Perda de tempo congestiona Congresso e atrasa agenda econômica

Charge do JCaesar | VEJA

Dora Kramer
Folha

Desta quinta-feira (5) até o último dia útil (sexta-feira, 20 de dezembro) antes do recesso, o Congresso Nacional tem 12 dias para examinar, debater, fazer ajustes e votar o pacote fiscal, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Orçamento de 2025 e a regulamentação da reforma tributária.

Isso só falando das urgências urgentíssimas da pauta econômica de interesse do governo. Um afogadilho do qual boa coisa não se pode esperar, mas está feito.

TEMPO PERDIDO – Poderia ter sido diferente. O problema é que se perdeu muito tempo ao longo do ano em que as atividades legislativas foram suspensas devido a campanhas eleitorais às quais deputados e senadores deveriam dedicar apenas o fim de semana estendido de sexta a segunda-feira.

Não foi só isso. Houve desperdício de energia e atenção com tolices de costumes, com atritos envolvendo o Judiciário, com o embate das emendas permeado de chantagens, com barbeiragens políticas do Planalto e, por fim, com o processo (in) decisório do presidente Lula em relação aos cortes de gastos.

Faz tempo que os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet começaram a falar nos estudos de contenção de despesas. Portanto, se supõe que estivessem elaborando as medidas desde então, bem antes das eleições municipais depois das quais, segundo eles, haveria o anúncio.

MAIS ATRASOS – Passou-se mais de um mês antes de, enfim, o país conhecer o que o governo entendia como o ajuste necessário para o equilíbrio das contas, e aí já estávamos em dezembro.

Pacote concebido para atender ao mesmo tempo aos ditames da economia e às conveniências da política, foi por isso recebido com alto grau de desconfiança. Há um cipoal de projetos de variados formatos e propostas de emendas constitucionais que chegam a conta-gotas no Congresso a ainda sem que se tenha deles compreensão clara.

Se o pessoal especialista em números ainda não entendeu direito o que ali são promessas vãs e meras intenções de modo a separá-las de decisões de fato consequentes, o que dirá do entendimento a ser alcançado por um colegiado de 513 deputados e 81 senadores que em sua maioria não são do ramo.

APENAS 12 DIAS – Repetindo: são 12 dias descontados os fins de semana e considerada a duvidosa semana de cinco dias.

Ainda que houvesse dedicação exclusiva com um “intensivão” para dar a eles familiaridade aos meios e modos da economia, isso implicaria deixar de lado o Orçamento e a regulamentação da reforma tributária. Temas também complexos.

Uma solução para corrigir o atraso de responsabilidade compartilhada por Executivo e Legislativo seria a convocação extraordinária do Congresso em janeiro, por iniciativa de um dos dois Poderes. Já foi prática comum no passado, não é mais.

ESTÃO EXAUSTOS – Trabalhar no recesso está fora de cogitação. Afinal, suas altezas devem estar muito cansadas depois da exaustiva jornada eleitoral que, embora municipal, tem reflexo nas respectivas sobrevivências políticas em 2026.

Deve ter sido extenuante também o processo de construção de unanimidades para a sucessão nas presidências da Câmara e do Senado. Ocorre em fevereiro de 2025, mas a arquitetura de interesses internos ocupou 2024 todo.

Portanto, o mais provável é que se recorra ao chamado esforço concentrado em votações atabalhoadas. Nelas, valorizam-se os prazos em detrimento do conteúdo.

HAJA JABUTIS… – E mais: num ambiente de toque de caixa é onde costumam se criar os jabutis, bichinhos que não sobem em árvores a não ser por obra de enchentes ou mãos de gente.

Aqui o que veremos será a pressa sendo muito amiga da imperfeição, cujo efeito para ficar no campo dos ditados— é o risco de o país comer esse repasto todo cru e muito quente.

PF gastou 880 páginas para criar a narrativa de um golpe impossível

Moisés Calado 🇧🇷🇷🇺🇮🇳🇨🇳🇿🇦+ on X: "Jair na cadeia!  https://t.co/vywc8uxe4T" / X

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

J.R. Guzzo
Revista Oeste

O Supremo Tribunal Federal está impondo ao Brasil, na base da pura força bruta, um estado de selvageria legal jamais visto nos seus 135 anos de existência como República. Não se trata, infelizmente, de uma opinião. Opiniões podem estar erradas — frequentemente estão erradas, aliás. Fatos, ao contrário, sempre são fatos, e existem porque existem.

Todo mundo tem o direito a acreditar que dois mais dois são sete, digamos, ou que a água ferve a 45 graus. É o que está dizendo o STF. Mas dois mais dois vão continuar sendo quatro, e a água vai continuar fervendo a 100 graus centígrados.

TUDO SEM NEXO – Nada a fazer, certo? Errado. O Supremo faz — e com isso destrói o país, a lei e a ordem. O ministro Alexandre de Moraes e seus acompanhantes no STF querem que você acredite que um aglomerado de 37 pessoas, a lotação de um ônibus, quis dar um golpe de Estado no Brasil.

Não faz nenhum nexo racional — e não vai fazer nunca. Não é possível, de jeito nenhum, derrubar um governo sem que pelo menos um soldado se mexa do lugar, sem tirar um tanque da garagem e sem dar ordens específicas a nenhuma autoridade. Ninguém, nunca, deu um golpe militar se o Exército em peso ficou contra esse golpe.

Não dá para dar um golpe com uma verba de R$ 100 mil. É impossível, apenas isso. Qualquer dúvida a respeito pode ser eliminada com uma leitura rasa das 880 páginas de acusações que a Polícia Federal acaba de encaminhar à Procuradoria-Geral da República.

ORDENS DE MORAES -A polícia e o Ministério Público, no caso, são cumpridores das ordens que recebem há dois anos seguidos do ministro Moraes — que, por sinal, se coloca na posição de vítima de uma tentativa de assassinato, chefe das investigações, promotor e juiz do processo, coisa que não existe em nenhum país civilizado do planeta.

O total das provas reunidas pela PF, objetivamente, está entre o zero e a raiz quadrada do zero. O que a polícia apresentou, após quase 700 dias de investigação, fica abaixo do que fazia o grande Bolinha França, quando resolvia se fantasiar de toca-discos ou de Abominável Homem das Neves para investigar, incógnito, as delinquências que sempre jogava em cima do pai da Luluzinha, o simpático Sr. Palhares.

O detetive Bolinha estava errado em 100% dos seus casos; nunca acertou uma. O inquérito do golpe está indo por aí.

SEM LÓGICA

– O relatório consegue ir da primeira à última palavra sem uma única acusação lógica, sem qualquer prova que possa ser levada a sério em qualquer parquet do mundo democrático e, sobretudo, sem qualquer ligação coerente com o seu denunciado número 1, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Tudo o que a polícia conseguiu apresentar em seu relatório, uma geleia geral escrita em português primitivo e sem qualquer vestígio de análise lógica ou vida inteligente, são conversas sem pé nem cabeça entre um bolo de subordinados que não tinham autoridade para dar ordens a um guarda-noturno — nec caput nec pedes, como diriam os ministros em seu latinório de curso ginasial.

Eles disseram o que a PF diz que disseram? Podem ter dito e repetido, mas e daí?

TUMULTO MENTAL – Os diálogos são apenas uma demonstração clara de tumulto mental agravado, como essas coisas que você lê na internet garantindo que a China tem uma base secreta na Lua, que o Brasil precisa de um “banho de sangue” para “limpar a política” ou que John Lennon continua vivo em algum lugar do mundo — é isso, e só isso.

Não há nenhuma menção ao tipo de veneno que seria usado para matar o presidente — e nem por que os líderes militares do golpe, todos eles com acesso legal a armas de fogo, precisariam de veneno para realizar o seu plano.

Um padre de Osasco faria parte do “núcleo jurídico” do golpe. Um padre no “núcleo jurídico”? Por que um padre? O golpe, aliás, teria “seis núcleos”. Nenhum dos acusados, em nenhum lugar, fala em núcleo de coisa nenhuma. Foi a PF que inventou a coisa dos “núcleos” — e passou a apresentar a sua criação como prova do crime.

E BOLSONARO? – Não está claro, como nunca esteve desde o começo dessa história, por que Bolsonaro não deu o golpe de que é acusado quando era presidente da República e comandante em chefe das Forças Armadas.

Não há, em nenhum ponto do inquérito, qualquer indício de que ele tenha tentado dar alguma ordem nessa direção, nem direta nem indireta.

Se ele tinha algum desejo real de impedir a posse de Lula e continuar na Presidência, por que saiu do governo, até antes da hora certa, foi para os Estados Unidos e só depois tentou dar o golpe — sem um único e escasso pelotão de tiro de guerra, e com uma turba de motoboys, barbeiros e até um autista, em vez de generais de Exército, brigadeiros do ar e almirantes de esquadra? Vai saber.

Próximos dias serão cruciais para avaliação do quadro de Lula

Cicatriz na nuca de Lula

Cicatriz na nuca de Lula mostra que foi um choque forte

Cláudia Collucci
Folha

A recorrência do sangramento intracraniano sofrido pelo presidente Lula (PT) tinha 3 cm de diâmetro e pode aumentar as chances de novas hemorragias e demandar um tempo maior de recuperação, segundo neurologistas. Por outro lado, o petista tem um bom prognóstico por ter tido acesso a uma boa equipe e não ter nenhuma alteração neurológica, afirmam.

Lula sentiu fortes dores de cabeça e, depois de exames feitos no Hospital Sírio-Libanês em Brasília, foi transferido para a unidade de São Paulo para uma cirurgia de emergência de drenagem do hematoma.

RECORRÊNCIA – A hemorragia intracraniana está relacionada à queda sofrida por Lula no último dia 19 de outubro. Nesses casos, as chances de recorrência variam entre 15% e 20%, segundo a literatura médica.

Segundo seus médicos, Lula está estável, conversa e se alimenta normalmente e não há comprometimento cerebral. O hematoma diagnosticado no presidente é chamado de subdural crônico frontemporal.

“No crânio, depois do osso, a gente tem três membranas, que são as meninges. Esse hematoma está entre a primeira e a segunda. Ele está abaixo da dura mater, que é a camada mais espessa e mais próxima do osso. Ele tem um contato médio com o cérebro porque tem outras meninges protegendo [o cérebro]”, explica a neurocirurgiã Ana Gandolfi, coordenadora do setor de emergências neurocirúrgicas da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

PACIENTE IDOSO – Segundo ela, a recorrência do sangramento, após um primeiro evento provocado por queda, não é incomum entre os pacientes mais velhos.

“O paciente mais idoso tem uma atrofia cerebral, naturalmente. A gente fica com um espaço um pouco maior. Mesmo pequenos traumas levam a microssangramentos, que vão crescendo naquele ambiente ao longo do tempo.”

Na avaliação de Ana Gandolfi, baseada nas informações dadas pela equipe médica de Lula em entrevista coletiva, a cirurgia feita no presidente é de menor porte e não está associada a inchaço no cérebro.

“O hematoma tem um crescimento lento, o cérebro vai reacomodando. Ele não tem uma lesão neurológica do tecido cerebral, então, normalmente, é menos grave”, diz.

EVOLUI BEM – Por ter sido operado sem nenhum tipo de alteração neurológica, as chances de sequelas são menores, segundo a médica. “Normalmente, é um paciente que evolui bem.”

A mesma avaliação tem José Oswaldo de Oliveira Júnior, neurocirurgião do Hospital do Servidor Estadual de São Paulo, com a ressalva de que não dá para garantir neste momento que o presidente está livre de novas intervenções ou sequelas.

“É um procedimento que não é de grande porte, geralmente está associado a uma boa evolução, mas não é possível garantir que não haja necessidade de uma reintervenção porque pode ter recidiva do crescimento [do hematoma] e aparecimento novamente [de sangramento] para você drenar mais tarde.”

SEQUELAS – Também para o neurocirurgião Luiz Severo, as chances de sequelas ainda existem, e tudo vai depender de como será a evolução do presidente nos próximos dias e se haverá necessidade de outras abordagens, por exemplo, mais uma cirurgia para estancar um eventual novo sangramento.

“É preciso vigilância para o risco de epilepsia, riscos de novos sangramentos e de alterações cognitivas”, diz.

Segundo Severo, hematomas podem comprimir áreas importantes do cérebro, como da fala, da motricidade e das emoções, causando sequelas que incluem dificuldades motoras (fraqueza, por exemplo), problemas de fala, alterações cognitivas (como dificuldade de memória, concentração e raciocínio) e emocionais, como depressão e ansiedade.

REABILITAÇÃO – “Algumas pessoas podem experimentar déficits cognitivos temporários, enquanto outras podem ter dificuldades de longo prazo. A reabilitação pode ser necessária para ajudar na recuperação das funções cognitivas.”

Também há chances de o paciente desenvolver quadro de epilepsia. “Não é à toa que sempre fazemos anticonvulsivante no pós-operatório em todos”, explica o médico.

Outro risco, diz o neurocirurgião, é a necessidade de novas intervenções cirúrgicas, aumentando riscos de mais lesão. Por outro lado, pondera, a neurocirurgia está cada vez mais segura, com incisões menores e menor risco de lesões. “O presidente certamente teve acesso ao melhor e isso traz melhor prognóstico.”

TEMPO MAIOR – Segundo Severo, esse novo sangramento pode demandar um tempo maior de recuperação. “Na primeira vez, ele ficou sob vigilância nas primeiras 48 horas do edema cerebral. Agora ele foi operado. Após uma craniotomia, a gente recomenda repouso de 15 a 30 dias, considerando que não tenha nenhum tipo de complicação.”

Em entrevista coletiva nesta terça-feira, a equipe médica de Lula disse que ele foi submetido a uma trepanação, que é uma pequena perfuração no crânio. Segundo afirmaram, o termo craniotomia, que constava de boletim médico inicial, costuma ser usado para intervenções maiores.

Na opinião do neurologista Oliveira Júnior, do Hospital do Servidor Estadual, além do repouso, é recomendável que Lula evite viagens nas próximas semanas, especialmente as aéreas.

SEM VIAJAR – “As viagens aéreas têm um risco por causa da variação da pressão. Normalmente, quando você fecha a porta de um avião, você pressuriza o ambiente, fica com uma pressão bem mais aumentada dentro do que fora. Só esse tipo de variação já pode não ser benéfica para o paciente”, afirma.

A depender da evolução do quadro clínico, o presidente também pode necessitar de um acompanhamento médico mais contínuo, na avaliação de Luiz Severo.

“Pode incluir consultas neurológicas regulares para monitorar a recuperação e identificar precocemente quaisquer complicações; fisioterapia, para ajudar na reabilitação motora, caso haja fraqueza ou problemas de coordenação; fonoaudiologia, se houver dificuldades de fala ou linguagem; e avaliação psicológica, para lidar com questões emocionais e cognitivas.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Caramba, a equipe médica não sabia que tipo de operação fez, teve de corrigir. Em tradução simultânea, o problema é grave e os próximos dias serão fundamentais para avaliar o paciente, pois quem está impaciente é o vice Geraldo Alckmin, jogado para escanteio na hora em que deveria assumir. (C.N.)

Dalton Trevisan deixou a obra falar por ele e foi genial o tempo todo

Morre Dalton Trevisan, o “Vampiro de Curitiba” e gênio da literatura  brasileira, aos 99 anos | Diário de Curitiba

Trevisan recusava entrevistas e fugia dos fotógrafos

André de Leones
Estadão

Dados o aspecto reservado da personalidade do escritor curitibano Dalton Trevisan, que morreu nesta segunda-feira, 9, aos 99 anos, e a forma como ele conduziu sua vida profissional, a melhor maneira de abordar sua enorme contribuição à literatura é ignorar detalhes pessoais e privados e se fixar na produção ficcional.

O epíteto que lhe infligiram, relativo ao título de seu livro mais conhecido, O Vampiro de Curitiba, diz muito do estranhamento com que costumam ser vistos autores que preferem deixar que as obras falem por si, mantendo-se longe dos holofotes e da interminável procissão de egos que caracteriza o meio literário.

SEMPRE GENIAL – Trevisan ocupou-se de escrever e de silenciar, e foi genial em ambas as atividades. Graças à primeira dessas atividades, foi agraciado com os prêmios Camões, Machado de Assis, Portugal Telecom, APCA, Biblioteca Nacional e Jabuti, entre outros.

Embora tenha escrito um romance, “A Polaquinha”, e novelas como “Mirinha” e “Nem te Conto, João”, Trevisan firmou-se como um dos melhores e mais inventivos contistas brasileiros desde “Novelas Nada Exemplares”, lançado em 1959.

Antes, publicara histórias em folhetos e na revista “Joaquim” (1946-48), fundada por ele, Erasmo Pilotto e Antônio P. Walger. A concisão, “o olho aberto no escuro”, a utilização e reinvenção da linguagem coloquial, as imagens (“Bastava dizer João, eu beijava o sexto dedo do pé”; “cada morto é uma flor de cheiro diferente”; “O tropel de corvos no telhado: era a chuva”) e as repetições, elipses e supressões — tudo isso já marca presença em “Novelas Nada Exemplares”.

NO COTIDIANO – Ao se fixar nas existências corriqueiras, mais a-heroicas do que anti-heroicas, e não raro marcadas por ocorrências trágicas (“A mulher chorava de pé, a cabeça apoiada na parede. Uma vizinha esfregava vinagre nos pulsos do menino desmaiado. Debruçou-se o pai na cama — a criança virou o branco do olho”).

Também com circunstâncias ridículas (“Paulo reparou nas duas sombras. Uma, bule de chá, gorda e grávida. Outra, selvagem albatroz da noite, abrindo asas na glória de arremeter voo”), Trevisan cria e recria dramas domésticos e não raro comezinhos, elevando-os por meio de um trato único com a linguagem e as estruturas narrativas.

Em uma bibliografia extensa e geralmente associada à repetição, impressiona como o autor jamais se perde. É como se Curitiba e seus habitantes continuamente nos escapassem ou se tornassem outros, e outros, e outros, deixando estilhaços, fragmentos e restos humanos que, somados, apontam para uma completude maior, uma integridade ulterior — a própria obra literária de Dalton Trevisan

Escanteado, Alckmin não assume e finge que está tudo bem

Jornal Correio | Após cirurgia de Lula, Alckmin assumirá agendas com primeiro-ministro da Eslováquia

Impedido de assumir, Alckmin comparece ao Planalto

Mariana Schreiber
BBC News Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ficar uma semana internado em São Paulo, se recuperando de uma cirurgia de emergência realizada na noite de segunda-feira (9/12), por causa de uma hemorragia intracraniana, sequela da queda em que ele bateu a cabeça em outubro.

Segundo a equipe médica do presidente, Lula deixou a sala de cirurgia sem “nenhum comprometimento no cérbero” e está “lúcido, falando e se alimentando”, mas ainda precisa se recuperar e só deve receber alta e voltar a Brasília no início da próxima semana.

“O presidente está tranquilo, [precisa] repousar, nada de trabalho por enquanto”, disse o médico pessoal de Lula, Roberto Kalil Filho.

A previsão do Palácio do Planalto, no entanto, é que Lula não vai se licenciar da Presidência da República e continuará formalmente no cargo.

ALCKMIN ESVAZIADO – Na prática, o vice-presidente Geraldo Alckmin assumiu parte da agenda que estava prevista para Lula nesta terça-feira (10/12). Ele cancelou um compromisso que teria em São Paulo e voltou cedo a Brasília para uma reunião bilateral com o Primeiro-Ministro da Eslováquia, Robert Fico.

Segundo professores de Direito ouvidos pela BBC News Brasil, não há regras claras na legislação brasileira sobre a substituição do presidente em caso de internação.

O artigo 79 da Constituição dá orientações vagas: “Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente”.

SEM REGRAS – Para o advogado Felipe Fonte, professor de direito público da FGV, a Constituição “é lacônica” sobre as situações de impedimento, deixando muito a critério do presidente como proceder.

Ele lembra que o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a despachar do hospital durante seu mandato quando passou por algumas internações decorrentes da facada que sofreu na campanha de 2018.

Assim que assumiu o cargo, Bolsonaro passou por uma cirurgia em janeiro de 2019 e ficou 18 dias no hospital. Na ocasião, ele tirou licença médica apenas nos dois primeiros dias, período em que passou temporariamente o cargo para seu vice, general Hamilton Mourão. A situação se repetiu em setembro daquele ano, quando Mourão assumiu a função por cinco dias, metade do período de internação.

MOURÃO BLOQUEADO – Já em 2021, quando Bolsonaro foi internado de emergência devido a uma obstrução no intestino, os dois estavam brigados e Mourão não assumio o cargo e preferiu manter uma viagem para Angola, onde participou da Cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Para o constitucionalista Diego Werneck, professor do Insper, a falta de detalhamento da Constituição sobre as situações de afastamento faz com que essa decisão, geralmente, seja tomada em acordo entre o presidente e o vice.

“A Constituição não regula em detalhes o que é impedimento e a gente não deveria imaginar que isso tem que ser entendido de uma forma muito abrangente”, afirma.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
E assim Geraldo Alckmin enfim compreendeu que ser vice de Lula é igual a Pedro Aleixo ser vice de Costa e Silva. Tem o cargo, recebe o belo salário, mora num palácio, com tudo pago, mas não assume. (C.N.)

“Controle das redes” pelo Supremo será uma censura implacável

Tribuna da Internet | Quando tenta “desmentir” a Tribuna, o Planalto sempre faz papel ridículo

Charge do Rice (Arquivo Google)

J.R. Guzzo
Estadão

Entre todos os desvarios impostos hoje à vida pública brasileira poucos se podem comparar ao esforço desesperado do STF e da esquerda nacional para criar a censura nas redes sociais. Nada pode se igualar, é claro, ao golpe dos estilingues, do batom na estátua (“substância inflamável”, diz o ministro Alexandre de Moraes) e dos oficiais subalternos que não tinham autoridade para dar ordens a um cabo do tiro-de-guerra de São José dos Ausentes.

Aí já é medalha de ouro, e não sobra para ninguém. Mas a censura vem logo atrás, coladinha.

MAIOR ABSURDO – A censura do regime STF-Lula, com o apoio neurastênico, agressivo e irracional das classes culturais, é uma mentira dentro de uma mentira. É simples: estão fazendo o maior ataque à liberdade de expressão jamais visto na história da República, mas juram que seu programa de censura não é censura.

Dizem que é “controle das redes sociais”, onde haveria uma “terra sem lei” que ameaça a própria sobrevivência da nação. Essa terra não é sem lei, e nunca foi.

Está sujeita às regras do Código Penal e do Marco Civil da internet. Também não ameaça a sociedade – só ameaça a eles mesmos. E é censura, porque pune quem quer dizer o que pensa.

DIZ TOFFOLI – E nada define tão bem a boçalidade espetacular da censura do STF do que a desculpa que o ministro Toffoli acaba de dar para ela.

Não se pode admitir, na sua opinião, que a liberdade de expressão seja usada para a polícia jogar gente de cima da ponte, como ocorreu há pouco em São Paulo. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra?

Tudo a ver, diz Toffoli. O policial fez o que fez pela “falta de lei” da internet: achou que o direito à sua livre expressão incluía atirar o infeliz lá do alto. Viram como é um perigo deixar as pessoas lerem e escreverem o que bem entendem nas redes sociais?

MULTAS LEVES – Toffoli diz que multas contra o X foram ‘muito leves’ e Moraes diz que vai ‘rever’ imposições.

Ora, não adianta dizer que isso é apenas mais uma estupidez privada de um repetente que foi reprovado duas vezes seguidas no concurso para juiz de direito antes de ganhar seu lugar no STF.

Tire-se o verniz de segunda categoria que os outros ministros usam em suas encíclicas a respeito do tema e vai se ver a mesma indigência. O problema deles não tem solução.

CALAR A INTERNET – Dizem que “não é censura”, pois não afeta a mídia convencional. Mas o regime não precisa censurar a mídia convencional. O quer, mesmo, é calar a internet – onde, pela primeira vez nas suas vidas, todos os brasileiros podem dizer o que querem, dia e noite, sem pedir licença aos jornalistas, aos professores da USP e aos bilionários com “pegada social”.

O problema real do regime STF-Lula é o povo brasileiro. Se ele puder pensar, dizer livremente o que pensa, e tirar suas conclusões sobre o que ouve, atrapalha tudo.

No país das maravilhas, Lula põe a culpa no ministro da Comunicação

Marqueteiro Sidônio Palmeira é cotado para assumir Comunicação do governo  Lula - Portal deAmazônia

Lula decidiu transformar seu marqueteiro em ministro

Dora Kramer
Folha

Desde que os índices de popularidade engataram uma linha descendente, o presidente Luiz Inácio da Silva vem insistindo na ideia de que o problema do governo é a comunicação ruim.

Na semana passada, indicou que o talento para “vender” suas realizações será um dos critérios, talvez o primordial, para a reforma ministerial prevista para 2025. Chegou a fazer mea-culpa e chamou a si a tarefa de dialogar mais e melhor com a população.

FUGINDO À REGRA -Lula matou a falha no peito, coisa que não é do estilo dele, mais afeito a transferir culpas ao alheio. Disse que fala pouco (!) e prometeu aumentar a frequência de pronunciamentos sem atentar para a evidência de que frequentemente suas falas resultam em situações desfavoráveis.

O presidente parte do pressuposto de que o governo está maravilhoso, mas a sociedade não percebe isso porque a exposição das maravilhas não é feita corretamente.

Princípio básico da propaganda para definição de um sucesso de vendas é a qualidade do produto. Quando a mercadoria não é entendida como boa para o consumo, o público não compra.

É OBRIGAÇÃO – Daí a dificuldade de convencer as pessoas a reagirem como o presidente gostaria que reagissem —sendo gratas a ele.

Atuar na redução da pobreza e do desemprego, para citar dois exemplos, é obrigação e não algo passível de recompensa.

Do ponto de vista político, a comunicação do pacote de corte de gastos foi bem montada, com estética de programas do horário eleitoral. Ressaltou benesses, minimizou medidas mais duras e evitou a palavra “corte”.

SEM CONTEÚDO – Tudo muito bem pensado e arrumado na forma, mas um desastre no conteúdo, ao misturar contenção de despesas com perda de receita, ao anunciar isenção de imposto obviamente eleitoreira para tentar pegar a classe média-baixa pelo bolso.

Economistas alertam que a boa nova dos números positivos de hoje pode ser a má notícia de amanhã, caso as contas não sejam administradas com firmeza e realismo.

Mas o governo prefere demonizar o chamado mercado, num embate ideológico anacrônico datado de uns 30 anos atrás, coisa que não se comunica com os tempos atuais.

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NOTA DA REDAÇÃO  DO BLOGBelo artigo de Dora Kramer, que prima pela serenidade. Lula vai afastar o ministro da Comunicação e substituí-lo pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, que tenta convencer os brasileiros de que Lula malha todo dia, está em ótima forma e pode ser candidato até o final dos tempos. Ou até o Brasil virar uma imensa Argentina. (C.N.) 

Na tentativa de salvar o amor, um poema bélico de Oswald de Andrade

Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral a bordo de um navio Foto: Crédito: Fundo Oswald de Andrade / Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio

Oswald com Tarsila do Amaral, a primeira musa

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, escritor, ensaísta, dramaturgo e poeta paulista José Oswald de Souza Andrade (1890-1954) foi um dos principais articuladores do movimento modernista literário e da célebre Semana de Arte Moderna, marco divisório na história das artes brasileiras, realizada em São Paulo, em 1922.

A rebeldia de Oswald o levava a querer muito mais do que simplesmente revolucionar forma e conteúdo da criação artística. O que ele queria mesmo era uma revolução que transformasse a vida social dos brasileiros, suas instituições e costumes.

Quanto ao amor, Oswald era considerado um sortudo, pois casou com duas das mulheres mais cobiçadas da época. Primeiro, com a pintora Tarsila do Amaral, e depois com Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu,  escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista e militante comunista. 

ALERTA
Oswald de Andrade

Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira

Eles querem matar todo amor
Corromper o pólo
Estancar a sede que eu tenho doutro ser
Vem do flanco, de lado
Por cima, por trás

Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade.

Judiciário se agiganta e pode ameaçar as liberdades públicas

Tribuna da Internet | Brasil hoje é governado com base no rancor e vingança  entre os Poderes

Charge do Duke (O Tempo)

Luiz Felipe Pondé
Folha

A tradição de filmes sobre a ditadura está aí. O discurso comum é de que se faz necessário lembrar para não deixar acontecer de novo. Segue a rota dos filmes sobre o Holocausto que visariam manter a memória viva dos horrores contra as vítimas do nazismo.

Mas duvido da validade plena dessa estratégia. No caso do Holocausto, essa memória não impediu que grande parte do mundo apoiasse, ainda que fingindo não o fazer, o pogrom do dia 7 de outubro de 2023 realizado pelo Hamas, esses “resistentes contra a colonização”.

SEM CONFIANÇA – Chama a atenção o fato que grande parte desses apoiadores fingidos do massacre de israelenses vieram das classes mais letradas —as letras e as artes nunca merecem muito nossa confiança em períodos autoritários.

O ser humano é tal que nada o impede de achar justificativas para apoiar toda forma de violência contra quem ele detesta.

No caso da ditadura no Brasil, essa memória de nada adianta para evitar que formas de autoritarismo aqui se instalem. E, neste caso, levado a cabo por muitos daqueles que dizem se emocionar com as vítimas da ditadura.

GOLPE ANACRÔNICO – O golpismo bolsonarista é simétrico a esse equívoco histórico mencionado aqui. Um golpe anacrônico como se vivêssemos ainda na guerra fria dos anos 1960, levado a cabo por mentecaptos.

Trata-se de um presente dos deuses para quem baba de vontade de instaurar uma forma de autoritarismo típico do século 21, a saber, uma ditadura líquida —tomando de empréstimo conceito de Zygmunt Bauman (1925-2017).

Ainda que o totalitarismo fascista já praticasse essa forma de autoritarismo disperso pelas relações sociais e institucionais, no século 21, essa forma de destruição da liberdade política pode ocorrer sob a manta de um Estado de Direito disfuncional como o brasileiro.

ASSÉDIO SEXUAL – De repente, alguém acusa “X” de assédio sexual. Como se sabe, esse tipo de acusação tem efeito destrutivo imediato. O branding, uma das “formas de ponta” do aparelho repressor no século 21, rapidamente exclui qualquer pessoa suspeita de tal crime, sem possibilidade de defesa.0

Esse traço de conduta é típico da vocação à violência que a massa tem desde sempre. Profissionais de marketing exercem a função de promotores informais, mas eficazes.

O ministério público poderá acolher qualquer denúncia contra “Y” o que fará “Y” gastar rios de dinheiro para se defender. Mesmo que, ao cabo de anos, “vença” a causa, sua vida financeira estará arruinada. A chance de o casamento acabar e da relação com os filhos se despedaçar por causa da ruína financeira e da humilhação que se segue a um processo como esse é intensamente provável.

TEMAS POLÍTICOS – O tratamento dos temas políticos pela mídia, também, se faz elemento pró-destruição da liberdade política facilmente, bastando que editores do nível médio da hierarquia, apoiados silenciosamente pelos companheiros de consórcio dentro das redações, proíbam análises que não reforcem o status quo.

O mesmo mecanismo entrará em operação na rede de educação, hostilizando aqueles que não abraçarem a causa comum.

Um dos efeitos mais nefastos da chamada polarização é que ela destrói por dentro a dinâmica das relações entre posições institucionais em contenda. Enquanto a polarização reinar, não haverá espaço nenhum para sairmos dessa rota em direção à dissolução da tal democracia.

MAU JUDICIÁRIO – Com a crescente judicialização de tudo no século 21, gerando um mercado promissor para contenciosos e, por tabela, para advogados, empoderando a magistratura e associados, numa sociedade à deriva como a nossa, a tendência é que um dos braços armados da destruição da liberdade será o próprio Poder Judiciário que, supostamente, defenderia o Estado de Direito.

Quanto mais ativo é o Poder Judiciário, menor é a liberdade dos costumes e das ações invisíveis que sempre conduziram o cotidiano.

A infantilização crescente do que antes chamávamos de adultos aciona a magistratura o tempo todo para decidir quem tem o direito de falar uma palavra em detrimento de outra.

COMO TOTENS – Posições políticas hoje operam como totens, no sentido mais pré-histórico possível. Excluídos do cérebro racional, mais complicado e cansativo na sua fisiologia do que a adesão totêmica, que tem a seu favor a ancestralidade atávica, os totens impedem qualquer “avanço” na superação de quadros como o descrito aqui.

Empurram o sistema político para o leito de uma estrutura que mimetiza a democracia de um ponto de vista quantitativo e institucional, enquanto destrói esse mesmo sistema político de um ponto de vista qualitativo que acolheria o contraditório.

O totem é pleno, à democracia falta tudo.

Pacote de ajuste fiscal divide opiniões entre ex-ministros de Lula

Lula sofre cirurgia de emergência, mas Alckmin ainda não assumiu

Ex-governador Geraldo Alckmin será investigado por caixa dois | Sindicato  dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região

Alckmin está preparado para assumir e cumprir a agenda

Do UOL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi submetido a uma cirurgia de emergência na madrugada desta terça-feira (10) para drenagem de uma hemorragia intracraniana após sentir dor de cabeça.

Lula, de 79 anos, foi examinado na unidade de Brasília do Hospital Sírio-Libanês, sendo posteriormente transferido para a unidade de São Paulo do complexo hospitalar, onde foi realizado o procedimento.

PASSA BEM – Segundo o boletim médico divulgado pelo hospital, a cirurgia aconteceu sem intercorrências, e o presidente passa bem. Ele segue sendo monitorado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital.

Ainda de acordo com o boletim, a hemorragia decorre do acidente doméstico sofrido por Lula no dia 19 de outubro, quando ele caiu no banheiro do Palácio do Alvorada.

A informação foi compartilhada no Instagram de Lula. A equipe médica dará mais informações sobre o estado de saúde do presidente na manhã desta terça.

AGENDA CANCELADA – Entre os compromissos de Lula programados para hoje estava a recepção oficial e uma reunião com o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, que realiza visita oficial ao Brasil.

Além disso, a agenda previa o encontro do presidente com os ministros da Casa Civil, Rui Costa, dos Transportes, Renan Filho, e da Saúde, Nísia Trindade.

“O procedimento cirúrgico foi realizado com sucesso, conforme boletim médico. Seguimos em oração e gratidão a Deus pela recuperação plena da saúde do nosso querido Presidente”, escreveu no X o Advogado-geral da União, Jorge Messias, acrescentando: O presidente @LulaOficial venceu a ditadura, venceu um câncer, venceu três eleições para presidente e ajudou a vencer a fome extrema que afetava milhões de brasileiros.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Toda hemorragia no cérebro é preocupante quando exige drenagem, através de cirurgia que perfura o osso do crânio. Como a hemorragia é na parte da nuca, é menos grave do que em outras áreas, se não provocar sequelas. O vice-presidente Alckmin já deveria ter assumido, mas não há notícias a respeito. A informação é de que vai cumprir parte da agenda. Vamos aguardar o novo boletim médico. (C.N.)

Militares são antipetistas e querem parar as investigações

Charge do Zé Dassilva: Enquanto isso, nos quartéis... - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Carlos Newton

A política brasileira está cada vez mais esquisita e surrealista. Até agora não foi entendido o que realmente pretendiam os comandantes militares, quando foram incomodar o presidente Lula da Silva no Palácio da Alvorada, no último dia 30, um sábado.

A jornalista Eliane Cantanhêde, do Estadão, publicou que na reunião os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, acompanhados pelo ministro da Defesa, José Múcio, pediram que Lula defendesse a anistia aos golpistas, uma informação importantíssima, com absoluta exclusividade e enorme repercussão.

E O MOTIVO? – A colunista do Estadão deu a notícia secamente, sem especular as razões que levaram os militares a tomar essa posição num fim de semana, fora da agenda presidencial. A informação teve forte reação na mídia e nas redes sociais, causando sobretudo estranheza, ninguém sabe por que os chefes militares estão agindo assim.

Cabe, portanto, uma tradução simultânea. E a explicação principal é de que as Forças Armadas querem mesmo é parar as investigações. Se prosseguirem, logo ficará claro que a quase totalidade dos oficiais da ativa e da reserva suportam Lula com enorme contrariedade.

Como se sabem, eles aceitaram a contragosto que o criador do PT tenha sido libertado por uma jogada do Supremo, que para tanto transformou o Brasil no único país da ONU (são 193) que não prende criminosos após condenação em tribunal.

E TEM MAIS – Os militares também jamais concordaram com a decisão do STF que anulou as condenações de Lula na Lava Jato, incluindo até a sentença proferida pela juíza Gabriela Hardt no caso do Sítio de Atibaia, que nada tinha a ver com erros atribuídos ao juiz Sérgio Moro na força-tarefa da operação. Ou sejam, foram decisões tomadas fora da lei pelos ministros.

Aliás, esse sentimento de repúdio a Lula sempre foi consenso entre os militares. Assim, se as investigações prosseguirem, essa situação logo virá a público e ficará claro que praticamente todos os oficiais das três Armas aceitavam o golpe, desde que houvesse algum indício de fraude nas urnas eletrônicas ou na apuração.

Como o governo Bolsonaro e o PL não conseguiram provar qualquer fraude, os oficiais superiores então caíram na real e os Altos-Comandos do Exército e da Aeronáutica refluíram para uma posição legalista, enquanto apenas a Marinha insistia na aventura.

VERSÃO IDEAL – Portanto, para as Forças Armadas, o ideal é que prevaleça a narrativa hoje em vigor, de que havia apenas alguns oficiais conspiradores, que foram em boa hora travados pela maioria legalista.

Mas no fundo todos sabem que essa versão é uma balela diante o apoio ostensivo das Forças Armadas aos acampamentos bolsonaristas, algo jamais visto e até considerado inimaginável.

Assim, se as investigações prosseguirem, se houver delações e se militares forem condenados por participar de uma trama que era objetivo comum, vai ser impossível esconder o sentimento antipetista dos militares. É justamente por isso que eles estão interessados na aprovação da anistia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGAnalisando-se a situação sob esse ponto de vista, talvez seja até melhor aprovar logo a anistia e ir cuidar da vida. Afinal, a quem interessa essa discussão interminável sobre um golpe que ia ocorrer, mas nunca existiu… (C.N.)

O Brasil é ruim demais e o governo não sabe fazer contas

Governo paga horas extras de forma ERRADA! Entre com processo! : Sindserv  Santos

Charge do Bruno (Arquivo Google)

Marcelo Leite
Folha

Todos sabem que estudantes brasileiros vão muito mal em matemática nas provas do Pisa. Não é culpa deles, mas do ensino. Já congressistas, juízes, promotores, servidores de alto escalão, colunistas de economia e empresários ricos não têm desculpa para o desprezo que devotam à aritmética e à lógica.

A emergência climática, maior problema do mundo, não merecia ser objeto de enganação oficial nas metas para descarbonizar a atmosfera.

PROMESSA VÃ – O governo promete zerar até 2050 emissões nacionais de CO2 e outros gases do efeito estufa, mas trabalha para seguir poluindo o planeta.

Nossa maior fonte de carbono está na agropecuária, com três quartos do total de emissões. Não só desmatando biomas por corte raso (cerrado e amazônia acima de tudo), mas também com queimadas para pasto e metano da digestão do gado ruminante, num país com mais bois que gente.

Sim, o desmatamento caiu, mas só na floresta amazônica. No cerrado sobe, assim como as queimadas em ambos. Sim, o Pará sediará a COP30 em Belém, mas o governador Helder Barbalho (MDB) vê seu estado aumentar incêndios ao mesmo tempo em que apregoa venda de créditos duvidosos de carbono.

EMPULHAÇÃO – A conta não fecha. Empulhação similar encena a Petrobras com a conversa de mobilizar renda do petróleo para financiar a transição energética –isso, usar gasolina para apagar a fornalha do aquecimento global.

Só numa opinião pública avessa à coerência se aceita que um diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da estatal de energia fóssil –Mauricio Tolmasquim– defenda ser um dos exportadores remanescentes de combustíveis fósseis em 2050. Não era esse o prazo para zerar emissões?

Tudo somado e subtraído, a concentração de CO2 na atmosfera continuará a subir enquanto se queimar petróleo. Simples assim. Produtores e consumidores de fósseis não vivem em planetas separados, e as tecnologias para captura e armazenamento de carbono ainda são ficção economicamente inviável.

E AS AUTORIDADES? – Como entram nessa história mal contada os congressistas, juízes, promotores, servidores de alto escalão, colunistas de economia e empresários ricos do primeiro parágrafo?

Alguns são latifundiários e pelejam para reverter leis ambientais ou meter jabutis na legislação de energia, verdade. Por outro lado, tratam os números do ajuste fiscal como animais nas fazendas de seus avós, espancando-os sem dó.

Enchem a boca para ruminar cortes de gastos, desde que não na própria carne, só na dos beneficiários de programas sociais. Absurdo isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5.000, bem agora, e já se movimentam para tirar do cálculo compensatório a tributação para quem fatura mais de R$ 50 mil (eles próprios).

PENDURICALHOS – Impedir a farra das indenizações que catapultam seus vencimentos muito além do teto governamental? Nem pensar, reagem magistrados, promotores, procuradores e defensores públicos alérgicos à justiça distributiva.

Revogar o privilégio de 17 setores da economia (imprensa incluída) que tiveram desoneradas as folhas de pagamento? Fora de questão. Argumentam, sem corar, que haverá demissões, ao mesmo tempo em que deploram pressões inflacionárias do desemprego em queda recorde.

O Brasil é ruim demais. Com as contas, com a Terra e com sua gente.

Pai de Mauro Cid negou à PF ter vazado delação a Braga Netto

Mauro César Lourena Cid deixa a PF após depor sobre caso das joias |  Metrópoles

Ninguém sabe como  o general Lourena Cid ficou rico nos EUA

Aguirre Talento
do UOL

A Polícia Federal colheu na sexta-feira (6) um novo depoimento do general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, para interrogá-lo sobre suspeitas de vazamento do conteúdo da delação premiada de seu filho para o general Walter Braga Netto.

Mas o general Cid negou aos investigadores que tenha repassado informações da delação para Braga Netto ou outros militares.

PRESO E DELATOR – Mauro Cid foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro durante os quatro anos de Presidência e fechou um acordo de delação com a PF após ter sido preso.

A PF começou a desconfiar do vazamento após ter encontrado anotações na sala de um assessor de Braga Netto, na sede do PL, que pareciam ser respostas dadas por Cid a questionamentos a respeito do conteúdo dos seus depoimentos.

Além disso, em um diálogo interceptado, outro militar, o general Mario Fernandes, disse que os pais de Cid haviam telefonado para militares com o objetivo de falar sobre o conteúdo da delação.

PLANO DE GOLPE – As informações constam do relatório final da investigação sobre o plano de golpe, que aponta atuação do grupo de Braga Netto para obter informações da delação.

“O contexto do referido documento confirma que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por Mauro Cesar Cid com a Polícia Federal”, escreveu a PF no documento.

O general Braga Netto foi indiciado como um dos articuladores da tentativa de golpe de Estado. O pai de Mauro Cid, o general Mauro Lourena Cid, foi alvo da investigação sobre a venda de joias no exterior, mas não chegou a ser investigado no caso do plano de golpe.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É constrangedor o nível em que estão as Forças Armadas. Há tenente-coronel que não aguenta prisão, chora e faz delação. Generais e coronéis golpistas, que não sabem se comportar com educação, falando palavrões sem parar. E há também generais como Lourena Cid, que ficou milionário nos Estados Unidos, sem que consiga comprovar como ganhou tanto dinheiro. É deprimente ver o nível de nossos militares, que jamais foram tão bem remunerados. (C.N.)

Flávio Dino já transformou o Supremo num comitê político do PT

Quem é Flávio Dino, indicado por Lula para o STF?

Dino gosta de fazer política de manhã, à tarde e à noite

Vicente Limongi Netto

Flavio Dino jogou no lixo a promessa que fez, de que não faria mais política, depois de agraciado pelo chefe Lula, com uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). O fato é que Dino não faz outra coisa. Dorme e acorda metendo o bedelho em política.

 Votou pela condenação de Collor, porque o ex-presidente foi aliado de Bolsonaro, encrencou contra emendas parlamentares e, agora, rompeu com o governador do Maranhão e deputados da Assembleia Legislativa.

COMITÊ POLÍTICO – Lamentável que a Suprema Corte tenha se transformado em comitê político do PT. Alguns ministros votam com sede de vingança e sangue nos olhos. Atitude vergonhosa e, pelo jeito, sem chances de terminar tão cedo.

Nessa linha, o presidente eleito da OAB de São Paulo, a maior do país, Leonardo Sica, disse ao Estadão do dia 8 que os ministros do Supremo devem ter mandatos. Para Sica, “o Supremo, hoje, é um grande tribunal criminal de todas as autoridades do Brasil. Isso dá um poder desmedido”. 

EXEMPLO DO CRAQUE – O capitão Thiago Silva pagou promessa pela permanência do Fluminense na série A, andando ajoelhado, de um lado para outro do gramado, emocionou os torcedores. 

Nessa linha, governo e políticos falam pelos cotovelos. Mentem, descaradamente.

Se realmente cumprissem as promessas que fazem, o ano todo, da boca para fora, deveriam imitar Thiago Silva, andando, de joelhos, do Palácio do Planalto para a Esplanada dos Ministérios, encerrando uma marcante profissão de fé, no Congresso Nacional.

BAIXÍSSIMO NÍVEL – O Senado federal nunca esteve tão pessimamente representado. O baixo nível é medonho. Com o desprezível Davi Alcolumbre novamente presidente do Senado e do Congresso, é monumental o escárnio, ultrajante e vergonhoso. Seu plenário virou palco de demagogos engomados.

Senado presidido por Rodrigo Pacheco já era um escárnio, um castigo de Deus que o Legislativo não merece. Agora, fala-se que em 2026 quem será castigado é o povo mineiro, porque Lula, que se julga o maior sabidão da terra, semideus de meia pataca, pretende fazer Rodrigo Pacheco o governador de Minas Gerais. É o fim da picada. 

Brutalidade policial pode reduzir apoio popular a Tarcísio

Tô nem aí, diz Tarcísio após acusação na ONU sobre violência em SP

Tarcísio jamais poderia ter dito que “não estou nem aí”

Dora Kramer
Folha

De quantos casos “isolados” o governador Tarcísio de Freitas vai precisar para se render à evidência de que há uma crise na administração da segurança pública em São Paulo? Quantos abusos “pontuais” serão necessários para ele aceitar que a brutalidade por parte de agentes do Estado é inaceitável?

Talvez essa tomada de consciência ocorra quando, e se, a sociedade perceber que qualquer um do povo pode ser vítima da violência desmedida de policiais pagos para protegê-la, e disso decorra uma queda na avaliação positiva de seu governo.

LINHA DURA – O cálculo por ora parece se basear na preferência da maioria pela linha dura, mesmo ao preço de exorbitâncias.

Por mais distorcido que seja, esse tipo de visão pode até valer para o embate com criminosos, mas pode mudar à medida que se acumulem episódios de agressões injustificadas e a população se sinta ameaçada por elas.

Um homem atirado de uma ponte feito saco de lixo, outro fuzilado pelas costas, um estudante desarmado morto à queima-roupa, mata-leões a torto e a direito ou a presença intimidatória de tropas no enterro de uma criança de quatro anos abatida numa operação não são cenas que se coadunem com a dita polícia “mais bem treinada do país”.

EFIICIÊNCIA – O governador alude aos “números”, segundo ele indicadores de eficiência. Mas e as pessoas que porventura manifestem temor de ficar à mercê dos abusos? Diria a elas que não está “nem aí”, as mandaria ao “raio que o parta”, como fez em relação a críticas de organizações defensoras dos direitos humanos?

Ao agente da lei não é facultado perder a cabeça em situação alguma. A alegação de que ações individuais não podem desabonar a corporação tampouco justifica nem ameniza a situação. A correção de procedimentos é dever do conjunto.

Um militar afastado da Rota por conduta excessiva no comando da Secretaria da Segurança Pública não passa aos comandados exatamente mensagem de contenção. E ainda desqualifica o governador como atrativo político para os moderados. No lugar de marcado pelo combate ao crime, Tarcísio pode sair manchado pelo estímulo à força bruta.

Governo fará nova tentativa para aprovar jogos de azar em 2025

Mas, afinal, os cassinos físicos vão voltar ao Brasil? | Brasil 247

Cassinos abrem empregos, atraem turistas e pagam impostos

Gustavo Uribe
CNN Brasil

Após o recesso parlamentar, no ano que vem o governo federal fará uma nova tentativa para aprovar no Congresso Nacional a proposta que legaliza os jogos de azar no país.

A avaliação é de que medida é importante para arrecadação, mas que jogos online atrapalharam tramitação. A expectativa é que o governo consiga uma arrecadação anual de R$ 22 bilhões com a legalização

A iniciativa tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da maior parte da Esplanada dos Ministérios.

APROVAÇÃO – A proposta já foi aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e aguarda ser pautada no plenário do Senado Federal.

A polêmica dos jogos online com as apostas futebolísticas pelo celular, no entanto, inviabilizou a votação neste ano, principalmente sobre o vício em beneficiários do Bolsa Família e de outros programas sociais.

Mesmo assim, a ordem no Palácio do Planalto é fazer uma nova tentativa no primeiro semestre de 2025. Recentemente, em evento em São Paulo, o ministro do Esporte, André Fufuca, disse que não concorda que os cassinos online tenham sido liberados antes dos cassinos físicos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Como diria Ataulfo Alvez, o cinismo dessa gente é uma arte. Para tirar dinheiro do pobre, eles aprovaram com a maior facilidade as apostas online. Para aprovar os cassinos e bingos, que dão emprego, atraem turistas e pagam elevados impostos, é a maior dificuldade aprovar. Deveriam ter aproveitado o pacote do corte de gastos, mas faltam inteligência e perspicácia a essa gente. (C.N.)

Pacote é um quebra-galho fiscal, porque não reduz de fato os gastos

Como se livrar definitivamente das dívidas | Efetividade Mercado de  trabalho, administração, finanças e marketing

Charge do Lane (Arquivo Google)

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

O comentário mais benevolente sobre o pacote de corte de gastos diz o seguinte: está na direção correta, mas é insuficiente. O programa de ajuste é insuficiente porque não se trata de redução efetiva de gastos. Explicando: não é que o governo vá gastar no ano que vem menos do que gasta agora. Gastará mais. Onde o ajuste, então? No seguinte: o governo gastará menos do que gastaria se não tomasse as medidas de contenção.

Considerem a regra proposta para o reajuste do salário mínimo: mantém o ganho real, acima da inflação, porém menor que a regra atual (correção pela inflação, mais a expansão do PIB). Aliás, há aqui uma maldade: o salário mínimo do ano que vem, aprovado o pacote, será menor que o previsto atualmente.

DISTRIBUIR RENDA – Promover aumento real para o salário mínimo é uma política de distribuição de renda. Ocorre que, por decisão do governo Lula, o mínimo é indexador do piso das aposentadorias pagas pelo INSS. É

um impacto importante na despesa previdenciária, de longe a maior no Orçamento federal. Dos 39 milhões de beneficiários do INSS, cerca de 26 milhões recebem o mínimo.

O gasto com aposentadorias cresce naturalmente todo ano. Mais pessoas se aposentam, dado o envelhecimento da população. O valor das aposentadorias deve ser protegido. Pode-se fazer isso corrigindo pela inflação. É assim que funcionam os sistemas previdenciários do mesmo modelo do brasileiro.

CRESCIMENTO REAL – Portanto, mesmo sem o reajuste real do mínimo, a despesa com Previdência teria crescimento real apenas pelo aumento do número de beneficiários.

Acrescentando aí o ganho real do mínimo, pago a 66% dos aposentados, a despesa tem um crescimento acelerado.

Por isso, uma das propostas mais duras era justamente eliminar essa indexação entre o salário mínimo e o piso do INSS. Como Lula rejeitou de pronto essa ideia, encontrou-se um quebra-galho: o mínimo e, portanto, o piso previdenciário terão aumento real, mas um pouquinho menor.

ACIMA DA INFLAÇÃO – Temos aqui um belo exemplo gerado pela tortuosa construção do pacote. Era preciso conter o crescimento explosivo da despesa previdenciária; porém, como Lula fazia questão de manter a indexação, optou-se por um ganho menor do salário mínimo dos trabalhadores na ativa.

Tem uma maldade, e a despesa previdenciária segue crescendo acima da inflação e da receita. Trata-se de despesa obrigatória, cuja expansão restringe os gastos discricionários, aqueles com investimentos e custeio da máquina governamental.

Esse era o problema real do arcabouço fiscal: as despesas obrigatórias (incluindo salários do funcionalismo, benefícios sociais, educação e saúde), que já consumiam pouco mais de 90% do Orçamento, apresentavam expansão forte, acima do crescimento da receita e acima da inflação.

DÍVIDA A JATO –  Mantido esse ritmo, o futuro apontava para duas consequências desastrosas: o governo ficaria quase sem dinheiro para investir e tocar a máquina; e a dívida pública explodiria.

Quando começou o governo Lula, a dívida pública representava 71,7% do PIB, já elevada para um país emergente. Hoje, com os dados até outubro, chegou a 78,6%, algo como R$ 9 trilhões, segundo dados do Banco Central.

Subiu pelo mais óbvio motivo: o governo gasta mais do que arrecada. Precisa tomar dinheiro emprestado para fechar as contas.

JUROS E INFLAÇÃO – Mesmo com o pacote, o gasto público continuará crescendo mais que as receitas, mas em ritmo menor. Com isso, dá uma sobrevida ao arcabouço, mas Haddad certamente terá de voltar às planilhas, em condições até mais difíceis.

Dívida alta indica que o governo gastará cada vez mais com os juros da dívida. Já paga mais caro para colocar no mercado os títulos do Tesouro. O dólar caro é sinal dessa “incerteza fiscal”. Dólar alto dá inflação.

O presidente do Banco Central disse várias vezes que só havia um jeito de os juros caírem: com um choque fiscal, a sinalização de cortes efetivos. Saiu um quebra-galho. O BC vai puxar os juros. Eis o ambiente: inflação em alta, juros para cima, dólar caro, tudo atrapalhando o crescimento.

Segurem a onda, vocês ainda não viram nada sobre a Síria…

La caída de Assad en Siria, un golpe para el Eje de resistencia de Irán

É preciso evitar que a Síria seja dominada pelos radicais

Thomas Friedman
NYT/Estadão]

Nas últimas semanas, tenho argumentado que Israel infligiu ao Irã e à sua rede de resistência o equivalente a uma derrota no nível da Guerra dos Seis Dias, e que isso teria grandes consequências. Bem, ironia das ironias, a família Assad na Síria assumiu o poder em 1971, em parte por causa da derrota devastadora da Síria na guerra de 1967. O que vai, volta.

Mas segurem seus chapéus; vocês ainda não viram nada.

A declaração mais engraçada de qualquer líder mundial até agora foi feita pelo presidente eleito Donald Trump.

DISSE TRUMP – Na mídia social, Trump fez a seguinte publicação: “A Síria está uma bagunça, mas não é nossa amiga, e os Estados Unidos não devem ter nada a ver com isso. Essa luta não é nossa. Deixem que ela se desenrole. Não se envolvam!”.

Atenção, Sr. Trump: a Síria é a pedra fundamental de todo o Oriente Médio. Ela acabou de desmoronar como uma ponte que explodiu, criando novos e vastos perigos e oportunidades que todos na região aproveitarão e reagirão.

Ficar fora disso não está no cardápio, especialmente quando temos várias centenas de soldados dos EUA estacionados no leste da Síria. Precisamos descobrir nossos interesses e usar os eventos na Síria para impulsioná-los, porque todos os outros estarão fazendo exatamente isso.

E O IRÃ? – O maior interesse dos EUA é também uma questão óbvia. É que essa revolta na Síria, a longo prazo, desencadeie uma revolta pró-democracia no Irã.

No curto prazo, isso certamente desencadeará uma luta pelo poder entre os moderados de lá – o presidente Masoud Pezeshkian e seu vice-presidente, o ex-ministro das Relações Exteriores Javad Zarif – e os linha-dura da Guarda Revolucionária. Precisamos moldar essa luta.

Os acontecimentos na Síria, além da derrota militar do Irã para Israel, deixaram Teerã nua. Isso significa que os líderes do Irã agora terão que escolher – rapidamente – entre correr para uma bomba nuclear e salvar seu regime ou se livrar da bomba em um acordo com Trump, se ele tirar a mudança de regime da mesa. É por isso, Sr. Trump, para colocar em seu tipo de letra: não podemos ter nada a ver com isso.

MAIOR INCÓGNITA – Quem são os rebeldes que assumiram o controle da Síria e o que eles realmente querem? Uma democracia pluralista ou um Estado islâmico?

A história nos diz que, nesses movimentos, os islâmicos linha-dura geralmente vencem. Mas estou observando e esperando que não seja assim.

Minha maior preocupação está expressa em uma única manchete, do Haaretz, em Israel: “A Síria pós-Assad corre o risco de ser comandada por milícias fora de controle”. Estamos em um momento da história do Oriente Médio em que há muitos países que eu descreveria como “tarde demais para o imperialismo, mas eles fracassaram no autogoverno”.

FRACASSOS – Estou falando da Líbia, do Iêmen, do Líbano, da Síria, do Iraque, da Somália e do Sudão. Ou seja, nenhuma potência estrangeira vai entrar e estabilizá-los, mas eles não conseguiram administrar seu próprio pluralismo e forjar contratos sociais para criar estabilidade e crescimento.

Nunca estivemos aqui antes, na era pós-2ª Guerra – um momento em que tantos países caíram nesse estado de natureza hobbesiano, mas em um mundo muito mais conectado.

É por isso que, depois de passar a última semana em Pequim e Xangai, eu procurei várias vezes esclarecer meus interlocutores chineses:

SOMOS AMIGOS – “Vocês acham que somos inimigos. Vocês estão errados. EUA e China têm um inimigo comum: a desordem. A forma como colaboramos para diminuir o Mundo da Desordem e fazer crescer o Mundo da Ordem é o que a história julgará a nós dois”. (Não tenho certeza se os chineses entenderam, mas vão entender).

E o melhor aforismo russo para resumir o desafio que as potências regionais e globais enfrentam agora para consertar a Síria: “É mais fácil transformar um aquário em uma sopa de peixe do que transformar uma sopa de peixe em um aquário.”

O emocionante poema de despedida que o genial Paulo Leminski nos legou

Nesta vida, pode-se aprender três... Paulo Leminski - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) deixou um emocionante poema de despedida, bem no seu estilo, livre e inovador.

ADEUS
Paulo Leminski 

Adeus, coisas que nunca tive,
dívidas externas, vaidades terrenas,
lupas de detetive, adeus.
Adeus, plenitudes inesperadas,
sustos, ímpetos e espetáculos, adeus.
Adeus, que lá se vão meus ais.
Um dia, quem sabe, sejam seus,
como um dia foram dos meus pais.

Adeus, mamãe, adeus, papai, adeus,
adeus, meus filhos, quem sabe um dia
todos os filhos serão meus.
Adeus, mundo cruel, fábula de papel,
sopro de vento, torre de babel,
adeus, coisas ao léu, adeus.