Silêncio do Globo sobre viagem de Lula exibe o que significa “imprensa comprada”

Lula defende viagem à Rússia e diz que críticas são “exploração política”

Lula disse que as críticas são “especulações políticas”

Leonardo Corrêa
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Foi com dureza e precisão que Estadão e a Folha de S.Paulo reagiram à visita de Lula à Rússia. Em editoriais contundentes, os dois maiores vespertinos paulistas não pouparam o presidente brasileiro pelo gesto de confraternização com Vladimir Putin, no coração de Moscou, durante as comemorações do chamado “Dia da Vitória”.

A Folha classificou a viagem como um “erro diplomático patente”, denunciando a deferência a um autocrata que promove guerra e violações massivas aos direitos humanos. Já o Estadão foi além: evocou o peso da História e carimbou a cena com palavras que não se esquecem — “o dia da infâmia da política externa brasileira”.

SEM NEUTRALIDADE – Ambos editoriais reconheceram o gesto como mais que simbólico: viram nele a falência de qualquer pretensão de neutralidade, e a submissão da diplomacia brasileira a uma lógica antiocidental.

Lula, ladeado por ditadores latino-americanos, assistiu ao desfile de mísseis que hoje esmagam cidades ucranianas. Para os jornais de São Paulo, a presença não foi um deslize; foi um manifesto, uma escolha. Um país que diz prezar pela paz não se senta à mesa com quem abraça a guerra.

No entanto, entre as grandes redações nacionais, um nome destoou. O Globo, sempre pronto a assumir o centro do debate institucional, desta vez foi tímido. Publicou um editorial antes da visita, ainda no tom das advertências diplomáticas. Condenou a reinterpretação histórica feita por Putin sobre a Segunda Guerra Mundial, mas evitou criticar diretamente o presidente brasileiro.

SEM COMENTÁRIOS – Nem a imagem de Lula na Praça Vermelha, diante de ogivas e tanques, foi suficiente para arrancar do jornal da família Marinho ao menos uma nota à altura do que se viu nos editoriais do Estadão e da Folha.

A razão talvez não esteja nas páginas de opinião, mas nas cifras da publicidade oficial. Segundo levantamento publicado pela Veja, entre 2023 e 2024 a Rede Globo recebeu R$ 177,2 milhões da Secretaria de Comunicação do governo Lula — valor que supera o total repassado à emissora durante os quatro anos de Jair Bolsonaro.

Em 2024, sozinha, a Globo ficou com 53% de toda a verba federal de publicidade destinada às principais TVs do país. Não se trata de conjectura: trata-se de números. Dados públicos que expõem um elo financeiro robusto entre o governo e a emissora que, por décadas, se autodenominou “independente”.

LUCRO ESPANTOSO – Mais do que isso: enquanto os demais grupos de mídia receberam valores menores e até decrescentes, a Globo viu seu lucro saltar 138% em 2024, chegando a impressionantes R$ 2 bilhões, conforme revelou reportagem publicada pelo portal Teletime em abril de 2025. A coincidência entre esse crescimento exponencial e o volume de repasses publicitários da Secom é eloquente demais para ser ignorada.

Diante disso, é legítimo perguntar: por que um jornal que sempre se destacou por seus editoriais vigorosos parece agora tão contido diante de um episódio tão grave? Por que a maior emissora do país, diante do constrangimento internacional causado por um presidente que se associa a ditadores e autocratas, responde com o silêncio?

A resposta pode não estar apenas na redação, mas no caixa. Quando a crítica custa caro, a complacência vira investimento. A verdade, então, não se cala: se o Estadão e a Folha ainda cumprem o papel de imprensa livre, O Globo parece cada vez mais satisfeito em atuar como assessoria de imprensa do poder. Um poder que paga bem.

VÍCIO SISTÊMICO – Mais do que omissão, o comportamento de O Globo expõe um vício sistêmico: quando o dinheiro do pagador de impostos é usado pelo governo de ocasião para financiar o discurso, a liberdade de expressão se desfaz. Não há neutralidade possível quando o Estado banca o microfone.

A crítica se torna concessão, o silêncio vira contrato, e a imprensa deixa de servir ao público para servir ao poder. O jornalismo independente não sobrevive onde a publicidade oficial compra a pauta e entorpece a vigilância. Nesse cenário, não há pluralismo — há alinhamento. Não há voz — há eco.

Enquanto isso, os mísseis dos censores não desfilam apenas em Moscou — apontam, cada vez mais, para as redes sociais.

SEM CUSTOS – Nas redes sociais, onde não há verba da Secom, não há controle por contrato. São vozes soltas, sem pauta vendida, sem blindagem estatal. E é justamente por isso que incomodam tanto.

As plataformas digitais expõem o que os editoriais calados escondem: a opinião dos indivíduos, não a conveniência dos grupos. Onde o dinheiro público não chega, a liberdade resiste. No fim, o que se cala pesa mais do que o que se diz. A imprensa existe para ser contrapeso, não escudo. Quando falha em denunciar o poder, torna-se cúmplice dele. E quando o silêncio é comprado com dinheiro público, a verdade passa a ter preço — e o cidadão, a pagar com desinformação.

Mas há ainda quem escreva sem patrocínio, quem fale sem filtro, quem resista sem medo. São essas vozes, dispersas e indomáveis, que mantêm viva a centelha da liberdade. Mesmo quando tudo parece dominado, elas lembram que o eco não é a única forma de som.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Relevante artigo, enviado por Mário Assis Causanilhas, ex-secretário de Administração do Governo RJ. Exibe a desfaçatez da imprensa comprada e destaca a importância da imprensa independente. (C.N.)

Em série! Lula sofre oito traições de sua base aliada em menos de um mês

Popularidade ladeira abaixo e língua afiada | Jornal de Brasília

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

Ranier Bragon
Folha

Em menos de um mês, o governo Lula (PT) sofreu oito reveses vindos de sua base formal de apoio, tendo como capítulos mais recentes o anúncio de rompimento pela bancada de deputados do PDT, na última terça-feira (6), e a aprovação pela Câmara, no dia seguinte, de projeto que visava suspender ação penal da trama golpista.

Repetindo um placar que não tem sido raro em Lula 3, o centrão se uniu à oposição e marcou 315 votos a 143 no caso relativo ao deputado Alexandre Ramagem (PL), deixando o PT e demais partidos da esquerda isolados.

RECADO E ABALO – Embora o recado nesse caso seja mais ao Supremo Tribunal Federal, por determinar que só eventuais crimes cometidos pelo deputado após a diplomação poderiam ser objeto da análise da Câmara, não deixa de ser mais uma derrota do governo.

Em relação à troca de titulares no ministério do modesto PDT (Previdência), o tamanho da legenda de Carlos Lupi —17 deputados e três senadores— pode dar a impressão de importância menor à possível rebelião, mas significa o primeiro abalo à esquerda em uma base que à direita tem sido profícua em instabilidade, vide o caso Ramagem.

O mais recente inferno astral da grande base volúvel de Lula —folgada no papel, mas oscilante na prática— começou no dia 14 de abril, quando a oposição bolsonarista conseguiu protocolar um requerimento de urgência para a votação do projeto de anistia aos condenados pelo 8 de janeiro de 2023.

TRAIÇÃO EM MASSA -Na lista dos 185 deputados que colocaram sua assinatura, 81 eram de União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos, siglas de centro e de direita que comandam, ao todo, 11 ministérios de Lula.

Uma semana depois, no dia 22, o líder da bancada do União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), recusou o convite para ser ministro das Comunicações dias após de ter aceito.

A ida do parlamentar para a vaga de Juscelino Filho, —denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob acusação de desviar emendas parlamentares— resultou em um motim interno no partido, rachado entre apoiadores de Lula e opositores. Integrantes do Palácio do Planalto chegaram até a ventilar a ameaça de retirar espaço do União, mas o governo não tem força para prescindir do apoio da sigla, uma das maiores da Câmara e do Senado.

PANOS QUENTES – A Secretaria de Relações Institucionais, chefiada por Gleisi Hoffmann (PT), afirmou em nota enviada após a publicação da reportagem que a relação do governo com os partidos de centro que integram a Esplanada dos Ministérios sempre foi clara e nunca foi total, e que isso reflete o posicionamento de setores dessas legendas em 2022.

A nota também diz que “é com esta base que o governo vem aprovando matérias importantes nos últimos dois anos e vê avançar a agenda legislativa prioritária, que inclui a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a PEC da Segurança e a medida sobre o Consignado do Trabalhador, por exemplo”.

Para a Secretaria de Relações Institucionais, questões internas das legendas que apoiam o Palácio do Planalto não se refletiram na relação com o governo federal, nem nas votações do Congresso Nacional.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Na matriz USA, chamam de “lame duck” (pato manco) o presidente em fim de segundo mandato que não manda mais nada e não pode se reeleger de novo. Aqui na filial Brazil, Lula é apressadinho. Ainda está no primeiro mandato, mas já ficou completamente manco. (C.N.)

Putin enfim propõe a paz e Zelenski aceita fazer a negociação na Turquia  

Charge do JCaesar

Charge do JCaesar (Veja)

Deu na Folha

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, aceitou a proposta que o russo Vladimir Putin fez neste domingo (11) deg                                         negociar a paz na guerra no Leste Europeu em conversas realizadas na Turquia. É o mais perto que os líderes já chegaram de um acordo desde quando Putin enviou milhares de tropas para a Ucrânia, em fevereiro de 2022, e desencadeou o mais grave confronto entre a Rússia e o Ocidente desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962.

“Oferecemos às autoridades de Kiev que retomem as negociações já na quinta, em Istambul”, disse Putin em um comunicado televisionado do Kremlin, na madrugada de domingo (noite de sábado no Brasil).

SEM PRÉ-CONDIÇÕES – Apesar do avanço, o presidente russo ofereceu poucas concessões até o momento, e, agora, afirma que as possíveis conversas devem ser realizadas sem pré-condições.

“Nossa proposta, como se diz, está sobre a mesa. A decisão agora cabe às autoridades ucranianas e seus curadores, que parecem estar guiados por ambições políticas pessoais, e não pelos interesses de seus povos”, disse ele mais tarde ao agradecer à China, ao Brasil, aos países africanos e do Oriente Médio e aos EUA por seus esforços de mediação.

A confirmação ocorreu após pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em um primeiro momento, o republicano celebrou a proposta. “Um dia potencialmente grandioso para a Rússia e a Ucrânia!”, escreveu em sua rede social, a Truth Social.

BANHO DE SANGUE – Em seguida, afirmou que estava começando a duvidar da Ucrânia. “O presidente russo, Putin, não quer um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia, mas sim se reunir na quinta-feira, na Turquia, para negociar um possível fim do banho de sangue”, disse ele.

Antes de aceitar, Zelenski afirmou pela rede social X que o aceno era um sinal de que os russos começaram a considerar o fim do conflito, mas que, para isso, era preciso garantir “o primeiro passo para realmente acabar com qualquer guerra” —uma trégua. “Esperamos que a Rússia confirme um cessar-fogo total, duradouro e confiável a partir de amanhã, 12 de maio”, disse ele.

Ao confirmar sua presença, reforçou o pedido. “Não faz sentido prolongar os assassinatos. Estarei esperando por Putin na Turquia na quinta. Pessoalmente, espero que desta vez os russos não procurem desculpas”, escreveu no X.

APOIO EUROPEU – A demanda é encampada por representantes de grandes potências europeias, que exigiram um cessar-fogo incondicional de 30 dias sob o risco de novas sanções à Rússia durante um encontro com Zelenski em Kiev, neste sábado (10). O grupo inclui o presidente da França, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros da Alemanha, Friedrich Merz, da Polônia, Donald Tusk, e do Reino Unido, Keir Starmer.

Ao comentar a questão neste domingo, após retornar da Ucrânia, Macron afirmou que a proposta de Putin “é um primeiro passo, mas não é suficiente”. “Um cessar-fogo incondicional não é precedido por negociações, por definição”, afirmou a jornalistas.

Em seu discurso da manhã no Kremlin, Putin rejeitou o que chamou de ultimatos vindos de potências europeias. Segundo ele, a Rússia já havia proposto diversas tréguas, incluindo uma na Páscoa e, mais recentemente, uma de 72 horas para as celebrações dos 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial.

QUEBRA DA TRÉGUA – A desconfiança entre as duas partes paira mesmo durante esses acordos. Neste domingo, Putin afirmou que a Ucrânia atacou a Rússia com 524 drones aéreos, 45 drones marítimos e vários mísseis ocidentais durante a última trégua concluída no sábado, determinada unilateralmente por Moscou.

Segundo a agência de notícias estatal Tass, o Ministério da Defesa russo afirmou, também neste domingo, que a Ucrânia teria violado a trégua de três dias mais de 14 mil vezes e as tropas de Kiev teriam feito cinco tentativas de romper a fronteira sul da Rússia.

As acusações acontecem também por parte da Ucrânia. Kiev não relatou nenhum lançamento de mísseis russos de longo alcance contra suas cidades nos últimos dias, mas acusa Moscou de centenas de violações na linha de frente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É difícil entender os líderes políticos dos nossos dias. Enquanto Putin falava em paz, a Rússia lançou neste domingo um ataque com drones contra Kiev e outras regiões da Ucrânia. Realmente, não dá para entender... (C.N.)

Faz sentido Lula dar aumento real aos aposentados para ganhar votos?

Herança maldida da Uenf faz professor atravessar o samba ofendendo jornalista Folha1 - Esdras

Charge do Newton Silva (Arquivo Google)

Fernando Canzian
Folha

Luiz Inácio Lula da Silva teve alguns milhões de votos em 2022 de pessoas com repugnância merecida a Jair Bolsonaro. Foi por pouco: 50,9% a 49,1%. O que o presidente entregou a essas pessoas que não gostam dele e que votaram nele na margem, talvez a contragosto, para evitar o pior?

O mundo e o Brasil não passam por uma pandemia ou crise financeira severa. Mesmo assim, Lula aumentará em mais de dez pontos percentuais a dívida pública brasileira em quatro anos.

GASTANDO DEMAIS – Como? Gastando mais do que arrecada em impostos. Era isso o que os eleitores que deram a vitória a Lula queriam?

Há um preço nisso, pois investidores cobram mais de quem deve muito. E o mundo inteiro está mais endividado, o que fará os juros ficarem permanentemente mais caros por aqui.

O PT parece ser eficiente apenas na abundância, como nos anos 2000, no boom das commodities e do crescimento sem precedente da economia global naquela época. Mas tem uma dificuldade enorme em administrar e enxugar quando necessário.

AUMENTO REAL – A maior despesa pública atual está relacionada à Previdência, em que o indexador de reajuste é o salário mínimo. Lula quer dar aumento real aos aposentados. Acima da inflação a quem não trabalha mais.

Faz sentido? Do ponto de vista populista, sim. Quem não quer aumento sem fazer nada?

Eleitores ilustres e esclarecidos de Lula, cirurgicamente contra Bolsonaro, se opõem a isso e têm sido massacrados por defender menos gastos na Previdência.

ALTOS JUROS REAIS – O fato é que o Brasil de hoje paga o terceiro maior juro real do mundo, por conta de medidas populistas de Lula, como essa do aumento real para aposentados.

Quem é minimamente rico ou tem algum dinheiro no banco agradece.

Ganho de quase 10% ao ano sem fazer nada — à custa de muitos aposentados. É assim que Lula quer distribuir renda?

Perdido, só resta a Lula sua velha estratégia de culpar os governos anteriores

Nenhuma descrição de foto disponível.

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Fabiano Lana
Estadão

Até que ponto funciona colocar a responsabilidade no antecessor por todo mal que há num país? A estratégia é bastante utilizada pelo Partidos dos Trabalhadores, mas é uma espécie de artimanha universal da política. O culpado é sempre o outro, o anterior, em geral, pertencente a uma turma incompetente e mal-intencionada. O grupo ora no poder apenas se esforça para remendar a situação herdada.

Mais incrível é que isso é também dito quando crimes e barbaridades continuam a acontecer sob os olhares dos mandatários atuais e em dimensão crescente. É possível que tal estratégia, com todo o cinismo envolvido, dê certo outra vez nesse escândalo do INSS? Não, porque o país é outro.

GUERRA DE VERSÕES – Se a gente fizer uma metáfora da guerra de versões que há no mundo político sobre o escândalo do furto de parte da aposentadoria de milhões de idosos, poderíamos dizer o seguinte: Bolsonaro destrancou o galinheiro, mas os ovos foram roubados para valer no governo Lula, sob a gestão do ministro Carlos Lupi.

Assim tem sido o nível do debate político em que há até reunião ministerial – com direito a troca de acusações internas – para debater a reação a um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), cuidadosamente editado para tornar mais superlativas as falhas da gestão Lula e buscar zerar a responsabilidade de Bolsonaro, ao contrário.

Vídeo, aliás, que é da luta política. Nikolas, aliás, de uma maneira mais ágil e tecnológica, sem igual nos oponentes, faz o que os petistas sempre fizeram com os tucanos, que se mantinham inertes. Atacar com veemência utilizando as armas mais atuais à disposição – hoje são as redes.

É de alguma maneira óbvio que a oposição tem de se aproveitar de uma ideia na qual o rombo no contribuinte seja pago pelo Tesouro, ou seja, pelo próprio contribuinte.

TUDO MUITO ÓBVIO – É bom lembrar que o PT já tomou posse no Palácio do Planalto, em 2003, cravando o rótulo de “herança maldita” no governo de Fernando Henrique Cardoso. No caso do mensalão, de 2005, o PT alegou que seria um esquema de origem tucana, do governo de Minas, e vivíamos apenas a consequência daquele mal, criado há tempos.

As pedaladas da então presidente Dilma no orçamento público também seriam um hábito do governo FHC, apenas repetido. A corrupção da Petrobras era, desde a fundação da empresa, tão visada pelos tubarões. N

essa conversa toda, cuidadosamente, omitia-se que os valores desviados ou irregulares desses escândalos cresciam de maneira exponencial nas gestões Lula e Dilma à frente do governo federal.

SEM VANTAGEM – O problema é que a esquerda não tem mais a vantagem no debate público que tinha anteriormente. Num momento de perda de poder relativa de sindicatos, dos intelectuais orgânicos, dos artistas bajuladores, cada twitter, cada postagem na defesa do governo possui uma quantidade astronômica de replays críticos, agressivos e muitas vezes apenas colocando os pingos nos is, com os fatos.

O Partido dos Trabalhadores não estava acostumado a atuar nesse ambiente acirrado. Era mais fácil quando seus representantes diziam que estavam do lado do povo, mas sob combate cerrado da mídia e das elites predatórias.

A população agora tem redes sociais para expressar – apesar de toda manipulação envolvida – e o que temos é uma sociedade dividida, com uma militância antipetista ultra-atuante a barrar certas estratégias que funcionaram no passado.

PT MAIS FRACO – Hoje, inclusive, o PT quer controlar as redes não devido aos abusos, mas porque vê que o caos cibernético torna a agremiação mais fraca. “A indignação moral sempre esconde vontade de poder”, já dizia um filósofo bigodudo do século 19 – Friedrich Nietzsche.

Portanto, ficou mais difícil sempre jogar os problemas para debaixo do tapete – ou seja, eternamente para o antecessor. Agora existe o contra-argumento até mesmo histriônico e barulhento da internet.

Tornou-se inócua a cadeia de desculpas, pois podemos, inclusive, num processo histórico, falar, sucessivamente, que a culpa foi de FHC, de Sarney, de Collor, dos militares, de Getúlio Vargas, da velha República, do império, de Tomé de Souza, o primeiro governador-geral do Brasil, e quem sabe, de Pedro Álvares Cabral, que teve a desdita de nos “descobrir” para levar a culpa de todas as nossas mazelas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo, enviado por José Carlos Werneck. A bem da verdade, devemos esclarecer que a brecha para lesar aposentados surgiu em 2003, com a lei do empréstimo consignado, criada por Lula. O resto foi consequência nos governos Dilma, Temer, Bolsonaro e novamente Lula, quando o golpe bateu todos os recordes. (C.N.)  

Gastança! Lula levou Janja e mais 220 pessoas ao Japão ao custo de R$ 4,5 milhões

Lula na chegada ao Japão no aeroporto de Haneda, em Tóquio, com representantes do Legislativo

Lula na chegada a Tóquio, com seus quatro principais convidados

André Shalders
Estadão

A comitiva oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Japão e ao Vietnã, no fim de março, incluiu ao menos 220 pessoas, além do próprio petista e da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. O grupo gastou na viagem ao menos R$ 4,54 milhões – o valor total ainda é desconhecido, mais de um mês depois do fim da viagem.

Compunham o grupo 11 representantes do Congresso e ao menos 72 pessoas de órgãos ligados à Presidência da República, como o Gabinete Pessoal da Presidência, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Secretaria de Comunicação (Secom), e a Casa Civil.

SOB SIGILO – Procurada, a Secom se negou a fornecer informações sobre o número de viajantes e os gastos totais. Segundo o órgão, a lista da comitiva foi publicada no Diário Oficial. Já as listas de integrantes das comitivas técnicas e de apoio são “classificadas no grau de sigilo reservado”, podem ser omitidas por até cinco anos.

“Vale lembrar que conforme determina o Decreto nº. 940/93, as despesas de hospedagem das autoridades integrantes das comitivas oficiais do presidente, do vice-presidente da República, do titular daquele ministério e dos servidores integrantes de equipe de apoio em viagem ao exterior são custeadas pela dotação orçamentária do Itamaraty”, disse a Secom, em nota.

Mais de um mês após a viagem, as informações sobre os passageiros ainda não estão disponíveis no Painel de Viagensnem no Portal da Transparência, apesar de o pagamento das diárias e passagens dos servidores ser regulamentado por um decreto de 1985, que dá prazo máximo de 30 dias para a prestação de contas dos servidores.

SUPERCOMITIVA – Foi a maior comitiva presidencial identificada no terceiro mandato de Lula. Em setembro passado, o petista levou pouco mais de 100 pessoas, entre assessores e autoridades, para acompanhá-lo na 79.ª reunião da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York (EUA).

Na quarta-feira, 7, Lula viajou a Moscou, na Rússia, onde permaneceu até este sábado, 10, seguindo para Pequim. É a 29.ª viagem internacional do petista em seu terceiro mandato presidencial.

A lista de autoridades que acompanham Lula inclui o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o deputado Elmar Nascimento (União-BA), vice-presidente da Câmara, e os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Mauro Vieira (Relações Exteriores).

JANJA VAI NA FRENTE – Assim como fez na viagem ao Japão, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, viajou antes do presidente, num voo da Força Aérea Brasileira (FAB), que partiu de Brasília na última sexta, 2. A FAB mandou sua maior aeronave, um Airbus A 330-200, com capacidade para 250 pessoas.

Janja gastou cerca de R$ 60 mil com os voos de Tóquio a Paris, onde discursou em um evento sobre nutrição; e de Paris a Brasília, via São Paulo. No Painel de Viagens, o custo total dos deslocamentos dela soma R$ R$ 60.210,58. Ao voar de volta de Paris para São Paulo, Janja ficou no assento 1L, na classe “Premium Business”.

De acordo com as regras atuais sobre concessão de passagens, só ministros de Estado e detentores de certos cargos podem voar em classe executiva, e mesmo assim em viagens com mais de 7 horas de duração. Janja não detém cargo formal no governo.

MAIS GASTOS – Segundo as notas bancárias publicadas no Siafi, o sistema de pagamentos do governo federal, 112 pessoas integraram o escalão avançado da viagem ao Japão e ao Vietnã.

A maior parte dos integrantes deste grupo é formada por militares, pessoal do GSI e do Itamaraty, mas há exceções: viajaram com o Escav o fotógrafo de Lula, Ricardo Stuckert; parte da equipe do “gabinete informal” de Janja; e a médica infectologista Ana Helena Germoglio, que trabalha na Presidência e atende o presidente da República no dia-a-dia; entre outros.

Além das diárias pagas aos servidores e do custo das passagens aéreas, as viagens presidenciais incluem outros custos. Na missão ao Japão, houve gastos de R$ 77.903,80 para pernoites no hotel Crowne Plaza, em Anchorage, no Alasca (EUA). O local foi escolhido para a escala dos voos da FAB que levaram o grupo ao Japão.

CARROS ALUGADOS – O governo também desembolsou R$ 397,8 mil para alugar “veículos com motorista para uso da comitiva de apoio ao pouso técnico da aeronave do presidente da República” em Anchorage. A quantia foi paga à empresa BAC Transportation LLC.

Dentre os órgãos públicos, o que mais mandou representantes na viagem ao Japão foi o Ministério das Relações Exteriores (MRE), com pelo menos 32 pessoas.

O Gabinete Pessoal da Presidência levou ao menos 27 nomes, e o GSI, outros 18. Na Secom, foram pelo menos 16 pessoas. Já a Casa Civil levou ao menos 10 pessoas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
País rico é assim mesmo, gosta de esbanjar e garantir o bem-estar dos servidores. O presidente Lula diz ser um “socialista refinado”. Assim, sua mulher e os servidores que os cercam também querem se refinar ao máximo, e o governo acabou virando uma sofisticada refinaria. (C.N.)

A pedido da Procuradoria, Moraes enfim determina prisão domiciliar para Roberto Jefferson

Hospital em que Jefferson está internado diz que político já pode ter alta

Roberto Jefferson deve continuar seu tratamento em casa

Maria Clara Matos
da CNN

A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou, nesta sexta-feira (9), favorável ao regime de prisão domiciliar a Roberto Jefferson, e no dia seguinte o ministro Alexandre de Moraes concedeu o benefício. Ele deverá ficar na cidade de Comendador Levy Gasparian (RJ), onde tem residência.

Moraes determinou o uso de tornozeleira eletrônica e a apreensão do passaporte. O ex-congressista está proibido de deixar o país, usar as redes sociais, dar entrevistas a qualquer veículo de mídia e receber visitas além de advogados, familiares e pessoas previamente autorizadas pela corte.

SAÚDE PRECÁRIA – A PGR entendeu que a mudança se fazia necessária por motivos de saúde do ex-deputado federal, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de 9 anos de prisão por atentado ao exercício dos Poderes, incitação ao crime e homofobia.

No parecer, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, citou relatórios médicos enviados pelo Hospital Samaritano Botafogo, onde Jefferson está internado desde junho de 2023.

O laudo médico descreve um quadro clínico de crises convulsivas, desnutrição calórico-proteica, possível foco de infecção em cavidade oral e síndrome depressiva grave.

CÂNCER E DIABETES – Além disso, os documentos apontam um histórico de uma série de tipos de câncer: no pâncreas, tireoide e cólon; além de diabetes.

“A prisão preventiva é medida cautelar pessoal extrema, que será determinada apenas quando, no caso concreto, não for cabível a imposição de medidas alternativas”, argumentou Gonet.

“Diante da documentação mais recente, é imperioso reconhecer a inviabilidade de realização do tratamento no âmbito do sistema carcerário”, continuou. “Portanto, revela-se necessária, adequada e proporcional a substituição da prisão preventiva pelo recolhimento domiciliar.”

DEPENDE DE MORAES – Em abril, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) já havia convertido a prisão preventiva do ex-deputado em regime domiciliar, no processo relativo à ocasião em que Jefferson atacou policiais federais com granadas e tiros ao resistir à prisão, em 2022.

Devido ao processo no STF, porém, ele seguia em regime fechado.

Agora, com a manifestação da PGR, cabe ao Supremo, por meio do ministro relator, Alexandre de Moraes, definir como Jefferson vai cumprir a pena imposta pelo Supremo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Não tinha sentido manter a prisão de Jefferson, cheio de comorbidades e que já saiu do mapa da política. Ele tem uma aposentadoria ótima, da Câmara Federal, e pode suprir todas as despesas de tratamento, com sua mulher comandando as necessárias cuidadoras. Jefferson está acabado e não pode mais fazer mal a ninguém, Mesmo assim, Moraes o submete à tornozeleira e toma o passaporte. O ministro confunde justiça com perversidade. (C.N.)

Importantes dicas para conseguir suportar a politização da vida na democracia

O que é a democracia, em teoria, e no que ela se baseia?

É preciso a aprender a viver e a conviver no regime democrático

Vinicius Mota
Folha

A democracia deveria ser chata. O tédio indica que as coisas funcionam bem, políticos e partidos circulam pelas posições de poder quase aleatoriamente e sem solavancos, juízes de que não se sabe o nome fazem o seu trabalho com tranquilidade, e os demais serviços públicos acontecem como o dia sucede a noite. As pessoas tocam a vida sem se ocupar muito do que ocorre nos palácios e nas assembleias.

Há mais de dez anos esse padrão se alterou num punhado de países democráticos. Simulacros de batalhas de vida ou morte impregnaram o cotidiano. Tornou-se hábito denunciar as agendas ideológicas de cientistas, artistas, professores, magistrados, empresários, sacerdotes, esportistas, diplomatas, jornalistas e inseri-las no grande jogo da política.

BAGUNÇAR O CORETO – Ganhar eleição virou credencial para bagunçar o coreto institucional e sabotar contratos sociais profundos e longevos.

Como a autoajuda ainda não saiu de moda, arrisco algumas sugestões para atravessar esse período tempestuoso minimizando, quem sabe, as avarias no casco mental.

Brasília é Brasil. Não caia no conto do vigário de que a política se transformou num clube fechado de privilegiados imorais dedicados a esfolar os bons cidadãos na planície. Se você for eleito presidente e seus amigos virarem deputados, senadores e ministros do Supremo, a situação não melhora.

SITUAÇÃO E OPOSIÇÃO – O radical é o conservador de amanhã. A história universal dos agitadores mostra que o espírito da abertura à novidade é espancado tão logo o demagogo molda o governo à sua feição e se cerca de bajuladores. Na oposição a gente faz bravata, disse um sábio político brasileiro. Acredite nele.

Político não é salvador nem exterminador da pátria. A paixonite por um candidato deveria ser encarada e tratada como síndrome aditiva. O ódio mortal também. Em regimes democráticos o pior canalha acerta aqui e ali, e o melhor estadista de vez em quando apronta uma cabeluda. Venere e execre entidades sobrenaturais, não seres humanos.

Política nacional nem sempre salva a lavoura. É mais importante preocupar-se com a instrução que as crianças recebem num raio de 5 km de você do que esgoelar-se pela anistia em Brasília. Governos e burocracias locais fazem diferença em temas cruciais.

SEM CELEBRIDADES – Politizar e moralizar tudo é artimanha de preguiçosos e néscios. A despeito das opiniões políticas de García Márquez, Vargas Llosa, Nana Caymmi e Aldir Blanc, um universo estético e artístico com códigos próprios envolve as suas obras.

Navegar por ele e nele desenvolver afinidades e críticas faz bem à alma, propicia elevação e gozo. O crápula pode ser sublime, e a vestal, cantar como uma gralha. O que uma celebridade afirmou sobre eleições e candidatos não tem valor especial. Ignore.

Há menos conspirações do que imagina nossa vã ideologia. Maquinações de vilões para destruir o planeta só abundam nos filmes da Marvel. Empresas farmacêuticas não planejam controlar nossos corpos ou evitar que a natureza sozinha nos cure e nos fortaleça. Falta de vacina e de antibiótico pode matar mesmo, e a melhor opção não estará nos florais de Bach, no leite cru, na cloroquina nem na homeopatia.

INFORME-SE, SEMPRE – Valorize o saber, não os sabichões. Procure ser menos conclusivo e mais especulativo ao abordar um campo de conhecimento que mal arranha. Amplie suas informações, aprenda sobretudo a fazer as boas perguntas e a tomar distância de quem posa de profeta para anunciar novidades radicais.

Política é teatro cívico. Os papéis se invertem, inimigos viscerais se tornam aliados, as derrotas e as vitórias nunca são totais nem irreversíveis. Faça como um político, não odeie a ponto de não negociar; não ame a ponto de não contrariar.

Converse com quem você acha que detesta. Teclar é fácil, quero ver dizer barbaridades de uma pessoa na frente dela, num papo individual. Provavelmente vocês descobrirão que estão mal informados sobre as convicções de cada um, que há preocupações e defeitos comuns e que não vale a pena gastar tanta energia com política. Ouça, repense, proponha.

Na farra do INSS, falta bloquear bens e passaportes e fazer logo as prisões 

Onyx nega relação com doador investigado no INSS: “PF tendenciosa” |  Metrópoles

Até agora, poucos bens dos fraudadores foram apreendidos

Fabio Serapião e Letícia Pille
Metrópoles

A Controladoria-Geral da União (CGU) enviou um ofício para a Advocacia-Geral da União (AGU) solicitando a inclusão do ex-diretor de Benefícios do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), André Fidélis, seu filho, Eric Douglas, além de outras sete empresas na ação do órgão que tenta bloquear os bens de envolvidos no esquema de descontos fraudulentos.

A ação cautelar foi anunciada pela AGU numa coletiva de imprensa convocada pelo governo federal para atualizar o caso da “farra do INSS”.

BLOQUEAR BENS – O objetivo da ação é alcançar os bens dos investigados na Operação Sem Desconto para custear a devolução dos descontos indevidos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas do INSS, um problema que tem gerado pressão no governo.

Além de André e Eric Fidélis, também estão incluídos na lista de aditamento da ação empresas ligadas a supostos operadores do esquema, como Antonio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, e a advogada Cecília Rodrigues Mota.

O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação de 29 entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto elas respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.

INQUÉRITO DA PF – As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da CGU. Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23/4 e que culminou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

Veja as empresas incluídas no pedido da CGU: Eric Fidelis Advocacia; Rodrigues e Lima Advogados Associados; Xavier Fonseca Consultoria; ACCA Consultoria Empresarial; Arpar Administração, Participação e Empreendimento; WM System Informática e BF01 Participações Societárias

A empresa que estaria ligada a Cecília é a Rodrigues e Lima Advogados Associados. Segundo relatório da PF, a empresa teria enviado R$ 630 mil à Xavier Fonseca Consultoria – outra empresa que consta na lista de aditamento.

IRMÃ DO PROCURADOR – A Xavier Fonseca é a empresa da irmã de Virgílio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador afastado do órgão depois da operação da PF e que, como mostrou a coluna, teria recebido R$ 11,9 milhões de alvos da Sem Desconto.

Outra é a Eric Fidelis Sociedade Individual, empresa do filho de André Fidelis que teria sido usada, segundo a Polícia Federal (PF), para receber pagamentos relacionados ao esquema.

André, ex-diretor do INSS, foi demitido do cargo em julho de 2024, depois da divulgação de reportagens sobre o caso divulgadas pelo Metrópoles.

MAIOR ENVOLVIDA – Já a BF01 teria ligação com o ex-procurador e sua esposa, Thaisa Hoffmann. Segundo a PF, a BF01 é a ” é a maior destinatária de valores da Curitiba Consultoria, tendo recebido R$ 1.175.831,30 por meio de 5 pix”.

A Curitiba Consultoria, por sua vez, tem como um dos sócios Thaisa Hoffman. E as demais (ACCA, Arpar e WM System) têm ligação com o “careca do INSS”, o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes.

No documento enviado à Advocacia-Geral, a CGU afirma que, “o avanço das análises nesta CGU levou à identificação de outras empresas intermediárias de pagamento de vantagens indevidas que não foram referidas no ofício acima, mas sobre as quais pesam igualmente fortes elementos de envolvimento no ilícitos”.

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NOTA DE REDAÇÃO DO BLOG –
Bem, já se sabe quase tudo sobre a farra do INSS. Está faltando o bloqueio dos bens, das contas bancárias e dos passaportes de todos os envolvidos, assim como as prisões preventivas, que só têm funcionado velozmente com os perseguidos pelo ministro Alexandre de Moraes, que tem essa qualidade, é rápido no gatilho, embora nem sempre atinja o alvo certo. (C.N.)

Supremo erra feio e mantém ação contra Ramagem, só excluindo dois crimes

Um juiz está sentado em uma mesa, usando uma toga preta e uma gravata. Ele tem cabelo grisalho e está olhando para a frente, com uma expressão séria. À sua frente, há um computador com o logotipo do STF. Ao fundo, outras pessoas podem ser vistas, mas não estão claramente focadas.

Desta vez, até o ministr0 Fux conseguiu votar errado

Gabriela Boechat
da CNN

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu neste sábado (10) suspender parte da ação penal contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) por envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado.

Por unanimidade, os cinco ministros entenderam que os crimes cometidos após a diplomação de Ramagem como deputado podem ser suspensos.

8 DE JANEIRO – Ramagem é acusado de cinco crimes, mas apenas dois deles teriam ocorrido após a sua diplomação, na invasão do 8 de Janeiro: dano qualificado com violência ou grave ameaça contra patrimônio da União, causando grande prejuízo, e deterioração de patrimônio tombado.

Com a decisão, Ramagem agora responde somente pelos crimes de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

A suspensão dos crimes se deu após pedido da Câmara dos Deputados. Por 315 votos a 143, os parlamentares aprovaram na quarta-feira (7) um projeto de resolução apresentado pelo deputado Alfredo Gaspar (União-AL), relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que suspende integralmente a ação penal contra Ramagem. Somente parte Da decisão, porém, foi acatada pelos ministros.

OUTROS RÉUS – A proposta também abria brecha de interpretação para abranger toda a investigação, incluindo outros réus do caso, o que foi barrado pelo Supremo.

O pedido foi apresentado pelo PL com base no artigo 53 da Constituição, que estabelece que, se houver denúncia por crime cometido após a diplomação, o STF deve comunicar o Congresso, que pode decidir, por iniciativa de partido político, sustar o processo.

Em março, o STF aceitou a denúncia contra Ramagem no contexto da investigação sobre o suposto “núcleo crucial” de uma trama golpista, que também envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministros e militares.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O Supremo – no caso, a Primeira Turma – mais uma vez conseguiu errar por unanimidade. Só conseguiu agiu certo, na forma da lei, ao excluir Alexandre Ramagem dos crimes do 8 de Janeiro, pois ele não esteve na Praça dos Três Poderes nem participou da organização da marcha no acampamento diante do Forte Apache. No entanto, o STF errou feio, ao manter as acusações pelos crimes de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Organização armada é de um ridículo atroz, pois foi uma preparação de golpe desarmado, nenhuma arma é citada na acusação. Quanto à abolição do Estado de Direito e ao golpe de Estado, são dois crimes exclusivistas, quem praticou um não pode ser punido pelo outro. Além dessa teratologia jurídica, Ramagem deixou o governo em março de 2022. Para condená-lo, a acusação precisaria ser precisa e indicar os dias em que esteve reunido com os líderes Jair Bolsonaro e Braga Netto. Porém, não existem essas provas. E ainda chamam isso de Justiça. Minha ironia não chega a tanto. (C.N.)

Michelangelo escreveu numa carta ao pai: “São tempos duros para a arte”

A imagem ilustra com pinceladas rápidas e soltas uma pintura de Pontorno. Na pintura estão presentes o Cupido, um garoto de aproximadamente 5 anos, e uma mulher representando Vênus.

A perna do Cupido tentava esconder a púbis de Eros

Mario Sergio Conti
Folha

O avanço tecnológico aposentou, ou virou do avesso, vários meios de comunicação. Os livros e a imprensa, o registro de sons e imagens, o telefone e o correio não são mais os mesmos, e as formas de expressão artística associadas a eles caducaram junto.

Hoje, não seria verossímil pôr Donald Trump num romance histórico, como Napoleão em “Guerra e Paz”. Ou narrar ações e fatos por meio de cartas, o método de Choderlos de Laclos em “Ligações Perigosas”. Ou conceber um detetive plausível como o Sherlock Holmes de Conan Doyle.

 SALTO MORTAL TRIPLO – Pois Laurent Binet arriscou o salto mortal triplo, e sem rede, em “Perspective(s)”, um romance histórico (passa-se no século 16), epistolar (20 pessoas trocam missivas) e policial (investiga-se o assassinato de um pintor). O resultado é surpreendente: Binet não se esborracha no chão.

O escritor francês de 52 anos não é um neófito em embaralhar gêneros. “Quem Matou Roland Barthes?”, publicado há dez anos, é um romance satírico, histórico e de espionagem. O objeto de deboche são os vigários da “French Theory”: estruturalistas, desconstrucionistas, os pós- isso, os pré-aquilo, Althusser, Deleuze, Derrida e companhia.

“Civilizações”, de 2019, é um romance histórico (ou anti-histórico?) e utópico (ou distópico?). Em vez de os europeus invadirem a América e dizimarem os incas com cavalos, aço e vírus, são os incas que invadem a Europa e semeiam justiça social, igualdade, tolerância.

LEMBRA HUMBERTO ECO – “Perspective(s)” lembra “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco. O primeiro se passa no Renascimento e o segundo na Idade Média; um no âmbito da alta arte e o outro no do baixo catolicismo; as gentes do italiano são fictícias, as do francês, quase todas reais: Catarina de Medici, rainha da França; Cellini, escultor; Paulo 4º, papa; Jacopo Pontormo, pintor assassinado com marretadas na testa no último dia de 1596.

Ele legou três pinturas extraordinárias. A primeira copia um desenho de Michelangelo, “Vênus e Cupido”. Como o quadro é enorme (1,3 metro por 2 metros), e a púbis da deusa se impõe gloriosamente ao observador, a Inquisição rapidamente a cobriu com sombras. Só em 2002 a tinta foi raspada e o amor erótico voltou a vencer o espiritual.

A segunda tela é “Deposição”, que inaugura o maneirismo —o “à maneira de” um artista, geralmente exagerada. A subjetividade leva a objetividade de roldão, fazendo com que o quadro prescinda daquilo que está no título do romance: a perspectiva. Sem o efeito tridimensional criado por Brunelleschi, a realidade derrete, as figuras dançam soltas no ar.

NO FIM DA VIDA – Por fim, nos últimos anos de vida Pontormo trancou-se na igreja de San Lorenzo, em Florença, para pintar os afrescos que coroariam sua obra. Fechou janelas, blindou corredores, não deixou ninguém entrar. Mas ninguém sabe o que fez porque os afrescos foram destruídos.

Giorgio Vasari, que os viu não se sabe como, conta que as pinturas murais terminavam com Cristo no Juízo Final e, a seus pés, Deus criava Adão. O grande historiador da arte ficou assaz impressionado, mas registrou que, pictórica e teologicamente, a imagem não tinha pé nem cabeça: o Pai, o criador, deveria ficar acima do Filho, a criatura.

As três pinturas apontam para a erosão da história e de seu resto, arte. A Vênus obscena é uma paulada nos Medici porque tem o rosto de Maria, a primogênita de Cosimo, o patriarca. “Deposição” não é tangível, delira. Nas paredes de San Lorenzo, tudo é sempre agora, de novo: o tempo termina em Adão, que, como a humanidade, não aprende, não muda, não melhora.

ALTA TONELAGEM – Binet toca de leve o teclado ao tratar desses temas de alta tonelagem. Ao contrário de Eco, tem humor, não deixa que o detalhismo factual atravanque a fantasia, foge do que Millôr chamava de “eça falça cultura”. Sabe todos os podres da Renascença, tão valorizada: Cellini era vil; a sodomia comercial comia solta no clero; os Medicis não eram mecenas de fino trato, mas argentários vulgares.

Em que pese a graça, “Perspective(s)” é um romance emparedado: seus 20 missivistas expõem os cacos de um tempo sem sentido. No prefácio, alguém indeterminado, “B”, conta que comprou as cartas, velhas e amareladas, numa loja de antiguidades, e levou três anos para traduzi-las para o francês.

“B” situa o século em que se passa o livro: o 16. Alude aos dias que correm: os de “hoje”. Mas, na versão em inglês, o “hoje” vira “século 19”. Afinal, que tempos são esses? A epígrafe repete o que Michelangelo escreveu numa carta ao pai: “São tempos duros para a arte”.

Redes sociais estão formando quadrilhas de criminosos jovens e pervertidos

RJ: Adolescente é suspeito de incendiar morador de rua - 21/02/2025 -  Cotidiano - Folha

No Rio, jovem é filmado incendiando um morador de rua

Muniz Sodré
Folha

Em intervenção exemplar, a polícia carioca antecipou-se a um crime, prendendo três jovens maiores de idade que planejavam matar um morador de rua no domingo de Páscoa. A execução seria transmitida online a um público pagante, expectadores habituais de suas exibições de maus tratos a animais e pregações contra mulheres, negros e homossexuais. Apurou-se que é largo o espectro de adolescentes atraídos por essa iniciação à barbárie.

É coisa antiga a atração pública pelo crime. Richard Speck, conhecido como “o monstro de Chicago” por ter assassinado em uma noite de verão (1966) oito enfermeiras, recebia, na prisão, cartas de amor anônimas, algumas com dinheiro, outras com sua foto marcada de batom.

BUNDA E SANGUE – As paixões inflamadas por anomalias alimentam o espetáculo do crime. Isso que Jean-Paul Sartre atribuía, na França, à “imprensa de direita da bunda e do sangue” e o levou a participar da fundação do Libération como um diário que contribuísse para o desenvolvimento real da democracia política por meio de uma “escrita-falada”, próxima ao mundo do trabalho.

O alvo crítico de Sartre era o “fait-divers”, isto é, os relatos jornalísticos sobre a irrupção do insólito, identificado sempre com alguma violação das normais culturais ou naturais, como o acidente, o crime, a catástrofe.

Só que isso não estava necessariamente ligado à direita política, e sim à imprensa sensacionalista, que explorava o fascínio sadomasoquista dos leitores pelo mórbido ou pelo horror.

SENSACIONALISMO – O que aí conta de fato são os sentimentos mais arcaicos do indivíduo, em geral apreendidos pelas lentes da psicanálise e da psiquiatria.

Mas a recente notícia, pela imprensa francesa, da morte de uma jovem estudante em Nantes, assassinada com 57 facadas, oferece outra perspectiva. Segundo o relato, o assassino, também adolescente, num manifesto delirante, “sintetiza todas as loucuras ideológicas que gangrenam hoje as nossas sociedades”.

Em treze páginas, fascinado por Hitler, ele denuncia o “neurocapitalismo”, supostamente responsável pela transformação dos cérebros em instrumentos de dominação econômica e tecnológica, que promoveriam um “ecocídio globalizado”. É a sua justificativa para “vingar a humanidade”, assassinando uma desconhecida.

LOUCOS RACIONAIS – A cobertura jornalística não configura um “fait-divers”. Embora confinado a um hospital psiquiátrico, esse jovem não é mero doente, protagonista isolado de um fato. Ao olhar crítico, ele seria “talvez uma prévia da assustadora racionalidade dos loucos de amanhã”.

Mais do que uma prévia, porém, um padrão ideológico já em curso na realidade paralela e transnacional das redes sociais, onde se multiplicam grupos organizados com motivações fascistas.

Os três jovens apreendidos pela polícia carioca (o mais velho, de 24 anos, é militar) demonstravam racionalidade operativa, comprovada no planejamento de suas lives de horror.

VEREDAS SINISTRAS – As redes constituem uma espécie de terceira natureza (a segunda é o hábito), que conduz consciências vulneráveis por veredas sinistras.

Não se trata de moldar cabeças, velha hipótese sobre a influência da mídia, mas de caminhar na escuridão moral aberta pelo espaço virtual das redes sociais.

Se o motor do percurso é o prazer transgressivo inerente à adolescência, o ponto de chegada é o crime real no fundo das redes.

Rei Davi jamais disfarçava seus desejos, desesperos ou alegrias diante de Deus


A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica manual, com pincél e nanquim sobre papel. Depois foi escaneada e colonizada digitalmente.  Na horizontal, proporção 13,9cm x 9,1cm, a Ilustração colorida com traços de gravura antiga e efeitos gráficos contemporâneos. À esquerda, figura masculina de perfil levemente voltado para cima, com barba longa e ondulada em azul claro, coroa na cabeça e manto roxo. Ao centro, uma harpa estilizada em rosa, com cordas finas verticais. À direita, outra figura masculina com barba verde, usando vestes decoradas com padrões detalhados em azul e vermelho, colar com pingente redondo e manto com detalhes de pele. Há três círculos sólidos em laranja cobrindo partes da imagem — um sobre o peito da figura à esquerda, outro sobre a harpa, e o terceiro na parte inferior direita. Também há retângulos brancos translúcidos aplicados sobre trechos do rosto e da roupa. O fundo é bege com bordas irregulares, simulando papel envelhecido.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

“O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”. Salmo 23. Talvez o mais famoso de todos. A tradição remete a autoria dos salmos ao rei Davi, de todos os heróis bíblicos, o mais amado por Deus.

O predileto de Deus, o rei Davi, fala muito da personalidade do Deus de Israel. Um desses traços é sua imprevisibilidade absoluta. Esta, aliás, faz parte do caráter absoluto da sua liberdade. Impredicável, o Deus de Israel escolhe seus heróis ou heroínas ao bel-prazer da sua vontade livre, como nenhuma outra jamais existiu.

FÉ INABALÁVEL – Deus ama Davi, muitos dizem, por conta da sua fé inabalável. A ideia de que importa a Deus o coração honesto de uma pessoa, no caso de Davi, é marcante. Um filósofo poderia dizer que o imperativo categórico kantiano de que jamais devemos mentir é a mais pura realidade do coração desse rei da casa de Judá.

Davi jamais disfarça suas emoções, desejos, desesperos, ódios e alegrias diante de Deus. Isso nos leva a crer que o Deus de Israel se comove diante de alguém que é sincero acerca de si mesmo. Sendo Deus onisciente, a sinceridade diante dele significa, antes de tudo, a sinceridade diante de si mesmo, já que Deus sabe tudo.

Para além do debate acerca da autoria dos Salmos — Davi os escreveu? Escreveu alguns? Nenhum? —, o fato é que o personagem Davi é apresentado pela tradição como sendo um poeta e místico que encantava as pessoas e a Deus com sua harpa e seu canto.

À MERCÊ DE DEUS – Nesse canto — os Salmos em si —, Davi revela todas as facetas de uma alma à mercê de Deus e que, ao mesmo tempo, goza de uma intimidade com o criador que ninguém jamais teve — à exceção de Cristo, para os cristãos, que, aliás, entendem que o seu Messias era descendente da casa de Davi, do contrário não seria o Messias, segundo a profecia.

A vida de Davi é “uma representação intricada de grandeza e loucura humana, de sabedoria e pecado, de fé e fidelidade, de perspectivas contraditórias e desejos conflitantes”.

Assim, cita Randy Neal no seu ensaio de crítica bíblica “The Search for the Elusive King David: Studies in 1 & 2 Samuel” —a busca pelo esquivo rei Davi, numa tradução direta.

INDESCRITÍVEL – Mas vale dizer que “elusive” pode ser também traduzido por indescritível ou ilusório. O termo aponta para a difícil apreensão do personagem, o que não é difícil de se entender dadas as contradições das fontes, sua antiguidade e o fato de que ele teria vivido cerca de 1.000 anos antes de Cristo.

A propósito, o Samuel citado no título é o profeta por excelência da epopeia de Davi, e seus livros, fontes essenciais para os estudos davidianos.

Um dos traços mais citados acerca do predileto de Deus é sua vida sexual rica. As fontes e estudos acerca de Davi indicam nove esposas “oficiais”, além de várias concubinas. Neste sentido, Davi repete, aliás, como em quase tudo, um padrão da realeza do período no Oriente Médio.

MULHERES PODEROSAS – Vale salientar que, em Israel, assim como nos reinos em volta, Egito ou Babilônia, cerca de 1000 a.C., as esposas dos reis não eram meros objetos sexuais. Apesar de serem referidas sempre como “mãe de”, “esposa de” ou “filha de alguém”, essas mulheres tinham grande poder no ordenamento político do estado monárquico de então.

Esse poder não surgia, como muita gente pensa, do que ela fazia na cama com o rei, o seduzindo com o seu corpo e gestos eróticos. Esse poder emanava da sua posição dentro do palácio e da hierarquia política mesma: essas mulheres carregavam consigo uma soberania conjunta com o rei. Resumindo: tinham grande poder.

Mesmo que as filhas pudessem ser “dadas” em casamento para fins políticos, assim como os filhos, essa dinâmica não retirava o poder cotidiano dessas mulheres da realeza israelita antiga.

CONSELHEIRAS – Chegavam mesmo a ser conselheiras dos reis. Não devemos esquecer que a intimidade sob os lençóis quase sempre implica um modo, muitas vezes aparentemente invisível, de soberania pouco estudada em ciência política.

As mais famosas das suas esposas são Michal, filha do rei Saul que o precede no trono, e Batsheva, a esposa do general Urias, de quem ela é roubada por Davi. Ela será a mãe do herdeiro de Davi, o rei Salomão. Segundo as fontes, Davi a conhece pela primeira vez, quando caminhando sobre o teto do palácio —caminhadas essas descritas como momentos místicos—, a vê, linda, tomando banho, e, a partir daí, enlouquece por ela. Fará dela adúltera e rainha.

“Na verdade, todo homem caminha como uma sombra, em vão se inquietam, amontoam riquezas e não sabem quem as levará.” Salmo 39. Este é o mesmo homem que arde de desejo pela mulher do outro, e a toma. O predileto de Deus. 

Kassab cresce junto com o PSD e seu apoio será fundamental nas eleições

PSDB perde Eduardo Leite para PSD de Kassab que empata número de governadores a PT e União Brasil - Território Livre

Com Eduardo Leite, o PSD já tem dois presidenciáveis

Bela Megale
O Globo

Desafeto de Jair Bolsonaro no meio político, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, passou a ser foco de elogios da cúpula do partido do ex-presidente, o PL. Kassab tem sido descrito como “o melhor estrategista” quando o assunto são as eleições de 2026.

Na leitura de correligionários do PL, Kassab tem se movimentado, nos bastidores, para inviabilizar a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Presidência, atuando para que ele disputa a reeleição pelo governo de São Paulo. O plano do presidente do PSD é ser o vice da chapa de Tarcísio em São Paulo.

FILIAÇÃO DE LEITE – Movimentos recentes de Kassab, como filiar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, na sua legenda e estimular a pré-candidatura do governador do Paraná, Ratinho Júnior, têm sido lidos como ações para minar o voo de Tarcísio rumo ao Palácio do Planalto.

Na avaliação da cúpula do PL, Kassab usará os nomes de Eduardo Leite e Ratinho Júnior para “vender mais caro” um apoio a uma eventual candidatura de Michelle Bolsonaro à Presidência, tentando até mesmo emplacar um vice do PSD.

Caciques da legenda de Bolsonaro têm elogiado a “sagacidade” de Kassab para manter Tarcísio em São Paulo, ocupar a vive de sua chapa, e quem sabe, até emplacar o candidato a vice de Michelle.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Por enquanto, está tudo no ar. A situação depende da anistia a ser votada pelo Congresso. Se for aprovada incluindo Bolsonaro, é um quadro. Se Bolsoraro continuar inelegível, é outro quadro. O pior é que dona Michelle tomou gosto pela política e quer ser candidata. A confusão é geral, diria Machado de Assis, no conto “O Alienista”, que transcorre num manicômio. (C.N.)

Universidades pedem que estrangeiros fiquem nos EUA durante as férias

Faculdades alertam e brasileiros passarão férias nos EUA temendo não voltar  | Jamil ChadeJamil Chade
do UOL

Neste final do ano letivo nas universidades norte-americanas, os alunos estrangeiros não estão apenas preocupados com suas provas ou entrega de trabalhos. Muitos precisam tomar uma outra decisão: voltar ou não a seus países de origem durante as férias de três meses?

O UOL apurou como universidades pelo país enviaram nos últimos dias cartas a seus alunos estrangeiros alertando sobre os riscos de saírem dos Estados Unidos. Numa delas, a reitoria avisou: “Não temos como garantir que vocês retornarão”.

RECURSOS CORTADOS – Alvos de uma ofensiva por parte de Donald Trump contra a elite intelectual dos EUA, as universidades passaram a ter seus recursos cortados e foram denunciadas pela Casa Branca por supostamente apoiar vozes dissidentes, além de promover a diversidade.

Estudantes estrangeiros realmente entraram em foco. O governo Trump alertou que os vistos não significam direitos, mas um “privilégio” que poderia ser retirado a qualquer momento.

Cruzar a fronteira, portanto, passou a ser uma decisão difícil. Na Universidade Columbia, em Nova York, um casal de brasileiros decidiu que, neste ano, não voltará ao Brasil. Falando sob condição de anonimato diante do temor de serem identificados, os estudantes confirmam que optaram por permanecer nos EUA.

O JEITO É FICAR – Também em Nova York, outros dois brasileiros confirmaram à reportagem que não viajarão às suas cidades de origem. Pelo mesmo temor de não voltar aos EUA, uma brasileira ainda desistiu de ir a uma festa importante de sua família em São Paulo, e que ocorreria durante as férias escolares.

Em Boston, um outro casal de doutorandos adotou a mesma estratégia e evitará viagens ao Brasil ou a qualquer outro país, no esforço para garantir suas vagas e terminar seus cursos, a partir de setembro, quando as aulas retornam.

“Tenho mais um ano apenas de doutorado. Não vou arriscar, apesar de jamais ter me envolvido em política e de estar com meu visto em dia”, afirmou uma brasileira, sempre na condição de anonimato.

APOIO AOS ESTRANGEIROS – Na Boston University, os alunos estrangeiros receberam da presidência da instituição uma mensagem há duas semanas com detalhes sobre o que cada um deles poderia fazer, caso decidisse ficar nos EUA nos próximos três meses. Alojamentos e facilidades estavam sendo organizados pela universidade.

Há também a possibilidade de pedir ajuda, inclusive financeira, para “estudantes que necessitem de forma emergencial de residência em base temporária”. No comunicado, a universidade ainda oferece apoio de psicólogos, advogado e até um capelão para os imigrantes.

Na Universidade de Harvard, que decidiu responder aos ataques de Trump, as instruções aos estudantes estrangeiros são as mesmas: evitem sair dos EUA.

CORTES EM HARVARD – O alerta ocorreu depois que, em meados de abril, a secretária do Departamento de Segurança Interna, Kristi Noem, anunciou o cancelamento de dois programas totalizando mais de US$ 2,7 milhões para a Universidade de Harvard.

A ação segue a decisão de Trump de congelar US$ 2,2 bilhões em financiamento federal para a Universidade de Harvard, e propondo a revogação de seu status de isenção de impostos supostamente devido à sua ideologia radical.

Além disso, a secretária enviou uma carta ameaçando revogar imediatamente a certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio (SEVP) de Harvard, a menos que informações abrangentes sobre as ações violentas e ilegais de portadores de visto de estudante estrangeiro fossem apresentadas até 30 de abril de 2025.

CONTROLE TOTAL – De acordo com lei citada por Noem na carta, as universidades devem fornecer informações sobre o programa de graduação dos alunos estrangeiros, matrículas em cursos, notas e status acadêmico, incluindo desistência, liberdade condicional, suspensão ou expulsão.

De acordo com o site do Immigration and Customs Enforcement —a agência de imigração— os atuais alunos estrangeiros com vistos patrocinados pela universidade terão que decidir se mudam seu status de imigração, se transferem para outra universidade ou se deixam o país se Harvard perder tais programas.

No final de abril, apesar de fazer uma resistência pública contra Trump, a Harvard cedeu e entregou os nomes e dados sobre os estudantes estrangeiros, apontando que a lei a exigiria. A decisão foi comunicada à comunidade de alunos e professores, gerando fortes críticas.

VIDA NO CAMPUS – Outro sinal considerado preocupante foi a decisão da universidade de renomear o escritório de sua reitoria que se ocupava de promover diversidade e igualdade. A partir desta semana, o departamento se chama apenas “Comunidade e Vida no Campus”.

A reitoria ainda anunciou que, neste ano, não vai financiar festas separadas de graduação de grupos como LGBTQI+, afrodescendentes, latinos ou religiosos. No ano passado, mais de dez eventos para as diferentes comunidades tinham sido organizados, além das cerimônias que reuniam todos.

Num e-mail aos alunos, porém, a reitoria tenta incentivá-los a continuar a estudar. “Para nossos alunos e bolsistas do exterior, incentivamos que continuem a se concentrar o máximo possível em suas atividades acadêmicas”, escreveu.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Estamos andando para trás, e termos de democracia e civilidade. As novas gerações terão ódio de nós, com justa razão, pois a liberdade está sendo cerceada. (C.N.)

IBGE indica que São Paulo deveria ter 116 deputados e o Acre apenas 2

Com deputados em casa, sessões remotas da Câmara têm mais quorum que posse

Superlotada com 513 deputados, a Câmara terá mais 18

Dora Kramer
Folha

Enquanto o sindicalismo definha no país, o corporativismo prospera na Câmara, onde os deputados acabam de acrescentar 18 cadeiras às 513 existentes. Sendo improvável que o Senado contrarie os companheiros de Casa e de causa, serão 531 os representantes dos 212 milhões de brasileiros. Nos EUA, referência habitual, a proporção é de 435 para 340 milhões de habitantes.

A justificativa: o fim da reeleição e a unificação dos pleitos nacional, estaduais e municipais, porque, em paralelo ao aumento das vagas, tramita um projeto de código eleitoral que prevê mandatos de cinco anos, e não mais de quatro, para deputados e de dez para senadores em substituição aos oito anos atuais.

DO QUE PRECISAMOS? – Antes de entrar nos detalhes dos dribles na representação popular, cabe levantar uma questão: precisamos de mais deputados ou de congressistas melhores?

Não há dúvida a respeito de qual seria a resposta do público caso viesse a ser consultado acerca de algo que, na condição de representado, lhe interessa diretamente.

Mas ouvir esse tipo de opinião não convém aos parlamentares, bem como não lhes pareceu conveniente deixar nas mãos do Tribunal Superior Eleitoral a redistribuição das bancadas por estado como determinou o Supremo Tribunal Federal se, até 30 de junho, o Parlamento não revisse os cálculos.

PÚBLICO PAGANTE – Cientes de que o TSE o faria conforme os dados do censo demográfico do IBGE, segundo o qual onde há menos gente há também menos representantes, os deputados correram a aprovar —com urgência negada a pautas de fato urgentes— uma gambiarra para compensar as perdas e garantir ganhos cuja conta será espetada no bolso do público pagante.

Ao mesmo tempo, nossos congressistas mantêm intacta a distorção de representatividade decorrente da regra de no mínimo 8 e no máximo 70 delegados por unidade federativa.

Pela proporcionalidade legal, São Paulo hoje teria 116 deputados e o Acre ficaria com 2. É só um exemplo, dentre vários aos quais o Congresso insiste em não dar atenção.

Líderes pressionam Motta a defender autonomia da Câmara diante do STF

Hugo Motta prega união no balanço dos primeiros meses como presidente

Hugo Motta tem de responder ao Supremo, mas está vacilando

Marianna Holanda
Folha

Líderes de partidos de centro e de esquerda querem evitar uma nova crise com o STF (Supremo Tribunal Federal) por manobra da Câmara a favor do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) que poderia beneficiar Jair Bolsonaro (PL).

O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse em entrevista ao jornal Valor Econômico nesta sexta-feira (9) que esperava que o STF mantivesse a decisão da Câmara – o que, horas depois, não se confirmou com a maioria formada na corte para derrubá-la.

CAPÍTULO DA CRISE – Apesar disso, lideranças dizem, reservadamente, que não veem espaço para uma resposta sem que pareça como um novo capítulo de crise entre os Poderes. Avaliam ainda que é suficiente trancar parte da ação penal resguardando apenas Ramagem.

O tom ainda é de cautela. Um líder do centrão disse que, se Motta for sensato, vai evitar a escalada da crise. Mas, da forma como conduziu até aqui, dá brecha para ser amplamente cobrado pela oposição.

A aprovação do relatório foi vista como um gesto de Motta para a oposição, que amargou derrota com o engavetamento do projeto de lei que concede anistia aos presos pelos ataques golpistas de 8 de janeiro. Sobretudo pela forma como ocorreu, numa votação rápida em plenário e sem instrumentos que pudessem adiar a discussão.

COBRAR DE MOTTA – Deputados bolsonaristas, por sua vez, se queixaram do entendimento da corte, ainda que estivesse precificada. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), foi às redes sociais para cobrar uma resposta de Motta.

“Acaba de ser formada a maioria na Primeira Turma do STF para derrubar parte da sustação aprovada por 315 deputados em plenário. Um ministro está se sobrepondo à vontade de toda a Câmara. Com a palavra, o presidente Hugo Motta. Vai defender a soberania do Parlamento ou assistir calado?”, questionou no X.

Já o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), comemorou o resultado da corte. “STF forma maioria e derruba ‘trem da anistia’. Bolsonaro e seus generais terão que responder por seus crimes. A Câmara não pode trancar a totalidade da ação penal. É ilegal e inconstitucional”, disse.

DESDOBRAMENTOS – Aliados de Motta dizem que é preciso aguardar os desdobramentos políticos do episódio, mas apostam que o presidente da Câmara não terá interesse em prolongá-lo, transformando numa nova crise com o Supremo.

Quando assumiu o mandato de presidente da Casa, no início do ano, uma de suas prioridades foi o distensionamento entre os Poderes, sobretudo a resolução da crise das emendas parlamentares.

Da forma como foi aprovado na Câmara, o relatório poderia trancar a ação penal beneficiando outros réus, além de Ramagem, como Braga Netto e Bolsonaro. O STF já havia dito à Casa que não havia previsão constitucional para um entendimento tão amplo.

MAIORIA NO STF – Nesta sexta-feira (9), a Primeira Turma do STF formou maioria pela derrubada da manobra da Câmara. A posição do Supremo confronta a decisão dos deputados de sustar toda a ação penal contra Ramagem e confirma que a ação dos congressistas não tem poder de paralisar o processo contra os demais réus, como Bolsonaro.

O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, votou contra a paralisação de toda a ação penal contra o deputado e, no começo da noite, já havia sido acompanhado pelos ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux. Falta ainda o voto de Cármen Lúcia.

O julgamento ocorre no plenário virtual da Primeira Turma e tem prazo para terminar até a próxima terça-feira (13). A Câmara pode ainda recorrer com embargos de declaração, o que ainda não estava decidido.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A Câmara extrapolou na sua ânsia de anistiar todo mundo. E o Supremo também extrapolou, ao incluir Ramagem, apesar de o delegado federal ter saído do governo em março de 2022 e deixado de frequentar o Planalto. Comprem pipocas, a novela está apenas começando. (C.N.)

Igreja Universal já começa a “limpar” seu partido para as eleições de 2026

retrato de edir macedo, que sorri

Bispo Macedo fez harmonização e pintou os cabelos que lhe restam

Bernardo Mello
O Globo

Pressionado por integrantes da cúpula da Igreja Universal, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, decidiu abrir espaço para a denominação evangélica e trocar o atual comando do diretório estadual do partido no Rio. O diretório, hoje sob a alçada do ex-prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, passará a ser comandado pelo deputado federal Luis Carlos Gomes (Republicanos-RJ), que é bispo da Universal.

A mudança ocorre em meio a atritos entre Pereira e o atual responsável pela Universal no Rio, o bispo Honorilton Gonçalves. O presidente do Republicanos, que é também bispo licenciado da Universal e deputado federal por São Paulo, já se reuniu com Gomes, seu colega de Câmara, para alinhar seu retorno ao comando do partido no Rio.

CUNHA E WAGUINHO – Gomes comandava a sigla no estado até o início de 2023, quando deu lugar ao grupo do prefeito Waguinho e Eduardo Cunha — à época, o objetivo de Pereira era “profissionalizar” a gestão do partido e amenizar o vínculo histórico com a Universal.

Os resultados eleitorais aquém do esperado no Rio em 2024, no entanto, motivaram a igreja a pleitear a troca, em um contexto de queda de braço entre Pereira e Gonçalves. Ex-responsável pela Universal em Angola, Gonçalves é uma das lideranças mais antigas da igreja.

Após retornar ao Brasil, em meio a um imbróglio jurídico no país africano, Gonçalves desde 2023 voltou a ser o responsável pela igreja no estado.

O QUE ELES DIZEM – Procurado pelo GLOBO, Pereira afirmou que “mudanças acontecem naturalmente” em diretórios estaduais e que “não procede” o relato de movimentação de lideranças da igreja em favor da troca. A Universal afirmou, em nota, que não pratica “atividade político-partidária, tampouco ingerência na atuação de parlamentares, ou de qualquer agente público”.

Na capital fluminense, a Universal viu sua representação diminuir na Câmara de Vereadores, e integrantes da igreja alegaram ter ficado em segundo plano com a ascensão de Cunha e Waguinho. Com a dupla à frente, o Republicanos elegeu seis prefeitos em 2024, um a mais do que na eleição anterior no Rio. Waguinho saiu arranhado, porém, pela derrota em Belford Roxo, seu reduto, onde não conseguiu eleger sucessor.

A troca no diretório estadual ainda não foi oficializada, mas é vista por diferentes partes como questão de tempo. Reservadamente, integrantes do partido avaliam que, embora Pereira não tivesse intenção de fazer mudanças no Rio, o “custo político” de um embate com a igreja pesou para a decisão.

EM SÃO PAULO – Lideranças da Universal também haviam mostrado insatisfação em São Paulo, outro estado em que Pereira havia tirado a igreja do comando partidário — e entregue a um quadro político — antes das eleições municipais do ano passado.

Embora o número de prefeituras do partido tenha explodido em 2024, a reboque da atuação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como cabo eleitoral, a igreja perdeu terreno na Câmara de Vereadores de São Paulo.

Na capital paulista, a Universal não conseguiu emplacar o bispo André Souza, que “substituiu” um quadro antigo da igreja, o ex-vereador Atílio Francisco, que optou por não se candidatar. Souza ficou como primeiro suplente do Republicanos e ainda não teve chance de assumir o mandato. Ele é próximo ao bispo Alessandro Paschoall, uma espécie de “coordenador político” da Universal.

IGREJA DE VOLTA – A mudança no Rio representa uma inflexão, a nível estadual, rumo às origens do Republicanos. O partido foi criado há duas décadas por articulação da Universal, igreja fundada pelo bispo Edir Macedo na capital fluminense no fim dos anos 1970. Nos últimos anos, o partido vinha pouco a pouco diminuindo a proporção de parlamentares ligados à igreja, e passou a se posicionar como uma sigla “conservadora”, atraindo políticos posicionados mais à direita, como Tarcísio e o general Mourão.

O Republicanos é também o partido do atual presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (PB), e tem um de seus quadros, o deputado licenciado Silvio Costa Filho (PE), como ministro de Portos e Aeroportos no governo Lula (PT).

Com o retorno do bispo Luis Carlos Gomes ao comando do Republicanos no Rio, a nova organização favorece uma possível candidatura ao Senado de Marcelo Crivella, ex-prefeito da capital fluminense e também bispo da Universal.

EXPECTATIVAS – Crivella vem sendo incentivado pela ala religiosa do Republicanos a se candidatar. Mas essas mudanças, por outro lado, podem levar o grupo de Cunha e Waguinho a se desligar do Republicanos, desidratando o partido no estado.

A sigla esperava filiar no ano que vem cinco deputados federais que receberam autorização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para deixar o União Brasil — o grupo inclui as deputadas Dani Cunha, filha do ex-presidente da Câmara, e Daniela do Waguinho, mulher do ex-prefeito de Belford Roxo/

Mas a perda de comando tende a fazer esses parlamentares buscarem outro partido.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quanto ao principal nome do partido, o governador Tarcísio de Freitas, ele tem escapado do assédio do PL, que tenta filiá-lo para mantê-lo sob controle. Os aliados de Bolsonaro sabem que Tarcísio seria um candidato fortíssimo à Presidência, caso tenha apoio dos evangélicos. Se for apoiado por Bolsonaro, Tarcísio passa a ser imbatível. (C.N.)

Para derrotar a direita, o Supremo quer punir ‘intenção’ como se fosse ‘tentativa’

STF PERDEU A CONFIANÇA DO POVO BRASILEIRO E NECESSITA FAZER UMA AUTOCRÍTICA - Cariri é Isso

Charge do Duke (Arquivo Google0)

Gastão Reis
O Dia

No dia 26/03/2025, a Primeira Turma do STF decidiu que o ex-presidente Bolsonaro e mais sete integrantes de seu governo passaram a ser réus pelos crimes de tentativa de golpe de estado e de abolição do Estado de Direito. O placar foi de 5 a 0! Talvez seja a primeira vez na História que uma suposta intenção de fazer algo passe a ser visto como crime. Entre ter a intenção de matar alguém e realizar o intuito vai uma grande diferença.

De seus cinco integrantes, três foram indicados por Lula, um, pela Dilma e um, por Temer. Não havia como enganar o distinto público quanto ao resultado pré-combinado.

GOLPES NO CARDÁPIO – Não sou bolsonarista, mas quando a justiça falha é fundamental apontar o erro. Quem conhece nossa história republicana sabe que golpes sempre estiveram no cardápio da vida política brasileira desde o início, em 1889.

Militares e civis por vezes se alternavam como proponentes e/ou autores de golpes de Estado. As 19 rebeliões militares, quatro presidentes depostos e nove governos autoritários dão bem a folha corrida de golpes e contragolpes da dita república brasileira.

O primeiro erro de avaliação é que, mesmo que houvesse tido a intenção, era óbvio que Bolsonaro não teria tido apoio militar para executá-lo. Ainda nos tempos de cadete na Academia Militar das Agulhas Negras, suas tentativas de liderar os demais cadentes nunca emplacaram.

BOLSONARO INVIÁVEL – O perfil indisciplinado de Bolsonaro e sua opção pela política não contribuíram para que gozasse de apoio de militares fiéis à disciplina e à hierarquia.

Bolsonaro sabia disso. A dura realidade o levou a ligar para os três chefes militares do exército, marinha e aeronáutica, pedindo que recebessem o novo ministro da Defesa indicado por Lula, já que o futuro ministro não estava conseguindo falar com eles. Quem toma uma atitude como esta sabia que o golpe estava fora de questão. E, de fato, não houve golpe.

É preciso ir mais fundo para entender o que está por trás da trama. A partir do desmonte da Lava-Jata, com a desculpa de que o foro correto seria Brasília, o STF passou a etapa seguinte de libertar Lula e lhe conferir o direito de se candidatar a presidente. O lado torto da manobra é que ele não foi propriamente inocentado.

CORRUPÇÃO PETISTA – As acusações de corrupção contra Lula e PT, várias delas confessadas pelos próprios corruptores, com devolução dos recursos públicos surrupiados, continuam vivas na memória da população e da justiça.

A conclusão óbvia era que os processos em que o atual presidente estava envolvido deveriam ter ido para Brasília, serem julgados no foro adequado, e apurada sua inocência ou culpa nos crimes de que era acusado.

Mas, se seguissem o caminho correto, não haveria tempo hábil de liberar Lula para voltar à vida política e registrar sua candidatura. Daí o atropelo das devidas etapas jurídicas. E foi assim que ele acabou sendo eleito presidente.

REJEIÇÃO A LULA – Tem mais. E não vai aqui nenhum apoio a quarteladas golpistas. A profunda decepção da população com a eleição de Lula era evidente.

O fato de só ter ganho no Nordeste e perdido para Bolsonaro nas outras quatro grandes regiões do País – Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste –, onde residem 75% da população, explica a brutal rejeição de Lula em 2022, que se mantém até hoje, agora com 60% de desaprovação de seu governo, inclusive no Nordeste.

O desabafo do desembargador aposentado, Sebastião Coelho da Silva, que, cara a cara, chamou os membros do STF de serem as pessoas mais odiadas do País, reforça o repúdio da população por eles. Faz poucos meses que articulistas da grande mídia impressa escreveram artigos questionando a própria legitimidade da Corte diante da população.

8 DE JANEIRO – Vamos agora ao 8 de Janeiro. As manifestações pacíficas ocorridas em várias cidades do Brasil, inclusive nas portas de quartéis, contra a eleição de Lula, tinham razão de ser em função da decisão arbitrária do STF de permitir a candidatura de Lula antes de o foro adequado se manifestar.

Na época, qualquer pesquisa de opinião, ou mesmo uma informal no cafezinho tradicional que sempre tomamos Brasil afora, é certo que a maioria de seus participantes, se arguidos sobre a inocência de Lula, responderiam que foi, no mínimo, cúmplice dos crimes e da corrupção do PT.

A defesa da democracia e o suposto golpe que não houve não se sustentam diante do povo brasileiro a despeito de parte da grande mídia fazer coro e tentar coonestar as investigações da Polícia Federal. Ela teria evidências gravíssimas do golpe em gestação, que afinal não se materializou.

DIZEM AS RUAS – As últimas manifestações de rua da esquerda e da direita teriam reunido, respectivamente, cerca de seis e dezoito mil pessoas. Os percentuais de pessoas presentes ao ato foram de apenas 25% a favor do STF e 75% contra a decisão de tornar réus Bolsonaro e sete membros de sua equipe de governo. Exatamente os mesmos percentuais demográficos das grandes regiões geográficas a favor de Bolsonaro em 2022 contra Lula, que só venceu no Nordeste.

Pior ainda é dispormos de um Senado com boa parte de seus membros temendo processos pendentes no STF e nada dispostos a reagir diante dos desmandos e decisões inconstitucionais do ministro Alexandre de Moraes. E mais aquelas vergonhosas do ministro Toffoli, dentre elas a de liberar a J & F de uma multa de 10 bilhões de reais, monocraticamente, com a omissão vexatória dos demais ministros.

Tarda a hora de serem julgados pelo Senado. A boa notícia é que as próximas eleições deverão reconfigurar o Senado em dois terços para que a justiça tardia não seja falha, como tem sido até agora.

TANQUES NA RUA? – Por fim, onde estavam os tanques e soldados nas ruas de Brasília que configurassem um golpe de Estado. Ninguém sabe, ninguém viu.

Só o Supremo e os apoiadores do desgoverno Lula testemunharam o golpe de Estado tentado por uma quadrilha armada, como diz o ministro Moraes.

 Os custos da incompetência vêm sendo pagos pela população submetida à inflação, a desmandos de toda ordem e a declarações estapafúrdias de Lula. A última, que deixou indignada grande parte da população, foi declarar que sua mulher não nasceu para ser dona de casa. Mas a reação popular vem crescendo organicamente. Quem viver, verá.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGExcelente artigo, enviado por Mário Assis Causanilhas. Mostra com clareza o desvio de conduta do Supremo, que está punindo “intenção” como se fosse “tentativa”, uma distorção que o Direito Universal abomina. (C.N.)

Ramagem é acusado de “participação à distância”, crime que não existe nas leis

STF forma maioria para manter ação penal contra Ramagem por golpe de Estado

Ramagem deixou o governo em março de 2022 para fazer campanha

Cézar Feitoza e Ana Pompeu
Folha

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria nesta sexta-feira (9) pela derrubada da manobra da Câmara a favor do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) e a favor da suspensão de apenas parte do processo contra o parlamentar por participação na trama golpista de 2022.

A posição do Supremo confronta a decisão da Câmara de sustar toda a ação penal contra Ramagem e confirma que a ação dos congressistas não tem poder de paralisar o processo contra os demais réus, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, votou contra a paralisação de toda a ação penal contra o deputado. Ele foi acompanhado pelos ministros Cristiano Zanin e Flávio Dino.

APARECE E SOME

Luiz Fux chegou a apresentar voto acompanhando Moraes, mas minutos depois o nome do ministro sumiu da página do tribunal. O Supremo diz que verifica possível erro no sistema virtual de votação e que Fux deve votar até o fim do prazo do julgamento. Falta ainda o voto de Cármen Lúcia.

“Os requisitos do caráter personalíssimo e temporal, previstos no texto constitucional, são claros e expressos, no sentido da impossibilidade de aplicação dessa imunidade a corréus não parlamentares e a infrações penais praticadas antes da diplomação”, diz Moraes no voto.

O ministro afirma que a Constituição não prevê nenhuma outra situação em que o Poder Legislativo pode suspender a atividade jurisdicional do STF. Por isso, a atribuição da Câmara no caso Ramagem é limitada.

SEM PRESCRIÇÃO – Moraes ainda determinou a suspensão da prescrição dos crimes supostamente cometidos pelo parlamentar, já que o andamento de parte do processo só poderá prosseguir após o fim do mandato de Ramagem.

Flávio Dino deu o voto mais duro. Ele diz que a Câmara, ao tentar suspender todo o processo, ultrapassa suas atribuições constitucionais e tenta promover “indevida ingerência em um processo judicial de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal”.

“Somente em tiranias um ramo estatal pode concentrar em suas mãos o poder de aprovar leis, elaborar o orçamento e executá-lo diretamente, efetuar julgamentos de índole criminal ou paralisa-los arbitrariamente — tudo isso supostamente sem nenhum tipo de controle jurídico”, afirma Dino.

JURISPRUDÊNCIA – Zanin afirma que a jurisprudência do Supremo é clara ao permitir a suspensão de ações penais contra parlamentares por “crimes cometidos depois da diplomação do mandato em curso, e não aqueles pretéritos”.

O julgamento ocorre no plenário virtual da Primeira Turma e tem prazo para terminar até a próxima terça-feira (13).

Ramagem é réu, segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), por integrar o núcleo central do grupo que planejou um golpe de Estado no fim de 2022 para manter Bolsonaro na Presidência da República.

CINCO CRIMES – O deputado responde por cinco crimes: associação criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito, dano qualificado contra o patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado.

A Constituição prevê que a Justiça deve consultar o Congresso caso decida abrir uma ação contra parlamentares acusados de crimes cometidos após a diplomação —no caso de Ramagem, em dezembro de 2022.

O texto constitucional, portanto, limita o veto da Câmara ao seguimento do processo penal contra ele a dois crimes ligados aos ataques de 8 de janeiro: dano qualificado contra o patrimônio e deterioração do patrimônio tombado.

OUTROS CRIMES – Os outros três delitos pelos quais Ramagem responde, cujas penas são maiores, não estariam no guarda-chuva de análise da Câmara, já que teriam sido praticados antes de sua diplomação.

A Câmara desconsiderou a posição do Supremo ao aprovar, na quarta-feira (7), um projeto que pretendia suspender por completo a ação penal contra Alexandre Ramagem.

O texto elaborado pelo relator Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) ainda tentou, ao mencionar o processo de forma genérica, paralisar a ação penal contra todos os oito réus do núcleo central da trama golpista, como Bolsonaro e o ex-ministro Walter Braga Netto.

AMPLA MAIORIA – A proposta foi aprovada por 315 a 143. Até deputados de partidos que compõem a base do governo Lula votaram a favor de Ramagem, como o União Brasil (50 votos) e o MDB (32 votos).

Quatro ministros do Supremo afirmaram à Folha, sob reserva, que a decisão da Câmara é inconstitucional e deveria ser derrubada pela Primeira Turma.

Eles reforçaram que o presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, fez-se claro ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao delimitar qual parte do processo contra Ramagem os congressistas poderiam suspender.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O Supremo está equivocado, mas uma vez. Ramagem deixou de presidir a Abin e participar do governo em 30 de março de 2022, para se candidatar a deputado e desde então parou de frequentar o Planalto ou o Alvorada. Para caracterizar participação em golpe seria necessário que estivesse sempre presente e atuante na conspiração. Ou seja, em tradução simultânea, Ramagem está sendo julgado e condenado por participar à distância da tal quadrilha armada, cujas armas ninguém jamais viu ou soube que existiram. E não existe esse crime de participação à distância, salvo quando se trata do mandante, que não era ele. Assim, comprova-se que os ministros do Supremo não têm medo do ridículo. (C.N.)