Na última hora, aprovaram a reforma tributária, mas beneficiaram fabricantes de armas

Jean Wyllys - Ao contrário do que poderia pensar um eleitor desavisado, a  Bancada BBB no Congresso Nacional nada tem a ver com o reality show Big  Brother Brasil, programa do qual

Charge do Junião (Arquivo Google)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Foi numa confraternização a dias do Natal, mas não exatamente natalina, que o presidente Lula abriu os cofres do governo e o presidente da Câmara, Arthur Lira, destravou a pauta econômica aos 45 minutos do segundo tempo, antes do início do recesso parlamentar. Enquanto os dois fechavam a contabilidade política, os relatores e líderes no Congresso ajustavam o texto da reforma tributária, finalmente aprovada após décadas de debates vazios.

Venceram Lula, Lira, Rodrigo Pacheco e os dois relatores, Eduardo Braga, no Senado, e Aguinaldo Ribeiro, na Câmara, mas os mais aliviados eram o mentor intelectual da reforma, Bernardo Appy, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que passou poucas e boas, mas encerra o ano com a vitória da reforma tributária e da joia da coroa do seu plano de arrecadação: a revisão dos incentivos de empresas via ICMS, com previsão de receita de R$ 35 bilhões. O saldo é positivo no Congresso, como na própria economia.

AVANÇO HISTÓRICO – A reforma pode não ser a ideal, o que é um debate para economistas e setores atingidos, mas foi a politicamente possível e é um avanço histórico em relação ao emaranhado de impostos, taxas e contribuições que ninguém entende e, principalmente, ninguém gosta. Agora, vem a regulamentação, a definição de alíquotas dos novos impostos e o chororô dos setores que se sentem prejudicados. Faz parte.

Os efeitos são a simplificação, maior transparência na cobrança, mais justiça entre pobres e muito ricos e atração de empresas estrangeiras, que sempre se ressentiram da loucura tributária do Brasil e dos gastos extras com contabilidade e equipes jurídicas para, primeiro, entender e, depois, lutar contra algo tão confuso, complexo e desanimador

A péssima notícia foi no último minuto: as armas foram retiradas da lista de “impostos seletivos”, ou “do pecado”, com alíquotas maiores, agora, só para produtos danosos à saúde e ao ambiente e extrativos (combustíveis e mineração).

ÚLTIMA SEMANA – Pense bem: qual o setor mais nocivo deles, o que efetivamente mata? Mas… quem pode pode. E a “bancada da bala” pode. Assim como a “bancada do boi”, ou da agricultura, que comanda as tropas do Congresso contra Supremo e governo pelo marco temporal das terras indígenas.

Nesta última semana parlamentar de 2023, a pauta também vai ser quente. O Congresso promulga a reforma tributária, que dispensa sanção presidencial, e Haddad buscará no Supremo uma liminar para ganhar tempo e negociar com os líderes a desoneração da folha de pagamento, com a reoneração gradual em até cinco anos. O ano está acabando, mas não acabou, e é bom ficar de olho, para jabuti não subir em árvore.

Dino tem a missão impossível de tornar o Supremo pior do que já é atualmente

Dino diz ter projeção 'promissora' de votos para ser aprovado ao STF | O TEMPO

Por mais que se esforce, Dino não vai piorar o Supremo

J.R. Guzzo
Estadão

O novo ministro Flavio Dino tem diante de si, possivelmente, a tarefa mais difícil da sua vida: fazer o Supremo Tribunal Federal ficar pior do que já é. Não é impossível, dentro do entendimento geral de que tudo que existe dentro do universo sempre pode piorar. E credenciais para enfrentar esse desafio o ministro certamente tem.

Foi governador do Maranhão durante oito anos seguidos, e deixou o seu Estado como o mais miserável do país – as dez cidades com o pior IDH do Brasil ficam ali. O Maranhã está entre os mais atrasados do Nordeste em quase tudo: educação, saúde, água encanada, esgoto.

NINGUÉM SE IGUALA – No governo Lula, Dino é o pior ministro, em termos de resultados, coisa que não é fácil para ninguém. Foi nulo, especialmente, na obrigação de combater o crime e dar mais segurança aos cidadãos. É um campeão da ideia de que liberdade é assunto a ser tratado pela Polícia Federal.

Ainda assim, vai ser duro. Quem conseguiria fazer no STF um trabalho de destruição das leis, da moral e dos direitos humanos mais perverso que o inquérito sem fim contra os “atos antidemocráticos”? Há réus primários presos há quase um ano sem culpa formada, sem julgamento e sem direito pleno à defesa legal.

 Advogados têm de mandar suas peças de sustentação oral por vídeo – sem ter a menor ideia se alguém vai ver ou ouvir o que gravaram.

FIM DO MUNDO” – Nesse inquérito podem entrar todos e quaisquer crimes cometidos no Brasil, no mundo e no sistema solar; há de tudo ali, de bloqueio da conta bancária de uma garota de 15 anos, suspeita de “lavar dinheiro” para ajudar o pai exilado, a um bate-boca envolvendo o ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma.

O inquérito do “fim do mundo” transformou o mais alto tribunal de justiça da República numa delegacia de polícia que apreende celulares, revista automóveis e executa ordens ilegais. É o DOPS da “democracia”.

O ministro Gilmar Mendes chamou os senadores de “pigmeus morais”, por terem tomado uma decisão que ele não gostou. O que Flavio Dino pode dizer de pior?

“FLAGRANTE PERPÉTUO” – O ministro Moraes, que já tinha criado o assombroso “flagrante perpétuo”, acaba de criar o foro privilegiado para a primeira-dama. Ela se queixou da invasão de seu perfil no antigo Twitter, coisa que talvez valesse um B.O. na delegacia do bairro.

Moraes, de imediato, chamou o caso para o Supremo, tocou a Polícia Federal em cima dos suspeitos – e tudo o que conseguiram foi a humilhação pública de deter um menor de idade na periferia mais pobre de Brasília.

O problema do STF não é Flavio Dino. É o próprio STF. Como observou o Estadão em editorial, quem estava em julgamento na sabatina do Senado não era Dino. Era a Corte constitucional.

A ideia de “agenda vitoriosa” é descabida; as críticas do PT aos parceiros, também…

PT aprova documento com críticas ao Centrão e ao 'austerício fiscal'

Gleisi criticou duramente o Centrão e Lula ouviu calado

Marcus André Melo
Folha

Na conferência eleitoral do PT a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, defendeu uma proposta na qual se afirma que “as forças conservadoras e fisiológicas do chamado Centrão, fortalecido pela absurda norma do orçamento impositivo num regime presidencialista, exercem influência desmedida sobre o Legislativo e o Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política vitoriosa na eleição presidencial”.

Aqui o confronto Executivo-Legislativo poderia sugerir uma questão de legitimidade dual (ambos os Poderes são eleitos) em regimes presidenciais à la Juan Linz. Mas se trata, na realidade, de ideias fora de lugar.

COMPOSIÇÃO – O PT tem 68 deputados, meros 13% da Câmara. O PC do B e o PV, de sua coligação, agregam 2%. Juntos, os blocos liderados pelo União Brasil e Republicanos detêm 196 parlamentares, ou 38% da Câmara. A oposição — PL e Novo— conta com 99 deputados.

A referência à “agenda vitoriosa” na eleição presidencial é estapafúrdia. O pleito presidencial foi uma disputa de rejeições, não um confronto programático. E sequer foi formada uma frente ampla.

O argumento de que Lula recebeu mandato para implementar uma agenda é uma miragem majoritária em um contexto hiperfragmentado, em que o PT é francamente minoritário. O programa do partido ou da frente sequer apareceu durante a campanha.

ATAQUE AOS PARCEIROS – Causa espécie também o ataque aos parceiros da coalizão de governo vindo da presidente de um partido hiperminoritário. O PT tem governado com coalizões a contragosto. Depende delas, mas não as inclui plenamente nos governos.

Em Lula 1, o mensalão foi uma forma de compensar a sub-representação dos membros da coalizão nos ministérios, como escrevi aqui.

Sob Lula 3, a realidade hiperminoritária acabou se impondo. Mesmo assim a prática hegemônica do partido permanece. Suas principais consequências são os malogros legislativos do governo.

ORÇAMENTO IMPOSITIVO – A referência a uma supostamente absurda norma do orçamento impositivo no presidencialismo é também esdrúxula, ignora a experiência de países como os EUA ou o semipresidencialismo francês.

Nos EUA, o orçamento é globalmente impositivo. Suas práticas orçamentárias constituíram-se em modelo histórico sob democracias. O que é absurdo é a ausência de qualquer referência programática na formação de governos, como escrevi aqui.

A oportunidade das declarações de Gleisi merece comentário adicional: na semana em que vetos presidenciais cruciais foram derrubados, às vésperas da aprovação da reforma tributária por 365 votos a favor e 118 contra (quórum avassalador que veio majoritariamente do centrão), o contraste sugere que a reforma reflete não a agenda do PT, mas uma agenda suprapartidária.

Haddad mostra ser o melhor ministro, mas tem pouco tempo para comemorar

Haddad planeja medidas após Congresso desidratar projetos

Haddad está enfrentando fogo amigo do PT e de Lula

Renata Agostini
Estadão

Chegamos aos últimos dias do ano e parece razoavelmente seguro dizer que Fernando Haddad foi o melhor que o governo produziu até o momento. É até possível argumentar que a concorrência na Esplanada não esteve assim tão acirrada, mas é indisputável o diagnóstico de que Haddad triunfou.

O ministro, que assumiu a Fazenda sob olhar cético do mundo político e com o nariz torcido dos investidores, se aproxima do fim de seu primeiro ano à frente da equipe econômica tendo cumprido praticamente tudo o que se dispôs a fazer.

BONS RESULTADOS – A lista não era tacanha. Haddad apresentou e aprovou o “novo arcabouço fiscal”, enterrando o teto de gastos tão criticado pelo PT e pela esquerda; mudou o formato da meta de inflação enquanto segurou na unha a meta fiscal de 2024; negociou com o Congresso aumento de tributos dos “super-ricos”, das grandes empresas com benefícios nos Estados, dos sites de apostas esportivas. Por fim, articulou e ajudou a selar a reforma tributária, que vinha sendo negociada há 30 anos.

Haddad vai poder dizer que entrega a economia ao fim de dezembro com crescimento acima do projetado no início do ano, inflação sob controle, juros em queda e confiança renovada das agências de risco, que elevaram a nota do País.

É uma lista admirável de feitos. Mas ela torna-se especialmente vistosa considerando que o ministro teve de chamar para si em diversos momentos o papel de articulador político, desviar dos muitos petardos de seu partido, entrar em disputa com colegas de Esplanada e convencer o próprio chefe a não desistir de seu plano.

E O FUTURO? – O ministro sai, portanto, fortalecido para as disputas que virão em 2024. Sim, porque elas chegarão. O que se desenha para o próximo ano é uma economia avançando pouco — ou andando de lado — e uma pressão crescente por gastos não só do Congresso, mas também do Palácio do Planalto. Lula não quer saber de cortar despesas, especialmente em ano eleitoral.

Junte-se a isso notórias fragilidades do “plano Haddad”, que será colocado sob forte teste em 2024. A manutenção do compromisso de “déficit zero” só foi possível após uma interpretação da Fazenda de que o novo arcabouço abre espaço para aumento de gastos mesmo se a meta fiscal estiver sob risco.

Os projetos aprovados no Congresso, que dão sustentação às metas de arrecadação, foram todos desidratados e, mesmo assim, a Fazenda não reviu de forma significativa o cálculo sobre o que devem produzir de receitas.

DÍVIDA EXPLOSIVA – Importante lembrar que, neste ano, apesar do desempenho espetacular do agronegócio e do PIB crescendo acima do imaginado, a equipe econômica teve de rever a projeção de rombo nas contas públicas. Sairemos, assim, de um superávit no último ano do governo Jair Bolsonaro — o primeiro, aliás, em oito anos — para um déficit de quase R$ 200 bilhões em 2023. Ou seja, a trajetória da dívida pública vai seguir embicando para cima.

Haddad teve um ano de acertos. Vai poder bater no peito e dizer que, até agora, entregou o prometido. Resta  saber, no entanto, se o prometido é suficiente para o País. Para investidores e para gente graúda que acompanha as contas públicas, o plano de Haddad segue capenga e não vai dar conta de entregar o ajuste fiscal necessário.

Para o PT, o plano concede demais ao mercado e não vai dar conta de responder aos problemas sociais do País — e aos anseios eleitorais do partido. Haddad tem motivos de júbilo. Mas terá pouco tempo para comemorações.

Braskem/Odebrecht pode lucrar três vezes com desastre ambiental em Alagoas

Um soneto de Machado de Assis indagava: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Frases de Machado de Assis... - Frases de Machado de AssisPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), no “Soneto de Natal”, faz uma reflexão sobre o ato de criação artística.

SONETO DE NATAL
Machado de Assis

Um homem – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações de sua idade antiga
Naquela mesma velha noite amiga
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Amizade de Moro e Dino traz esperanças de uma política mais limpa e racional

O abraço de Moro e Dino

Flávio Dino recebeu Moro com abraços e afagos na sabatina

Carlos Newton

É preciso sem respeitar a opinião alheia, quando é fruto de boa fé. Como ou sem polarização, não existe alternativa política – o único rumo a tomar é a defesa intransigente da democracia. Mas esse posicionamento não nos obriga a aceitar os exageros do Supremo, que deveria ser exemplar, sempre cumprindo a lei de forma rigorosa. Infelizmente, porém, não é isso que vem ocorrendo desde 2019, quando o STF soltou Lula, num placar apertado, de 6 a 5.

Como diria Leonel Brizola, o Supremo (leia-se: STF e TSE) vem costeando o alambrado da democracia, em busca de brechas inexistentes. Foi assim na decisão que descondenou Lula, assim como no julgamento da suposta parcialidade do então juiz Sérgio Moro e também na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, por ter realizado uma reunião exatamente igual à que fora realizada pelo então presidente do TSE, Edson Fachin, que em 2020 convocara o corpo diplomático para se queixar do presidente.

EM NOME DA LEI – Ao examinar essas decisões do Supremo e do TSE, qualquer estudante de Direito percebe que as leis estão sendo interpretadas e adaptadas à necessidade dos ministros. Foi assim com a “incompetência territorial absoluta” que permitiu a candidatura de Lula, pois trata-se de norma jurídica somente aplicada em questões imobiliárias, nada a ver com os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro que levaram Lula a passar férias numa colônia penal, igual ao Charles Anjo 45 criado por Jorge Benjor.

Esses julgamentos parciais são feitos em nome da lei e da defesa da democracia, embora sejam vexaminosos, como a cassação do deputado Deltan Dallagnol por “presunção de culpa”, um tipo  jurídico inexistente no Direito Universal.

Os ministros do STF se vangloriam desses feitos, dizem que salvaram a democracia, evitaram o golpe militar e tudo mais. Sinceramente, eu teria vergonha de votar assim, mas cada um deve agir de acordo com sua consciência.

TERRORISTAS EM SÉRIE – Também é reprovável a fabricação de terroristas em série, transformando em bárbaros selvagens todos os manifestantes de 8 de Janeiro, quando se sabe que a grande maioria deles não quebrou uma só lâmpada. E jamais poderiam estar sendo julgados pelo Supremo, não é isso que diz a lei. Estão sendo condenados apenas pela presença no local, sem provas de vandalismo, compondo uma barbárie judicial, desculpem a franqueza, às vésperas do famoso Indulto do Natal, que solta tabto criminoso de verdade.

Por tudo isso, achei altamente democrático o encontro festivo entre os ex-juízes Flávio Dino e Sérgio Moro. São amigos há 23 anos, desde a época em que Dino foi eleito presidente da poderosa Associação Nacional dos Juízes Federais.

Por que Dino e Moro teriam de se tornar inimigos devido a divergências ideológicas? Ora, a confraternização deles é altamente democrática – são apenas adversários, não precisam ser inimigos. É uma lição de política que estão dando ao país, mas parece que ninguém quer aprender nada.

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P.S.
Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Afonso Arinos e Itamar Franco também agiam assim com os adversários, sem considerá-los inimigos e sempre procurando o diálogo. Mas quem se interessa? (C.N.)

Por que a direita e a esquerda são incapazes de promover a segurança pública?

Confira a charge de Jota A publicada nesta sexta-feira no Jornal O Dia -  Jota A! - Portal O Dia

Charge do Jota A (O Dia/PI)

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Vejo no WhatsApp um vídeo de linchamento em Copacabana. São homens e mulheres, jovens e idosos, brancos, mestiços e negros —uma multidão— surrando um jovem negro que tenta fugir desesperado. O vídeo não traz contexto, mas é de se supor que o sujeito tenha sido pego roubando. É uma cena bárbara.

Jamais defenderei a formação de grupos de justiceiros, mas alguém acha que a população ficará passiva apenas assistindo vizinhos, amigos e familiares vitimados pelo crime violento sem fazer nada, enquanto o Estado negligencia sua atribuição mais elementar?

SEM ALTERNATIVA – Está corretíssimo quem aponta os problemas desse tipo de iniciativa. Fácil, fácil ela pode se transformar em mais uma milícia do crime organizado. O único jeito, contudo, de impedi-la é apresentar a alternativa: o Estado mostrar-se eficaz contra assaltos e arrastões.

Se a polícia agora vier investigar e prender os responsáveis pelos grupos de justiceiros, enquanto continua a não fazer nada contra os assaltantes, estará apenas aprofundando o completo sentimento de abandono —e a indignação— do povo.

A humanidade não consegue entrar em acordo quanto ao sumo bem. Mas podemos, sim, nos unir para evitar aquilo que todos concordamos ser o sumo mal: a morte violenta, nossa ou de nossos entes queridos. Essa é a base do contrato social e da fundação do Estado, ao menos segundo Hobbes. Vivemos, portanto, a falência do contrato social em diversas cidades brasileiras: o medo da morte violenta é cotidiano.

CAIU NO COMUM – Os furtos em Copacabana aumentaram 56% de janeiro a outubro de 2023 se comparados ao mesmo período de 2022. Já as prisões caíram 11%. Com a onipresença das câmeras, em postes, muros e celulares, hoje vemos muito mais do que no passado. Assaltos, arrastões, furtos. Uma jornalista da Rede Globo sofreu tentativa de furto do celular durante transmissão em São Paulo. Poucos dias depois, a deputada federal Tabata Amaral foi vítima de tentativa de assalto também em São Paulo.

Na direita, a resposta mais fácil é culpar Lula. Um discurso fácil, que se esquece de que quem cuida da segurança pública são principalmente governo do estado e prefeitura. No entanto a acusação tem seu fundinho de verdade em outro sentido: a esquerda é um vazio de propostas no tema da segurança.

Quando falam de polícia e prisão, a única preocupação é garantir os direitos humanos dos presos. Isso é louvável, mas por que não se preocupar também com os direitos humanos das vítimas presentes e futuras? A proteção desses depende do uso da violência contra os criminosos que as atacam.

CAUSAS SOCIAIS – Há muito discurso sobre as causas sociais do crime, mas nada sobre como enfrentá-lo agora. Não adianta propor medidas de prevenção contra incêndio quando o prédio já está pegando fogo.

Ter presos em flagrante liberados por audiência de custódia ou, depois de pouco tempo presos, em regime de progressão de pena é um desrespeito a quem segue a lei. Precisamos de mais policiamento, de uma Justiça mais dura com quem comete furtos e assaltos e, possivelmente, de mais presídios.

Há tanta filmagem de criminosos nas ruas; como é que isso não resulta em investigação e prisões? Há bastante trabalho para as três esferas do Executivo e do Legislativo. A violência sempre irá existir; a única escolha é se ela será monopólio do Estado ou se será terceirizada para os cidadãos, jogando-nos para a guerra de todos contra todos. Só existem essas duas opções, e não há discurso idealista que apague essa realidade.

Projeto do fim da reeleição tem “uma girafa aritmética” e deve ser mudado

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do J.Caesar (Veja)

Elio Gaspari
Globo/Folha

A boa notícia de 2024 surgiu no fim de 2023. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pretende colocar o fim da reeleição na pauta durante o primeiro semestre. Ele acredita que a emenda constitucional será aprovada. Pacheco, como muita gente, acredita que o instituto da reeleição é um dos maiores males da política brasileira.

Mesmo que a PEC seja aprovada, os eleitos de 2022 ainda poderão disputar um novo mandato. A reeleição dos presidentes, governadores e prefeitos foi uma novidade instituída em 1997. Nas palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu inspirador e imediato beneficiário, deu errado.

MANDATO MAIOR – A PEC de autoria do senador Jorge Kajuru (PSB-GO) aumenta os mandatos para cargos executivos de quatro para cinco anos. A ideia é boa, mas contém uma girafa aritmética, desalinhando os mandatos.

O presidente seria eleito a cada cinco anos (2026, 2031, 2036…). Os senadores e os deputados continuariam com mandatos de oito ou quatro anos, e as eleições aconteceriam em 2026, 2030 e 2034.

Com o desalinhamento, o presidente eleito em 2031 teria que conviver por três anos com uma Câmara eleita um ano antes. Perigo à vista: o desalinhamento é uma girafa, mas não é veneno. Para evitá-lo, pode surgir a ideia de extensão dos mandatos de governadores, deputados e senadores para cinco e dez anos.

FÁVARO NA FRIGIDEIRA – Se Lula vier a mexer no ministério, o senador Carlos Fávaro deverá deixar a pasta da Agricultura, e ele percebeu isso.

Na quinta-feira, tendo reassumido sua cadeira para aprovar a indicação de Flávio Dino, Fávaro votou a favor da derrubada do veto de Lula ao marco temporal para demarcação das terras indígenas.

Fávaro foi um dos primeiros políticos ligados ao agronegócio a apoiar a candidatura de Lula, mas de um lado ele não abandonou sua base ruralista e, de outro, foi menos ouvido do que esperava.

O CALIBRE DE MARTA – Marta Suplicy foi prefeita de São Paulo de 2001 a 1º de janeiro de 2005. Enfrentou as empresas de ônibus e instituiu o Bilhete Único.

Ela não conseguiu se reeleger e hoje seu nome circulou como provável candidata a vice, tanto de Ricardo Nunes, de cujo governo participa, quanto de Guilherme Boulos, candidato do PT e do PSOL.

São raros os casos de políticos que foram lembrados pelos dois lados da disputa eleitoral. Em alguns casos isso se deve à habilidade e em outros ao desempenho. No caso de Marta, se deveu aos dois.

Imigrantes ilegais estão “envenenando o sangue” dos EUA, diz Trump em comício

Trump delivers wide-ranging speech to New Hampshire hockey arena

Trump fez mais um discurso raivoso no início da campanha

Deu no Poder 360
(Agência Reuters)

O ex-presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou neste sábado que imigrantes ilegais estão “contaminando o sangue” dos Estados Unidos, criticando o aumento no número de estrangeiros que tentam atravessar a fronteira do México sem autorização. As informações são da agência Reuters.

As declarações do principal candidato à presidência pelo Partido Republicano para 2024 foram feitas durante um evento de campanha em Nova Hampshire.

Na ocasião, ele prometeu intensificar as medidas contra a imigração ilegal caso seja reeleito para um segundo mandato.

CONTRA A IMIGRAÇÃO – “Estão envenenando o sangue do nosso país”, declarou Trump no comício na cidade de Durham. Ele acrescentou que imigrantes da Ásia, África e América do Sul estão chegando aos Estados Unidos. “De todo o mundo, estão inundando o nosso país”, afirmou.

Durante uma entrevista ao The National Pulse, publicada no final de setembro, Trump já havia dito anteriormente que os imigrantes ilegais “envenenam o sangue” dos Estados Unidos.

Em outubro, Steven Cheung, porta-voz da campanha de Trump, rejeitou críticas à linguagem do ex-presidente, considerando-as “sem sentido” e argumentando que expressões semelhantes eram comuns em livros, artigos de notícias e na TV.

Segundo a agência de notícias Reuters, a expressão “envenenando o sangue de nosso país” não estava presente nos discursos preparados de Trump distribuídos à mídia antes do evento deste sábado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Os Estados Unidos estão com vários problemas, o principal deles é a volta da inflação. Biden mostra ser um presidente fraco e sem liderança, com prazo de validade prestes a vencer, devido à idade, e Trump se aproveita a situação para radicalizar a campanha. Ele tem sensibilidade política e percebeu que o mote do envenenamento do sangue dos EUA é muito forte junto ao eleitorado. Por isso incluiu a expressão no discurso redigido pelos assessores. O fato concreto é que os americanos não aguentam mais a imigração ilegal, e esse sentimento vai beneficiar Trump na campanha. Nesse quadro, fica evidenciado que a política está em decadência nos Estados Unidos, exatamente como ocorre no Brasil. (C.N.)

Reitoras de universidades são criticadas por “critérios” de liberdade de expressão

Presidente de faculdade famosa se demite após caso de antissemitismo

Elizabetg Magill preferiu pedir demissão do cargo de reitora

Hélio Schwartsman
Folha

A pedidos, comento a crise das reitoras nos EUA. No resumo do resumo, dirigentes de três das mais prestigiosas universidades americanas foram convocadas a depor no Congresso sobre como as instituições lidam com situações de antissemitismo, se saíram performaticamente mal e passaram a enfrentar pressões para que renunciassem. Uma perdeu o cargo (UPenn), outra sobreviveu, mas está por um fio (Harvard), e a terceira enfrentou menor nível de turbulência (MIT).

Nos EUA, isso não precisaria ser um problema. Se as universidades tivessem como política interna apenas seguir as leis do país, não haveria dúvida de que cantar “Palestina livre, do rio até o mar”, que muitos interpretam como um chamamento à eliminação dos judeus, seria um discurso coberto pela liberdade de expressão.

PERIGO REAL – Ali, falas só se tornam criminosas se criam “perigo real e imediato” —o famoso gritar “fogo” no teatro lotado— ou se descambam para outros tipos penais que requerem o uso de palavras, como ameaça, calúnia ou estelionato.

É claro que, na tradição liberal, universidades também são livres para adotar políticas mais restritivas. Se uma instituição entende que tem a missão de promover valores éticos e que, por isso, não tolerará o que julga serem discursos de ódio, pode perfeitamente fazê-lo.

O que complica a vida das reitoras e das próprias universidades é o “double standard”.

SITUAÇÕES DÍSPARES – A imprensa levantou dezenas de casos em que a tolerância das autoridades acadêmicas para com discursos anti-Israel/antissemitas contrasta com a rapidez com que puniram professores e estudantes que violaram, às vezes de forma caricaturalmente cômica, consensos identitários que se tornaram prevalentes nos meios universitários.

Talvez eu esteja ficando velho, mas penso que, especialmente nas universidades, qualquer tese que possa assumir a forma lógica de um argumento deve ser examinada, não importa quão moralmente repugnante ela soe.

Diretor da Azul dá mancada ao criticar BNDES, reclamando de apoio a companhias dos EUA

John Rodgerson CEO Azul

Rodgerson, CEO da Azul, quer empréstimo sem dar garantias

Eric Napoli
Poder 360

O dirigente da Azul Linhas Aéreas, John Rodgerson, disse nesta sexta-feira, dia 15, que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem sido negligente em relação ao fomento da aviação nacional. Para o executivo, o banco tem errado em fechar parcerias com empresas norte-americanas do setor ao invés de oferecer linhas de crédito para as companhias brasileiras.

Em conversa com jornalistas, Rodgerson declarou que nos últimos anos o banco de desenvolvimento privilegiou parcerias com a American Airlines e com a Fedex, empresas estrangeiras que já são competitivas por meio de subsídios do próprio governo norte-americano.

DIZ O EXECUTIVO – “Nos últimos dois, três anos, o BNDES financiou empresas americanas, mas nenhuma empresa brasileira de aviação. Então imaginem isso, nossos impostos estão financiando ativos para a American Airlines, para a Fedex, para essas empresas subsidiadas pelo governo deles, e aqui zero para as empresas brasileiras. Eles estão financiando o país errado”, declarou o CEO da Azul.

Na visão de Rodgerson, o BNDES deveria financiar as empresas que mais criam empregos no país ao invés de favorecer as que já tem uma forte ajuda do governo norte-americano. “Eu acho que o BNDES deve financiar a Azul, a Gol, a Latam, porque nós estamos ajudando o Brasil, criando empregos no Norte, no Nordeste, mas financiar uma empresa aérea dos Estados Unidos, poxa, que loucura”, disse o executivo.

Segundo Rodgerson, o acesso a linhas de crédito pelas empresas é um dos 3 maiores desafios que a aviação civil enfrenta no Brasil. As altas taxas de judicialização do setor e o combustível de aviação mais caro do mundo fecham esse tripé de dificuldades.

BNDES RESPONDE – Em comentário feito após as declarações de Rodgerson, o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon, disse ao Poder360 que os financiamentos dos quais o banco participou junto a empresas aéreas norte-americanas foram realizados pois envolviam a compra de aviões da Embraer.

Em conversa com o jornal digital, Gordon afirmou que o banco não financia empresas estrangeiras, mas que as operações citadas por Rodgerson tinham como objetivo viabilizar a venda de aeronaves da Embraer. O diretor do banco de desenvolvimento justificou que a participação do BNDES nessas ações ajudou a fabricante, que assim como as empresas citadas também cria empregos no Brasil.

Gordon também explicou que a falta de participação do BNDES em parcerias com a Azul se deve ao fato da empresa estar com seu patrimônio líquido negativo, o que dificulta a apresentação de garantia.  Além disso, o banco continua a apoiar as companhias brasileiras na aquisição de aeronaves e afirmou que o BNDES quer fortalecer sua parceria com as empresas aéreas brasileiras.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Desculpem a vergonha que passei, deveria dizer John Peter Rodgerson, que é norte-americano e faz carreira por aqui há 14 anos. Com tanto tempo de Brasil, já deveria ter aprendido que o BNDES não financia empresas nem países estrangeiros que não ofereçam garantias, à exceção de Cuba, Venezuela e Moçambique, que têm tratamento especial nos governos do PT. Assim que a Azul oferecer garantias, o BNDES solta financiamento para a Azul. (C.N.)

Um documentário imperdível: “Não nasci para deixar meus olhos perderem tempo”

Conversa com o fotojornalista Orlando Brito [Reprise] - Rádio Câmara -  Portal da Câmara dos Deputados

Filme retrata Orlando Brito, um fotógrafo espetacular

José Carlos Werneck

São 72 minutos que prendem o espectador do princípio ao fim. É o que acontece com o documentário “Não Nasci Para Deixar Meus Olhos Perderem Tempo”. Com direção de Claudio Moraes, realizado em 2020,o filme mostra a trajetória profissional do repórter fotográfico Orlando Brito, falecido,em 2022, que durante 55 anos documentou magnificamente variados momentos da vida brasileira.

Do ocaso de carreiras artísticas aos momentos conturbados do Brasil em meio a um regime de exceção, seus olhos  testemunharam e filtraram o acontecimentos da História do País.

FOTO POR FOTO – Orlando Brito, acompanhou de perto, as transformações fundamentais da política brasileira. A perfeita duração do documentário mostra o repórter ,coloquialmente, esmiuçando os bastidores, como se folheasse um álbum de memória. Da primeira à última cena, ele explica foto por foto. 

Brito  testemunhou inúmeros processos de construção e destituição do poder, como a ascensão e queda dos presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff.

Corretamente, o repórter fotográfico guardava a indispensável distância emocional dos fatos e jamais revela o que pensa sobre a política. No filme,Brito comenta  os encontros com as pessoas fotografadas, a pose exata em que se encontravam e as despedidas pós-fotos. Realmente, um documentário imperdível!

Nunes Marques se prepara para encontrar Lula e se livrar da pecha de “bolsonarista”

Marques com Wellington Dias, que faz a ponte

Laryssa Borges
Veja

Primeiro indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Kássio Nunes Marques tem feitos movimentos discretos para tentar se aproximar do presidente Lula e diluir o rótulo de fiel escudeiro do capitão. Há cerca de dois meses, em uma conversa reservada, o ministro do Desenvolvimento Social Wellington Dias ouviu pedidos para que fosse a ponte entre o magistrado e o petista.

Dias já havia sido o responsável por levar em 2011 o nome de Kássio à então presidente Dilma Rousseff para uma vaga de desembargador no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, de onde o juiz saiu para ser indicado ao STF.

REUNIÃO COM LULA – Agora uma das missões do chefe da pasta responsável pelo Bolsa Família é articular um encontro a sós entre Lula e o ministro do Supremo, o que deve ocorrer em breve. “Kássio foi trazido para Brasília pelas mãos do Wellington e da Dilma e já foi simpático ao PT”, resume um advogado ligado ao partido.

Outro movimento do magistrado detectado por interlocutores do STF é a aproximação que tem feito do decano da Corte, Gilmar Mendes. Os dois juízes se estranharam em julgamentos emblemáticos, como o que discutia o fechamento de igrejas e templos durante o avanço do coronavírus e o que analisava se o ex-juiz Sergio Moro agiu com parcialidade ao julgar casos relacionados a Lula na Lava-Jato, e se afastaram.

Na pandemia, por exemplo, Nunes Marques concedeu uma liminar para liberar celebrações religiosas e Mendes uma outra que mantinha a validade de um decreto do então governador João Doria vetando cultos no estado de São Paulo. Com duas decisões conflitantes, o Plenário do STF foi chamado a decidir – e Mendes saiu vitorioso.

“NEM NO PIAUÍ” – No caso de Moro, o decano provocou o colega de tribunal depois de ele, em nome do garantismo, ter questionado a origem ilícita das mensagens hackeadas de procuradores da Lava-Jato. Gilmar rebateu e disse que a argumentação do ministro não estava relacionada ao princípio do garantismo “nem aqui nem no Piauí”. Agora, dizem interlocutores, o clima começa a distensionar.

Por trás das movimentações de Kássio estão fatores como o fato de o ministro ter mais de 20 anos de Supremo pela frente e de ser ele o futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas 2026, quando chegará, até aquele momento, no ponto alto da carreira jurídica.

Lula deve tentar a reeleição e Jair Bolsonaro, hoje inelegível, buscará, segundo aliados, questionar o banimento das urnas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Promiscuidade – este é o maior problema de Brasília, a terra do lobby, onde ministro de tribunal superior dificilmente consegue pagar uma conta em restaurante. Desde os tempos do advogado Carlinhos Medeiros, nos anos 80, sempre aparece alguém para pagar a conta do magistrado. Perguntem ao advogado Kakay se é grande a concorrência para pagar conta de ministro… Ele é sincero e responderá. E como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. (C.N.)

Problemas para Lula após a reforma tributária, num governo estacionário

Fávaro retornou ao Senado e contribuiu para uma derrota do Planalto

Pedro do Coutto

O governo conseguiu aprovar a reforma tributária na Câmara dos Deputados, o que representou um êxito para a sua iniciativa, sobretudo pelo número de votos alcançados. Há muitos anos a reforma tributária vinha sendo reivindicada pelo empresariado para conter o aumento dos preços e exercer a justiça fiscal no país. A centralização de impostos fortalece o governo. Porém, há problemas à vista.

Um deles é a questão do ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, que se licenciou do cargo para votar na indicação de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal, mas acabou também votando favorável à derrubada de um veto presidencial sobre a questão da demarcação das terras indígenas.

REAÇÃO – Isso acarretou uma movimentação da base do governo contra a posição assumida pelo senador que retorna agora para o Ministério da Agricultura. Foi uma nota fora do tom a praticada por Favaro. A esquerda da base governista começou uma pressão contra o parlamentar.

Outra posição descompassada foi assumida também por Lula ao retomar os ataques contra o Jair Bolsonaro. Com isso, fez-se exatamente o que o ex-presidente deseja, que é manter a polarização entre ele, que se tornou inelegível, e o atual governo. Não foi hábil por parte de Lula esse posicionamento. O ataque dá margem à resposta e aumenta a presença de Bolsonaro no cenário político.

NOMEAÇÃO – Uma outra dificuldade que aguarda solução por parte de Lula é a nomeação do substituto de Flávio Dino para o Ministério da Justiça. Há quem defenda a divisão entre a Justiça e a Segurança Pública. Essa configuração dificilmente terá sucesso. A nomeação é um passo importante para o governo.

As dificuldades tornam-se maiores a cada dia. O presidente não está conseguindo comandar a base política da sua administração. Não é fácil, tendo em vista os interesses políticos em jogo. Mas é importante a realização de um trabalho eficiente que ainda não está acontecendo. Aguardemos a semana que se inicia. O problema todo é causado pela falta de uma articulação efetiva entre o presidente da República e o Congresso Nacional.

Governo Lula está morno, é algo distante, de formas e cores pouco distinguíveis…

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Lula está longe da efervescência de seus mandatos anteriores

Janio de Freitas
Poder 360

O governo está morno. Muito longe da efervescência que transmitiu desde o início dos mandatos passados, o novo governo Lula se mostra como algo distante, de formas e cores pouco distinguíveis. A sensação de alheamento está à mostra nas calçadas e becos saídos, não de todo, de uma disputa política vencida pela esperança.

Ninguém se refere a ações de governo, nem para críticas. As vozes e os bilhões de Brasília evaporam-se por lá mesmo, nos seus nichos de luxo sem-vergonha, antes de criar algum eco na vastidão apática do país.

SÃO INVISÍVEIS – De existência reconhecível, só 2 ministérios: Fazenda, inevitavelmente, e Justiça, excepcionalmente. Dos outros 36, nem aqueles onde há trabalho têm vida de governo, de atos visíveis e sons audíveis. Silêncio de lá para cá, silêncio de cada para lá. Mas “o Brasil voltou”.

Sim, Lula é mais querido no mundo do que em São Paulo. Lula é mais compreendido no mundo do que no Brasil. Quem voltou aos olhares do mundo foi Lula. A volta, porém, por si só nada transfere à realidade substancial do país, e nem mesmo ao governo. São vários os freios que vencem o governo, e é cedo para sondar seus respectivos pesos. Um deles é a composição ministerial.

Já o número de ministérios foi ditado, não por conveniência administrativa, mas pelos arranjos com partidos e direções do Legislativo. Uma permuta, ruim, de altos cargos por aprovações de projetos do governo. Com exceções mínimas, as indicações foram péssimas.

SEM UNIDADE – Não há composição ministerial sequer razoável com Juscelinos de fantasia, Fufucas, filhotes diversos, e companhia – a maioria, com predomínio de associados a Arthur Lira. Lula até já demitiu duas de suas poucas escolhas porque o Centrão, dirigido pelo presidente da Câmara, quis também aqueles dois ministérios.

O que leva a essas exigências de altos cargos não é ideia alguma sobre necessidades do país e tarefas de governo. São interesses. Nesse sentido, é provável que Arthur Lira seja o pior presidente da Câmara nos períodos de liberdade do Congresso. A chantagem, indiferente à importância da decisão parlamentar a ser tomada, é incessante. Escrachada. Um insulto à Constituição e ao eleitorado.

Agora casada com a exigência de nomeações, a cobrança de liberação de emendas – verbas de uso indicado por congressistas, não pelo governo – chega neste ano a R$ 39,3 bilhões.

RECORDE EM EMENDAS – Em dois dias deste mês, o governo liberou R$ 9,9 bilhões, de olho em próximas votações (sem êxito pleno). Emendas são dinheiro que, sem elas, ficaria disponível para realizações de governo. Logo, quanto mais emendas, menos governo.

A falta de programa de governo agrava a baixa qualidade média do conjunto ministerial. E, quando o ministro é capaz, outro freio vem do sistema para impedir novidades desastradas dos ineptos.

Por decisão do próprio presidente, os ministros têm que submeter cada iniciativa sua ao chefe da Casa Civil, Rui Costa, para a autorização de divulgá-la e efetivá-la.

FALTA DIVULGAÇÃO – Além do mal-estar que retraiu vários, vieram mal-entendidos e, com tantos ministros, os previsíveis problemas de agenda. O presidente reclamou nesta semana da falta de divulgação do que faz o Ministério da Saúde. Caberiam outras citações.

Contudo, nessa omissão, a responsabilidade não é só da “mídia”. O governo não é estimulante e não se comunica. Antes contribui para uma “mídia” que dá a Bolsonaro cobertura frequentemente maior, em destaque, volume e fotos, do que a Lula. Nem Fernando Henrique, apesar do encantamento, teve tamanha presença na “mídia” como ex.

A grande dedicação de Lula à política externa, neste primeiro ano do mandato, é constatação que dispensa referências. Foi positiva em muitas direções, mas faz uma dívida dispensável com os que eSperavam mais aqui mesmo.

New York Times se perdeu e suprime a opinião da direita, diz seu ex-editor

O artigo saiu na revista digital 1843, no site da The Economist

Nelson de Sá
Folha

No longo texto “Quando o New York Times se perdeu” (ou perdeu seu caminho), James Bennet, ex-editor de Opinião do jornal e hoje colunista da Economist, relatou o que teria levado à sua demissão pelo publisher em 2020 —sob pressão de parte da Redação, após publicar artigo do senador republicano Tom Cotton.

“O NYT está virando a publicação pela qual a elite progressista dos EUA fala consigo mesma sobre uma América que na verdade não existe”, escreve ele. “Os leitores estão recebendo uma gama muito restrita de pontos de vista, por uma publicação que ainda se apresenta como independente da política.”

DIREITA ALIJADA – Para Bennet, no episódio a chefia da Redação cedeu ao “iliberalismo” de parte de seus jornalistas, de esquerda, dando início à supressão de um dos lados do debate político, a direita.

O texto descreve especificamente como o publisher A.G. Sulzberger teria cedido, após dias de revolta interna e de leitores, e falado para ele, Bennet, pedir demissão. Afirma ter faltado “coragem”. Sulzberger respondeu em nota no site corporativo do NYT:

“James foi um parceiro valoroso, mas o ponto onde eu me separei do caminho dele foi na questão de como fazer valer esses valores. Princípios por si só não são suficientes. A execução é importante. A liderança é importante.”

SEM CORREÇÃO – É referência à forma como o artigo de Cotton foi editado pela equipe de Bennet, com partes que, no entender de Sulzberger, deveriam ter passado por correção e contextualização.

Tanto Bennet como Sulzberger citam um artigo escrito depois pelo próprio publisher na Columbia Journalism Review, em que defendeu o “jornalismo independente” como valor essencial, contra as pressões, inclusive internas, por maior ativismo a partir da eleição de Donald Trump. É a discussão de fundo, hoje, na imprensa americana, sobre abandonar a busca de objetividade.

A discussão em torno de Bennet é ampla, entre jornalistas dos EUA. O ex-editor diz que concorda com o artigo, mas que, quando foi necessário defender essa independência, o publisher não resistiu.

MEIO E MENSAGEM – Sulzberger diz que ele e Bennet sempre concordaram, mas que o ex-editor constrói uma “falsa narrativa” — e que hoje o jornal tem, na verdade, “um mix muito mais diversificado de opiniões, inclusive vozes mais conservadoras”.

O texto saiu na revista digital 1843, no site da Economist, e a edição semanal da revista partiu das ideias levantadas por Bennet para o editorial de capa “O meio e a mensagem”, com o subtítulo “É possível ter uma democracia saudável sem um conjunto comum de fatos?”, apontando a próxima eleição americana como um teste.

Também a reportagem “A imprensa partisan” (partidária ou que toma posições), destacando que “NYT e outros meios de comunicação falam cada vez mais para aos seus próprios campos”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Caramba, se lá na matriz USA o problema da polarização chegou a esse ponto, o que poderá acontecer na filial Brazil? Tenho até medo desses “democratas”. (C.N.)

João Cabral de Melo Neto e o simbolismo do reinício da vida em todo Natal

ImagemPaulo Peres
Poemas & Canções

 O diplomata e poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), no poema “Cartão de Natal”, mostra o simbolismo do reinício da vida que todo Natal propicia.

CARTÃO DE NATAL
João Cabral de Melo Neto

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de voo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
Que desta vez não perca este caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem,
o sim comer o não.

Prêmio ideal para Dilma Rousseff não é ‘Economista do Ano’, mas a ‘Anta do Século’

frases desconexas de Dilma – Marli GonçalvesCarlos Newton

Embora constituam impagáveis Piadas do Ano, determinadas decisões não podem ser aceitas com naturalidade nem levadas apenas na brincadeira. É preciso também que sejam imediatamente repelidas pelo extrato social, para que fique claro que essas manipulações jamais serão aceitas sem reação pela sociedade. É o caso, por exemplo, da escolha de Dilma Rousseff como “Economista do Ano”, uma premiação que ela nunca fez por merecer.

Na verdade, Dilma Rousseff é um dos maiores equívocos da História Republicana, tendo chegado ao poder apenas pelo desejo de Lula da Silva, que desde sempre procura evitar o surgimento de alguma liderança no PT que possa ameaçar seu protagonismo, tendo transformado a legenda num partido de um homem só.   

FRACASSO ESTRONDOSO – Apelidada de “Poste” pela imprensa e apoiada entusiasticamente por Lula, Dilma conseguiu se eleger em 2010 e 2014, embora seu governo tenha sido um fracasso estrondoso, jamais visto antes.

A principal façanha dela como “economista” foi autorizar o trêfego Guido Mantega, ministro da Fazenda, a maquiar as contas públicas e criar a “contabilidade criativa”, com as pedaladas fiscais que encobriam o déficit público e transportavam os prejuízos para o ano seguinte.

Quando começaram as críticas às pedaladas, Dilma levou na brincadeira. Com a maior desfaçatez, mandou o Planalto comprar uma bicicleta de luxo e passar a passear nela toda manhã.  E desafiava, dizendo: “Estou pedalando, vejam!”

DEU TUDO ERRADO – O resultado todos sabem. As pedaladas criaram uma recessão brutal, com queda de 7,7% do PIB per capita em dois anos e mais 3 milhões na lista de desempregados. Constatou-se que o “Poste” de Lula era de péssima qualidade e foi facilmente derrubado, ninguém aguentava mais tanta incompetência e tamanha metidez.

Seis anos depois, o ex-presidiário Lula da Silva voltou ao poder, mas não chamou Dilma Rousseff para integrar o governo. Ela reclamou e o presidente então teve uma ideia genial. Indicou-a para ser presidente do Banco dos Brics, na China, bem longe, lá do outro lado do mundo, para se livrar dela por uns tempos, até julho de 2025.

Agora, o Conselho Nacional de Economia, uma entidade classista dominada pelo PT, decide eleger Dilma como “Economista do Ano”. Esperava-se um festival de protestos, mas os brasileiros parecem anestesiados e encaram tudo como “novo normal”, embora a decisão seja altamente ofensiva à dignidade da classe dos economistas.

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P.S,
Se Bussunda ainda estivesse conosco, ele diria: “Fala sério!”. E certamente defenderia a indicação de Dilma Rousseff para “Anta do Ano”, porém não dá mais tempo, porque a ministra do Racismo, cujo nome não consigo lembrar, passou na frente e recebeu o prêmio com meses de antecedência, pensando que Dilma fosse “hors concours” e estivesse impedida de participar. (C.N.)

Foi-se o tempo em que os brasileiros confiavam nos ministros da Suprema Corte…

Charge do Zé Dassilva: Ninguém precisa saber - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Vicente Limongi Netto

Não vejo, não escuto nem leio entrevistas de monstros diluvianos, fantasiados de pomposos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Não merecem minha confiança, muito menos meu respeito. De cidadão pagador de impostos, perto de completar 80 anos de idade. É estarrecedor o quadro daqueles senhores, vestais grávidas, enchendo a boca para jurar que são isentos, operosos e patriotas.

A maioria deles, usando perucas ou cabelos e sobrancelhas pintadas de preto, imitando as asas de graúnas. Patéticos. Duro saber qual deles é o pior, o mais dissimulado e o mais constrangedor. Foi-se o tempo em que os brasileiros confiavam nas ações dos magistrados da Suprema Corte, hoje vilipendiada, onde se reúnem os santos do pau oco. Tenho ânsias de vômito.

CLAMOR SOFRIDO – “Tem uma moeda aí, tio?” – é o clamor sofrido das ruas. Vindo de crianças, adultos e adolescentes. Mãos estendidas. Caixinhas de papelão, caixas de sapatos e latas de leite compõem o cenário frio, humilhante, melancólico. Vozes trêmulas. Pés descalços. A fome anunciada pelos olhos tristes. É o Natal chegando.

Significa esperança de ganhar algum trocado para comer. Quem sabe, um Natal menos amargo e dolorido. As caixinhas também são vistas em balcões de lojas, padarias, lavanderias, papelarias e bancas de jornais. Embora empregados, ninguém se acanha. O dinheiro é curto. Caixas e latas marcam a linha da fome e da miséria. Chegam juntas. A fome é diária. Não avisa.

Semáforos, estacionamentos, portas de bares, restaurantes e de lanchonetes fazem das caixinhas e latas o porto da esperança. Sonhando com a caridade de corações bondosos.

FIM DA PICADA – Devotado leitor e observador do que realmente merece ser lido, exaltado e criticado, achei o fim da picada a entusiasmada baboseira de um badalado colunista do Jornal de Brasília (14/12), especializado em banalidades e futricas, revelando para o Brasil e para o mundo, “Um novo Aécio”.

Imaginei, pelo título, que se tratava de um novo deputado Aécio, empenhado agora em discutir problemas brasileiros, em busca de melhorias para o massacrado, humilhado e abandonado cidadão. Estava pronto para aplaudir meu ex-colega de “peladas” no Gerovital. Mas qual. A formidável notícia informa, entre outras patéticas pérolas, que o ex-governador emagreceu 8,5 quilos e ganhou 4 kg de massa muscular. 

Melancólico, vesgo e medonho jornalismo! O que o leitor, esclarecido e exigente, tem a ver se Aécio emagreceu ou engordou? Tenham paciência! Até barbaridades têm limites. Francamente.