Supremo precisa respeitar a liberdade de expressão, um direito dos brasileiros

Quando a liberdade de expressão nos é... George Washington - PensadorDeu no Estadão

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma o julgamento de dois recursos extraordinários que tratam da suposta inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Esse é o dispositivo legal que fixa critérios para que as empresas de tecnologia possam ser civilmente responsabilizadas por conteúdos publicados por terceiros em suas plataformas, notadamente as redes sociais.

O reinício do julgamento é ocasião para este jornal reafirmar seu entendimento de que o artigo 19 é plenamente constitucional. Não há uma vírgula em sua redação que não esteja coadunada com a Constituição – nem tampouco com o Código Penal.

SUPONHEMOS… – Mas, a título de argumentação, digamos que o referido dispositivo fosse, de fato, inconstitucional. Ora, bastaria ao STF dizê-lo e deixar a cargo do Congresso a análise sobre a pertinência de reescrevê-lo, se o Legislativo achar que é o caso. Porém, não é isso o que parece estar em vias de acontecer, a julgar pelas palavras do ministro decano da Corte.

Em Paris, Gilmar Mendes afirmou que a decisão que o STF vier a tomar pode ser “um esboço de regulação da mídia social” no Brasil. A ser assim, o STF usurpará uma competência do Congresso, redefinindo, na prática, os limites da liberdade de expressão no País.

O espírito que anima a Corte nesse julgamento não é nada bom, muito ao contrário: há uma nítida inclinação para a censura, ainda que o mal venha disfarçado sob o manto iluminista da purgação do debate público online por meio do combate ao que alguns ministros entendem por “fake news” e “discursos de ódio”.

LIBERDADE CERCEADA – Em grande medida, a despeito de jamais ter sido um direito absoluto, a liberdade de expressão está sob risco de ser cerceada no País porque o STF está debruçado sobre esse julgamento com base em duas falsas premissas.

A primeira e mais gritante delas é a suposta “omissão” do Congresso para “atualizar” o Marco Civil da Internet, restando à Corte, uma vez provocada, preencher esse vácuo institucional. Não é assim que funciona uma república baseada na tripartição dos Poderes.

O Congresso não se omitiu. Pouco tempo atrás, o Projeto de Lei (PL) da regulamentação das chamadas big techs, incorretamente designado como “PL das Fake News”, estava prestes a ser votado, mas foi retirado de pauta por decisão da maioria dos líderes partidários em razão da falta de consenso para votar a matéria em plenário – uma decisão, diga-se, rigorosamente legítima.

TERRA SEM LEI – A segunda falácia é a suposta transformação da internet numa “terra sem lei”, um espaço no qual os cidadãos estariam livres para cometer toda sorte de crimes sob o beneplácito das big techs, interessadas que são em disseminar conteúdos que geram tráfego, não necessariamente lícitos, em busca de visualizações, engajamento, publicidade e dinheiro – muito dinheiro. Ora, é evidente que o ânimo dessas empresas é o lucro, e não o desejo de se firmarem como vestais do debate público na ágora moderna.

Também é fato que o Marco Civil da Internet pode ser revisitado, até para obrigar as empresas de tecnologia a serem transparentes no que diz respeito à arquitetura de seus algoritmos e de seus modelos de remuneração.

Mas é simplesmente mentiroso afirmar que, a não ser por meio dessa intervenção antirrepublicana do STF, os usuários e as empresas permanecerão isentos de quaisquer responsabilidades – inclusive penal, no caso dos cidadãos – por conteúdos criminosos que circulam nas redes sociais.

É UM PARADIGMA – Por seu equilíbrio, fruto de um longo e profícuo debate no Congresso, o modelo brasileiro de responsabilização civil das big techs, mas não só, é tido como um paradigma internacional.

Para Tim Berners-Lee, ninguém menos do que o criador da internet como a conhecemos, o Marco Civil brasileiro foi aprovado como o prenúncio de “uma nova era” ao respeitar o espírito de liberdade que o inspirou e, ao mesmo tempo, garantir que o ambiente digital não se tornasse uma área livre para a prática de crimes.

Ao pretender substituir o Legislativo na definição do que pode ou não circular pelas redes sociais, o STF não apenas abastarda seu papel institucional, como ameaça criar um perigoso precedente: o de que direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, podem ser relativizados por interpretações e interesses circunstanciais de uma maioria de togados.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Folha e Estadão são a favor da manutenção do Artigo 19, enquanto O Globo e Valor Econômico são contrários e defendem a censura. A gente sabe que no fundo é só uma questão de patrocínio. É uma pena. (C.N.)

2 thoughts on “Supremo precisa respeitar a liberdade de expressão, um direito dos brasileiros

  1. Eureca!, Eureka!, Heureka! ou Heureca! (em grego, “Encontrei!”) exclamou o matemático grego Arquimedes de Siracusa, “quando descobriu como resolver um complexo dilema apresentado pelo rei Hierão II.

    O rei queria saber o volume de ouro em sua coroa. Arquimedes sabia que para isso deveria determinar a densidade da coroa e comparar com a densidade do ouro. O problema complicado era como medir o volume da coroa sem a derreter. Arquimedes descobriu a solução quando entrou numa banheira com água e observou que o nível da água subia quando ele entrava.

    Concluiu então que para medir o volume da coroa bastava mergulhar a coroa em água e calcular o volume de água deslocado, que deveria ser equivalente. Conta-se que ele saiu nu, correndo pelas ruas e gritando eufórico: “Eureka! Eureka!” (Achei! Achei!).

    “O Princípio de Arquimedes” foi como ficou conhecida a descoberta do grande cientista grego.” (wikipedia.org)

    “Ao pretender substituir o Legislativo na definição do que pode ou não circular pelas redes sociais, o STF não apenas abastarda seu papel institucional, como ameaça criar um perigoso precedente: o de que direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, podem ser relativizados por interpretações e interesses circunstanciais de uma maioria de togados”.

    “Eureka! Eureka!” (Achei! Achei!) (“encontrou” o jornal Estadão do Brasil).

    Curtinhas

    PS.: Quando a liberdade de expressão nos é tirada, logo poderemos ser levados, como ovelhas, mudos e silenciosos, para o abate. (George Washington)

    PS. 02: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está hospedado no hotel La Negresco, em Nice, na França. As diárias no local na costa francesa têm um valor mínimo de R$ 6.700 e podem chegar a R$ 35.700. Segundo o site do hotel, o local foi fundado em 1913 e reúne peças artísticas do século 18. Fica próximo a praia e é considerado 5 estrelas. (Poder360)

    PS. 03: Desde que voltou ao Planalto, em 2023, Lula já viajou para 35 países. Quando retornar da França, completará 114 dias fora do país desde a posse. Em 2025, já foram 7 viagens para fora do Brasil. (Poder360)

    PS. 04: “De vez em quando as pessoas perguntam quanto a gente está gastando para fazer essa viagem. Eu não sei quanto estou gastando, porque eu não cuido disso. Mas eu sei quanto eu estou levando de volta para o Brasil”, disse Lula. (Poder360)

    PS. 05: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos o tempo todo”. (Abraham Lincoln)

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