Indiciamento de Bolsonaro deve influir muito pouco nas eleições municipais

Bolsonaro indiciado: saiba o que acontece a partir de agora | Metrópoles

Bolsonaro responderá a processo se a Procuradoria determinar

Deu na CNN

O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso das joias não será um divisor de águas para definir as eleições municipais, avaliou nesta sexta-feira (5) ao programa WW, da CNN Brasil, o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice.

Na quinta-feira (4), a PF indiciou Bolsonaro e outras 11 pessoas por associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos pela venda de joias da Arábia Saudita, presenteadas ao governo brasileiro e, posteriormente, negociadas nos Estados Unidos.

PARTE DA QUESTÃO – “Então, eu acho que esse indiciamento é uma parte da questão, mas ele não é, vamos dizer assim, o divisor de águas para definir as eleições nos municípios brasileiros”, disse Noronha.

De acordo com o cientista político, o tema será apontado pelos adversários dos candidatos apoiados por Bolsonaro, e eles terão que responder.  “O ex-presidente Jair Bolsonaro ainda permanece com capital político muito expressivo. Vale dizer que essa questão das joias, por exemplo, que é de fácil compreensão do eleitorado. Mas tudo isso já foi muito abordado, isso já foi muito tratado pela imprensa”, prosseguiu.

“A gente continua percebendo que alguns institutos, em simulações de voto para um presidente da República, inclusive mostra um ex-presidente Jair Bolsonaro liderando as pesquisas. Então, isso deve ter um efeito limitado. O prestígio de Bolsonaro ainda continua muito alto”, explicou.

PROTOCOLADO – Integrantes da Polícia Federal (PF) estiveram na tarde desta sexta no Supremo Tribunal Federal para protocolar o relatório final do inquérito.

O material será digitalizado e enviado ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Moraes então pedirá a manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o relatório da PF.

O programa WW vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 22h, com edição especial aos domingos no mesmo horário. O programa debate os temas mais relevantes e complexos dos noticiários de uma maneira objetiva e, ao mesmo tempo, aprofundada.

Desde que se aboliu o escândalo, é possível até acreditar na inocência de Lula…

Lula diz que não se pode falar de sua corrupção porque foi “absolvido”, mas  isso é uma mentira - Flávio Chaves

Charge do Duke (O Tempo)

Mario Sabino
Metrópoles

Desde que se aboliu o escândalo no Brasil, tudo é possível. Tudo, aqui, não se resume ao presente e ao futuro, dos quais foram eliminadas as punições de poderosos por grandes esquemas de corrupção. Inclui o passado, como demonstra o companheiro José Dirceu.

Em entrevista recente a um canal de televisão, o pensador petista afirmou o seguinte: “Eu disse, e alguns me criticaram por dizer, que até por justiça, eu mereço voltar ao Congresso Nacional. Eu fui cassado por ter sido chefe do mensalão. O Roberto Jefferson foi cassado porque não provou o que era o mensalão. E o Supremo me absolveu de formação de quadrilha. Então basta ver quem é o Roberto Jefferson hoje e quem sou eu. A primeira grande fake news no Brasil foi o mensalão. Não o caixa-dois na campanha eleitoral, mas a história de que existiu o mensalão e que eu era o responsável.”

REVISIONISMO -A declaração de que o mensalão foi a primeira grande fake news no Brasil combina revisionismo e cancelamento do passado semelhante ao que se fazia na época do camarada Stálin, quando personagens que caiam em desgraça perante o ditador soviético eram completamente apagados dos registros históricos e até de fotografias.

Sejamos equânimes na distribuição de responsabilidades: José Dirceu só pode fazer essa afirmação porque o escândalo foi abolido no Brasil pelas sucessivas ordens judiciais que exterminaram a Lava Jato.

A Lava Jato tinha viés político, procuradores e juízes fraudaram os processos, a roubalheira na Petrobras foi perpetrada exclusivamente por diretores da empresa, os delatores foram torturados psicologicamente para dizer mentiras, a operação anticorrupção que colheu grandes empreiteiras é responsável pela crise econômica nacional: todo esse discurso (ou narrativa, palavra mais ao gosto hodierno) tem como base decisões emanadas dos tribunais superiores.

VIROU FAKE NEWS -Elas agora agem retroativamente para que o PT revise na memória nacional tudo o qu\e lhe é danoso. Além de o mensalão ter sido a primeira grande fake news no Brasil, martela-se que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe, assim como se tratou de golpe sequencial a prisão de Lula e a consequente impossibilidade de ele concorrer à Presidência em 2018, deixando o caminho aberto para o direitista Jair Bolsonaro.

As ordens judiciais servem como base para a versão e o aparato educacional tratará de fixá-la historicamente como verdade (já o faz nas universidades), transmitindo à posteridade que este trecho da vida nacional foi marcado pelo golpismo reacionário contra um líder popular impoluto e o seu partido de vestais.

Há, contudo, uma questão a ser resolvida: se a Justiça, em sua última instância, primeiramente condenou mensaleiros, avalizou o impeachment de Dilma Rousseff, confirmou acusações no âmbito da Lava Jato e chancelou a prisão de Lula, ela foi golpista ou ingênua? A segunda opção também não é boa. Talvez José Dirceu, que tem inteligência bem acima da média (não vai nenhuma ironia neste aposto), possa ajudar a resolver um ponto essencial para que a história seja reescrita de maneira minimamente plausível.

A importância dos blogs independentes, à luz da liberdade e da democracia

Liberdade de imprensa e liberdade de expressão: Saiba a diferença

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

José Dantas Montalvão

Em consonância com as palavras do jornalista Carlos Newton, em recente artigo sobre liberdade de expressão, subscrevo plenamente a importância da existência de blogs independentes na internet. Estes espaços virtuais, livres de amarras ideológicas ou partidárias, assumem um papel crucial na preservação da democracia e na promoção de um debate plural e diverso.

Blogs como a Tribuna da Internet, por exemplo, servem como plataformas abertas ao diálogo franco e à troca de ideias, independentemente da filiação política ou crença pessoal de cada indivíduo. Essa pluralidade de vozes é fundamental para o bom funcionamento de uma sociedade livre e democrática, onde todos os cidadãos têm o direito de se expressar e de serem ouvidos.

PRINCÍPIO BASILAR – A defesa da liberdade editorial, como bem ressaltado no texto, é um princípio basilar para a existência de blogs independentes. Essa independência garante que os conteúdos publicados sejam frutos de análises e reflexões genuínas, sem a interferência de agendas externas ou de pressões ideológicas.

Nesse sentido, a Tribuna da Internet demonstra um compromisso exemplar com a liberdade editorial. Ao se recusar a adotar uma postura editorial única e defender a multiplicidade de ideias, o blog se consolida como um espaço verdadeiramente democrático, onde o debate de ideias se desenvolve de forma autêntica e transparente.

A publicação da denúncia sobre a “Ditadura do Judiciário”, mencionada no texto, é um exemplo eloquente da importância dos blogs independentes em dar voz a temas relevantes e de interesse público.

DEBATE PÚBLICO – Ao trazer à tona essa questão crucial, a Tribuna da Internet cumpre seu papel de informar e conscientizar a sociedade, contribuindo para o debate público e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Em suma, a existência de blogs independentes como a Tribuna da Internet é fundamental para a preservação da liberdade de expressão, a promoção do debate plural e a construção de uma sociedade mais justa e democrática. É com grande entusiasmo que acompanho a atuação desse blog e de outros espaços virtuais que defendem os valores democráticos e a liberdade de pensamento.

Que a Tribuna da Internet continue trilhando esse caminho de compromisso com a verdade e com a liberdade, inspirando outros a se unirem à luta pela construção de uma sociedade cada vez mais justa e plural.

O caso das joias de Bolsonaro perde de goleada do caso da conta de luz de Lula

Nani Humor: O PERDÃO JUDICIAL DOS IRMÃOS BATISTA

Charge do Nani (Nanihumor.com)

Mario Sabino
Metrópoles

A maioria dos jornalistas continua muito entretida com as joias sauditas que Jair Bolsonaro teria tentado surrupiar no final do seu mandato. A Polícia Federal primeiramente disse que elas valeriam, no total, R$ 25 milhões. Horas depois da divulgação dessa cifra, veio uma correção: na verdade, elas valeriam R$ 6,8 milhões. A Polícia Federal, como se vê, está cada vez mais científica, e a diferença pouca fala muito da qualidade da investigação.

Em matéria de escândalo, porém, há um incomensuravelmente maior. Ele é que não deveria sair das manchetes, mas que vai ficar por isso mesmo, porque ficou combinado que o único vilão que existe na nossa pitoresca democracia é Jair Bolsonaro.

FORA DA AGENDA – O jornalista Daniel Weterman, do Estadão,  publicou que “executivos da Âmbar Energia, empresa do Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, foram recebidos 17 vezes no Ministério de Minas e Energia fora da agenda oficial antes da edição da medida provisória que beneficiou um negócio da companhia na área de energia elétrica e repassou o custo para todos os consumidores brasileiros.

O ministério e a Âmbar afirmam que não trataram da medida provisória nas conversas, mas não informam o conteúdo dos encontros”.

A derradeira reunião foi entre o presidente da Âmbar, Marcelo Zanatta, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e ocorreu apenas uma semana antes do texto da medida provisória, um presentão do governo Lula para Joesley e Wesley, sair do ministério para a Casa Civil.

PLAY VIDEO – Dez dias após desse encontro, o grupo J&F comprou a Âmbar — que, dois dias depois, seria agraciada com a assinatura da MP. A medida provisória socorreu o caixa da Amazonas Energia para ela poder pagar as termelétricas da Âmbar que são suas fornecedoras. E de quem o grupo J&F comprou a Âmbar? Da Eletrobras. O governo vendeu a empresa para os irmãos Batista e pagou pela sua compra.

Quer dizer, não foi o governo que pagou. Fomos nós. Porque o dinheiro que irá para a empresa dos irmãos Batista, após fazer pit stop no caixa da Amazonas Energia, sairá da conta de luz de todos os brasileiros durante quinze anos. Repetindo: quinze anos. Especialistas no setor calculam que o custo total para os consumidores poderá chegar a R$ 30 bilhões. Agora, vo pode voltar a ler sobre o caso das joias de Bolsonaro. O último a sair, apague a luz.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Mario Sabino tem toda razão. O escândalo das joias não é nada em comparação a essa trama sinistra da energia elétrica. Os irmãos Joesley e Wesley Batista agem como verdadeiras aves de rapina. Mas são amigos especiais de Lula e têm de ser tratados como vice-reis na gatunagem de recursos públicos. O governo (qualquer governo) está curvado diante deles – como dizia Michel Temer, tem de manter isso, viu? (C.N.)

Milei é um agente provocador e Lula caiu na armadilha do argentino

Milei rebate acusação de 'usar substâncias': 'Calúnia e difamação'

Milei faz carreira de maluco e gosta de provocar os rivais

Elio Gaspari
O Globo/Folha

Lula perdeu tempo na segunda-feira ao responder às provocações do presidente argentino, Javier Milei, mesmo sem citá-lo. Foi diplomaticamente elíptico, mas, mesmo assim, era isso que Milei queria. O presidente hermano tornou-se uma ausência relevante na reunião do Mercosul em Assunção. Sua ausência teve um peso superior a uma eventual presença. Para um presidente performático, melhor negócio não há.

As relações do Brasil com a Argentina sempre tiveram altos e baixos mas, pela primeira vez, numa das pontas está um provocador interessado em tirar proveito do tumulto. Caso típico de fanático sem causa.

PERÓN BARRADO – O Brasil já se meteu nos assuntos argentinos impedindo que o ex-presidente Juan Perón descesse em Buenos Aires, em 1964. Já a Argentina, nos anos 70, dedicou-se à tarefa impossível de barrar a construção da hidrelétrica de Itaipu. (As duas ditaduras só se entenderam quando colaboraram para sequestrar e assassinar brasileiros e argentinos.)

Lula respondeu a Milei com tintas de cientista político, condenando o que chamou de “nacionalismo arcaico”. Gastou seu latim. Guardadas as proporções, Milei precisa de um Lula, como Lula precisa de um Roberto Campos Neto.

Noves fora os aspectos pessoais da dissidência de Milei, o Mercosul tornou-se uma bola de ferro presa ao tornozelo da diplomacia brasileira. O bloco está estiolado a ponto de não conseguir consensos para os comunicados conjuntos da rotina diplomática.

ACORDO COM UE – Desde o século passado o Planalto persegue o sonho de um acordo do Mercosul com a União Europeia. O profissionalismo do Itamaraty consegue manter viva uma negociação natimorta, mas a França não quer o acordo e de nada adianta chamá-la de protecionista. (Até porque Lula condena um “nacionalismo arcaico” enquanto seu governo ergue barreiras contra os carros elétricos da China, protegendo montadoras septuagenárias.)

O Uruguai já disse que pretende assinar um acordo comercial com a China. O Brasil não gosta da ideia, mas ela parece a cada dia mais inevitável. Essa é uma questão teoricamente relevante, mas as birras de Milei em torno do Mercosul são ridículas.

 Ele bloqueia iniciativas de gênero, metas ambientais e até mesmo o funcionamento de dois centros de estudos. Nada disso tem a menor importância, pois os países continuarão funcionando (ou não) à revelia do bloco.

RESPEITOSO SILÊNCIO – Há aspectos das relações entre a Argentina e o Brasil que independem dos humores dos governantes. O pior que se pode fazer numa situação dessas é fingir não polemizar, indo-se para condenações elípticas. Se o Brasil prefere não cair nas provocações de Milei deve honrá-lo com um respeitoso silêncio. Afinal, se ele acreditava tirar dividendos de uma ida ao Balneário Camboriú para encontrar-se com Jair Bolsonaro, deu com os burros n’água.

Lula foi exaustivamente aconselhado a esquecer Milei, mas sua compulsão falou mais alto e ele acabou aceitando o desafio para ensinar que “Eu acho que quem perde é que não vem”.

Essa lógica funciona para chefes de Estado convencionais, coisa que Javier Milei não é. Sendo um provocador, ganhou não indo à reunião do Mercosul e ganhará sempre que conseguir chamar a atenção para suas excentricidades.

Novo projeto sobre dívida de estados prevê entrega de ativos

Poderá haver desconto na taxa de indexação da dívida

Pedro do Coutto

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, apresentou as linhas gerais do projeto de lei com o objetivo de viabilizar o pagamento da dívida dos estados e do Distrito Federal com a União. A proposta prevê a entrega de ativos, incluindo a participação acionária em empresas.

O PL estabelece ainda que, numa contrapartida por entregarem ativos próprios, os estados tenham um abatimento na taxa de indexação da dívida, que hoje equivale ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4%.

INVESTIMENTO – A ideia é que a União abra mão de receber esses 4% em troca de que o estado use o dinheiro para investir na educação e qualificação técnica, como prioridade, ou em infraestrutura e segurança pública, sendo vedada a utilização de recursos para despesas de custeio da máquina pública.

Por exemplo, caso algum dos estados endividados consiga abater o estoque da dívida em 20% com a entrega e federalização de ativos, ele ganharia o direito ao abatimento de metade da taxa fixa de 4% de juros. Essa parte dos juros seria então perdoada pela União, conforme já concordou o Ministério da Fazenda.

Os outros 2% da taxa fixa de juros devem ser aplicados metade em investimentos no próprio estado e a outra metade destinada a um fundo de equalização, que será criado com o objetivo de compensar também os estados não endividados, que pagaram suas dívidas em dia e agora reivindicam tratamento igualitário.

SEM SOLUÇÃO – A manobra não conduz a uma solução, além da transferência de endividamentos estaduais para o plano federal. As dívidas continuaram a existir, só que com novo devedor, ou seja, a própria União Federal. Não muda coisa alguma, a não ser a transferência dos encargos.

Está claro que os estados endividados não terão como pagar à União o que devem, assim como a União não consegue pagar as suas dívidas que se elevam a mais de R$ 600 bilhões. Daí porque os juros fixados pelo Banco Central possuem um valor extraordinário para os credores. Não podendo pagar o que deve, a União vai rolar a dívida com os juros anuais bilionários e para isso emite novos títulos do Tesouro. Daí porque a taxa de 10,5% ao ano é ótima para os que têm crédito a receber do governo federal.

ROLAGEM – Não podendo receber de uma vez, os credores (bancos) recebem os juros na base de 10,5% sobre R$ 600 bilhões. Portanto, como se verifica, observa-se uma rolagem de dívida de R$ 60 bilhões que não entram na conta do orçamento e nem do déficit zero. A dívida primária é o resultado do giro que a União se vê obrigada a fazer.

O que importa é que o cálculo de receita e despesa está sendo sempre feito ignorando a incidência dos juros na economia brasileira. Os cálculos deveriam abranger na sua totalidade um confronto em despesas e receitas, incluindo entre as despesas a incidência de 10,5% ao ano sobre o endividamento brasileiro. Não sendo assim, a manobra é fácil de ser feita.

Um poema de Tobias Barreto que exige o final da escravidão na monarquia

Sancionada lei que inscreve Tobias Barreto no Livro dos Heróis e Heroínas  da Pátria - Notícias - UFPE

Tobias Barreto, poeta abolicionista

Paulo Peres
Site Poemas & Canções

O jurista, filósofo, crítico e poeta Tobias Barreto de Meneses (1839-1889), no poema “A Escravidão”, questiona a estrutura escravagista do regime monárquico em vigência, opondo-lhe a República e a Abolição.

Na primeira estrofe do poema, procede a uma reflexão filosófica profunda acerca da Divindade dogmática como instituição mantenedora das desigualdades sociais e conivente com a exploração do homem pelo homem. Enquanto que, nos dois últimos versos do poema, encontramos um eu-lírico cético e questionador de todos os dogmas religiosos que não se furta a apontar as falhas Divinas: “Nesta hora a mocidade / Corrige o erro de Deus”.

A ESCRAVIDÃO
Tobias Barreto

Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!…

Nova operação contra “Abin paralela” é mais um duro golpe em Bolsonaro

UM POUCO MAIS DO DE SEMPRE: uma Polícia Federal fardada. – IBSP

Polícia Federal diz ter provas do envolvimento do Planalto

Eduardo Gonçalves, Paolla Serra e Patrik Camporez
O Globo

A Polícia Federal prendeu na tarde desta quinta-feira o quinto alvo da Operação Última Milha – Rogério Beraldo de Almeida. Segundo as investigações da PF, ele mantinha um perfil nas redes sociais que “propagava fake news”. As notícias falsas disseminadas por ele eram repassadas por servidores da chamada “Abin paralela”, segundo a PF.

A nova fase da operação deflagrada nesta quinta-feira mira na relação entre a suposta estrutura clandestina montada dentro da agência de inteligência e os integrantes do chamado “gabinete do ódio”. Esse grupo teria operado entre 2019 e 2022 durante o governo Bolsonaro com o objetivo de monitorar e produzir dossiês contra adversários da gestão passada, segundo a PF.

OUTROS PRESOS – Além de Beraldo, foram presos preventivamente nesta quinta-feira Giancarlo Gomes Rodrigues e Marcelo Bormevet, ex-servidores cedidos para a Abin; o influenciador Richards Dyer Pozzer; e ⁠Matheus Sposito, que foi assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) no governo passado.

Os cinco mandados de prisão preventiva e os sete de busca e apreensão foram cumpridos nas cidades de Brasília, Curitiba, Juiz de Fora (MG), Salvador e São Paulo. As ações foram autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Os alvos são suspeitos dos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.

ABIN PARALELA – Segundo a PF, o objetivo da operação é desarticular uma organização criminosa responsável por monitorar autoridades públicas de forma ilegal e produzir notícias falsas utilizando os sistemas da Abin.

O relatório que fundamentou a fase da operação Última Milha, realizada nesta quinta-feira (11) pela PF, aponta ainda que ministros do Supremo (Moraes, Toffoli, Barroso e Fux), deputados e pelo menos um ex-governador — João Doria (na época do PSDB, hoje sem partido) — e servidores do Ibama e da Receita também foram alvo dos monitoramentos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É duro acreditar nesse tipo de procedimento e operação, quando não se exibem provas e elas ficam em segredo. Sinceramente, chamar isso de Justiça é Piada do Ano. Vejam a prisão de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro. Até hoje, o advogado Sebastião Coelho não conseguiu ter acesso aos autos e as provas. O ministro Moraes parece ter incorporado o espírito de Franz Kafka e tenta criar no Brasil uma Justiça kafkiana. Vamos ver se esse caso da Abin é falso como o de Filipe Martins ou se tem mesmo sustentação jurídica. Não é possível aceitar que exista acusação e prisão sem defesa.  (C.N.)

Biden e Lula são iguais na vaidade e nem pensam em governar de verdade

Lula encontra com o presidente Joe Biden nos Estados Unidos

Plastificados, Lula e Biden têm muita coisa em comum

Carlos Newton

É muito triste e decepcionante assistir ao final de carreira de dois presidentes como Joe Biden e Lula da Silva. A ambição de continuar no poder fala tão alto que para eles nada mais interessa. Só pensam em si mesmos. No caso de Biden, chama de Putin o presidente Zelensky, da Ucrânia. Diz que é o melhor, perde a cabeça e desafia os políticos democratas a enfrentá-lo na convenção de agosto, enquanto Lula nem precisa chegar a tanto, pois ele próprio é dono do partido e faz o que bem entende.

A idade não perdoa. Na matriz USA, os homens têm expectativa de vida de 73,2 anos, enquanto na filial Brazil a média cai para 72 anos. Isso indica que Joe Biden já está fazendo muita hora extra, com prazo de validade vencido há 8 anos. No caso de Lula, a mesma coisa – chegará na eleição de 2026 também com 8 anos já vencidos de hora extra.

FORÇANDO A BARRA – São duas candidaturas que forçam a barra, porque trafegam na contramão da política internacional, onde os longevos conhecem seu lugar e nem pensam em insistir. Os mais idosos só têm vez em países ditatoriais, com Guiné Ocidental, ou em nações parlamentaristas, como Itália, Israel e Irlanda, onde apenas posam de presidentes.

Biden e Lula querem ser exceção. Ambos já fizeram plástica ou harmonização, tentam se exercitar, mas a mente e o corpo já não ajudam. O americano foi o mais velho presidente a assumir na matriz, aos 78 anos, e quer dobrar a aposta. Na filial, Lula também foi o mais velho brasileiro, aos 77 anos, e sonha em fazer o mesmo.

Getúlio Vargas tinha 68 anos quando assumiu, em 1950, e acabou mal. Ele próprio antecipou a retirada de cena. Na Argentina, Juan Perón assumiu aos 78 anos, morreu oito meses depois e deixou a mulher na presidência, inviabilizando um dos países de maior potencial nas Américas.

DE GAULLE – Houve outros longevos que tentaram fazer mais hora extra do que o habitual, mas também fracassaram. O francês Charles De Gaulle foi eleito aos 68 anos, se reelegeu aos 75 anos e renunciou dois anos depois, na idade que Lula completa agora em outubro.

Já o socialista François Mitterrand se elegeu aos 64 anos e ganhou a reeleição aos 71 anos, vejam que todos os exemplos são bem abaixo das pretensões de Biden e Lula, que pretendem se reeleger com 81 e 80 anos, respectivamente, mas no caso de Lula, completaria 81 anos antes do segundo turno.

Para animar Biden e Lula, só existe um exemplo, mas em circunstâncias diferentes. Em 1949, na Alemanha pós-guerra, o democrata-cristão Konrad Adenauer tornou-se chanceler aos 72 anos, foi reeleito em 1953, 1957 e 1961. Completamente inútil, teve de abandonar o poder aos 87 anos, no meio do último mandato. Mas não havia democracia verdadeira na Alemanha, pois em plena guerra fria o país estava dividido e os americanos mantinham Adenauer num poder simbólico, digamos assim.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Gostaria muito de ver aqui na filial uma eleição entre candidatos como Tarcísio de Freitas, Fernando Haddad e Simone Tebet. Três políticos instruídos, educados e com a idade adequada para um país das dimensões do Brasil, que exige longas viagens aéreas, em que o “jet lag” (atraso dos fusos horários) é um grande complicador. Mas quem se interessa? (C.N.)

Lula fez ‘acareação’ do Ibama com ministros que sonham com licenças ambientais

O presidente Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante a coletiva de imprensa do Dia Mundial do Meio Ambiente.

Lula não consegue esconder sua decepção com Marina

Eduardo Gayer
Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promoveu uma “acareação” da ala ambiental com a ala desenvolvimentista do governo. Em reunião realizada nesta quarta-feira, 10, no Palácio do Planalto, Lula deixou frente a frente o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e ministros que têm reclamado nos bastidores de uma suposta letargia proposital do órgão nos licenciamentos ambientais federais, inclusive para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Estiveram presentes os ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). O secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, representa a pasta nas férias do ministro Renan Filho. O secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, fecha a lista de convocados para a reunião.

DEMANDAS EXCESSIVAS – Ministros ouvidos pela Coluna do Estadão afirmam que o Ibama tem feito “demandas excessivas” e tem um processo regulatório “pouco claro”, que atrasa as entregas do governo Lula. A cúpula do Ibama, por sua vez, assegura que há normalidade no fluxo de trabalho à luz da legislação vigente. O presidente foi eleito em 2022 com a bandeira de proteção ao meio ambiente.

A maior pressão sobre o Ibama neste momento é sobre a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial. Lula é pessoalmente favorável à iniciativa, assim como Silveira e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, mas o Ibama ainda não liberou a empreitada.

Auxiliares palacianos dizem que Rodrigo Agostinho travou o processo de licenciamento, que tem ocorrido a conta gotas, por ser contrário à iniciativa do governo.

ESTRADA NA SELVA – Outra polêmica que opõe as alas desenvolvimentista e ambiental do governo é o asfaltamento da BR-319, rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM) e cruza a floresta amazônica.

A obra é defendida por parlamentares da região Norte e ventilada como uma marca desejada por Renan Filho para sua passagem pelo Ministério dos Transportes.

O Ibama está impedindo a construção e pediu documentos adicionais ao Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), vinculado à pasta, para liberar o início das obras.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Conforme assinalamos nesta quarta-feira, o Brasil precisa de petróleo, mas a ministra Marina Silva opõe os maiores obstáculos à exploração da Margem Equatorial, que é um novo Pré-Sal. Sua atuação é totalmente equivocada, pois está impedindo o desenvolvimento do país. Lula está por aqui com Marina Silva, mas reluta em demiti-la. (C.N.)

Fora do ar desde a noite de quarta-feira, a Tribuna da Internet volta a incomodar

Rafinha Bastos fora do CQC! Será? Charge

Charge do Rice (Arquivo Google)

Carlos Newton

Num dia, é o Facebook que retira do ar um artigo de Tribuna da Internet, que o amigo Loriaga Leão publicara em seu perfil; no outro dia, é a própria Tribuna que desaparece do ar, carregada por ventos tempestuosos. Bem, se o editor da Tribuna fosse pessimista, diria que a situação está difícil, não se consegue ser independente neste país, e por aí afora.

Mas minha visão é outra. Sou otimista é minha constatação é de que a independência da Tribuna da Internet está funcionando e tem efeito multiplicador, como indica o relato de José Dantas Montalvão, que há mais de dez anos republica os artigos da TI. Aliás, estávamos publicando um artigo de Montalvão justamente nesta quinta-feira, quando fomos expulsos do baile.

DERROTA OU VITÓRIA – Na verdade, não é questão de ideologia nem de derrota ou vitória de A ou B. A Tribuna está muito além da polarização. Nosso objetivo é o mesmo de toda pessoa que se interessa pelo Brasil e pelo mundo. O que pretendemos é discutir como a coisas devem nos levar adiante, superando possíveis retrocessos.

Quem não gosta de ver a Tribuna no ar é porque tem outros interesses, que estamos prejudicando com nosso proceder. Não nos importa se a solução do problema vem da extrema direita ou da ultraesquerda, nem do centro, centrinho ou centrão. O que importa é que as questões sejam resolvidas de melhor forma.

Vamos seguir a utopia da imprensa independente, sob o signo da liberdade, podem nos tirar do ar quantas vezes quiserem, pois voltaremos cada vez com maior disposição. Para nós, a liberdade de expressão é inegociável. Como dizia Zagalo, vão ter de nos aturar, com as famosas Piadas do Ano.

Democracia e moderação salvaram a França hoje, mas logo haverá um amanhã

Presidente francês, Emmanuel Macron e o novo primeiro-ministro, Gabriel Attal

Macron mantém o jovem premier Gabriel Attal até fechar a coalizão

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Macron e todos os que acreditam numa sociedade aberta e plural respiram aliviados com o mau resultado do Reunião Nacional nas eleições legislativas francesas. Foi —é preciso lembrar— o melhor resultado de sua história, mas ficou aquém da esperada maior bancada e ainda mais de uma maioria de parlamentares.

Apesar disso, não parece que o discurso nacionalista, anti-imigração e anti-integração global (ou, no caso da UE, continental) vá desaparecer. Ele segue forte e, se seus adversários não conseguirem entregar resultados e narrativas mais persuasivas, crescente. Marine Le Pen declarou que sua vitória foi “apenas postergada”. Está nas mãos de Macron e da coalizão entre esquerda e centro enterrar ou cumprir essa profecia.

COALIZÃO DEMOCRÁTICA – Macron, que depois do primeiro turno parecia o grande derrotado, emerge agora não como o vencedor triunfante, mas como um líder que ao menos conseguiu se manter. A frente partidária vencedora —a Nova Frente Popular, de esquerda— não tem maioria para indicar um primeiro-ministro sozinha. Terá que negociar com os centristas, formar coalizão, algo tão normal para nós. Assim, o próximo primeiro-ministro será alguém de esquerda, mas não um radical.

Isso, mais a realidade das regras fiscais da UE e dos movimentos do mercado, deve proteger o país do terraplanismo econômico de um Mélenchon, líder do França Insubmissa, partido mais radical da NFP. Um parlamento fragmentado, que ao menos depende dos centristas é melhor para o presidente do que um no qual direita ou esquerda pudessem governar sozinhas.

DOIS ELEMENTOS – Analisando essa vitória de esquerdistas e centristas, dois elementos saltam aos olhos. O primeiro é a importância das regras eleitorais. A eleição em dois turnos incentiva a moderação e a formação de alianças. Vimos isso no Brasil em 2022: Lula ganhou por um fio, graças à aliança com Simone Tebet e com a pequena parcela de eleitores liberais da “terceira via”.

A diferença é que a aliança na França cobrava um preço mais alto: diversos candidatos tiveram que abrir mão de suas candidaturas. E assim chegamos ao segundo elemento: uma disposição inédita, tanto de centristas quanto de esquerdistas, de colocarem suas diferenças de lado para juntos combaterem a direita nacionalista. Esse tipo de abnegação virtuosa não se vê todo dia. A estratégia deu certo.

Do outro lado do Canal da Mancha, em 4 de julho, a esquerda também teve uma vitória avassaladora. O Partido Conservador caiu de podre depois de 14 anos no poder. Nesse meio tempo, os trabalhistas expulsaram sua ala mais radical e deram uma guinada ao centro.

ERRAR E CORRIGIR – A ala do Partido Conservador que defendia o brexit teve sua chance. Depois de todas as promessas, chegou o momento de entregar a melhora na qualidade de vida, que não veio, e a população se cansou. Democracia é também a possibilidade de errar, aprender e corrigir os erros.

Regras do jogo racionais —que estimulam a moderação— e respeitadas e disposição de fazer política para construir frentes amplas deram conta do desafio de hoje. Mas ele continua posto no amanhã. E, aí, não haverá mera estratégia eleitoral que dê conta. Será preciso mostrar à sociedade que a direita nacionalista não tem respostas para os problemas que ela própria foi pioneira em apontar.

E isso passa por reconhecer esses problemas —os custos da imigração e da integração regional—, implementar soluções concretas e traçar uma narrativa que vença o pessimismo reacionário. Na falta disso, chegará uma hora em que essa direita também terá sua chance no poder. Democracia tem dessas.

Em São Paulo, Tarcísio de Freitas mostra que se tornou irredutivelmente autoritário

Tarcísio de Freitas é eleito governador de São Paulo

Tarcísio demonstra seu autoritarismo ao internar viciados à força

Hélio Schwartsman
Folha

Deu na Folha que o número de internações involuntárias de usuários de crack na capital paulista disparou no último ano. Ao que tudo indica, isso é um reflexo da política de combate às drogas adotada pelo governo de Tarcísio de Freitas.

Há poucas coisas tão complexas e difíceis quanto os transtornos mentais. Se, em condições normais, a marca do ser humano já é a diversidade, ela ganha escala logarítmica quando falamos de doenças mentais.

IMENSO DESAFIO – Aí, cada caso é um caso. O que funciona para um paciente ou mesmo para muitos pacientes não funciona para outro grupo, de modo que o sistema precisa ter abertura para lidar com múltiplas situações.

Mesmo com esse considerando, penso que é um erro abraçar uma política pública que amplie as internações involuntárias. Há muito poucas vagas para tratamento de dependentes de álcool e drogas no SUS e a procura é grande. A maior parte das pessoas que deseja uma internação não a consegue.

Os índices de sucesso desse tipo de tratamento, que já não são brilhantes quando o paciente quer submeter-se a ele, pioram significativamente quando ele é imposto contra sua vontade. Parece óbvio, portanto, que as escassas vagas devem ser destinadas àqueles que têm maiores chances de utilizá-las bem.

LEI DITATORIAL – Outra objeção é de ordem jurídica. A lei nº 10.216, que disciplina as internações involuntárias, é um escândalo. Ela permite que um indivíduo seja privado de sua liberdade, em tese sem limite de tempo, por determinação de um psiquiatra (e não de juiz) e sem direito a segunda opinião médica ou revisão judicial, o que é assegurado até a assassinos confessos.

Na forma em que está, a lei funciona não só para promover intervenções genuinamente sanitárias, mas também, e aí de forma deturpada, como ferramenta de controle policial. Não é uma coincidência que governos irredutivelmente autoritários como o de Freitas morram de amores pelas internações involuntárias.

Legalizar cassinos é solução e há como mitigar os riscos associados à atividade

Roleta | Casino Estoril

Há cassinos no mundo todo, abrindo empregos e oportunidades

Deu em O Globo

Desde 1946, quando cassinos e jogos de azar foram proibidos no Brasil, nada impediu que a jogatina se expandisse na clandestinidade — basta lembrar a popularidade do jogo do bicho. O Estado se tornou o único banqueiro autorizado com as loterias, mas o poder público deixou de exercer sua função de regulador.

Com a internet, o brasileiro passou a apostar em sites no exterior, sem ter a quem reclamar caso enganado. Só com a recente regulamentação das apostas esportivas a situação começou a mudar.

PROJETO DE LEI – Um novo passo é o Projeto de Lei que legaliza cassinos, bingos e o jogo do bicho, aprovado na Câmara e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Passados 78 anos da proibição, está claro que a melhor alternativa é legalizar o jogo. É preciso tomar cuidados para mitigar riscos como lavagem de dinheiro ou dependência dos apostadores. Mas há formas de punir responsáveis por manipulações criminosas.

E sobram exemplos no mundo para inspirar a regulação de cassinos e outras modalidades de apostas. “Os indicadores econômicos e sociais dos países melhoraram, não houve aumento da violência nem da evasão fiscal”, diz o senador Irajá (PSD-TO), relator so projeto na CCJ do Senado.

BONS EXEMPLOS – Ao legalizar o jogo, o Brasil seguirá o exemplo de países como Estados Unidos, China, Índia, Alemanha, Japão, França, Itália, Reino Unido ou Austrália. Só em solo americano há mais de mil cassinos em 40 estados, empregando 1,7 milhão e movimentando US$ 240 bilhões anuais.

Numa amostra de 200 países analisados pela revista médica britânica The Lancet, 164 permitem algum tipo de aposta. De 50 europeus, 48 convivem com jogos de azar. Nas Américas, o Brasil está em minoria: 33 de 37 países não proíbem o jogo, preferem regulá-lo e taxá-lo.

No estado americano de Nevada, onde fica Las Vegas, duas agências licenciam, regulam e fiscalizam o setor. Quem detém mais de 10% do capital das empresas de jogos passa por escrutínio rigoroso e tem de preencher 65 páginas de formulários.

OUTRAS SALVAGUARDAS – Também são avaliados produtores e distribuidores de equipamentos como caça-níqueis.  E a legislação contra lavagem de dinheiro equipara cassinos a instituições financeiras para efeito de fiscalização.

No Reino Unido, a Comissão de Jogos de Azar protege os interesses dos apostadores. No final de abril, multou uma operadora em £ 582 mil por falhar nos cuidados contra lavagem de dinheiro.

Em Macau, a Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos exige que o principal responsável por cassinos tenha residência permanente e detenha pelo menos 15% do negócio. Executivos são submetidos a testes de aptidão. A concessão vale por dez anos, mas há fiscalização e renovações a cada três.

OUTROS CUIDADOS – No Brasil, o projeto limita a quantidade de cassinos por estado e tenta integrá-los a resorts e polos turísticos. Entre os cuidados, há medidas para evitar endividamento e lavagem de dinheiro. Não será permitido apostar em espécie.

Cria-se também uma autoridade nacional, que precisa ter plenos poderes para coibir os abusos. A expectativa é uma movimentação inicial de R$ 14 bilhões anuais e, no futuro, arrecadação de R$ 20 bilhões em impostos.

Um mercado fortemente regulado com medidas inspiradas nas melhores práticas internacionais é preferível à situação atual. A proibição jamais funcionou na prática. Tomados os devidos cuidados, legalizar o jogo será melhor.

Polícia Federal descreve espécie de ‘caixa dois’ que desviava joias para Bolsonaro

Joias valiam R$ 7 mi e venda dos itens custeou Bolsonaro nos EUA, conclui  PF – Band AM

PF faz o que pode para agravar a questão das joias e relógios

Bruno Boghossian
Folha

A Polícia Federal descreve no inquérito das joias o funcionamento de uma máquina que reproduz marcas conhecidas da relação de Jair Bolsonaro com o poder. Uma delas é o uso das estruturas oficiais do governo para fins particulares. Outra é a confusão deliberada entre bens públicos e patrimônio privado.

Esses dois desvios aparecem no que poderia ser descrito como uma espécie de “caixa dois” de presentes recebidos pelo então presidente. Segundo a PF, o departamento responsável pela catalogação desses bens deixava de registrar certos itens quando Bolsonaro manifestava interesse neles.

LISTA OFICIAL – Pelas regras, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica tinha o dever de produzir uma lista de presentes entregues a Bolsonaro. Em seguida, eles poderiam ser incorporados ao acervo público ou ao acervo privado do presidente, a partir de uma análise técnica.

Mas o militar da Marinha que chefiava o órgão, dizem os investigadores, “dava tratamento aos presentes conforme os interesses do chefe do Executivo”. Numa troca de mensagens de áudio com um funcionário do setor administrativo do Palácio da Alvorada, o capitão de corveta Marcelo Vieira recomenda que alguns itens não sejam catalogados.

“Se o presidente falar: ‘Eu quero agora sem registro’, não manda para o GADH registrar, não preenche a papeleta”, disse. Vieira afirmou que esse procedimento deveria ser feito para objetos que Bolsonaro gostaria de “usar na vida cotidiana”. Nesses casos, determinou: “Você pode guardar lá, só que isso não dá entrada oficialmente”.

TER CUIDADO – A recomendação veio acompanhada de um alerta: a omissão dos bens só deveria ser feita quando a entrega dos presentes não fosse pública. “Teve registro fotográfico? Quem deu, foi uma autoridade?”, questionou. “Tem que ter todo um cuidado pra que a gente não exponha o presidente”.

A conversa de Vieira com o funcionário do Alvorada ocorreu em setembro de 2021 e tratava de um conjunto de seis facas recebidas por Bolsonaro.

A PF, porém, afirma que o modus operandi foi usado para ocultar o relógio Patek Philippe que Bolsonaro recebeu em visita ao Bahrein e seria vendido no ano seguinte.

CONTRADIÇÃO – O diálogo contradiz o depoimento de Vieira aos investigadores. Na ocasião, ele disse que a avaliação dos bens não levava em conta o valor ou o “gosto do presidente”.

Afirmou ainda que todos os presentes seriam direcionados ao acervo público ou ao acervo privado

O advogado de Marcelo Vieira afirma que o indiciamento é resultado “de uma desmedida tentativa de perseguição a outras pessoas” e que as atividades de seu cliente no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica “foram realizadas no sentido de manter total zelo e cuidado” com bens públicos.

Por se considerar “o melhor presidente do mundo”, Lula deve odiar pesquisas

Pesquisa Quaest: 36% avaliam positivamente o governo Lula; gestão é  negativa para 29% | LIVE CNN - YouTubeFabiano Lana
Estadão

Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira, dia 10, mostra que Lula conta com 36% de ótimo e bom, 30% de regular e 30% de ruim e péssimo. Embora indiquem um avanço, o presidente Lula deve estar achando péssimo o resultado, diante de suas recentes declarações em visita a Diadema (SP), este mês, na qual foi explícito no messianismo e afirmou que ele é “o povo na presidência da República”.

O que se viu no pronunciamento de Lula foi um longo autoelogio no qual argumenta que, por sua trajetória única, pode se considerar o dirigente mundial mais capaz de conduzir sua população – talvez em todos os tempos.

MELHOR MOMENTO – Para a plateia favorável, ele afirmou que vive o melhor momento de sua vida política, mesmo que não viva a fase mais popular de sua trajetória.

“Quando deixei dia 31 de dezembro o meu mandato, eu tinha 87% de bom e ótimo. Eu tinha 10% de regular e eu tinha 3% de ruim/péssimo. Nunca antes na história do país um presidente terminou tão bem. Agora o mundo político mudou. A coisa está mais polarizada”, lamentou.

Logo depois ele lembrou que no começo de seu mandato, em 2003, foi convidado para ir à cidade de Evian, na França, para a cúpula do G7, o grupo de países mais ricos do mundo. “Eu fui o primeiro presidente do Brasil e da América Latina a ser convidado a participar da reunião em Evian”, se gabou.

CHEGA BUSH – No dia do encontro, segundo o relato do presidente, todos os mandatários se levantaram para receber o então presidente americano George Bush, menos ele.

“A gente não vai levantar. Por respeito a nós mesmos. Ninguém levantou quando nós chegamos. Por que que a gente vai levantar para o Bush?”, teria dito ao então chanceler Celso Amorim. “Aconteceu uma coisa fantástica. O Bush sai da mesa de cumprimento dos outros e vai sentar exatamente na mesa que eu estava com o Celso Amorim e com o Kofi Annan (secretário geral da ONU). Qual é a lição que eu tenho disso? Ninguém respeita quem não se respeita. Se você se respeitar, todas as pessoas te respeitam”.

Mas o grande aprendizado, segundo Lula, veio mais tarde. O presidente brasileiro teve uma espécie de epifania no evento. Entre todos os chefes de Estado lá presentes, da Inglaterra, da Itália, da Arábia Saudita, da Alemanha, ninguém contava com uma vivência tão significativa como ele próprio das dificuldades da população.

DISSE LULA -“Porra, eu tô vendo esses presidentes, tudo gente famosa na televisão. Tô vendo todo mundo lá. Será que alguns caras desses já passaram fome? Será que algum cara desse já ficou desempregado? Será que um cara desse já viu a casa dele encher d’água e colocar sanguessuga na sua canela e lesma na parede? Veio cocô boiando, barata tentando se salvar e rato? Não, nenhum deles. Eu já tinha”.

Daí, após essa declaração imponente, o presidente Lula concluiu o discurso com o aforismo que pode ficar célebre como um dos grandes momentos do populismo brasileiro:

“Porque eu descobri que eu não sou eu. Eu descobri que eu sou vocês. E é vocês que estão na Presidência da República desse país. É o povo. É o povo que pela primeira vez teimou, teimou”.

O NÚMERO UM – O que Lula deixou revelar sobre si mesmo em Diadema? Que tem a completa convicção do que a população brasileira (e talvez a mundial) precisa e como lidar com isso. Que ninguém pode ser melhor que ele. Não tiveram sua vivência, não tiveram sua trajetória, não sabem como vivem os mais miseráveis de seus povos.

Em certo sentido Lula tem razão. Seu itinerário de vida do agreste pernambucano, das periferias de Santos, das lutas sindicais até a presidência da República, da prisão, e novamente presidência, é realmente admirável, talvez inigualável.

Mas Lula não é o primeiro da história mundial que prosperou politicamente chegando de muito baixo. Há até casos paradoxais que o contradizem. Em Cuba, Fidel Castro, de família próspera, derrubou um ditador mestiço de origem humilde, Fulgêncio Batista, que havia sido cortador de cana antes de se tornar sargento.

Já Franklin Roosevelt, o presidente que enfrentou e venceu não só a II Guerra, mas também a depressão americana, retirando milhões da pobreza, era um nova-iorquino de família abastada com outra passagem na Casa Branca.

OUTROS EXEMPLOS – Mesmo no Brasil já tivemos presidentes de origem humilde, como Nilo Peçanha, também mestiço (alguns o consideram o nosso primeiro presidente negro), descendente de pequenos agricultores, e mesmo Juscelino Kubitschek. Sua terra natal, Diamantina, era decadente e isolada no começo do século 20.

A presunção de Lula é achar que ninguém pode ser comparado a ele, ninguém pode superá-lo. E, mais perigoso, em seu terceiro mandato, é pensar que ninguém pode confrontá-lo, contraditá-lo, questioná-lo.

Ter vivido o que viveu não o torna infalível porque ninguém o é. Como sonha em ter de volta a quase unanimidade já obtida em 2010, e não tem nem a metade daqueles números, que a soberba não prenuncie a ruína.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Caraca! Além de ter um Supremo inerrável, que pela Súmula 606 eliminou qualquer possibilidade de recurso contra decisão errada dos ministros, mesmo que seja monocrática, agora temos também um presidente inerrável, o melhor do mundo, primus inter pares, como se dizia na Roma Antiga, que nem consegue resolver os problemas do Brasil, mas não permite ser comparado a outros governantes daqui e do exterior. Em matéria de vaidade, portanto, Lula realmente é o número um. Mas como ser humano, é apenas um ex-presidiário, condenado dez vezes por corrupção e lavagem de dinheiro, cujo desequilíbrio mental é cada vez mais evidente. (C.N. 

Moraes recebe documento que o obriga a enfim soltar ex-assessor de Bolsonaro

Moraes dá 15 dias para PGR avaliar se denuncia Bolsonaro no caso das joias  | VEJA

Moraes cometeu vários erros e manteve uma prisão ilegal

Paolla Serra
O Globo

A operadora de telefonia Tim encaminhou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a geolocalização de Filipe Martins, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mostrando que ele esteve no Paraná e em Brasília, no final de 2022. Martins tenta provar ao magistrado que não viajou a bordo do avião do governo brasileiro, burlando o sistema migratório dos Estados Unidos, nesse mesmo período.

O documento foi juntado na tarde desta quarta-feira ao inquérito em que Martins é investigado. O ex-assessor de Assuntos Internacionais foi preso preventivamente pela Polícia Federal, em 8 de fevereiro deste ano, durante a deflagração da Operação Tempus Veritatis, que apurava uma suposta organização criminosa que teria atuado para manter Bolsonaro no poder por meio de uma tentativa de golpe Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

MINUTA DO GOLPE – A trama, segundo o inquérito, teria envolvido a entrega da minuta e a preparação para realizar um golpe de Estado “com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais em ambiente politicamente sensível”.

De acordo com o relato da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Martins elaborou uma suposta minuta golpista após o resultado das eleições em 2022 que previa a prisão de Moraes e uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com informações levantadas pela PF, o ex-assessor esteve no Alvorada nos dias 18 de novembro e 16, 20 e 21 de dezembro de 2022.

No pedido de prisão encaminhado pela PF a Moraes, os investigadores apontam que Martins viajou “sem realizar o procedimento de saída com o passaporte em território nacional” para “se furtar da aplicação da lei penal”.

MARTINS NEGA – Desde que o mandado foi cumprido na casa de sua namorada, em Ponta Grossa, no Paraná, ele nega que tenha deixado o Brasil e que tenha atuado para elaborar uma minuta golpista.

O ex-assessor já enviou a Moraes faturas do cartão de crédito com despesas em aplicativos no Brasil, como Uber e iFood, além de passaporte, certidão do órgão encarregado pela segurança nas fronteiras americanas. No mês passado, ele apresentou novas certidões em que contesta um comprovante obtido pela PF junto ao site do U.S. Customsand Border Protection (CBP) — que atesta sua entrada em Orlando em 30 de dezembro de 2022.

“A Polícia Federal poderia ter requerido acesso à lista oficial e definitiva de passageiros do vôo diretamente na Presidência da República, mas preferiu ficar com um rascunho de suposta lista, um documento extra-oficial (pois encontrado apenas nos aparelhos eletrônicos do delator Mauro Cid, e não corroborado pelos órgãos pertinentes, pelos arquivos oficiais ou pelos canais próprios), meramente rascunhado, editável, o que é pior ainda, pois poderia ter sido editada pelo próprio delator – e foi com base nisso, nessa prova imprestável, que a Polícia Federal, demonstrando toda a sua diligência, requereu a prisão do peticionante, a qual foi aceita e já dura quatro meses”, afirmou a defesa do ex-assessor.

COMPROVAÇÃO – Na petição, o advogado Sebastião Coelho relatou que o documento formalmente emitido pelo órgão de proteção de fronteiras do governo americano atesta que Martins entrou no país pela última vez em setembro de 2022.

Na ocasião, ele estaria acompanhando Bolsonaro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque.

A admissão teria acontecido para a classe de visto G-2, fornecido a “representantes do governo viajando temporariamente para participar de reuniões em organizações internacionais”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, o ministro Moraes errou feio e repetidamente, em especial porque preferiu acreditar em acusação leviana da Polícia Federal, ao invés de se submeter às múltiplas provas apresentadas. Agora, Moraes vai ter de soltar Filipe Martins, depois de deixá-lo preso ilegalmente por cinco meses, o que evidencia a existência de uma ditadura do Judiciário, pois os ministros do Supremo se comportam como se estivessem acima da lei. É lamentável. (C.N.)

Controlar gastos parece difícil, porém é mais eficiente do que elevar receitas

Charge do Bruno (Arquivo Google)

Henrique Meirelles
Estadão

As próximas duas semanas serão decisivas para o Brasil, com a tramitação do primeiro projeto que regulamenta a reforma tributária. Como já disse aqui, o maior avanço é a simplificação do sistema de cobrança de impostos, que aumenta a produtividade e pode atrair mais investimentos. Mas é preciso que seja feito um bom trabalho na Câmara até o dia 18 (prazo dado para a votação) para que a alíquota básica seja a mais baixa possível e a mais justa para todos.

O tema é complexo. O texto tem 335 páginas e será muito discutido e modificado, pois seu objetivo é fixar as alíquotas que incidirão sobre todos os produtos e serviços do País. As projeções do governo indicam que a alíquota-base ficará entre 26% e 27%, uma das mais altas do mundo.

LOBISTAS EM AÇÃO – Todos os grupos econômicos vão trabalhar para que seus negócios paguem uma alíquota menor. Já há notícias de movimentações neste sentido, como tentativas de incluir carne entre os produtos da cesta básica (isentos de impostos) ou reclamações pela inclusão de jogos de azar e carros elétricos no Imposto Seletivo, com alíquota mais alta.

É natural do mercado e da democracia que isso ocorra. Mas é preciso ter em mente que, quanto mais forem os beneficiados por descontos na alíquota-base, mais todos os outros terão de pagar, pois a arrecadação tem de se manter no nível atual.

E este é o ponto mais importante: a reforma tributária sozinha não será capaz de proporcionar a arrecadação desejada por este governo ou pelos futuros. Por isso, é preciso cuidar de reduzir despesas.

CONTROLAR DESPESAS – Se quiser voltar a crescer no nível que precisa para atrair mais investimentos, gerar crescimento, emprego e renda, o Brasil precisa de um sistema tributário mais simples e racional.

Mas necessita, na mesma proporção, de um sério controle de despesas, não há dúvida.

O governo precisa avaliar a eficiência de seus gastos, revisar programas, recalcular benefícios fiscais e, assim, limitar o avanço dos gastos. Afinal, no Brasil, este avanço é praticamente inercial.

REFORMA ADMINISTRATIVA – Se o Brasil conseguiu produzir a reforma tributária depois de 30 anos de discussões e impasses, é plenamente capaz de fazer uma reforma administrativa que reduza os custos da máquina pública, ainda mais com dois projetos em andamento.

A oportunidade de agir nas duas pontas – da arrecadação e do gasto – não deve ser desperdiçada.

Controlar gastos é difícil e trabalhoso, requer definir prioridades, dizer muitos “nãos”, porém é mais eficiente do que buscar receitas extraordinárias o tempo todo para fechar as contas. Política social se faz com política fiscal responsável.

“Passando vergonha”, diz o editorial do The New York Times sobre Joe Biden

The New York Times', 'The Wall Street Journal' e 'The Economist' pedem que  Biden desista da candidatura à presidência dos EUA | Eleições nos EUA 2024  | G1

New York Times pede mais uma vez que Biden desista

Laura Braga
Metrópoles

O jornal The New York Times voltou a defender que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Partido Democrata), desista de se candidatar à reeleição. Ele tem afirmado que disputará as eleições do país contra o republicano Donald Trump, em 5 de novembro.

No editorial publicado nessa terça-feira (9/7), o jornal americano disse que o presidente dos EUA, de 81 anos, está “passando vergonha, “colocando seu legado em risco” e aponta que Biden “parece inapto” ao manter a candidatura.

FEZ PROMESSA – Biden se comprometeu a cumprir um segundo mandato inteiro se for reeleito, afirmou sua porta-voz, Karine Jean-Pierre. Um segundo mandato terminaria em 2028, quando o democrata terá 86 anos.

Desde o último dia 27 de junho – data do primeiro debate eleitoral –, aumentou a pressão para que Biden desista de concorrer ao pleito, em razão do mau desempenho dele.

Na ocasião, o presidente se mostrou confuso, hesitante e pouco reativo. Depois, admitiu não ter ido bem, mas vem insistindo que tem capacidade para seguir na disputa.

DOIS INAPTOS – The New York Times chama Biden e Trump de inaptos. O editorial destaca pontos polêmicos e que circulam nos bastidores das eleições. Diz, por exemplo, que políticos democratas “que querem derrotar Trump” devem “falar claramente” com Biden para que ele desista.

Também iguala os candidatos republicano e democrata, ao dizer que uma vitória de Trump, “um inapto a ser presidente”, colocaria em risco a democracia e que ainda há tempo de convencer os eleitores a esse respeito.

“Mas os democratas terão dificuldade (…) enquanto seu próprio representante for um homem que também parece inapto para servir como presidente pelos próximos quatro anos”, afirma.

INSISTÊNCIA – Foi o segundo editorial do NYT sobre o assunto. Em 28 de junho, um dia após o debate, o jornal já havia defendido a desistência do presidente.

Outros veículos também já se manifestaram nesse sentido: na semana passada, a revista britânica The Economist mostrou um andador na capa para dizer que o presidente não tem condição de comandar o país.

O agregador de pesquisas do site americano 538 aponta que Trump é escolhido por 42,1% dos eleitores; Biden tem 39,9%. Em uma carta enviada na segunda-feira (8/7) a deputados, Biden confrontou membros do Partido Democrata e recusou novamente o pedido para que decline da ideia de disputar à Casa Branca. Ele pediu ainda que os deputados deixem de pressionar por sua desistência.

DISSE BIDEN – “Temos 42 dias para a Convenção Democrata e 119 dias para as eleições gerais”, disse Biden na carta, distribuída por sua campanha de reeleição. “Qualquer enfraquecimento da determinação ou falta de clareza sobre a tarefa que temos pela frente só ajuda Trump e nos prejudica. É hora de nos unirmos, avançarmos como um partido unificado e derrotar Donald Trump.”

Na terça, congressistas democratas se reuniram para discutir a situação de Biden. O presidente ganhou apoio de alguns parlamentares, embora ainda não haja consenso, segundo relato da Agência France Presse.

Nesta semana, Biden participa de reunião em comemoração aos 75 anos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O evento pode oferecer uma trégua temporária — ou ser a última batalha do presidente, uma vez que qualquer deslize pode aumentar as resistências contra ele.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Com o mesmo problema de idade e de dizer bobagens em série, Joe Biden e Lula da Silva são dois velhos perdidos numa política suja, como diria o genial dramaturgo e ator Plínio Marcos. (C.N.)

No futuro, não será a História que julgará os tiranos, mas o riso das plateias

Como Stálin escondeu sua cooperação com os nazistas durante a 2ª Guerra  Mundial

Hitler e Stálin, retratados da maneira que realmente merecem

João Pereira Coutinho
Folha

É uma história que sempre me intrigou: em junho de 1934, o camarada Stálin telefonou ao escritor Boris Pasternak. O motivo do telefonema era inusitado: o que tinha Pasternak a dizer sobre o poeta Osip Mandelstam, preso um mês antes por ter recitado um poema satírico sobre o tirano?

Na versão contada anos depois por Isaiah Berlin, a única que conhecia, Pasternak foi esquivo nas respostas: alegou não ser íntimo de Mandelstam e depois tentou mudar o tema da conversa para assuntos mais metafísicos.

Stálin, antes de terminar abruptamente com o telefonema, criticou Pasternak por não defender o amigo.

NUNCA SE PERDOOU – A história correu Moscou e Pasternak nunca verdadeiramente se perdoou. Mandelstam, torturado em 1934, acabaria por morrer no exílio em 1938. Aprendo agora que essa não é a única versão. Existem, pelo menos, 13 versões, escreve Ismail Kadaré no seu derradeiro livro, “A Dictator Calls”, ou um ditador telefona.

Era inevitável que Kadaré, morto aos 88 anos, revisitasse esses três minutos de conversa entre Stálin e Pasternak. Na literatura europeia do nosso tempo, ninguém escreveu mais ou melhor sobre a relação entre o totalitarismo e a vida intelectual do que Kadaré.

Nenhuma das versões apresentadas iliba Pasternak. Em todas elas, o escritor não defende o colega. Em todas, Stálin critica Pasternak por não ser capaz de o fazer.

MAS POR QUÊ? – O interesse do livro, porém, está na busca obsessiva de porquês. Por que motivo Stálin telefonou a Pasternak? E por que motivo Pasternak falhou neste teste trágico?

Comecemos pelo autor de “Doutor Jivago”. Falhou por inveja, talvez. Como excluir esse veneno silencioso que corre livre entre a república das letras? Ou, então, falhou por medo, para não sermos tão cínicos.

Não foi apenas Mandelstam a parodiar Stálin no seu círculo de amigos —”o alpinista do Kremlin”, com “dez vermes grossos [como] seus dedos” e “enormes baratas risonhas no seu lábio superior” etc. Pasternak também o retratara em tempos como um anão em corpo de adolescente e com um rosto de velho.

TEMOR Á DENÚNCIA – Estaria Pasternak a pensar no seu próprio currículo? Ou temia que, sob tortura, Mandelstam o denunciasse como uma das testemunhas da sua ofensa poética?

Em caso afirmativo, a ambiguidade de Pasternak também pode ser vista como uma estratégia de defesa.

É legítimo especular. Mas é supérfluo também. As respostas de Pasternak —não somos íntimos, não pertencemos à mesma escola poética, falemos de outros assuntos— só revelam o terror do espírito perante a brutalidade do poder tirânico.

OUTRO EXEMPLO – O próprio Ismail Kadaré relata uma experiência semelhante: o dia em que o ditador albanês Enver Hoxha lhe telefonou inesperadamente para o congratular por um poema.

A reação de Kadaré, que era um crítico sutil do regime, foi uma mistura de pasmo e angústia, servida por sucessivos “obrigados”. Nenhum heroísmo.

Mas por que Stálin telefonou? Para testar a lealdade do escritor ao regime? Para saber até que ponto a paródia de Mandelstam se tornara conhecida entre a “intelligentsia” russa? Nesse último caso, não será a fragilidade do tirano, o seu medo do ridículo, o seu temor ante a perenidade da arte, mais patético do que as hesitações de Pasternak?

RICARDO III – Como lembra Ismail Kadaré, o rei Ricardo 3º da Inglaterra não terá sido o monstro pintado por Shakespeare, mas é como monstro que ele ficou.

E lembra mais: Lênin sempre temeu as caricaturas selvagens dos mais talentosos escritores russos, razão pela qual poupou e cortejou Maximo Górki.

Quando Stálin telefona a Pasternak, talvez estivesse interessado em saber a opinião do maior escritor do seu tempo sobre o lugar que ele, Stálin, ocuparia nas belas-letras.

PENA E ESPADA – Para usar o ditado célebre, a pena pode ser mais poderosa do que a espada. O comentário final de Stálin, criticando Pasternak pela sua falta de coragem na defesa de Mandelstam, é tão patética e descabida que apenas revela uma frustração mais profunda.

No fim das contas, é a frustração que habita o coração dos tiranos. Embriagados pelo poder, rodeados de lisonjas e mentiras, eles temem e invejam o talento dos criadores livres.

E sabem, inconscientemente que seja, que não será a história a julgá-los; serão os risos da plateia quando seus cadáveres forem expostos sem máscaras. É por isso que a obra de Boris Pasternak ou Ismail Kadaré perdurarão. A poesia de Mandelstam também. Stálin ou Enver Hoxha serão apenas piadas de mau gosto.