Carlos Newton
Para quem viveu os anos de chumbo e teve amigos perseguidos, presos, torturados e até mortos em condições abjetas e revoltantes, como aconteceu com o jovem estudante Stuart Angel Jones, filho da estilista internacional Zuzu Angel e irmão de nossa querida amiga Hildegard Angel, grande jornalista e atriz, que abandonou os palcos ainda jovem para se dedicar inteiramente ao trabalho na imprensa.
Lembro com saudade jornalistas como Milton Coelho da Graça e José Fernandes Rêgo, também muito amigos de Sebastião Nery. Ambos levaram tantos socos nas torturas que perderam os dentes frontais.
TÍNHAMOS DE RESISTIR – No meu caso, escapei ileso, jamais fui preso, porque comecei a trabalhar na Editoria de Política de O Globo em 1966, e os militares não incomodavam os “comunistas” de Roberto Marinho, como éramos chamados, porque havia grande número de esquerdistas na redação.
A grande maioria dos jornalistas tinha ficha nos serviços de segurança, tipo DOPS, Cenimar, Doi-Codi etc., mas vida que segue, diria João Saldanha, que era comunista de verdade e não foi perseguido por ser figura pública.
Nos anos 80 fui convidado por um grande amigo, o jornalista Cesarion Praxedes, para almoçar com o coronel Costa Júnior, que estava sendo nomeado diretor da TVE (hoje TV Brasil) e nada entendia do ramo. No almoço regado a caipirinhas, o militar queria saber quais eram os funcionários mais qualificados em cada setor, para que pudesse fazer uma boa administração e me pediu que os indicasse, o que fiz com prazer.
LIMPAR O NOME – Eu não sabia que o Costa Júnior era dos quadros da inteligência da ditadura, mas ao final do almoço etílico ele próprio me confidenciou. Ao agradecer minha ajuda, revelou que tinha trabalhado no Serviço Nacional de Informações e me fez uma oferta, nos seguintes termos:
“Sei de sua coloração política e de sua integridade pessoal. Estou contente em conhecê-lo e quero lhe oferecer um favor. Se você quiser, posso limpar sua ficha”.
Eu respondi: “Poxa, agradeço muitíssimo, mas peço-lhe que deixe minha ficha como está. Para um jornalista de política, ter a ficha limpa não é recomendável, porque vão dizer que eu era colaboracionista”. E caímos na gargalhada.
VOLTA AO PASSADO – Quatro décadas depois, o passado se faz presente e estamos de novo discutindo golpe de estado e intervenção militar. Sinto muito desconforto com essa situação. O radicalismo não leva a nada.
Ao invés de alimentar a tal polarização, prefiro analisar os fatos pelo lado positivo. Desta vez, houve mesmo intenção de dar um golpe de estado, mas foi uma iniciativa fracassada, devido à resistência do Alto Comando do Exército. Foi apenas por isso, exclusivamente por isso, que o país escapou de um novo período de trevas.
E assim posso dizer à minha querida amiga Hildegard Angel que podemos constatar que o sacrifício de Suart Angel e tantos outros não foi em vão. Vivemos numa democracia, enfim.
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P.S. – Como tudo vaza, já sabemos os nomes de alguns heróis da resistência, como o último comandante do Exército na gestão passada, general Marco Antonio Freire Gomes. Também foram contrários à aventura golpista os generais com comando de tropa, como Tomás Miguel Ribeiro Paiva (Sudeste), Richard Nunes (Nordeste), Fernando Soares e Silva (Sul) e André Luiz Novaes Miranda (Leste). O chefe do Estado-Maior, Valério Stumpf, também é citado. Antes deles, outros resistiram, como os generais Fernando Azevedo e Silva e Edson Pujol. Logo saberemos os demais legalistas, que merecem todas as nossas homenagens. E vamos em frente, mas sem querer nos vingar dos que foram derrotados. (C.N.)
Não, ainda não chegamos a uma Democracia de Verdade, Direta, com Meritocracia, na qual as palavras golpes, ditaduras e estelionatos eleitorais serão de fato coisas do passado, de museus históricos, mas ainda chegaremos lá, começando por fazermos o dever de casa: não escamotear a verdade, a boa-fé, a honestidade e a Justiça, e, necessariamente, separando o joio do trigo, como, no caso, reconhecer que, felizmente, nas forças armadas do Brasil e do povo brasileiro ainda temos mais trigo do que joio, temos o militarismo sério, honrado, legalista, democrático, cabeça, ao qual pertenceram meu avô e meu pai e, infelizmente, o militarismo politiqueiro, irmão siamês do militarismo, tb politiqueiro, que sobrevivem no tempo, no espaço e no poder, em regime de simbiose e autofagia, um alimentando e devorando o outro e, sobretudo, auxiliados por seus tentáculos velhaco$, mercenários e venais, com a imprensa partidárias dos me$mo$ à bordo, embargando a evolução política e democrática do país e do conjunto da polução, obrigada a sobreviver bitolada entre a dualidade, a polarização, a encenação artificial e artificiosa, e a guerra tribal, primitiva, permanente e insana entre os me$mo$, por poder, dinheiro, vantagens e privilégios, sem limite$, à velha moda todos os bônus para ele$ e o resto que se dane com os ônus das loucuras por poder e dinheiro dos me$mo$ que faz supostas lideranças se negar a até mesmo assinar a promulgação da Constituição Federal e inclusive o plano real, p. ex., para mais tarde, usar, chegar ao topo do poder, e continuar usando em seu favor, proteção e benefício próprio, por mais incoerente e louco que isso possa parecer, como foi o caso do cidadão Lula da Silva e o seu lulopetismo.
Digo, militarismo politiqueiro$, irmão siamês do partidarismo tb politiqueiro……
Golbery e sua troupe enfim “instalaram-se, o “Barba”, na tresloucada direção…., ao desastre!!!
Excelente texto, que mostra o que é viver numa ditadura, que os irracionais de hoje ainda defendem, geralmente de maneira indireta para não se expor muito.
Quantificar vítimas de ditaduras não é bom argumento.
Béria que o diga.
A consulta que a terrorista Dilma fez aos generais, para decretar estado de sítio na véspera do seu impedimento, também foi tentativa de “gópi”?