Explorado pelos três Poderes, o Brasil poderá se tornar uma nação inviável

Tribuna da Internet | Brasil hoje é governado com base no rancor e vingança  entre os Poderes

Charge do Duke (Arquivo Google)

Merval Pereira
O Globo

A crise institucional que estamos vivendo nos leva inexoravelmente a uma reforma do sistema político-eleitoral que devolva o equilíbrio entre os Poderes da República. Se não formos nessa direção, continuaremos com um Executivo inoperante, um Legislativo dominante e um Judiciário empoderado em consequência da permanente disputa entre os dois primeiros.

Vivemos um parlamentarismo de fancaria, que chegou em resposta a um hiperpresidencialismo que relegava a segundo plano o Legislativo, governando com decretos-lei, medidas provisórias e outros instrumentos que dispensam o sistema de pesos e contrapesos da democracia.

COMPRA DE APOIO – Durante muitos anos o Legislativo foi literalmente comprado pelo Poder Executivo, vejam-se os casos do mensalão e do petrolão, ou manobrado pelo presidente do turno liberando verbas em troca do apoio parlamentar, ou as contingenciando como uma espécie de castigo aos não obedientes.

]O que está acontecendo hoje, com os partidos políticos controlando uma quantidade enorme de verbas e esnobando indicações para postos no governo federal, tem a ver com uma das distorções de nosso sistema partidário.

Em vários países, um parlamentar que vá exercer funções em outro Poder tem que renunciar ao cargo que ganhou nas urnas, e não apenas entrar em licença para retornar mais adiante. Cada Poder tem sua função, e a escolha tem que ser definitiva. Não pode haver barganha política nesse tipo de relação republicana, não existe pacto institucional que resista a essas trocas de favores.

MODELO BRASILEIRO – O fenômeno do descrédito da democracia representativa é mundial, mas no Brasil tem aspectos específicos que só o agrava, como a corrupção permanente e a consequente impunidade de seus autores, o que aumenta a percepção dos cidadãos de que há um conluio dos diversos escalões governamentais a favor dos seus apaniguados, “com STF e tudo”, nas palavras do ex-senador e hoje lobista Romero Jucá, prevendo o que aconteceu com a Lava-Jato.

A polarização política que tomou conta de todos os setores da administração federal tem efeitos corrosivos na credibilidade da gestão pública, que não tem mais o objetivo do bem-estar da população, mas o bem-estar dos grupos políticos que dominam as indicações.

A recuperação do poder de alocar recursos por parte dos parlamentares, uma boa medida na teoria, na prática tornou-se um instrumento de aumento do poder pessoal dos parlamentares, e não do Parlamento.

SEM TRANSPARÊNCIA – Os gastos inexplicáveis e a falta de transparência da prestação de contas fazem com que os políticos ou candidatos a políticos tenham benefícios imediatos, mas desgastem a imagem pública do Legislativo e prejudiquem a governança, já que o governo federal não pode planejar seus investimentos, que quase sempre esbarram nos interesses privados dos legisladores.

Há um paradoxo aparentemente intransponível a esta altura do nosso estágio institucional: só com o fortalecimento dos partidos políticos teremos uma democracia verdadeira e sólida, mas são justamente os partidos os principais culpados da erosão da nossa democracia.

A disputa sobre o IOF é exemplar e a reação do Congresso à aprovação do aumento do imposto está correta, pois tecnicamente ele é um imposto regulatório, não arrecadatório.

CORTAR GASTOS – Além do mais, ninguém aguenta pagar tanto imposto, e o governo tem obrigação de cortar gastos para equilibrar as contas públicas, equilíbrio que não pode ser encontrado com o aumento dos impostos, velha tática de governos de qualquer espectro político, mas agora chegou à exaustão.

O Congresso deveria ser o primeiro a abrir mão de parte do bilhões de emendas parlamentares, para ter moral de exigir dos demais Poderes os cortes necessários.

Também o Judiciário, em vez de dizer que não tem nada a ver com o equilíbrio fiscal, deveria conter a série de penduricalhos que fazem os vencimentos dos juízes em todo o país dispararem acima do que a lei determina. Enquanto os três Poderes não trabalharem na mesma direção, não teremos equilíbrio econômico e social.

4 thoughts on “Explorado pelos três Poderes, o Brasil poderá se tornar uma nação inviável

  1. ‘Enquanto os três Poderes não trabalharem na mesma direção, o Brasil não terá equilíbrio econômico e social.’

    Enquanto não ‘trabalharem’…? Então, esquece! Lamentavelmente.

  2. Democratas só no discurso. Mas conseguem convencer seus eleitores do contrário.

    Se o lulopetismo – que sempre foi autocrático – quer um Estado cada vez mais vigiado e regulado, o bolsonarismo jamais desejou algo diferente, apenas, claro, governado por si mesmo.

    Ambos, como sabido, de democratas só têm o discurso, mas conseguem, cada um a seu modo, convencer seus eleitores do contrário.

    Já ao campo opositor, na falta de um líder “de centro” verdadeiramente capaz de chegar ao 2º turno das eleições com chances reais de vitória, sobrará o apoio ao “poste” que será ungido pelo ex-mito, tal qual assistimos em 2018, com a dupla petista Lula e Haddad.

    Se isso voltar a ocorrer, será a constatação final e irrefutável da nossa já conhecida miséria política, aprisionada no populismo vazio e na completa falta de projeto de nação.

    Será mais uma eleição (oportunidade) jogada fora e mais quatro anos atirados na lata de lixo. Raramente uma eleição é tão importante assim.

    Fonte: O Antagonista, Opinião, 02.06.2025 10:29 Por Ricardo Kertzman

  3. Quando o molho sai mais caro que o frango a macarronada resta inviável. LEDO ENGANO DO MERVAL Não são os três poderes os vilõe$ da nação mas isto sim o conjunto da república do militarismo e do partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, e, sobretudo, a plutocracia putrefata, com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia adotada pela dita-cuja, fantasiada de democracia apenas para ludibriar a crédula e tola freguesia, copiada mal e porcamente dos EUA, alicerçada na gastança, na comilança e na impostança, que, tudo leva a crer, já foi além dos seus limites tributáveis, daí a aparente inviabilidade da nação, sem mudanças de verdade, sérias, estruturais e profundas, no bojo de projeto próprio, novo e alternativo de política e de nação, que mostra o possível novo caminho para o necessário novo Brasil de verdade, capaz de resolver o país, a política, a vida e a convivência pacífica da população, pra os próximos 500 anos, alicerçado na estabilidade, na sustentabilidade, na paz, no amor, no perdão, na conciliação, na união e na mobilização pela mega solução, via evolução, como propõe há cerca de 35 anos a Revolução Pacífica do Leão, que projeta o Brasil na vanguarda democrática do necessário novo mundo civilizado, com Democracia Direta, Meritocracia e Deus na Causa por mais que isso irrite a imprensa falada, escrita e televisionada, conservadora do status quo ante, face ao seu rabo preso com a comilança propiciada pelo negócio bilionário representado pela plutocracia putrefata com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, que foge igual o diabo foge da cruza da Democracia de Verdade, Direta, com Meritocracia e Deus n Causa… https://www.tribunadainternet.com.br/2025/06/04/explorado-pelos-tres-poderes-o-brasil-podera-se-tornar-uma-nacao-inviavel/#comments

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