Risco de pressão de Washington leva governo a apostar em normalização com Trump

Negociações visam também evitar medidas durante eleição

Patrícia Campos Mello
Folha

Um dos objetivos da normalização das relações do Brasil com os Estados Unidos é reduzir os riscos de interferência americana na eleição do ano que vem, afirmaram integrantes do governo Lula (PT).

O principal propósito das negociações, dizem eles, é a redução das tarifas que ainda incidem sobre cerca de 22% das exportações para o país norte-americano e a retirada das sanções da Lei Magnitsky contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Na visão do governo, porém, melhorar as relações com Trump serve como uma proteção para o pleito do ano que vem.

PLATAFORMAS – Uma situação possível e temida, por exemplo, seria algum ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tomar uma decisão em relação a plataformas de internet para resguardar a eleição e o governo Trump impor sanções sob a justificativa de que a medida viola a liberdade de expressão ou prejudica uma empresa americana. Se as relações estiverem melhores, isso funciona como dissuasão para possíveis interferências, afirmam esses funcionários.

Ainda não há previsão de data para a próxima etapa das negociações entre os dois países. Estão previstas reuniões entre o ministro Mauro Vieira e seu contraparte, o secretário de Estado Marco Rubio; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick.

AINDA SEM DATA – O governo brasileiro esperava que a reunião fosse realizada ainda neste ano, mas não teve retorno dos americanos. Também está prevista, embora ainda sem data, uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Trump no ano que vem. Em 2026, o petista terá uma agenda modesta de viagens internacionais, por conta do ano eleitoral, segundo um interlocutor do governo, e participará apenas das cúpulas tidas como obrigatórias, como a dos Brics (Índia), G20 (EUA), COP31 (Turquia), Mercosul (Paraguai) e Assembleia Geral da ONU (Nova York).

Há ainda duas viagens previstas: à Índia e à Alemanha. A visita de Estado na Índia, em fevereiro, pode se estender para um segundo país da Ásia —a nação é considerada prioridade dentro da estratégia de diversificação de exportações, intensificada após o tarifaço de Trump. No final de abril, Lula irá para a Alemanha, onde o Brasil será o país homenageado da Feira de Hannover. Além disso, os líderes do Canadá, Mark Carney; da Turquia, Recep Erdogan; e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, devem visitar o Brasil em 2026.

Execução da pena de Bolsonaro deve ficar sob as ordens de Moraes no Supremo

Ministro tem optado por manter os casos sob sua alçada

Weslley Galzo
Carolina Brígido
Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes deve conduzir pessoalmente a execução das penas do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos demais condenados por tramar um golpe de Estado. No entanto, não é a praxe que magistrados da Suprema Corte estejam à frente desses procedimentos.

A prática mais comum no tribunal é que, após o trânsito em julgado, o caso seja transferido para a Vara de Execuções Penais (VEP) correspondente ao estabelecimento prisional que o réu cumprirá a pena. Em relação a Bolsonaro, por exemplo, a responsável por supervisionar o cumprimento da sua sentença seria a juíza Leila Cury, que é a titular da Vara no Distrito Federal. Questionado sobre o assunto por meio da assessoria do STF, o ministro não quis se manifestar.

MANUTENÇÃO DA FUNÇÃO –  A partir do caso do mensalão envolvendo autoridades envolvidos em esquema de pagamento de dinheiro em troca de apoio ao governo Lula no seu primeiro mandato, o STF criou uma nova classe processual, a Execução Penal (EP), para coordenar o cumprimento das penas. A criação desse dispositivo não impediu que os ministros delegassem a função a instâncias inferiores, ficando a critério de cada membro da Corte decidir se manteria a função.

O primeiro réu a figurar nesse tipo de processo no STF foi o ex-presidente do PT José Genoíno, em 2013. Desde então, foram abertas outras 162 EPs no tribunal. Dessas, 132 têm ou tiveram Moraes como relator, segundo dados compilados pelo Estadão no Painel Corte Aberta do STF. O ministro é responsável por 109 das 111 execuções de pena ainda em curso, o que equivale a 98% dos processos.

O segundo ministro que mais relatou EPs no STF foi o recém-aposentado Luís Roberto Barroso, que teve 17 casos do mensalão sob sua alçada e todos foram concluídos. Em comparação, dos 132 casos sob relatoria de Moraes, somente 23 foram encerrados. Com exceção de Moraes, apenas Dino relata atualmente ações deste tipo. O ministro é responsável pela execução das penas de Marcos Valério, envolvido no esquema do mensalão, e do ex-deputado José Borba.

PRERROGATIVA – Doutor em direito criminal pela Universidade de São Paulo (USP), Matheus Falivene explica que a prerrogativa de execução da pena garante ao juiz responsável pelo processo a possibilidade de decidir sobre pedidos formulados pelas partes envolvidas na ação.

Caso o processo de Bolsonaro fosse transferido para a VEP do Distrito Federal, a juíza titular poderia acolher um pedido de prisão domiciliar do ex-presidente sem precisar da anuência do STF.

Enquanto Moraes opta por manter as execuções penais sob sua alçada, outros ministros costumam transferir para as VEPs os processos das pessoas que foram condenadas sob sua relatoria.

CONCENTRAÇÃO – “A execução cumpre à Vara de Execuções e sempre deixamos com ela, mas hoje estão concentrando essa série de atribuições e, ao meu ver, isso contraria a organicidade do direito”, avaliou o ministro aposentado do STF Marco Aurélio Mello, que é um crítico do acúmulo de processos criminais no gabinete de Moraes. “Eu se lá estivesse, fosse relator e tivesse título do próprio Supremo para executar (a pena dos condenados) mandaria para a Vara de Execuções”, prosseguiu.

O magistrado aposentado explica que a concentração deste tipo de processo nas mãos de Moraes ocorre em decorrência da relatoria de ações penais, classe processual que antecede a execução da pena. Somado a isso, os casos se avolumam em seu gabinete porque o ministro decide mantê-lo consigo em vez de encaminhar para a VEP.

Desde 2006, o STF recebeu 2.278 ações penais, das quais 1.300 seguem em tramitação e 978 foram baixadas para o arquivo da Corte. Do total, 828 casos passaram pelo gabinete de Moraes desde 2020, data em que o ministro teria recebido a sua primeira ação penal, de acordo com dados do STF.

A farda e o golpe: julgamento da PM-DF revela a face institucional da ruptura

Com suíte exclusiva e área externa, Anderson Torres cumpre pena em ala especial

 

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Audiência de extradição de Carla Zambelli é adiada na Itália após greve

PGR recomenda domiciliar a Heleno citando Alzheimer e risco à saúde na prisão

General cumpre a pena em regime fechado em Brasília

Sarah Teófilo
Daniel Gullino
O Globo

A Procuradoria-Geral da República (PGR) recomendou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a concessão de prisão domiciliar humanitária ao general da reserva Augusto Heleno, de 78 anos, condenado a 21 anos de prisão no processo da trama golpista.

A recomendação atende a um pedido da defesa do general, que alegou que o militar possui Alzheimer. Ele foi preso na última terça-feira e cumpre a pena em regime fechado no Comando Militar do Planalto, em Brasília.

ANTECEDENTES – A defesa do general afirmou que ele “é acompanhado em contexto psiquiátrico desde 2018 e, a partir de dezembro de 2024, o quadro passou a ser minuciosamente documentado em relatório médico, firmando-se, em janeiro de 2025, o diagnóstico de demência mista (etiologias Alzheimer e vascular, combinadas), em estágio inicial, sobreposta a antecedentes de transtorno depressivo e transtorno misto ansioso depressivo”.

Ao ser admitido na prisão, Heleno foi submetido a um exame médico e relatou que é “portador de Demência de Alzheimer em evolução desde 2018, com perda de memória recente importante”. A médica que o avaliou apontou que Heleno apresentava “bom estado geral, alerta e com sinais vitais regulares”.

A defesa do militar afirmou, entretanto, que o diagnóstico foi firmado em janeiro deste ano e pediu a concessão de prisão domiciliar em caráter humanitário. Conforme o advogado do general, o cumprimento da pena em regime fechado compromete a saúde do custodiado, considerando sua idade avançada e a existência de comorbidades graves de saúde.

REAVALIAÇÃO – Na petição, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirma que “as circunstâncias postas indicam a necessidade de reavaliação e flexibilização da situação do custodiado”. O procurador pontuou que no caso em questão, é recomendável a concessão de prisão domiciliar humanitária, seguindo os princípios de proteção integral e prioritária do idoso.

“A manutenção do custodiado em prisão domiciliar é medida excepcional e proporcional à sua faixa etária e ao seu quadro de saúde, cuja gravidade foi devidamente comprovada, que poderá ser vulnerado caso mantido afastado de seu lar e do alcance das medidas obrigacionais e protecionistas que deverão ser efetivadas pelo Estado”, ressaltou. O pedido agora será analisado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal.

Direção do PT fecha o cerco e empurra Haddad para a disputa em SP

Messias está prevaricando na AGU e prejudica seu nome no Senado

Lula indica Jorge Messias para a vaga de ministro do STF no lugar de Barroso #charge #cartum #cartoon #humor #política #humorpolitico #desenho #art #caricatura #caricature #jornal #opovo #jornalismo #illustration #ilustração #editorialcartoon ...

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Carlos Newton

A indicação de Jorge Messias para ocupar a vaga no Supremo Tribunal Federal é mais uma Piada do Ano, no mau sentido. Como jurista, o notório saber de “Bessias”, como é chamado por Dilma Rousseff, não tem a menor notoriedade. 

Como advogado-geral da União, desde o início do atual governo do PT, que começou em 1º de janeiro de 2023, Messias vem praticando prevaricação, porque está se omitindo da obrigação funcional de defender a União na ação em que Lula processa a administração pública federal, alegando ter direito de ficar com as valiosas joias e objetos de arte que recebeu de presente no cumprimento dos dois mandatos presidenciais anteriores.

LEVOU NA MUDANÇA – Todas as peças, avaliadas em mais de R$ 20 milhões, foram levadas na mudança de Lula para São Paulo, que utilizou onze caminhões de Granero, inclusive um veículo climatizado, para levar milhares de garrafas de vinho, transferidas para a adega daquele sítio de Atibaia onde Lula morava, mas não era dele, segundo a Piada do Ano na época.

Desde 2017, Lula está processando a União e o Tribunal de Contas e até hoje a ação não chegou ao final. Na forma da lei, as joias e objetos de arte foram bloqueados pelo então juiz Sergio Moro.

Portanto, o ministro Messias está simplesmente obrigando a AGU a se omitir, deixando de defender a União e o Tribunal de Contas da União. Mas quem se interessa?

ESTÁ OMISSO – O fato concreto é que “Bessias”, em todos esses anos de AGU, ainda não produziu nenhuma petição em defesa da União e, portanto, contra a pretensão de Lula que pretende ficar ilegalmente com os presentes recebidos de outros governantes.

Se o Senado quiser, de fato, rejeitar o nome na vaga aberta no STF, basta citar o artigo 37 da Constituição Federal, Código Penal (prevaricação de servidor público – Código Penal) e o Estatuto do Servidor Público Federal etc. Assim cai a reputação ilibada.

O currículo só é melhor do que o do Toffoli, aquele que recebia ou ainda recebe mesada de R$ 100 mil da esposa advogada, sem declarar ao Imposto de Renda, e que, com despachos oportunistas, está enterrando as condenações de empresários que se refestelaram às custas da população, como registrado em dezenas de milhares de páginas da famosa “Operação Lava Jato”.

HÁ SEIS ANOS… – O mais grave é que o recurso do Lula contra a União Federal e o TCU está tramitando no TFR-3 desde fevereiro de 2020, há quase 6 anos e aguarda julgamento na mesa do desembargador Nery desde março de 2023, ocasião em que o advogado Zanin, defensor de Lula, começou a se desligar do processo, face à sua anunciada indicação para o STF.

Como se vê, tudo por aqui transita fora dos trilhos. Se o Brasil não for um gigante adormecido, com toda certeza é um país que se deixa anestesiar.

Banco Master: fraudes revelam risco moral e deixam conta bilionária para o povo pagar

Charge de Fred Ozanan (Instagram)

Deborah Bizarria
Folha

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central no último mês, ilustra um problema clássico da economia: o risco moral. O episódio acionou o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para o maior ressarcimento de sua história, com estimativa de R$ 41 bilhões em garantias, podendo chegar a R$ 49 bilhões, e 1,6 milhão de credores afetados. Todos nós vamos pagar parte do prejuízo.

Antes da queda, o banco oferecia taxas superiores à média em seus CDBs, em alguns casos 180% do CDI, enquanto concorrentes ofereciam de 100% a 110%, prêmios que, em qualquer mercado, costumam sinalizar problemas. O marketing vinha com a chamada de um “CDB coberto pelo FGC até R$ 250 mil”, transformando o mecanismo criado para proteger poupadores em parte central da estratégia para empurrar o risco de crédito mais alto.

RISCO MORAL – Para entender por que isso gera risco moral, vale voltar ao básico do seguro. No seguro de carro, o motorista sabe que um acidente pode gerar prejuízo grande, mas não conhece a probabilidade de isso acontecer, então paga um valor pequeno para transferir à seguradora a tarefa de medir o risco e concentrar os prejuízos, evitando ficar exposto sozinho a uma perda grande e incerta.

Contudo, quando há informação escondida antes do contrato, surge a seleção adversa. O motorista sabe que é mais arriscado que a média, mas a seguradora não consegue distingui-lo e, ao cobrar um preço “médio”, acaba atraindo os piores riscos. Já quando a informação está nas ações após o contrato, aparece o risco moral. Afinal, uma vez segurado, o indivíduo pode decidir ser menos cuidadoso porque não arca sozinho com o custo.

Se o segurado influencia a probabilidade de perda e o esforço é invisível, oferecer cobertura total distorce incentivos, levando o equilíbrio a incluir franquias e seguro para que o motorista mantenha interesse em evitar o acidente. Cobertura demais reduz cuidado, cobertura de menos deixa pessoas expostas a choques, ou seja, o desenho precisa encontrar um meio-termo entre proteção e responsabilidade.

SEGURO DE DEPÓSITOS – No sistema bancário, o FGC é a versão institucional desse raciocínio. É uma associação privada, financiada pelas próprias instituições financeiras, que funciona como um seguro de depósitos para correntistas e pequenos investidores: garante aplicações como CDB, poupança, LCI e LCA até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ por instituição para proteger quem não tem como acompanhar o risco de cada banco e, principalmente, evitar corridas e o efeito dominó de uma quebra sobre o restante do sistema.

Ao reduzir o medo de perda total em caso de intervenção, o FGC diminui a chance de saques em massa por pânico, que podem arrastar instituições solventes junto com as problemáticas. Mas essa mesma rede de proteção, se combinada com supervisão frouxa, distorce incentivos: bancos se sentem mais à vontade para assumir risco, sabendo que parte das perdas será socializada, e investidores passam a olhar quase só para a taxa, confiando que, se algo der errado, o fundo entra em cena. O desenho da garantia tenta justamente caminhar nesse fio estreito entre conter o contágio financeiro e não alimentar o risco moral.

O caso Master reúne os dois lados do dilema. Para o investidor de varejo, o FGC virou escudo: bastava não ultrapassar R$ 250 mil por CPF para que qualquer taxa parecesse aceitável, reforçado pelo próprio marketing. Para o banco, a combinação de garantia robusta e foco do cliente na sigla FGC viabilizou uma captação agressiva com juros muito acima do mercado.

BUROCRACIA – Quando a música para, a conta não fica só com os “imprudentes”. Quem está dentro do limite deve ser ressarcido, mas enfrenta burocracia e falta de liquidez, enquanto o FGC queima dezenas de bilhões em um único caso e precisa se recompor com contribuições maiores das demais instituições. Pequenos investidores perdem tranquilidade, alguns perdem dinheiro, o fundo perde margem de proteção e o sistema fica mais caro e desconfiado.

O seguro cumpriu o papel de evitar corridas e contágio, mas redistribui ao longo do tempo o custo de decisões sustentadas por busca de taxas fáceis e uso do FGC como argumento de venda. Nos livros, risco moral é quando alguém relaxa porque sabe que não ficará sozinho com o prejuízo; no Master, o relaxamento esteve tanto no investidor quanto no banco, e, quando o risco moral se concretiza, a fatura é dividida por todos que dependem de um sistema bancário funcional.

Prisão de oficiais generais força debate sobre o papel das Forças Armadas

Alcolumbre se sente à vontade para enfrentar e chantagear o governo Lula

As razões confessáveis (e inconfessáveis) para Alcolumbre ir à guerra | Metrópoles

Charge do Aroeira (Brasil 247)

José Peres

A única organização que funciona à perfeição no Brasil é a do crime organizado, com fortes tentáculos nos três Poderes de um regime cada vez menos democrático e menos republicano. Um grande exemplo da inversão de valores é o reinado de Davi Alcolumbre (União-AP) à frente do Senado Federal, uma situação insuportável, que somente se explica devido à ascensão das organizações criminosas.

Conhecido no Amapá como “Batoré”, um dos personagens do programa “A Praça é Nossa”, devido à semelhança fisionômica, Alcolumbre tem pouco estudo, mas aprendeu a fazer política populista e se tornou um senador muito influente, que cria dificuldades para vender caro alguma facilidade momentânea.

FENÔMENO SINISTRO – Com o passar dos anos, Alcolumbre tornou-se um fenômeno sinistro na política, ao fazer com que sua família se tornasse uma das mais ricas do Estado, enquanto ele pressionava sucessivos presidentes a nomearem seus indicados para cargos públicos.

A projeção que Davi Alcolumbre alcançou no plano nacional é a maior demonstração de que a política brasileira enveredou por caminhos estranhos.

Tornou-se um sistema político disfuncional, desproporcional e injusto. E agora quem manda no governo é o rei Davi, que não tem povo, voto nem PIB.

BATENDO DE FRENTE – Neste domingo, o presidente do Senado, perdeu as estribeiras na crise com o Palácio do Planalto e mandou distribuir uma dura nota à imprensa,

No documento, Alcolumbre acusou integrantes do governo de tentar associar a uma suposta negociação de cargos no Executivo as dificuldades de apoio no Congresso à indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para ocupar a vaga existente no Supremo.

 Como Lula preteriu o nome do senador Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado apontou “interferência indevida” no processo envolvendo a análise da indicação pelo presidente Lula e afirmou considerar as insinuações ofensivas “não apenas ao Presidente do Congresso Nacional, mas a todo o Poder Legislativo”.

CLEPTOCRACIA – Vivemos numa cleptocracia, cujo atual presidente foi condenado à prisão por dez magistrados diferentes, em três instâncias e sempre com unanimidade, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, mas em 2019 o Supremo decidiu “reinterpretar a lei” na medida para libertá-lo, preparando o terreno para em 2021 declarar a inocência dele por um erro de endereço.

Infelizmente, não dá para levar isso aqui a sério, gente. Vamos ver se o presidente Lula tem coragem de enfrentar o rei Davi.

Do púlpito ao plenário: Otoni abandona o mito e denuncia o extremismo

Dez anos depois, só duas das 29 sugestões da Comissão da Verdade saíram do papel

STF tem obrigação de aceitar e julgar os recursos apresentados por Bolsonaro

Dos 11 do Supremo, só 2 são juízes concursados – Por José Nêumane | BrasilagroJoão Amaury Belem

O cenário, a meu sentir, concernente ao sistema de justiça pátrio é preocupante, com interpretações que inovam quanto ao cabimento de um importante recurso (embargos infringentes) e tentam inviabilizar o direito fundamental do cidadão de acesso à Justiça, preconizado no artigo 5º, inciso XXXV, da Lei Maior do país.

Estreme de dúvidas, o acesso à Justiça e o direito ao recurso são pilares de sustentação de um Estado efetivamente democrático de Direito. Sendo dessa forma, impedir ou restringir tais garantias, mediante interpretações restritivas como a ora analisada, a meu ver representa um retrocesso no plano dos direitos fundamentais.

CABEM EMBARGOS – O recurso denominado embargos infringentes, previsto no artigo 333, inciso I, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, está vazado nos seguintes termos: “Art. 333. Cabem embargos infringentes à decisão não unânime do Plenário ou da Turma. i – que julgar procedente a ação penal”.

Em caso de divergência entre os ministros do STF, será cabível, em tese, o recurso de embargos infringentes, com o objetivo de que o voto vencido seja reapreciado por um novo colegiado, e eventualmente podendo prevalecer.

É preciso observar que o Regimento Interno do STF, em sua literalidade, não exige um número mínimo de votos vencidos para a interposição do referido recurso. Assim sendo, em princípio, a existência de apenas um voto divergente já seria suficiente para ensejar a revisão do julgamento por outro colegiado da corte.

NOVA ANÁLISE – É preciso registrar que a ausência de instâncias superiores às quais recorrer, a meu ver justifica uma reanálise mais aprofundada do caso, haja vista a divergência de um único ministro que possui notório saber jurídico e Éum dos maiores processualistas do Direito pátrio.

Estamos diante de uma legítima expectativa, a meu sentir, de uma exigência regimental (e constitucional), uma vez que se impõe a observância da literalidade do artigo 333, inciso I, do Regimento Interno do STF que prevê a possibilidade de interposição do recurso de embargos infringentes.

Apenas para argumentar, a 1ª Turma do STF, no julgamento do RHC 242387 AgR – relator: min. Cristiano Zanin – Julgamento: 26/08/2024, para limitar sustentações orais em agravos, invoca a literalidade e até mesmo a constitucionalidade do artigo 131, § 2º, do Regimento Interno do STF. em visível contrariedade à expressa previsão de lei federal (artigo 7º, § 2º-B, da Lei nº 8.906/94).

EXEMPLO INVÁLIDO – Não obstante, quando se trata do cabimento dos embargos infringentes, a interpretação literal do artigo 333, inciso I, do RISTF é desconsiderada, exatamente quando seria a única via compatível com os corolários de um Estado democrático de Direito.

Portanto, deve ser afastada, sob pena de comprometimento da efetividade das garantias fundamentais, qualquer inovação que restrinja indevidamente o cabimento do mencionado recurso.

Ante tais considerações, o recurso previsto no artigo 333, inciso I, do Regimento Interno do STF (embargos infringentes), para fins de cabimento, deve incidir sobre decisão não unânime que julgue procedente a ação penal, independentemente do número de votos vencidos, nos devidos termos da previsão regimental. É como penso juridicamente acerca desse histórico julgamento.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Concordo plenamente com esta análise do advogado carioca João Amary Belém. Realmente, não se pode aceitar que o ministro Alexandre de Moraes faça interpretações livres a respeito do teor das leis, para desrespeitar as mais banais normas do Direito, como os prazos para apresentação de recursos. Isso significa a total esculhambação da Justiça, como sintoma de ditadura e não de regime democrático. (C.N.)

STF libera julgamento de deputados do PL por desvio de emendas

Moraes errou ao coibir direito de defesa alegando uma “boa causa”

Alexandre de Moraes a VEJA: “Não foi baderna. Foi golpe” | VEJA

Moraes descumpriu leis alegando defender a democracia

Fernando Schüler
Estadão

É da tradição autoritária brasileira a ideia de que é justificável a quebra na ordem democrática para salvar a própria democracia. Esta semana assistimos a mais um show do que se tornou um esporte favorito de nosso mundo de opinião. Algo na linha: “foi histórico prender estes golpistas e salvar a democracia. Mas agora chega, né?”. Agora é preciso que as “instituições”, leia-se, o Supremo, voltem a respeitar o beabá do estado de direito.

A argumentação segue um padrão. De início, o elogio à exceção. “Venceu a democracia!”, leio em um texto mais animado. Em seguida, uma bizarra lista de “atropelos” cometidos pelas “instituições” em sua missão salvadora.

ERROS SEM FIM – Inquéritos abertos de ofício, sem sorteio do relator, sem fim ou objeto definido. Investigador, vítima, acusador e juiz na mesma pessoa. Punições com base em tipificações genéricas, penas desproporcionais para quem não praticou violência nenhuma. O julgamento no STF de cidadãos sem foro, não individualização das condutas, censura prévia reiterada. Isso e a morte do Clezão, o brasileiro irrelevante que poderia ter ido para casa, para um hospital, mas caiu morto ali mesmo, no pátio de um presídio, em Brasília.

O resumo da ópera é simples: “ok, você cometeu uma tripa de ilegalidades, mas foi por uma boa causa”. O velho samba-enredo da tradição autoritária brasileira. Guardadas as proporções, foi a arenga do lacerdismo, nos anos 50 e 60. Sempre a ideia de que era justificável a quebra na ordem democrática para salvar a própria democracia.

Ironicamente, a lógica vem de um pedaço da própria direita, elucubrando sobre uma “virada de mesa” para defender a democracia. O que nossos bons herdeiros sugerem é um perfeito falso dilema: ou o golpismo, ou a lógica da exceção.

REGRAS DA DEMOCRACIA – Fazendo isso, escondem o mais essencial: que nossa vitória real teria sido confrontar, investigar e julgar quem agrediu nossa democracia – quem quer que seja – dentro das regras da própria democracia. Pela razão simples de que a exceção é, ela mesma, um tipo de golpismo de baixa fervura.

Os textos da semana são, de fato, uma grande confissão. Algo que me fez voltar à lembrança Raskolnikov, o anti-herói de Dostoievski, em Crime e Castigo. Ele havia matado aquela velha, mas ninguém viu. Mas ele sabia. E de algum jeito, movido pela culpa, precisava falar sobre aquilo. Tagarelar, sugerir, confessar aos pedaços. Andamos um pouco como Raskolnikov, por estes tempos, confessando pecados que muitos aceitaram – e arrisco dizer, gostaram de cometer.

Diferente de Raskolnikov, porém, o apelo de nossos atuais confessores para a volta da normalidade é perfeitamente inócuo. Quando se aceita que é legítimo flexibilizar direitos por uma “boa causa”, o que se está admitindo não é uma mera circunstância, mas um princípio. Um desses que nenhuma democracia liberal deveria aceitar.

O deputado onipresente: Ramagem abastece no Rio mesmo estando fora do país

Militares cobram “volta à normalidade” do STF e se afastam de Bolsonaro

Alto escalão do Exército e integrantes do STF tiveram conversas

William Waack
Estadão

Há uma lição que setores relevantes das Forças Armadas acham que o STF poderia aprender com elas. É a volta à normalidade. Entende-se por normalidade o afastamento dos militares da política, começando pela campanha eleitoral do ano que vem. A concentração em sua missão específica, que é defesa e segurança do País. E a desvinculação com grupos ideológicos de qualquer tipo.

Na ativa, a prisão dos generais foi debatida e digerida muito antes do início das penas. É entendida como fato inevitável, embora os argumentos que levaram à condenação desses altos oficiais tenham sido “de natureza política”, comenta-se nos círculos de comando do Exército.

DESAGREGAÇÃO – Nos escalões superiores, Bolsonaro é visto como um agente de desagregação e destruição da imagem da força. Hoje, a influência do nome entre os oficiais de maior graduação é tida como mínima. E, internamente, o preço principal pela violação das cadeias de comando e hierarquia militares está sendo pago por integrantes de tropas especiais, alguns deles preteridos em promoções.

É bastante diferente a situação na reserva, capaz de fazer bastante barulho mas que não está sendo levada em consideração pelos comandantes atuais. Nem as vozes do que oficiais da ativa em comando chamam de “extrema direita”, ligadas ao bolsonarismo.

Há uma notável mágoa em relação ao STF, sobretudo pela comparação entre o golpe de 1964 e o julgamento de Bolsonaro, presente em alguns votos. Considera-se que a comparação é descabida, e que sucessores de militares que participaram então do movimento (fortemente encaminhado pela sociedade civil, diga-se de passagem) não podem ser escalados hoje como alvos de punições por episódios de 60 anos atrás.

RECADOS – O alto escalão do Exército e integrantes do STF tiveram conversas constantes antes e durante o julgamento. Houve recados específicos, que continuam sendo transmitidos sobretudo em relação ao estado de saúde do General Augusto Heleno – e do próprio Bolsonaro. No geral, o arranjo das prisões para cumprimento de pena vem sendo adjetivado como “satisfatório”.

Os comandantes da ativa chamam a atenção para o fato de que as enormes turbulências na relação entre Brasil e Estados Unidos em nada parecem ter afetado até aqui as importantes ligações entre as respectivas Forças Armadas. Ao contrário, os americanos entregaram há poucos dias o primeiro de uma compra de 11 helicópteros Blackhawk, e confia-se que os demais irão chegando ao longo dos próximos dois anos.

Ouve-se em conversas particulares com oficiais graduados manifestações de alívio pelo fato da instituição não ser um fator político nas próximas eleições. Mas também uma queixa perene em relação ao Judiciário. Quando é que eles voltam ao normal, pergunta-se.

Piada do Ano! Com críticas aos políticos, Huck admite que pode disputar a Presidência

‘Não é sonho, é uma construção’, disse o apresentador

Deu no Terra

O apresentador Luciano Huck não descartou concorrer à Presidência da República. Em entrevista à 70ª edição da Revista Cidade Jardim, o famoso de 54 anos abriu o jogo sobre as especulações de uma possível candidatura.

“A presidência da República não é sonho, é uma construção. O desejo de mudança não é só meu, é de todo um país. O Brasil é um país rico por natureza e pobre por escolha. Há muita gente boa com excelentes ideias e disposta a trabalhar. Não tenho vaidade de protagonista, mas gostaria que a minha geração, lá no futuro, tivesse contribuído para um país menos desigual e que gere oportunidades para todos”, declarou à revista.

EGOÍSMO – Ele explicou que o que o levou a cogitar concorrer foi rodar o país com seus programas e ver de perto os problemas.“Tendo o privilégio de entrar na casa das pessoas, ouvir suas conquistas e dificuldades, seria muito egoísmo me preocupar só com o bem-estar da minha família e não pensar no resto”, declarou.

O apresentador diz que já faz política participando do debate público, buscando ideias e soluções, e que acredita em uma transformação exponencial, mas que para isso, o país precisa qualificar a política e “elevar o sarrafo ético”. “É um trabalho de arquitetura, engenharia e execução”.

Com tradição pró-governo, Senado não barra indicado ao STF há mais de 130 anos