Grandes craques costumam se adaptar a novas funções e esquemas

Embarque no Cruzeiro fecha ciclo de mudanças radicais na vida de Gabigol -  Blog Drible de Corpo

Gabigol, muito festejado ao chegar ao time do Cruzeiro

Tostão
Folha

Não basta contratar ótimos jogadores e de prestígio. É preciso escalá-los nos lugares certos que, necessariamente, não seja a única posição. Grandes jogadores costumam se adaptar a novas funções.

No Cruzeiro, Dudu, Gabigol e Matheus Pereira, por jogarem melhor em posições diferentes e se completarem em suas características técnicas, podem formar um ótimo trio do meio para frente. Dudu é insinuante, driblador, rápido e atua melhor pelos lados, principalmente da esquerda para o meio. Gabigol é um excepcional finalizador que gosta de jogar da meia direita para o centro e para o gol. Matheus Pereira é um meia centralizado, criativo, com passes surpreendentes e precisos.

HÁ INCERTEZAS – Porém, há sempre um porém, existem incertezas nas contratações do Cruzeiro. Dudu ficou um longo tempo sem jogar por causa de uma grave contusão e não sabemos como estará neste ano. Gabigol não foi bem nos últimos dois anos, especialmente em 2024, quando foi mais uma estrela do que um atleta.

Será que Fernando Diniz irá escalar um quarto atacante, um centroavante ou um ponta? Esta é uma dúvida presente em quase todo treinador. No Brasil, os técnicos adoram colocar atacantes e deixar um vazio no meio campo. Esquecem que os gols nascem da própria intermediária com os meio-campistas.

No Newcastle, Bruno Guimarães joga muito melhor do que na seleção brasileira. O time inglês possui um trio no meio de campo, com o italiano Tonali centralizado e um brasileiro de cada lado, Bruno e Joelinton. Os dois marcam, constroem e avançam. Na seleção, Bruno joga à frente dos zagueiros, próximo de Gerson e muito distante dos quatro da frente.

CONTRATAÇÃO – O Palmeiras contratou um excelente atacante, Paulinho, mas que ainda ficará um bom tempo sem jogar por causa de uma contusão. Paulinho não é um centroavante nem um ponta esquerda, posições em que o time precisa de mais qualidade. Ele é um atacante que se movimenta bastante, que dá passes e faz muitos gols, ideal para formar dupla de ataque como fazia no Atlético com Hulk.

Abel Ferreira já disse que gosta de separar os camisas 5, 8, 9 e 10, além dos dois pontas, como se fossem bonecos em um jogo de botões.

O futebol caminha de uma maneira diferente, com jogadores que se movimentam bastante, que ocupam várias posições em campo de acordo com o momento do jogo, como Paulinho. Isso não diminui outras ótimas qualidades do técnico do Palmeiras.

UM NOVO FUTEBOL – No Rio Grande do Sul, enquanto o Grêmio se ilude de que basta contratar um bom técnico, o argentino Gustavo Quinteros, sem trazer bons jogadores, o Inter mantém o seu ótimo elenco e o excelente treinador Roger Machado. Ele, que foi um importante jogador do Grêmio, está acima das paixões clubistas.

Depois de várias décadas de futebol medíocre repetitivo, defensivo, feio, em que cada time esperava o outro e nada acontecia, o futebol evoluiu bastante, progressivamente, nos últimos 20 anos, impulsionado pelos avanços tecnológicos e científicos.

O jogo está mais intenso, bonito e eficiente. A beleza não está apenas na individualidade, nos dribles e nos efeitos especiais, mas também no jogo coletivo e nas diversas estratégias. É um novo futebol.

Candidatura de Gusttavo Lima seria um “jogo armado” com Caiado

Gusttavo Lima comprou iate de luxo de Roberto Carlos, o Lady Laura IV, por R$ 25 milhões — Foto: Reprodução Instagram

Lima comprou o iate de Roberto Carlos por 25 milhões

Rafael Moraes Moura e Johanns Eller
O Globo

A declaração do cantor sertanejo Gusttavo Lima de que pretende disputar a Presidência da República em 2026 foi recebida entre ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva com desconfiança e ceticismo. Assim como o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro, o anúncio do artista foi visto entre três integrantes do primeiro escalão da gestão petista como um “jogo armado” entre Lima e o governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), que é pré-candidato ao Palácio do Planalto.

O chefe do Executivo de Goiás é amigo pessoal do cantor e chegou a tirar férias para celebrar o aniversário de 35 anos de Lima, celebrado em um iate na paradisíaca ilha de Mykonos, na Grécia. Na leitura de ministros de Lula e aliados de Bolsonaro, Caiado teria incentivado as declarações do artista ao site Metrópoles para se blindar de críticas da direita e receber o endosso do colega mais à frente.

SENADO EM 2026 – Como publicou o colunista Lauro Jardim, além da estratégia visando a disputa presidencial, o entorno do ex-presidente também vê uma jogada ensaiada do governador do União Brasil para emplacar dois aliados no Senado em 2026: sua esposa, Gracinha Caiado, e o próprio Gusttavo Lima, que desistiria da empreitada nacional a seu favor.

No campo da direita bolsonarista, há ainda a avaliação de que Lima “traiu” Bolsonaro, uma vez que o artista conversou com o ex-ocupante do Palácio do Planalto na véspera e não citou qualquer pretensão de disputar a presidência.

O ex-presidente diz ser o “plano A” da direita em 2026, embora esteja inelegível até 2030 após ser condenado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

HOMEM DAS BETS – “Isso parece jogo armado com Caiado. O negócio do Gusttavo Lima é apostar, é um homem das bets. Não passa de uma grande aposta”, ironiza um influente ministro, próximo de Lula.

Outro ministro ouvido pelo blog concorda: “É tudo fake. Tudo é para confundir, o interessante é que eles estão brigando entre si, um canta e os outros dançam.”

Gusttavo Lima foi indiciado pela Polícia Civil de Pernambuco por lavagem de dinheiro e organização criminosa, em uma investigação de um esquema que envolve jogos ilegais e bets de apostas. Em setembro do ano passado, ele chegou a ter a prisão preventiva decretada pela juíza Andrea Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal do Recife (PE), a pedido da Polícia Civil estadual. A decisão, no entanto, foi derrubada pelo Tribunal de Justiça pernambucano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Gusttavo Lima é um pobre menino rico, que conseguiu amealhar um patrimônio gigantesco fazendo caríssimos shows para prefeituras paupérrimas, e agora também ganha dinheiro bancando apostas esportivas. Na Presidência, conseguiria ser pior do que Lula, podem apostar. (C.N.)

Crise das emendas pode afetar reforma ministerial de Lula

Tribuna da Internet | Acordo para destravar emendas é mais que uma simples  malandragem

Charge do JBosco (O LiberaL)

Bruno Boghossian
Folha

A voracidade do Congresso na apropriação das emendas orçamentárias provocou um desarranjo radical nas relações entre o Executivo e o Legislativo. Ao longo da última década, parlamentares conseguiram a garantia de uma verba gorda para seus redutos políticos sem depender da generosidade do presidente ou de seus ministros.

Nesse processo, o controle de gabinetes na Esplanada dos Ministérios passou a valer menos para os grupos partidários na extração de benefícios do poder. A indicação de integrantes para o primeiro escalão ainda oferece prestígio e acesso a dinheiro público, mas deixou de ser fator absoluto nas negociações para a formação de coalizões políticas.

PONTO DE VIRADA – A lógica teve um ponto de virada com Jair Bolsonaro, que fez propaganda em torno do princípio moral da limitação do acesso de partidos à Esplanada, enquanto entregou os cargos a outros grupos de interesse de sua coalizão, como militares, evangélicos e ruralistas. Para conseguir sustentação política em votações, deu ainda a chave do cofre do Orçamento para o centrão.

Lula enfrenta um quadro um pouco diferente. O presidente fez uma partilha de cargos que não se mostrou tão eficaz quanto em seus mandatos anteriores.

Manteve postos apetitosos nas mãos do PT e nomeou alguns ministros de outros partidos que se mostraram pouco determinantes na disciplina das bancadas em votações no Congresso, como é o caso dos políticos do União Brasil.

FICOU VICIADO – A razão principal é que o centrão aprendeu a se alimentar de emendas. A crise provocada pela intervenção do Supremo na distribuição assanhada dessa verba acrescenta um elemento de incerteza ao futuro das relações do governo com o Congresso, com possíveis reflexos na reforma ministerial que Lula pretende fazer nos primeiros meses deste novo ano.

Lula disse a auxiliares que faria trocas pontuais na equipe e sinalizou que o PT pode ser forçado a ceder espaço para outros partidos.

O presidente, porém, pode ser obrigado a fazer uma mudança maior caso o centrão enxergue neste momento uma oportunidade para diversificar suas ferramentas de poder e exigir uma reconfiguração da coalizão governista baseada em ministérios.

Até quando Moraes vai desfrutar de tantos superpoderes?

Charge: com imagem de vilão e personificando a Justiça brasileira - Jota A! - Portal O Dia

Charge do Jota A (O Dia/PI)

Glenn Greenwald
Folha

O manual do governo para adquirir e manter poderes extraordinários sobre a população já é bem conhecido. E ele é o mesmo em todo o mundo. Primeiro, os políticos convencem os cidadãos de que estão sob grave ameaça de um novo perigo existencial (comunistas, fascistas, terroristas etc.).

A única forma de se proteger contra essas ameaças, insistem, é permitir que os líderes assumam poderes antes inimagináveis.

AÇÕES TEMPORÁRIAS? – Se houver preocupações sobre os riscos desses poderes, os líderes políticos dizem: não se preocupem, essas medidas são apenas “temporárias”. Mas raramente são.

Nas semanas após o ataque de 11 de setembro nos EUA, o governo Bush convenceu o Congresso e o público a aceitarem uma lei radical chamada “Patriot Act”. Essa lei concedeu ao governo americano poderes antes impensáveis de detenção e vigilância.

Mas George W. Bush e seus aliados tranquilizaram os críticos: não há com o que se preocupar, esses poderes são apenas temporários, até que a ameaça terrorista diminua.

SEMPRE RENOVADA – Essa lei, caracterizada como temporária, foi repetidamente renovada pelo Congresso. Na maioria das vezes, ele tem sido usado muito além de seu propósito original de combater o terrorismo. E agora, tornou-se, 24 anos depois, uma parte normalizada da vida política americana que poucos questionam.

Não há dúvidas de que, no Brasil, o STF concedeu a si mesmo poderes extraordinários e radicais. Sabemos disso porque o próprio STF reconheceu isso repetidamente.

Em 2019 – há cinco anos completos –, o tribunal criou o “inquérito das fake news” e concedeu a um ministro, Alexandre de Moraes, poderes praticamente ilimitados para investigar criminalmente críticas ao tribunal (a maioria do STF caracteriza críticas como “ataques” à democracia brasileira).

SUPERPODERES – Durante as eleições presidenciais de 2022, Moraes tornou-se o supervisor singular do discurso político online, ultrapassando os poderes de qualquer autoridade no mundo democrático.

Na época, a ministra do STF Cármen Lúcia reconheceu que a aprovação desses poderes era uma medida “extremamente grave”, acrescentando que era necessário devido à “situação excepcionalíssima” das eleições de 2022. Mas ela garantiu que os poderes de Moraes eram temporários e seriam válidos apenas “até o dia 31 de outubro”, expirando automaticamente “exatamente um dia subsequente ao do segundo turno”.

Mas Moraes simplesmente continuou a usar esses poderes supostamente temporários muito após a data de expiração e, de fato, nunca parou de utilizá-los. Enquanto isso, o “temporário” inquérito das fake news do STF está agora em seu sexto ano completo, sem fim à vista.

DIZ BARROSO – Tudo isso levou o New York Times a entrevistar o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em outubro. O jornal perguntou:

“Já se passaram dois anos desde a eleição, e o tribunal manteve seus poderes ampliados. Vários altos funcionários do governo me disseram que estão preocupados porque essas investigações ainda não terminaram. Quando isso vai acabar?”

Barroso respondeu: “Acho que em breve. Quase tudo que precisava ser investigado já foi investigado… Não é razoável imaginar que, até o final deste ano ou início do próximo, isso possa ser encerrado”. O presidente assumiu compromissos semelhantes em entrevista a este jornal em agosto.

QUEM ACREDITA? – O fim do ano chegou e passou. Estamos agora no “início de” 2025. Alguém acredita que o STF está sequer considerando, muito menos planejando, finalmente renunciar a esses poderes radicais nas mãos de Moraes? Pelo contrário, essa perspectiva parece cada vez mais improvável, dado que – como sempre ocorre com os “poderes temporários” – há novos supostos perigos, na forma de mais evidências de uma tentativa de golpe, que, insistirão, exigem que o STF mantenha esses poderes indefinidamente.

As pessoas podem – e de fato o fazem – debater se o STF deveria ter se permitido conceder esses poderes de censura e autoridade investigativa radical. Independentemente da opinião de cada um, até o próprio presidente do tribunal reconhece que esse esquema deve chegar ao fim em breve. Isso acontecerá? E, se sim, quando?

Trump será sentenciado antes de assumir, mas prisão é descartada

A condenação de Trump será calculada em dinheiro

Jamil Chade
do UOL

O presidente eleito Donald Trump será sentenciado no dia 10 de janeiro, depois de ter já sido condenado criminalmente. Nesta sexta-feira, numa decisão de 18 páginas, o juiz Juan Merchan rejeitou os recursos do republicano para anular o veredicto do júri que o considerou culpado de 34 crimes.

Apesar de a sentença ser anunciada dez dias antes de Trump tomar posse, em 20 de janeiro, Merchan admitiu que não condenará o vencedor da eleição à pena de prisão. Segundo ele, essa não seria uma opção “viável”. Na decisão, o juiz apontou que não é provável que ele “imponha qualquer sentença de encarceramento”.

MULTICRIMINOSO – Trump foi condenado, em maio, por 34 crimes, incluindo falsificação de registros comerciais para ocultar US$ 130.000 pagos à estrela pornô Stormy Daniels, pouco antes da eleição presidencial de 2016.

Stormy Daniels e o próprio ex-advogado de Trump, Michael Cohen, admitiram que o pagamento tinha como objetivo silenciar a atriz e impedir que ela falasse sobre suas relações sexuais com Trump enquanto ambos participavam de um torneio de golfe de celebridades em 2006. Trump sempre negou a versão de Daniels.

Ainda que condenado, a sentença acabou sendo adiada. O argumento da defesa era de que isso poderia interferir nas eleições, que Trump acabaria vencendo.

SEM ARQUIVAMENTO – Mas, agora, o juiz rejeitou a tese da defesa de Trump de que o caso deveria ser arquivado, diante da vitória do republicano nas eleições. A justificativa dos advogados era de que isso iria afetar a transferência de poder nos EUA.

“Tal decisão prejudicaria o Estado de Direito de forma imensurável”, escreveu o juiz. Sua decisão ainda estipulou que uma imunidade presidencial não protege Trump de enfrentar a sentença por sua condenação.

Ainda assim, o juiz foi explícito em indicar que não pretende anunciar a prisão do presidente eleito. Uma sentença de “dispensa incondicional” poderia ser a “solução mais viável”. Assim, ele seria condenado e sentenciado, pagaria multas e indenizações, mas sem ter de passar um só dia numa prisão.

INCONSTITUCIONAL – O entendimento é de que seria inconstitucional um tribunal estadual prender um presidente em exercício ou impor medidas que impediriam sua capacidade de cumprir seus deveres como chefe de estado.

A defesa do presidente eleito, porém, criticou a decisão. “A ordem de hoje é uma violação direta da decisão da Suprema Corte sobre imunidade”, disse o porta-voz de Trump e novo diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung.

“Esse caso nunca deveria ter sido apresentado e a Constituição exige que ele seja imediatamente arquivado. O presidente Trump deve ter permissão para continuar o processo de transição presidencial e executar os deveres vitais da presidência, sem ser obstruído pelos restos desse ou de qualquer resquício da caça às bruxas”, defendeu.

ATÉ O FIM – Cheung ainda completou que “não deve haver sentença, e o presidente Trump continuará lutando contra essas fraudes até que todos estejam mortos.”

Em entrevista à rede Fox News, o presidente eleito atacou o magistrado que tomou a decisão, indicando que haveria uma “caça às bruxas”. “O juiz é corrupto”, disse. Trump acusou Merchan de ser “um juiz totalmente conflituoso que está fazendo o trabalho para o Partido Democrata porque todos os outros casos falharam”.

“Eu não fiz absolutamente nada de errado”, continuou Trump. “Essa é uma caça às bruxas política de Biden”. “Não havia caso algum. Ele criou um caso do nada porque queria que meu oponente político ganhasse”, completou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA democracia americana dá show e demonstra que a voz do povo prevalece até sobre a Justiça, se os crimes do presidente não afetaram direitos dos cidadãos. É a democracia sendo elevada à última potência. (C.N.)

O amor desesperado que Alvares de Azevedo jamais conseguiu alcançar

Feliz daquele que no livro d'alma não... Álvares de Azevedo - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O dramaturgo, ensaísta, contista e poeta paulista Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852) desesperadamente declara que deseja viver todos os momentos junto de sua amada. As obras de Álvares de Azevedo tendem a jogar fortemente com as noções opostas, como amor e morte, sentimentalismo e pessimismo, platonismo e sarcasmo, sendo influenciado por Musset, Chateaubriand, Lamartine, Goethe em principalmente, Byron.

Morreu muito cedo, aos 20 anos, mas já era um poeta tão conhecido que se tornou patrono da cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras. 

AMOR
Álvares de Azevedo

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Na psicologia do futuro, otimismo local contrasta com pessimismo global

Pesquisa mostra como reage a psicologia do futuro

Hélio Schwartsman
Folha

A lógica e o pensamento racional são só um efeito colateral da miríade de impulsos cognitivos com que a evolução natural nos dotou. A melhor prova disso está na lista telefônica de vieses e erros sistemáticos que marcam nossos raciocínios.

Nutrimos um excesso de confiança em relação a nós mesmos e nossas capacidades (otimismo local) pareado com um irrazoável catastrofismo no que diz respeito ao mundo exterior (pessimismo global).

PREDISPOSIÇÃO – O Datafolha, mais uma vez, flagrou essa predisposição. De acordo com o instituto, 67% dos brasileiros acreditam que a inflação vai aumentar em 2025 e 41% apostam na alta do desemprego. Não obstante, 60% julgam que sua situação pessoal será melhor em 2025 do que foi em 2024.

Esse pequeno paradoxo tem lógica à luz da evolução. Em situações nas quais a nossa performance afeta diretamente o resultado, faz sentido favorecer a autoconfiança, mesmo que exagerada. O atleta que já entra na competição achando que vai perder perde mesmo.

Nas questões sobre as quais temos pouco ou nenhum controle, é prudente imaginar o pior e tentar fugir dos perigos.

VENCER DEBATES – E isso é só um pedaço da história. Dan Sperber e Hugo Mercier, cujos trabalhos já comentei aqui, sustentam que a razão não evoluiu para nos tornar capazes de apurar fatos objetivos e encontrar verdades, mas para nos fazer vencer debates e ficar bem diante do grupo.

A pergunta que se coloca então é como, com um legado desses, conseguimos desenvolver a ciência e as tecnologias que nos trouxeram até aqui. A resposta é complexa e tem a ver com a evolução cultural cumulativa, uma empreitada necessariamente coletiva, nunca individual. Newton só foi Newton porque, como ele mesmo dizia, pôde colocar-se no ombro dos gigantes que o antecederam.

E isso nos leva a uma pergunta ainda mais intrigante: por que diabos a matemática e a lógica funcionam tão bem na ciência? Para o físico Eugene Wigner, que propôs essa reflexão, não existe resposta racional. Não há nenhum motivo a priori para que as leis da natureza sejam capturáveis por ferramentas matemáticas.

É certo que um dia os oprimidos irão revidar contra a opressão

Ao centro da imagem, o rosto de um homem  encara de frente. De cima para baixo, uma mancha branca retira a pintura feita em tons de cinza e, parte do rosto deste homem tem apenas contornos sem preenchimento e volume.

O revolucionário Fanon , retratado por Bruna Barros

Mario Sergio Conti
Folha

A vida errante e curta de Frantz Fanon foi de procura de uma identidade. Em seus documentos oficiais, ele era um homem francês de raiz que enfrentou os nazistas na Segunda Guerra Mundial, foi ferido em combate e ganhou a Cruz de Guerra.

Na prática, foi discriminado por ser negro e colonizado. Descendente de escravos, nasceu na Martinica, departamento francês no Caribe. No ultramar, pertencia a um grupo minoritário, a classe média negra; na metrópole, o racismo que sofreu o levou a jogar fora a Cruz de Guerra.

NA ARGÉLIA – Fanon estudou psiquiatria em Lyon, pegou o diploma e nunca mais voltou à França. Tampouco ficou na Martinica. Foi à Argélia ser um negro entre árabes, um ateu em meio a muçulmanos, um internacionalista entre nacionalistas.

Ficou pouco ali. Aderiu à Frente de Libertação Nacional, a FLN, e o governo colonial o expulsou. Exilou-se na Tunísia, vagou pela África e morreu de leucemia nos Estados Unidos —um “país de linchadores”, dizia.

A sua identidade final foi dada por “Os Condenados da Terra”, publicado pouco antes de ele morrer, aos 36 anos, em 1961. Assim que o livro saiu, o manifesto em prol da violência decolonial foi censurado na França por “atentar contra o Estado”.

HINO COMUNISTA – O título do livro cita a Internacional, o hino comunista: “de pé, malditos da Terra”, que no Brasil virou “de pé, ó vítimas da fome”. O renome do ensaio veio menos de Fanon —mais analítico que panfletário— e mais do autor do prefácio, Sartre —menos filósofo que militante.

É de Sartre a frase que marcou época: “Abater um europeu é matar dois coelhos com uma cajadada só, eliminar ao mesmo tempo um opressor e um oprimido: sobram um homem livre e um homem morto”. É uma sentença bem mais aguda que a de Fanon: “Todo espectador é um covarde ou um traidor”.

O psiquiatra conclamou os amaldiçoados a uma grande luta armada. A violência, disse-lhes, era “sine qua non” para expulsar os colonizadores das terras que eles lhes roubaram. E mais: a violência era terapêutica, desintoxicaria os argelinos do veneno colonial. Era imperativo categórico para a vitória material, cultural, até existencial. Por si só, a violência libertaria.

OS OPRESSORES – Já Sartre se dirigiu aos europeus. Argumentou que eram opressores irremediáveis porque, quisessem ou não, haviam se beneficiado das colônias “per omnia saecula saeculorum”. Porque, no presente, eles seguiam sugando o sangue dos colonizados, alienando-os, coisificando-os. Os europeus, pontificou, eram alvos válidos para a violência dos colonizados.

“Os Condenados da Terra” deixava implícito que a violência dos colonizados era tendencialmente generalizadora, poderia ser empregada não só contra gendarmes e guardiões das metrópoles.

 Sartre explicitou que todo e qualquer europeu, por ser europeu, poderia ser agredido. Trouxe o terrorismo para o primeiro plano, ainda que não tenha escrito a palavra.

LONGA CONVERSA – “A Clínica Rebelde”, a alentada biografia de Fanon de Adam Shatz publicada no fim do ano no Brasil, revela que o psiquiatra e o filósofo conversaram por três dias seguidos em Roma. O primeiro, admirador ardente do segundo, veio a pedir que fizesse o prefácio. Contudo, ao lê-lo, Fanon, um falador compulsivo, emudeceu. Saiu do longo silêncio para dizer a seu editor, François Maspero, que iria comentá-lo, mas morreu em seguida.

Com isso, a identidade final de Fanon foi de apóstolo da violência indiscriminada. Suas considerações culturais ficaram em segundo plano, enquanto a luta armada foi assimilada por grupos palestinos e pelos Panteras Negras americanos.

 Shatz diz que guerrilheiros latino-americanos também adotaram Fanon. É um exagero descabido. Sua influência, se é que ocorreu, foi anulada pelo impacto da revolução cubana e de Che Guevara nas esquerdas latino-americanas.

TERCEIRO MUNDO – Fanon partiu de um conceito que não existe mais, Terceiro Mundo, que reuniria os países explorados pelo Primeiro (Estados Unidos e Europa) e manipulados pelo Segundo Mundo (União Soviética e satélites).

O termo foi substituído pelo Sul Global, rubrica sem consistência política. Talvez o certo seja trocar Terceiro Mundo por “Estados Falidos”, os países absolutamente corrompidos, sem infraestrutura nem instituições perenes, controlados por milícias antagônicas ou gangues.

O mundo político mudou. O que persiste é a violência. Dos colonizadores contra os colonizados e vice-versa, num círculo infernal que erode o presente e inviabiliza o futuro. Não é preciso ler Fanon para constatar que, fatalmente, os oprimidos revidarão a opressão.

Dino mantém pressão e suspende repasses a ONGs sem transparência

Ministro determinou medidas rigorosas para garantir controle

Pedro do Coutto

Após a Controladoria-Geral da União (CGU) apontar falta de transparência, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, determinou a suspensão dos pagamentos destinados por emendas parlamentares para Organizações Não-Governamentais que não cumprem critérios estabelecidos pela Corte. Em decisão na última sexta-feira, o magistrado fixou um prazo de dez dias para que as entidades apresentem todos os dados que estão incompletos, sob pena de cancelamento de novos repasses.

“[Determino] a intimação das entidades que apresentam as informações requeridas de forma incompleta, a fim de que cumpram integralmente a determinação de transparência, com a publicação em seus sítios eletrônicos dos valores recebidos de emendas parlamentares (de todas as modalidades) e em que foram aplicados ou convertidos, no prazo de 10 (dez) dias corridos (que fluem imediatamente, a contar desta data), sob pena de suspensão de novos repasses”, escreveu Dino.

MECANISMOS – A CGU afirmou, em relatório, que metade das 26 entidades fiscalizadas não têm mecanismos adequados de transparência. Segundo o órgão, 13 delas não fornecem transparência adequada ou não divulgam informações; 9 entidades (35%) apresentam as informações de forma incompleta, ou seja, existem dados de algumas emendas ou de apenas de anos anteriores sem a suficiente atualização; e 4 entidades (15%) promovem a transparência das informações de forma adequada, considerando a acessibilidade, clareza, detalhamento e completude.  

A Controladoria também informou que outras 7 ONGs não entraram na contabilidade, pois não receberam pagamento de 2020 a 2024, embora exista registro de reserva de recursos a partir de 2 de dezembro do ano passado.

RECURSOS PÚBLICOS – O caso envolve o uso de recursos públicos por entidades do terceiro setor, que deveriam publicar, em seus sites, informações detalhadas sobre os valores recebidos entre 2020 e 2024 e sua aplicação. Dino destacou que a falta de transparência dificulta o controle social, fundamental para a supervisão do uso de recursos públicos. Ele reforçou que as entidades que não cumprem os requisitos devem ser incluídas no Cadastro de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos Impedidas e no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas.

Falta fiscalização efetiva sobre o sistema administrativo financiado pelas verbas do Legislativo e, portanto, recursos da União. As ONGS atuam sem limites burocráticos, o que facilita o abastecimento de recursos. É preciso ver quais obras ou condições são aplicadas. Caso contrário, acaba-se tendo uma fonte de recursos sem destino certo.

Moraes não aceitará interferência da Justiça Militar no julgamento do golpe

Moraes, investigador-geral da República

Moraes resistirá a qualquer pressão da Justiça Militar

Carlos Newton

Apesar do interesse da Justiça Militar, que por lei julga os integrantes das Forças Armadas acusados de terem cometidos crimes militares, os oficiais superiores e subalternos envolvidos no golpe devem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal, embora não exista nenhuma legislação nesse sentido nem jurisprudência a respeito.

As investigações integram o chamado inquérito do fim do mundo, que já entrou em seu sexto ano, um recorde difícil de ser batido. Os militares envolvidos não podem ser julgados pela Justiça Militar porque o ministro Alexandre de Moraes decidiu de moto próprio fixar a competência do STF para processar e julgar todos os crimes ocorridos nos atos de 08/01, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, independentemente de os investigados serem civis ou militares.

STF ENGOLIU – Foi mais uma decisão monocrática que Moraes tomou e o Supremo engoliu o abacaxi, com casca e tudo.

Na mesma decisão proferida no âmbito do inquérito do fim do mundo, o ministro autorizou a Polícia Federal a instaurar procedimento investigatório para apurar eventuais delitos cometidos por integrantes das Forças Armadas e das Polícias Militares, relacionados aos fatos.

Segundo o ministro, a competência do STF para a presidência dos inquéritos que investigam os crimes praticados durante os atos de 8/1 não distingue servidores públicos civis ou militares das Forças Armadas e dos estados (policiais militares), embora o Código Penal Militar seja claríssimo ao determinar que cabe à Justiça Militar julgar crimes militares, estejam seus autores na ativa ou na reserva.

MORAES INSISTE – Na justificativa, Alexandre de Moraes ressalvou que a Justiça Militar é competente para julgar crimes militares, mas não necessariamente todos os crimes cometidos pelos integrantes das Forças Armadas.

Segundo ele, nenhuma das hipóteses que definem a competência da Justiça Militar está presente no caso, pois a responsabilidade penal prevista na Lei Antiterrorismo (Lei 13.260/2016) ou no Código Penal, em especial em relação a atos atentatórios ao regime democrático, não está associada à função militar.

Na época, essa decisão de Moraes não provocou muita discussão porque só havia policiais militares sob investigação, mas sem indiciamentos na Lei Antiterrorismo, que puniu os pés-de-chinelo do 08/01. Porém, agora tudo mudou, porque já estão envolvidos 25 militares das Forças Armas, e a fila vai andar.

PROCURADORIA – O novo capítulo dependerá da Procuradoria-Geral da República, que decidirá sobre a denúncia dos indiciados civis e militares. Ao fazê-lo, se identificar crimes militares, terá de encaminhar os processos à Justiça Militar.

Mesmo que a Procuradoria se omita e entenda que não houve crimes militares, a defesa dos indiciados e/ou os comandos das Forças Armadas podem recorrer ao próprio Supremo.

Na verdade, as alternativas são ruins. Se os militares forem julgados pelo Supremo, corre-se o risco de haver demasiado rigor, em função dos 17 anos que os falsos “terroristas” do 08/01 pegaram. E se foram submetidos à Justiça Militar, serão absolvidos com toda certeza. Esta é a realidade do Brasil atualmente.

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P.S.O certo seria Moraes ter enviado os inquéritos para a Justiça Federal de primeira instância, conforme diz a lei, porque nenhum dos envolvidos tem direito a foro privilegiado. O melhor é sempre seguir a lei, ao invés de tentar interferir e conduzir a Justiça. Mas quem se interessa? (C.N.)

Processo contra Musk é saia justa do Supremo no governo Trump

O que ganha Elon Musk ao apoiar Donald Trump? - BBC News Brasil

Processo contra Musk é uma tremenda barbeiragem

Gustavo Côrtes
Estadão

A partir de 20 de janeiro de 2025, quando Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos, o Brasil terá, de forma inédita, uma autoridade daquele país investigada pelo Supremo Tribunal Federal. Dono da SpaceX e do X (antigo Twitter), o empresário Elon Musk será chefe do departamento de Eficiência Governamental americano.

Ele é um dos alvos do inquérito das milícias digitais, que apura a atuação de grupos suspeitos de disseminar notícias falsas em redes sociais.

CONTROVÉRSIA – Procurada, a presidência do Supremo não quis se manifestar, mas seus integrantes afirmam reservadamente que o status de Musk não interfere nas diligências. Mas especialistas ouvidos pelo Estadão divergem sobre a questão.

O próprio status do cargo de Musk no governo ainda não está claro, já que houve declarações divergentes sobre se a função seria oficial, como anunciou publicamente Trump, ou de caráter externo à gestão.

Dono do X (antigo Twitter) e da Space X, Elon Musk será chefe do Departamento de Eficiência Governamental do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. 

AUTORIZAÇÕES – Segundo o advogado Pablo Sukiennik, mestre em direito internacional pela Universidade de Brasília (UnB), o Brasil é signatário de tratados internacionais que exigem autorização do país de origem para a abertura de processos contra autoridades estrangeiras. Ou seja, seria necessário aval do governo americano para processar Musk.

“A corrente majoritária interpreta essa regra de forma ampla, para qualquer ato cometido, mas há visões que defendem sua aplicação somente em casos de atos praticados em nome do Estado. Essa leitura poderia ser adotada pelo STF para Musk, já que ele passou a ser investigado pelo que fez enquanto empresário e antes de ocupar cargo no governo americano.”

CONVENÇÃO DE VIENA – Sukiennik explica que a regra foi estabelecida na Convenção de Viena criada para dar segurança a membros de governos estrangeiros de que não seriam punidos em casos de mudança brusca de regime político.

O professor de direito internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Menezes, por sua vez, avalia que Musk deve estar submetido às mesmas regras de qualquer envolvido no inquérito.

“Não muda nada. O Elon Musk pode responder a um processo como qualquer outra pessoa. Em havendo a condenação, a aplicação da pena seria mais complexa, porque os Estados não costumam submeter seus cidadãos ao cumprimento de pena no exterior.”

INVESTIGAÇÕES – Wagner Menezes também afirma que uma eventual sanção a Musk ainda depende de avanços no inquérito. “Existe de fato um risco potencial de isso acontecer, mas é preciso que haja o desenvolvimento do inquérito. As condições são ainda bem embrionárias.”

Por sua vez, Pablo Sukiennik critica a conduta da Corte que, na sua visão, violou procedimentos processuais adequados em ocorrências envolvendo o empresário.

É o caso, segundo ele, da intimação a Musk feita pelo ministro Alexandre de Moraes por meio de publicação no X, porque, no documento, o magistrado exigiu que a rede social nomeasse um representante legal no Brasil no prazo de 24 horas, sob risco de suspensão, o que ocorreu após descumprimento da determinação.

E O ITAMARATY? – “O procedimento correto é oficiar o Itamaraty, que então comunicaria as autoridades americanas para comunicarem a intimação”, defende Sukiennik. “Não imagino que Musk faça visitas ao Brasil para testar a interpretação do STF”, ironiza.

O jurista lembra que Trump já fez críticas à política comercial do Brasil e que a investigação em curso contra Musk pode suscitar questionamentos às instituições do País. “Se houver um ataque retórico contra o Brasil, isso pode ser usado para descredibilizar o Judiciário.”

Os especialistas também divergem sobre possíveis repercussões para a reputação do Brasil e para as relações entre os dois países. Menezes vê a inclusão do empresário no inquérito como uma demonstração de que o Brasil pode punir pessoas independentemente de seu poder político e econômico.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes criou um problema diplomático, ao processar Musk, que se postava contra censura prévia nas redes sociais. Pior, sem se importar com os contratos de Musk com o governo brasileiro, as Forças Armadas, a Polícia Federal e outros órgãos públicos, incluiu o empresário no inquérito do fim do mundo, que investiga disseminação de informações falsas, milícias digitais, a invasão do 08/01, o golpe de estado e mais o que passar pele frente do prédio do STF, digamos assim. (C.N.) 

Conseguiremos alinhar rigor e equilíbrio ao punir os golpistas?

ESSA “ANISTIA” É CONTRA A DEMOCRACIA! Hoje a Comissão de Constituição e  Justiça da Câmara dos Deputados vota o PL que absolve e livra todos os  envolvidos nos atos contra o Estado

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Pablo Ortellado
O Globo

A decisão do Supremo e dois relatórios da Polícia Federal sinalizam o fim da longa investigação sobre os “atos golpistas”. Finalmente podemos ter uma visão um pouco mais clara do que aconteceu nas altas esferas do poder em Brasília e do papel desempenhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro entre o final de 2022 e o começo de 2023.

O quadro geral que vemos é de inconformismo com o resultado das urnas e de grande movimentação para reverter a eleição de Lula. Não houve uma única tentativa de golpe, mas diversas movimentações golpistas, em paralelo, algumas mais violentas, outras se esforçando para conferir aparência de institucionalidade.

FALTA CLAREZA – Não fica claro se elas chegaram a ser integradas num plano só nem de que maneira se conectam com o que aconteceu depois, no 8 de Janeiro.

Quase todas as tramas envolveram Mauro Cid, o ajudante de ordens de Bolsonaro. Informá-lo e envolvê-lo era chave, porque significava informar o presidente indiretamente, sem comprometê-lo diretamente.

Há várias linhas de ação identificadas pela PF que não sabemos exatamente como se encaixam. O monitoramento da movimentação do ministro Alexandre de Moraes e o plano de prendê-lo no dia 15 de dezembro estavam subordinados à linha de ação proposta na minuta do golpe? Ou era uma ação clandestina, paralela — talvez para executar Moraes? E por que foi abortada no dia da execução?

DEFESA DE BOLSONARO – Se nenhum fato novo importante surgir, a defesa de Bolsonaro já está estruturada. Juridicamente, ele alegará que não sabia das movimentações mais violentas, como a tentativa de envenenar Lula, Geraldo Alckmin e Moraes.

Caso surjam indícios de seu envolvimento, a estratégia será tratar essas ações como meras especulações ou cogitações, um estágio anterior à tentativa e, portanto, não passível de punição.

Em paralelo, no debate público, seus apoiadores disseminarão a interpretação de que todos esses planos golpistas não foram adiante porque Bolsonaro não deu sinal verde para eles, segurando os radicais. O ex-presidente será apresentado não apenas como alguém que não conspirou contra a democracia, mas como alguém que, de fato, a preservou.

Projeto de Trump é implantar um Estado burocrático religioso

Donald Trump confirma que Elon Musk terá cargo em... | VEJA

Musk faz parte da estratégia megalomaníaca de Trump

Muniz Sodré
Folha

Nos EUA, o novo ano tem o mesmo número de um plano conservador chamado “Projeto 2025”, ainda mal conhecido entre nós. Elaborado pela Heritage Foundation e por gente que auxilia Trump desde seu primeiro mandato, o plano visa a um regime autocrático, por meio do debilitamento da Constituição, com abolição de direitos femininos que vão do aborto ao voto.

É projeto explícito de um “revival” dos anos 50, quando uma patriarquia protestante dirigia o país.

ALÉM DE TRUMP – Não se trata, portanto, de mais uma bizarrice trumpista. A retrospecção parte do período em que a ideia de um Estado teocrático despontou com força entre nacionalistas cristãos, bilionários e a John Birch Society.

Isso foi corroborado nos anos 80 pelo presidente Reagan, que estimulou a politização dos grupos cristãos de extrema direita e a penetração extremista em alas republicanas.

Depois, as presidências dos Bush, pai e filho, fizeram avançar esse movimento com a introdução de ensino religioso em escolas públicas (cerca de 30% da população é secular, não adere a nenhuma religião) e fundos públicos para escolas privadas cristãs.

“TERROR SAGRADO” – As preocupações liberais com as inclinações teocráticas dessa tendência política estão bem delineadas no livro “Terror Sagrado”, de Jim Siegelman e Flo Conway, aclamado nos anos 80, quando Reagan deu sinal verde para os batistas do Sul e os evangélicos de um modo geral.

É o mesmo dado por Trump aos nacionalistas cristãos, os bilionários e o republicanos do Maga, empenhados numa “América novamente grande”.

Entende-se assim por que gente como Elon Musk e figurões corporativos de menor porte pairam sobre o aparelho estatal trumpista. Uma teocracia tecnológica permitiria, acima dos entraves constitucionais, uma mega desregulamentação suscetível de manter os EUA como principal competidor no mercado mundial.

IMIGRANTES TREINADOS – Esse pano de fundo é uma sombra ominosa que torna nada risíveis as conhecidas bizarrices de Trump. Não tem mesmo nenhum motivo para sorrir a classe trabalhadora que o apoiou na última eleição.

O que Musk, os tecnocratas e agora Trump privilegiam são imigrantes altamente treinados para ingresso nas indústrias competitivas. Essa clivagem tem algum potencial para cindir a base republicana, mas sem relevância na ótica do Projeto 2025, lastreado por uma ideologia religiosa que nivela “god” a “gold”.

Resta determinar a natureza dessa religião, em que cristianismo é só um “branding” de mercado. Nada a ver com espiritualidade, e sim com o fetiche de uma prosperidade ilusória, além de protocolos rasteiros de conduta.

LIVRE TRÂNSITO  – Em vez da negatividade implícita nos mandamentos cristãos (a dialética do “não”), o livre trânsito empreendedor.

Para tanto conflui uma mistura de coaching e autoajuda, que não ajuda ninguém, mas atenua a angústia com fragmentos verbosos de mitos consoladores. É espantoso o relato de um imigrante brasileiro marcado para a deportação, mas que ainda assim apoia Trump. Outra versão da síndrome do torturado que ama o torturador.

Tudo isso já reverbera entre nós há muito tempo. Não serve a grandes tecnocratas empreendedores, que aqui não existem. Mas agrada a um tipo novo de capitalismo, que não precisa se assustar com fantasmas do passado, como a teologia da libertação. E é um maná pastoral para a extorsão predatória de manés.A

Cegueira ideológica e envelhecimento prejudicam atuação de Lula

Após alta hospitalar, Lula diz que está tranquilo e vai se cuidar —  Assembleia Legislativa do Piauí

Lula leva na brincadeira um governo que requer seriedade

William Waack
Estadão

O governo não se adapta às condições externas e domésticas em mudança. O que impede Lula de entender o efeito cumulativo dessas mudanças de circunstâncias é a óbvia cegueira ideológica e a solidão trazida pelo envelhecimento.

Pesa sobre a segunda metade do atual mandato de Lula a definição de estratégia (repetida várias vezes aqui) fornecida por Mike Tyson. ”Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca”, disse quem sabia nocautear mas também foi nocauteado.

Ou seja, o sucesso de qualquer planejamento é a capacidade de adaptação a circunstâncias em mudança. Lula não entendeu (repetido várias vezes aqui) como mudaram as condições políticas e econômicas desde seu primeiro mandato, e insiste no mesmo plano.

NÃO ENTENDE… – Exibe a mesma dificuldade para entender a rapidez com que dois conjuntos de circunstâncias estão se alterando. Um deles é externo, sobre o qual nunca teve qualquer controle. O segundo é doméstico, e também ameaça escapar do controle.

Lá fora o cenário geopolítico é de enorme imprevisibilidade e já era difícil mesmo sem as incertezas personificadas em Trump. Que já se consolidam em juros e inflação mais altas nos Estados Unidos, o que é sempre ruim para o Brasil — especialmente quando fica vulnerável a aversão internacional ao risco (o que explica boa parte da má performance do real).

LIÇÃO DE CASA – Seria possível ao Brasil fazer frente a esse cenário externo menos favorável se efetuasse a “lição de casa” que o próprio Lula impede. Ele mesmo acentuou (repetido várias vezes aqui) os elementos de uma armadilha fiscal que tornou virtualmente impossível o equilíbrio das contas públicas.

O resultado disso foi resumido em um número cruel mencionado por último por Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do FMI e atualmente lecionando em Harvard. “O Brasil está com um déficit fiscal de 10% do PIB, não é possível afastar especuladores fazendo isso”, afirmou, em entrevista a este jornal. Só países em guerra exibem déficits dessa magnitude.

EMPECILHOS – O que impede Lula de entender o efeito cumulativo dessas mudanças de circunstâncias e a grave ameaça embutida para seu próprio projeto político de levar as próximas eleições? De um lado é a óbvia cegueira ideológica, que o prende a postulados superados historicamente. De outro parece ser a solidão trazida pelo envelhecimento, perda do Estado Maior de melhor qualidade de antigamente e o fato de ouvir apenas a própria voz.

Essa falta de foco nos dados da realidade que realmente pesam promete ser agravada pela distração trazida por acontecimentos políticos já previstos. Um deles é o agravamento das tensões entre os Poderes por questões não só orçamentárias, para as quais Lula nunca teve compreensão nem respostas.

O outro é a denúncia e julgamento de Jair Bolsonaro e as esperadas turbulências políticas. Um tipo de situação da qual Lula já soube extrair vantagens táticas e imediatas e da qual parece hoje apenas um refém.

Indignado, embaixador chora na ONU por silêncio sobre Gaza

O que sabemos sobre a autoria do bombardeio no hospital de Gaza? | CNN  Brasil

Único hospital que restava no Norte de Gaza foi destruído

Jamil Chade
do UOL

Num momento de profunda comoção dentro da sala do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador da Palestina, Riyad Mansour, não se conteve ao descrever a situação de Gaza e a incapacidade de a comunidade internacional reagir aos crimes. A reunião havia sido convocada para lidar com os ataques contra hospitais, que se transformaram em campos de batalha e alvos de Israel.

Ao tomar a palavra para fazer seu discurso, Mansour leu mensagens deixadas por médicos mortos em Gaza. “Mahmoud Abu Nujaila, que foi morto em um ataque aéreo israelense ao Hospital Al-Awda, escreveu uma mensagem há muitos meses em uma lousa no hospital, normalmente usada para planejar cirurgias: “Quem ficar até o fim contará a história. Fizemos o que podíamos. Lembrem-se de nós”, relatou o embaixador.

INDIGNAÇÃO – Aos prantos e visivelmente indignado, ele repetiu o que estava naquela lousa. “Aquele que ficar até o final, vai contar a história. Fizemos o que pudemos. Lembre-se de nós. Lembre-se de nós”, insistiu, batendo sobre a mesa.

Para o diplomata, o mundo deve mais que apenas lembranças. “Nada pode explicar que, por 15 meses, palestinos em Gaza tiveram de viver o inferno e abandonados a seu destino”, disse.

Ao longo dos meses, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado, em vão, sobre os ataques contra hospitais. O governo de Israel alega que os membros do Hamas passaram a usar as facilidades médicas para se esconder.

MORRER DE PÉ – O embaixador, porém, insistiu em denunciar a falta de reação internacional. Ele contou como outro médico, Adnan Al Bursh, também morto, escreveu: “Morreremos de pé e não nos ajoelharemos. Tudo o que resta no vale são suas pedras, e nós somos suas pedras”, continuou.

“Temos o dever de salvar vidas. Este Conselho tem a obrigação de salvar vidas”, pediu o diplomata, diante de um Conselho de Segurança abalado em sua credibilidade diante da incapacidade de dar uma resposta à crise.

“Os médicos e a equipe médica palestinos levaram essa missão a sério, mesmo com o risco de suas vidas. Eles não abandonaram as vítimas. Não as abandonem. Acabem com a impunidade israelense. Acabem com o genocídio”, insistiu.

OLHOS DO MUNDO – O encontro ainda contou com o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk.

“Uma catástrofe de direitos humanos continua a se desenrolar em Gaza diante dos olhos do mundo. Os meios e métodos de guerra de Israel mataram dezenas de milhares de pessoas, causaram grandes deslocamentos e devastaram o território. Isso levantou grandes preocupações sobre o cumprimento da lei internacional”, disse Türk.

Türk mencionou a destruição causada pelos ataques militares israelenses na última sexta-feira ao Kamal Adwan Hospital, o último hospital em funcionamento no norte de Gaza.

FORTE IMPACTO – Segundo ele, as operações militares israelenses dentro e ao redor dos hospitais tiveram um impacto profundo, “justamente em um momento de grandes demandas na área da saúde devido ao conflito em andamento”.

“Elas têm sido particularmente devastadoras para alguns civis palestinos. Seis bebês teriam morrido de hipotermia somente nos últimos dias”, disse.

“As mulheres, especialmente as grávidas, sofreram gravemente. Muitas mulheres deram à luz com pouco ou nenhum apoio, aumentando os riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Meu escritório foi informado de que recém-nascidos morreram como resultado direto dessa falta de cuidados”, declarou.

CRIME DE GUERRA – Segundo Turk, “dirigir intencionalmente ataques contra hospitais e locais onde os doentes e feridos são tratados, desde que não sejam objetivos militares, é um crime de guerra”.

“Se cometidos como parte de um ataque generalizado ou sistemático a uma população civil, esses atos também podem ser considerados crimes contra a humanidade”, completou.

Já Rik Peeperkorn, representante da OMS na Palestina, alertou que sete por cento da população foi morta ou ferida desde outubro de 2023. Segundo ele, mais de 25% dos mais de 105 mil civis feridos em Gaza enfrentam “lesões que mudaram suas vidas”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Diante da omissão da ONU em relação à tragédia em Gaza, pode-se dizer, sem medo de errar, que a Organização das Nações Unidas melhor faria se fechasse as portas. (C.N.)

Dino suspende emendas para ONGs e OASs sem transparência

Dino não aceita resposta da Câmara e dá prazo até as 20h para deputados  explicarem emendas de comissão #charge #cartum #cartoon #humor #política  #humorpolitico #desenho #art #caricatura #caricature #jornal #opovo  #jornalismo #illustration #

Charge do Clayton (O Povo)

Daniel Gullino
O Globo

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão dos repasses de emendas parlamentares para as organizações não governamentais (ONGs) e entidades sem fins lucrativosOASs que, de acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU), não apresentam transparência adequada sobre o destino dos recursos nos últimos anos.

Em dezembro, foram empenhados R$ 137 milhões para as 13 ONGs e OASs  afetadas pela decisão. No mesmo período, foram pagos R$ 16,9 milhões para elas.

DEU PRAZO – As entidades que apresentaram informações incompletas têm um prazo de 10 dias para complementar os dados. Caso contrário, também serão alvo da suspensão.

O relatório da CGU analisou 33 entidades, entre 676 organizações sem fins lucrativos beneficiadas com emendas parlamentares em dezembro de 2024. A amostra foi feita com as 30 organizações que mais tiveram recursos empenhados e as seis que mais receberam pagamentos no período — três delas aparecem nas duas listas.

A partir daí, foi analisada a transparência dada aos recursos recebidos entre 2020 e 2024. Entretanto, sete das entidades não receberam nenhum pagamento neste período. Com isso, a análise se concentrou em 26 organizações;

SEM TRANSPARÊNCIA – De acordo com o relatório, apenas 15% tiveram a transparência sobre a aplicação dos recursos. Metade das entidades não tiveram a transparência adequada, e 35% apresentaram informações de forma incompleta.

O relatório avaliou se a “organização divulga na internet, de forma acessível, clara, detalhada e completa, o recebimento e a execução dos recursos”. O critério só foi plenamente atendido em quatro dos casos.

“Extrai-se que apenas 4 das 26 ONGs/Entidades que deveriam promover a transparência sobre a aplicação dos recursos oriundos de emendas parlamentares o fizeram conforme regramento estabelecido (15%), outras 35% divulgam as informações de forma parcial, e 50% não divulgam ou divulgam de forma inadequada”, diz o texto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Dino já mostrou que não está de brincadeira. Se mantiver o rigor contra corrupção das emendas, denunciando ONGs e OASs que corroem os recursos públicos, o povo vsi exigir que saia candidato. (C.N.)

Um choro genial de Pixinguinha ganhou letra de Vinicius 34 anos depois

Sol sobre a lama: Pixinguinha e Vinicius imaginaram 'um mundo melhor' com  Beth Carvalho – Revista do Choro

Vinicius e Pixinguinha, parceiros e amigos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata, advogado, jornalista, dramaturgo, compositor e poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), confessa através do chorinho “Lamento”, a tristeza que o desamor da morena acarretou.

O choro “Lamento” composto por Pixinguinha, em 1928, foi originalmente apenas instrumental e somente em 1962 ganhou letra feita por Vinícius de Moraes.  Elizeth Cardoso foi a primeira a gravar a versão cantada no LP Muito Elizeth, em 1966, pela Copacabana.

LAMENTO
Pixinguinha e Vinícius de Moraes

Morena, tem pena
Mas ouve o meu lamento
Tento em vão te esquecer
Mas olhe, o meu tormento é tanto
Que eu vivo em prantos, sou tão infeliz
Não há coisa mais triste, meu benzinho
Que esse chorinho que eu te fiz

Sozinho, morena
Você nem tem mais pena
Ai, meu bem, fiquei tão só
Tem dó, tem dó de mim
Porque eu estou triste assim por amor de você
Não há coisa mais linda neste mundo
Que o meu carinho por você

Morena, tem pena…

Desilusão com os políticos já predomina entre os brasileiros

Observe a charge Infere-se sobre a charge:

Charge reproduzida do Arquivo Google

Vera Rosa
Estadão

Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, em parceria com a QuestionPro, mostra que apenas 4% dos entrevistados acreditam que o governo federal pode contribuir para sua vida melhorar em 2025. As expectativas são ainda piores sobre outras esferas de poder: somente 2% creem que o governo estadual tem como ajudar a alcançar seus objetivos e outros 2% citam a prefeitura.

Quase metade dos consultados (46%) se vê como principal responsável pela conquista das metas estabelecidas e 22% acham que a ajuda virá de Deus e/ou de sua igreja. Para 13% é a família quem pode colaborar e 5% dizem contar com a própria sorte. O local de trabalho foi mencionado por 3% e amigos, por 2%. Além disso, 2% afirmaram que ninguém pode contribuir para que sua vida seja melhor.

DENTRO DA PREVISÃO – Quando perguntados sobre quais temas deveriam constar de suas resoluções para 2025, as respostas variaram de mudança de hábitos à abertura de um negócio próprio, passando por mais tempo com a família, desenvolvimento pessoal, estudos e emprego.

Na avaliação do presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, os resultados estão em sintonia com as dificuldades enfrentadas pelo governo Lula. “Lula precisa voltar a falar com o brasileiro médio”, disse Meirelles. “O presidente que sempre foi o maior comunicador do País está distante de um eleitor que não aceita mais o mínimo.”

O levantamento também revelou que, em relação às metas fixadas para 2024, 57% dos entrevistados conseguiram guardar ou investir dinheiro, como planejado. “Mas as fórmulas do passado não são suficientes na nova realidade”, observou o presidente do Instituto Locomotiva.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A pesquisa mostra que a desilusão com a política já é muito mais forte do que a polarização, propiciando o crescimento do pessimismo, que hoje predomina. (C.N.)

Ao dar relógio Cartier a Lula, o TCU acabou ajudando Bolsonaro

Lula diz a ministros que vai devolver relógio Cartier ao TCU - @aredacao

Para pegar Bolsonaro, Lula queria devolver seu Cartier

Rafael Moraes Moura
O Globo

Cinco meses após o julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU) que abriu uma brecha para ajudar Jair Bolsonaro no caso das joias sauditas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não devolveu o relógio Cartier de R$ 60 mil recebido no seu primeiro mandato, em 2005, durante uma visita oficial à França.

No julgamento de agosto do ano passado, o TCU livrou Lula de devolver o presente francês, mas na prática criou um atalho jurídico para tentar ajudar Bolsonaro no caso das joias sauditas, o que enfureceu aliados do petista.

NÃO HÁ LEI – Isso porque, capitaneado pela ala bolsonarista da Corte de Contas, o tribunal decidiu que, a menos que o Congresso edite uma lei específica sobre o tema, qualquer ex-presidente da República pode ficar com os presentes, independentemente do valor. A nova decisão implodiu um entendimento do próprio TCU, firmado em 2016, que foi usado pela Polícia Federal para indiciar Bolsonaro nas joias.

À época, Lula procurou interlocutores no governo e no meio jurídico depois da decisão do TCU, se mostrando irritado com o novo entendimento do tribunal e se dizendo disposto a devolver o relógio.

Procurada pela equipe da coluna, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República informou que “por orientação da Advocacia-Geral da União [AGU], está aguardando o julgamento do recurso do caso” para tomar qualquer medida relacionada à devolução do relógio. A AGU, por sua vez, não se manifestou.

VOLTE À PAUTA – A expectativa no TCU é a de que o processo retorne à pauta do plenário entre fevereiro e março deste ano, com o julgamento de dois recursos, mas uma reviravolta é considerada pouco provável.

Na avaliação de ministros do TCU, Lula foi mal assessorado e demorou para agir no episódio, que veio à tona por meio de uma representação do deputado federal bolsonarista Sanderson (PL-RS).

Além disso, o gesto de devolver o relógio agora não seria capaz de derrubar o novo entendimento da Corte de Contas, nem seria mais tão simples do ponto de vista burocrático. “Como o TCU já disse que o relógio é dele, Lula teria que fazer uma doação à União”, disse ao blog um ministro ouvido em caráter reservado, para quem a devolução do presente, até aqui, mais parece um “factoide” da administração petista.

EM 2005 – Lula recebeu o relógio da própria Cartier em 2005, durante uma visita oficial a Paris para as celebrações do Ano do Brasil na França. A peça é feita de ouro branco 16 quilates e prata de 750 e, na época, era avaliada em R$ 60 mil.

Em setembro do ano passado, um mês após o julgamento, a AGU entrou com um recurso contra o novo entendimento do TCU que abriu uma brecha para ajudar

O objetivo da AGU é manter de pé a regra estabelecida pela própria Corte de Contas em 2016, segundo a qual o presidente da República só pode levar consigo após deixar o cargo peças de uso pessoal e baixo valor – os chamados “itens personalíssimos”.

DOIS RECURSOS – O recurso do governo Lula está alinhado a um outro, apresentado pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, e ao voto defendido pelo relator do caso, ministro Antonio Anastasia.

Anastasia acabou derrotado no julgamento, ao defender o direito de Lula permanecer com o relógio francês, já que na época em que o petista recebeu o presente – no ano de 2005 – as regras fixadas pelo TCU ainda não existiam.

Para a AGU, o novo entendimento da Corte de Contas está “em desacordo com o arcabouço normativo que rege a administração pública a partir da Constituição de 1988, além de violar, em específico, o interesse público na preservação dos bens da União”.

INDICIAMENTO – Portanto, a Polícia Federal usou entendimento impwlodido pelo TCU para indiciar Bolsonaro

Bolsonaro foi indiciado em julho do ano passado pela Polícia Federal por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro no inquérito das joias sauditas, sob a acusação de se apropriar indevidamente de presentes dados por autoridades estrangeiras durante o período em que ocupou o Palácio do Planalto.

Conforme informou o blog, no relatório de 476 páginas, a PF mencionou 26 vezes o acórdão do TCU de 2016 que dizia que presentes de luxo deveriam ser incorporados ao patrimônio público – em todas, como referência legal para o tratamento dos itens recebidos por presidentes da República.

PF CONFIRMA CRIME – Após o julgamento, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que a decisão do TCU não interfere na investigação de Bolsonaro porque ela vai além de “questões meramente administrativas” e envolve “diversas condutas além do recebimento das joias, tais como a omissão de dados, informações, ocultação de movimentação de bens e advocacia administrativa”.

De acordo com ele, cabe à justiça criminal definir se houve ou não crime, e isso não passa pelo TCU. Essa é a mesma avaliação da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR), a quem cabe denunciar Bolsonaro no caso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É um rolo danado. Mas é óbvio que relógio de pulso é bem personalíssimo, como gravata, chapéu e cueca, que o presenteado usa quando e como quiser. O resto é frescura, diria Clodovil. (C.V.)

Fluxo cambial negativo aponta desconfiança nos rumos da política econômica

Até o dia 27, a “fuga” líquida de divisas do país chegou a US$ 24 bi

Pedro do Coutto

Alguma coisa está descoordenada na política financeira do governo, pois não trata-se apenas do aumento do dólar em relação ao real, mas também pelo fato de que o Brasil registrou fluxo cambial total negativo de US$ 24,314 bilhões em dezembro até dia 27, em movimento puxado pela via financeira, conforme informou o Banco Central. Esse movimento negativo é o maior para um único mês da série histórica do BC, iniciada em setembro de 2008 — em plena crise financeira global. O recorde anterior havia sido no último mês de 2019 (com saída de US$ 17,612 bilhões).

Os dados são preliminares. Além do resultado do dia 30 de dezembro, o BC tem até o 5º dia do mês seguinte para contabilizar os fluxos de pequeno valor. Mas os dados finais dificilmente mudarão o quadro. Para se ter uma ideia, o fluxo em dezembro também se compara a anos muito negativos, como 2020, quando teve início a pandemia de Covid-19, em que saída anual foi de US$ 27,923 bilhões — a segunda pior da história, atrás apenas de 2019 (-US$ 44,768 bilhões).

INVESTIMENTO – O fluxo cambial considera tanto o movimento financeiro quanto o comercial, com o saldo de exportações e importações. No caso do segmento financeiro, são contabilizadas operações de investimento direto, no mercado financeiro, remessa de lucros e dividendos e pagamento de juros, por exemplo.

Não se trata apenas da falta de confiança no real, mas também da falta de confiança quanto à presença da moeda americana no Brasil. Caso contrário, não teria ocorrido a evasão do montante citado, mas a sua reaplicação na economia brasileira favorecida com a perda do valor do real. Como podemos interpretar a questão, tivemos a prova da falta de confiança dos empreendedores estrangeiros na aplicação da moeda internacional no Brasil.

De outro lado, reportagem do O Globo revela que, alvo do Supremo Tribunal Federal pela falta de transparência, as emendas Pix tiveram o valor multiplicado por 12 desde 2020, quando o mecanismo passou a ser adotado pelo Congresso. Foram R$ 7,7 bilhões liberados no ano passado, montante que supera em larga escala os R$ 621 milhões da estreia do formato e 10% maior que o de 2023. Parlamentares argumentam que os repasses por meio deste formato têm menos burocracias e, por isso, passaram a ser mais usados.

PREOCUPAÇÃO –  Integrantes do governo, por sua vez, veem o crescimento das emendas Pix com preocupação. A avaliação é que, ao possibilitar repasses diretos a municípios e estados, a modalidade aumenta o controle do Legislativo sobre o Orçamento, o que representa um maior desafio para manter a governabilidade. Na prática, é um instrumento a menos que o Palácio do Planalto tem para atrair o apoio de parlamentares para pautas de seu interesse.

O aumento do valor do dólar e a elevação do montante das emendas parlamentares em doze vezes em quatro anos, sinalizam uma descapitalização na moeda estrangeira que circula no país. O estoque de dólares que o Brasil detém é superior a US$ 300 bilhões, resultado do comércio externo que levou a esse superávit, deixando o país numa posição de comodidade em relação à posse da moeda de valor internacional. Porém, pode ser interpretada também como um aviso de que fica nítida uma desconfiança quanto ao êxito da política financeira que está sendo praticada pelo ministro Fernando Haddad.

Caso houvesse uma certeza positiva, não teria havido, como aconteceu, a saída de US$ 24 bilhões no último ano. O fato reflete uma falta de credibilidade no rumo da posição financeira do governo. A saída dos dólares indica que há problemas, sobretudo de confiança nos rumos da política econômica colocados em prática pelo ministro Fernando Haddad.