Se o mundo não acabar, 2025 será igual a 1925, e a 1825, e a 1125

Formigas ao redor de uma trama geométrica abstrata

Ilustração de Angelo Abu (Folhapress)

João Pereira Coutinho
Folha

O latim é uma língua morta. Mas não é apenas isso: quando morre uma língua, morrem certas ideias e conceitos que ela expressava perfeitamente. Um deles é “sub specie aeternitatis” (do ponto de vista da eternidade). É nele que penso em cada virada do ano, quando a nostalgia me assalta e as ansiedades futuras também.

Foi Baruch Spinoza (1632–1677) quem deu nova vida à expressão latina. Compreender a realidade, fora das limitações do tempo e do espaço, é olhar para o mundo sob essa ótica superior.

FORMIGAS – E, por meio desse ângulo, tudo ganha um valor relativo. Nossas ambições ou frustrações, nossos desejos ou medos, nossos planos ou fracassos —tudo isso é um detalhe que dura um segundo, ou menos que um segundo, no caudal infindável do tempo.

Imagine uma colônia de formigas. Do ponto de vista da eternidade, nós somos as formigas. Não sei se Robert Zemeckis leu Spinoza. Mas o seu “Here – Aqui”, que estreia no Brasil já em janeiro, ilustra o ponto.

Corrijo. Quem o ilustrou primeiro foi Richard McGuire, na sua primorosa novela gráfica. Zemeckis leu, gostou, chamou a sua tribo —Eric Roth no roteiro, Tom Hanks e Robin Wright para os papéis principais— e fez o filme.

NAQUELE LUGAR – Aqui entre nós, o longa é mediano, e o seu sentimentalismo fácil, devidamente ensopado pela música de Alan Silvestri, tornaria a obra intragável.

Mas o conceito é notabilíssimo: um só plano, sempre no mesmo lugar, filmando a passagem do tempo. Bilhões de anos de evolução —das primeiras lavas aos primeiros dinossauros; dos primeiros nativos aos primeiros americanos independentes, até chegarmos à construção de uma casa naquele lugar. Ali.

Depois, quando a casa está construída, tudo o que vemos é uma sala e os habitantes que vão desfilando nela ao longo de décadas, séculos. A câmera de Zemeckis oferece o ponto de vista da eternidade. E que vemos através dela? Sim, o embrulho vai mudando —mobília, cortinados, sofás. Rádio, televisão, computadores. Habitantes, seus trajes, seus comportamentos.

SENTIMENTOS – A única coisa que não muda é o carrossel de sentimentos humanos. Não interessa se falamos de um casal na era dourada, na era do jazz, no pós-Segunda Guerra ou na Guerra do Vietnã. Ou durante os dias de hoje.

Nada do que é humano nos é estranho, para citar outra frase latina. Vemos as mesmas ilusões, as mesmas esperanças, os mesmos planos para a vida. As mesmas contingências que alteram, ou acabam, com os planos. O envelhecimento. A doença. A morte, em tom cômico ou trágico, tanto faz.

E os filhos que chegam. E os filhos que partem. E os filhos que retornam — ou não. Histórias de amor que prometiam tanto e falharam tanto. Solidão. Arrependimentos. Ou nem por isso: segundas oportunidades.

NA MESMA SALA – Depois, o tempo dá um salto e vemos tudo outra vez — na mesma sala, no mesmo espaço, no mesmo canto do mundo. A natureza humana é o supremo clichê. Agora que o ano caminha para o fim, a mídia é generosa em análises prospectivas sobre 2025. O tom, usualmente, é sombrio. Fácil entender por quê.

Guerra na Europa. Guerra no Oriente Médio. Possibilidade de guerra no Indo-Pacífico. E o homem laranja na Casa Branca, pairando sobre a Terra como a sombra de Nosferatu.

Mas, excetuando um asteroide mal-humorado ou uma guerra nuclear, 2025 será igual a 1925, e a 1825, e a 1125. Do ponto de vista da eternidade.

TUDO DE NOVO – Basta instalar uma câmera na minha sala, ou na sala do leitor, e espreitar para o passado, para o presente e para o futuro.

Vejo pela lente a selva, os primeiros arruamentos, as primeiras iluminações. As primeiras paredes, janelas, coberturas. Vejo os meus antepassados, ou os seus antepassados, com a sensação única de que eram únicos, vivendo na vertigem do tempo, cultivando projetos, lamentando o que fizeram ou não fizeram.

Vejo-me a mim, vejo você, alentado ou deprimido com as forças das pequenas coisas, como alentados ou deprimidos serão os homens que ainda não chegaram para habitar a mesma sala, para a destruir, para a reconstruir, para a destruir de novo.

A MESMA ESPÉCIE – Em 2025, do ponto de vista da eternidade, continuaremos a mesma espécie mesquinha, calorosa, raivosa, sonhadora, amedrontada ou corajosa. Vamos amar, ferir quem amamos, acalentar sonhos, destruir sonhos.

Tudo vai mudar, nada vai mudar. O novo ano é o velho ano que será igual a todos os novos anos.

Há formigas que lamentam essa salvífica pequenez. Mas, quando escuto as 12 badaladas, fico imaginando como será a vista lá do alto para o formigueiro cá embaixo.

Uma poética receita de Ano Novo, segundo Carlos Drummond de Andrade

Frases de Carlos Drummond De AndradePaulo Peres
Poemas & Canções

Bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos mestres da poesia brasileira. O significado principal do poema “Receita de Ano Novo” está em olhar para dentro de si mesmo e sentir-se, realmente, apto para ganhar um belíssimo Ano Novo.

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RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drumond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Feliz Ano Novo! Brasil vai vencer a guerra comercial entre EUA e China

Tudo o que você precisa saber para iniciar uma plantação de soja | Agro  Estadão

Brasil detém condições ideais para produzir soja e milho

Jamil Chade
do UOL

Exportadores americanos alertam que uma eventual guerra comercial entre Donald Trump e a China pode ter apenas um vencedor: o Brasil. O novo presidente americano assume o governo pela segunda vez no dia 20 de janeiro e, nas últimas semanas, vem anunciando que irá elevar tarifas de importação a diversos países, inclusive aliados. Contra a China, ele chega a falar em uma alta de 60% nas barreiras comerciais.

A constatação ocorre depois de Trump ter vencido de maneira avassaladora o voto no setor rural americano, marcado pelo conservadorismo. Nos 444 condados dos EUA que dependem mais de 25% da economia no campo, o republicano somou em média 77% dos votos. Ele só não venceu em onze das 444 regiões. Em 100 desses condados, Trump teve mais de 80% dos votos.

HAVERÁ PREJUÍZOS – Mas, em um levantamento realizado por algumas das entidades mais poderosas do lobby agrícola americano, os resultados apontam que há um risco real de que uma parcela desses agricultores seja prejudicada.

Uma tensão comercial entre americanos e chineses, como promete Trump, ampliaria a compra de Pequim da soja e do milho brasileiro, substituindo o produto americano.

Hoje, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, a estimativa é de que atividade exportadora do Brasil chegará a superar 153 milhões de toneladas nesses dois produtos entre 2024 e 2025. Só em 2024, a China importou quase 69 milhões de toneladas de soja do Brasil e pagou quase US$ 30 bilhões por isso.

BRASIL FAVORECIDO – Em novembro, durante a visita oficial de Xi Jinping ao país, 6 dos 37 acordos firmados entre Brasil e China estavam diretamente ligados ao Ministério da Agricultura e Pecuária para uma maior abertura do mercado chinês para diversos produtos nacionais.

O potencial comercial pode chegar a US$ 500 milhões por ano em setores inclusive dominados pelos produtos americanos.

Mas os estudos feitos pela National Corn Growers Association e pela American Soybean Association apontam que, diante de uma guerra comercial, o Brasil poderia ver um aumento de exportação de até 8,9 milhões de toneladas por ano de milho e soja.

EM QUEDA – A China continua sendo o maior mercado de exportação para a soja americana. Durante o primeiro governo Trump, o Departamento de Agricultura dos EUA indicou que as vendas americanas para o mercado chinês desabaram em US$ 27 bilhões. Depois de Trump aumentar tarifas para bens chineses, Pequim retaliou, também elevando tarifas para os produtos dos EUA.

Quase uma década depois, os agricultores americanos alertam que a China se preparou para um eventual cenário de uma volta de Trump ao poder. Além de amplos investimentos domésticos, Pequim também vem fortalecendo sua relação comercial com o Brasil.

NOVO RECORDE – Em 2023, as exportações agrícolas do Brasil para a China atingiram um recorde de US$ 60,24 bilhões, representando 36,2% do comércio agrícola total do país.

Se a China retaliasse com suas próprias tarifas de 60% sobre os produtos agrícolas dos EUA, isso resultaria em uma perda para os americanos de 25 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e 90% das exportações de milho.

“Conclusão: Uma abordagem baseada em tarifas repetidas acelera a conversão de terras agrícolas na América do Sul, o que tem ramificações permanentes nas exportações de soja e milho em todo o mundo”, dizem as associações. “E os produtores de soja e milho dos EUA arcam com o ônus.” Os dois produtos são centrais na exportação agrícola dos EUA. Juntos, eles representam 25% de toda a venda ao exterior do campo americano.

TUDO ERRADO – De acordo com as entidades, os fazendeiros americanos “trabalharam por mais de 40 anos para estabelecer e nutrir uma relação comercial forte com a China”. Agora, veem a ameaça de ter de pagar parte do preço das políticas de Trump, enquanto os chineses desenvolvem cadeias alternativas de abastecimento.

Ao mesmo tempo, o Brasil e a Argentina ganham participação no mercado global com o aumento das exportações.

Os EUA perdem um total combinado de 2,3 a 3,7 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e milho por ano, enquanto o Brasil ganha uma média de 4,6 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e milho por ano.

DUPLA SAFRA – As tarifas chinesas sobre soja e milho dos EUA, mas não do Brasil, incentivam os agricultores brasileiros a expandir a área de produção ainda mais rapidamente do que o crescimento da linha de base.

A expansão é ampliada porque algumas áreas de terra no Brasil podem ser usadas para o cultivo de soja e milho no mesmo ano. E a terra transformada em área de produção no Brasil permanecerá em expansão.

Segundo os estudos, esses são os resultados se a China adotasse uma política de reciprocidade. Ou seja, aplicando uma tarifa de 60% contra produtos americanos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Desse jeito, precisamos agradecer aos céus pela eleição de Trump. Vai ser burro assim lá na China!!! (C.N.)

Mesmo sob nova direção, Congresso não dará a Lula a parceria esperada

Charge do Son Salvador (Jornal Folha de Londrina – PR) | Sobral em Revista

Charge do Son Salvador (Folha de Londrina)

Dora Kramer
Folha

Salvo um acontecimento de proporções oceânicas que mude o andar da carruagem, Hugo Motta (Republicanos) será eleito presidente da Câmara dos Deputados por aclamação no dia 3 de fevereiro de 2025 com mandato até 2027.

Período peculiar, pois no meio haverá o ano eleitoral de 2026. O deputado ungido por obra das astutas articulações do atual ocupante do posto terá mais poder que os antecessores levados ao cargo também com fartura de adesões.

Quando das eleições deles, Flávio Marinho (Arena), Ibsen Pinheiro (MDB), Michel Temer (MDB) e João Paulo Cunha (PT), o Congresso era uma instituição diferente de hoje.

NOVAS RELAÇÕES – Era diferente não apenas pela composição de forças, equivalente na quantidade, com prevalência do centro e da direita que ainda não dizia seu nome em voz alta.

A diferença é que antes lá havia uma submissão do Legislativo ao Executivo e agora a relação se inverteu.

Por mais que a sagração de Hugo Motta por uma composição articulada por Arthur Lira (PP) tenha sido pautada pela expectativa de uma distensão entre os dois Poderes em prol de uma convivência de temperatura moderada, não há hipótese de que a situação vá além da amabilidade formal.

EQUILÍBRIO DE FORÇAS – A ingerência do Parlamento sobre o Orçamento da União veio para ficar, a despeito das atenuantes — módicas, pela resistência aos critérios impostos pelo Supremo Tribunal Federal no manejo dos recursos do Orçamento.

Na política não existe poder conquistado que seja abandonado por obra da boa vontade, em nome de suposta pacificação de ânimos.

A escolha do comando será sempre pautada pela perícia do eleito em manter os ritos aumentados sobre emendas, vetos, medidas provisórias e manobras regimentais.

FIO CONDUTOR – Os presidentes das duas Casas, considerado também o Senado novamente sob a presidência de Davi Alcolumbre (União Brasil), podem até afetar proximidade com o Planalto, mas o fio condutor será o atendimento ao serviço que lhes cobram os pares.

O presidente Luiz Inácio da Silva (PT) pode até esperar dias mais amenos, mas terá sido imprudente se acreditou na hipótese de ter no Congresso um aliado incondicional. Foi-se o tempo.

Moraes corta visitas a “kid preto” após irmã tentar entrar com fone

Irmã de militar preso é flagrada tentando contrabandear itens em caixa de  panetone

Tenente-coronel estaria querendo ouvir música na cadeia

Pepita Ortega
Estadão

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta segunda-feira, 30, a suspensão do direito de visitas ao tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, preso e indiciado pela tentativa de golpe de Estado que incluía até um plano para matar o presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.

A suspensão ocorreu após a irmã do militar tentar visitar o tenente-coronel para entregá-lo uma caixa de panetone. Nela havia, na verdade, um fone de ouvido, que fez apitar o detector de metais do Batalhão de Polícia do Exército em Brasília, onde Azevedo está preso.

CONTRAGOLPE – Azevedo foi capturado no bojo da Operação Contragolpe e acabou indiciado pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa junto do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 38 aliados.

Neste domingo, 29, o general de Divisão Ricardo Piai Carmona, comandante militar do Planalto, informou a Moraes sobre uma ‘alteração’ em uma das visitas ao tenente-coronel.

Segundo Carmona, na tarde do dia 28 a irmã do militar, Dhebora Bezerra de Azevedo, tentou fazer uma visita e levava uma caixa de panetone a ser entregue ao tenente coronel preso.

DETECTOR DE METAIS – No entanto, quando a caixa passou pelo detector de metais o alarme foi acionado. Os militares então questionaram a irmã de Azevedo, que declarou que dentro da caixa havia um fone de ouvido.

Os militares então abriram a caixa e encontraram não só o fone, mas também um cabo USB e um cartão de memória. Tudo foi apreendido e a irmã do tenente coronel acabou não fazendo a visita ao irmão. O próprio Comando suspendeu o direito de visita de Dhebora a Azevedo até uma manifestação de Moraes sobre o caso.

Segundo o inquérito da Operação Contragolpe, o ‘kid preto’ Rodrigo Bezerra de Azevedo participou da ação clandestina que aliados de Bolsonaro colocaram nas ruas no dia 15 de dezembro para prender e executar Moraes.

COPA 2022 – A ação, batizada ‘Copa 2022′ foi abortada de última hora, após o STF adiar a votação que acabou derrubando o orçamento secreto.

A Polícia Federal aponta que missão que empregou até viaturas oficiais da Força foi acertada em uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa Braga Netto, também preso por suposto envolvimento direto com a tentativa de golpe de Estado.

Os kids pretos que participaram da ação que visou Moraes tinham um grupo no aplicativo Signal para tratar da ofensiva clandestina. No ‘Copa 2022′, cada um tinha um codinome referente ao nome de países que participaram do campeonato. Azevedo, à época major de Infantaria e integrante do Comando de Operações Especiais, era ‘Brasil’.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Por ser um dos principais envolvidos no golpe, já se podia definir o tenente-coronel como um completo idiota. Agora, essa avaliação é confirmada ao pedir que a irmã levasse um fone de ouvido, um cabo USB e um cartão de memória. Qual a utilização pretendida? Algum plano maquiavélico ou simplesmente copiar músicas para o cartão de memória e curtir no fone de ouvido. Apostas pelo Bet. (C.N.)

É possível sentir um ambiente natalino mortiço no morro do Vidigal

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No Vidigal, este ano não fizeram a iluminação de Natal

Janio de Freitas
Poder360

Um sinal enigmático. Forte, por certo. Sem precedente, sem indício preliminar. Esse Natal encerrou a quarta década em que vi formar-se e crescer com o tempo um cenário luminoso, sobre o fundo escurecido da noite. Pontos luminosos, delicados, de muitas cores, uns estáticos, outros em piscar sem fim, ainda outros em vai e vem de corridas loucas.

Um jardim de luzes dado às noites de nossa classe média pelos vizinhos, nem tão perto nem distantes, moradores da desigualdade social.

Em quatro décadas, as poucas casinhas deixaram de ser o Tambá, nome legado pelos indígenas que aí catavam esse marisco miúdo, e se tornaram a favela do Vidigal. Construções projetadas pelo talento de Sérgio Bernardes (1919-2002) ficaram só nas primeiras, adotadas como moradias de Gal Costa, Lima Duarte, Sérgio Ricardo, muitos notórios.

A via principal ganhou o nome de av. Presidente João Goulart, a terra sumiu, as novas casas se erguem sobre as precedentes. Ainda envolta em mata, é a Comunidade do Vidigal, receptiva e festiva, “point” noturno da moçada de Ipanema e do anexo Leblon.

Menos de 10 pontos de luz comemorativa coloriram dezembro na parte mais decorativa do Vidigal nos anos anteriores. Mesmo na noite de Natal, só a iluminação utilitária invadiu a noite. Não parece que tenha sido frustração de intenções e providências por força de contingências. Não há explicação, ao menos por ora.

Más condutas coletivas assim numerosas não nascem do vazio. Têm causa, em geral, com presença de emoções fortes. Está claro que o Vidigal tem condições inegáveis de representatividade, quase síntese, da maior parte da realidade social. Sua conduta col

etiva poderia valer, por si só, como um sinalizador amplo. Também por aí afora, no entanto, o Natal teria se alterado. Foi possível sentir, em pessoa e pelas vias jornalísticas, o ambiente natalino mortiço, a ausência coloquial dos temas correlatos, preteridos pela quantidade de fatos agitadores.

No mínimo, o Natal ofuscado terá sublinhado o cansaço que a população aparenta. Com alheamento sempre maior e em maior âmbito, nem as mudanças que atacam o seu bolso recebem um pouco de interesse. Mesmo a fúria evangelho-bolsonarista arrefece.

Coincidência ou não, completa-se uma década de fins/começos de anos emocionalmente desgastantes e de expectativas nebulosas. Em 2015, por inaceitação da vitória reeleitoral de Dilma Rousseff, inicia-se a conturbação que perdura ainda, sem ano de interrupção e sem alívio. São 10 anos de tensão nacional durante os 12 meses e de inquietação ao chegar do ano seguinte. Não há povo nem país que passe incólume por 10 anos assim. Sinais de um país em estado alterado não faltam. E talvez seja por aí a mensagem natalina mais original.

Reforma ministerial poderá enfraquecer Lula na eleição de 2026

 (Joédson Alves/Agência Brasil)

O que não falta a Lula são problemas, de todos os tipos

Carlos Pereira
Estadão

Acordos políticos de governos de coalizão não são fixos no tempo. Sua manutenção depende da dinâmica do jogo entre o Executivo e o Legislativo que podem alterar os cálculos tanto do presidente como dos parceiros de coalizão, gerando novas possibilidades de equilíbrio ou mesmo de quebra da coalizão.

Eleições estabelecem o tamanho dos partidos e a distribuição de suas preferências ideológicas no Congresso. O presidente, formateur da coalizão, faz uma oferta de recursos políticos e monetários a partidos em troca de apoio político sustentável no Legislativo e na sociedade.

REPOSICIONAMENTO – No entanto, o equilíbrio desse jogo é dinâmico e pode variar diante de choques exógenos (crises econômicas, desemprego, inflação, descoberta de recursos naturais etc.) ou endógenos (eleições de meio de mandato para prefeitos, escândalos de corrupção etc.).

Esses choques tendem a promover reposicionamento das forças políticas, que podem alterar os parâmetros da coalizão demandando ajustes nas recompensas para mais ou para menos.

A coalizão do presidente Lula em seu terceiro mandato presidencial possui 18 partidos (seus dois governos anteriores tinham oito e nove partidos, respectivamente), gerando um governo majoritário com 350 cadeiras na Câmara dos Deputados. O índice de heterogeneidade ideológica atual é de 56.04, enquanto nos governos passados era de 48.08 e 42.17. O índice de proporcionalidade na alocação de ministérios é de 32.60, enquanto nos seus governos anteriores era de 49.01 e 49.80.

DESPROPORCIONAL – Para se ter uma ideia, o PT, que ocupa 68 (13,26%) cadeiras na Câmara, tem 17 (43,59%) dos 39 ministérios, enquanto o União Brasil, que tem praticamente a mesma representação do PT no Legislativo 59 (11,50%), só tem 3 (7,69%) ministérios (Ver tabela abaixo.).

É a maior, mais heterogênea e mais desproporcional coalizão da história do presidencialismo brasileiro.

Uma coalizão tão grande e com esse perfil terá muita dificuldade de ser coordenada. É esperado baixo sucesso legislativo e alto custo de governabilidade. Além do mais, os parceiros sub recompensados tentarão reequilibrar esse jogo sempre que tiverem uma oportunidade.

CORRELAÇÃO – O bom desempenho de alguns parceiros do governo nas eleições municipais de 2024 reconfigurou a correlação das forças políticas e exige maiores recompensas.

Sem uma reforma ministerial que contemple adequadamente os parceiros, haverá cada vez mais pressão por parte deles para a extração de rendas controladas pelo Executivo sem que se comprometam com o governo no futuro.

Se os aliados continuarem sub recompensados, podem até não sair da coalizão, mas provavelmente não estarão com o governo em 2026.

O conflito entre Supremo e Câmara não é recente nem tem solução

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Charge do Clayton (O Povo)

William Waack
Estadão

Papel do Executivo na bagunça institucional é a melhor tradução da falta de liderança do presidente. Assim, é mais fácil criar uma nova Assembleia Constituinte do que tentar resolver via Judiciário nosso sistema de governo.

Essa geringonça que não funciona é ao mesmo tempo causa e consequência da deterioração da ordem institucional. As raízes são históricas e culturais em sentido amplo, mas sua face mais evidente é a da profunda distorção no equilíbrio entre os Poderes.

CASO DE POLÍCIA – Não é algo que possa ser resolvido pelo que pensam ministros do Supremo. E o que um bom número deles pensa foi escancarado pelo ministro Flavio Dino ao mandar a Polícia Federal investigar a liberação de emendas parlamentares.

Em conversas particulares vários ministros qualificam a direção coletiva da Câmara como “caso de polícia”. E, ao comentar a queda de braço política entre os poderes, afirmam que não se trata de disputa por “princípios republicanos”. “É apenas pela grana”, diz um deles, sem rodeios.

De fato, o único princípio realmente em jogo no momento é o de quem manda. Cada um dos poderes tem avançado nas prerrogativas do outro, e o que tem exibido menos musculatura é o Executivo.

PLENOS PODERES – O STF já é por definição o supremo poder e comanda um inquérito desde 2019 que permite interferir no dia a dia da política. Com uma enorme diferença em relação aos outros poderes que fazem política, o Supremo manda fazer.

E entende que cabe a ele “dirigir” a sociedade brasileira para onde ela mesma não sabe que tem de ir (exemplo mais recente é a regulação das redes sociais).

O Legislativo abocanhou parte significativa da prerrogativa do Executivo, isto é, a alocação de recursos via orçamento público. Na prática, está virando o jogo: de “refém” do Executivo, situação que assim viam seus líderes antes das emendas impositivas, na prática fez do Executivo seu refém (até com apoio eventual da AGU).

SEM LIDERANÇA – Quanto ao papel do Executivo na bagunça institucional, é a melhor tradução da falta de liderança de seu chefe. Sua mais recente tentativa de mostrar “quem manda”, via decreto instituindo como devem se comportar as polícias, virou mais uma disputa em torno do pacto federativo em matéria de segurança pública — setor no qual o principal partido do governo tem pouquíssimo a mostrar.

Na prática o País respira um clima insalubre de paralisia e incapacidade decisiva em torno de seus principais problemas. Sem perspectivas de atacar qualquer um deles “por dentro”, isto é, por algum tipo de ação concertada entre as forças políticas. Quem sabe acaba sendo resolvido dependendo do choque de uma crise fiscal.

Usar o ‘banking’ é cair no novo círculo do inferno pós-Dante

Itaú pressiona bancários do grupo de risco a retornarem ao trabalho  presencial | Sindicato dos Bancários

Charge do Francisco (Arquivo Goggle)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Sim, novos demônios nascem a cada minuto. Um novo tipo disruptivo é o demônio do “banking”. Aquela entidade que você, cliente mortal, nunca tem acesso, mas que decide tudo que cairá do inferno sobre sua cabeça. O pressuposto de partida da descrição dessa figura icônica do século 21 é que o “banking” é um dos novos círculos do inferno pós-Dante.

Uma primeira lei organizadora do universo em que se movem esses demônios do “banking” é que eles operam de costas para o cliente mortal. Um reparo fundamental: existem clientes imortais —ou relevantes—, aqueles que têm muito, mas muito, muitíssimo dinheiro. O resto é irrelevante.

Torna-se relevante se você somar todos os irrelevantes juntos, mas cada um deles em sua miserável existência única permanece irrelevante. Feito esse reparo, sigamos adiante a investigar esse que se constitui como o novo círculo do inferno pós-Dante.

SEGURANÇA DO BANCO – A dinâmica que opera de costas para o irrelevante individualizado é a seguinte: tudo o que importa para o “banking” é garantir a segurança do banco —não a do cliente—, ao mesmo tempo em que reduz custos, reduzindo o gasto com pessoal, à medida que aumenta a dependência da operação dos recursos digitais que são, em si, ao contrário das mentiras do marketing, desumanizadoras.

Ao redor desse processo, cria-se uma névoa de enganação via comunicação institucional da marca e dos brinquedinhos coloridos digitais para o universo infinito de adultos regredidos que caracteriza o ridículo século 21.

O objetivo dessa estratégia de marketing e branding é fazer você, irrelevante, achar que sua existência, e seu dinheirinho, estão no centro da atenção dos bancos.

CRIAR PROBLEMA – Você só estará nesse centro enquanto variável que deve ser neutralizada a tempo, antes que crie algum problema. Mas, lembre-se, um irrelevante só não faz verão. Essa máxima guia a indiferença que move as técnicas de “banking” no século 21.

Vejamos um exemplo didático. A tendência dos bancos é concentrar cada vez mais os processos de “banking” em recursos digitais a fim de otimizar o controle de danos, para eles, os bancos, não para você, mortal e irrelevante.

No momento, esse recurso gira ao redor dos tais aplicativos. Poderá mudar no futuro e cada cliente terá uma IA para chamar de sua ao sabor do gênero que o/a cliente — faltam-me artigos para dizer o que tenho em mente, que tragédia! — desejar.

REFUGO DOS BANCOS – Esse passo será um daqueles que fará você de idiota, enquanto você continuar achando que o “banking” é “inclusivo”. Que digam os idosos, esse refugo dos bancos.

Se ser “inclusivo” funciona para os bancos é porque ser “inclusivo” custa dinheiro de pinga. Mas no Brasil do crime em que vivemos —e que o governo Lula se apressa em garantir que iremos para o fundo do poço fingindo que é “progressista”, essa expressão cunhada para idiotas em política —, quem pode não anda com o “celular do banco” na rua. Deixa em casa por segurança.

Portanto, qualquer agilidade digital se perde nas horas seguidas do cotidiano. E você, mortal e irrelevante, que fique às cegas quanto aos golpes digitais que sofrerá.

GOLPES DIGITAIS – Assim sendo, a tendência cada vez maior é que os demônios do “banking” construam situações em que golpes digitais na sua conta ou no seu cartão sejam problema unicamente seu e que eles estejam cobertos juridicamente.

Inclusive, porque ter advogados é coisa de gente com grana ou que tem duas encarnações para esperar a justiça ao alcance de todos os pobres e miseráveis dessa terra liderada por delinquentes.

Sabemos que em meio aos demônios do “banking” existem os funcionários do banco que nada têm a ver com as artimanhas digitais diabólicas feitas para que os bancos fiquem cada vez mais protegidos das desgraças que podem cair sobre a sua cabeça.

INFERNO PÓS-DANTE -Demônios do “banking” operam “top down” como se costuma falar nessa grande distopia que é o mundo corporativo — palavras em inglês assim usadas sempre soam brega. Os funcionários mortais —porque os demônios do “banking” são imortais na medida em que logo serão substituídos por uma IA diabólica, múltipla, plural, inclusiva e sustentável — não apitam nesse novo ciclo do inferno pós-Dante.

Ficam entre os clientes e os demônios acima deles, quando não têm uma validade funcional curtíssima, ou são mandados embora ou promovidos para seguirem sua carreira dentro da estrutura que são obrigados a “defender” para sobreviver.

E você, como um ator, corre de um lado para o outro do palco, seguindo um roteiro escrito por um idiota que você nunca saberá quem é. Tudo regado a muito som, muita fúria, apesar de não significar nada. “Banking” é pura barbárie no século 21.

Piada do Ano! Criticar gastos feitos por Janja é “machismo”, diz PT

COMENTE "JANJA" PARA RECEBER O LINK DO JANJÔMETRO NA SUA DM! A  primeira-deslumbrada do Brasil ficou PISTOLA com o meu Janjômetro, me  bloqueou e depois me desbloqueou. Pode chorar o quanto quiser,

Oposição criou o Janjômetro para medir os gastos

Israel Medeiros
Correio Braziliense

A bancada feminina do PT no Congresso disse, neste sábado (28/12), que os questionamentos na imprensa aos gastos da primeira-dama Janja com assessores são “ataques da extrema-direita” carregados de “machismo”. O posicionamento foi divulgado em uma nota publicada no site do PT na Câmara.

Janja virou assunto nos principais jornais do país depois que o Estadão revelou na quinta-feira (26) que uma equipe de assessoria da primeira-dama já gastou R$ 1,2 milhão em viagens. Segundo o jornal, os salários da equipe custam cerca de R$ 160 mil mensais aos cofres públicos.

CONCEITO MACHISTA – “Ao ressignificar o papel de Primeira-Dama, Janja rompeu com o conceito arcaico e machista de subserviência e passividade. Ela mostra coragem, dignidade e compromisso com a transformação social”, diz a nota.

A bancada também argumenta que Janja “desempenha um papel importante em causas essenciais para o país” e cita a defesa dos direitos das mulheres e o combate à violência. Por isso, argumenta, é “legítimo que ela conte com assessoria” para desempenhar seu papel.

“Não toleramos os ataques da extrema direita, carregados de machismo, que buscam desqualificar o trabalho e a força de uma mulher em posição de protagonismo. Em uma sociedade que desqualifica o trabalho de uma mulher, não há espaço para uma democracia plena”, conclui a bancada feminina.

TCU PODE INVESTIGAR – Na quinta-feira (26/12), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) prometeu acionar o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar a licitude dos gastos da primeira-dama. O bolsonarista também afirmou que acionará o Ministério Público Federal (MPF) para averiguar casos de improbidade administrativa.

“Além de promover shows com dinheiro público e gastar milhões em viagens e hotéis luxuosos, Janja também possui um gabinete próprio bancado com os impostos dos brasileiros. Servidores públicos estão sendo utilizados por Janja para alavancar as redes sociais da primeira-dama em um nítido caso de desvio de função”, escreveu o deputado nas redes sociais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Dona Janja da Silva não está nem aí. Sua equipe é informal. Se fosse formal, sairia mais barato. Mas o preço alto não faz diferença. Basta lembrar a compra de móveis luxuosos para acomodar o casal presidencial após a mudança. A ex-segunda-dama Rosemary Noronha era muito mais discreta no uso do cartão corporativo, lembram? (C.N.)

Uma mulher-meninazinha chamada Esperança surge no poema de Quintana

AS MAIS LINDAS FRASES SOBRE A VIDA - MARIO QUINTANA (frases,citacões,uma linda reflexão de vida) - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, tradutor e poeta gaúcho Mário de Miranda Quintana (1906-1994), constrói o poema no 12º andar do prédio, numeral que significa o mês de dezembro, no local onde uma mulher/criança espera o Ano Novo, simbolizado por seus olhos verdes, de um verde que significa esperança, a esperança de uma vida melhor. 

O poema de Quintana é baseado em um caso ocorrido na vida real, no final do ano, quando aumenta o número de suicídios. A mulher serviu uma mesa, preparou o jantar como se fosse receber várias pessoas, abriu a garrafa de vinho, tomou um taça, e depois se tornou Esperança…

ESPERANÇA
Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
– Ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…

E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Apoio da ABI à eleição de Maduro subverte princípios do jornalismo

Octávio Costa analisa a imprensa brasileira em entrevista | Variedades

Octavio Costa levou a ABI a apoiar o tirano Maduro

Lygia Maria
Folha

Uma imprensa livre é condição sine qua non para a democracia. Não à toa, é um dos setores que mais sofre repressão na vigência de regimes autoritários. Assim, jornalistas que apoiam ditaduras são como cordeiros celebrando o próprio abate. E, por incrível que pareça, eles existem, como mostra a Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

A entidade, por meio de sua Comissão de Relações Internacionais, foi um dos 19 signatários de uma carta enviada a Lula (PT) solicitando que o governo brasileiro reconheça a eleição de Nicolás Maduro na Venezuela.

FARSA ELEITORAL – Mas Maduro é um ditador. O pleito realizado em 28 de julho foi uma farsa. Ao assinar o documento, portanto, a ABI achincalha não só a atividade jornalística como os direitos humanos.

Em 2012, um ano antes de o caudilho chegar ao poder, a colocação do país no ranking mundial de liberdade de imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) era a já preocupante 117ª. Em 2023, despencou para a 156ª —numa lista de 180 nações.

Para compor a nota final, a RSF avalia cinco indicadores (político, econômico, legislativo, social e de segurança). No primeiro, que trata do respeito à autonomia dos veículos ante pressões do Estado e de outros atores políticos, a Venezuela está na 170ª posição.

ABUSOS E VIOLÊNCIA – A brutalidade de Maduro é notória. O Tribunal Penal Internacional levantou mais de 1.500 denúncias de abusos das forças de segurança. Revelou tortura, desaparecimentos, assassinatos e centenas de presos pelo regime, inclusive menores de idade, entre setembro de 2023 e 31 de agosto de 2024.

Tanto a ONU como o Carter Center apontam que a alegada vitória de Maduro carece de credibilidade. Dados analisados pelo Carter Center mostram que seu adversário, Edmundo González, obteve muito mais votos.

A carta assinada pela ABI até deturpa informações, ao dizer que González reconheceu o resultado do pleito, quando na verdade ele afirma ter sido coagido a acatá-lo para poder sair do país. É surreal que a ABI respalde tantas violações ao jornalismo e à democracia. Por tal feito, já pode ser chamada de Associação Brasileira de Incoerência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Fui Conselheiro da ABI e tinha orgulho. Agora, fiz uma promessa. Jamais pisarei novamente naquele prédio histórico. (C.N.)

Brasil caminha para a grave crise, que Haddad chama de “desarranjo”

Esquerda do PT venceu Haddad, que está desarranjado

Vinicius Torres Freire
Folha

“Eu sei que esse discurso desagrada à esquerda e à direita… porque um lado não quer contenção de gastos e outro não quer pagar imposto. Aí, fica difícil, né. A direita não quer pagar os impostos que deve. A esquerda não quer conter gastos. Como é que fecha as contas?”.

Com aspecto de exausto e em tom desconsolado, foi o que disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na entrevista coletiva que concedeu no dia 20 de dezembro.

FARIA LIMA? – O que o comando do PT e esquerda em geral pensam dessas frases de Haddad? O ministro teria sido abduzido pela direita, pela “Faria Lima”? Foi convertido à adoração do “deus mercado” (como escreve nas redes tanta gente de poucas letras e números)? Teria passado por lavagem cerebral em reuniões com donos do dinheiro grosso?

Haddad tenta implementar um programa de esquerda razoável, dada a conjuntura. Goste-se ou não do que propõe, é um plano que pode ser debatido em termos racionais e informados.

No governo e na esquerda, porém, o ministro perdeu o “debate interno”, nome que se dá a uma algaravia ignara e contraproducente até para os objetivos políticos mais imediatos da esquerda.

VÃ TEORIA – Nem se trata aqui da ideia de muitos (todos?) economistas de esquerda de que, quase em geral, aumentos de gasto público acabarão por produzir crescimento do PIB e da receita do governo bastantes para evitar crise financeira (alta sem limite de juros e da dívida, fuga de capitais, desvalorização da moeda, inflação etc.).

É ideia de fundamento duvidoso (em teoria, modelos, planos práticos ou mesmo aritmética). O buraco é ainda mais para baixo, porém.

Muita gente tristemente desinformada, com faculdade, “formadores de opinião”, influenciadores da bolha culturete e até amigos, acredita que “o mercado” (donos da maior parte da poupança financeira) prega a contenção da dívida a fim de “tirar os pobres do Orçamento” e ficar com o dinheiro.

MENOS IMPOSTOS – De fato, a direita e quase qualquer rico (ou qualquer um) querem pagar menos imposto. Mas, com dívida crescente, “o mercado” fica com ainda mais dinheiro (até dar o fora do país).

Imagine-se que as contas do governo chegassem ao equilíbrio ou perto disso, como em 2007: que a receita cobrisse o gasto total, inclusive com juros. O governo precisaria de pouco ou nenhum empréstimo para as despesas correntes.

“O mercado” teria de se virar: emprestar a taxas menores ao Tesouro ou também por prazos mais longos ou também mais ao setor privado, a taxas relativamente menores. Poderia ganhar com o aumento do volume, com a economia crescendo mais.

E O SOCIAL? – Acredita-se ainda que, se o governo reduzisse na marra a conta de juros, sobraria mais para “o social” ou o que seja. Não sobra, além de criar mais problemas graves. A receita do governo não dá nem para pagar despesas primárias (Previdência, servidores, Bolsa Família, saúde, educação etc.).

Os juros da dívida (e a rolagem, a renovação, da dívida antiga que vence) são pagos com mais empréstimos, com mais dívida.

No momento, o aumento obrigatório da despesa é cronicamente inviável, mesmo com alta sem limite de impostos, assim como é inviável a alta da dívida e da despesa com juros. Estamos a caminho de recorde insustentável, crise grave, o que Haddad chamou diplomaticamente de “desarranjo” no dia 20.

Idade avançada é problema cada vez mais complicado para Lula

Cotação do dólar: disparada da moeda americana é sinal que Lula perdeu a mão na economia? - BBC News Brasil

Na eleição de 2026, Lula já estará fazendo 81 anos

Bruno Boghossian
Folha

Nas primeiras semanas de governo, Lula confidenciou a um amigo que teria que passar por uma cirurgia no quadril. O presidente sentia as dores de uma artrose desde a campanha eleitoral e vinha passando por sessões de infiltração às escondidas. Decidira, no entanto, adiar a operação e o processo de recuperação por uma questão de imagem.

Aos 77 anos, Lula confessou naquela conversa que não gostaria de deflagrar questionamentos sobre sua idade. Ele reconheceu aquelas razões oito meses depois, quando resolveu fazer a cirurgia. “Eu queria operar logo depois das eleições, mas eu falei: ‘Bom, se operar agora, vão dizer que o Lula está velho, ganhou as eleições e já está internado’.”

PREOCUPAÇÃO – O tópico da idade é uma preocupação pública de Lula. Em diversas declarações desde que voltou ao poder, o presidente citou esse fator como escala ao declarar seu vigor para governar. Ainda que o tema seja alvo frequente de exploração política além dos limites da sordidez, o petista deu poucas demonstrações de que trataria a questão como tabu.

A internação deste mês de dezembro pode não mudar muita coisa, mas força o assunto a ser tratado com mais naturalidade, mesmo dentro do governo. Ministros que despacham diariamente com o presidente admitem que já se adaptaram à rotina de um Lula que não tem, é claro, a mesma energia de 20 anos atrás.

O petista terceirizou decisões e negociações a que se dedicava com desenvoltura nos dois mandatos anteriores.

RUI COSTA CRESCE – Uma das consequências práticas foi o aumento gradual e contínuo da influência interna do ministro Rui Costa. Na avaliação de petistas, esse processo tende a se aprofundar, provocando a repetição de atritos entre o chefe da Casa Civil e outros integrantes do primeiro escalão, em especial Fernando Haddad (Fazenda).

No foro eleitoral, o próprio Lula não parece ter interesse em ignorar o aspecto idade, motivado por um cálculo político puro.

Confidente do petista, o senador Jaques Wagner resumiu um raciocínio que leva em conta esse elemento: se o presidente estiver “nadando de braçada” em popularidade, Lula tenderia a abrir caminho para a renovação no PT em vez de disputar a reeleição.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG Com a idade avançada, Lula precisará de um petista com vice, para substituí-lo numa eventualidade. (C.N.)

Políticos, policiais, juízes, militares e até religiosos estão corrompidos

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Charge do Duke (O Tempo)

Eliane Cantanhêde
Estadão

A cultura do “todo mundo faz” na vida cotidiana, na corporativa, na institucional, é um dos maiores males nacionais. Se todo mundo ao meu redor faz errado, por que só eu tenho de fazer direito, cumprir as regras, seguir à risca a lei, não tirar vantagens indevidas, não fraudar um benefício daqui outro dali? Enfim, não usar o ambiente para se autoconceder um salvo conduto para “se dar bem”, com o velho “jeitinho carioca”, naturalizado e nacionalizado.

A missão da polícia, por exemplo, é nobre e fundamental, mas, se um superior segue a linha do “bandido bom é bandido morto”, ele contamina a tropa e o, ou a, policial que veste a farda para combater a violência vira agente dela. Daí a pancadaria e tiros letais em pessoas desarmadas e rendidas, cidadãos jogados de pontes ou mortos com gás em porta-malas. O, ou a, jovem policial segue o exemplo de cima e vai servir de exemplo para quem vem depois.

JUSTIÇA VAZIA – Também no Judiciário, se “todo mundo” estoura o teto constitucional, abusa dos penduricalhos, só pensa em se dar bem, por que só um juiz/desembargador ou juíza/desembargadora vai se rebelar? O problema é grave, deixa de ser do cidadão de toga e passa a ser do juizado, do tribunal, da instituição.

Foi assim nas Forças Armadas, com um comandante-em-chefe que não fez outra coisa na vida senão defender golpes, ditaduras e torturadores. Se generais de quatro estrelas aderiram, por que não os de três e duas, almirantes, coronéis, capitães?

Golpista era machão; legalista que respeitava a ordem, a disciplina e os poderes constituídos era “melancia” (verde por fora e comunista por dentro) e “cagão” – assim como quem se protegia da Covid era “maricas”. Foi longe, mas os “machões” estão indo para a cadeia.

EXEMPLO DESCARADO – O Congresso é um exemplo desolador do “todo mundo faz”. Convivi com grandes políticos de esquerda, centro e direita, com ideologia, compromisso e talento, mas jovens que entravam para a política cheios de ideais eram sugados para a vala comum das rachadinhas, emendas marotas, desvios, corrupção. Hoje, qual o perfil da maioria dos candidatos e dos eleitos?

Nem mesmo as igrejas escapam da patologia do “todo mundo faz” e é chocante a abrangência da pedofilia ao redor do mundo. Imagina-se que um cidadão que largue os prazeres da vida mundana para servir a Deus tenha uma alma limpa, pura. Por que tantos se desviam? Porque, se um superior pode, os demais se sentem no direito.

Bem, a lista é grande, enorme, mas fica aqui uma lembrança: a verdadeira coragem é saber dizer não, desagradar, nadar contra a corrente e poder se olhar no espelho sem ter vergonha de si mesmo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É muito triste ler um artigo verdadeiro, como este. Mais triste ainda é ter de escrevê-lo, e não o fazer. Todos os jornalistas têm obrigação de rubricar este artigo. Mas poucos o farão. (C.N.)

Sob pressão de Musk, EUA fecham agência de combate à desinformação

Elon Musk: conheça o dono da Tesla, da SpaceX e do X (Twitter)

Antes de assumir, Musk consegue importante vitória

Deu no Poder360

O Departamento de Relações Exteriores dos EUA anunciou o fechamento de seu escritório especializado em combater a desinformação no exterior, chamado Centro de Engajamento Global. O Congresso decidiu não renovar o orçamento do órgão, de US$ 61 milhões.

O escritório foi inaugurado em 2016 por Barack Obama, então presidente dos EUA. O fechamento do órgão deixa o Departamento de Estado sem um escritório dedicado a rastrear e combater desinformação. A atuação do órgão era criticada por republicanos e pelo bilionário Elon Musk, um dos conselheiros do presidente eleito Donald Trump.

ÓRGÃO DE CENSURA – Musk disse em 2023 que o centro era o “pior infrator na censura do governo dos EUA” e chamou o órgão de “ameaça à democracia”. O centro se defendeu e disse que seu trabalho era “crucial”.

James Rubin, enviado especial e coordenador do centro, anunciou em junho a criação de um grupo multinacional em Varsóvia (Polônia) para combater a desinformação russa sobre a guerra na Ucrânia.

O Departamento de Estado disse que a iniciativa reuniria governos parceiros para coordenar mensagens e promover reportagens precisas sobre a guerra. Em um relatório no ano passado, o centro declarou que a China gastava bilhões de dólares para espalhar desinformação.

VITÓRIA DE TRUMP – Como membro da equipe governamental de Trump, o empresário Elon Musk se opôs ao projeto de lei orçamentária original que teria mantido o financiamento do centro.

A extinção do órgão é sua primeira grande vitória, antes mesmo de o governo Trump assumir. Ele foi escolhido pelo novo presidente para chefiar o Doge (Departamento de Eficiência Governamental) em seu governo.

Ele será encarregado de reduzir os gastos do governo e a burocracia estatal. 

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Está faltando um Elon Musk no Brasil, para modernizar a administração pública. Aqui existem milhares de Conselhos, dos mais diversos tipos, com cargos remunerados, veículos, motoristas, assessores etc. e tal. É preciso acabar com essa sem-vergonhice. Mas quem se interessa? (C.N.) 

Dino dá 10 dias para que Senado explique emendas de comissão

Gilmar Fraga: emendas do relator... | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Victor Correia
Correio Braziliense

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino determinou neste domingo (29/12) que o Senado se manifeste em até 10 dias sobre o rito adotado para a indicação de emendas de comissão. A medida foi tomada após a Câmara argumentar que seguiu os mesmos procedimentos que a Casa Alta, que não foi alvo de bloqueio de recursos.

A determinação consta na decisão publicada hoje pelo STF que liberou parte dos R$ 4,2 bilhões bloqueados em 23 de dezembro pelo descumprimento das regras de transparência.

CONTRADITÓRIO – “Sem prejuízo do efeito imediato dessa decisão, em homenagem ao princípio do contraditório, fixo o prazo de 10 (dez) dias úteis, conforme o CPC [Código de Processo Civil], para que o Senado se manifeste sobre as alegações da Câmara”, escreveu o magistrado.

Apesar da liberação parcial das emendas, autorizada neste domingo, Dino criticou as explicações fornecidas pela Câmara dos Deputados e reforçou que a indicação das emendas descumpriu a regras de transparência. De acordo com o magistrado, parte dos recursos só foi liberada para não prejudicar serviços públicos e gerar insegurança jurídica.

SENADO NUMA BOA – Após ter seus recursos bloqueados, a Câmara negou ter cometido irregularidades e questionou por que o Senado Federal também não foi alvo de bloqueio, afirmando que segue os mesmos ritos para a indicação de emendas de comissão que a Casa Alta.

Dino, por sua vez, explicou que o Senado não foi alvo de ação no STF questionando a indicação de suas emendas. A ação que levou ao bloquei dos recursos foi protocolada pelo PSol, pelo Novo e por entidades da sociedade civil apontando irregularidades na indicação de emendas de comissão pela Câmara.

Porém, o magistrado frisou que as mesmas regras de transparência devem sim ser seguidas pelo Senado Federal. Com a decisão mais recente de Dino, a Casa Alta também terá que prestar explicações.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Agora, sim. Estava causando estranheza a passividade de Dino em relação ao Senado. Ficava parecendo que se tratava de uma perseguição pessoal contra o presidente da Câmara, Arthur Lira. Agora, com o envolvimento do Senado, as coisas voltam a seus devidos lugares. (C.N.)

Cláudio Castro gostaria de dar à Polícia licença para matar, tipo 007

Relator vota pela cassação de Cláudio Castro e julgamento é suspenso

Governador Cláudio Castro é admirador de James Bond

Bernardo Mello Franco
O Globo

Cláudio Castro interrompeu o almoço de Natal para berrar nas redes sociais. Na tarde do dia 25, o governador esbravejou contra a criação de regras para o uso da força pelas polícias. “Sabem quem ganhou um presentão de Natal? A bandidagem, no país inteiro! Parabéns aos envolvidos!!!”, esgoelou-se.

O bolsonarista se esforçou para transmitir revolta. Em três tuítes, despejou nove pontos de exclamação. Além de maltratar o idioma, passou a ideia de que os agentes do Estado deveriam ter licença para matar.

DECRETO FEDERAL – Castro está invocado com um decreto elaborado pelo Ministério da Justiça e publicado no Diário Oficial desta terça. O texto afirma que as polícias devem atuar com “bom senso, prudência e equilíbrio”.

Acrescenta que as armas de fogo só devem ser usadas como “último recurso”. As normas dizem o óbvio, mas irritaram quem aposta na política do bangue-bangue.

O governador do Rio não foi o único a reclamar. Ronaldo Caiado, de Goiás, e Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, também discursaram contra as novas regras. Os três atacaram o decreto para agradar as corporações policiais e ganhar pontos com eleitores de extrema direita. Faltou lembrar as vítimas inocentes da selvageria fardada.

NA METRALHA – Na noite do dia 24, a agente comunitária Juliana Leite Rangel se juntou a essa triste estatística. A jovem de 26 anos trafegava pela BR-040 a caminho da ceia de Natal. Ao passar por Duque de Caxias, o carro da família foi metralhado por agentes da Polícia Rodoviária Federal.

Juliana levou um tiro na cabeça e foi internada em estado gravíssimo. Em depoimento, os policiais disseram ter disparado porque pensaram estar diante de bandidos.

O episódio mostra que o uso abusivo da força e o desdém pelos protocolos de abordagem não são exclusividade das polícias militares.

FALTA PUNIR – O ministro Ricardo Lewandowski condenou a ação e disse que o Estado “não pode combater a criminalidade cometendo crimes”. Ainda falta punir os agentes, mas reconhecer o problema é melhor que tentar escondê-lo.

Em entrevista recente ao GLOBO, Castro culpou o governo federal, os tribunais e até as leis pela crise da segurança no Rio. Questionado sobre a sua parcela de responsabilidade, respondeu: “Sinceramente, nenhuma”. Haja exclamação para tanta imodéstia.

Educar pelo porno-exemplo é a verdadeira pedagogia democrática

A imagem apresenta um jovem indígena com pele azul e um cocar dourado, cercado por arame farpado. Ao fundo, há um padrão de linhas verdes e elementos como uma mão segurando uma caneta, um objeto em forma de lâmina com um crânio, e um engrenagem. A composição sugere temas de opressão e resistência.

Ilustração de Luciano Veronezi

Conrado Hübner Mendes
Folha

Chegou o gran finale magistrale! O JusPorn Awards nasceu da indecência e dela tira sobrevivência. Santos do pau oco nos encantam. Não há recato ético, estético ou higiênico. Moralistas, esteticistas e higienistas que se danem. Não agregam valor à sacanagem.

A juspornografia goza na perversão. O JusPorn Awards goza na chacota. Porque não há assunto que desmereça a galhofa. Porque o discreto charme da magistocracia continua a refinar nossos instintos morais e sensuais, a nos educar pelo porno-exemplo. Viva a pedagogia democrática!

PROMISCUIDADE – Já celebramos a farra das finanças e os festivais de arranjinhos nos buracos da vida privada. É na promiscuidade que se forja nossa parcialidade.

Hoje tratamos da capacidade magistocrática de se acovardar e perpetuar sofrimento de vulneráveis. Não é qualquer um que renuncia tão barato o dever de proteger direitos. A covardia é conquista de caráter. Nossos fazendeiros continuam a cobrar indenização pela abolição de 1889. E contrataram a magistocracia. A venalidade de baixo calão é virtude juspornográfica!

Nossos premiados não são só capazes de expropriar recurso público e lamber dinheiro privado, de namorar o poder corporativo e seviciar o conflito de interesses. O JusPorn premia também a meticulosa arte jurídica de estuprar direitos.

EMASCULAÇÃO – O ano teve epidemia de emasculação precoce. Juspornógrafo despreza a juíza que pede paridade de gênero no tribunal, a ministra que fala, a desembargadora que existe.

Vibramos com o ministro do STJ que impediu fala de ministra, com os juízes quase-desembargadores que resistem à promoção de desembargadoras demais. E nos juntamos ao desabafo do desembargador do TJ-PR: “A mulherada tá louca atrás de homem”.

Festejamos a Justiça Federal por absolver Samarco, Vale, VogBR e BHP Billiton, além de diretores e técnicos, pelo maior desastre ambiental da história do país. Por “ausência de provas suficientes” dos crimes de inundação, desabamento, lesão corporal ou qualquer crime ambiental. O JusPorn não aguenta as provas suficientes!

TIRO AO NEGRO – Nosso reconhecimento aos ministros do STM pela absolvição de oito militares que dispararam 257 tiros contra Evaldo Rosa e acertaram 82. Por acidente, o homem preto da cena morreu. O JusPorn sabe que a coragem militar está para a coragem; a inteligência militar está para a inteligência; e a honestidade militar está para a honestidade como a Justiça Militar está para a justiça.

O STF tem se dedicado a converter Justiça do Trabalho em Justiça facultativa. Modernos, concedem a liberdade da vida precária a motoqueiros empreendedores de si mesmos. Abaixo as proteções sociais!

Três ministros do STF reuniram-se com Bolsonaro nos dias em que se planejava um “coup”. Renato Terra os chamou de “new kids on the golpe”, mas o JusPorn prefere “ministros interlocutores do coup”.

ACULTURAÇÃO – O STF também impõe modernização a povos indígenas. Abriu mesa de negociação de direitos, uma “peace talk” entre a espada e o pescoço, técnica sado-colonialista que promove a liberdade de milicianos da cidade, do campo e da floresta. Tua terra, minhas regras!

Nenhuma nudez judicial será castigada. Toda desfaçatez magistocrática será louvada!

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PS: O JusPorn Committee agradece a Luciano Veronezi pela arte sem vergonha que coloriu esses três capítulos. Temos ilustrador do Roda Viva! (C.H.M.)

Bomba! PM ocultou de Moraes um relatório importante sobre 08/01

Quem é o major da PMDF que disse 'é só deixar invadir o Congresso', em 8 de  janeiro | Distrito Federal | G1

Relatório do major Alencar foi escondido do Supremo

Pablo Giovanni
Correio Braziliense

Um relatório, considerado essencial para averiguar a postura dos integrantes do alto comando da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, foi ocultado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pela corporação. É o que mostram documentos exclusivos obtidos pela coluna.

Ao atender a uma determinação de Moraes, em junho de 2023, que solicitava “documentos, procedimentos, ordens de serviços, despachos ou quaisquer outros originados” após os eventos de 8 de janeiro, a chefia da Seção de Pessoal do 6° Batalhão — responsável pela Esplanada dos Ministérios e comandado na ocasião pela tenente-coronel Kelly Cezário — afirmou que não houve a produção de documentos após a elaboração do Protocolo de Ações Integradas (PAI) dos atos de 8 de janeiro.

ONZE PÁGINAS – Entretanto, tinha sido emitido um relatório de 11 páginas relacionado aos atos antidemocráticos, elaborado logo após o ocorrido pelo comandante em exercício do batalhão, major Flávio Silvestre de Alencar.

O documento, obtido pela coluna e que permanece arquivado no SEI da corporação, foi entregue à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa em setembro, após a operação da Polícia Federal que prendeu a cúpula da corporação, quando a PMDF já estava sob o comando do então comandante-geral Adão Teixeira.

No entanto, o material elaborado pelo major nunca chegou ao conhecimento de Moraes.

PROVIDÊNCIAS – O relatório do major Alencar descreve que o material tem como objetivo “informar com o máximo de detalhes o planejamento, as medidas tomadas e os fatos que ocorreram na manifestação popular do dia 8 de janeiro de 2023”.

A elaboração desse documento é obrigatória, segundo o regimento interno da corporação, e foi confeccionado porque Alencar exercia a função de comandante do batalhão, já que Kelly estava de férias.

Trechos do documento complicam a situação do coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues. No material, o major menciona que recebeu o Protocolo de Ações Integradas (PAI) no dia 6 de janeiro, ao contrário do que foi dito por Casimiro em audiência ao juiz auxiliar de Moraes, quando o coronel afirmou que recebeu o documento apenas em 9 de janeiro, um dia após os atos.

O CORONEL MENTIU – Uma quebra de sigilo telefônico do coronel, já nas mãos dos investigadores da Polícia Federal, entretanto, revela que de fato o encaminhamento do documento ocorreu por parte do coronel ao major às 14h20, em 6 de janeiro.

O ministro Moraes, em outubro último, chegou a dar um ultimato: solicitou ao comando-geral da corporação, no prazo de 24h, o envio de todos os materiais posteriores ao 8/1. A corporação, entretanto, não peticionou o documento elaborado pelo major, encaminhando o mesmo documento de junho de 2023.

A coluna procurou a PMDF, mas até o fechamento desta edição, não obteve resposta.