porque quis
Explicar que o amor me pegou de mal jeito
Mas tudo somado acho que fui feliz

No entanto, cadê meus amigos
Vai ver que a poeira do tempo levou
A barra da vida tem muitos perigos
E a gente se afasta sem querer
Se esquece sem querer
Se perde dos velhos amigos
Se esquece e se perde dos velhos amigos

Você reparou que somente a Tribuna publica denúncias sobre a TV Globo?

Tribuna da Internet | Lula vem pagando caro demais o apoio que a TV Globo lhe oferece graciosamente

Charge do Nico (Arquivo Google)

Carlos Newton

Há certas coisas interessantes sobre a mídia brasileira. Uma das mais curiosas é o temor que os veículos de jornalismo de informação e opinião demonstram em relação à Organização Globo. Ninguém publica matérias sobre ilegalidades cometidas por Roberto Marinho e seus três herdeiros. Nesse quadro, apenas a Tribuna da Imprensa de Helio Fernandes publicava notícias sobre os bastidores da Globo e as trapalhadas do pai e dos filhos, assinadas por Helio ou por mim.

Como agora o caro amigo H.F. está operando na outra esfera, fiquei sozinho nesse métier, sempre escrevendo com a maior exclusividade e tudo rigorosamente verdadeiro. Nossos artigos são transcritos em blogs, sites e portais de todo o país, com muita repercussão também nas redes sociais.

Esta semana, escrevi sobre uma grande novidade no Ministério das Couminações: a descoberta de falsificações documentais usadas por Marinho para se apossar da TV Paulista (Canal 5 de São Paulo), durante o regime militar.

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JOGO DOS SETE ERROS NAS FALSIFICAÇÃO DA GLOBO

Essas novas provas foram liberadas pelo Ministério das Comunicações e a Tribuna da Internet já recebeu algumas das cópias. Entre elas as três páginas de transferência de ações com as falsificações explícitas e juntadas ao último processo que aprovou a cessão delas para o Sr. Roberto Marinho. Vejam o jogo dos sete erros:

1 – Cópia do Termo de transferência de ações da Rádio Televisão Paulista, em 11 de fevereiro de 1977. Nessa data, a denominação da emissora já era TV Globo de São Paulo S/A (desde 1973);

2 – Na lateral do termo está anotado que o valor de cada ação era de Cr$ 1.000,00 e à mão está escrito Cr$ 1,00 (um cruzeiro);

3 – Os cedentes eram os quatro sócios, Oswaldo Ortiz Monteiro e outros parentes. O total de suas ações representava 52% do capital inicial da emissora. Sem assinatura de todos os quatro, não poderia haver cessão;

4 – Dois dos cedentes majoritários já tinham falecido em 1962 e 1964, Hernani Junqueira e Manoel Vicente, e não poderiam dar procuração antecipada para um terceiro, diretor da Globo, transferir para Roberto Marinho suas ações no distante 1977, falsidade que foi apontada pelo próprio MPF/SP em 2003 e pelo Instituto Del Picchia de Documentoscopia;

5 – Em todos os termos de transferência, mais de 400 páginas, um outro diretor assinou os documentos como procurador do dr. Roberto, sem juntada de procuração alguma;

6 – Na parte inferior de cada cartela aparece como representante da Rádio Televisão Paulista o mesmo desconhecido cidadão. Esqueceram que se tratava de transferência de cessão de ações da TV Globo de São Paulo S/A;

7 – O cedente transfere ao Cessionário, por venda, as ações indicadas no quadro acima…. Qual venda?  E para cumprir a exigência da Portaria 163/65, sobre a regularização do quadro de acionistas, o próprio Roberto Marinho, sem saída, presidiu a Assembleia Geral Extraordinária de 30 de junho de 1976, que aprovou, ele mesmo aprovou, a transferência das ações dos 4 antigos acionistas majoritários para si.

FALSIFICAÇÕES GROTESCAS – Instado na Justiça a provar a regularização societária por longos 12 anos, Marinho mandou que fosse enviado às autoridades federais o pacote com mais de 400 páginas com os mesmos termos contraditórios e falsos, pois não havia as necessárias procurações. Mesmo assim, com tamanhas ilegalidades, o dono da Globo estava confiante em que o governo garantiria sua impunidade, e foi isso mesmo que aconteceu.

Foi com base nesses documentos falsos que Roberto Marinho obteve a edição da Portaria 430/77. E foi só depois disso que a armação e a simulação societária chamaram a atenção. Tudo foi um grande teatro, mas quem ousaria vaiar o principal ator, em pleno regime militar?

Como disse da tribuna do Congresso o então senador Roberto Requião, “não se precisava chegar a tanto, agindo-se ao arrepio da Lei Maior, dos estatutos da empresa, da própria lei das sociedades anônimas e das leis federais que regulavam o setor de telecomunicações“.

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P.S. –
As pessoas perguntam: e agora, que está tudo revelado, o que pode acontecer à Organização Globo? Bem, por favor aguardem, porque será o assunto de amanhã. (C.N.)

Pablo Marçal oferece o ‘voto-punição’, e dane-se o que fizer em seu mandato

Justiça Eleitoral notifica Pablo Marçal por sorteio de boné em campanha

Marçal sorteia seus bonés, que vende por R$ 99,90

Carlos Andreazza
Estadão

A campanha de Pablo Marçal tem fundamento na ideia de punição. É explícito. Declarado mesmo. Algo de intensidade sem precedente no Brasil. Vote – não para eleger – para punir. Não por realizações estruturais de governo. Por forra instantânea. Um discurso construído sobre a projeção-promessa do castigo, para efeito em curtíssimo prazo. Do castigo – eis a bênção prometida – ao que representariam os adversários, atores num velho teatro entre farsantes.

Vote e puna. Vote para punir. Vote punindo. Eleja a punição. Não há discurso – incluídos debates e entrevistas – em que Marçal não peça voto como instrumento para punir. Para humilhar. É o compromisso do candidato. Vote e, ao contabilizar da urna eletrônica, seja patrono do achincalhe geral. Danem-se os quatro anos contratados, se condenada a corriola já.

MISSÃO ÚNICA – Ele veio para desmascarar o bando. O município, a qualidade de vida do cidadão, será detalhe. Marçal concorre em São Paulo por ser a cidade, entre as opções ora disponíveis, a maior superfície em que punir. Plano de governo a ser executado – liquidado – com a vitória. Marçal fez campeonatos de ‘cortes’ de vídeos na pré-campanha em troca de R$ 125 mil em premiação

Parcela considerável do eleitorado – descrente na mediação da elite política – não lhe cobra nem cobrará cardápio sobre o que fazer com a gestão municipal, se justiçado for o esquema Nunes-Boulos.

Muitos entre os que lhe votarão têm nada a perder, despedaçados pelo fim da classe média. Ressentidos de repente apaziguados sob a percepção de que a existência não ficará pior. Não pode piorar. E terão algum prazer.

GOZO RÁPIDO – Ele veio para penalizar. Imediatamente. Gozo rápido. Colaborativo. Veio para servir de agente – de corpo – à penalização do establishment. Quem pune é o eleitor. Um convite que oferta sentido e seduz.

Há pretensão divina nessa abordagem-sedução. Marçal tem uma missão e se sacrifica – abre mão de negócios e dinheiros – pela causa de penitenciar o vício da política partidária. É o que vende.  Lideranças de seu partido – investiga-se – têm parte com o PCC? Dane-se – puna-se – o partido. Despreza o partido. Despreza partido. Mera obrigação formal para concorrer. Desenvolvimento radical da pregação influente contra o estamento político-partidário que, não faz muito, baseou a ascensão de Jair Bolsonaro, hoje homem de Valdemar.

Desenvolvimento radical porque livre para ser sem vergonha, Marçal não tendo a limitação do ex-presidente – sujeito que assentara frondosa empresa familiar nas banhas do estado – para se sustentar como desafiante marginal.

Moraes retira R$ 18,3 milhões do X e da Starlink e desbloqueia as contas

De Elon Musk a vencedora de Nobel: as principais atrações do Cannes Lions

Elon Musk agora protesta contra o governo da Austrália

Márcio Falcão
TV Globo — Brasília

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a transferência de R$ 18,35 milhões em contas da rede social X e da empresa Starlink Brazil para os cofres da União. O valor já foi transferido pelos bancos para as contas públicas. O valor será usado para quitar as multas aplicadas pela Justiça contra o X por: não ter bloqueado perfis que divulgavam mensagens criminosas e ataques à democracia, desrespeitando uma série de decisões judiciais; e ter retirado os representantes legais do Brasil – o que também levou o STF a tirar o X do ar no Brasil.

Segundo o STF, com a decisão e a transferência feita, Moraes determinou que o restante dos saldos bancários e dos ativos da Starlink e do X no Brasil sejam desbloqueados. Ou seja, com as multas quitadas, as empresas voltam a podem movimentar suas contas bancárias.

CRÍTICA DE JURISTAS – As duas empresas são ligadas ao bilionário sul-africano Elon Musk. No caso da Starlink, há outros acionistas com participação na empresa no Brasil – e o bloqueio dessa parte dos ativos, determinado por Moraes no fim de agosto, foi criticado por juristas.

A decisão de Moraes foi assinada na última quarta-feira (11) e divulgada pelo STF nesta sexta (13). Segundo o tribunal, foram transferidos: quase R$ 7,3 milhões (R$ 7.282.135,14) da X Brasil Internet Ltda; pouco mais de R$ 11 milhões (R$ 11.067.864,86) da Starlink Brazil Serviços de Internet Ltda. Na quinta (12), o Citibank e o Itaú informaram ao STF que tinham cumprido a determinação legal e transferido os valores para a conta da União no Banco do Brasil.

“Com o pagamento integral do valor devido, o ministro considerou que não havia mais necessidade de manter as contas bloqueadas e ordenou o desbloqueio imediato das contas bancárias/ativos financeiros, veículos automotores e bens imóveis das referidas empresas, com expedição de ofício ao Banco Central do Brasil, comunicação oficial à CVM e aos sistemas RENAJUD e CNIB”, informou o STF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quanto à reabertura do X, só depois de Elon Musk nomear novo representante no Brasil. E o empresário multinacional está cada vez mais enrolado. Na quinta-feira, ele chamou o governo de centro-esquerda da Austrália de “fascista”, pela proposta de lei que prevê multas para plataformas que não conseguirem impedir a disseminação de desinformação. Pelo projeto, o governo australiano poderá multar as plataformas em até 5% de sua receita global por permitir a desinformação, alinhando-se a um movimento mundial para controlar gigantes da tecnologia através de censura prévia, que Musk não aceita, e tem toda razão em não aceitar. (C.N.)

“Herança” de Bolsonaro é movimento de ruptura, mas não tem agenda clara 

Bolsonaro se revolta com carro de som em ato e pede sabotagem. Vídeo |  Metrópoles

Na verdade, nem Bolsonaro sabe o que ele realmente quer

William Waack
Estadão

Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e, a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista, sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.

Em São Paulo, o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um: esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.

SURFAR A ONDA – As lições trazidas por Bolsonaro, e que aparentemente Marçal ainda não assimilou, é que a parte mais fácil da trajetória política é surfar a onda dos sentimentos gerais de angústia e impotência diante, por exemplo, da percebida mão de ferro do STF, da Receita, da burocracia, agravadas pelo medo gerado por questões de segurança pública e o dia a dia travado, sobretudo de empreendedores.

“Acabar com o que está aí”, porém, pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. E a grande dificuldade de “ondas disruptivas”, como as de Bolsonaro antes e Marçal agora, é definir claramente seu eixo de ação e, portanto, seus objetivos estratégicos — além da óbvia conquista do poder.

Bolsonaro nem sequer criou uma estrutura razoavelmente hierarquizada, o que espelha fielmente a falência de partidos políticos no Brasil.

ILUSÃO FATAL – Ocorre que essas agremiações são essenciais para se governar no sistema brasileiro que ainda perdura. Conforme o próprio Bolsonaro demonstrou, revelou-se uma ilusão fatal supor que o personagem “conectado com os anseios populares” trafegue como quiser no semipresidencialismo jabuticaba, acrescido do Supremo Tribunal Federal.

O que se possa chamar de “voto de direita” — e não só o voto “antissistema” — padece, em primeiro lugar, da falta de partidos com definido propósito ideológico. Resultado direto do fato de que no Brasil inexiste uma clara definição do que é “ser conservador” ou “liberal conservador”.

Portanto, faltam agendas prioritárias além de chavões como “diminuir o tamanho do Estado”.

Governos desfazem a imagem de que o Brasil é um preservador da natureza

Tempo seco e camada de poluição e fumaça que encobre o céu na cidade de São Paulo na manhã desta quinta-feira

Queimadas podem produzir chuva preta em 4 Estados

Dora Kramer
Folha

Em abril/maio o Rio Grande do Sul ficou debaixo d’água e agora, em setembro, o Brasil, em parte, arde em chamas e sofre os efeitos do fogo. Nada disso aconteceu de repente ou por acaso. É obra de muita negligência e negação, o que soa incongruente num país tido e havido como potência ambiental. Há um claro distanciamento entre a imagem vendida e a realidade vivida. Na prática, poder público e sociedade dão muito pouca atenção e valor às questões ambientais.

Elas fazem bonito nos discursos, mas no cotidiano só são lembradas e (mal) tratadas quando as calamidades batem à porta. Despertam solidariedade, provocam susto, mas logo se muda de assunto até que no ano seguinte as enchentes e a seca voltem a provocar desastres cada vez mais graves.

INÉRCIA TOTAL – Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que de 2015 para cá os focos de incêndio no país mais que dobraram. Eram 69 mil há nove anos e já são mais de 180 mil nos nove meses de 2024. Foram quatro governos diferentes no período —Dilma, Temer, Bolsonaro e Lula.

Vê-se, portanto, que o descaso não tem ideologia. Tampouco diz respeito apenas ao Poder Executivo. A indiferença se alastra ao Legislativo e se reproduz na sociedade.

Se a população estivesse realmente sensibilizada e mobilizada em torno do problema, o Congresso não estaria entre a inércia e o modo contravapor, dedicado a prover os interesses de suas altezas.

SEM PREOCUPAÇÃO – É só olhar para a agenda eleitoral das disputas municipais. À exceção de cidades gaúchas, o tema das mudanças climáticas não entrou na pauta dos palanques como se esperava no auge da tragédia no Sul.

Verdade que hoje o presidente da República não teria ambiente para repetir a piada da “perereca” que, na visão dele de 15 anos atrás, atrapalhava a execução de obras. Ainda assim, o Lula 3 cedeu a pressões para ignorar o compromisso de campanha de criar uma autoridade climática e só o fez agora em meio ao sufoco do fogaréu.

Terá de se esforçar muito mais se não quiser fazer feio na COP30. Falta pouco mais de um ano.

Barroso deu uma aula (ao contrário) sobre ética e conflito de interesses

O ministro fala em um estúdio, vestindo terno e gravata, e gesticula

Barroso alega que há incompreensão em relação ao STF

Conrado Hübner Mendes
Folha

Há eventos públicos pedagógicos. E há entrevistas de ministros do STF no Roda Viva. Acontecimento que ensina como a Justiça se enxerga e se defende, como juízes se gostam e se elogiam. Oportunidade rara de aprendizado. Em junho, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, foi ao programa para defender o tribunal de críticas recentes. Nessa aula de equívocos superlativos sobre deveres de juízes, preocupa mais a convicção com que os professa do que seu conteúdo. Quando a certeza triunfa sobre o argumento, o diálogo deixa de funcionar.

Barroso adotou quatro tipos de resposta: o Supremo está certo, a crítica está errada, viciada na incompreensão e na implicância; o tribunal errou, mas eu acertei e não sei se você pergunta para a pessoa certa; aqui errou, mas foi um acidente; aqui errou, mas não diria que é um padrão. Confira. Não há resposta que não se encaixe numa dessas alternativas (em especial nas duas primeiras). E há a resposta xeque-mate para sacudir a poeira: “Há ênfase no negativo, sem percepção das coisas boas. Isso não define o Supremo”.

ALGUNS TEMAS – Muitos aspectos de estilo e de conteúdo merecem discussão, mas vale prestar atenção em como Barroso reage a alguns temas em especial. Primeiro, a promiscuidade com empresários e políticos em eventos festivos por aí: “Há incompreensão, percepção equivocada de que ministros do Supremo sejam disponíveis a qualquer influência”.

“Conversamos com comunidades indígenas, com estudantes, com jornalistas, com sindicalistas. Quando se conversa com empresário, há sempre repercussão negativa, como se tivesse coisa imprópria, o que revela preconceito contra empresários. Certa implicância.”

“Não tem nada de errado acontecendo. Discordar de uma decisão não quer dizer que haja alguma coisa de irregular na decisão.” “Depois que eu penso qual é a solução correta, não tem pedido, não tem favor, não tem pressão econômica, eu faço o que tenho que fazer. Não defendo nada errado nessa vida. Se estiver errado, sou contra.”

CONFLITO DE INTERESSE – Barroso não só nega a existência de conflito de interesses, ele transforma esse dispositivo republicano e institucional numa avaliação de caráter do indivíduo. Sua honestidade e vocação para o bem, contudo, não importam aqui.

Não basta fazer o certo, precisa parecer. Não temos o ônus de provar que houve ato de favorecimento ilícito. Para constatar conflito de interesses, não há que se provar nada além do fato objetivo de certas conexões pessoais: o parente, o empresário, o político. É um ilícito na conduta em si, e não depende do resultado.

Também não estamos preocupados com a maneira como percebem a si mesmos. Interessa olhar para como a sociedade lhes percebe. Imparcialidade objetiva não se confunde com subjetiva. Barroso foi indagado sobre a primeira (a imagem). Fingiu que era sobre a segunda (o caráter). E prometeu que são todos honestos.

AGENDA SECRETA – Segundo, a falta de divulgação de agenda de alguns ministros: “Não há uma exigência nem regimental nem legal, de modo que é um critério de cada ministro”. “Eu até divulgo, mas estou viúvo. Não preciso divulgar com quem eu estou saindo se estiver saindo com alguém.” “Não há como você regular a vida privada de uma autoridade pública.”

Aqui, mais que incompreensão, há falta de noção sobre regras elementares. A ética judicial não disciplina só comportamento público, mas alcança parte da vida privada. Só não alcança a vida íntima. Para ele, Toffoli num camarote da Champions League com empresários e políticos “não foi um evento institucional, foi privado, escolheu para a vida privada dele, pelos gostos dele”.

A preocupação universal da ética pública sobre agentes estatais Barroso reduziu a uma questão de gosto privado. Mas, curiosamente, rejeitou a distinção entre vida pública e vida privada quando justificou gasto com segurança a ministros até mesmo em eventos não institucionais no exterior. E não aceitou a ideia de olhar para a natureza do evento.

PARA FRENTE… – Quanto a advogados parentes de ministros em tribunais superiores cobrando pedágio, disse: “isso é uma lenda”. Outra “lenda” seria a crítica à insegurança jurídica do STF: “Insegurança jurídica teria se mudasse para trás. Ninguém mudou para trás, estão mudando para frente”.

Segurança jurídica, para Barroso, não se refere à relação de coerência entre a decisão de ontem, de hoje e de amanhã. Basta que se decida “para frente”, sem retroagir. Mesmo que essa decisão seja diferente. Se a mensagem que o tribunal passa para cidadãos, agentes econômicos e autoridades públicas flutua, isso não seria insegurança. Se o tempo da decisão é lotérico e arbitrário, não seria insegurança.

Alguém parecia não entender o que se passa. Esse alguém não é a sociedade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEste excelente artigo é de junho. Como de lá para cá nada melhorou no Supremo, e pelo contrário, só piorou, a análise não perdeu a atualidade e a utilidade. É um retrato perfeito do estilo Barroso, merece ser publicada. (C.N.)

Pedia-se tolerância religiosa, passaram a perseguir as religiões afro-brasileiras

Manifestantes pedem intervenção das Forças Armadas no Rio

Diante dos quarteis, impressionantes manifestações

Miguel de Almeida
O Globo

Faz pouco, as ruas quase só eram ocupadas pelos movimentos de esquerda. Com as redes sociais e o fim do imposto sindical, a militância mudou de mãos. Sob nova administração, a defesa da liberdade de expressão tornou-se um mantra onipresente. Antigas bandeiras como moradia popular ou menos desigualdade econômica foram substituídas no discurso, e algumas vezes na prática, pela rejeição às cotas sociais, pela volta da ditadura militar e pela estridente homofobia.

 Ah, pediu-se tolerância religiosa enquanto passaram a perseguir as religiões afro-brasileiras. Mas a coerência não é um atributo da política. Nela, ao contrário do que dizia Gertrude Stein, uma rosa não é uma rosa.

REINO DO MEDO – Ao falar de democracia, a prática da extrema direita mostra a tentativa de erodir a coesão social. O intuito é o reino do medo. As inconstâncias propiciadas pelas novas tecnologias ajudam na venda de um futuro apocalíptico. Por que será que o Inferno surgiu com as religiões? Ainda bem que na Idade Média inventaram o Purgatório — na lojinha da fé, já é uma pechincha.

O novo livro de Joseph E. Stiglitz, “The road to Freedom” (ainda inédito no Brasil), discute a ideia de liberdade à luz da sociedade contemporânea. Nobel de Economia e ex-assessor econômico de Bill Clinton, Stiglitz usa o raciocínio de meu herói Isaiah Berlin para construir sua abordagem: “A liberdade dos lobos muitas vezes significou a morte das ovelhas”.

O mal-ajambrado lero-lero em defesa dos golpistas condenados pelo 8 de Janeiro e o pedido de anistia para o pai do enrolado Jair Renan desnudam a vida na selva da política brasileira. Vale lembrar que Berlin era um charmoso e inquieto liberal. Seria um sujeito de direita na avaliação tosca da esquerda petista. Certamente comuna para alguns pastores.

DUPLA LIBERDADE – A liberdade política ocorre com a liberdade econômica — e vice-versa, argumenta Stiglitz, integrante liberal da ala progressista do Partido Democrata. Sem opções, não há qualquer liberdade. “Alguém que enfrenta extremos de necessidade e medo não é livre” — escreve.

Seria o caso do liberou geral da venda de armas. O porte alegra o ânimo libertário de quem possui o revólver, mas destrói a liberdade das centenas de mortos dos massacres ocorridos dia sim, dia não (no Brasil: a cada minuto). De outro lado, a liberdade de escolha sexual ou o direito sobre seu corpo — o aborto, por exemplo — não é tolerado pelos que desejam andar armados.

Stiglitz de novo: “A liberdade de cada pessoa para trabalhar com Deus à sua maneira, em qualquer lugar do mundo”.

A manipulação, ou mentira política, não é invenção da extrema direita; sempre ocorreu como arma (ops!) na luta pelo poder. Foi instrumento de embuste dos árabes contra a invasão cristã e do governo francês em 1914. Até o pombo-correio levava informes falsos com a intenção de ludibriar os soldados do Papa. Sou fascinado pela colaboração de Santo Agostinho à ideia de um Deus onipresente, ubíquo, aquele que tudo ouve e tudo vê. Não há melhor algoritmo. As preleções de Agostinho ainda serviram de convencimento para que vários filhos dedurassem os pais como pagãos. Também lá a coisa não acabou bem. Deu gás na intolerância religiosa. De lá para cá, passaram-se centenas de anos, e o homem sofisticou sua capacidade em dominar pelo medo.

EXTREMA-DIREITA – Começo a desconfiar de que o fenômeno da atual extrema direita, além de ser um caso econômico provocado pela transformação do futuro próximo em algo ainda mais incerto, seja resultado da solidão contemporânea identificada pelos médicos. Já é uma patologia. O cotidiano das redes e a vida on-line são um degredo digital.

Vamos pensar nos sopões do pré-8 de Janeiro na frente dos quartéis amigos. Sei como é difícil tirar uma idoso de casa, sempre é necessário alta argumentação — e ali estava muito bem representada a terceira idade. Não importa se com alucinações coletivas trazidas pela pandemia ou com a busca de contato com os extraterrestres (não é que Trump prometeu liberar gravações sobre os óvnis se eleito?). Temos de ser solidários. Eles enfrentaram frio e chuva, claro, com a ajuda de militares compreensivos. Mas ali fizeram amizades, degustaram churrascos malpassados, cantaram juntos, até pularam fogueira — e agora, a cada feriado, participam de manifestações. Irmanados. É fofo.

Sem o bingo livre, aonde ir? Junte a destruição de profissões, a chegada da IA — bem, até a companhia de um pneu pode ser um bom amigo diante da solidão.