Nada acabou, pois a frustração do golpe não mudou o bolsonarismo

Bolsonaro determina que militares celebrem o Golpe de 1964

Charge do Lattuff (ANDES)

Janio de Freitas
Poder360

Se há conspiradores presos, não é razoável, para nem falar na igualdade constitucional perante a lei, que seu chefe continue em liberdade e atividade política. Tanto mais que Bolsonaro é reconhecido nas conclusões da investigação como a figura central e pessoalmente decisiva do plano, inclusive, de assassinatos do presidente do país, do vice-presidente e de um magistrado.

E ainda, como se quisesse lembrar a necessidade de sua prisão preventiva, o próprio Bolsonaro admite a fuga para a Argentina. Os salvados pelo fracasso golpista não foram só os alvos pessoais revelados.

CARNIFICINA – O Brasil seria cenário de uma carnificina. Bolsonaro a incluiu em suas antecipações: “Vou acabar com toda essa petralhada” / “É preciso morrer uns trinta mil” (em comício no Acre e em muitas outras ocasiões, com e sem número).

Muitos dos tidos como esquerdistas sangrariam nas ruas e nas cadeias, escalados pela sanha liberada. É o ideal bolsonarista, militar e civil, de “limpeza”.

Ao menos por precaução, os êxitos da Polícia Federal, do Supremo e do Ministério da Justiça nos inquéritos do complô não dispensam a continuidade do alerta e da investigação. Os citados 37 do círculo conspiratório não bastariam para levar o golpe à extensão anti- institucional pretendida já no seu deslanchar. Para isso, precisaria eclodir pelo país afora, por mobilização militar.

COMANDO DIVIDIDO – O relatório da PF transcreve uma contagem da divisão no Alto Comando, a uma altura imprecisa da conspiração:

“Três querem muito, cinco são contra, os outros estão na zona de conforto”. Estes últimos são os que esperam indícios mais claros para definir-se ou escondem a definição já feita.

Apesar da posição periférica, são os definidores da maioria dos golpes militares, com a adesão final a um dos lados: Amaury Kruel, em razão de contato com grandes empresários de São Paulo; Médici, usando os alunos da Amam como soldados, na Rio-SP.

ADESÕES NOS ESTADOS – O complô precisava de adesões nos Estados e as teve, com certeza, contra possíveis resistências, prenunciadas na divisão do Alto Comando. O que não faltava e não falta são bolsonaristas nos quartéis, como aos bolsonaristas de quartel não faltam as convicções reunidas no complô.

A frustração dos assassinatos, da matança e do golpe em geral não mudou o bolsonarismo, nem o direitismo militar extremista. O seu silêncio é de comunhão com o complô desventrado. Bolsonaro planejou, um dia, explodir o principal conduto de água para o Rio. Com outros tenentes, o plano foi explodir bombas em quartéis. Queriam ganhar mais.

O comando do Exército e a Justiça Militar fingiram que só Bolsonaro era “um mau militar”, deram-lhe o posto e o ganho de capitão, para que passasse à reserva. Há muitos “maus militares”, em todos os níveis, para fazer ou iniciar ações contra procedimentos legais que levem Bolsonaro e seus comparsas ao destino justo das prisões. Sempre que possibilidades assim foram desprezadas, a realidade as confirmou.

10 thoughts on “Nada acabou, pois a frustração do golpe não mudou o bolsonarismo

  1. Engraçado, se não fosse trágico, que alguns só lamentem ou reclamem caso houver a materialidade das consequências do risco. É o caso do golpe que não foi consolidado, devido a circunstâncias alheias aos planejadores. Mas houve a tentativa, só nega isso quem é simpatizante de ditaduras..

  2. Se essa intentona golpista tivesse ocorrido num país com um mínimo de seriedade , essa corriola golpista já teriam sido ” fuzilados ou enforcados ” , e não se estaria gastando dinheiro público e perdendo tempo a toa .

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