Estados Unidos são cínicos ao atacar a Rússia por violar direitos humanos

AI image of an 'unwell' Julian Assange sparks calls for his release -  OECD.AI

Julian Assange, o jornalista mais perseguido do mundo

Glenn Greenwald
Folha

Os seres humanos são tribais. O tribalismo moldou nossa evolução e, por isso, poucas coisas nos trazem mais prazer do que nos unirmos em torno de traços comuns — a nação, os partidos, a ideologia. Um de nossos prazeres é apontar os erros de tribos inimigas.

Esse tribalismo ficou em evidência nos Estados Unidos na última sexta-feira (16). A morte do opositor russo Alexei Navalni em uma prisão na Sibéria foi condenada por líderes norte-americanos de ambos os partidos: dos liberais Joe Biden, Hillary Clinton e Bernie Sanders à presidenciável republicana Nikki Haley e muitos senadores de direita.

ILUSÃO SEDUTORA – A mensagem era clara: os EUA podem não ser perfeitos, mas pelo menos não perseguem e matam seus dissidentes como faz a Rússia. Essa é uma ilusão sedutora, que permite aos EUA se sentirem superiores.

A reação não foi de todo despropositada. Quando uma pessoa saudável é presa, fica doente na prisão e morre, é razoável imputar a culpa ao governo responsável pela prisão. Faria bem, aliás, que as autoridades brasileiras adotassem essa régua.

É, porém, difícil crer que as elites norte-americanas creiam nesses princípios elevados. Os EUA não só têm aprovado o assassinato de seus cidadãos por seus aliados estrangeiros como vêm fazendo de tudo para calar seus críticos mais ferozes.

NA UCRÂNIA – Em maio de 2023, Gonzalo Lira, um cidadão chileno-americano, foi preso pela segunda vez por autoridades ucranianas. Lira morava na Ucrânia desde 2016, tendo-se casado com uma mulher ucraniana. O crime de Lira? Suas críticas ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski e sua insistência em dizer que a Ucrânia e seu maior apoiador, os EUA, mentem sobre a guerra.

Ele foi preso acusado do crime de “disseminar desinformação pró-Rússia”. Semanas antes de sua prisão, Lira publicou um vídeo implorando pela ajuda de seu governo, alertando que seria mandado para a prisão e que poderia ser morto pelos ucranianos.

No início do mês passado, o consulado dos EUA em Kiev informou que Lira, até então saudável, havia morrido em 11 de janeiro, de pneumonia, na prisão.

FOI ABANDONADO –  O pai de Lira, um economista chileno, me disse em entrevista na semana passada que os funcionários consulares se recusaram a ajudar seu filho e a dar qualquer informação sobre sua morte, tendo tampouco cobrado o estado ucraniano pela liberdade e vida de seu filho.

As semelhanças entre os casos de Navalni e Lira são gritantes. Ambos eram críticos dos governos que os prenderam e os deixaram morrer na prisão. No entanto, nenhum dos políticos americanos que agora condenam ruidosamente a Rússia mencionaram a morte de seu concidadão por seu aliado Zelenski.

Há também os inúmeros casos de cidadãos dos EUA mortos por Israel: um país financiado e armado por Washington, mas raramente criticado, pelos EUA.

JORNALISTA ASSASSINADA – Em maio de 2022, o Exército israelense matou a jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, enquanto ela cobria uma operação militar no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia. As Forças de Defesa de Israel negaram qualquer relação com a morte, até que uma investigação atestou sua culpa.

No mês passado, o Exército israelense matou um adolescente americano na Cisjordânia, Tawfic Abdel Jabbar. Nenhum representante americano condenou Israel pela morte de seus compatriotas.

Não se pode esquecer dos ataques dos EUA contra seus próprios Navalnis. Julian Assange está há quase quatro anos apodrecendo numa prisão inglesa, batalhando pela vida porque o governo dos EUA —primeiro sob Trump, e agora Biden— insiste na sua extradição e prisão pelo “crime” de expor crimes de guerra cometidos por Washington.

CASO DE SNOWDEN – E, é claro, Edward Snowden, que continua sem poder sair da Rússia, procurado pelo crime de expor espionagem ilegal e inconstitucional por parte do governo do EUA.

Ainda que os norte-americanos prefiram continuar cegos, o resto do mundo pode ver que o governo dos EUA não segue os princípios que impõe ao resto do mundo.

Sempre que algum líder mundial é cobrado por jornalistas dos EUA ou do Reino Unido por ataques à liberdade de imprensa que teriam cometido, a réplica sempre lembra dos casos de Assange e Snowden para dizer que os EUA não têm credibilidade para criticar os outros países.

CORTINA DE FUMAÇA – No Ocidente, a propaganda nos ensina que é uma cortina de fumaça quando os líderes estrangeiros apontam as hipocrisias dos EUA a respeito de direitos humanos.

Argumentam que os EUA devem sim cobrar os outros países, mesmo que internamente pratiquem os mesmos abusos e violações de direitos.

No entanto, o que se convencionou chamar de cortina de fumaça é o verdadeiro teste. É sempre fácil criticar um governo estrangeiro do outro lado do mundo. Difícil é criticar o seu próprio lado.

Jair Bolsonaro propõe que todos sejam anistiados, inclusive os vândalos do 8 de Janeiro

Bolsonaro reúne milhares na Paulista e em discurso fala em abuso de alguns  no país - 25/02/2024 - Poder - Folha

Jair Bolsonaro criticou o rigor nas penas dos condenados

Deu no R7 e no UOL

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou durante o ato na avenida Paulista convocado em sua defesa neste domingo (25). Segundo ele, a suspeita da Polícia Federal de que houve uma tentativa de golpe de Estado por parte de seu grupo político é infundada.

“Agora querem entubar a todos nós que um golpe, usando dispositivo da Constituição, cuja palavra final quem dá é o parlamento brasileiro, estava em gestação. Creio que está explicada essa questão. Teria muito a falar. Tem gente que sabe o que eu falaria. Mas o que eu busco é a pacificação, passando uma borracha no passado,” disse o ex-presidente.

“Nós já anistiamos, no passado, quem fez barbaridade. Agora, nós pedimos a todos um projeto de anistia no nosso país. E quem depredou o patrimônio que pague, mas essas penas fogem ao mínimo da razoabilidade. Pobres coitados que estavam no dia 8 de janeiro,” acrescentou.

ENERGIA E GARRA – O ex-presidente também comentou a adesão de manifestantes no ato: “Vocês nos trazem esperança, energia, garra, certeza que temos como vencer. Nós não queremos um socialismo para o Brasil e não podemos admitir um comunismo em nosso meio. Não queremos ideologia de gênero e queremos respeito à propriedade privada. Queremos direito à defesa da própria vida, respeito à vida desde a concepção, não queremos a liberação das drogas,” disse.

De acordo com os organizadores, cerca de 700 mil pessoas compareceram à manifestação. Aliados do ex-presidente também estavam presentes. Além do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), compareceram o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL) e a vice-govenadora do Distrito Federal, Celina Leão (Progressistas).

A ocupação principal de manifestantes se concentrou no Museu de Arte de São Paulo (Masp), mas se estendeu pela avenida Paulista.

MALAFAIA SE IRRITOU – Antes dos discursos, Silas Malafaia se irritou com pessoas não autorizadas que tentavam subir no trio. “Ô minha gente, que tá aqui embaixo fazendo confusão, só sobe quem tem pulseira verde. Por favor! Não vai subir, não adianta. Para que essa briga aí meu filho?”, disparou.

O Youtuber português Sérgio Tavares, detido mais cedo ao desembarcar no Brasil falou, no evento. “Eu vou garantir que a Europa e o mundo vão saber a verdade sobre o Brasil. O mundo vai saber que vocês precisam de liberdade, que vocês não podem ter censura. Não podem obrigar bebês a serem vacinados. Eu prometo essa mensagem vai correr a Europa e o mundo todo. Liberdade!”, disse.

Outros políticos foram anunciados após a chegada de Bolsonaro. Entre eles, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), Jorginho Mello (PL), governador de Santa Catarina e Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais.

ORAÇÃO DE MICHELLE – A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro falou na abertura do ato, às 15h em trio na altura do Masp (Museu de Arte de São Paulo).

Emocionada, a ex-primeira-dama e chamou o evento de “ato pacífico de civilidade”. Ela também agradeceu a presença de Tarcísio de Freitas: “Abriu as portas da casa dele para nós”, afirmou. Depois, fez uma oração.

Após Michelle, discursaram os deputados federais Gustavo Gayer (PL) e Nikolas Ferreira (PL).  Enquanto estavam no trio, os dois parlamentares observaram que havia pessoas passando mal no público por causa do calor. Na sequência, o senador Magno Malta (PL) tomou a palavra.

O pastor Silas Malafaia fez crítica a Lula. Organizador do evento, CRÍTICAS A LULA – Malafaia sugeriu que o Lula sabia das invasões no 8 de janeiro e, ao citar Moraes, disse que não tem “medo de ser preso”. Ele também afirmou que “Lula fez o Brasil ser vergonha para o mundo inteiro. A fala de Lula não representa o povo brasileiro”.

A declaração faz referência ao discurso do presidente no último dia 18, na Etiópia, quando Lula comparou os ataques à Faixa Gaza ao Holocausto, o que gerou críticas do governo israelense.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) em discurso, destacou o “legado de Bolsonaro”. Em sua fala, o governador de São Paulo afirmou que o ex-presidente “nunca pegou nada para si” e sempre deu o crédito para quem realizava ações durante sua gestão. “Presidente que sempre respeitou Israel”, acrescentou.

Bolsonaro tentou lembrar a aliados que brasa longe do fogo vira carvão

Em ato na Paulista, Bolsonaro sobe em trio com bandeira de Israel | O TEMPO

Boldonaro subiu no trio elétrico com a bandeira de Israel

Carlos Pereira
Estadão

Muitos dos aliados de Bolsonaro vivem um dilema difícil. Abandonar o ex-presidente para evitar desgastes políticos extras diante da exposição cada vez mais frequente de evidências robustas do seu envolvimento direto nas tentativas iliberais de fragilização frustrada da democracia brasileira? Ou assumir os custos políticos de manter a fidelização à Bolsonaro na expectativa de auferir retornos eleitorais por ser solidário ao ex-presidente subindo em seu palanque em momento de vulnerabilidade?

Quando se está vulnerável, especialmente diante de desvios que possam vir a acarretar punições judiciais, procura-se arregimentar suporte público não apenas para diminuir a fragilidade pessoal junto ao sistema de justiça, mas também para romper o isolamento e reaquecer o apoio político perdido.

ESTRATÉGIA CLARA – O ato público convocado por Bolsonaro neste domingo na avenida Paulista foi uma estratégia clara do ex-presidente de sinalizar para seus aliados que talvez ainda não tenha chegado a hora de abandoná-lo. E que, apesar de tudo, ainda valeria a pena arcar com os custos da proximidade com o ex-presidente, especialmente em ano eleitoral em que muitos deles são candidatos à prefeito cujo desempenho possa impactar nas suas ambições eleitorais futuras.

Bolsonaro aposta na expectativa de que aliados, especialmente aqueles que foram eleitos como consequência direta da influência de sua cauda longa (caottail effect), tanto para o Legislativo como para postos no Executivo subnacional, agora retribuam “pagando a conta” em um momento de grande dificuldade do ex-presidente.

Essa é o cálculo que que está sendo feito pelos aliados de Bolsonaro.

POSSÍVEIS CÚMPLICES – Por um lado, quanto mais próximo estiverem de Bolsonaro, mais susceptível que sejam observados de perto pela Polícia Federal e pela Justiça como cúmplices em um suposto projeto golpista do ex-presidente, o que poderá trazer consequências negativas não apenas eleitorais, mas especialmente junto à Justiça.

Por outro lado, se o aliado não mostrar solidariedade explícita ao ex-presidente em um contexto tão delicado, poderá ser percebido, especialmente pelos eleitores que nutrem uma conexão identitária com Bolsonaro, como traidor e sofrer sequelas devastadoras para a sua carreira política junto a esse eleitorado.

Neste domingo, Bolsonaro reaqueceu sua influência política e mostrou que as labaredas de sua fogueira ainda produzem brasas fumegantes e que aqueles que o abandonarem correm risco de virar carvão. Mas se não continuar sendo correspondido nessa estratégia, o próprio Bolsonaro é que corre riscos de ser percebido como fumaça.

Palavra de ordem no governo Lula é ignorar ato pró-Bolsonaro na Paulista

A CHARGE DE DOZE POR CENTO REJEITANDO O PT – Blog do Robson Pires

Charge do Nani (nanihumor.com_

Bela Megale
O Globo

Ministros garantiram à coluna que o ato público convocado por Jair Bolsonaro, em São Paulo, não será alvo de qualquer manifestação nas redes sociais, nem mesmo com teor irônico. A ordem no Palácio do Planalto é ignorar completamente o evento organizado pelos bolsonaristas.

No mês passado, a Secretaria de Comunicação da Presidência usou canais oficiais do governo para ironizar a operação da Polícia Federal que mirou o vereador Carlos Bolsonaro. A iniciativa foi criticada por investigadores, além de integrantes do próprio governo, por politizar a ação policial. Por isso, o Planalto não quer comentários,

PT PROTESTA – O PT, no entanto, tem reagido à manifestação. O diretório estadual do partido de São Paulo chegou a fazer uma representação no Ministério Público Eleitoral contra o ato, sob o argumento de que o protesto pode se converter num novo 8 de janeiro.

PT, PSB, PDT e Rede também lançaram, na quinta-feira, um manifesto contra o ato e em defesa da democracia.

‘Não vamos julgar a Lava-Jato’, afirma presidente do TRE que pode cassar Moro

Desembargador Sigurd Roberto Bengtsson toma posse como presidente do TRE-PR  para o biênio 2024-2025 — Tribunal Regional Eleitoral do Paraná

Sigurd Roberto Bengtsson garante independência do TRE

Rafael Moraes Moura
O Globo

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), Sigurd Roberto Bengtsson, marcou para 1º de abril o início do julgamento das ações que podem levar à cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), depois de semanas de suspense e disputas internas sobre a data, a forma e até a nomeação do juiz que completaria o quórum para possibilitar o início do processo.

Em conversa com a equipe da coluna, o magistrado nega sofrer pressão em torno do julgamento, diz que o tribunal não está sob a zona de influência de Moro e afirma que a Lava-Jato não tem nada a ver com o que vai ser enfrentado pelo plenário do TRE.

DUAS DECISÕES – Conforme antecipou o blog, os juízes tomaram duas decisões em uma reunião reservada antes do carnaval: ninguém terá acesso prévio ao voto do relator, Luciano Carrasco Falavinha; e cada um dos sete integrantes do TRE vai destrinchar o voto como forma de prestação de contas à sociedade.

Serão analisadas em abril duas ações — movidas pelo PT de Lula e pelo PL de Jair Bolsonaro — que apuram se Moro cometeu abuso de poder econômico, caixa 2 e uso indevido dos meios de comunicação durante as eleições de 2022.

Tanto adversários quanto aliados de Moro avaliam que o senador tem mais chances de ser cassado no TSE do que no TRE do Paraná, que seria uma zona de influência do ex-juiz federal da Lava-Jato. Como o senhor vê isso?
É má-fé dizer isso, até porque revela um desconhecimento da composição do tribunal. Qual a composição do TRE? Temos dois juízes estaduais, que não atuaram em processos relacionados ao Moro (de Lava-Jato), dois desembargadores estaduais, que nunca atuaram em processo de Lava-Jato, dois juristas oriundos da classe dos advogados, e por fim temos uma cadeira da Justiça Federal, em que algum membro eventualmente pode ter participado de algum julgamento (de Lava-Jato), mas não desqualifica o juiz ter atuado em algum processo de operação.

A Lava-Jato não impacta o julgamento do ex-juiz, que foi eleito tendo como plataforma política justamente o combate à corrupção?
Estamos julgando abuso de poder econômico de um candidato. A questão é político-eleitoral, não tem nada a ver com a atuação de Moro na Lava-Jato, estamos fazendo julgamento com a prova dos autos. Não estou julgando a Lava-Jato. A Lava-Jato não tem nada a ver com o julgamento, a acusação é abuso de poder econômico (nas eleições de 2022).

Antes mesmo do julgamento, veio à tona uma foto da desembargadora Cláudia Cristofani, do TRE-PR, ao lado de Moro, nos anos 1990. Isso pode comprometer a isenção dela como julgadora?
Eu não vejo nenhum descrédito. Quando tomei posse no dia 1º, eu disse publicamente que tenho confiança na desembargadora. Não tem como imaginar um descrédito só de um juiz aparecer ao lado de outro juiz.

Existe risco de o julgamento ser travado por um pedido de vista?
Um pedido de vista não causa atraso, porque se tiver pedido de vista prossegue na outra semana, é um prazo pequeno, ninguém vai pedir vista e ficar com o processo por um mês. Vai ficar por uma semana, 10 dias no máximo (tempo previsto no regimento interno do tribunal).

O julgamento lançou os holofotes sobre o TRE e cada um dos seus membros. Esse tipo de exposição pública incomoda o senhor?
Não. O juiz não pode ser incomodado com pressão ou com o que os outros vão pensar. É parte da minha vida. Não vejo neste momento pressão nenhuma. Não fui pressionado, nenhum membro da corte foi e nem será.

É o julgamento mais importante da história do tribunal?
É o que tem mais, digamos assim, movimentado a imprensa, a sociedade, nessa parte de repercussão nos últimos anos. Isso sim. Não vou dizer o mais importante, todo processo é importante, da pessoa mais humilde ao vereador, deputado, senador.

O canal do tribunal no YouTube foi alvo de uma tentativa de ataque hacker. O fato de ter ocorrido em meio à expectativa com o julgamento é mera coincidência?
Foi um ataque hacker que aconteceu em vários lugares, foi a nível mundial, pelo que me foi dito pelo setor de informática. Aconteceu em vários países, não foi um fato isolado. Não teve nenhum dado do tribunal que foi hackeado. Foi só no canal do YouTube. Isso não compromete a segurança, não tem nada que possa ter alguma relação com o julgamento. Estamos tomando precauções para que não se repita.

Choque, cavalaria e drone, com 2 mil PMs no ato de Bolsonaro na Paulista

O ex-presidente Jair Bolsonaro convocou uma manifestação na Avenida Paulista no próximo dia 25 e será acompanhado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas

Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, são os dois grandes destaques

Zeca Ferreira
Estadão

A manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para este domingo, 25, na Avenida Paulista, em São Paulo, terá policiamento reforçado, com cerca de 2 mil policiais militares escalados para garantir a segurança e a ordem durante o evento, informou o governo do Estado.

O esquema de segurança vai contar com apoio de drones, câmeras fixas e móveis. Além de equipes do comando de policiamento do centro, a operação terá agentes da força tática, tropa de choque, cavalaria, comando de aviação, entre outros destacamentos.

MALAFAIA LIDERA – Será a primeira grande manifestação em favor do ex-presidente desde o 8 de Janeiro, que terminou com a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Idealizado pelo pastor Silas Malafaia, o ato busca defender Bolsonaro, que é investigado, entre outras coisas, de promover uma tentativa de golpe de Estado.

Como mostrou o Estadão, o evento terá dois trios elétricos e custo estimado entre R$ 90 mil e R$ 100 mil. A expectativa dos organizadores é que de 10 a 15 autoridades discursem no evento, que será aberto com uma oração da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e não deverá ter mais de 1h30min de duração.

O trio principal será estacionado na transversal da Paulista, na altura do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Ao lado de Bolsonaro estarão cerca de 70 aliados políticos, entre eles os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL).

700 MIL PESSOAS – Ao lado, formando um “L”, ficará o trio de apoio, que não tem estrutura de som e pode abrigar até 100 convidados. Ele servirá para acomodar o restante dos deputados presentes, que ficaram de fora da lista VIP, além de fotógrafos e cinegrafistas.

Apesar de a organização do ato estimar público de até 700 mil pessoas, a manifestação não alterou a taxa de ocupação dos hotéis da região da Paulista, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo (ABIH-SP).

Segundo a associação, a taxa de ocupação dos hotéis na capital para os dias 24 e 25 de fevereiro obedece à média histórica registrada nos finais de semana desta época do ano, o que representa cerca de 35%.

ÔNIBUS FRETADOS – Já a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que recebeu o pedido de licenciamento de apenas 16 ônibus fretados, transportando 530 passageiros, para este final de semana.

O dado da agência de transportes considera somente as viagens interestaduais com licença.

Desse modo, estão excluídos do cálculo: os ônibus clandestinos (sem licença), os veículos vindos de outros municípios paulistas e aqueles que realizam viagens contínuas para empresas de ônibus rodoviários.

Karl Marx e Friedrich Engels ajudaram a aprimorar e humanizar o capitalismo.

O que nos impede de usar o que há de melhor no capitalismo e no comunismo? - Flávio ChavesAntonio Rocha

Uma amiga, antiga diretora do Sesc – Serviço Social do Comércio, já falecida, quem me contou: “Foi o presidente Getúlio Vargas que criou o Sesc. No período dele, o PCB (Partido Comunista Brasileiro) era muito forte e então Vargas idealizou o chamado “Sistema S”.

Na época, as reivindicações sociais do Partidão, com suas propostas de melhoria de vida para a população, eram um atrativo para milhares de eleitores.

ALGO DE NOVO – Se não fosse feito algo de novo, logo os comunistas, socialistas e esquerdistas chegariam ao poder. Vargas entendeu que o capitalismo ortodoxo, que só explora e não dá nada em troca, precisava ser aperfeiçoado. E assim as direitas brasileiras passaram a semear migalhas, ajudar minimamente o povo, para continuar com a direção e o mando no país.

Por exemplo, quando criaram o 13º salário, os conservadores diziam que isso iria quebrar a economia, e na verdade, o fato ajudou e muito a injetar cruzeiros (na época) no comércio, na indústria e similares, justamente na época do Natal.

Marx, ainda que se considerasse ateu, teve uma firme formação cristã e quando jovem frequentava a Igreja Luterana com o seu pai, todo domingo. Deste modo, há um princípio de caridade no Cristianismo que no início muito influenciou os postulados comunistas e socialistas do jovem Marx e seu parceiro Friedrich Engels.

ERRO DE FREIRE – A meu ver, um equívoco do grande Paulo Freire foi quando ele declarou mais ou menos assim: “Que o socialismo chegue antes da caridade”. Há uma dimensão caritativa no humanismo que pode ajudar e muito o socialismo, tipo construirmos um “socialismo caridoso”.

Mas, o famoso educador não entendeu isto e, mesmo tendo uma sólida formação cristã, pois ele era membro da Igreja Presbiteriana do Recife quando foi preso, não percebeu que se juntarmos socialismo e caridade teremos uma sociedade mais justa socialmente.

Torço, como quem torce, equilibradamente, por um time de futebol, para que o atual PSB – Partido Socialista Brasileiro, com sua proposta de um “Socialismo Criativo” siga por este caminho Humanista e com boas doses de saudável Caridade.

GENEROSIDADE – Uma boa definição de caritativismo é a “generosidade” ensinada pelo pensador Buda, Sidarta Gautama, no século 6 antes de Cristo.

Há um antigo livro sobre o socialismo, publicado nos anos 1970, em Lisboa, que nos fala; essa idéia humanitária nasceu no romantismo. estilo de época na literatura,  que estudamos na Faculdade de Letras da UFRJ.

Este livro, “O Socialismo, do Renascimento aos nossos dias”, de Claude Willard, depois foi publicado aqui pela Editora Paz e Terra e pode ser encontrado nos sebos.

HOUVE ERROS  – Claro que aqui os opositores vão alegar os desvios do stalinismo e outras atitudes autoritárias ditatoriais. Mas eu estou propondo um socialismo democrático equilibrado e vejo na caridade não uma doença, como muitos dizem, mas uma possibilidade para o Brasil e o mundo.

Vai demorar um pouco para acontecer, mas é aos poucos que as conquistas sociais ocorrem, como percebeu o então presidente Getúlio Vargas.

“Se não é genocídio, não sei o que é”, repete Lula sobre ação de Israel

Lula da Silva voltou a condenar o ataque de Israel à Faixa de Gaza

Pedro do Coutto

Nesta sexta-feira o presidente Lula da Silva voltou a condenar o ataque de Israel à Faixa de Gaza. Setores do governo afirmam que Lula foi mal interpretado em sua primeira declaração. A fala, desta vez, aconteceu no Rio de Janeiro, durante o lançamento da Seleção Petrobras Cultural.

“O que está acontecendo em Israel é um genocídio. São milhares de crianças mortas, milhares desaparecidas. E não estão morrendo soldados, estão morrendo mulheres e crianças dentro do hospital. Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio”, afirmou.

INTERPRETAÇÃO – Lula ainda disse para ninguém tentar interpretar a entrevista que ele deu no último domingo, dia 18, e pediu para que todos a leiam, “ao invés de ficar me julgando pelo que disse o primeiro-ministro de Israel”.

As primeiras afirmações do presidente da República, porém, foram bastante claras e infelizes na comparação a uma tragédia universal que não encontra paralelo em nenhum outro acontecimento ocorrido através dos séculos. Foi uma forma, na minha opinião, de deslocar o primeiro pronunciamento do plano político mais intenso e a sua repercussão internacional.

SALÁRIO – Enquanto isso, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, suspendeu o contrato de trabalho entre o partido e o general Braga Neto, anunciando publicamente que determinou o cancelamento do pagamento de salários estabelecidos. Braga Netto ganhava cerca de R$ 30 mil pagos pelo partido.

Valdemar suspendeu os pagamentos desde que foi proibido de se comunicar com Braga Neto, uma vez que estão sendo investigados pela Polícia Federal no inquérito do roteiro do golpe.

Em nota, o PL afirmou que o corte no salário ocorreu por “impedimento temporário na prestação de serviços em decorrência de prisão preventiva ou cautelar diversa” que gerou “impedimento na execução das atividades laborais”. Sendo assim, “o respectivo contrato deve ser suspenso enquanto perdurar tal situação”

“Pede a banda pra tocar um dobrado, olha nós outra vez no picadeiro…”

Parceria entre Ivan Lins e Vítor Martins rendeu mais de 100 músicas – Jornal da USP

Ivan e Martins, parceiros magistrais

Paulo Peres
Poemas & Canções

Na letra de “Somos todos iguais nesta noite”, em parceria com Ivan Lins, o compositor (letrista) paulista Vitor Martins compara o mundo a um circo, onde seguimos o ritmo da banda de fanfarra, em alusão à ditadura militar vigente no país de 1964 a 1985. A música intitula o LP Somos todos iguais nesta noite, lançado por Ivan Lins, em 1977, pela EMI-Odeon.

SOMOS TODOS IGUAIS NESTA NOITE
Ivan Lins e Vitor Martins

Somos todos iguais nesta noite
Na frieza de um riso pintado
Na certeza de um sonho acabado
É o circo de novo

Nós vivemos debaixo do pano
Entre espadas e rodas de fogo
Entre luzes e a dança das cores
Onde estão os atores

Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Vamos dançar mais uma vez

Somos todos iguais nesta noite
Pelo ensaio diário de um drama
Pelo medo da chuva e da lama
É o circo de novo

Nós vivemos debaixo do pano
Pelo truque malfeito dos magos
Pelo chicote dos domadores
E o rufar dos tambores

Ato de Bolsonaro é legítimo direito à liberdade e não ameaça democracia

Ato pró-Bolsonaro ocupa a Avenida Paulista com aglomeração e pede  'intervenção militar' | São Paulo | G1

Bolsonaro quer dar uma demonstração de força na Paulista

J.R. Guzzo
Estadão

Há variações sobre o tema, mas a ideia central da filosofia política que o STF, o governo Lula e os seus fiéis criaram para o Brasil de hoje é impor aos cidadãos a obrigação de fazerem, ao mesmo tempo, duas coisas contrárias entre si. O regime obriga todos os brasileiros a viverem dentro de uma democracia; é tão rigoroso a esse respeito que manda a polícia bater à porta das pessoas às 6 horas da manhã, para punir os suspeitos de se comportarem abaixo dos teores democráticos exigidos no momento pela autoridade pública.

Mas se o cidadão acredita que tem de ser um democrata mesmo – e, por causa disso, se sente autorizado a fazer uso dos direitos, das liberdades e das leis em vigor para praticar a democracia – o tempo pode fechar.

ACABAR E SALVAR – Se o governo e o Supremo não gostarem, por exemplo, de uma manifestação de massa para protestar contra ambos, saem dizendo na hora que os manifestantes “utilizam a democracia para acabar com a democracia”. Será então preciso, no entendimento de muita gente, acabar com a democracia, temporariamente, para salvar a democracia.

Não tem pé e não tem cabeça, mas é assim que funcionam os circuitos mentais de quem manda hoje no Estado brasileiro; é o seu “novo normal”. (Uma ministra do STF já disse em seu voto que a censura é ilegal, mas que ela iria permitir até “o dia 31 de outubro de 2022″, após o encerramento das eleições. A data já passou. A censura, se ela quiser, continua aí.)

A manifestação popular convocada para este domingo, dia 25, na Avenida Paulista, mostra bem o nível de degeneração a que caiu a questão dos direitos individuais e das liberdades públicas no Brasil. Qual é o problema que pode haver, dentro de qualquer regime democrático sério, num comício contra o governo?

SEM OBJEÇÃO – Se não houver violência, não quebrarem vidraças ou queimarem bancas de jornal, e não for promovida a violação da lei nos discursos, faixas e cartazes, não há nenhuma objeção racional. E quem não está de acordo com os propósitos da manifestação? É só organizar uma outra manifestação no mesmo lugar, na semana seguinte, em favor de Lula e do STF – e ver, depois, em qual das duas foi mais gente.

O artigo 5 da Constituição diz que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local”.

O próprio STF, na última vez que lidou com o tema, em 2021, voltou a garantir esse direito. Mas a manifestação está sendo chamada, pelos radicais, de “ato golpista”. Como assim, a menos que os oradores preguem o golpe de Estado no palanque? É a democracia ao avesso.

Multas suspensas por Toffoli chegam a R$ 14,1 bilhões, com “efeito cascata”

Ninguém vai se arriscar a desafiar a democracia no Brasil', diz Toffoli |  VEJA

A imagem de Dias Toffoli no Supremo é a pior possível

Rubens Anater
Estadão

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a pedidos da construtora Novonor (antiga Odebrecht) e do grupo J&F e suspendeu o pagamento dos acordos de leniência celebrados pelas empresas com o Ministério Público Federal (MPF) após serem alvos da Operação Lava Jato. No total, as multas somavam originalmente R$ 14,1 bilhões.

A primeira paralisação de pagamentos foi a do grupo J&F, multado em R$ 10,3 bilhões. Esse valor ainda deveria ser corrigido no decorrer do pagamento de acordo com o índice IPCA. A empresa, contudo, pediu a suspensão de “todas as obrigações pecuniárias” decorrentes do acordo enquanto analisa os documentos da Operação Spoofing, que prendeu os hackers da Lava Jato.

PROVAS ILÍCITAS – O grupo pretende usar o material para pedir a revisão da leniência e defende que é preciso “corrigir abusos” do acordo. Um deles seria o suposto uso de provas ilícitas. Toffoli atendeu ao pedido em 19 de dezembro do ano passado.

Já em 1º de fevereiro, o ministro atendeu a um pedido da Novonor, que afirma ter sido pressionada a fechar o acordo para garantir sua sobrevivência financeira e institucional.

“A declaração de vontade no acordo de leniência deve ser produto de uma escolha com liberdade”, escreveu o ministro, e suspendeu o pagamento da multa estipulada originalmente em R$ 3,8 bilhões. Segundo estimativas das autoridades responsáveis pela negociação, homologada em 2016, o valor corrigido pela taxa Selic poderia chegar a R$ 8,5 bilhões no fim das parcelas.

VÍCIOS NAS PROVAS – A Novonor também teve acesso aos documentos revelados pela Operação Spoofing e parte das provas de seu acordo de leniência já foram anuladas pelo ministro aposentado do STF, Ricardo Lewandowski, com base em mensagens da mesma operação. Ele levou em consideração o julgamento que declarou a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro e considerou que havia “vícios” nas provas.

Outras empresas que admitiram corrupção e se comprometeram a pagar cifras bilionárias para escapar da Lava Jato avaliam recorrer ao ministro do STF.

Segundo apurou o Estadão, a UTC, a Andrade Gutierrez e a Camargo Corrêa fazem parte do grupo que estuda solicitar a revisão dos acordos. O “efeito cascata” também pode beneficiar a OAS, a Braskem e a Engevix (atual Nova), que também admitiram as práticas de corrupção e se comprometeram a restituir os cofres públicos.

R$ 34,2 BILHÕES – Os acordos de leniência firmados pelas oito empresas somam R$ 18,4 bilhões em multas. Os compromissos preveem a correção permanente dos montantes pela taxa Selic. Na cotação atual, os valores estão estimados em R$ 34,2 bilhões.

As empreiteiras já alegaram que os valores foram arbitrados considerando um faturamento que já não é mais realidade no setor das grandes construções e que, apesar dos esforços para honrar os compromissos, o risco de inadimplência é iminente.

A CGU, no entanto, tem sido inflexível diante dos pedidos de repactuação. O órgão afirma que não há margem para a alteração dos valores, apenas de cláusulas sobre prazo e formas de pagamento.

BRECHA DA LEI – Nesse cenário, a Operação Spoofing aparece como brecha possível para a derrocada dos acordos. A investigação prendeu o grupo responsável pela invasão dos celulares de membros da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, incluindo o ex-procurador Deltan Dallagnol, que coordenava o grupo de trabalho, e o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro, que foi titular da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, berço da investigação. As conversas hackeadas constam como provas da investigação.

Fontes ligadas às empresas ponderam, no entanto, que nem todas poderão tirar proveito das conversas. A avaliação é que o material só será útil se houver indícios de coação nas negociações. Caso contrário, poderia se tornar um tiro no pé.

A suspensão de pagamentos da Novonor e da J&F foi determinada pelo ministro Dias Toffoli por meio de decisões monocráticas definitivas, mas a Procuradoria Geral da República já entrou com recursos para fazer a questão ser submetida ao referendo de colegiado.

Moraes quer prender Jair Bolsonaro somente na fase final, pelo conjunto da obra dele

Ministro Alexandre de Moraes suspende decisão do TCE/SP

Moraes pretende conduzir o processo em ritmo lento

Rodrigo Rangel
Metrópoles

A operação  que mira Jair Bolsonaro e integrantes do que era o seu staff imediato amarra não apenas personagens de peso diversos, mas também várias pontas das investigações em andamento na Polícia Federal e no Supremo Tribunal Federal.

Ao final, esses inquéritos colocarão o ex-presidente como mentor intelectual e beneficiário final dos atos antidemocráticos em geral e do 8 de janeiro em particular, das malfeitorias do Gabinete do Ódio e da bisbilhotagem política da chamada “Abin paralela”.

ESTAVAM NA MIRA – A lista de alvos, que inclui o próprio Bolsonaro, obrigado pelo ministro Alexandre de Moraes a entregar seu passaporte, ex-ministros e generais de sua estrita confiança reúne os cabeças das várias frentes de ação do bolsonarismo que estão, há meses, na mira das investigações por atentar contra a democracia e as instituições, questionar o sistema eleitoral, disseminar o ódio contra adversários e críticos do governo e fazer espionagem política clandestina.

Para ficar apenas em alguns exemplos, os generais Walter Braga Netto e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, são suspeitos de agir para reverter o resultado do processo eleitoral.

Como mostrou a coluna ainda em 2022, Braga Netto era o chefão do “QG do Golpe”, a casa bancada pelo PL que tinha servido de comitê central da campanha de Bolsonaro e que, depois da derrota nas eleições, se transformou no centro nervoso das maquinações do bolsonarismo para questionar as urnas, em conexão direta com os acampamentos montados na frente dos quartéis.

OFICIAIS ENVOLVIDOS – Outros oficiais militares de alta patente que também foram visitados pela PF são apontados como partícipes, ainda que silenciosos, da trama que visava, teoricamente, um golpe militar.

Filipe Martins, o discípulo de Olavo de Carvalho que tentava ser o Steve Bannon de Bolsonaro, era um dos cérebros do Gabinete do Ódio, com assento dentro do Planalto. Anderson Torres, como se sabe, foi peça-chave nos ataques de 8 de janeiro.

Mais um exemplo: Marcelo Câmara, oficial do Exército preso, havia servido à inteligência da corporação e era tido dentro dos palácios presidenciais como o homem que organizava para Bolsonaro as informações dos dossiês que chegavam pelas mãos dos integrantes da “Abin particular” do então presidente.

CONJUNTO DA OBRA – Aí estão acumulados, repita-se, Gabinete do Ódio, atos antidemocráticos, núcleo de inteligência política e, por fim, o 8 de janeiro como fecho de todos os estratagemas, a tentativa fatal de fazer com que Bolsonaro se mantivesse, à força, no poder.

Já faz algum tempo que está batido o martelo, entre a Polícia Federal e o STF, que é Jair Bolsonaro o grande personagem por trás de toda a trama.

A ideia não é prendê-lo nem acusá-lo de imediato, mas juntar todas as pontas de modo que, ao final, ficará claro e evidente seu papel de liderança e mentoria em todos esses esquemas, confidenciaram à coluna, sob reserva, fontes diretamente ligadas às apurações.

SEM PASSAPORTE – A apreensão dos passaportes, nesta quinta-feira, é apenas um sinal e uma ação preventiva para evitar que Bolsonaro escape e saia do alcance da Justiça.

Ao menos por ora, o plano não é recorrer a uma prisão preventiva, mas submeter todos os elementos colhidos ao Supremo e aguardar que a Corte – ela própria, um dos alvos preferenciais do bolsonarismo – o julgue. O julgamento, acreditam todos, será célere.

Acredita-se, no eixo PF-STF, que até o início do segundo semestre deste ano será possível avançar para a próxima etapa da estratégia, que buscará a condenação de Bolsonaro à prisão pelo conjunto da obra.

Melhora na receita foi surpresa e pode conter ataques de Lula ao déficit zero

Imposto de Renda em charges | Acervo

Charge do Miguel Paiva (O Globo)

Vinicius Torres Freire
Folha

A arrecadação do governo federal foi muito bem, como adiantado por reportagens desta Folha. Cresceu 6,7% além da inflação, na comparação com janeiro do ano passado. Não temos os dados do crescimento da economia, do PIB, do final de 2023, e nem mesmo a estimativa mensal do Banco Central para janeiro. Mas certamente o PIB não está crescendo a 6% ao ano ou mesmo à metade desse ritmo.

Em resumo, óbvio, a receita cresceu mais do que o PIB em janeiro, assim como em dezembro. É uma recuperação recentíssima. No ano passado, a receita diminuiu em termos absolutos, ainda mais em relação ao PIB, o que contribuiu para um déficit ainda maior.

DINHEIRO NOVO – Decerto tem dinheiro novo entrando de modo mais regular, como o dos impostos sobre ricos, entre outros resultados das providências da Fazenda a fim de preencher os cofres. Mais importante, por enquanto, é o possível efeito político da (possível) melhora da arrecadação.

No final de março, o ministério de Fernando Haddad apresenta sua previsão de receitas para o ano e, talvez, planos de suspender (“contingenciar”) despesas, caso tal medida seja necessária para que se chegue à meta de déficit primário zero (receitas e despesas equilibradas, excluídos gastos com juros).

Como se sabe pelo menos desde metade do ano passado, a maior parte do ministério de Lula da Silva e o PT, para citar apenas a oposição doméstica, não queria a meta zero, ainda menos se fosse preciso conter gastos previstos no Orçamento para chegar ao objetivo.

PRESSÃO POLÍTICA – Com bons resultados na arrecadação, a pressão política sobre Haddad pode diminuir um tanto. Aumentam as chances de sobrevida da meta de déficit zero. Seria possível haver assim algum alívio adicional nas taxas básicas de juros, na Selic e no mercado, “tudo mais constante” (sem repiques na inflação, sem tumulto na finança dos países centrais etc.).

Com o fiasco da arrecadação de 2023, o problema político de Haddad ficara mais quente. Pouco se ouve falar do assunto por agora, pois a política parlamentar ainda não voltou das longas férias emendadas com o Carnaval e o ruído político de outros assuntos está grande. Mas esse é um dos três temas macroeconômicos do ano (os outros são o destino dos juros no mundo rico e o atual ritmo de cruzeiro do PIB brasileiro).

Haddad ganha tempo não apenas para empurrar para adiante a provável rediscussão da meta de déficit zero. Talvez consiga também acertar um armistício com o Congresso, que quer reaver R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares, valor talhado por um veto de Lula.

ELEIÇÃO MUNICIPAL – A pressão pelo gasto será especialmente grande até a metade do ano, quando ministros, parlamentares e políticos em geral quererão dinheiro a tempo de fazer diferença na eleição municipal. Quanto mais se puder adiar a conversa de contenção de despesa, melhor para as contas públicas.

No mais, apesar da perspectiva melhor, a receita de 2024 é incerta. Viu-se o resultado de só um mês. Janeiro, abril, julho e outubro costumam ser meses de arrecadação mais gorda. De resto, há receitas inconstantes, importantes para meta de déficit, como a de petróleo.

É preciso saber qual o efeito da contenção de compensações tributárias, dos novos métodos do Carf, da regularidade da arrecadação com novos impostos (sobre fundos e investimentos de ricos).

RECUPERAÇÃO – De qualquer modo, já houve pelo menos um bimestre de recuperação do fiasco de 2023; apareceu a oportunidade de se adiar a discussão contraproducente da revisão da meta fiscal.

Parecem miudezas de curto prazo e não é assim que se tira o futuro do país do atoleiro. Mas pode ser uma oportunidade de evitar retrocessos e aumentar as chances de um sucesso econômico discreto do governo.

Não é pouco. Abutres estão à espreita.

Piada do Ano! STF mantém o sigilo do vídeo da “agressão” a Moraes em Roma

Casal nega agressões contra filho de Alexandre de Moraes em depoimento à PF  | Portal AZ

Roberto Mantovani sai de cabeça erguida e com ficha limpa

Paolla Serra
O Globo

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram manter em sigilo o vídeo de câmeras de segurança do aeroporto de Roma, na Itália, no episódio que envolveu o ministro Alexandre de Moraes e seus familiares. Nessa sexta-feira, o voto do relator da ação, Dias Toffoli, foi seguido de Gilmar Mendes, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso.

De acordo com Toffoli, “verifica-se a ausência de interesse ou de utilidade para a persecução penal na ampla divulgação das imagens constantes na mídia encaminhada, por meio de sua publicização”.

IDENTIIFICAÇÃO – “A divulgação de imagens, fotos ou mesmo dados de pessoas suspeitas apenas se mostra fundamental na persecução penal, quando o autor do delito ainda não foi identificado ou quando se encontra foragido. Não é o caso dos autos, em que identificadas potenciais vítimas e agressores”, escreve o ministro.

Toffoli pondera ainda que as mídias contêm imagens de inúmeras pessoas, incluindo menores de idade, que em nada se relacionam com o fato sob investigação.

“Considerando este cenário, não há razão para expor envolvidos e terceiros, que aparecem nas cenas captadas, devendo-se preservar, na espécie, seus direitos à imagem e à privacidade.

EXPOR TERCEIROS – “Considerando este cenário, não há razão para expor envolvidos e terceiros, que aparecem nas cenas captadas, devendo-se preservar, na espécie, seus direitos à imagem e à privacidade. Neste momento e pelas razões deduzidas, tais imagens interessam unicamente às investigações, que devem prosseguir perante esta relatoria”, ressalta o ministro.

Cristiano Zanin também acompanhou o relator, afirmando que, neste momento, não é possível o acesso integral à mídia, mas destacou que tal entendimento é a regra no Processo Penal.

André Mendonça e Kássio Nunes Marques divergiram parcialmente de Toffoli. No despacho, os magistrados mantiveram o vídeo sob sigilo em seus votos, mas permitiram que a Procuradoria-Geral da República e a defesa dos envolvidos tenham acesso integral à gravação, permitindo a extração de cópias. Já Moraes se declarou impedido de participar do julgamento de dois recursos do inquérito.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É por essas e outras que o Supremo perde o respeito. Como confiar no saber jurídico de ministros que aprovam uma bobagem dessas? Alexandre de Moraes errou ao furar a fila da Sala Vip do Aeroporto. A família Mantovani protestou e deu-se o incidente, que não teve a menor gravidade e agora termina de forma degradante para a Justiça, após consumir preciosos recursos públicos e o trabalho de agentes e delegados que deveriam estar fazendo investigações de verdade. Nota Zero para Moraes e para o Supremo. (C.N.).

Ainda há quem não possa se dar ao luxo de repudiar as guerras contemporâneas

Muitas crianças em Gaza sofrem ataques de pânico, algumas deixaram de  falar”: diretora de agência palestiniana da ONU denuncia “catástrofe” -  Expresso

É difícil defender guerra que massacra mulheres e crianças

Luiz Felipe Pondé
Folha

O que pensar de frases como a que diz “sou contra guerras”? Claro, de cara nos lembramos do “paz e amor” da contracultura. Mas nesse caso vimos o nascimento da cultura do jovem como paradigma do mundo — um absurdo em si porque o jovem não sabe nada de nada porque acabou de chegar ao pedaço, mas a ideia vendeu bem — e, também, os hippies devem ter pegado muita mulher com esse papinho.

Fora isso, papo furado. Mas investiguemos mais a fundo a frase. Temo que ela esconda uma superioridade moral assumida da parte de quem a diz. Temos de lembrar, também, que a frase pressupõe um princípio moral de ação: como sou contra guerras, nunca as farei ou as aceitarei. Aqui aparece um primeiro problema semântico —ou seja, de significado.

ACEITAR UMA GUERRA – Fazer uma guerra, no sentido de participar dela como soldado, como população, como agente com poder de decisão, nada tem a ver com aceitá-la como ideia. Na verdade, só diz essa frase quem nunca foi obrigado a participar de uma guerra.

Ou porque, distante da guerra, pessoas “contra guerras” ganham dinheiro falando que são contra guerras. Voltemos a afirmação anterior, segundo a qual só diz “sou contra guerras” quem nunca teve de participar de fato de uma guerra —citar Gandhi não vale, ele é clichê puro na conversa.

Por isso, perceba você, caro leitor, que quem diz frases como essas normalmente está tomando vinho em um restaurante descolado, ou em casa de amigos, ou em situações em que dizê-las implica bom marketing profissional ou pessoal.

NÃO ESTÃO EXPOSTAS – Enfim, todas as situações descritas aqui implicam ambientes seguros e controlados. Grande parte dos erros cometidos por quem se posiciona a respeito de guerras vem do fato de que essas pessoas não estão expostas a guerras reais e a suas implicações próximas ou distantes.

O fato é que ninguém, fora psicopatas ou a indústria bélica e seu lobby, é “a favor de guerras”. Portanto, ser contra guerras é uma frase que não tem um oposto com significado simétrico.

Ela pressupõe que todo mundo que não afirma ser contra a guerra é a favor delas por escolha ou porque, no fundo, são psicopatas ou ganham dinheiro com elas, o que, empiricamente, seria um absurdo estatístico.

CONTINUAÇÃO DA POLÍTICA – A verdade é que a guerra nada mais é do que a continuação da geopolítica por outros meios. Você talvez reconheça a semelhança com a famosa frase do alemão Carl von Clausewitz, que diz: “A guerra nada mais é do que a continuação da política por outros meios”.

O princípio aqui é que a guerra não é uma entidade moral autônoma. Mesmo as escolhas que são feitas pelas partes em contenda são feitas sob pressão de muitos interesses e conflitos que sempre ultrapassam a óbvia segurança de luxo de quem dá o veredito “sou contra guerras” tomando vinho.

Só para citar exemplos do momento, quem acha que russos, ucranianos, israelenses e palestinos são “a favor de guerras”? Fora psicopatas, como disse aqui, as pessoas vão para a guerra —com uma enorme chance de não voltarem— não porque são a favor das guerras, mas porque naquele contexto específico não há escolha. Nunca devemos confundir motivações com escolhas livres.

LIVRE ARBÍTRIO – Aliás, se fôssemos entrar aqui em uma discussão filosófica sobre a livre escolha —ou livre arbítrio, termo famoso na filosofia e na teologia—, não chegaríamos a lugar nenhum.

Um outro fato que, penso, leva pessoas a dizer frases como “sou contra guerras” e ir dormir acreditando no que disseram é que guerras têm uma característica insuportável para épocas como a nossa, em que passamos muito tempo falando sobre o que não entendemos nas redes ou comprando coisas inúteis. Nosso mundo é um saco de bobagens atado a um bando de corações frívolos.

Uma enorme falação como modo de agir. Pura masturbação, em resumo. A guerra em si é uma realidade que não comporta muito espaço para especulações ou abstrações quando você está no meio dela. Ou você mata ou você morre, e existem ainda as várias derivações dessa condição primal. A guerra silencia as vozes e dá lugar ao ruído da coragem, do medo e da morte. Ser contra guerras é um luxo que nem todos nós temos à disposição.

Hamás foi o primeiro a aplaudir a fala de Lula, o que deveria envergonhá-lo

Frases da Semana: “O que há em Gaza existiu quando Hitler matou judeu”

A capacidade de Lula dizer idiotices é impressionante

Demétrio Magnoli
Folha

Lula inscreveu-se – e inscreveu o Brasil – no discurso do antissemitismo. Mauro Vieira e Celso Amorim tentam convencer-nos de que falou por falar, quase de brincadeira. Tornamo-nos ridículos e, ao mesmo tempo, indecentes.

O antissemitismo contemporâneo divide-se em duas etapas, separadas pela fundação de Israel. Antes dela, sua senha era a dos Protocolos dos Sábios do Sião: os judeus organizam uma conspiração multigeracional para dominar o mundo, a partir do controle sobre o sistema financeiro. Essa conversa não acabou, mas reduziu-se a um ruído de fundo. Depois da fundação do Estado judeu, a senha clássica do antissemitismo é a repetida por Lula.

IMITANDO HITLER – A senha clássica é que o Estado judeu imita Hitler. Finalidade política da mensagem: lançar sobre Israel a maldição da ilegitimidade. Assim como o Reich nazista precisava ser eliminado, Israel deve desaparecer.

Os Estados, quase sem exceção, deixam no seu caminho um rastro de violências. O que a Austrália fez com os aborígenes? Os EUA ou o Brasil com os indígenas? A França com os cátaros? O Zimbábue com os ndebele? Singularizar Israel, pela via da identificação com o nazismo, o mal absoluto, nada tem a ver com indignação moral.

O nome do procedimento é antissemitismo, que emerge em retóricas explícitas (é dever dos árabes exterminar todos os judeus, segundo a Carta do Hamas) ou disfarçadas (“sou antissionista, não antissemita”). O Hamas foi o primeiro a aplaudir a declaração de Lula, o que deveria envergonhá-lo.

PARALELO IGNÓBIL – Lula forneceu um cilindro de oxigênio a Netanyahu, propiciando-lhe expressar a repulsa de todos os judeus, em Israel e fora dele, ao paralelo ignóbil. Ofereceu um discurso ao bolsonarismo, no exato momento em que a Justiça o encurrala.

Esvaziou nossa diplomacia de credibilidade. Tornou letra morta nossas necessárias condenações dos abusos e crimes contra civis palestinos cometidos por Israel na sua guerra contra o Hamas: afinal, quem liga para o discurso de santarrões antissemitas?

Nesse caso, porém, isso tudo é irrelevante, porque concerne ao cálculo pragmático de perdas e ganhos. O verdadeiramente trágico é o que a declaração de Lula fala sobre nós, como nação. Nós – como nação – somos capazes de brincar de antissemitismo. Somos obscenos, portanto.

NÃO LEVA A SÉRIO – Por que uso a palavra “brincar”? Porque Lula não parece levar a sério o que diz.

Se, como afirmou, Israel age com os palestinos da mesma forma que Hitler agiu com os judeus, o mínimo que se precisa fazer é romper relações diplomáticas com o Estado devotado a reeditar o Holocausto. E isso como intróito a um chamado às nações civilizadas para uma guerra total contra o novo Hitler. Mas Lula não pensava em nada desse tipo. Pretendia, exclusivamente, fazer barulho –e surpreendeu-se com a reação de Israel.

“Oh, horror!, Israel humilhou nosso embaixador”, segundo o pobre Vieira. “Não passam de amadores diplomáticos, esses israelenses que escalam a crise”, segundo Amorim, um profissional da diplomacia ideológica.

SEM PROTESTAR – Por que eles fazem tempestade no copo d’água de uma equivalência inocente entre o Estado judeu e o Estado que aniquilou os judeus? Por que não retrucaram com uma notinha anódina de protesto?

De fato, um e outro imploram, quase de joelhos, que não se leve a sério as palavras de Lula. Vida que segue, entre países amigos, o Brasil democrático e o Reich israelense – eis a mensagem dos dois foliões que comandam nossa diplomacia. O Itamaraty, mal recuperado do vandalismo bolsonarista, afunda novamente sob o peso do vandalismo lulista.

“Mantenha sua posição”, aconselhou Amorim a Lula, afastando a hipótese de retratação. Note-se, aí, que o conselheiro não qualificou a declaração do presidente como verdadeira. A “posição” deve ser mantida por uma curiosa razão de honra pessoal – e às custas de enlamear o país inteiro. É que, para eles, a verdade não importa.

Desvios de caráter e quebras da hierarquia são características do governo de Bolsonaro

C*gão', 'traidor da pátria': Braga Netto atacou militares que rejeitaram  plano golpista; veja prints

Braga Netto fazia o serviço sujo para Jair Bolsonaro

Merval Pereira
O Globo

Poucas vezes a face humana de uma crise política ficou tão revelada quanto na participação dos militares na comissão que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) montou para acompanhar a votação nas urnas eletrônicas na eleição de 2022. De um lado, o presidente do TSE, ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, mostra-se “decepcionado” com a constatação da má-fé com que os militares usaram a chance de colaborar com as autoridades, garantindo uma eleição fora de dúvidas razoáveis sobre sua honestidade.

Do outro, um presidente da República que, se aproveitando do momento, colocou todo o seu esforço para demonstrar que a eleição era manipulada por forças políticas para eleger seu adversário.

FRIEZA ASSUSTADORA – A fala de Bolsonaro na reunião ministerial em que um golpe de Estado foi discutido — diante do silêncio dos inocentes de sempre — é de uma frieza assustadora.

O que era uma oferta de colaboração foi visto como erro primário de um adversário desprezível pela fraqueza de estender a mão.

— Será que eles esqueceram que eu sou o comandante em chefe das Forças Armadas? — perguntou, incrédulo, aquele que se classificou como “um fodido, um deputado do baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma porra de um deputado”.

A oposição de modo de pensar entre os dois — um acreditando que o comandante em chefe das Forças Armadas atuaria de boa-fé, o outro zombando do republicanismo ingênuo — mostra bem o terreno em que a disputa era jogada. Pelas investigações em curso, já se sabe que não foi encontrado nenhum indício de fraude em nenhum momento, o que é formalmente lamentado pelo ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.

SEM HIERARQUIA – O mesmo Cid, que também lamentou que os militares estivessem “muito disciplinados” para aceitar comandos golpistas. Os comentários dele, por sinal, indicam que naquele período não havia mais hierarquia. As conversas entre o ajudante de ordens e generais quatro estrelas como Braga Netto mostram um nivelamento por baixo de funções e linguagem que impedem o respeito à hierarquia militar.

A começar pela própria filmagem da reunião ministerial, feita por Cid sob ordem de Bolsonaro sem que seus participantes soubessem. Quando um deles perguntou se a reunião era filmada, o próprio presidente disse que não, que autorizara apenas a filmagem de suas intervenções para possível uso posterior.

Na verdade, Cid atuava como pau-mandado de Bolsonaro, superando todos aqueles militares acima de sua patente presentes à reunião.

CADEIA DE COMANDO – Mas nenhum deles estava mais preocupado com essa questão básica da disciplina militar, pois havia muito aceitavam que o ajudante de ordens comandasse as reuniões. Quando um general manda outro usar as redes sociais para falar mal de seus companheiros, está quebrada a cadeia de comando.

Quando usa linguagem de botequim para definir um adversário militar como “petista desde criancinha”, está dada a partida para a anarquia tomar conta das relações militares.

O próprio presidente, “chefe supremo das Forças Armadas”, tratou de quebrar essas regras básicas quando constrangeu militares para que parecessem estar ao seu lado. Foi o que aconteceu com o então ministro da Defesa, Fernando Azevedoe Silva, levado por Bolsonaro para sobrevoar uma manifestação contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Arrependeu-se depois, mas não formalmente.

EXEMPLO DOS EUA – Nos Estados Unidos, o então presidente Trump fez o mesmo com o chefe do Estado-Maior, o general Mark Milley, levando-o a participar de uma caminhada próxima à Casa Branca enquanto manifestantes protestavam contra ele. O general, mais tarde, pediu desculpas:

— Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção dos militares na política interna. Eu não deveria ter estado lá.

Por isso a posição do presidente do Superior Tribunal Militar, tenente-brigadeiro do ar Joseli Camelo, defendendo que a Justiça Militar trata de “crimes militares”, e não de “crimes de militares”, é fundamental para retirar do julgamento dos militares envolvidos na sedição a pecha de compromisso corporativo.

Após o julgamento, falta o veredito que evite a extradição de Assange 

Assange went beyond journalism and should face espionage charges in the U.S., government lawyers say | PBS NewsHour

Fundador do WikiLeaks poderá pegar175 anos de prisão

Deu no Portal Terra

O Tribunal Superior de Justiça de Londres encerrou nesta quarta-feira (21) a última audiência sobre o recurso final de defesa de Julian Assange, jornalista australiano e cofundador do WikiLeaks.

Ele tenta escapar da extradição para os Estados Unidos, onde é acusado de 18 crimes ligados à divulgação de milhares de documentos secretos sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque.

O veredito ainda não foi emitido e a expectativa é de que isso ocorra em alguns dias. Na prática, no entanto, não há um prazo, e algumas sentenças são proferidas depois de anos.

INTENSO DEBATE – A audiência foi marcada por um intenso debate entre os advogados do ativista, Edward Fitzgerald e Mark Summers, e a encarregada de representar as autoridades dos EUA, Clair Dobbin.

A defesa de Assange diz que o país processa seu cliente por motivos políticos, e fala em uma conspiração para matá-lo.

Já a representante da Justiça americana afirma que a ação é baseada em provas, incluindo sobre atividades de recrutar hackers e encorajar informantes a revelar dados confidenciais.

SAÚDE PRECÁRIA – Julian Assange não compareceu ao julgamento. Ele também não havia ido à abertura dos trabalhos, na última terça (20).

Em publicação no X (antigo Twitter), o WikiLeaks disse que a ausência se deve às “precárias condições de saúde” do ativista, que está encarcerado na penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, em Londres.

Se for condenado nos Estados Unidos, o ativista pode pegar até 175 anos de prisão, em um caso definido por seus advogados como “perseguição política”. Em caso de derrota na Alta Corte de Londres, restaria ao australiano apenas o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, do qual o Reino Unido é membro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Essa reportagem enviada por José Guilherme Schossland mostra que o australiano Julian Assange é a demonstração viva de que não existe democracia no mundo. Quando a gente diz que vivemos sob o signo da liberdade, na verdade estamos dizendo que nos comportamos como se estivéssemos sob o signo da liberdade, mas isso ainda é uma utopia. Liberdade para Assange, ainda que tardia! (C.N.)

Como disse ao PT, dias atrás, Lula acha (?)  que alcançou um grau de ‘transcendência’

Palestinos comemoram a libertação de presos sacudindo bandeiras do Hamas

Crianças palestinas numa reunião promovida pelo Hamás

José Casado
Veja

Um ano atrás, Lula reinaugurou a sua diplomacia de espetáculo com um cerimonial de Estado em homenagem ao representante da cleptocracia venezuelana, o ditador Nicolás Maduro. No último domingo (18/2), quando voltava da Etiópia, recebeu um elogio público do grupo terrorista Hamas ao espetáculo da sua diplomacia.

Entre esses dois fatos, passou-se um ano de governo e aconteceram coisas assim:

* Lula se voluntariou à construção da paz global. Primeiro, na guerra da Rússia contra a Ucrânia. Depois, na guerra de Israel contra o Hamas. Deu tudo errado.

* Convocou o “Consenso de Brasília”, e apresentou-se à liderança da integração da América do Sul. Não conseguiu apoio dos líderes sul-americanos. E ainda ouviu críticas públicas do liberal uruguaio Luis Lacalle Pou e do socialista chileno Gabriel Boric ao seu flerte permanente com ditaduras da região (Venezuela, Nicarágua e Cuba).

* Precisou do veto do presidente francês Emmanuel Macron para presidente francês Emmanuel Macron para deixar na geladeira o acordo do Mercosul com a União Europeia, que dividia o seu governo.

* Atropelou-se na campanha eleitoral da Argentina. Fez interferências indevidas —até com equipe de propaganda vinculada ao PT — a favor do candidato peronista. Já havia feito coisa parecida no Peru, na Bolívia e na Venezuela nos dois primeiros governos. Dessa vez, deu errado. A oposição antiperonista venceu na Argentina.

* O apoio à cleptocracia venezuelana revelou-se contraproducente. Lula frustrou-se com a ameaça da ditadura de Nicolás Maduro de invadir a Guiana para tomar reservas de petróleo. Resultado: o Brasil agora assiste a uma célere expansão dos interesses dos Estados Unidos na fronteira norte, com a Guiana transformada em “zona militar”.

* Esboçou um salto de qualidade na política externa com a atração da Conferência do Clima das Nações Unidas para Belém, em novembro do próximo ano. São realistas as possibilidades de êxito, até pelo abalo da política ambiental europeia com a ofensiva do agronegócio regional. No entanto, Lula relativiza a chance de sucesso com a própria indecisão sobre abertura da bacia do Amazonas à Petrobras para exploração de petróleo.

CHEGOU O SALVADOR – Nesse último ano, Lula se voluntariou para salvar a paz, o mundo, a América do Sul, o Mercosul e a Amazônia.  Agora, vai comandar a reunião dos países industrializados, o G20.

Dias atrás, ele ampliou a lista de tarefas para incluir o PT, que ajudou a fundar há 44 anos: “Eu quero salvar esse partido”, disse a uma plateia de dirigentes em São Paulo. Não explicou se quer “salvar” o PT dos erros cometidos por ele ou pelos petistas. Como no PT existe o dogma da infalibilidade de Lula, a culpa tende a ser socializada.

Deixou claro, nessa reunião, que alcançou um estágio de “transcendência”, no qual vê, pensa e fala o que quer, não importa o que outros achem: “Não é possível eu ter nascido onde eu nasci, não é possível eu só ter comido pão depois dos sete anos de idade e ser eleito três vezes presidente da República deste país. Alguma coisa transcende a minha competência.”

VAIDADE TOTAL – Acrescentou: “Que me perdoem. Quem tiver raiva de mim pode falar. Eu já tenho 78 anos, já sou presidente pela terceira vez, eu já fiz mais do que eu imaginei que poderia fazer…”

Contou uma história para mostrar como vê, pensa e age: “Eu tinha seis meses de governo, em 2003. Fui convidado pela primeira vez para uma reunião do G7. Do G7 participam os sete país mais ricos do mundo, liderados pelos EUA, pelo Japão, pela Alemanha, pela França, pela Itália. Eu cheguei na cidade francesa de Evian, primeira vez que o Brasil era convidado. E eu, um peão de fábrica, um torneiro mecânico, sabe, sem dedo, e com vocabulário muito pequeno, porque eu acho que meu vocabulário não deve ter três mil palavras.”

“Eu tô lá e eu olho pelo vidro, tá o [então presidente americano George] Bush, tá o [presidente francês Jacques] Chirac, tá Angela Merkel, tá o rei da Arábia Saudita, tá não sei quem” — prosseguiu. “Eu falei: ‘Pô, o que que eu vou fazer aí? Eu não falo inglês, eu não falo espanhol, eu mal falo português…’ E não podia entrar intérprete. Eu falei: ‘O que que eu vou [dizer ao] entrar lá dentro?’. Aí, eu fiquei pensando… Olhei a cara do [primeiro-ministro britânico] Tony Blayr, todo bonitão, falando… Eu fiquei pensando”.

ERA A DIFERENÇA -“Qual desses ‘cara’ já passou fome? Qual desses cara já ficou desempregado? Qual desses ‘cara’ já teve a casa cheia d’água [numa enchente], 1,5m de água dentro de casa? Qual desses ‘cara’ já ficou um ano e meio desempregado? Qual desses ‘cara’ sabe o que é comer a marmita a semana inteira só com um ovo branco, um ovo gelado?’ Ninguém. ‘Quem é, deles, que já foi pro chão de fábrica?’ Ninguém. Eu falei: ‘Eu fui. Então, eu não quero falar o que eles falam. Eu quero falar o que eu acho que eles têm que aprender, porque eu era a diferença política.”

Nessa reunião do G7, Lula descobriu a diplomacia do espetáculo. Era “a diferença” política na época e, por isso, encarnava a novidade de aspirante a alguma influência no jogo de poder global.

Duas décadas depois, Lula pode dizer que já garantiu um elogio público do grupo terrorista Hamas ao seu espetáculo de “transcendência” na diplomacia.

Bolsonaristas precisam entender que a recusa em depor é altamente negativa

Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto