Primeiro mandato ensinou Trump a chutar portas, distribuir tapas e alterar o sistema

How Donald Trump's criminal charges are defining his White House race

Trump tem objetivos de poder que ficam muito evidentes

Ruy Castro
Folha

Hollywood era formidável em filmes de tribunal. Para ficarmos só nos clássicos, “O Vento Será Tua Herança” (1960) e “Julgamento em Nuremberg” (1961), ambos de Stanley Kramer; “Anatomia de um Crime” (1959), de Otto Preminger; “O Sol É para Todos” (1963), de Robert Mulligan; e o talvez melhor de todos, “Doze Homens e uma Sentença” (1957), de Sidney Lumet.

Em suas disputas entre advogados ou jurados, sempre a luta por uma causa perdida. Em todas, a vitória da Justiça, baseada num princípio inarredável: a lei.

NAS QUATRO LINHAS – Foi como sempre enxergamos os EUA —arrogantes e sem escrúpulos no exterior, mas internamente sujeitos a um sistema legal de quase 250 anos e sólido demais para ser abalado por arroubos fora das, olha só, “quatro linhas”.

Agora Donald Trump está provando que não era nada disso. Bastaria que surgisse alguém chutando a porta, distribuindo tapas na cara e mandando todo mundo ficar de nariz contra a parede para que esse sistema se acoelhasse —com todo respeito pelos coelhos.

Trump descobriu em seu primeiro mandato que, se reeleito, o sistema não resistiria a um peteleco. Novamente de posse do Executivo e tendo reduzido seu outrora grande partido, o Republicano, a um bando de zumbis, só teria pela frente a Suprema Corte, esta já composta em maioria por seus homens, nomeados da outra vez. – Para sua surpresa, são exatamente esses juízes que, ainda respeitosos à lei, estão tentando peitar suas indignidades.

NÃO É BURRO – Há dias, Hillary Clinton chamou Trump de “burro”. Incrível, uma mulher com a tarimba de Hillary afirmar isso. Trump, por mais tresloucadas suas falas e atitudes, sabe o que diz e o que faz.

Precisa destruir o sistema para impor outro, em que possa aplicar suas pretensões. A Groenlândia, por exemplo, não lhe interessa para fins turísticos —quer derretê-la para explorar seus minérios e petróleo. Há interesses em todos os aparentes absurdos que comete.

Para isso, Trump precisa imperar sem contestação. Como aqui faria Bolsonaro, se tivesse sido reeleito.

6 thoughts on “Primeiro mandato ensinou Trump a chutar portas, distribuir tapas e alterar o sistema

  1. Estou curioso pra saber se o Painho considera que o Trump tem sido a volta do nazi-fascismo com outra cara.

    Ao que parece a “esquerda progressista” queimou uma das suas duas palavras de seu léxico, “fascismo”, restando-lhe a outra, “golpe”.

    Acostumada a só tachar o desafeto fulano ou sicrano de fascista, o que está fora da jogada, e tendo agora que criticar, expor as suas fragilidades e adversidades, argumentar, convencer, encontra-se absolutamente perdida, tentando alguns ensaios muito rasteiros.

    De uma coisa há certeza, perdeu qualquer contato com a realidade, mergulhada que sempre foi na sua etérea ideologia reacionária e extemporânea.

    Deve levar algum tempo pra incorporar outras duas palavras no seu léxico.

    • Tirésias era um famoso adivinhador, adquiriu esse dom aos desagradar aos deuses em disputa; teria por ter interrompido o coito de duas cobras ou por ter espionando a deusa tomando banho nua num rio ficado cego e o outro deus lhe deu o dom adivinhatório.
      Hehehhe

  2. “Quando falamos em balança comercial, as coisas são diferentes, dado que cada vez mais os países imperialistas produzem mercadorias fora de seus territórios nacionais, concorrendo com suas indústrias nacionais. Mais de 90% dos Iphones da Apple são montados na China. Nesse ponto, Jeffrey Sachs tem razão: o problema não é a balança comercial deficitária. O que ele não compreende, e por isso oferece uma saída clássica (cortar gastos do Estado), é que o déficit comercial é compensado em muito pela remessa de mais-valor advindo da superexploração nas áreas de influência do imperialismo e pelo fluxo do capital financeiro.

    Mas isso resolve o problema do capital, não dos trabalhadores americanos que perdem seus empregos graças à concorrência de suas próprias empresas transnacionais. O pato vagabundo venceu os democratas no Cinturão da Ferrugem no Meio-Oeste, antes conhecido como cinturão industrial, com a maioria dos votos operários que alimentam o sonho da volta da indústria americana nos moldes do século XX.

    Isso não quer dizer, de forma alguma, que Trump virou um nacionalista em defesa dos trabalhadores. Sua política de corte de empregos, de não taxar os ricos financiadores de sua campanha, o endurecimento contra os imigrantes, o desmonte dos serviços públicos, sua pauta moral (ou imoral) mostra bem seu interesse de classe e seu caráter direitista, mas ele precisa de uma base popular e apoio eleitoral, e capturou o descontentamento da classe trabalhadora.
    Trump não tem um plano para salvar a economia dos EUA, nem para melhorar a vida dos trabalhadores. Ele quer salvar o capital (dos séculos XIX e do início do século XX) contra o capital (do século XXI). Ele quer, “na minha opinião”, como disse no discurso do dia da libertação, ele — o indivíduo extraordinário, o líder supremo. E, portanto, precisa de recursos de poder que não encontra na outra face do capital que já se tornou uma imensa e internacional máquina de acumulação e parasitismo. Então ele busca o povo. Como o antigo Rei Sol, ele proclama: o Capital sou eu.”

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