Charge de Mário Adolfo (Dito & Feito)
Pedro do Coutto
A liquidação extrajudicial do Banco Master expôs uma ferida que já vinha sendo ignorada há muito tempo no sistema previdenciário público brasileiro. Mesmo diante de sintomas claros de fragilidade da instituição, 18 regimes próprios de previdência — entre eles o Rioprevidência — acumularam posições bilionárias em títulos do banco.
Era um movimento que contraria a prudência, especialmente porque esses papéis não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos, o que amplia exponencialmente o risco para recursos que deveriam assegurar aposentadorias.
ALTO RISCO – Reportagem de O Globo, por Vinicius Neder, Mayra Castro, Geralda Doca e Roberto Malfacini, revelou em detalhes o alcance dessa exposição e o contexto em que essas compras ocorreram. O retrato é preocupante: fundos que já eram deficitários, alguns pressionados por desequilíbrios históricos, seguiram aplicando parte de suas reservas em ativos de alta rentabilidade, mas também de alto risco.
No caso da Rioprevidência, quase R$ 1 bilhão foi destinado às letras financeiras do Master — um montante cuja perda potencial compromete a já delicada sustentabilidade do regime.
A jornalista Natuza Nery, em análise certeira na GloboNews, destacou o ponto mais incômodo dessa história: a surpresa que não deveria ter sido surpresa. Os sinais estavam à vista. Relatórios de risco divulgados pelo próprio banco indicavam fragilidades estruturais que deveriam, no mínimo, ter acendido alertas nos conselhos de gestão dos fundos de previdência. Ainda assim, compras continuaram sendo feitas, muitas vezes sem o rigor técnico e a cautela exigidos de quem administra patrimônio público.
VULNERABILIDADE – O caso escancara um traço recorrente do sistema: a vulnerabilidade de regimes previdenciários que lidam com pressão política, baixa governança e pouca profissionalização. Muitos desses fundos funcionam em ambientes onde decisões de investimento ficam expostas a interferências, apostas otimistas e, por vezes, falta de mecanismos efetivos de responsabilização. A lógica que conduz a esses erros é simples e perigosa: a busca por retornos rápidos em um cenário fiscal adverso. O resultado, como agora se vê, pode ser devastador.
Se as perdas se confirmarem — e há indicadores de que isso pode acontecer —, quem pagará a conta não serão os gestores que autorizaram as operações, mas sim servidores públicos ativos, aposentados e pensionistas. Estados e municípios, já estrangulados financeiramente, podem ser obrigados a repor recursos que jamais deveriam ter sido arriscados. E, nesse movimento, abre-se espaço para novas crises fiscais, reformas às pressas e mais insegurança para quem depende do serviço público.
SINTOMA – A crise do Banco Master não é apenas um episódio isolado no mercado financeiro. É um sintoma de um sistema que precisa urgentemente de reformas: maior transparência, critérios rígidos de governança, proteção reforçada aos recursos previdenciários e responsabilização objetiva quando gestores ignoram riscos óbvios.
O país não pode naturalizar que fundos públicos sigam expostos a operações desse tipo enquanto servidores têm suas aposentadorias ameaçadas. O episódio Master é, portanto, um chamado para revisão profunda — técnica, política e institucional — antes que a próxima quebra transforme um problema grave em irreversível.