O que Bolsonaro pede não é anistia, mas um perdão para os envolvidos no golpe

Anistia | Charge | Notícias do dia

Charge do Frank (ND+)

Carlos Pereira
Estadão

No discurso no ato da avenida Paulista no último domingo, Bolsonaro propôs passar uma “borracha no passado” … uma anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Se esquece ele, entretanto, que a anistia só faz sentido quando tanto o governo como a oposição têm a ganhar com isso.

Ou seja, quando o status quo conflituoso é pior para os dois lados e a alternativa, via anistia, representa a institucionalização de garantias de ganhos mútuos, como ocorrido na transição para a democracia no Brasil a partir de meados da década de 70.

PRINCIPAIS ATORES – No livro “Democracy and Market”, Adam Przeworski identifica quatro conjunto de atores políticos chaves para explicar os principais tipos de transição de regimes autoritários para regimes democráticos: se por ruptura, quando existiria uma quebra repentina e violenta com o passado autoritário; ou se por reforma, por meio de um processo intrincado de barganha e de negociação entre governo e oposição.

De acordo com Przeworski, no lado autoritário existiriam os “linha-dura”, que desejariam manter o regime autoritário sem grandes concessões, e os “reformadores”, que prefeririam iniciar um processo de liberalização que viesse a fortalecer sua posição dentro do novo regime.

Já do lado da oposição, existiriam os “moderados”, que desejariam a redemocratização mesmo compartilhando poderes com os reformadores, e os “radicais”, que condenariam qualquer tipo de barganha e defenderiam a democratização sem concessões.

DUAS POSSIBILIDADES – Se os linha-dura e os radicais forem os atores políticos mais fortes, o status quo autoritário tenderia a prevalecer ou as transições de regime se dariam por ruptura violenta com grande incerteza sobre o futuro democrático. Por outro lado, se reformadores e moderados forem os atores mais relevantes no jogo político, a liberalização democrática pacífica e pactuada tenderia a ocorrer.

Porém, para que um acordo entre reformadores e moderados se tornasse crível, era necessário haver a institucionalização de garantias, via um processo de anistia capaz de passar uma borracha tanto nas atrocidades da ditadura, como nas loucuras da guerrilha.

Além disso, a anistia seria acompanhada da reinclusão dos exilados, da abertura do sistema partidário e da construção de confiança e de garantias de que não haveria retaliações ou revanchismos de ambos os lados.

EXEMPLO DO BRASIL – A anistia durante a transição democrática no Brasil, portanto, interessava tanto aos reformadores, do lado autoritário, como aos moderados, do lado democrático.

Foi feita uma aliança, que posteriormente veio a desembocar na coalizão vencedora entre o PFL, dissidência reformadora do PDS/ARENA, e os moderados do PMDB, intitulada “aliança democrática”, por meio da candidatura de Tancredo-Sarney, contra os linha-dura autoritários e os radicais de esquerda.

A anistia proposta por Bolsonaro parece mais um pedido camuflado de perdão, pois o atual governo não teria o que ganhar com ela.

PEDINDO PERDÃO – O que Bolsonaro poderia oferecer? Evitar de atiçar o país por meio de atos e protestos gigantescos, como o ocorrido no último domingo? Engavetar o pedido de impeachment de Lula? Arrefecer as iniciativas legislativas de enfraquecimento dos poderes do STF?

Nenhum desses ganhos/ameaças são suficientes ou críveis para convencer o governo, legisladores e/ou os ministros do STF de que a anistia proposta por Bolsonaro valha a pena.

A pretexto de pedir anistia para os golpistas de 8 de janeiro, Bolsonaro na realidade estaria pedindo perdão para si próprio. Seria uma estratégia de escapar à responsabilização pela suposta autoria intelectual da tentativa frustrada de golpe, embutida numa demonstração de força que sugerisse um “custo elevado” para a sua eventual condenação e prisão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGUm bom artigo, mas parte de premissa falsa. No Brasil, já houve exemplos de anistia a apenas um dos lados, como nos casos das revoltas de Jacaréacanga e Aragarças, ambas no governo de Juscelino Kubitscheck. Era um perdão, mas concedido sob nome de anistia aos revoltosos, exatamente como agora, com a diferença de que desta vez a revolta nem chegou a eclodir. (C.N.)

Declaração de Bolsonaro constitui-se numa confissão da trama golpista

Bolsonaro tropeça em suas próprias palavras

Pedro do Coutto

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou que declarações de Jair Bolsonaro sobre a minuta que supostamente decretaria um golpe no Brasil em 2022 se assemelha a uma confissão de que ele estava plenamente ciente da existência do documento.

No último domingo, o ex-presidente durante manifestação convocada na Avenida Paulista negou que tenha ocorrido uma tentativa de golpe de Estado, mas citou o documento encontrado nas investigações da Polícia Federal.

MINUTA – “Agora o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição?”, questionou, acrescentando que é “o Parlamento que decide se o presidente pode ou não editar um decreto de estado de sítio”.

Na avaliação de Gilmar Mendes, o ex-presidente saiu de uma situação de “possível autor intelectual para pretenso autor material” da tentativa de golpe de Estado. “Temos esses dados e por isso talvez ele decidiu fazer esse movimento, para mostrar que tem apoio popular, que continua relevante na opinião pública. Isso não muda uma linha em relação às investigações, nem muda qualquer juízo ou entendimento do STF”, afirmou.

CONFISSÃO – De fato, a colocação do ministro Gilmar Mendes conduz à sensação de que a declaração de Bolsonaro constitui-se numa confissão da trama golpista. As coisas se complicam para o bolsonarismo. Era inevitável, pois os fatos levam à realidade arquitetada pela antiga gestão governamental.

A hipótese de mudar de tática se torna agora tardia. Bolsonaro avançou muito nas tentativas de negar as articulações para subverter os resultados das urnas e com isso partiu dar um golpe contra a democracia. O episódio de 8 de janeiro ficará na história como um episódio em que se tentou  subverter a democracia e com isso as instituições do país. Mas a democracia, mais uma vez, venceu essa batalha.

A Terra é a mãe da vida e quem a ama deve aprender a cuidar dela

Vital Farias, O Cantador

Vital Farias e a filha Giovanna

Paulo Peres
Poemas & Canções

O músico, cantor e compositor paraibano Vital Farias, na letra de “Não Jogue Lixo No Chão”, conclama as pessoas a repensarem as suas atitudes, sob pena de inviabilizarem a vida no planeta para as gerações vindouras. Esta música faz parte do CD independente Uyraplural-Giovanna Farias & Vital Farias, produzido pelo próprio Vital Farias em 2002, que marcou a estreia de sua filha e cantora Giovanna Farias.

NÃO JOGUE LIXO NO CHÃO
Vital Farias

Não jogue lixo no chão
Chão é pra plantar semente
Pra dar o bendito fruto
Pra alimentação da gente

O peixe que sai do rio
O amor que sai do peito
A água limpa da fonte
O sentimento perfeito

Não jogue lixo no chão

A natureza é quem cria
O amor imediatamente
Milagre que faz da vida
Bendito fruto do ventre

Não jogue lixo no chão

Não jogue lixo no chão
Nem rios, lagos e mares
A terra é nossa morada
Onde habita nossos pares

A terra que tudo cria
Não pede nada demais
Se tratada com carinho
Para vigorar a paz

Se queres sabedoria
Aprenda isto de cór
A terra é a mãe da vida
Útero ventre maior

Não jogue lixo no chão

Lula pretende formar uma “Lulabrás” com Petrobras, Eletrobras, Vale e outras

PRIORIDADE - Lula: estratégias e ações políticas do presidente estão focadas na conquista de um quarto mandato

Montagem com foto de Ricardo Stuckert (Veja)

José Casado
Veja

O sonho de consumo de Lula é construir uma “Lulabrás”. Nas suas palavras: “O que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos.”

Ainda não se conhece esse “pensamento de desenvolvimento”. Como não foi apresentado na campanha eleitoral de 2022 nem nos primeiros 14 meses de governo, talvez venha a público nos próximos 46 meses de governo. Por enquanto, existem apenas sinalizações sobre futuras políticas setoriais.

NEOINDUSTRIALIZAÇÃO – É o caso da “neoindustrialização”, com a renovação de incentivos fiscais às montadoras de automóveis e a disposição do BNDES em apostar em outro “polo naval” — o quarto, depois de três fracassos nas últimas seis décadas.

É, também, o caso da anunciada “nova política mineral”. O governo dispõe de um estoque de 70 mil áreas para pesquisa, exploração e lavra que pretende leiloar, mas tropeça nas próprias mazelas: a estrutura operacional da Agência Nacional de Mineração é do tempo do papel, inoperante na era digital.

Outro grande impasse governamental é com o petróleo. A Petrobras prevê declínio na produção dos poços do pré-sal do Sudeste na próxima década. Existe a possibilidade de novos e grandes achados no pré-sal da bacia do Amazonas, na chamada margem equatorial (do Rio Grande do Norte ao Amapá).

NA DÚVIDA – Mas o governo joga com o tempo. Devaneia à espera encontrar um ponto de equilíbrio entre a ambição diplomática de liderar a transição energética em bases sustentáveis e a abertura da Amazônia como uma nova fronteira de exploração de petróleo.

Surpreendido com o avanço institucional do Congresso e a consequente perda de poder do governo em relação ao dispunha quando presidiu por oito anos seguidos, no início do milênio, Lula topou com a realidade de uma estreita margem de manobra na economia. Por isso, julga necessário alinhar “as empresas brasileiras” àquilo que, precariamente, define como “pensamento de desenvolvimento do governo”.

Transformou a Petrobras (receita anual de cerca de 600 bilhões de reais) em alvo no palanque eleitoral, e, por ironia, com propostas de intervenção na gestão parecidas com as do adversário, Jair Bolsonaro. No Palácio do Planalto, a “questão Petrobras” é dada como resolvida, fato consumado no 14º mês de governo.

ELETROBRÁS E VALE – Segue pendente a reversão da privatização da Eletrobras (vendas anuais em torno de 30 bilhões de reis). “O pessoal fica nervoso porque o Lula, sabe, denuncia a privatização da Eletrobras”, disse ao repórter Kennedy Alencar,, referindo-se à perda de poder governamental na gestão. “O que fizeram na Eletrobrás foi crime de lesa pátria.” Por enquanto, não há perspectiva de reversão na privatização nos termos desejados pelo governo.

No alvo, agora, está a Vale (faturamento em torno de R$ 400 bilhões). Sobram críticas:

“O que nós queremos é que a Vale tenha mais responsabilidade, inclusive a quantidade de minas que está na mão da Vale e que ela não explora há mais de 30 anos e fica funcionando como se fosse dona e vendendo. A Vale, ultimamente, está vendendo mais ativo do que produzindo o minério de ferro. E ela está perdendo o jogo para algumas empresas australianas.”

ACUSAÇÕES – Sobram, também, acusações: “A Vale não explica para a sociedade brasileira o compromisso dela com a empresa da Guiné-Conacri [a BSGR, do bilionário israelense Beny Steinmetz]. Ele não explica por que desistiram de uma ação de 500 milhões de dólares porque a parte contrária descobriu que o diretor da Vale estava envolvido na corrupção e eles preferiram abandonar o processo. E a Vale não explica porque que ela desistiu da mina [de carvão] de Moatize, em Moçambique, que foi um esforço para a gente conseguir.”

Duas décadas atrás, quando o mundo era outro, ele quis impor seus planos à Vale, na época comandada por Roger Agnelli, executivo da empresa de investimentos do grupo Bradesco: “O que aconteceu na saída do Roger? A gente estava tentando reconstruir a indústria naval brasileira [o terceiro pólo naval, que naufragou na corrupção na Petrobras]. A gente estava tentando construir e a gente queria construir navios grandes. De repente, a Vale vai e contrata três grandes navios de 400 mil toneladas da China. Aí eu chamei o Lázaro Brandão, que era o presidente do Bradesco, e eu falei: ‘Não é possível mais a gente fazendo uma política industrial de construir uma indústria naval e o cidadão [Agnelli] de uma empresa como a Vale não vai comprar’. Então tiramos ele.”

Ele tem planos para submeter a Petrobras, Eletrobras e Vale, entre outras empresas, ao “pensamento do desenvolvimento de governo brasileiro”. Lula sonha com uma “Lulabrás”.

Mensagem de um “cristão-novo” (ex-judeu) sobre os crimes de guerra na Faixa de Gaza

Tenho 11 anos e vivo com medo”: assim é ser criança em Gaza - SIC Notícias

Crianças não podem ser as maiores vítimas de uma guerra

Carlos Newton

Como quase todos os brasileiros, sou de ascendência judaica por diversos ramos da família, especialmente os Azevedo, Leitão, Quaresma, Dourado, Fernandes e Pires, é um verdadeiro festival de etnia hebraica. A família Azevedo, que no livro “Roteiro dos Azevedo e outras família do Nordeste” está rastreada desde a chegada do primeiro deles ao Brasil, veio fugida da Inquisição na Europa.

Para esconder o judaísmo, os Azevedo fingiam-se de católicos e davam nomes de santos aos povoados que fundavam, como a Vila de Conceição dos Azevedo, uma cidade linda, hoje chamada de Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte.

CARINHO E RESPEITO – Meus pais eram católicos, porém tínhamos consciência dessa origem hebraica. Desde criança, fiz muitos amigos judeus, porque estudava no colégio preferido pela colônia judaica no Rio, o Liceu Franco-Brasileiro, que ensinava francês, inglês e espanhol.

Sempre tive carinho e respeito pelos judeus e pela contribuição deles ao desenvolvimento da humanidade, nenhuma outra etnia foi tão importante. Basta dizer que Jesus Cristo era judeu, e estamos conversados.

Faço essa introdução para me colocar nesse momento difícil para o judaísmo. Desta vez, está complicadíssimo defender Israel, uma nação que a meu ver poderia se tornar exemplo de democracia para o mundo, mas falta o principal – a miscigenação. É o amor, com a mistura de raças, que levará o mundo a um futuro melhor.

RAÇA PURA – Na verdade, a obrigatoriedade do casamento entre judeus é hoje um arcaísmo racista, mas continua a ser seguido, porque as religiões insistem em não evoluir, digamos assim.

Existem exceções, é claro. Tenho uma amiga judia casada com descendente de árabe, são felizes. Mas a família agora deve ter problemas, devido à desumanidade dos ataques israelenses à Faixa de Gaza, que está levando os intelectuais judaicos à perplexidade, porque de repente ficou impossível defender os atos do governo de Israel.

Até agora, a imensa maioria dos progressistas israelenses ainda não conseguiu sair desse estado de choque. Muitos não se manifestam, mas alguns publicam artigos que tentam defender os ataques à Faixa de Gaza, é constrangedor.

PAZ IMPOSSÍVEL – Entre dois povos que não se aceitam, a paz é praticamente impossível, os atentados vão prosseguir, sem menor dúvida. Nesse quadro, cabe aos judeus intelectuais comandar o movimento pela paz, ao invés de defender a barbárie que Netanyahu comanda em causa própria.

A elite judaica precisa emergir da perplexidade e raciocinar sobre os crimes de guerra que vêm sendo cometidos. São os intelectuais que precisam convencer Israel a aceitar os dois Estados e retirar os colonos das áreas ocupadas.

Mesmo com a criação dos dois Estados, podem ocorrer atentados, é claro. Mas haverá uma mínima possibilidade de paz, que não existe enquanto Israel for governado por um criminoso de guerra como Netanyahu.

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P.S. 1
É preciso transformar Israel em um outro país, com o qual a humanidade sonhava. Vamos aguardar e dar tempo a eles. O que não falta a Israel são intelectuais. Eles saberão como sair dessa situação. E pode ser que no futuro aprendam a força da miscigenação.

P. S. 2Por fim, mando um abraço a meus amigos judeus e árabes. Quando eu era menino e passava férias no Acre, uma parte da cidade tinha um número tão grande de árabes que era chamada de “Beirute”. É uma beleza, são casas de madeira, impecavelmente preservadas, na beira do Rio. Um comerciante árabe, Almiro Abrahão, casou-se com minha tia Chrizá. Éramos grandes amigos. (C.N.)

Suspense total? Freire Gomes vai contar como evitou o golpe de estado

Ex-comandante do Exército barrou desmonte de acampamento golpista em  Brasília

Freire Gomes presta depoimento à Polícia Federal nesta sexta

Bela Megale
O Globo

O ex-comandante do Exército Freire Gomes irá depor à Polícia Federal, nesta sexta-feira, na investigação que apura uma tentativa de golpe de Estado arquitetada, segundo investigadores, por Jair Bolsonaro, membros do seu governo e militares.

Integrantes das Forças Armadas relataram à coluna que a intenção de Freire Gomes é responder às perguntas e colaborar com as investigações. O general não é alvo do inquérito, mas militares alinhados a Jair Bolsonaro têm atuado para envolvê-lo no caso.

TRAMA GOLPISTA – Como informou a coluna, o general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, investigado por ter concordado com o golpe, disse, à PF que participou de uma reunião com Bolsonaro, em dezembro de 2022, por ordem do comandante do Exército à época, Freire Gomes. A PF aponta que, no encontro, discutiu-se a possibilidade de um golpe de Estado. Esse deve ser um dos pontos explorados no depoimento de amanhã.

O ex-comandante também deve prestar explicações sobre a reunião que teve com Bolsonaro, na qual foram discutidos detalhes de uma minuta que abriria possibilidade para uma intervenção. O fato foi revelado pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid. Disse que o único comandante das Forças Armadas que mostrou disposição em aderir ao golpe foi o almirante Almir Garnier, da Marinha.

Nos bastidores, militares bolsonaristas defendem a tese de que Freire Gomes se omitiu ou prevaricou, ao participar da reunião na qual se debateu a minuta de golpe.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Muita especulação e pouca certeza. As investigações revelarão que o general Freire Gomes e o Alto Comando do Exército evitaram o golpe. Acredito que o general tenha mantido o Alto Comando informado o tempo todo sobre o avanço nas preparações do golpe que não houve. O resto é folclore, diria Sebastião Nery. (C.N.)

Extrema direita utiliza a democracia para avançar sua agenda reacionária

A mobilização nas ruas não muda a situação de Bolsonaro – Opinião –  CartaCapital

Uma pergunta: Até que ponto Bolsonaro é um democrata?

Maria Hermínia Tavares
Folha

O entusiasmo da multidão que Jair Bolsonaro levou à avenida Paulista, no domingo (25), não foi suficiente para esconder que ali se saudava um derrotado: nas urnas e no intento de permanecer no poder por meio de um golpe. Este só não se consumou porque as instituições democráticas e as lideranças que as animam, no Estado e na sociedade, barraram-lhe os passos.

Não foi por outra razão que, vencido, o ex-presidente abandonou a retórica incendiária – sua marca desde sempre – pela moderação, loas à democracia e apelos autointeressados de pacificação e anistia para os conspiradores – de gravata ou farda – e para os descerebrados que invadiram a praça dos Três Poderes.

DIREITA AMEAÇADORA – Suas juras de lealdade ao sistema representativo valem tanto quanto a negação de que tramou contra ela antes, durante e depois da disputa presidencial. Mas, como a extrema direita não é fenômeno episódico – está aí para ficar na nossa vida política –, cabe perguntar até que ponto ela pode constituir ameaça existencial à ordem democrática.

A resposta não está no campo da teoria ou dos princípios, mas na solidez das instituições públicas e sociais em que se arrima o edifício democrático.

Velho conhecido dos latino-americanos, o populismo – agora da direita radical –, desde a segunda década do século, ganhou espaço político nos países onde o sistema representativo liberal existia de há muito, onde era mais jovem e naqueles que pareciam caminhar em sua direção, depois da Guerra Fria.

RETROCESSOS – Neste último caso, a livre competição eleitoral, o controle recíproco dos Poderes e as liberdades públicas vêm sendo limitados, em maior ou menor grau, por setores que, alçados ao governo, se dedicam a solapá-lo. É o que ocorre na Rússia pós-soviética e nos países que outrora figuravam no mapa do socialismo real. E ainda, por outros caminhos, na Venezuela e na Nicarágua, onde o populismo autoritário foi gerado na esquerda.

Nas democracias mais antigas, o rumo das coisas pode ser outro. Bem ou mal, a extrema direita, incorporada ao livre jogo eleitoral, parece adaptar-se às regras do regime de liberdades. O caso da Itália, onde o populismo transitou várias vezes entre governo e oposição, é talvez o mais ilustrativo.

Não se exclui que, também no Brasil, a extrema direita, derrotada, se adapte às regras democráticas e delas se valha para avançar sua agenda, que será insanavelmente reacionária.

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P.S. –
A discussão dos dilemas de nossa democracia perdeu uma voz ímpar, com a morte do sociólogo Luiz Werneck Vianna. Foi pensador original, intelectual público, democrata raiz, interlocutor instigante e amigo querido. (M.H.T.)

Bolsonaro é uma questão democrática, que jamais pode ter solução ditatorial

Não faz sentido que Bolsonaro, capaz de levar mais de meio milhão de pessoas para a rua, seja um perigo, e que não possa ser uma opção para quando os cidadãos

Para desbancar Bolsonaro, esquerda convoca manifestação

J.R. Guzzo
Estadão

As manifestações de massa do último domingo na Avenida Paulista deixaram perfeitamente óbvio, mais uma vez, que já está mais do que na hora do Brasil resolver a questão de Jair Bolsonaro. O ex-presidente, queira-se ou não, é uma força política de primeiro grau – uma dessas realidades a que todas as democracias estão sujeitas, e que têm de ser tratadas unicamente com soluções democráticas. É um risco inseparável da existência de qualquer democracia.

Na política, surgem, por razões múltiplas, lideranças que muita gente julga indesejáveis para o bem comum. Se não há esse risco, não há democracia. A única resposta real é mostrar racionalmente para a maioria que essa pessoa é nociva – e, em seguida, derrotá-la em eleições livres.

SOLUÇÃO DITATORIAL – O verdadeiro perigo representado hoje por Bolsonaro é servir de justificativa, ou de desculpa, para se trocar a solução democrática e custosa pela solução ditatorial e fácil. Para o PT e a esquerda radical, isso não é problema nenhum. Nunca, nem uma vez, aceitaram uma derrota eleitoral.

Repetem, há quase 40 anos, exatamente a mesma coisa: “fora Collor”, “fora FHC”, “fora Temer”. Agora estão no “fora Bolsonaro”. Como ele está proibido pelo TSE de disputar eleições até 2030, o próximo “fora” vai ser para quem aparecer na sua frente, seja lá quem for.

Mas para os brasileiros que defendem a democracia como a melhor forma de se viver em sociedade, e não querem submeter-se à política da gritaria, admitir que Bolsonaro seja ilegalmente eliminado da vida pública brasileira é aceitar um copo de veneno. Não é uma exceção para se salvar o bem comum. É um incentivo ao mal comum.

UM FALSO PERIGO – Não pode haver democracia se um grupo de burocratas que nunca recebeu um voto na vida decreta, alegando a lei eleitoral e truques judiciários, quem está autorizado a participar da disputa política.

Não faz sentido, em nenhuma democracia séria, que o único político do país capaz de levar mais de meio milhão de pessoas para a rua seja um perigo – e que não possa ser uma opção para quando os cidadãos escolhem seus governantes.

A anomalia fica especialmente grosseira quando se considera que o presidente da República, o principal inimigo e acusador de Bolsonaro, não consegue reunir público nem para uma mísera “live”; sair à rua, então, está fora de qualquer cogitação há anos.

QUEREM PRENDÊ-LO – Lula e o seu sistema dizem que estão fazendo o melhor governo que o Brasil já teve – e Bolsonaro, segundo garantem, foi e será sempre o pior governante do mundo. Qual o problema, então? É só fazer uma eleição; o povo mandaria o ex-presidente para o espaço e tudo estaria resolvido.

Mas a livre competição política está abolida no Brasil de hoje. Não querem derrotar Bolsonaro no voto. Querem se livrar do problema jogando o concorrente na cadeia – com acusações patentemente ineptas e que seriam recebidas com uma gargalhada em qualquer tribunal do mundo democrático.

É um erro. Bolsonaro não vai desaparecer da realidade nacional com atos administrativos do ministro Alexandre de Moraes, e muito menos com os desejos do governo.

Moraes pode ter cometido um grave erro ao prender assessor de Bolsonaro

Moraes volta a defender regulamentação das redes sociais

Moraes recebeu uma informação errada sobre o suspeito

Marcelo Godoy
Estadão

A virtude e o direito eram para Cícero premissas, o núcleo fundador de seu tratado sobre a República. Não é por outra razão que Francesca Nenci, ao analisar a obra De Re Publica do pensador romano, afirma que, por meio de uma concepção da virtude (virtus) estritamente ligada ao direito, o diálogo de Cícero se sustenta em um sistema de valores próximos à tradição ocidental do chamado republicanismo.

A teoria ciceroniana tem como base a ideia de que o homem tem por fim natural a vida em sociedade onde possa realizar a parte melhor de si mesmo justamente no âmbito do Estado, como cidadão, em sua vita activa. O ministro Alexandre de Moraes conhece bem essas páginas. Poucos em Brasília sabem como ele a importância da virtù para um homem público. Sua trajetória é testemunha disso.

DOCUMENTOS – Na quinta-feira passada, a Polícia Federal recebeu das mãos dos advogados de Filipe Martins, ex-assessor da Presidência, uma série de documentos. São passagens aéreas em nome dele e de sua mulher, datadas do dia 31 de dezembro de 2022, no voo 3860 da Latam, que saiu às 16h50 de Brasília e pousou às 18h36 em Curitiba. As poltronas 11E e 11F foram ocupadas, segundo a defesa, por Martins e pela mulher.

Os comprovantes do despacho da bagagem também foram exibidos aos doutores da PF, bem como e-mails da companhia aérea mostrando que o casal esteve no voo, fato, aliás, que as imagens das câmeras dos dois aeroportos podem confirmar, bem como o deslocamento dos telefones celulares do casal, segundo os dados das estações rádio-base. Ou seja, se os documentos fossem falsos, isso seria facilmente verificado pela PF.

Martins teve a prisão preventiva decretada por Moraes porque a PF achou seu nome em uma lista de passageiros que embarcou para a Flórida com o chefe, Jair Bolsonaro, em 29 de dezembro, sem que houvesse registro da saída do assessor na alfândega.

DÚVIDA RAZOÁVEL – Isso faria dele alguém que pudesse sair do Brasil sem precisar do passaporte, daí porque a entrega do documento não bastaria para impedir sua fuga, a exemplo do que Moraes decidiu a respeito de Bolsonaro e de Braga Netto.

O problema é que os dados da defesa, em tese, levantam uma dúvida razoável de que Martins não tenha deixado o País, informação que fundamentou a prisão. E, se há erro, ele deve ser solto.

Não há dúvida que o mais grave crime em uma República é o atentado contra o Estado Democrático de Direito. Esta também definha se o governo não visa ao bem comum. E sem o justo não há virtude. A mera consciência teórica desta não basta. É preciso exercitá-la. É este o desafio que se coloca diante do ministro Moraes. Se Martins cometeu crime, que seja processado, mas segundo as leis aplicáveis a todos. Nem mais nem menos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGComo Moraes e os outros ministros do Supremo jamais erram, são mortais imunes a erros, ele vai alegar que Martins foi preso por causa da minuta, embora seja exagero prender alguém por entregar um papel a outrem. (C.N.)

Xingatório e bazófias não ajudam a estancar sangria na Faixa de  Gaza

Guerra: Brasil desloca diplomatas para dar suporte a brasileiros em Gaza -  Internacional - Estado de Minas

Em breve, restarão apenas escombros na Faixa de Gaza

Mario Sergio Conti
Folha

O francês Edgar Nahoun era um adolescente de família judaica quando, na Guerra Civil Espanhola, integrou uma organização antifascista que dava ajuda material aos republicanos. Com 20 anos, engajou-se na resistência armada à ocupação da França pelos nazistas.

Organizador de atentados e judeu, seria executado se fosse pego. Adotou então o pseudônimo que continuou a usar quando a guerra acabou: Edgar Morin. É o nome que está na capa das dezenas de livros de sociologia que publicou.

DIZ O SOCIÓLOGO – Morin tem 102 anos. Foi com clareza e gravidade que falou de Gaza a uma plateia emudecida, O vídeo, impressionante, está na internet. Eis o que disse.

“Estou chocado e indignado pelo fato de que aqueles que representam os descendentes de um povo perseguido durante séculos, por razões religiosas ou raciais, que os descendentes desse povo, os que hoje tomam decisões do Estado de Israel, possam não só colonizar um povo inteiro mas expulsá-lo de suas terras, tentar expulsá-lo para sempre.”

O 7 de Outubro, disse, foi um “massacre”. Desde então, o governo israelense vem promovendo uma “carnificina” que atinge “civis, mulheres e crianças”. Lamentou “o silêncio dos Estados Unidos, protetor de Israel, o silêncio dos Estados árabes, o silêncio dos Estados europeus, que se pretendem defensores da cultura, da humanidade e dos direitos humanos”.

VER AS COISAS – Morin preferiu substantivos a adjetivos. Não atribuiu intenções, vituperou ou foi divisivo. Tampouco escudou-se na condição de judeu e resistente. A certa altura, usou a expressão “ver as coisas de frente”.

Foi isso o que Lula não fez ao comparar a guerra de Israel contra os palestinos à de Hitler contra os judeus. A comparação é imprópria porque o führer nazista matou mais de 70 milhões de pessoas.

Entre outros, foram 25 milhões de soviéticos, 15 milhões de chineses, 410 mil norte-americanos, 2.000 brasileiros e 6 milhões de judeus — estes assassinados numa ação industrial de extermínio. Política, moral, fornos crematórios e o número de vítimas fizeram do nazismo o ápice da barbárie.

LULA XINGA – O que Lula fez foi xingar. Biden também xingou na quarta-feira, ao dizer que Putin é “um FDP maluco”. Como quem xinga é xingado, o Kremlin retrucou que Biden é um “caubói de Hollywood”. Xingatório é uma coisa; política, outra. Ou melhor: a política deveria ter consequências.

Se Netanyahu é um Hitler, a consequência é enfrentá-lo logo para evitar que o mal se alastre. É urgente fazer como Morin, empunhar armas contra o nazismo. Tirar o pijaminha do general Augusto Heleno, botar-lhe uma fardinha e mandá-lo invadir Tel Aviv com sua garrucha. Aguardemos.

A guerra em Gaza não se presta a bazófias. É briga de cachorro grande, de países ricos, com apoio popular e armas aniquiladoras. É palpável o risco de um incêndio que engolfaria o Oriente Médio. Um ministro israelense chegou a sugerir um ataque nuclear a Gaza.

MILHÕES FAMÉLICOS – O horror dá náuseas. São milhões os expulsos de suas casas, famélicos que disputam em andrajos um naco de pão. Diuturnas, as imagens do abuso reiteram a intimação do verso de Neruda na Guerra Civil Espanhola: “Vinde ver o sangue pelas ruas”.

A injustiça do assalto a Gaza leva muitos a se perguntarem se dá para, num canto do planeta, ajudar a estancar a sangria. Sozinho ninguém detém mísseis. Mas a opinião pública mundial pode muito. Quem agiu com contundência foi um país mais fraco que o Brasil, a África do Sul. Ela encaminhou um documento de 80 páginas ao Tribunal de Haia. Sustenta que Israel está passando do massacre ao genocídio —acusação feita com base em fatos.

Com a palavra, ministros de Israel: no futuro “haverá 100 mil ou 200 mil árabes em Gaza, e não 2 milhões”; “vamos lutar até quebrar-lhes a espinha dorsal”; “a destruição do norte de Gaza é um prazer para os olhos”; os palestinos “são uns animais”. Não poderiam ser mais claros.

NÃO É DEMOCRACIA – A peça sul-africana ajuda a sepultar dois mitos. Reza o primeiro que Israel é uma democracia. Não é. Há 475 mil colonos israelenses na Cisjordânia e no Golan ao arrepio de leis internacionais. Os palestinos não têm ali liberdade de expressão, acesso à Justiça, direito de ir e vir. É apartheid e pau neles.

O segundo mito diz que a guerra é iniciativa de Netanyahu e da extrema direita. Em termos. A guerra é conduzida por um gabinete de união nacional, integrado pela oposição.

Para acabar com o tormento em Gaza será preciso vencer o silêncio de que falou Edgar Morin. E calar a barulheira de xingatórios e bazófias.

Sentimentos de ajuda aos carentes às vezes redundam em péssimas políticas

A Sutil Arte De Ligar O Foda-se

O sucesso de Mark Manson tem explicação

João Pereira Coutinho
Folha

É uma das mais antigas memórias de infância: eu, com nove anos, cantando “we are the world, we are the children” na festa da escola. O auditório, com pais embevecidos e lacrimejantes, bebia as palavras como se fossem as tábuas da lei que Moisés trouxe do Sinai.

Eu, antecipando uma carreira futura como rezinga profissional, murmurava apenas palavras soltas, contando os segundos para fugir do palco.

DE BRAÇOS ABERTOS – Foi um sucesso. De tal forma que, para mal dos meus pecados, a turma fez turnês por outras escolas, casas de repouso —e, se a memória não me falha, o hospital psiquiátrico da cidade, onde fomos recebidos de braços abertos.

Lembrei tudo isso enquanto assistia ao documentário “A Noite que Mudou o Pop”, na Netflix, sobre a noite em que Los Angeles reuniu em estúdio o maior número de estrelas para gravar “We Are the World”.

Apesar do meu estresse pós-traumático, gostei. Para começar, o solo de Bob Dylan era o único momento da canção que verdadeiramente me encantava. Mas quem diria que foi Stevie Wonder, mimetizando o estilo de Dylan, quem ensinou ao próprio Dylan como cantar os versos?

VELHAS CERTEZAS – De resto, confirmei velhas certezas: a beleza irreal de Diana Ross, a força vulcânica de Bruce Springsteen e o talento ofensivo de Michael Jackson. Tudo era fácil, gracioso e luminoso naquele corpo frágil.

Claro que, no filme, falta o essencial: o destino do dinheiro. Na década de 1980, a fome na África, sobretudo na Etiópia, levou figuras como Bob Geldof ou Harry Belafonte a mobilizarem esforços homéricos para salvarem os famintos.

Canções foram gravadas. Concertos foram organizados. Milhões de dólares foram enviados para o continente. Mas fenômenos como a Band Aid ou a USA for Africa nunca perderam o seu tempo para questionar as origens políticas da fome que combatiam.

GUERRA CIVIL – No caso da Etiópia, a catástrofe humanitária era, em grande medida, responsabilidade do regime de Mengistu Haile Mariam e da guerra civil em que ele mergulhou o país.

Se juntarmos à guerra a coletivização forçada da agricultura promovida por Mengistu, com o deslocamento forçado de meio milhão de pessoas — uma estimativa conservadora —, entenderemos melhor as imagens obscenas das crianças esqueléticas que horrorizaram o Ocidente.

Os milhões de dólares teriam aliviado as condições infernais de muitas delas. Mas persiste hoje — nos trabalhos notáveis de Dambisa Moyo e de David Rieff — a acusação de que esse dinheiro, nem sempre usado para fins humanitários, serviu sobretudo para prolongar a guerra e, por consequência, a fome.

MORAL DA HISTÓRIA? – Os bons sentimentos, às vezes, redundam em péssima política. Mas quantos poderiam imaginar isso naquela noite de 1985, quando os melhores dos melhores pensavam que estavam salvando o mundo?

Excesso de empatia pode ter os seus abismos. Falta de empatia também, embora essa seja a principal ambição do homem na modernidade. Tempos atrás, na casa de um familiar, encontrei os famosos livros de Mark Manson, com os títulos sonantes “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” e “F*deu Geral”. “Milhões de exemplares vendidos”, lia-se na capa!

A mensagem, resumidamente, era só uma: seja mais sociopata. Que interessam os outros? A vida livre, a vida feliz, é feita de misantropia e narcisismo. Remorsos ou vergonhas só atrapalham. No fundo, milhões de leitores gostavam de ter uma patologia mental. Ou, para usar os termos científicos, uma “perturbação de personalidade antissocial”, tal como descrita por Patric Gagne, psicoterapeuta e sociopata, com livro de memórias no mercado.

CONTROLAR OS IMPULSOS – O título é “Sociopath” e, em entrevista ao New York Times, Gagne nos fala da sua vida convivendo com o distúrbio. A apatia emocional, a ausência de consciência moral, a indiferença perante a dor dos outros — tudo começou bem cedo. A que se seguiu a criminalidade — nada de horripilante, apenas furtos e vandalismo.

Hoje, consciente de sua condição, Gagne consegue controlar os seus impulsos. Mas o momento revelador da entrevista acontece quando ela afirma que os “neurotípicos” —gente sem perturbação— sentem uma curiosidade invejosa pela sociopatia. Por quê?

Porque imaginam que é um estado gostoso, onde a culpa, essa invenção pequeno-burguesa, deixa de fazer sentido. Alguns chegam a confessar ideações homicidas, esperando encontrar compreensão. Se calhar, está aqui o próximo best-seller, “A Sutil Arte de Matar o Próximo”. Alguma editora estaria interessada?

Empresários presos são “bolsonaristas radicais”. justifica o relatório da Polícia

Atacadistas do DF são alvo de mandado de prisão por financiar | Notícias - Jornal Extra de Alagoas

Os dois sócios foram presos por determinação de Moraes

Mirelle Pinheiro e Carlos Carone
Metrópoles

Relatório da Polícia Civil do Distrito Federal apontou que os empresários Adauto Lucio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade, presos pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (29/2), na nova fase da Operação Lesa Pátria, estavam entre os financiadores do acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General (QG) do Exército em Brasília.

O documento da Polícia detalha que os sócios do Melhor Atacadista seriam patrocinadores de vários outdoors colocados no Distrito Federal em apoio ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL). Além disso, Adauto Lucio de Mesquita teria criado um grupo de WhatsApp para arrecadar dinheiro para aluguel de lonas aos acampados em frente ao QG do Exército.

FINANCIADORES – Segundo o apurado, Adauto Lucio e sócios forneciam, semanalmente, alimentos e água para manifestantes golpistas acampados em frente ao quartel-general local e também bancavam parte do pagamento pelos banheiros químicos instalados na Praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília.

Denúncia oferecida pela Polícia Civil  dá conta de que os empresários são radicais bolsonaristas. No relatório, consta que Adauto figura como dono de 21 propriedades rurais, distribuídas entre as cidades de Planaltina (GO), Niquelândia (GO) e Luziânia (GO).

Apesar de não ser filiado a partidos políticos, o empresário doou R$ 10 mil para a campanha do então candidato Jair Bolsonaro, nas eleições de 2022.

INDÍCIOS SUFICIENTES –  Segundo o relatório, “existem indícios suficientes que Adauto Lucio de Mesquita tenha realmente, junto a seu sócio Joveci Xavier de Andrade, financiado as manifestações antidemocráticas que ocorreram nesta capital, a partir do dia 31 de outubro de 2022”

Ainda segundo o documento, as manifestações na porta do quartel “culminaram com atentados ocorridos no dia 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação do candidato eleito Luiz Inácio da Lula da Silva; o atentado a bomba ocorrido nos arredores do Aeroporto de Brasília, no dia 24 de dezembro de 2022; e, por último, o lamentável e triste episódio ocorrido no dia 8 de janeiro de 2023”.

À época, autoridades já haviam constatado que o deslocamento dos manifestantes e a manutenção do acampamento em frente ao QG do Exército exigiram a mobilização de vultosa quantia de recursos financeiros.

DISSE O COMANDANTE – Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa (CLDF), o então comandante do Departamento de Operações da PMDF, coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, afirmou que “teve a informação de que as pessoas do acampamento eram pagas e quem orquestrava era quem estava hospedado nos hotéis na área central de Brasília”.

“Estamos recrutando pessoas que tenham disponibilidade para ir a Brasília de ônibus que sairá no domingo e volta na quinta feira. Tudo pago.” Anúncios como esse circularam em grupos com milhares de integrantes em redes sociais como o Telegram, Facebook e WhatsApp nos dias que antecederam a invasão das sedes dos três poderes em Brasília, no domingo (8/1), indicando a possibilidade de financiamento para os atos. A existência de uma rede financiando a ida de manifestantes é uma das principais linhas de investigação da Polícia Federal.

TUDO DE GRAÇA – De acordo com investigadores, um dos pontos que chamou atenção nas mensagens foi a aparente gratuidade do transporte e a promessa de que os militantes teriam abrigo e alimentação bancados assim que chegassem a Brasília. A indicação é de que, assim que chegassem em Brasília, os manifestantes recrutados seriam alocados no acampamento que se formou em frente ao Quartel General do Exército.

Em nota, a defesa de Adauto Lúcio Mesquita e Joveci Andrade afirma não ter tido acesso à decisão que levou às prisões. “Ressalta-se que, desde o início, houve esforços para esclarecer todos os fatos, compromisso que será mantido perante o Supremo Tribunal Federal”, acrescentou.

“A realização de apurações pelo Estado é considerada válida, e os investigados veem agora a oportunidade de elucidar completamente as questões em aberto. Eles reiteram seu compromisso com a democracia, o Estado de Direito, o respeito às Instituições, ao processo eleitoral, ao Ministério Público e ao Judiciário, com especial ênfase na sua instância máxima, o Supremo Tribunal Federal”, disse a defesa.

CONTRA VANDALISMO – O comunicado acrescenta, ainda, que o grupo ao qual Joveci e Adauto são acionistas “é contra o vandalismo e a intolerância política, e acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. A diretoria do Grupo respeita as Instituições brasileiras, a democracia e o Estado de Direito”.

A PF deflagrou, nesta quinta-feira (29/2), a 25ª fase da Operação Lesa Pátria, com o objetivo de identificar pessoas que financiaram e fomentaram os atos antidemocráticos do 8 de Janeiro, em Brasília.

Ao todo, foram cumpridos 34 mandados judiciais, sendo 24 de busca e apreensão, três de prisão preventiva e sete de monitoramento eletrônico, todos expedidos pelo Supremo Tribunal Federal. As ações ocorrem nas seguintes unidades da Federação: Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Financiar ato público com dinheiro limpo não é crime. No entanto, Moraes vai alegar que eles sabiam que iria haver vandalismo e golpe militar. E ainda chamam isso de Justiça… (C.N.)

Ato mostrou a força de Bolsonaro, num Brasil cada vez mais dividido

Politica na Paraíba • Ato na Avenida Paulista, Bolsonaro reúne mais de um  milhão de pessoas.

Não há dúvida de que Bolsonaro saiu fortalecido

Christopher Garman
Valor Econômico

Sob qualquer métrica, o ex-presidente Jair Bolsonaro atingiu seus objetivos com a manifestação realizada na Avenida Paulista no último domingo. Acuado diante de investigações contra ele e membros de seu círculo pessoal, Bolsonaro deu uma demonstração de força política.

Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo apontam que entre 600 mil e 750 mil pessoas compareceram ao ato. Ainda que esses números não sejam precisos – ou sejam até mesmo inflados – as imagens deixam claro que a manifestação teve um tamanho considerável.

Por sua vez, o pedido do ex-presidente para que os participantes evitassem cartazes criticando diretamente o Judiciário foi atendido – o que atenua o risco (relevante) de dar mais munição a ações judiciais contra ele. Finalmente, grandes lideranças nacionais de direita compareceram ao evento.

DUAS ÓTICAS – A manifestação pode ser examinada sob duas óticas: suas repercussões de curto prazo e o que ela indica sobre o futuro da política brasileira. A segunda é bem mais relevante que a primeira.

No curto prazo, pouco de fato muda. A situação jurídica do ex-presidente segue a mesma: embora o ato tenha evidenciado sua força política, o Supremo Tribunal Federal (STF) já deu vários indícios de que vê parte do movimento bolsonarista como uma ameaça ao estado democrático de direito.

As evidências coletadas nas últimas rodadas de investigações reforçaram essa percepção, e os tribunais dificilmente serão influenciados pelas ruas. Na margem, por sinal, o discurso de Bolsonaro no protesto de domingo pode ter piorado sua situação jurídica, já que ele insinuou que teria conhecimento da minuta propondo suspender o resultado das eleições.

SEGUE O JOGO – O protesto também não altera o jogo político no Congresso ou a capacidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva encaminhar sua agenda legislativa.

Parlamentares são influenciados pela perspectiva futura de poder, orientações ideológicas e acesso a benefícios. Embora o poder de barganha do Executivo tenha caído estruturalmente na última década, um presidente razoavelmente popular e com cargos e verbas para distribuir sempre pode construir maiorias parlamentares, mesmo que pontuais.

Lula tem aprovação ainda acima de 50%, e a economia vai razoavelmente bem – assim, lideranças de centro dificilmente queimarão suas pontes com o Planalto.

SEM ESPAÇO VAZIO – Disputa de 2026 passa por Bolsonaro, já que não há “espaço vazio” a ser ocupado por moderado de centro-direita. Mas é sob a lente do que ele indica sobre o futuro do país que o protesto de domingo tem mais relevância.

O ato mostra que o país segue profundamente dividido, e que Bolsonaro mantém sua força política, mesmo inelegível (e possivelmente preso). Essa realidade contraria análises que previam uma pacificação do país após a eleição de 2022 e um declínio na relevância política do ex-presidente.

Dados de opinião pública reforçam o diagnóstico de que nada mudou desde as eleições. Em janeiro de 2024, 38% dos eleitores acreditavam que o ex-presidente recebeu mais votos que Lula, segundo levantamento da AtlasIntel. Um ano antes, eram 40%. Ao mesmo tempo, 43% dos eleitores continuam apoiando o ex-presidente – um patamar quase idêntico ao registrado pela pesquisa na data da eleição.

IMPACTO ZERO – Um ano de investigações, denúncias sobre a venda ilegal de presentes recebidos no exercício do cargo de presidente e suspeitas de tentativa de golpe de estado tiveram impacto nulo sobre o apoio popular a Bolsonaro.

Esse resultado se alinha a dados da IPSOS Public Affairs, que mensura anualmente a percepção de que o “sistema está quebrado” entre eleitores de 25 países. A pesquisa mostra que esse índice tende a cair após uma eleição, conforme os eleitores do vencedor se sentem mais representados.

O que chama a atenção, no entanto, é o grau de estabilidade em respostas que sugerem uma profunda falta de confiança em instituições como a mídia, o Judiciário e a classe política.

POLARIZAÇÃO – Em países profundamente divididos como o Brasil e os EUA, a política nacional tem períodos de calma na superfície: logo após uma eleição, o presidente goza de uma aprovação um pouco maior, a oposição recua e seus apoiadores se recolhem um pouco mais. Esse fenômeno foi visto no Brasil – exacerbado, claro, pelas repercussões de 8 de janeiro – e nos primeiros anos do governo do presidente Joe Biden nos Estados Unidos.

Mas lá, como aqui, quase 40% da população se opõem estruturalmente ao governo atual, e são leais a uma liderança que se posiciona como “contra o sistema”. É uma questão de tempo até que esse eleitorado volte a se manifestar.

Em outras palavras: a aparente calmaria não deve ser confundida com um sinal de ausência de divisão profunda na sociedade. Um “racha” que, no Brasil, está se aprofundando conforme as investigações conduzidas pelo STF reforçam a visão do eleitorado conservador de que os tribunais estão coibindo direitos individuais e a liberdade de expressão.

VAI INFLUIR –  O que isso significa na prática? Primeiro, a candidatura de oposição na disputa presidencial de 2026 passa pelo ex-presidente. Não há um “espaço vazio” deixado por Bolsonaro que possa ser ocupado por uma liderança moderada de centro-direita. Quem quer que tenha o apoio do ex-presidente deverá entrar na disputa em vantagem no campo da oposição ao governo atual – uma realidade já compreendida no campo oposicionista.

Chama a atenção que quase todas as principais lideranças da oposição – incluindo as mais moderadas – participaram do ato na Avenida Paulista. Essa lista incluiu os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Goiás, assim como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Todos reconhecem que o custo eleitoral de ser visto como “traidor” do ex-presidente tende a ser alto.

Segundo, o custo do apoio de Bolsonaro tende a subir ao longo do tempo. Antes do ato, algumas lideranças mais moderadas deram sinais de dúvida sobre se estariam presentes – ao final do dia, a maioria dessas lideranças compareceu.

COBRAR APOIO – Mas, à medida que as dificuldades jurídicas e criminais do ex-presidente crescem e ele enfrenta o risco de ser preso, Bolsonaro deve cobrar declarações mais públicas em sua defesa. Assim, o ex-presidente certamente escolherá alguém que lhe seja muito fiel – diminuindo a possibilidade de vir a apoiar lideranças mais moderadas para 2026.

Finalmente, com quase 40% do eleitorado conservador acreditando que a eleição de 2022 foi “roubada”, e certamente enxergando ações do STF como um cerceamento de direitos individuais, propostas no Congresso para limitar os poderes dos tribunais não vão desaparecer tão cedo.

Embora não haja condições políticas para que elas sejam aprovadas este ano, esse ambiente de opinião pública garante que essas propostas sempre terão chances de avançar no Congresso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Análise importante, enviada por Mário Assis Causanilhas. O autor, Christopher Garman, é diretor executivo para as Américas do Eurasia Group, uma das mais importantes consultorias internacionais, que acompanham atentamente a evolução da política brasileira. (C.N.)

O necessário combate às desinformações produzidas pela Inteligência Artificial

Imagens falsas com Trump sendo preso viralizam

Pedro do Coutto

O presidente do Superior Tribunal Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, está tomando providências para assegurar o transcurso das eleições municipais neste ano, sobretudo em relação ao uso da Inteligência artificial, que realmente é uma usina tanto de progresso quanto de acesso por políticos e pessoas mal intencionadas.

Na noite desta terça-feira, a GloboNews exibiu filmes forjados, mas cuja autenticidade pode enganar milhares de pessoas em todo o país e contribuir para a desinformação e produção de situações que não condizem com a verdade. Esse campo é tão sofisticado que pode apresentar pessoas usando a sua própria voz, mas em situações falsamente produzidas, capazes de aparentar realidades.

É um perigo em todos os sentidos, sobretudo no caso das eleições. O falso filmete exibido relativo às eleições dos Estados Unidos mostrava o ex-presidente Donald Trump trocando golpes com agentes federais encarregados de prendê-lo. Impressionante como existe a capacidade de se criar situações com base em fatos que não ocorreram. Da mesma forma, com base IA atribuir comparações e até confissões de pessoas que não participaram dos fatos criados no laboratório da imaginação humana.

No Brasil,  Mores está alertando o TSE e as empresas especializadas para tentar evitar que falsificações não ocorram. E, se ocorrerem, deverão ter os responsáveis imediatamente identificados. Além disso, como as redes sociais têm um efeito imediato, é preciso que a Justiça Eleitoral faça a retirada instantânea de matérias carregadas de desinformação. É um desafio que deverá levar à ampliação dos trabalhos do TSE e dos Tribunais Regionais para que a opinião pública não seja iludida pelas aparências falsificadas.

Há que considerar ainda que a política é um campo em que as paixões se desenrolam de acordo com as vontades das legendas e dos candidatos. Para os que se apaixonam de forma desnorteada, como os que invadiram Brasília para destruir prédios públicos, seus adversários sempre são desqualificados sob a sua visão. Daí porque é importante que haja uma regulamentação sobre o tema deste artigo.

As eleições municipais, sobretudo em São Paulo, são uma prévia da própria sucessão presidencial de 2026. É um problema muito grande a ser enfrentado pelo TSE sem afetar o direito de opinião, estabelecendo limites para esse direito e que não podem incluir a falsificação de imagens, atitudes ou palavras, não obscurecendo a realidade.

Polícia Federal procura prender quem financiou acampamentos bolsonaristas

URGENTE! Polícia Federal propõe novo concurso com 2 mil vagas

As equipes da PF tentam cumprir três mandatos de prisão

Eduardo Gonçalves e Bernardo Lima
O Globo

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira a 25ª fase da Operação Lesa Pátria com foco nos financiadores dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Os agentes cumprem ao todo três mandados de prisão preventiva e 24 de busca e apreensão em oito Estados – Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.

Os principais alvos de hoje são os empresários Joveci de Andrade e Adauto de Mesquita, donos de uma rede atacadista do Distrito Federal. Eles foram indiciados pela CPI do 8 de janeiro como integrantes do grupo de financiadores dos atos antidemocráticos. A PF suspeita que a dupla tenha contratado um trio elétrico e fornecido alimentos ao acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

CRIMES DE MONTÃO – As ações foram autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. E os alvos são suspeitos dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

São suspeitos de patrocinarem o grupo de bolsonaristas que invadiu e depredou as sedes do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal. Segundo a PF, os gastos pelos danos ao patrimônio público giram em torno de R$ 30 milhões. Parte dos vândalos havia se deslocado a Brasília em caravanas de outras cidades e estava acampada em frente ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano.

A PF investiga os empresários que patrocinaram essas viagens e o acampamento, que foi montado logo após o segundo turno das eleições de 2022. Os participantes dos atos não aceitavam a derrota eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro e pediam uma “intervenção militar” para derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O amor pode ser tão grande que não é necessário dizer nada…

Tribuna da Internet | “Prefiro tê-la jovem no meu sonho, do que velha, apertá-la nos meus braços…”Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, político e poeta acreano José Guilherme de Araujo Jorge (1914-1987) ou, simplesmente, J. G. de Araújo Jorge, foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra romântica, como no poema “O Resto é Silêncio”, no qual  J.G. de Araújo Jorge mostra que, quando dois amantes estão um no outro, como se estivessem sozinhos, o resto é silêncio.

O RESTO É SILÊNCIO
J.G. de Araújo Jorge

E então ficamos os dois em silêncio, tão quietos
como dois pássaros na sombra, recolhidos
ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite, dois caminhos
que se juntam
num mesmo caminho…

Já não ouso… já não coras…
E o silêncio é tão nosso, e a quietude tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas…

Nada há mais a dizer, depois que as próprias mãos
silenciaram seus carinhos…
Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos..

Se o general Freire Gomes revelar o que sabe, será nitroglicerina pura

Impatiality on X: "General Freire Gomes do exercito brasileiro entra para a  história como o general que por interesses pessoais traiu a pátria e  entregou o Brasil nas mãos do comunismo. Defina

Freire Gomes se comportou como um militar legalista

Roberto Nascimento

Está fadada ao fracasso essa fantasiosa estratégia que a imprensa está atribuindo a militares golpistas, que pretenderiam incluir na cena do crime golpista o general Freire Gomes, comandante do Exército no final do governo Jair Bolsonaro.

Quem verdadeiramente deu a ordem para a continuidade dos acampamentos golpistas na frente dos quartéis do Exército foi o então comandante-em-chefe das Forças Armadas, o presidente da República.

EXPLICAÇÃO CLARA – A nota oficial assinada pelo então comandante Freire Gomes era bastante clara. Dizia que não havia ordens judiciais para desfazer os acampamentos, porque se trata de manifestações pacíficas, garantidas pela Constituição (artigo 5º).

Se o general Freire Gomes desse a ordem para desmobilizar os acampamentos, Bolsonaro poderia exonerá-lo do cargo e nomear algum general golpista Theophilo Gaspar, de quatro estrelas e integrante do Alto Comando, aquele que pediu ao Mauro Cid para levar a Bolsonaro o recado: “Assina o Estado de Defesa, que eu coloco as tropas na rua”.

O primeiro a ser preso certamente seria o ministro Alexandre de Morais, do Supremo.

BRAGA NETTO – Outro sinal da atitude republicana do general Freire Gomes foi a contrariedade do golpista Braga Netto, que o classificou de “cagão” ao saber que ele não apoiaria o golpe,  segundo a delação do tenente-coronel Mauro Cid. Os fatos são muito graves.

O general Freire Gomes, diante dessas apurações, da delação premiada do ten. Coronel Mauro Cid, se for chamado a depor, nem precisa da companhia de advogados, a sua inocência na trama golpista é uma constatação irremovível.

Basta o general contar tudo o que sabe e que ainda não veio à tona. Seria nitroglicerina pura. Um conselho para generais e coronéis envolvidos até o pescoço na tentativa de golpe: não cutuquem com vara curta.a onça que tem dentro do general Freire Gomes. O bote pode ser inevitável.

Atribuir a Bolsonaro a liderança do golpe seria uma espécie de Piada do Século

Bolsonaro manifesta surpresa com público na Avenida Paulista | Brasil | Pleno.News

A dúvida é saber quem era o verdadeiro líder do golpe

Carlos Newton

São impressionantes as boçalidades que a imprensa e as redes sociais divulgam. Por exemplo, atribuir a Jair Bolsonaro a liderança dessa tentativa de golpe seria uma Piada do Século. É óbvio em que 2018 ele foi eleito presidente com apoio massivo dos militares e das chamadas forças auxiliares.

O principal motivo dessa adesão, dentro do projeto esboçado pelo general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, foi a necessidade de pôr fim aos sucessivos e fracassados governos do PT, pois à época a liderança de Bolsonaro era mínima, como deputado de baixo clero, como ele próprio se define.

Assim, em 2018, Bolsonaro foi a apenas um instrumento, mas ganhou forte embalo político e realmente passou a liderar os civis antipetistas – ou antilulistas, o que vem a ser a mesmíssima coisa.

APOIO MILITAR – É engano julgar que as Forças Armadas se tornaram bolsonaristas. Na verdade, aproveitaram a ocasião e desfrutaram do governo dele, que contratou cerca de seis mil militares para exercerem funções civis, algo jamais visto, nem mesmo no regime militar de 64.

Foi um governo curvado aos militares, que tiveram sua Previdência Social preservada, seus salários foram equiparados aos servidores civis e ganharam uma série de penduricalhos, inclusive uma vultosa gratificação quando se aposentam.

Ora, se as Forças Armadas apoiaram Bolsonaro, é porque tiverem fartos motivos para tal, capazes de serem avaliados monetariamente, sejamos sinceros. Mas é erro afirmar que os militares se tornaram bolsonaristas.

ANTILULISMO – É preciso entender que as Forças Armadas simplesmente preferem aturar Bolsonaro do que suportar Lula da Silva, por tudo o que ele representa, como ex-agente infiltrado pela ditadura no sindicalismo e depois como líder político ignorante, despreparado, pretencioso e corrupto.

O Supremo ilegalmente tirou Lula da cadeia, devolveu-lhe os direitos políticos, mas a grosseira maquiagem jurídica não consegue esconder os múltiplos defeitos que os militares veem em Lula.

Mais de um ano depois, hoje pouco se sabe acerca da tentativa de evitar que Lula voltasse ao poder, e muito poderia ser esclarecido pelo general Freire Gomes, o comandante do Exército que disse não aos golpistas, com apoio quase unânime do Alto Comando.

MENSAGEM DE NATAL – Merece ser lembrada a mensagem dirigida à tropa na véspera de Natal, quando o golpe tentava explodir o caminhão de combustível no aeroporto de Brasília.

A hierarquia, a disciplina e a coesão não são apenas pilares que sustentam uma instituição de Estado como a nossa. São marcas indeléveis que derivam dos nossos valores mais caros, que precisam ser cultivados todos os dias, da mesma forma que nossos veteranos fizeram antes de nós. Em um ano como o de 2022, esses valores foram, mais uma vez, postos à prova e mostraram para toda a sociedade que o Exército Brasileiro continua forte, disciplinado e unido em prol do nosso Brasil”, disse Freire Gomes.

A essa altura, o comandante já havia dissuadido os oficiais golpistas e firmado a posição do Alto Comando. Mesmo assim, os generais rebelados seguiram em frente.

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P.S.
Quando Freire Gomes retornar na Espanha, é preciso ouvi-lo, para que esclareça o que realmente aconteceu e se Bolsonaro estava mesmo à frente do golpe ou se era um joguete nas mãos dos generais que o cercavam. A meu ver, já afirmei isso aqui várias vezes, não acredito que Bolsonaro fosse transformado em ditador, porque general não bate continência para capitão, conforme Roberto Nascimento destacou em brilhante artigo na Tribuna. Quanto ao general Freire Gomes, nem precisa prestar depoimento, é até mais democrático apenas dar uma entrevista a respeito, para esclarecer as coisas. O Brasil tem o direito de saber a verdade. (C.N.)

Judeus eram considerados “perseguidos” e agora são classificados como “opressores”

Conflito Israel-Hamas: 5 conclusões após 4 semanas de guerra - BBC News  Brasil

Em Gaza, é um povo destruindo outro povo, propositadamente

Hélio Schwartsman
Folha

Algumas semanas atrás, perguntei aqui como, nas mentes dos autoproclamados progressistas, os judeus passaram num intervalo de poucas décadas, de protótipo da minoria perseguida a odioso grupo opressor. Em seguida, confessei minha ignorância, mas “Israelophobia”, de Jake Wallis Simons, oferece respostas.

A tese central de Simons é a de que o ódio a Israel, a “entidade sionista”, é uma nova mutação do velho antissemitismo. Nos primeiros séculos da era cristã, judeus eram odiados por causa de sua religião; no século 19 e início do 20, o eram por causa da raça; e, agora, por causa de Israel. O autor esmiúça essas transformações.

DESDE O NAZISMO – Simons faz uma espécie de arqueologia da israelofobia. Mostra que, no mundo árabe, ela veio através da militância de Amin al Husseini, o mufti de Jerusalém, que foi colaborador próximo dos nazistas. Al Husseini, que defendia a eliminação física dos judeus, venceu a competição com outros grupos, como o moderado clã Nashashibi, para tornar-se a representação dos palestinos nos anos 1940.

É muito por causa de sua ação que os árabes não aceitaram a partilha da ONU de 1947. Ele também influenciou a Irmandade Muçulmana egípcia e sua cria, o Hamas.

Na esquerda, a hostilidade a Israel teve um forte empurrão da URSS. Até 1967, Moscou tinha relações próximas com Tel Aviv, mas foi se afastando. A partir de 1973, a hostilidade tornou-se aberta.

CAMPANHA RUSSA – Os soviéticos lançaram operações de propaganda anti-Israel. Uma delas foi comandada por Iuri Andropov. Eles reciclavam clássicos do antissemitismo, como “Protocolos do Sábios de Sião”, só substituindo a palavra “judeus” por “sionistas”. Às vezes, até os erros ortográficos do original eram reproduzidos.

Dá para discordar de várias das asserções de Simons, que, a meu ver, é tolerante demais para com graves violações a direitos humanos cometidas por Israel.

Mas é uma obra calcada em fatos e muito, muito informativa. Vale a leitura.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sinceramente, desta vez, não está difícil defender os judeus – está simplesmente impossível. Deveria partir de Israel o acordo dos dois Estados, mas sabemos que isso jamais acontecerá. Os israelenses precisam aprender que o maior desafio da vida é ser justo. (C.N.)

PT prefere cultivar a empáfia e não aceita se retratar quando é necessário

Lula defende a paz, diz Alckmin após comparação de Israel com Hitler Por  Poder360

Lula tem uma enorme capacidade de produztr asneiras

Dora Kramer
Folha

O PT é muito bom em exigir desculpas do alheio. Cobra retratações com a maior facilidade, mas tem muita dificuldade em se retratar quando a necessidade se impõe.

Fez o que fez com a cumplicidade de partidos aliados no mensalão e, no máximo, reconheceu a existência de “erros” sem nunca ter admitido o crime, a despeito das condenações impostas a petistas de alto escalão.

ATITUDES ABSURDAS – A presidente Dilma Rousseff fez o que fez com a economia do país e o que faz o presidente Luiz Inácio da Silva? Tenta reescrever a história ao lhe dar de presente um posto de relevância no setor, o comando do banco do Brics.

Executor da desastrosa “nova matriz”, Guido Mantega só não foi recompensado com a gestão da Vale porque há gestores responsáveis na companhia.

Sobre o que se viu na Operação Lava Jato, então, nem se fala. Houve o que houve, desvios de procedimentos levaram a anulações judiciais sem declaração de inocência aos envolvidos, mas a roubalheira, de novo com a parceria de partidos aliados, ficou demonstrada. Lula, no entanto, se sente no direito de retaliar e exigir que joelhos prestem reverência ao milho.

GAFES HOMÉRICAS – Há mais exemplos nesse histórico, incluindo gafes homéricas, que de algum modo explicam a razão pela qual Lula se recusa a consertar a barbaridade cometida na comparação da ação israelense em Gaza à operação genocida de Hitler na Segunda Guerra Mundial.

Nem precisaria pedir desculpas no molde exigido por Israel em sua oportunista reação à qual o presidente deu margem. Há grandeza em certos recuos e pequenez em determinadas ocasiões.

Lula poderia modular a declaração, teria evitado que Binyamin Netanyahu se aproveitasse da situação, mas prefere se aferrar à empáfia agora potencializada pela ausência de conselheiros influentes e, sobretudo, sensatos. Gente do calibre do falecido Márcio Thomaz Bastos. Como ministro da Justiça, salvou o chefe de várias enrascadas e faz uma falta danada.