Amanheceu, e Renato Teixeira pegou a viola, botou na sacola e foi viajar……

Programa 70+: Renato Teixeira - Maio/2024 - ESGOTADO | Club Athletico  Paulistano

Renato Teixeira, grande cantador

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paulista Renato Teixeira de Oliveira, um dos mais destacados cantores da música regionalista, na letra de “Amanheceu Peguei a Viola” explica a associação entre o instrumento e a liberdade que caracteriza a vida dos cantadores, sempre viajando, sem nada que os prenda.

A música “Amanheceu, Peguei a Viola” faz parte do Álbum Ao Vivo no Rio – 30 Anos de Romaria, gravado pela Sony BMG, em 1998.

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AMANHECEU, PEGUEI A VIOLA
Renato Teixeira

Amanheceu, peguei a viola
Botei na sacola e fui viajar

Sou cantador e tudo nesse mundo
Vale prá que eu cante e possa praticar
A minha arte sapateia as cordas
E esse povo gosta de me ouvir cantar
Amanheceu…

Ao meio-dia eu tava em Mato Grosso
Do Sul ou do norte não sei explicar
Só sei dizer que foi de tardezinha
Eu já tava cantando em Belém do Pará
Amanheceu…

Em Porto Alegre um tal de coronel
Pediu que eu musicasse uns versos que ele fez
Para uma china, que pela poesia,
Nem lá em Pequim se vê tanta altivez
Amanheceu…

Parei em Minas prá trocar as cordas
E segui direto para o Ceará
E no caminho fui pensando é linda
Essa grande aventura de poder cantar
Amanheceu…

Chegou a noite e pegou cantando
Num bailão lá no norte do Paraná
Daí pra frente ninguém mais se espanta
E o resto da noitada eu não posso contar

Anoiteceu e eu voltei prá casa
Que o dia foi longo e o sol quer descansar
Amanheceu…

Tarcísio de Freitas deu demonstração de força no primeiro turno da eleição

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em caminhada na zona leste de São Paulo

Nunes, Tarcísio e Paulinho da Força durante a campanha

Bianca Gomes
Estadão

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), conseguiu fechar com saldo positivo sua primeira atuação como cabo eleitoral desde que assumiu a cadeira mais importante do Palácio dos Bandeirantes. Apesar de ter amargado uma derrota em Guarulhos, o governador foi peça fundamental na passagem de Ricardo Nunes para o segundo turno da disputa na capital, movimento que garante ao ex-ministro do governo Jair Bolsonaro uma posição de independência de seu padrinho político.

Além disso, Tarcísio viu seu partido quadruplicar de tamanho no interior, elemento fundamental para suas pretensões políticas futuras.

DIFICULDADE – Embora Ricardo Nunes (MDB) tenha avançado para o segundo turno, a diferença de apenas 81 mil votos para Pablo Marçal (PRTB) expôs a dificuldade do governador em mobilizar o eleitorado de direita em seu próprio reduto. Por outro lado, ponderam analistas, o resultado conferiu a Tarcísio um status de liderança independente do bolsonarismo.

A campanha em São Paulo foi a principal aposta de Tarcísio na sua estreia como cabo eleitoral em eleições municipais. Ricardo Nunes fez questão de reconhecer o papel do aliado em seu primeiro discurso após o resultado, sinalizando que Tarcísio deve seguir engajado na disputa.

Durante o primeiro turno, o governador teve protagonismo na estratégia de Nunes: ajudou a costurar a coligação, anunciou o vice da chapa, esteve ao lado do prefeito em uma série de agendas e, na reta final, coordenou pessoalmente uma mobilização de última hora, acionando deputados e vereadores em busca de apoio.

STATUS DE LÍDER – Na avaliação de Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor de administração pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Tarcísio sai fortalecido da eleição na capital paulista, que simbolizou seu rompimento com a dependência em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para ele, Tarcísio agora consolida seu status de líder.

“Tarcísio foi o maior vencedor dessas eleições, em uma disputa onde se pensava que os principais cabos eleitorais seriam Lula ou Bolsonaro. Ele abraçou a candidatura de Nunes com um vigor que talvez nunca tivesse demonstrado antes, contrariando, inclusive, a perspectiva de seu padrinho, Bolsonaro. Qual o saldo? Ele não só conta agora com um aliado, caso Nunes seja eleito prefeito, para seus projetos políticos em 2026, como se livra da dependência exclusiva de Bolsonaro, na medida em que ele, com autonomia, tomou a decisão de apoiar Nunes à revelia de alguém que supunha controlar seus passos. Daqui para frente, ele decide se vai ou não ao PL sem essa sombra de Bolsonaro, e provavelmente não irá, porque essa ida poderia significar o controle do próprio Bolsonaro sobre seus projetos políticos”, diz o professor.

PERDE E GANHA – Se a vitória na capital foi apertada, em Guarulhos, o segundo maior colégio eleitoral do Estado, Tarcísio amargou uma derrota. Seu candidato, Jorge Wilson (Republicanos), o “Xerife do Consumidor”, terminou em terceiro lugar, com 20,12% dos votos. Ex-líder do governo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), ele era uma das principais apostas do governador na disputa municipal e levou Tarcísio a negociar até o apoio do ex-presidente Bolsonaro.

A divisão da direita em Guarulhos abriu caminho para Lucas Sanches, candidato do PL, que liderou nas urnas com 33,25% e disputará o segundo turno contra Elói Pietá (Solidariedade), que obteve 29,81% dos votos válidos.

No balanço geral, Tarcísio tem mais que a vitória de Nunes para celebrar: o Republicanos, seu partido, quase quadruplicou a presença no estado, passando de 22 para 80 prefeituras, conquistando cidades estratégicas como Sorocaba, onde Rodrigo Manga se manteve no poder, e Campinas, com a reeleição de Dário Saadi — que agora aguarda o julgamento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) sobre uma ação de cassação.

VITÓRIAS DUPLAS– Em Santos, Tarcísio está em uma posição favorável, pois dois de seus aliados avançaram para o segundo turno: o atual prefeito, Rogério Santos (Republicanos), e a deputada federal Rosana Valle (PL). Embora Rogério seja do Republicanos, Tarcísio decidiu se manter neutro na disputa, já que Rosana era a candidata apoiada por Jair Bolsonaro. Assim, a vitória de qualquer um dos dois será vantajosa para o governador.

Em São José dos Campos, principal município do Vale do Paraíba e onde Tarcísio também optou por não se envolver, o segundo turno será entre dois aliados do governador: o atual prefeito Anderson Farias (PSD), que conta com o apoio do vice-governador paulista Felício Ramuth (PSD), e o ex-prefeito Eduardo Cury (PL), apoiado por Jair Bolsonaro.

Tarcísio, entretanto, não foi o principal vencedor da eleição no estado. O destaque foi seu secretário de Governo, Gilberto Kassab, presidente do PSD, que elegeu 201 prefeitos de seu partido no primeiro turno em São Paulo. Para Marco Antonio Carvalho Teixeira, a vitória de Kassab equilibra as forças e impede que o bolsonarismo se torne hegemônico em São Paulo. “O bolsonarismo não pode hegemonizar o governo com alguém que possui a força política de Kassab servindo como contraponto.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Muito interessante essa matéria, porque traz um belo retrato da política em São Paulo e mostra como o governador Tarcísio de Freitas tem crescido politicamente e consegue manter excelentes relações com Bolsonaro. Se o ex-presidente continuar inelegível, Tarcísio é o nome ideal para substituí-lo na candidatura de direita contra Lula, que é teimoso suficiente para tentar a reeleição aos 81 anos, com prazo de validade mais do que vencido e sem dizer coisa com coisa. Vai ser um arraso. (C.N.)

Dorival Jr. precisa sair da mesmice no treinamento tático da seleção

Dorival Jr. mata no peito e assume fiasco com derrota da Seleção Brasileira

Dorival Jr. ainda não se encontrou treinando a seleção

Tostão
Folha

Dorival Júnior, atento, viu os dois jogos da Copa do Brasil, as muitas partidas deste sábado (5) do Brasileirão e os confrontos pela Copa dos Campeões, especialmente a derrota do Real Madrid para o Lille, da França, por 1 a 0. Endrick, pela primeira vez, iniciou a partida. Rodrygo e Mbappé, que entrou no segundo tempo no lugar de Endrick, foram poupados.

Fazia muito tempo que não via o real Madrid atuar tão mal. Endrick, no único ótimo lance, conduziu a bola, driblando. Em velocidade e livre, dentro da área, soltou um petardo no peito do goleiro. Não foi uma grande defesa como disseram. Mesmo se o goleiro quisesse, não conseguiria sair da bola. O erro foi do atacante brasileiro, que deveria ter jogado a bola no canto.

TRÊS ARMADORES – As variações na maneira de jogar do meio para a frente do Real Madrid servem de informação e de aprendizado para Dorival Júnior. Porém Ancelotti nunca abre mão de ter uma linha de três meio-campistas, que atuam de uma intermediária à outra, que marcam, constroem e avançam.

Com a chegada de Mbappé, o time passou a ter um trio na frente (Rodrygo, Vini e Mbappé) e outro trio no meio-campo, com Bellingham avançando e formando um quarteto no ataque. Não funcionou bem porque o meio-campo ficou menos preenchido. Contra o Lille, o técnico formou as clássicas duas linhas de quatro, com Endrick e Vini no ataque. Piorou ainda mais.

Não sei quais são a melhor formação tática e a escalação para a seleção brasileira, mas penso que Dorival deveria sair da mesmice. O esquema habitual com dois volantes em linha, um meia ofensivo pelo centro, dois pontas e um centroavante fixo torna o time muito previsível e fácil de ser marcado.

FILIPE LUÍS – É preciso sair da mesmice. Foi o que fez Filipe Luís em sua estreia no Flamengo, na vitória sobre o Corinthians por 1 a 0, ao utilizar a marcação intensa por pressão, com os zagueiros mais adiantados, formando um bloco. O jovem, ousado e promissor técnico aprendeu com Jorge Jesus em 2019 e com Simeone, quando era jogador do Atlético de Madrid. O Manchester City e outras grandes equipes europeias adotam essa postura.

Contra o Corinthians, Bruno Henrique e Gabigol não encontraram o lugar onde brilharam sob o comando de Jorge Jesus. Bruno Henrique não era ponta nem Gabigol era centroavante. Os dois faziam diagonais curtas da meia esquerda e da meia direita para o centro, onde definiam as jogadas.

Atlético-MG, Vasco e Corinthians, que atuaram pela Copa do Brasil, além de quase todos os outros times brasileiros, preferem, na maior parte do jogo, correr para trás em vez de pressionar. Além disso, os zagueiros atuam colados à grande área, deixando grandes espaços no meio-campo para o adversário ter a bola e chegar perto da área.

GANSO E ARIAS – Os jogadores especiais costumam sair da mesmice, como fizeram Ganso e Arias no gol da vitória do Fluminense sobre o Cruzeiro por 1 a 0. O passe de Ganso e a finalização de Arias foram belíssimos, precisos e sincronizados.

O Cruzeiro jogou bem e criou várias e claras chances de gol, perdeu, por causa da jogada magnífica de Ganso e Arias.

Fernando Diniz é um técnico que sai da mesmice, mas várias vezes erra por não saber o momento certo de ser diferente. É preciso sair da mesmice, sem perder a praticidade, a organização e a disciplina tática.

Moraes se curva diante da lei e aceita que Silveira passe para o semiaberto

Daniel Silveira é preso menos de 24 horas após encerrar mandato - Money  Report

Silveira ficou preso ilegalmente durante vários meses

André Richter
Agência Brasil

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta segunda-feira (7) o ex-deputado federal Daniel Silveira a progredir para o regime semiaberto de prisão. Nesse regime, o preso pode deixar o presídio para trabalhar durante o dia e deve retornar à noite.

Silveira foi condenado pelo STF a oito anos e nove meses de prisão pelos crimes de tentativa de impedir o livre exercício dos poderes e coação no curso do processo ao proferir ofensas e ameaças contra os ministros da Corte.

EXECUÇÃO DA PENA – Em maio do ano passado, Moraes determinou a execução imediata da pena de Daniel Silveira. A medida foi tomada após o Supremo anular o decreto de graça constitucional concedido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ao então deputado federal para impedir o início do cumprimento da pena.

Na decisão proferida hoje, Moraes entendeu que Silveira preenche os requisitos legais para progressão de regime prisional. O ministro também ressaltou que a medida contou com parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR).

“Diante do exposto, defiro a progressão para o regime semiaberto ao sentenciado Daniel Lúcio da Silveira e determino à Secretaria Estadual de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro, a adoção das providencias cabíveis para a realização de sua transferência para colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar”, decidiu. O pedido de progressão foi feito pela defesa de Silveira. Para os advogados, o ex-parlamentar estava preso ilegalmente além do prazo legal para progressão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Parabéns à Procuradoria-Geral da República, que não aceitou que Moraes continuasse mantendo Daniel Silveira ilegalmente na prisão. Ele deveria ter progredido para o regime semiaberto já vários meses. Em julho, os advogados fizeram o primeiro pedido a Moraes, que desde então vem inventando uma série de exigências que nada têm a ver com o benefício previsto em lei. A Procuradoria estão passou a insistir, alertando Moraes para a ilegalidade que estava cometendo ao manter na prisão um detento com ótimo comportamento e que já tem convites para trabalhar. Demorou até Moraes se curvar diante da lei. (C.N.)

Um ano já, mas Israel não deixa entrar em Gaza um só jornalista independente

Gaza é um perigo no caminho de Biden para a reeleição (+Foto) - Prensa  Latina

O massacre é documentado pelos próprios palestinos

Dorrit Harazim
O Globo

Se o destino sussurrar no seu ouvido que você não pode deter a tempestade, sussurre de volta “eu sou a tempestade”. Muitos tentam, porém desistem, varridos pela implacável ventania da vida. (Jean Cocteau já dizia que “viver é uma queda horizontal”.) Alguns de nós até conseguem ficar de pé. Mas só um punhado bastante especial desafia o destino com a naturalidade de Bisan Owda.

Ela é irresistível, e seu documentário de oito minutos “It’s Bisan from Gaza, and I’m still alive” também. Tanto assim que seu curta noticioso conquistou um dos prêmios do 76º Emmy de duas semanas atrás, além de reconhecimento unânime na premiação dos Peabody Awards e Edward R. Murrow Awards deste ano.

A jornalista palestina de 25 anos mora em Gaza, tem três filhos e, desde o início dos bombardeios israelenses ao enclave, em outubro passado, empunhou o celular e passou a fazer postagens do que vê, sente, pensa e vive — tudo em inglês, sem saber se suas mensagens jogadas na imensidão da blogosfera aportariam em alguma praia.

AINDA ESTOU VIVA – Todas começavam com sua imagem sorridente, dizendo: — “Sou Bisan, de Gaza, e ainda estou viva”. O episódio premiado foi produzido pela Al Jazeera Plus, está acessível pelo link e retrata o início do estrangulamento de Gaza que se seguiu à matança do 7 de Outubro contra Israel. Passado um ano, Bisan continua a falar para o mundo — tem 4,8 milhões de seguidores no Instagram, e seus despachos mantêm o frescor e o horror dos primeiros dias. “É uma vitória para a Humanidade” — celebra a Al Jazeera Plus não sem razão.

No mesmo espaço de tempo, mais de 130 colegas jornalistas de Bisan foram mortos pelo avanço israelense em Gaza. Todos palestinos. Foi com indignação que a Creative Community for Peace — uma ONG pró-Israel de Los Angeles com forte influência sobre Hollywood — recebeu a atribuição do Emmy para Bisan Owda.

“Em vez de premiar um dos respeitáveis trabalhos apresentados sobre a guerra em Gaza, [os jurados] optaram por aplaudir uma ativista política filiada à Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP)” — acusou a entidade.

UM TRISTE DIA – A nota também criticava “esse dia triste do jornalismo, de presságio sombrio para o futuro da indústria”. A resposta do braço documental do Emmy, que há quase 50 anos premia excelência no jornalismo televisivo, fincou pé. “Damos visibilidade a vozes que alguns espectadores podem considerar condenáveis, ou mesmo odiosas” — esclareceu o presidente da News & Documentary Emmy Awards.

Um ano já. E Israel ainda não permitiu a entrada em Gaza de um só jornalista ou fotógrafo profissional independente. Blecaute total, exceto para raras visitas de algumas horas em área designada e sob vigilância de escolta militar. Nem uma única equipe de televisão, rádio ou mídia eletrônica ocidental até hoje terá testemunhado o primeiro ano de desterro e aniquilamento de vida no enclave de 365 quilômetros quadrados.

Situação particularmente inédita para esta era da comunicação instantânea e global. É um manto de sigilo e segredo insustentável no longo prazo. Quando Gaza, algum dia, vier a ser liberada para o grande jornalismo independente, tudo já terá sido dito por palestinos de celular na mão como Bisan Owda.

UM MASSACRE – Segundo dados divulgados pela agência Anadolu, da Turquia, “902 famílias palestinas de Gaza tiveram seus registros civis obliterados por morte de todos os seus membros”. Tem mais: 1.364 famílias foram dizimadas restando um único membro. De 3.472 outras famílias sobraram apenas dois indivíduos. Foi para dar conta do orfanato a céu aberto em Gaza que organizações humanitárias criaram o acrônimo inglês WCNSF, para “criança ferida, sem familiares vivos”.

Em contrapartida, no Líbano agora também regado a bombas e atropelado por tanques israelenses em caça ao Hezbollah, a destruição é transmitida ao vivo e em cores, em todas as línguas, por jornalistas do mundo inteiro. Daí a correria maior em busca de um cessar-fogo imediato — se possível, antes de o Irã ser tragado na centrífuga de guerras que Israel pretende vencer simultaneamente.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu parece não ter pressa: faltam poucos dias para a eleição presidencial americana. Aumentar o círculo de fogo no Oriente Médio prejudica bastante a difícil campanha de Kamala Harris à Casa Branca. E um cessar-fogo de bandeja para um Donald Trump eventualmente vitorioso teria sabor de desforra adicional. Como deter essa tempestade?

Alcolumbre, que não consegue eleger o irmão, ainda quer presidir o Senado

Prestígio familiar: Davi Alcolumbre (à esquerda) ao lado de seu irmão Josiel

Josiel Alcolumbre (à dir.) perdeu eleição mais uma vez

Vicente Limongi Netto

O irmão do intragável senador Davi Alcolumbre (União-AP) sonhava ser vereador em Macapá. Recebeu cartão vermelho nas urnas (coluna Denise Rothenburg, com Eduarda Esposito – Correio Braziliense – 07/10). Resultado feio para quem pretende voltar a ser presidente do Senado. Alcolumbre ficou escaldado.

Ventos sombrios do Amapá podem virar furação devastador, contra as pretensões do senador.  Outro detalhe político significativo: Dr. Furlan, do MDB, foi eleito prefeito no primeiro turno. Com votação consagradora, a maior de todo pleito. O MDB tem bancada expressiva no Senado. Com elenco de vencedores. Não pretende render-se aos encantos do nocivo Alcolumbre.

DESESPERO – O treineiro Dorival Junior entope a seleção com jogadores bisonhos, que arrebentam nos clubes onde jogam pedra em mangueira. Chegam na seleção, com banca de bons na ponta da chuteira e fazem feio, desapontam. Perder para Chile e Peru, piores do que o Brasil, na tabela de classificação das eliminatórios, não é impossível acontecer.

Meio de campo do Brasil é quase medíocre. Não evolui, não amedronta o adversário, pouco inspirado, com toques de bola improdutivos. vamos ver, torcer e rezar. é o que resta ao sofrido torcedor. 

MATEMÁTICA – Willian Bonner exagerou no equivocado e famigerado matematicamente, no Fantástico, na apuração das eleições. Coisa feia. Falha desastrosa, sobretudo para quem tem nome profissional a zelar e serve de parâmetro para profissionais da Globo.

Tomara que no segundo turno Bonner esteja escolado e deixe de agredir a gramática. Mexendo com números, estatísticas variando, votos de candidatos alternando, posições mudando nas pesquisas, Bonner precisa saber usar a Aritmética, e o aritmeticamente, ao invés do repetido, errado e tenebroso matematicamente. 

A Matemática é a ciência dos números. Bonner, deixe a Matemática em paz.  Quem cuida dos números, das multiplicações, das somas e das divisões, é a Aritmética. Acorda, Bonner! Detalhe marcante: foi na redação do Globo, idos 1960 a 70, como repórter da sucursal de Brasília, que aprendi a lição. Hoje, perto dos 80 anos de idade, durmo e acordo com ela.  

O Brasil inteiro vai torcer próximo dia 27, para Bonner acertar a mão e a linguagem.

Na era da impaciência e da vingança, recomenda-se a volta do misticismo

Para aliados, Alexandre de Moraes não apressará decisão sobre o X | Blogs | CNN Brasil

Moraes precisa se livrar desse sentimento de vingança

Vinicius Mota
Folha

Drogas sintéticas, apostas online, pornografia, guloseimas ultraprocessadas, influenciadores hedonistas, memes, mensagens, fofocas. A oferta de elementos que perturbam a atenção e dificultam o autocontrole nunca foi tão copiosa. Na arena política, para lidar com os efeitos colaterais dessa hiperdisponibilidade, debate-se regular as bets, proibir celulares em escolas, disciplinar o acesso a certos medicamentos e alimentos, bem como a sua propaganda. Nações avançadas discutem até onde deveria ir a liberalização das drogas.

No terreno da conduta pessoal, a pandemia de distratores estimula, como resposta, ideias e práticas que remontam ao misticismo claustral. Afinal, o sacolejo do smartphone abala o equilíbrio de muita gente, mas não o de um monge.

PAPA GREGÓRIO – As circunstâncias eram outras quando, de 590 a 604, pontificou Gregório, o primeiro papa oriundo do monasticismo. Os desafios à igreja e à população romanas estavam mais para a privação e o risco de aniquilação do que para a abundância.

Talvez por isso a paciência, tema de uma das suas homilias, traduz-se como a arte de tolerar desaforos e os mais ásperos reveses da vida e, ainda por cima, amar os autores das pancadas. Quem remói desejos de desforra, mesmo que não a pratique, destrói a verdadeira paciência, a que reside no coração e conduz ao aprendizado, segundo esse doutor da igreja.

“Pela vossa paciência ganhareis posse das vossas vidas”, diz Jesus aos apóstolos logo após adverti-los das desgraças por vir. Esse trecho do evangelho de Lucas, abordado na pregação de Gregório, dá uma pista para entender a revalorização do ascetismo nos dias de hoje, seja em vertentes religiosas, seja em apropriações agnósticas.

NÃO SE VINGAR – A paciência gregoriana não se confunde com um estado de espera. É um mergulho consciente e concentrado em atividades mentais e físicas de formação e preparo interior. A recomendação de não se vingar dos algozes e de perdoá-los ensina que existe uma resposta mais apropriada para as ofensas.

Os cristãos, como Gregório, almejam a salvação da alma após a morte. Mas a ideia por trás de uma resposta apropriada a um agravo pode muito bem ser a da Justiça, que repele a lei de Talião em nome de formas civilizadas de aferir as culpas e distribuir as penas. No plano individual, a ascese promete interpor um mediador sagaz entre nossos impulsos primitivos e a nossa reação final.

Tomar as rédeas da própria vida em meio à chuva de meteoros que nos distrai ou nos machuca requer um disciplinamento para, muitas vezes, recusar o caminho mais prazeroso e suportar dissabores em nome de uma recompensa futura e incerta —que pode ser a graça divina, para o crente, ou uma aposentadoria confortável e saudável, para o materialista previdente.

VIDA E MORTE – O domínio das emoções pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Experimentos da pesquisadora e oficial da reserva da PM paulista Tânia Pinc sugerem que técnicas de modulação da frequência cardíaca através do controle da respiração — o que lembra exercícios de monges — melhoram o desempenho de policiais em abordagens de suspeitos armados.

No best-seller “A Geração Ansiosa”, que impulsiona a discussão sobre restringir o acesso de crianças e adolescentes às redes sociais, o psicólogo norte-americano Jonathan Haidt, ateu, dedica um capítulo a elogiar práticas herdadas de tradições religiosas, como a meditação silenciosa, a sacralização do tempo e do espaço, os movimentos sincrônicos e coletivos dos cultos e o incentivo ao perdão. Haidt as considera antídotos contra aspectos deletérios das novas tecnologias.

A conectar todos esses pontos, aparece a ideia de que o indivíduo alcança mais felicidade, conforto e instrução se relativizar a sua importância no mundo, harmonizar-se com a ordem cósmica, aceitar o inevitável, ignorar as ilusões do pensamento e concentrar a atenção no que é importante e pode ser modificado pela sua ação diligente e tempestiva.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um artigo ideal para ser lido por Alexandre de Moraes. Ao descobrir as virtudes da paciência, talvez ele perceba que está dominado pela sede de vingança e não adianta nada ficar se descabelando por causa de pessoas sem a menor importância, como Elon Musk e Daniel Silveira, por exemplo. (C.N.)

Malafaia recebe agradecimentos de Tarcísio e de Nunes após a derrota de Pablo Marçal

Malafaia faz graves acusações a Marçal: "Sinais de psicopatia" | Brasil |  Pleno.News

Malafaia faz acusações a Marçal: “Sinais de psicopatia”

Bela Megale
O Globo

O pastor Silas Malafaia detalhou sua atuação na eleição de São Paulo em um discurso para seus fiéis, no domingo, após a derrota de Pablo Marçal. O pastor classificou o candidato do PRTB como “maior farsa que já apareceu” e falou dos agradecimentos que recebeu por confrontá-lo.

— Recebi telefonema do governador (Tarcísio de Freitas) e do prefeito de São Paulo (Ricardo Nunes) dizendo: “Pastor, se não é o senhor, isso já tinha acabado há muito tempo — afirmou Malafaia, referindo-se a uma possível vitória de Marçal.

MUDANÇA DE RUMO – O pastor afirmou que há cerca de 12 anos não entrava diretamente na disputa pela prefeitura de São Paulo, mas diz que decidiu mudar de postura após o 7 de setembro. Na ocasião, Marçal chegou atrasado na manifestação convocada na Avenida Paulista e quis falar no carro de som, mas foi vetado por Malafaia, o que desencadeou uma briga entre ambos.

— Nunca fiz isso. 30 vídeos. Fui esculhambado por pastor, por crente, pela direita. O cara tem uma milícia digital — disse Malafaia. — Fiz tantos vídeos porque a rede dele era tão grande que, se eu me calasse um dia, me desmoralizavam.

O pastor disse que Marçal “comanda o maior exército de ‘desigrejados’ da nossa história”, citando que, na estrutura religiosa que atribui ao ex-coach, não há pastores ou pagamento de dízimo. A defesa do fim do dízimo por Marçal é um dos principais motivos de embate entre ele e lideranças evangélicas e o influencer.

BOLSONARO ALIVIADO – O es-presidente Jair Bolsonaro evitou entrar em confronto com Pablo Marçal, mas não escondeu de aliados o alívio que sentiu ao saber que o candidato do PRTB não foi para o segundo turno em São Paulo.

A portas fechadas, o ex-presidente celebrou a derrota do ex-coach, quando soube que ele estava fora da disputa. No momento, Bolsonaro estava em sua casa no Rio de Janeiro, acompanhando a apuração das eleições com diversos aliados, como o candidato derrotado no Rio Alexandre Ramagem e seu filho, Carlos Bolsonaro, vereador reeleito.

No domingo de manhã, o capitão reformado tinha sinalizado que, em um eventual segundo turno entre Guilherme Boulos (PSOL) e Marçal, apoiaria o candidato do PRTB. Nos bastidores, Bolsonaro não poupou críticas e xingamentos a Marçal nos últimos meses. O medo de ser retaliado nas redes pela sua base, entretanto, fez com que o ex-presidente adotasse sempre um tom comedido para se referir ao influencer.

Na coletiva de imprensa que concedeu após a eleição municipal, Bolsonaro comparou Marçal a um hacker “que, em vez de usar a inteligência para trabalhar em um banco, fica fazendo besteira”. Também afirmou que o laudo falso contra Boulos “vai marcar a vida” do ex-coach e disse que Marçal perdeu a chance de se consolidar.

Mulheres batem recorde, mas elegem no primeiro turno só 15% do total

Resultado eleições Campo Grande: Adriana Lopes e Rose Modesto vão ao 2º  turno - JOTA

Adriane Lopes ou Rose Modesto, em Campo Grande (MS)

Bruno Alfano
O Globo

O número de mulheres eleitas para Prefeituras cresceu levemente em 2024, mas bateu recorde. Dos 5.454 vencedores neste domingo, apenas 15,4% são do sexo feminino. Em 2020, foram 12%. Nas capitais, sete foram para o segundo turno, uma a mais do que há quatro anos.

Assim como aconteceu em 2020, nenhuma capital elegeu uma mulher no primeiro turno. No entanto, já há uma prefeitura garantira que será comandada por uma prefeita: em Campo Grande (MS), Adriane Lopes (PP) disputará a reeleição contra Rose Modesto (União). Atualmente, só a capital sul-mato-grossense e Palmas são governadas por mulheres.

EM RORAIMA – O estado de Roraima foi o que, proporcionalmente, teve mais mulheres eleitas: 26% dos municípios do estado terão prefeitas. Ele é seguido por Rio Grande do Norte (25%), que também é governador por uma mulher, e Paraíba, com 24%. Já o Espírito Santo tem apenas duas eleitas em 76 municípios, o que representa apenas 2% do estado, a menor proporção do país.

No Rio, 13 mulheres venceram as eleições. Isso corresponde 15% do estado. E, em São Paulo, foram 67 vitosiosas, o que significa apenas 10,9% dos municípios.

As candidatas nas capitais que passaram para o segundo turno em 2024: Emilia Corrêa (PL) – Aracaju; Adriane Lopes (PP) e Rose Modesto (União) – Campo Grande; Cristina Graeml (PMB) – Curitiba; Natália Bonavides (PT) – Natal; Janad Valcari (PL) – Palmas; e Maria do Rosário (PT) – Porto Alegre.

FORAM RECORDE – As eleições municipais de 2024 concentram o maior número proporcional de candidaturas femininas, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bateram o recorde do ano passado.

As mulheres representam 34,7% de candidaturas registradas no TSE. Ao todo, foram 156.519 candidatas.

O levantamento feito pelo GLOBO considera a série histórica desde 2000, quando os dados por gênero começaram a ser compilados pela Justiça Eleitoral.

Marçal deve se tornar inelegível por alguns anos ou até pegar uma cadeia

Marçal condiciona apoio em 2º turno a incorporação de propostas e diz que  não vai mais disputar Prefeitura de SP | Eleições 2024 em São Paulo | G1

Falsificação foi a maior burrada de Marçal em sua vida

Francisco Leali
Estadão

Se dependesse da vontade de 1,6 milhão de eleitores de São Paulo, o ex-coach que se lançou candidato pelo PRTB deveria estar no segundo turno da disputa pela Prefeitura da cidade. Mas os votos, embora de larga proporção, não foram suficientes para levar Pablo Marçal até lá e ele está fora da corrida eleitoral.

Seu destino político parecia projetado a não ter limites. Tanto que não se importou em apresentar um documento falso envolvendo o candidato do PSOL Guilherme Boulos. A fraude foi atestada pela Polícia Civil e escancarada publicamente. Marçal dela não pode se desvencilhar. O documento forjado fora postado por sua conta pessoal em rede social. Sua digital está, portanto, associada ao delito.

DISSE TARCÍSIO – O crime ficou tão explícito que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi categórico: “se o Brasil fosse sério, Marçal seria preso”. O governador chama a campo a instituição que tem responsabilidade de agir: o Poder Judiciário.

Cabe à Justiça Eleitoral julgar o político pelo delito com finalidade de abalar o resultado da votação. E a punição possível é condenação que o torne inelegível por alguns anos. Marçal poderá recorrer e levar o caso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É difícil acreditar que alguém lhe dará ouvidos.

No mundo político, o ex-coach conseguiu virar unanimidade que inclui o atual prefeito Ricardo Nunes, Boulos e ainda seus dois padrinhos: respectivamente, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.

DESTINO MARCADO – O desembargador Silmar Fernandes, presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), já antecipou que, se ficar provada a falsidade do documento publicado por Marçal, o destino dele pode estar marcado. “Quem desrespeita a legislação, tem punição. Ela pode demorar, mas ela chega”, declarou o magistrado.

 A falsificação documental pode levar Marçal também para responder por crime na Justiça Federal. E aí a pena possível não é mais a inelegibilidade, mas a cadeia.

Arrivista político, o ex-coach pode ter dificuldades de conseguir aliados que se mantenham firmes em sua defesa, mesmo que passe a desfiar nas redes sociais a cantilena do perseguido pelo sistema. E uma punição a Marçal pode ser entendida nas Cortes como medida exemplar. E servir de recado a novos pretendentes à disputa eleitoral que optem por ultrapassar os limites da civilidade e das leis.

Filhos de Bolsonaro se elegeram, mas seu irmão perdeu eleição em Registro

Jair Renan Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renato Bolsonaro.

Renan e Carlos foram eleitos, mas o tio Renato se deu mal

Deu em O Globo

Além da reeleição do filho Carlos Bolsonaro (PL), que teve votação recorde para vereador no Rio, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu o seu filho mais novo, Jair Renan Bolsonaro (PL), ser o mais votado para a Câmara de Balneário Camboriú (SC). Por outro lado, o seu irmão caçula, Renato Bolsonaro (PL), não se elegeu como prefeito de Registro, cidade na região do Vale do Ribeira, em São Paulo.

Jair Renan e Renato Bolsonaro buscaram ingressar em novos cargos políticos neste ano, algo que não seria possível se Bolsonaro tivesse continuado no poder. Isso porque familiares de até segundo grau do presidente da República não podem disputar o pleito, a não ser que busquem a reeleição, caso de Carlos.

VITÓRIA E DERROTA – Jair Renan Bolsonaro (PL), filho mais novo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi eleito o vereador mais votado em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, com 3.033 votos, com 100% das urnas apuradas.

Esta é a primeira vez que ele é eleito para um cargo público. Desde meados de 2023, ele vinha participando de agendas pelo estado, com lideranças locais — como prefeitos de cidades vizinhas, vereadores e os deputados Zé Trovão, Júlia Zanatta e Caroline de Toni — para se cacifar ao cargo. Nas urnas, ele usou o nome “Jair Bolsonaro”, em uma associação direta ao pai.

Um dos cinco irmãos do ex-presidente Jair Bolsonaro, o candidato Renato Bolsonaro (PL) ficou com 29,82% e não se elegeu como prefeito de Registro, cidade na região do Vale do Ribeira, em São Paulo. O vencedor foi Samuel Moreira (PSD), ex-prefeito do município por dois mandatos consecutivos (1997 a 2004), que obteve 55,73% dos votos neste domingo.

CARLOS REELEITO – O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, de 41 anos, foi reeleito para o cargo neste domingo. O parlamentar foi a escolha de mais de 130 mil eleitores, sendo o mais votado da capital fluminense. O desempenho do “filho 02” de Bolsonaro foi superior a todos resultados obtidos por ele anteriormente.

Com a nova eleição, Carlos caminha para o 7º mandato na Câmara dos Vereadores do Rio. Ele foi eleito pela primeira vez ainda em 2000, quando tinha apenas 17 anos. Na época, foi emancipado pelo pai para disputar o pleito contra a mãe, já ex-mulher de Jair Bolsonaro, Rogéria Bolsonaro, que foi derrotada nas urnas pelo filho.

Eleição não se ganha de véspera, e por isso o inesperado faz tantas surpresas

Candidatos de PG divulgam novas pesquisas mentirosas pagas por eles para tentar induzir eleitores | Mareli Martins

Charge do Newton Silva (Arquivo Google)

Dora Kramer
Folha

Eleição não se ganha nem se perde de véspera, embora seja esta a ocasião em que mais se especula sobre quem vai comemorar vitórias ou amargar derrotas. Isso ficou mais forte desde que o advento das pesquisas de intenção de votos tomou conta da cena.

Antigamente, na pré-história dos anos 1980, quando o Brasil começou a retomar eleições diretas nos estados (1982), nas capitais (1985) e à Presidência da República (1989), a medição da vontade do eleitor era fruto do trabalho da imprensa, com repórteres à caça do “clima” país afora.

TUDO MUDOU – Por razões que não vêm ao caso nem são objetos aqui de juízo de valor, isso mudou. Agora o que conta são números, tabelas, gráficos e recortes minuciosamente destrinchados a cada rodada com rapidez e graus de certeza (não de acerto) impressionantes.

Quando destoam da voz das urnas é a acusação de sempre: as pesquisas erraram. Chovem críticas, e na eleição seguinte voltamos a nos guiar obedientemente por elas. Pelo simples fato de que são instrumentos eficientes para a detecção de situações e tendências.

Como alertam os institutos aos quais o furor contestatório do dia seguinte não costuma dar ouvidos, pesquisas não pretendem substituir o eleitorado nem fazer as vezes das circunstâncias. Isso sem contar com o inesperado que, no inesquecível verso de Johnny Alf (1929-2010), existe para nos trazer surpresas.

EFEITO WITZEL – Na política, a prudência advinda da experiência e dos equívocos cometidos por precipitação aconselha não menosprezar alguns fatores, independentemente de as disputas estarem acirradas ou não.

O caso mais recente, o de Wilson Witzel, em 2018, cujo nome só vimos a conhecer praticamente no dia da eleição que o faria governador do Rio de Janeiro. Em episódios desse tipo, a pesquisa não pega as “ondas” de última hora nem os movimentos dos eleitores com vergonha de antecipar a escolha ou daqueles que resolvem conferir utilidade ao voto na boca da urna.

Portanto, é melhor conter o ímpeto do afã de acertar do que incorrer no equívoco de culpar quem faz o seu papel sem necessariamente a pretensão de adivinhar.

A importância das pesquisas eleitorais no cenário político

Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

Pedro do Coutto

Uma perícia técnica do Instituto de Criminalística de São Paulo concluiu que o laudo apresentado por Pablo Marçal contra Guilherme Boulos é falso, o que pode ter acarretado uma vantagem maior para o candidato do Psol em São Paulo. Boulos imediatamente teve uma grande exposição do seu nome nos jornais e emissoras de televisão, assumindo uma posição de quem sofreu uma grande injustiça. E esse fato possivelmente se refletiu numa faixa do eleitorado, reforçando alguma vantagem sobre os seus adversários.

Na cidade de São Paulo, conforme mostraram os resultados, haverá segundo turno. Os institutos Datafolha e Quaest praticamente convergiram para essa posição durante as pesquisas que confirmaram os prognósticos apresentados. Isso demonstra a grande evolução dos processos, mas também dos próprios trabalhos destes órgãos.

PERMUTAS – Antigamente, o Instituto Ibope para fazer pesquisas recorria às permutas com os órgãos de imprensa. Hoje, ao contrário, além da exposição de seus resultados, os institutos recebem contratos firmados com as emissoras e os jornais.

Foi uma longa trajetória para a concretização da credibilidade e das ações nesse cenário,  sobretudo pelo fato de os grupos entrevistados serem muito pequenos em relação ao total da população, o que inicialmente não atribuía confiança por parte de grande parte dos eleitores. Nem todos viam os números e projeções como parâmetros corretos.

Mas hoje muitos órgãos de pesquisa são de grande aceitação em seus levantamentos, tendo em vista a grande quantidade de acertos nos últimos anos, com números efetivos praticamente iguais aos previstos durante as campanhas eleitorais. A grande arma dos institutos é exatamente a credibilidade que só é conquistada com o trabalho realizado ao longo do tempo, aperfeiçoado e cada vez mais alinhado com a realidade.

INDICATIVO – A profusão de pesquisas eleitorais às vésperas de cada pleito são um claro indicativo da importância dada a esse instrumento não apenas por candidatos aos mais diversos cargos, mas também pelos meios de comunicação e pela sociedade em geral.

É importante ressaltar que os resultados de uma pesquisa não são números exatos, mas sim estimativas e devem ser interpretados de um intervalo que estabelece limites em torno da estimativa obtida.  Quanto maior for à amostragem e mais homogênea for à população em estudo, mais seguras serão as informações da pesquisa eleitoral.

O problema que se percebe, é que hoje o eleitor está mais heterogêneo, pois está mais pela emoção do que pela razão.  A decisão do voto é muito sensível, podendo mudar na última hora da eleição. Hoje, mais uma vez, podemos fazer um comparativo dos números levantados antes e após os pleitos eleitorais, reforçando através da grande maioria das capitais a confiabilidade dos números dos institutos.

Da janela do apartamento de Tom, podia se ver o Corcovado e sonhar…

A Felicidade - Tom Jobim e Vinícius de Moraes | Letra e Musica

Tom com Vinicius, seu maior parceiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

Antonio Carlos Jobim expressa na letra de “Corcovado”, título de uma de suas mais famosas canções, um retrato do Rio de Janeiro visto da janela onde morava Tom, em Ipanema, na Rua Nascimento Silva, 107, de onde se podia avistar o Corcovado e se podia sonhar em encontrar um grande amor e, consequentemente, fazê-lo conhecer o que é a felicidade, depois de sonhos, tristezas e descrenças deste mundo.

A música “Corcovado”, estilo bossa-nova, foi gravada por Nara Leão, em 1985, pela PolyGram.

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CORCOVADO
Tom Jobim

Um cantinho, um violão
Esse amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado,
O Redentor que lindo!

Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama

E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor

Genro de Lula foi derrotado em Sergipe, onde conseguiu apenas 3,26% dos votos

Danilo Sampaio com o presidente Lula.

Lula fez fotos e vídeos, mas seu genro foi massacrado

Eduardo Gayer
Estadão

Genro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o advogado Danilo Sampaio saiu derrotado nessas eleições municipais. Ele era candidato à prefeitura de Barra dos Coqueiros, município de Sergipe. O candidato Airton Martins (PSD) foi eleito com 49,3% dos votos. Alberto Macedo (União Brasil) ficou em segundo lugar, com 47,4%. O candidato petista terminou com apenas 3,26% dos votos válidos.

Danilo concorreu à prefeitura local com candidatura “sub judice”, isto é, com risco de ser anulada em caso de vitória. Isso porque em setembro a Justiça Eleitoral indeferiu o registro do advogado por entender que ele e Lurian Lula da Silva, filha primogênita do presidente, vivem em regime de união estável. A Constituição veda candidaturas de cônjuges e parentes em segundo grau do presidente da República, salvo em caso de reeleição. O casal, porém, afirma manter apenas um relacionamento sério.

Danilo foi candidato com apoio direto do presidente, que gravou para o horário eleitoral do genro. O advogado se apresentou nas urnas como “Danilo de Lula”, mas a popularidade do petista em Sergipe não conseguiu embalar a candidatura.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula não tem herdeiros políticos. Nenhum de seus filhos se interessou em seguir a profissão do pai, preferiram ser empresários e enriquecer mais rapidamente nos bastidores da política. O mais velho, que era filho de dona Marisa Letícia, segunda esposa de Lula, que se casou com Lula quando os dois eram viúvos, chegou a ser candidato a vereador em São Bernardo do Campo, em São Paulo, mas teve resultado decepcionante e decidiu abandonar a política. A filha Lurian chegou a ser Secretária de Turismo de Maricá, no Rio de Janeiro, mas não teve coragem de se candidatar. (C.N.)

Eleição mostra que o Brasil está se livrando da polarização Lula/Bolsonaro

Os esforços de Lula e Bolsonaro nas eleições municipais de 2024 - Nexo Jornal

Lula e Bolsonaro deram apoio restrito a seus candidatos

Carlos Newton

Não mais que de repente, como genialmente dizia Vinicius de Moraes, o editor da Tribuna teve uma epifania, que os gregos chamavam de “aparição” ou “manifestação”, e os americanos agora estão transformando em “insigth”, para simplesmente significar que a gente teve uma ideia, ou seja, captou o que está acontecendo diante de nossos olhos, mas nem todos conseguem perceber.

O fato concreto – e altamente auspicioso – é que a tão famosa polarização, que entrou na moda e atinge a política dos mais diferentes países, está começando a ceder no Brasil. Parece brincadeira, mas é verdade. Basta conferir o que aconteceu nas eleições municipais deste domingo.

LULA E BOLSONARO – A polarização nos indicava que esta seria mais uma eleição entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Mas sempre há surpresas,  e a polarização enfraqueceu a olhos vistos.

Não é que tenha acabado a dicotomia entre direita e esquerda, não é isso, claro. Mas o fato concreto é que os dois principais políticos do país – Lula da Silva e Jair Bolsonaro – julgavam ter o absoluto controle das ideologias. Mas isso é coisa que já ficou no passado recente, eles não dominam mais como em 2018.

Sem que houvesse qualquer fenômeno que pudesse provocar essa virada, as eleições municipais deste domingo vieram nos mostrar que as influências de Lula e de Bolsonaro são cada vez menos expressivas.

GRANDES CIDADES – Vejamos o que ocorreu nas principais cidades do país. Não é preciso consultar o Oráculo de Delfos para saber que nem Lula nem Bolsonaro tiveram maior influência nas eleições de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador ou em qualquer outra grande cidade.

Assim, chama atenção justamente esse fato de que a maioria esmagadora do eleitorado está pouco se incomodando com a opinião de Lula ou Bolsonaro.

A constatação é auspiciosa, porque é preciso que se dissipe essa tendência à polarização, para que o eleitorado passe a se acostumar a votar no melhor, ao invés de preferir aquele que representa esta ou aquela tendência político-ideológica.

FIM DA IDEOLOGIAS – É certo que as ideologias estão cada vez mais ultrapassadas, porque houve uma salutar convergência entre o capitalismo e o comunismo pela busca do bem-estar social, que possibilitou o desenvolvimento da social-democracia adotada pelos países mais desenvolvidos.

Precisamos ter paciência e escolher o caminho do meio, votando sempre naquele que for mais confiável e apresentar um melhor programa de governo.

É a isso que se chama de democracia, que se constrói pelo voto livre, sem ser manipulada por  laboratórios político-ideológicos ou redes sociais.

Resultados mostram que a direita teve avanço expressivo, como já era esperado

Boulos e Nunes gastam R$ 2 mi com anúncios no Instagram em 7 dias

Nunes e Boulos vão para um segundo turno espetacular

Merval Pereira
O Globo

O voto útil, esse nosso velho conhecido nas eleições, responsável por tantas surpresas nas últimas campanhas eleitorais, volta a dar as caras nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro. A mais recente tinha sido a vitória de Wilson Witzel para o governo do Rio. Para evitar que Romário pudesse ir para o segundo turno contra Eduardo Paes, muita gente pregou o voto útil em Witzel na ilusão de que seria derrotado no segundo turno com facilidade. Não contavam com a tempestade perfeita que vinha a reboque do fenômeno Bolsonaro naquele 2018, que transformou aquele juiz desconhecido em um fenômeno, passageiro felizmente.

Ao mesmo tempo que, no Rio de Janeiro, o reconhecimento de Ramagem como candidato apoiado por Bolsonaro o levou a melhorar de posição, em São Paulo os candidatos da direita dividiram o eleitorado bolsonarista e caminharam de maneira quase independente nos últimos dias de campanha, sem que o ex-presidente tentasse intervir.

LULA SE AFASTA – À esquerda, também o presidente Lula se afastou da candidatura de Boulos, certo de que dificilmente terá chance de ver seu candidato vencer a disputa no segundo turno. O problema da esquerda paulistana era nem ter representante no segundo turno, o que seria uma derrota de grandes proporções.

A disputa acirrada pelo segundo turno levou a que um grupo de artistas e intelectuais divulgasse texto defendendo o voto útil a favor de Boulos, para impedir que a direita levasse seus dois candidatos ao segundo turno.

Esse voto útil paulistano atacou diretamente a candidata Tabata, que estava com 11%, segundo a pesquisa Quaest divulgada sexta-feira. Por sua vez, a candidata do PSB, que tem na esquerda uma rejeição forte, fez campanha pelo voto útil afirmando que somente ela poderia derrotar Boulos no segundo turno.

TABATA SE REVELA – A performance de Tabata na campanha em si, e em especial nos debates, mostra como a esquerda está defasada em suas escolhas. Teve pouca chance de ter sucesso desta vez, mas fincou definitivamente sua bandeira como uma das boas revelações para a renovação da política brasileira.

No Rio de Janeiro, embora a situação do prefeito Eduardo Paes possibilitasse vencer no primeiro turno, o crescimento da candidatura Ramagem trouxe o fantasma da mudança de ventos na última semana da campanha. A ponto de uma campanha a favor do voto útil em Paes ser desencadeada nas redes sociais, contra a candidatura da esquerda Tarcísio Motta, que tinha aparecido estagnado nas pesquisas de opinião mais recentes.

Embora o PT apoiasse a reeleição de Eduardo Paes, o candidato do PSOL tentou a campanha inteira atrair os votos da esquerda para si, sem renegar Lula. Mas os que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial foram majoritariamente para Eduardo Paes, para garantir a vitória no primeiro turno.

CHEIRO DA DERROTA – O ex-presidente Bolsonaro, mesmo sem ter, como em São Paulo, divisão na direita, não se dedicou à campanha de Ramagem, cheirando a derrota que estaria por vir.

Lula e Bolsonaro, em momentos diversos, anunciaram que as eleições de domingo seriam um embate entre direita e esquerda representadas por ambos. Mas  pressentiram derrotas em seus domínios eleitorais e procuraram desvencilhar-se delas, como se fosse possível. 

“Se fosse eleito, Marçal seria cassado”, confirmam dois ex-ministros do TSE

O ex-ministro do TSE Admar Gonzaga.

Admar Gonzaga foi ministro do TSE e não tem dúvida

Eduardo Gayer
Estadão

O jurista Admar Gonzaga, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entende que o candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, caminha para ficar inelegível e seria cassado, se eleito, por ter publicado um laudo médico falso para acusar o rival Guilherme Boulos (PSOL) de ter usuário de cocaína e feito reabilitação.

“Há gravidade na utilização do documento conhecidamente falso, porque não é possível que ele não tenha apurado a veracidade, antes de exibi-lo. Então, [o candidato] pode ficar inelegível e perder o mandato, se for eleito. É bem provável que isso aconteça”, afirmou Gonzaga à Coluna do Estadão, acrescentando: “A Justiça Eleitoral está perfeitamente aparelhada para dar a devida resposta jurisdicional”.

DECISÃO DO TSE – Em última instância, é o TSE quem define uma inelegibilidade, como fez com Bolsonaro, ou uma cassação, como ocorreu no caso do então deputado Deltan Dallagnol.

Admar Gonzaga foi ministro efetivo do TSE entre 2017 e 2019. Fora da Corte, atuou como advogado de Jair Renan, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que em São Paulo apoia a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Na avaliação de outro ex-ministro da Corte Superior, que preferiu analisar o caso em anonimato, há uma hipótese clara de cassação à mesa, e a medida teria de ser aplicada como uma “linha vermelha” para evitar que as próximas vésperas de eleições sejam marcadas por atos semelhantes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É claro que Pablo Marçal não inventou o documento, porque sabe que esse tipo de fraude é cassação na certa. O mais provável é que algum espertalhão tenha vendido a ele, que sempre foi malandro para tomar dinheiro dos outros nas redes sociais, mas desta vez procedeu como um grande otário, porque castigo anda a cavalo e chega rapidamente para atropelar o malandro. Se passasse ao segundo turno e depois fosse eleito, Marçal seria cassado e haveria uma nova eleição. (C.N.)

Nenhum sistema de votação é perfeito, mas alguns são melhores do que outros

Tabata está em quarto, mas venceria o segundo turno

Hélio Schwartsman
Folha

Uma das coisas mais difíceis na democracia é contar os votos. Não me refiro obviamente ao delírio bolsonarista segundo o qual as urnas eletrônicas seriam manipuladas. O sistema eleitoral brasileiro só melhorou depois que elas foram adotadas. Tenho em mente aqui um problema que é a um só tempo mais sutil e mais profundo.

Ao menos desde de Condorcet, no século 18, e de Arrow, no 20, sabemos das dificuldades para transformar somas de preferências individuais em decisão coletiva sem gerar paradoxos.

DEMOCRACIA -Daí não decorre que devamos desistir da democracia. Até sistemas notoriamente ruins, como o colégio eleitoral que existe para eleições presidenciais nos EUA, são preferíveis a métodos não democráticos de exercício do poder, que invariavelmente geram violência.

Meu ponto é que existe um amplo cardápio de sistemas de votação e alguns são melhores do que outros. Tomemos o caso do pleito municipal paulistano. Pelos números do Datafolha, é possível que tenhamos um segundo turno entre Boulos e Marçal que são, pelo mesmo Datafolha, os candidatos mais rejeitados pela população. Tabata, que derrotaria todos os outros postulantes num segundo turno, amarga um distante quarto lugar nas intenções de voto para o primeiro.

Acho que seria interessante pensarmos em adotar um sistema de votação que dê um pouco mais de peso às rejeições, como o do voto valorativo, em que cada eleitor atribui pontos a todos os concorrentes.

ERA DE OURO – A democracia no Ocidente viveu uma era de ouro entre o fim da 2ª Guerra e o início deste século porque, por uma série de razões, prevaleciam cenários em que os votos mais radicais à esquerda e à direita meio que se anulavam, abrindo espaço para que os eleitores moderados definissem os pleitos.

Sei das dificuldades para implementar uma mudança dessa magnitude. Sistemas valorativos são mais opacos do que o atual e vendê-los à população não seria tão simples.

De toda maneira, acho que essa é uma meta de longo prazo da qual não deveríamos desistir. A democracia é uma obra em constante aperfeiçoamento.

Votar é confiar e prometer, legitimar ou protestar, em clima de expectativa

Charge: paduacampos.com.br

Charge do Lute

Roberto DaMatta
Estadão

Votar é confiar e prometer. Seu sentido original tem tudo a ver com promessa e devoção. No campo político, acrescentamos honestidade competitiva. O voto é uma unidade mínima de renovação da democracia. Não é por acaso que o momento eleitoral provoque um clima de expectativa e – num sistema hierárquico onde tudo tem dono – agressões reveladoras do estranhamento com o clima igualitário.

Um regime que se obriga a sofrer transformações periódicas é como um cinema que se recusa a exibir um mesmo filme. Coisa simples de falar, mas difícil de praticar, porque demanda a participação de todas as esferas sociais cujas relações são anteriores à invenção da democracia.

EIXO DA IGUALDADE – É um regime paradoxal e singular pois sob as democracias é que testemunhamos um governo garantindo sua derrota. Uma atitude que requer fidelidade e respeito à vontade dos cidadãos que pelo voto têm o direito de mudar governos. Tal postura requer uma sociedade cujo eixo é a igualdade.

É preciso muita educação política ao lado de uma extremada sinceridade para aceitar os votos contrários ao governo. Assim sendo, não há democracia sem acordo ao redor da igualdade como um valor supremo. Um apego capaz de nivelar gritantes e desumanas diferenças sociais.

A alternância produz voto bem como uma afinidade paradoxal com a mudança e com a permanência. Ao contrário do que imaginam certas almas ingênuas, limitar governabilidades produz a tensão emocional aliada ao criticismo político. Votar é, pois, legitimar ou protestar. É afirmar mudança ou continuidade. A história do voto mostra como ele foi refreado justamente por seu poder de mudança.

No Ocidente, o voto foi masculino; no Brasil, era hierárquico. Votava quem era branco, católico e letrado – os “homens bons”.

MUNDO DA RUA – O voto é central na vida institucional e formal, mas não faz parte – exceto em situações excepcionais – das decisões da “casa”. Não votamos na comida que comemos, na cama em que dormimos nem na crença religiosa que praticamos. As deliberações que dispensam eleição formam o costume vivido como natural. Num clima de eleição, o universo da casa e da família é englobado pelo mundo da “rua”. O “populismo” faz uma ponte entre essas esferas.

As dinastias políticas estabelecidas nos estados nos quais o familismo não deu lugar ao universalismo democrático provam como a “casa” engloba a “rua” e cria dilema que tenho investigado no meu trabalho.

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PS:
O último despacho do ministro Toffoli me faz perguntar: por que não imitamos o mundo criado por George Orwell e apagamos a história que não nos interessa? (R.D)