Para Leonardo da Vinci, a Mona Lisa deve ser vista por vários ângulos
Pedro do Coutto
O economista Filipe Campello, meu amigo, comentou a minha observação feita na coluna de quinta-feira, quando citei a declaração de Ruy Castro ao tomar posse na ABl , de que a palavra, no fundo, é indispensável para classificar e destacar imagens e seus significados, acentuando que uma imagem pode valer mais do que mil palavras; mas que a sua definição e sua relevância dependem da palavra na comunicação humana.
Basta citar em favor da tese o que escreveu o próprio Leonardo da Vinci em seus cadernos de Florença sobre as melhores formas de se observar a Mona Lisa, sua obra eterna e mais famosa. A citação contida nos cadernos é focalizada na biografia monumental sobre Leonardo da Vinci de Walter Isaacson, que, a meu ver, tornou o livro uma obra genial.
EFEITOS VISUAIS – Leonardo da Vinci chamou atenção para a coloração peculiar que atribuiu à tela, buscando efeitos visuais não perceptíveis na primeira visão. Ressaltou também que a Mona Lisa deve ser vista por vários ângulos; pela direita, numa visão oblíqua, de perto e à média distância, na visão frontal, a média e longa distância, e a partir do ângulo esquerdo, à média e longa distância.
A imagem encontrada por quem assim procede vai se multiplicar e revelar detalhes a cada enfoque da visão. Mas, o sorriso enigmático da figura na tela, ele explica, acompanhará o olhar de quem aprecia em todas essas situações. A figura na tela famosa que está no Louvre, Galeria dos Italianos, é de Lisa Gherardini, mulher do comerciante rico Francesco Giocondo, um homem que tinha obsessão para ser aceito pela sociedade alta de Florença.
DESENTENDIMENTO – Lisa Gherardini (a Gioconda) pertencia ao nível mais elevado. Ela posava para da Vinci em um ateliê em Florença e o quadro demorava para ser concluído. Levou quase quatro anos, acentua Isackson. Giocondo desentendeu-se com da Vinci e foi expulso do ateliê. O gênio da Renascença devolveu o dinheiro pago pela pintura, ficou com o quadro para si e levou-o para a França, onde faleceu na cidade de Amboise, e onde se encontra sepultado.
A pintura foi parar no Louvre e foi roubada em 1910, mas o ladrão devolveu a obra. No século passado, um louco tentou jogar tinta na tela do quadro. O quadro é pequeno e está novamente em seu lugar. Dizem até que se trata de uma cópia para evitar novos atentados. Há loucos para tudo. O que importa no tema objeto desse artigo é o uso da palavra para qualificar e explicar, traduzir e até mesmo ensinar como as obras de arte devem ser admiradas.
VIOLÊNCIA – Reportagem de Aline Ribeiro e Rafael Garcia, O Globo desta sexta-feira, com base em dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na quinta-feira, revela que, em 2022, o número de mortes violentas no país caiu, embora continue elevado, atingindo 47,5 mil casos, um recuo de 8%.
Entretanto, o número de estupros disparou, atingindo praticamente 75 mil casos, e o roubo e furto de celulares foram parar numa escala de um milhão de casos ao longo de 12 meses. Os estelionatos também subiram e os golpes pela internet também. Em matéria de estelionato, acentua Guilherme Caetano, O Globo, a cada hora são desfechados 208 golpes, dos mais variados tipos.
PROPOSTAS – Os crimes de estelionato, no período de 2018 a 2022, cresceram 326%, e as fraudes eletrônicas mais sofisticadas avançaram 65% no mesmo período. Na realidade, digo, só é possível fazer movimentação eletrônica quando a iniciativa for nossa. Não podemos aceitar propostas e conselhos, ofertas de fonte alguma, pois quando se oferecem facilidades excessivas para iludir as pessoas, em primeiro lugar deve-se desconfiar e não embarcar na onda sugerida.
Pelo telefone celular é a mesma coisa, inclusive porque quando se compra um aparelho, no dia seguinte surgem as mais diversas mensagens de propaganda ou propondo concessão de créditos, cartões e vantagens fictícias. Quem fornece o número do celular a essas fontes sombrias? Só pode ser a empresa que vendeu e liberou o número do aparelho, pois ninguém pode adivinhar os oito algarismos do celular de ninguém.
TRIBUTAÇÃO – Manuel Ventura e Vinícius Neder publicaram, com grande destaque, reportagem no O Globo de ontem sobre o projeto que está sendo elaborado pela equipe do ministro Fernando Haddad no sentido de que o governo obtenha recursos de cerca de R$ 120 bilhões para zerar o déficit primário das contas públicas.
Entre os objetivos da proposição encontra-se a tributação dos fundos exclusivos destinados à alta renda através de recolhimento semestral sobre as aplicações e não apenas sua incidência nos lucros reais obtidos descontada a inflação do IBGE. Está prevista também a criação de alíquotas para tributação de brasileiros que residem no Brasil sobre rendimentos obtidos em aplicações no exterior (offshores de paraísos fiscais).
APOSTAS – No momento, a incidência do imposto ocorre apenas quando do resgate do investimento. No alvo também da Fazenda, as apostas esportivas de todos os tipos e não apenas a tributação sobre os lucros dos apostadores sobre as receitas das empresas. A medida tem também como alvo os incentivos fiscais federais e os proporcionados na área estadual através do ICMS.
Com a mudança do voto de desempate no Conselho Administrativo da Receita Federal, Haddad espera arrecadar R$ 50 bilhões. O valor decisivo do voto de desempate foi mudado no governo Jair Bolsonaro. Multiplicado pelo tempo que ficou em vigor, calcula-se a diferença que causou na receita pública.