Mario Sabino
Metrópoles
Em mais uma memorável reunião ministerial que honra a república brasileira, Lula minimizou a resistência democrática das Forças Armadas às vivandeiras bolsonaristas que foram bulir nos bivaques para chamar Jair Bolsonaro de “covardão”.
“Não teve golpe não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiseram fazer, não aceitaram a ideia do presidente, mas também porque o presidente é um covardão”, disse o atual presidente sobre o presidente anterior que ele não tira da cabeça.
TUDO ERRADO – Eu poderia dizer exatamente isto: “Lula, esqueça o cara, Jair Bolsonaro é uma coisa que só existe na sua cabeça”. Só que não. A Nêmesis de Lula continua a assombrá-lo, não há STF que o derrube.
Para complicar, Lula experimenta queda na popularidade, o motivo da convocação da reunião ministerial (interesse do país não é prioridade). Previsivelmente, o presidente petista disse que tudo o que foi feito até agora não basta e que, portanto, é preciso fazer muito mais.
Nessas horas, eu me lembro de Ronald Reagan. O presidente americano dizia que a frase mais temível que se podia ouvir em inglês era: “Eu sou do governo e estou aqui para ajudar você”. Mas não tem jeito: esquerda no poder é isso, e somos obrigados a conviver com a turma que quer nos salvar de nós mesmos, sempre esperando que consigamos nos salvar dela.
LULA EVANGÉLICO – Lá estou eu fazendo digressões. O que eu gostaria de comentar é a fala de Lula sobre os evangélicos, fationa do eleitorado na qual a aversão ao presidente petista, que já era grande, aumentou ainda mais depois dos ataques antissemitas de Lula a Israel.
O presidente petista está inconformado porque acha que, na verdade, os evangélicos estão sendo manipulados pelos bolsonaristas.
Para Lula, que comparou Israel a Hitler, o Brasil tem de ser “um país em que a religião não seja instrumentalizada por um partido político ou um governo. Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo neste país.”
MANIPULAÇÃO – Muito bem, parabéns! E o que Lula quer fazer para que a religião não seja manipulada de forma vil e baixa? Ele quer manipular a religião de forma vil e baixa.
De acordo com o Metrópoles, o Palácio do Planalto pretende “construir uma agenda em comum entre o governo e os evangélicos, com temas em que haja consenso em áreas como proteção da família, segurança e assistência social” e incluir “evangélicos em conselhos setoristas do governo.
Uma das propostas é nomear lideranças desse segmento para o chamado Conselhão de Lula”.
APROXIMAÇÃO – Além disso, o governo federal pretende “melhorar a comunicação com os evangélicos. Para isso, a ideia é discutir com o próprio segmento religioso para tentar entender a melhor forma de dialogar com ele”.
É divertido ver Lula e os petistas se portando como tementes a Deus, tentando manipular a realidade que rejeita aborto, odeia maconha, é contra casamento gay e tem no trabalho uma ética de vida.
Mais do que divertido, é instrutivo assistir a tudo isso.