Para ajudar Lula, Supremo inventa uma lei que vale para uns e não vale para outros

Retrocesso na governança das estatais

Charge do Thiago Lucas (Jornal do Commercio)

Rafael Moraes Moura
O Globo

O resultado do julgamento da Lei das Estatais, concluído nesta quinta-feira, mostra que Palácio do Planalto conseguiu ampla adesão do Supremo Tribunal Federal (STF) a seu “plano B” para evitar uma derrota completa na decisão a respeito da liminar que derrubou as restrições a políticos no comando de empresas públicas impostas pela lei.

Conforme antecipou a equipe da coluna, o governo já sabia que não teria o total de seis votos para manter a liminar concedida por Ricardo Lewandowski em março de 2023 que permitiu a nomeação cerca de 58 políticos para a administração de estatais – como por exemplo o ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara, que é presidente do BNB. O número de políticos que seriam afetados pela liminar foi obtido em um levantamento feito pelo Globo.

ALTERNATIVA – Por isso, os articuladores do governo passaram as últimas semanas costurando nos bastidores uma alternativa para conter danos: mesmo que a liminar caísse e as restrições da lei aos políticos fosse considerada válida, o STF poderia preservar as nomeações que já foram feitas nos 14 meses em que a liminar ficou valendo.

Conseguiram. No julgamento desta quinta, o tribunal chancelou a pirueta jurídica que declara a constitucionalidade da Lei das Estatais, mas não derruba as indicações políticas feitas por Lula. Assim, mesmo sem abrir porteira para que “passasse a boiada”, o Supremo deu ao governo o que ele precisava, preservando o loteamento político feito pela administração lulista até aqui.

O pai do “plano B” foi o ministro Dias Toffoli, que decidiu antecipar o voto na sessão de quarta-feira, “furando a fila” da ordem de votação, que segue o critério de antiguidade.

ALEGOU TOFFOLI – “Não é modulação, é questão da boa-fé, todos os atos praticados durante a vigência da liminar, eu entendo hígidos. Então, hoje eu já adianto o meu posicionamento, o meu posicionamento é pela constitucionalidade da lei, mantidas as nomeações ocorridas durante a vigência da liminar”, apressou-se Toffoli, que tem buscado uma reaproximação com Lula.

A proposta ganhou a adesão unânime de todos os integrantes do STF, inclusive os mais entusiasmados defensores da Lei das Estatais, como o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia e o ministro André Mendonça, que abriu a corrente pela validade da legislação, sancionada por Michel Temer em 2016, no auge da Operação Lava-Jato.

“Eu também estou acompanhando a proposta do ministro Dias Toffoli, porque aqui eu levo em consideração o princípio da continuidade do serviço público”, justificou-se Cármen.

TENTOU ADIAR – Antes da conclusão da análise da ação movida pelo PCdoB, o governo Lula até tentou nos bastidores adiar o desfecho da controvérsia para dar tempo de mudar a composição do STF e decidir o processo só depois de substituir a ministra Rosa Weber, que se aposentou em setembro do ano passado, por Flávio Dino, que assumiu o posto em fevereiro.

Em dezembro, quando o julgamento foi marcado e a vaga de Rosa Weber ainda estava aberta, o governo conseguiu que o ministro Kassio Nunes Marques pedisse vista do processo. Kassio foi indicado ao cargo por Jair Bolsonaro, mas vem fazendo acenos a Lula.

A troca de Rosa, mais inclinada a confirmar a validade da Lei das Estatais, por Dino até ajudou o governo, e o ex-ministro da Justiça de Lula votou pela validade da liminar e pela manutenção do loteamento político das empresas públicas, mas mesmo assim não foi suficiente para que a liminar continuasse de pé.

MAGISTRADOS CORRUPTOS – “Não existe canonização por concurso público, e não existe demonização pela participação na política”, disse Dino em sua fala no STF na quarta-feira (8). “É quase algo evidente. Se o concurso santificasse, imunizasse, dando o caráter técnico e não político, não existiriam magistrados corruptos”, disse Dino.

A associação entre a indicação de Dino e a tentativa de derrubar as restrições da Lei das Estatais foi escancarada pelo próprio relator da indicação de Dino ao STF, o senador Weverton Rocha (PDT-MA), durante a sabatina de 13 de dezembro do ano passado. Na ocasião, Weverton sugeriu que o ex-ministro da Justiça foi indicado para o tribunal com o objetivo de permitir a nomeação de políticos para empresas públicas.

Weverton ainda citou nominalmente empresas públicas comandadas por aliados de Lula seriam afetados por uma eventual decisão do Supremo pela constitucionalidade da lei.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Primeira observação: foi um julgamento Piada do Ano, porque a lei vale para alguns, mas não vale para outros. Segunda observação: se continuar falando em “magistrados corruptos”, Flávio Dino vai arranjar um monte de inimigos em Brasília, que é a célula mater da corrupção no Brasil. (C.N.)

Para recuperar popularidade, Lula terá muito trabalho duro pela frente

Governo Lula nega que tenha dispensado ajuda do Uruguai ao Rio Grande do Sul  - ISTOÉ Independente

Lula agora tem de correr atrás do prejuízo nas pesquisas

Bruno Boghossian
Folha

O governo mal conseguiu um diagnóstico completo sobre a queda da popularidade de Lula, mas agora ensaia um suspiro de alívio. Três pesquisas divulgadas nos últimos dias confirmam que a avaliação piorou mesmo. Sugerem também que a queda pode ter sido estancada.

Os dados indicam a consolidação de um quadro cada vez mais comum em levantamentos sobre popularidade presidencial, com um eleitorado dividido em três partes iguais. A pesquisa Quaest desta quarta (8) mostrou que 33% consideram o governo ótimo ou bom, 31% dizem que ele é regular e 33% classificam a gestão como ruim ou péssima.

SOBE E DESCE – Em agosto de 2023, a avaliação positiva de Lula estava em 42%, e a negativa era de 24%. As linhas se aproximaram ao longo dos meses, se tocaram em fevereiro e permaneceram praticamente estáveis desde então.

O mais urgente para o governo era evitar que o derretimento se prolongasse. Aí estão os primeiros indícios de que isso ocorreu, ainda que alguns pontos mostrem que o cenário para a recuperação da popularidade de Lula não será tão simples.

A Quaest contou mais eleitores dizendo que o país está no caminho errado (49%) do que no caminho certo (41%). Além disso, chegou a 63% o percentual de entrevistados que dizem que Lula “não tem conseguido” fazer o que prometeu. São questões importantes porque indicam um desânimo que pode estar presente até para quem votou no petista.

INFLAÇÃO DE VOLTA – A pesquisa também reforçou uma percepção generalizada de alta nos preços dos combustíveis, dos alimentos e da energia. Significa que, apesar do aumento do emprego, o trabalhador sente um peso na hora de fazer compras e pagar contas.

Um terceiro ponto indica uma quantidade grande de entrevistados estacionados na faixa de avaliação regular. Este grupo inclui eleitores da oposição, uma oportunidade para pescar aqueles que não consideram o governo ruim.

Por outro lado, também estão ali eleitores de Lula que ainda não veem resultados suficientes para uma avaliação positiva.

Eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes no país, alertam cientistas

Enchentes no RS: número de mortes sobe para 83; chuva deve | Geral

É uma tragédia anunciada, que se repete sem maior reação

Deu em O Globo
Agência FP

Enchentes históricas, incêndios florestais recordes, ondas de calor sem precedentes, secas: os eventos extremos se multiplicam e se tornarão mais frequentes no Brasil, alertam os especialistas. O pior desastre climático da história do Rio Grande do Sul deixou mais de 100 mortos e devastou a economia desse estado agrícola, que levará meses ou inclusive anos para se recuperar, segundo as autoridades, que falam da necessidade de um “plano Marshall” de reconstrução.

Outras tragédias atingiram o Brasil recentemente. No ano passado, o país registrou 1.161 desastres naturais, mais de três por dia, em média. É um recorde desde que os registros começaram em 2011, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

VULNERABILIDADE – A própria geografia brasileira explica em parte esta vulnerabilidade, com regiões que inundam no sul e outras que sofrem repetidos períodos de seca, como a região semiárida no leste. O fenômeno natural do El Niño também tem impacto.

Mas devido ao aquecimento progressivo do planeta, os eventos extremos ou raros “estão cada vez mais frequentes e mais extremos e é de esperar que isto continue”, disse à AFP José Marengo, coordenador de pesquisa do Cemaden.

“As mudanças climáticas não estão mais sob discussão em uma pesquisa científica. Elas saíram dos livros e viraram realidade”, disse à AFP Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, que é composto por mais de uma centena de organizações ambientalistas e de pesquisa.

MORTES E PREJUÍZOS – As chuvas extremas no Brasil no ano passado causaram pelo menos 132 mortes e mais de 9 mil feridos, enquanto cerca de 74 mil pessoas perderam suas casas, segundo o Cemaden. Os danos materiais foram estimados em mais de 5 bilhões de reais.

No Rio Grande do Sul, o balanço provavelmente será pior do que em todo o ano de 2023: o saldo preliminar das enchentes informa 107 mortos e 136 desaparecidos. O número de afetados e os prejuízos econômicos ainda são incalculáveis. Nos últimos anos, as enchentes atingiram também a cidade de Recife (Pernambuco) e os estados de Minas Gerais e Bahia.

Essas chuvas extremas no sul da América do Sul têm sido uma previsão recorrente dos modelos climáticos há décadas, segundo o Observatório, e esta informação é “ignorada pelos sucessivos governos estaduais”, lamentou Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas da plataforma.

ADAPTAÇÃO – “Enquanto não se entender a relevância da adaptação, essas tragédias vão continuar acontecendo, cada vez piores e mais frequentes”, frisou Araújo.

Há também incêndios e desmatamentos. As emissões de dióxido de carbono para o meio ambiente são as principais responsáveis pelo aquecimento global. A redução das florestas devido ao desmatamento para expansão das atividades agrícolas reduz a capacidade de absorção desses gases de efeito estufa.

Entre janeiro e abril, foram registrados mais de 17 mil incêndios florestais, mais da metade deles na região amazônica, onde aumentaram 153% em um ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O dever de casa é claro. Combater o desmatamento com todas as forças, botar essa gente na cadeia, mostrar que o Estado é forte. Além disso, desassorear rios e lagoas, abrir canais para áreas de escape das águas, proibir construções em vales e locais inundáveis. Mas quem se interessa? (C.N.)

Ataques de Musk contra Moraes elevam as críticas ao Supremo nas redes sociais

Comitiva bolsonarista acompanha o deputado republicano Chris Smith em frente ao Capitólio

Comitiva bolsonarista esteve no comitê da Câmara dos EUA

Ana Luiza Albuquerque
Folha

As acusações de Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes levaram à disparada de ataques ao Judiciário nas redes sociais, segundo levantamento do instituto Democracia em Xeque.

No mês passado foram 70 milhões de interações no Facebook, Instagram e YouTube a respeito das cortes judiciais. O número chegou a ultrapassar os 60 milhões observados em outubro de 2022, em meio às eleições presidenciais.

Desde então, as interações e publicações sobre o tema diminuíram e houve um período de estabilidade –interrompido pelo embate entre Musk e o ministro.

EXTREMA-DIREITA – As interações foram, em sua maioria, de contas de extrema direita, segundo critérios do instituto. O grupo promoveu mais de 15 milhões de interações de 5 a 11 de abril, quando Musk intensificou o embate com Moraes, em comparação a 2 milhões alimentadas por contas consideradas progressistas.

No início de abril, Musk prometeu “derrubar restrições” no X impostas por Moraes e disse que o ministro deveria renunciar ou sofrer impeachment.

Dias antes, o ativista e jornalista americano Michael Shellenberger havia divulgado o que ele chama de “Twitter Files Brazil” – emails de funcionários da plataforma que, segundo ele, reforçam a narrativa de que as altas cortes brasileiras estariam promovendo censura.

NO CAPITÓLIO – No dia 17 de abril, uma comissão do Congresso dos EUA publicou uma série de decisões sigilosas de Moraes sobre a suspensão ou remoção de perfis nas redes sociais. O material foi obtido a partir de intimação parlamentar feita ao X.

No relatório, os pesquisadores do Democracia em Xeque afirmam que esses eventos pautaram o debate online sobre o tema, arrastando para a discussão ecossistemas digitais progressistas e de centro, assim como grande parte dos formadores de opinião e da mídia.

O instituto Democracia em Xeque avalia que a extrema direita mudou seu objetivo com a narrativa propalada no sistema digital. Se em 2022 o grupo desejava minar a confiança no sistema eleitoral e estimular a população a rejeitar o resultado das urnas, os pesquisadores afirmam que agora os extremistas querem minar a condução do devido processo legal, evitando a responsabilização dos investigados no inquérito das fake news e pelos ataques às instituições no 8 de janeiro.

NÃO ERA ESPERADO – “[O levantamento] surpreendeu muito porque em 2022 já havia um número muito grande [de interações]”, diz Ana Julia Bernardi, diretora de projetos no instituto.

“Levanta também todo o debate sobre a necessidade de regulação das plataformas. [Chama a atenção] como Elon Musk questiona a soberania do Judiciário, da própria eleição brasileira, e isso gera tanto engajamento e volume.”

Os eventos envolvendo o X e o STF nos últimos meses estimularam a direita bolsonarista a reforçar a narrativa de perseguição judicial.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
São duas facções em confronto. Cada um usa as armas de que dispõe. O ministro Alexandre de Moraes abriu a guarda, ao exerceu censura de moto próprio, sem queixa judicial, processo e defesa do suposto infrator. O nome disso é censura, não adianta disfarçar. Não custava nada Moraes obedecer às leis. O resultado é esse escândalo, que mancha a imagem do país. (C.N.)

Moro começa a ser julgado pelo TSE na quinta-feira, com Moraes presidindo

Alexandre de Moraes - Wikiquote

Moraes são sossega enquanto não cassar Sérgio Moro

Daniel Gullino
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcou para os dias 16 e 21 de maio o julgamento de duas ações que pedem a cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-RJ). No mês passado, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) absolveu Moro das acusações, mas houve recurso.

O relator das ações, Floriano Marques, liberou-as para julgamento nesta quinta-feira. Em seguida, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, incluiu os processos na pauta já da próxima semana.

FINAL DE GESTÃO – Esse deve ser um dos últimos julgamento da gestão de Moraes no TSE, já que o ministro deixa o tribunal no próximo mês. Ele será substituído por André Mendonça, o que deve mudar a correlação de forças na Corte eleitoral. Como O Globo mostrou, na avaliação de integrantes do tribunal, a troca tornaria a composição mais favorável a Moro, mas ele será julgado antes.

Sergio Moro é acusado de abuso de poder econômico nas eleições de 2022. Em parecer apresentado na semana passada, o Ministério Público Eleitoral defendeu a absolvição do senador, ao contrário do que ocorreu no TRE-PR, quando o parecer foi favorável. Uma das ações foi apresentada pela federação do PT e a outra pelo PL.

No dia do julgamento, primeiro as partes — acusação e defesa — apresentarão suas alegações finais, e depois será a vez do parecer do Ministério Público. Em seguida, o relator vota, seguido pelos demais ministros.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes vai fazer o possível e o impossível para condenar Sérgio Moro, como fez para cassar Deltan Dallagnol, cuja acusação era tão fraca que ele nem perdeu os direitos políticos. O motivo será o mesmo – “presunção de culpa”, uma figura jurídica que só existe no Brasil. Nos demais países democráticos é o contrário, o que existe é “presunção de inocência”, uma das mais importantes doutrinas do Direito Universal. (C.N.)

Preocupado com queda de popularidade, Lula vai para mais um difícil teste no Sul

Lula diz que “não persegue nenhum governador ou prefeito” e promete nova  visita ao RS

Lula diz que não persegue nenhum governador ou prefeito

William Waack
Estadão

Nascido em grande medida do repúdio do eleitorado ao candidato adversário, o governo Lula 3 continua tendo grandes dificuldades para entender a razão do que ele mesmo descreve como problema de popularidade. É o próprio Lula.

O presidente tem desconcertado aliados históricos e velhos companheiros de jornada pela morosidade com que joga num campo onde sempre se considerou o maior craque, o da articulação e negociação políticas. Talvez ainda não consiga compreender o quanto esse campo mudou – além das regras do jogo.

PERCEPÇÃO DOS FATOS – Além disso, Lula 3 sofre de maneira cada vez mais acentuada com um fenômeno clássico da política, que é o da percepção dos fatos. Em grande parte do público ela não tem sido aquela que o governo esperava em relação a dados da economia, emprego e, principalmente, preços e impostos.

Imperam os “sentimentos” de que está tudo caro e a economia parada. E não a leitura racional de números tidos como fatos auspiciosos. O “agora vai” que pudesse ter motivado mais gente além do eleitorado fiel a Lula foi substituído pelo “agora vai para onde?”, que é um sentimento de dúvida sobre o futuro.

Vale o mesmo até para a percepção da reação do governo à imensa catástrofe no Rio Grande do Sul. Não ajudam governo algum, muito menos o de Brasília, as emoções trazidas pela percepção de que “desamparo” é uma sensação ligada a governos e órgãos públicos, enquanto a de “união e solidariedade” surge exclusivamente do esforço de milhares de cidadãos anônimos.

SEM REAÇÃO – Tragédias dessas proporções expõem o despreparo tradicional do poder público quando se trata de planejamento e esgarçam ao extremo sua capacidade de reação limitada por falta de recursos humanos e materiais.

Escancaram todo tipo de vulnerabilidade, incluindo as fiscais, ou seja, causa uma enorme preocupação o esforço suplementar imposto aos cofres públicos para enfrentar esse tipo de emergência – e o socorro é imperativo, não importa o que custe.

A extensão da catástrofe é de tal ordem a ponto de ter impedido até aqui o surgimento de um “comandante”, de uma instância “central” capaz de avaliar, coordenar, dirigir – o próprio governo do Estado fica pequeno diante do tamanho da destruição e das dificuldades que já se antecipam por prazos bem longos.

LONGE DEMAIS – Enquanto isso, Brasília – de novo, uma questão de percepção – parece tão distante, não importam as expressões compungidas das principais figuras do mundo político (incluindo do STF) sobrevoando áreas alagadas.

Situações complexas como a atual, cuja essência está nas emoções e no subjetivo da política, agravadas por uma tragédia, não são apenas um dificílimo teste de popularidade para o personagem político Lula.

O verdadeiro teste é o da sua estatura.

EUA e Arábia Saudita costuram acordo para pacificar Israel e Palestina

Tanques israelenses em área ocupada na fronteira de Gaza

Thomas L. Friedman
Folha/NWTimes

A diplomacia dos EUA para encerrar a guerra na Faixa de Gaza e forjar uma nova relação com a Arábia Saudita tem convergido nas últimas semanas em uma única escolha gigantesca para Israel e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu: O que você quer mais: Rafah ou Riad?

Você quer lançar uma invasão em larga escala de Rafah para tentar acabar com o Hamas —se isso for possível— sem oferecer qualquer estratégia de saída israelense de Gaza ou qualquer horizonte político para uma solução de dois Estados com palestinos não liderados pelo Hamas? Se você seguir por esse caminho, só irá agravar o isolamento global de Israel e forçar uma verdadeira ruptura com o governo Biden.

Ou você quer a normalização com a Arábia Saudita, uma força árabe de paz para Gaza e uma aliança de segurança liderada pelos EUA contra o Irã? Isso viria com um preço diferente: um compromisso do seu governo de trabalhar rumo a um Estado palestino com uma Autoridade Palestina reformada —mas com o benefício de inserir Israel na mais ampla coalizão de defesa de que o Estado judeu já desfrutou e a maior ponte com o restante do mundo muçulmano que Israel já recebeu, ao mesmo tempo em que cria ao menos alguma esperança de que o conflito com os palestinos não será uma “guerra eterna”.

ÚLTIMA ESCOLHA – Esta é uma das escolhas mais fatais que Israel já teve que fazer. E o que acho tanto perturbador quanto deprimente é que não há nenhum líder israelense importante hoje na coalizão governante, na oposição ou no meio militar que esteja ajudando consistentemente os israelenses a entender essa escolha — ser um pária global ou um parceiro do Oriente Médio — ou explicando por que deveriam escolher a segunda opção.

No início da guerra, líderes militares e políticos israelenses diriam que líderes árabes moderados queriam que Israel eliminasse o Hamas, um desdobramento da Irmandade Muçulmana detestado por todos os monarcas árabes. Claro, eles gostariam que o Hamas desaparecesse —se isso pudesse ser feito em algumas semanas com poucas vítimas civis.

Agora está claro que não pode ser feito, e prolongar a guerra não está nos interesses dos Estados árabes moderados, especialmente da Arábia Saudita.

O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL – Das conversas que tenho tido aqui em Riad e em Washington, eu descreveria a visão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman sobre a invasão israelense de Gaza hoje da seguinte forma: saia o mais rápido possível.

Tudo o que Israel está fazendo neste momento é matar cada vez mais civis, desapontando sauditas que apoiavam a normalização com Israel contra ela, criando mais recrutas para a al-Qaeda e o grupo Estado Islâmico, fortalecendo o Irã e seus aliados, fomentando instabilidade e afastando investimentos estrangeiros muito necessários desta região.

A ideia de eliminar o Hamas “de uma vez por todas” é um devaneio, na visão saudita. Se Israel quiser continuar a fazer operações especiais em Gaza para atingir a liderança, sem problemas. Mas sem soldados permanentemente no terreno. Por favor, chegue a um cessar-fogo total e à libertação de reféns o mais rápido possível e concentre-se em vez disso no acordo de segurança-normalização EUA-Arábia Saudita-Israel-Palestina.

NOVO CAMINHO – Essa é a outra estrada que Israel poderia tomar agora —aquela que nenhum líder importante da oposição israelense está defendendo como prioridade máxima, mas aquela pela qual o governo Biden e os sauditas, egípcios, jordanianos, bahreinitas, marroquinos e emiradenses estão torcendo. O sucesso dela está longe de ser garantido, mas também não é a “vitória total” que Netanyahu está prometendo.

Essa outra estrada começa com Israel abrindo mão de qualquer invasão militar total de Rafah, que fica bem na fronteira com o Egito e é a principal rota pela qual a ajuda humanitária entra em Gaza por caminhões. A área abriga mais de 20 mil residentes permanentes e agora também mais de 1 milhão de deslocados do norte de Gaza. É também onde se diz que estão os últimos quatro batalhões do Hamas e, talvez, seu líder Yehia Sinwar.

O governo Biden tem dito publicamente a Netanyahu que ele não deve se envolver em uma invasão em larga escala de Rafah sem um plano crível para retirar esses mais de 1 milhão de civis do caminho —e que Israel ainda não apresentou tal plano. Mas, em privado, estão sendo mais diretos e dizendo a Israel: nenhuma invasão maciça de Rafah, ponto final.

Passagem de Rafah, entre Gaza e Egito, tem fila de caminhões com ajuda humanitária de um lado e refugiados de outro

O MESMO ERRO -Autoridades dos EUA estão convencidas de que se Israel agora destruir completamente Rafah, depois de ter feito o mesmo com grandes partes de Khan Yunis e da Cidade de Gaza, e não tiver um parceiro palestino crível para aliviá-lo do fardo de segurança de governar uma Gaza destroçada, estará cometendo o tipo de erro que os Estados Unidos cometeram no Iraque e acabará lidando com uma insurgência permanente em cima de uma crise humanitária permanente.

Mas haveria uma diferença fundamental: os EUA são uma superpotência que poderia falhar no Iraque e se recuperar. Para Israel, uma insurgência permanente em Gaza seria paralisante, especialmente sem amigos restantes.

E é por isso que autoridades dos EUA me dizem que se Israel realizar uma grande operação militar em Rafah, apesar das objeções da administração, o presidente Joe Biden consideraria restringir certas vendas de armas para Israel.

TRÊS PROJETOS – Isso não é apenas porque o governo Biden quer evitar mais vítimas civis em Gaza por motivos humanitários, ou porque isso inflamaria ainda mais a opinião pública global contra Israel e tornaria ainda mais difícil para a equipe de Biden defender Israel.

É porque a administração acredita que uma invasão israelense em larga escala de Rafah minaria as perspectivas de uma nova troca de reféns, para a qual autoridades dizem que agora há algumas novas esperanças, e destruiria três projetos vitais nos quais tem trabalhado para melhorar a segurança de longo prazo de Israel.

O primeiro é uma força de paz árabe que poderia substituir as tropas israelenses em Gaza, para que Israel possa sair e não ficar preso ocupando Gaza e a Cisjordânia para sempre. O segundo é o acordo diplomático entre EUA, Israel, Palestina e Arábia Saudita que a administração está perto de finalizar os termos com o príncipe herdeiro saudita. E por último, os EUA reuniriam Israel, Arábia Saudita, outros Estados árabes moderados e aliados europeus em uma única arquitetura de segurança integrada para combater as ameaças de mísseis iranianos da mesma forma que fizeram quando o Irã atacou Israel em 13 de abril.

A ESCOLHA É SUA – A equipe de Biden quer concluir a parte EUA-Arábia Saudita do acordo para poder agir como o partido de oposição que Israel não tem no momento e ser capaz de dizer a Netanyahu: “você pode ser lembrado como o líder que presidiu a pior catástrofe militar de Israel no 7 de Outubro ou como o líder que tirou Israel de Gaza e abriu o caminho para a normalização entre Israel e o Estado muçulmano mais importante. A escolha é sua”. E quer oferecer essa escolha publicamente para que todo israelense possa ver.

Então, deixe-me terminar onde comecei: os interesses de longo prazo de Israel estão em Riad, não em Rafah. Claro, nenhum dos dois é garantido, e ambos têm riscos. E sei que não é tão fácil para os israelenses ponderá-los quando tantos manifestantes globais hoje estão criticando Israel por seu mau comportamento em Gaza e dando carta branca ao Hamas.

Mas é para isso que os líderes servem: para argumentar que o caminho para Riad tem um retorno muito maior no final do que o caminho para Rafah, que será um beco sem saída em todos os sentidos da palavra. Eu respeito totalmente o fato de que os israelenses é que terão de conviver com a escolha. Só quero garantir que eles saibam que têm uma.

Por que ainda não existe um sistema para lidar com desastres da natureza?

Petrópolis: sobe para 104 o número de mortos pelo temporal - País - Diário  do Nordeste

Em Petrópolis, há dois anos, houve mais de 240 mortos

J.R. Guzzo
Estadão

Nem o governo federal e nem o governo estadual têm qualquer tipo de culpa pelas enchentes que têm causado tanta destruição no Rio Grande do Sul – está acima de suas possibilidades, apesar de toda a atual demanda por providências oficiais contra a “crise climática”, assinar portarias para manter as chuvas e o nível dos rios dentro do que é meteorologicamente correto.

Não faz sentido, da mesma forma, indignar-se contra a ministra do Planejamento quando ela diz que o dinheiro da prometida ajuda federal aos gaúchos não será entregue agora. Como poderia ser? Para onde, mais exatamente, ela teria de enviar as verbas?

PARA QUEM? – Para fazer o quê? Há 400 municípios atingidos, centenas de milhares de vítimas e todo tipo de desastres diferentes. Enquanto não houver um mínimo de clareza sobre as prioridades e sobre as maneiras mais eficazes de aplicar os recursos, não adianta ficar transferindo dinheiro de um lado para outro.

Se os governos atuais não podem ser responsabilizados pela tragédia, o Estado brasileiro e toda a ideologia que vem junto com ele são culpados, sim, pelos seus efeitos. Na verdade, são os principais culpados.

Como se explica que não haja, nem no Rio Grande do Sul e nem em lugar nenhum do Brasil, um sistema decente de precauções públicas para lidar com os desastres da natureza?

É INEVITÁVEL – É certo que as calamidades virão, mais cedo ou mais tarde – sobretudo nos lugares aonde vêm sempre. Mas os mandarins do Estado, entre uma calamidade e outra, têm se mostrado flagrantemente incapazes de fazer as obras necessárias para reduzir a extensão dos danos, ou até evitar parte deles.

Pior: muitas vezes fazem as obras erradas que, por essas coincidências da vida, costumam ser também as mais caras. Aí a chuva não tem culpa nenhuma.

No caso do Rio Grane do Sul, é obvio que a máquina pública não faz, ano após anos, o que deveria ser feito. Também não tem a menor ideia do que fazer depois que a calamidade acontece.

OCORREU ANTES – Em 1941, o mesmo Rio Grande sofreu uma catástrofe comparável à essa de agora. Não se falava, então, na “crise climática”. Hoje não se fala de outra coisa, mas o fato é que já se passaram mais de 80 anos e a população continua sendo castigada exatamente do mesmo jeito.

Obviamente, os milhares de peixes graúdos que mandaram no Estado brasileiro de lá para cá não fizeram um mínimo daquilo que tinham a obrigação de fazer. É duvidoso que venham a fazer depois que o assunto sumir das manchetes. As hienas de sempre, que já estão rondando essa nova oportunidade, vão se dar bem mais uma vez. Os gaúchos vão ficar com as suas vidas, as suas propriedades e o seu futuro perdidos.

Há apenas dois anos atrás, em 2022, a cidade e a região vizinha a Petrópolis, no Rio de Janeiro, foram devastadas pelas chuvas. Morreram, então, mais de 240 pessoas – o dobro das vidas perdidas até agora no Rio Grande do Sul. Nunca mais se ouviu falar de Petrópolis. É possível que nunca mais se ouça falar da tragédia gaúcha.

Novo penduricalho indica como o custo da magistocracia turbina o custo Brasil

Por que os penduricalhos do Judiciário não estão sendo, e nunca são,  debatidos?” | ASMETRO-SIConrado Hübner Mendes
Folha

Bom magistocrata opera em silêncio. Atua na política juris-clientelista à maneira do centrão. Barganha a portas fechadas. Evita a armadilha de argumentar em público na defesa de privilégios. Argumentos, afinal, supõem referência plausível ao bem comum, alguma aparência republicana. Precisa ser crível à inteligência média. Desmandos não costumam passar no teste, mesmo que se imponham pela força.

O manifesto da dignidade magistocrática, divulgado semana passada, foi desabafo do bom magistocrata. Deixou escapar revelação de profunda sinceridade: “Não somos servidores públicos”.

EVENTO PEDAGÓGICO – Para quem não entendeu a síntese do ethos magistocrático, três juízes deram exemplos nos últimos dias. Quando juiz desobedece a cartilha do silêncio e tenta argumentar, um grande evento pedagógico acontece. E nos ilumina.

Torres Garcia, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, vê a perspectiva de ressuscitar o quinquênio a juízes “com grande satisfação”. Explicou ao jornal O Globo: “Não podemos comparar salário de magistrado com salário de trabalhador desqualificado. A magistratura está aberta a todos, basta prestar concurso e ser aprovado.”

O desembargador enxerga a fibra moral do juiz bandeirante: “A responsabilidade de um magistrado é decidir sobre a vida, a liberdade, o patrimônio de uma pessoa. É uma garantia para a sociedade o magistrado bem remunerado. O magistrado mal remunerado poderá estar sujeito a corrupção.”

SERIA CORRUPTO – Ou seja, não fosse bem remunerado, seria corrupto. Não recebesse já o mais alto salário do Estado e não forjasse verbas indenizatórias para fraudar o teto constitucional, a magistratura agora precisa de aumento quinquenal. Como se, em virtude dessa fraude, a corrupção institucional já não se incrustasse na folha de pagamento. Como se a ilegalidade não fosse vertida em legalidade apenas por quem dela se beneficia.

Como se a magistratura estivesse aberta a todos, exceto os desqualificados. Como se todo juiz bandeirante fosse um hiper-qualificado que sacrificou chance de ser advogado milionário em prol de missão cívica.

O quinquênio não tornaria ninguém milionário, mas, só entre 2017 e 2024, Torres Garcia teve rendimentos líquidos de R$ 4.479.250 (segundo Bruno Carazza, autor de “O País dos Privilégios”). Multimilionário, talvez.


MINÚSCULA ELITE
– Um magistocrata olha sua conta bancária e se compara com uma minúscula elite da advocacia empresarial. E omite o raciocínio orçamentário. O Judiciário brasileiro custa R$ 160 bilhões por ano, 1,6% do PIB (países ricos gastam em média 0,3%, países emergentes 0,5%). Nosso funcionalismo tem 11 milhões de servidores (10% na União, 20% nos estados, 70% em municípios). Representa 12,4% dos trabalhadores do país (menos que os Estados Unidos, com 12,6%, bem menos que a média europeia, com 20%).

Gabriela Lotta, da FGV, organiza outros dados: metade dos 11 milhões de servidores recebe menos que R$ 3.400 por mês. O 1% do topo ganha acima de R$ 27 mil. A aprovação do quinquênio custará R$ 40 bilhões e beneficiará os 38 mil do topo que já recebem o maior salário. Pelo critério do tempo de trabalho, não competência. O Bolsa Família custa R$ 160 bilhões por ano. Beneficia 21 milhões de famílias.

Faça as contas do descalabro. E descubra que, quando falam em “custo do funcionalismo público”, querem dizer custo da magistocracia contra redução de desigualdades entre servidores públicos. Os “desqualificados” que atendem a cidadania nos campos da segurança, saúde, educação, desastre climático.

FARRA DO BOI – Mas não foi só Torres Garcia. Ministros de cortes superiores se juntaram à advocacia lobista em eventos privados sem acesso à imprensa na Europa, patrocinados por empresas brasileiras com causas no STF.

Criticado, Dias Toffoli cometeu um bonito raciocínio lógico: “É o tribunal que, no ano passado, tomou colegiadamente mais de 15 mil decisões. Então, essas matérias são absolutamente inadequadas, incorretas e injustas.”

Gilmar Mendes comoveu: “Posso falar por mim. Não recebo cachês, viagens normalmente são pagas por quem convida. A gente faz isso e continua trabalhando. Ontem mesmo participei da sessão do STF a distância.”

PRIORIZOU O CONTRÁRIO

Entre participar de congresso com empresários a distância e de sessão do STF no Brasil, o decano dos ministros priorizou o contrário. Afinal, ar europeu, não goiano. E vê falta de educação em perguntar quem paga.

“Convidou e pagou, eu vou, vem você também”, ironizou Gilmar Mendes.

Contra servidores públicos, contra o serviço público, contra o interesse público, contra a ética pública, a magistocracia opera em silêncio. Quando sai do silêncio, educa.

Musk anuncia doação de mil antenas da Starlink ao Rio Grande do Sul

UpdateCharts on X: "Elon Musk se prontifica a disponibilizar sinal de Wi-Fi GRÁTIS no Rio Grande do Sul após vídeo de Giselle Bündchen pedindo ajuda. https://t.co/RPuvmH95yv" / X

Elon Musk recebeu o apelo de Giselle e o retransmitiu

Deu no iG Tecnologia

O bilionário Elon Musk usou as redes sociais para anunciar, nesta quinta-feira (9), a doação de mil antenas da Starlink, sua empresa de internet via satélite, para colaborar com o trabalho das equipes de resgate junto às vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul.

Além disso, Musk disse todos os terminais da região poderão ser usados gratuitamente até a recuperação do estado.

“Em razão das terríveis enchentes no Rio Grande do Sul, a Starlink doará 1 mil terminais para as equipes de emergência e tornará gratuito o uso de todos os terminais da região até que a região se recupere”, escreveu na rede social X (antigo Twitter), da qual é o dono, ao compartilhar um vídeo da supermodelo gaúcha Gisele Bündchen sobre a tragédia no estado.

O bilionário também prestou solidariedade: ”Desejo o melhor para as pessoas no Brasil”.

DISSE GISELE – No vídeo, a modelo pede ajuda internacional ao Rio Grande do Sul.

“Meu estado natal, no Rio Grande do Sul, no Brasil, teve a pior tragédia de sua história. Fortes chuvas inundaram cidades inteiras. Na maior parte do estado, não é uma ou duas cidades, são mais de 350”, afirmou Gisele Bündchen.

“As pessoas não estão apenas perdendo suas casas, seus empregos, estão perdendo tudo. E há muitos ainda a serem resgatados”, continuou. “Ninguém estava pronto para essa devastação. Cidades estão isoladas, estradas e pontos, destruídas.”

“As pessoas não têm eletricidade, [estão] sem água limpa para beber. E muitos foram separados de seus entes queridos. E o mais triste é que muitas vidas foram perdidas. É doloroso, é de partir o coração. Então, por favor, junte-se a mim na tentativa de ajudar. Faça doações e ajude da maneira que puder”, concluiu.

PEDIDO DE FARIA – Segundo o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, foi a partir de um pedido, feito ontem à noite, de Fábio Faria, ex-deputado, ex-ministro das Comunicações de Jair Bolsonaro e atual diretor do BTG, Fabio Faria, que Elon Muskdecidiu doar mil terminais da Starlink e uso gratuito de internet em seus terminais até que o Rio Grande do Sul se recupere da tragédia das enchentes. O anúncio da doação foi feito há pouco.

Faria havia sido contatado ontem por um diretor da Anatel e por autoridades do governo gaúcho com pedidos neste sentido para a Starlink, empresa que oferece internet de banda larga de alta potência, mesmo em regiões mais remotas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Importante a matéria enviada por Armando Gama. É uma tragédia que ultrapassa as fronteiras do Rio Grande do Sul e do Brasil. De onde vier a ajuda, será bem-vinda. O importante é que os Correios mantenham a gratuidade do envio de ajuda pelo tempo que for necessário. Aliás, é para isso que existem as estatais – para alcançar importantes resultados sociais, e não para simplesmente apresentar lucros financeiros.  (C.N.)

Ajuda ocidental permite que Ucrânia suporte a guerra, sem condições de vencer

Com o dinheiro, Ucrânia comprará mais armas e munições

Ian Bremmer
Folha/Eurasia

Washington finalmente agiu para oferecer nova ajuda à Ucrânia. O apoio militar adicional para a Ucrânia foi motivo de debate por meses no Congresso dos Estados Unidos. No final, o presidente da Câmara, Mike Johnson, levou a questão a votação, a proposta foi aprovada por uma margem de 311 a 112, e novas armas e dinheiro americanos estão a caminho da Ucrânia. O plano acordado também prevê gastos com segurança para Israel e Taiwan, mas é os quase US$ 61 bilhões para a Ucrânia que farão a maior diferença no curto prazo.

PAGAR MUNIÇÕES – Esse dinheiro ajudará a Ucrânia a pagar por munições do sistema de defesa aérea Patriot, munições de artilharia, drones, armas contra drones e mísseis que podem ser disparados de aviões de combate. É o primeiro envio de dinheiro para a Ucrânia autorizado pelo Congresso desde dezembro de 2022 e o maior pacote de ajuda única que Kiev receberá desde o início da guerra.

Alguns dos sistemas de armas e munições já estão chegando às linhas de frente. Os EUA também ajudaram de outras maneiras. Mesmo antes de a ajuda ser aprovada, o Pentágono silenciosamente enviou um novo sistema de mísseis de longo alcance para a Ucrânia, que suas tropas rapidamente usaram contra uma base aérea russa na Crimeia e tropas russas na região de Donbass.

Menos comentado é um elemento do novo pacote que ajuda a Ucrânia e prejudica financeiramente a Rússia. A chamada Lei de Reconstrução da Prosperidade Econômica e Oportunidade para os Ucranianos, incorporada ao pacote de ajuda maior, permite que o governo de Joe Biden apreenda ativos estatais russos congelados nos EUA e os utilize para ajudar a Ucrânia.

PRECISA DE APOIO – Antes de dar luz verde a isso, Biden quer ter certeza de que os aliados europeus e outros membros G7 estão de acordo. Se concordarem que a ação é legal sob o direito internacional, isso poderia significar mais US$ 5 bilhões em ajuda para a Ucrânia retirados diretamente dos ativos do banco central russo.

Enquanto isso, a União Europeia já está reservando lucros extraordinários gerados a partir dos ativos russos congelados na Europa, o que poderia dar à Ucrânia mais € 3 bilhões por ano.

A Ucrânia precisava dessa ajuda. Dezesseis meses de inação do Congresso deixaram suas forças exaustas com falta de munições de artilharia e defesa aérea necessárias para deter os avanços recentes da Rússia ao longo das linhas de frente e seus ataques com drones e mísseis contra cidades ucranianas.

A RÚSSIA AVANÇA – Essa escassez permitiu que as forças russas conquistassem cerca de 350 km² de território ucraniano nos últimos quatro meses, incluindo a cidade estrategicamente valiosa de Avdiivka em fevereiro.

O medo de que a Rússia estivesse se preparando para uma grande ofensiva por mais território ucraniano levantou o espectro, em Kiev e em Washington, de que um grande avanço poderia deixar a Ucrânia à beira da derrota militar até o final deste ano.

Essa última onda de apoio material dos EUA torna isso muito menos provável. E se a Ucrânia puder construir novas fortificações ao longo da linha de frente e garantir os sistemas de defesa aérea de que precisa para proteger suas cidades e infraestrutura energética, apesar da escassez desses suprimentos criada pela guerra no Oriente Médio, ela pode estabilizar sua posição defensiva até 2025.

FALTAM SOLDADOS – Mas enquanto a tentativa de Washington de fechar a lacuna de munições entre Ucrânia e Rússia pode restaurar o impasse estabelecido no final do ano passado, não fará a Ucrânia voltar ao ataque.

Isso porque Kiev tem outro problema no campo de batalha que seus aliados podem fazer pouco para resolver: a escassez de soldados.

Uma nova lei, que o presidente Volodimir Zelenski assinou relutantemente no início do ano, reduziu a idade de mobilização militar de 27 para 25 anos. Também reduz o número de isenções do serviço e estende o tempo que os soldados podem ser ordenados a servir. Isso ajudará se as novas tropas puderem ser treinadas efetivamente e rapidamente implantadas. Mas não mudará, por si só, o jogo a favor da Ucrânia.

ÚLTIMO PACOTE -Além disso, este provavelmente é o último pacote que a Ucrânia pode esperar de Washington até depois da eleição presidencial de novembro. Se Donald Trump vencer essa eleição, Kiev pode se ver completamente isolada de ajuda futura.

Mesmo se Biden vencer, a disposição pública dos EUA para fornecer futuros pacotes de ajuda de US$ 60 bilhões será limitada.

Enquanto isso, a Rússia tem muitos mais jovens que pode lançar na “máquina de moer carne” do campo de batalha.

REALIDADE DOLOROSA – O pacote de ajuda dos EUA fornece uma linha de vida que pode manter os ucranianos na luta até o final de 2024. Isso dará aos amigos da Ucrânia na Europa mais tempo para produzir e entregar mais armas e munições. Também pode dar a Zelenski uma posição mais forte na mesa de negociações que finalmente encerra a guerra.

Mas é improvável que ajude a Ucrânia a evitar uma eventual partição que ceda à Rússia alguma terra ucraniana ilegalmente tomada em troca do futuro europeu que a maioria dos ucranianos ainda deseja.

Essa é uma realidade dolorosa após mais de dois anos de guerra brutal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enquanto as guerras se repetem, ceifando vidas e destruindo importantes obras de infra-estrutura, a indústria bélica comemora e abre champagne. É deprimente. (C.N.)

Odebrecht quer “punir” procurador que pediu o extrato das contas em Andorra

Toffoli deve liberar ação sobre o Marco Civil até o fim de junho

Vamos ver se Toffoli tem coragem de enfrentar o procurador

João Pedroso de Campos
Metrópoles

Com as provas de seu acordo de leniência anuladas pelo STF desde setembro de 2023, a Odebrecht tem trocado farpas com o Ministério Público Federal em torno do assunto. Nessa quarta-feira (8/5), a empreiteira apresentou a Dias Toffoli uma petição em que acusou o MPF no Paraná de descumprir a anulação. O ministro foi quem anulou, em decisão liminar, as provas.

A empreiteira, rebatizada como Novonor, relatou a Toffoli ter recebido um ofício da Procuradoria da República no Paraná no começo de março, no qual o procurador Walter José Mathias Júnior pediu informações sobre contas mantidas pelo Grupo Odebrecht em Andorra.

DUAS OFFSHORES – O procurador queria mapear dados de contas no Banco Privado de Andorra (BPA) vinculadas a duas offshores, a Lodore Foundation e a Klienfeld Services, sobre as quais, em suas palavras, “há indícios suficientes” de que teriam sido usadas para pagar propina a políticos e autoridades.

Ao reclamar a Toffoli, a Odebrecht relembrou o efeito amplo da decisão do ministro de anular as provas de seu acordo de leniência, incluindo os sistemas Drousys e MyWebDayB, usados para gerir pagamentos ilícitos do “setor de propinas” da empreiteira.

O pedido citou que Toffoli anulou, além do material propriamente dito, quaisquer provas derivadas do acordo de leniência. A alegação é que a solicitação do MPF por informações das contas em Andorra se encaixa nessa situação, porque estes dados seriam decorrentes do sistema Drousys.

DIZ A ODEBRECHT – “O raciocínio posto no despacho [do MPF] busca, assim, constranger a Requerente [Odebrecht] a convalidar atos jurídicos ilegais praticados por integrantes do Parquet federal e pelo Magistrado que outrora titularizava o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR – ameaçando a validade de seu Acordo de Leniência caso o seu desejo não seja atendido – e, por conseguinte, repristinar os elementos já declarados imprestáveis por Vossa Excelência”, alegou a defesa da empreiteira a Toffoli.

A empreiteira solicitou ao ministro que declare a nulidade do pedido do MPF e adote, se assim entender, “outras providências, inclusive disciplinares” contra a procuradoria.

ALEGA O PROCURADOR – No ofício em que cobrou da Odebrecht as informações, enviado depois de a companhia resistir a enviar os dados em razão da decisão de Toffoli, o procurador Walter José Mathias Júnior escreveu que “causa espécie o questionamento da Novonor sobre as provas por ela mesma fornecidas” em seu acordo de leniência.

Mathias Júnior sustentou que a empreiteira deveria atestar se os dados do acordo eram fidedignos ou se “prestou informações inverídicas ao Ministério Público Federal”, e se pretendia deixar de colaborar ou invalidar o acordo de leniência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A que ponto chegamos. Agora é a corruptíssima Odebrecht que canta de galo no poleiro da Justiça, sob as bençãos do ministro Dias Toffoli, aquele que fez concurso para juiz duas vezes e não passou, e que recebia mesada de R$ 100 mil da mulher, advogada Roberta Amaral, e não declarava essa renda à Receita Federal. Como se vê, a Justiça brasileira está de cabeça para baixo, ou ponta-cabeça, como dizem os paulistas. (C.N.)

Supremo procura reagir às acusações de censura, feitas nos Estados Unidos

Ministros do STF e de outros tribunais criticam fala de Barroso na UNE | Metrópoles

Barroso mandou distribuir nota oficial sobre o assunto

Henrique Lessa e Renato Souza
Correio Braziliense

O Supremo Tribunal Federal (STF) reagiu à ofensiva da ala republicana do Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos — liderado por um deputado de direita —, que publicou 88 decisões do ministro Alexandre de Moraes tomadas tanto na Corte máxima quanto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As ordens judiciais determinam a suspensão de perfis, em plataformas digitais, de internautas que atacaram o sistema eleitoral, fizeram apologia aos atentados de 8 de janeiro ou atacaram instituições brasileiras.

NOTIFICAÇÃO – Em nota, divulgada pelo Serviço de Comunicação Social, o Supremo esclareceu que o material vazado se trata de notificação, como se fosse um mandado judicial, enviado às empresas que comandam plataformas, informando decisões a serem cumpridas. Além do X (antigo Twitter), a Meta, dona do Facebook e do WhatsApp, a Rumble, e outras companhias foram notificadas.

“Todas as decisões tomadas pelo STF são fundamentadas, como prevê a Constituição, e as partes, as pessoas afetadas têm acesso à fundamentação”, diz a nota. A Corte usou a analogia com um mandado de prisão, e apontou que o material divulgado são ofícios, e não as decisões. Só determinam o cumprimento da medida judicial, sem com isso quebrar o sigilo dos processos.

Os despachos fazem parte do inquérito das milícias digitais, que apura fake news, ameaças e discursos de ódio contra o Supremo, o Congresso e demais instituições do país. No entanto, foram obtidos pela Câmara dos Estados Unidos por meio de uma requisição feita ao X.

O mesmo comitê também solicitou informações sobre o caso para o Poder Executivo norte-americano, e o relatório divulgado pelo órgão legislativo acusa o presidente Joe Biden e seu governo de “se omitirem mediante atos de censura praticados em solo brasileiro”.

Horas depois da nota do STF, o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, disse não ver “problema nenhum” na divulgação. “Isso é um problema interno dos Estados Unidos”, frisou, ao ser questionado por jornalistas, na abertura da exposição que marca os 64 anos da transferência da Corte para Brasília.

SILÊNCIO DE BIDEN – O relatório do parlamento norte-americano traz o título: O ataque à liberdade de expressão no exterior e o silêncio da administração Biden: o caso do Brasil.

A ação ganhou força depois de o bilionário sul-africano Elon Musk, dono do X, ameaçar descumprir as ordens do STF, acusando Moraes de censura. O magistrado reagiu incluindo o empresário no inquérito das milícias digitais.

Apesar das ameaças, porém, Musk não descumpriu as determinações, e, em petição protocolada no Supremo, os advogados da empresa afirmaram que as decisões da Justiça brasileira estão sendo cumpridas e continuarão sendo respeitadas pela companhia.

AMEAÇA DO EMPRESÁRIO – Musk também ameaçou reativar os perfis que foram suspensos por ordem do magistrado brasileiroe fez diversos ataques a Moraes por meio de seu perfil na plataforma.

Nesta quinta-feira, ele escreveu que “Moraes definitivamente interferiu nas eleições do Brasil”.

Na semana passada, o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, afirmou que “considera esse assunto encerrado”, em relação aos ataques de Musk, e frisou que qualquer resposta a partir dali deveria ocorrer no âmbito do processo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É importante a matéria enviada por José Guilherme Schossland. Mostra como as coisas mudam. Agora, é o Supremo aqui da filial Brazil, tentando defender Moraes na matriz USA. Os argumentos do STF são tão primários que causam constrangimento. No texto, o Supremo chega a admitir que os processos de Moraes são “sigilosos”, dando um tiro no pé dele, porque se trata de uma expressão que a matriz USA abomina. Lá nos States são raríssimos os processos sigilosos. A Justiça é transparente, pela própria natureza, realizada com as portas abertas. Bem diferente da filial, onde advogado nem pode mais fazer defesa oral no Supremo, vejam bem a que ponto decaímos. (C.N.)

Pesquisa mostra como os eleitores distribuem a culpa por desastres naturais

Garota é resgatada em área de alagamento em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul

Tragédia da natureza não é responsabilidade de ninguém

Bruno Boghossian
Folha

Depois do furacão Katrina, pesquisadores mediram como os americanos distribuíam a culpa pela tragédia. O levantamento mostrou que o eleitor jogava mais responsabilidade em políticos do partido adversário, mas fazia acusações mais ponderadas quando tinha informações sobre o papel de cada autoridade.

A análise pode explicar como operam o partidarismo, a propaganda e a desinformação. Os cientistas políticos Neil Malhorta e Alexander Kuo apontaram que, nesses casos, o eleitor não faz uma avaliação totalmente objetiva, mas também não é uma vítima cega de suas paixões políticas.

RESPONSABILIZAÇÃO – A pesquisa mostrou que eleitores democratas tinham probabilidade 75% maior de culpar autoridades republicanas, como o presidente George W. Bush. Republicanos atribuíam responsabilidade a seus correligionários com frequência 48% menor.

Eleitores que consideravam o Katrina um evento “pessoalmente importante” eram menos contaminados por filiações partidárias. Aqueles que apontavam uma relevância pessoal menor na tragédia tinham mais chances de culpar seus adversários.

O ranking de culpados mudava quando o entrevistado recebia informação sobre o cargo de cada autoridade. Democratas batiam menos em Bush, e republicanos miravam com mais intensidade o diretor da agência de gerenciamento de emergências, Michael Brown (republicano).

DEBATE MANIPULADO – Os dados ilustram as atitudes da população em desastres, mas também são úteis para entender como o debate público pode ser manipulado para atingir objetivos políticos.

Distorções e desinformação, por exemplo, são armas ideais para esconder responsabilidades, ativar o partidarismo e confundir as atribuições de diferentes autoridades.

Por outro lado, quando a população tem informações corretas sobre a atuação de seus políticos, ela é capaz de fazer um julgamento um pouco mais equilibrado. O governador gaúcho, Eduardo Leite, disse que “não é hora de procurar culpados”. Tudo indica que o eleitor saberá fazer isso no tempo certo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Criticar depois de acontecer é bem mais fácil… De toda forma, é triste ficar sabendo que a Lagoa dos Patos fica acima do nível do mar e só inundou Porto Alegre porque seu sistema de vazão para o oceano é mínimo e não dá conta. Sinceramente, ampliar o sistema de vazão é obra da maior simplicidade e de baixo custo. Mas quem se interessa? (C.N.)  

Mourão diz que militar não é cidadão de segunda classe e não aceita a PEC

Mourão lidera oposição contra PEC dos Militares, e governo muda estratégia  - Diário do Rio Doce

Mourão tenta atrasar a votação da PEC no Senado

Thaísa Oliveira e Cézar Feitoza

Na linha de frente contra a proposta que tenta frear a participação de militares das Forças Armadas da ativa na política, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou a colegas que aposta na bancada da bala para derrotar o texto na Câmara dos Deputados.

Nem mesmo uma força-tarefa montada pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, foi suficiente para abrandar a resistência do general e ex-vice-presidente de Jair Bolsonaro (PL).

DECIDIR NO VOTO – A postura irredutível do general fez o governo desistir de buscar consenso em torno da PEC (proposta de emenda à Constituição). A ideia agora é levá-la como está ao plenário do Senado —se aprovada, vai em seguida para avaliação da Câmara dos Deputados.

A PEC dos Militares seria debatida em audiência pública no Senado no dia 25 do mês passado, com a participação dos comandantes das Forças Armadas. O governo, porém, atuou nos bastidores para derrubar a sessão de debates.

A avaliação era a de que os chefes militares já haviam se submetido a audiência pública na Câmara dos Deputados dias antes — e embates do deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) com os militares e declarações do comandante do Exército, general Tomás Paiva, repercutiram mal.

REUNIÃO NO COMANDO – Para evitar a exposição, Múcio transformou a audiência pública em uma reunião a portas fechadas no Comando do Exército e convidou, além de Mourão, os ex-ministros da Defesa Nelson Jobim e Raul Jungmann —que estariam na audiência.

O autor da PEC e líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também participou das quase duas horas de conversa. Mourão ouviu os argumentos da Defesa e, inflexível, disse que a proposta trata os militares como pessoas de segunda categoria.

Apresentada em setembro por Wagner, que foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff (PT), a PEC estabelece que os militares das Forças Armadas que quiserem concorrer a cargos eletivos devem ser transferidos à reserva no registro da candidatura.

FORTE POLÊMICA – As regras atuais são mais flexíveis e permitem que o militar peça um afastamento para se candidatar. Se derrotado, pode voltar ao serviço ativo sem prejuízo à carreira e aposentadoria.

“Nós incentivamos o militar a ir para a política, mas não voltar aos quartéis. Porque ele volta com o proselitismo do político e começa a competir com o poder hierárquico do comandante dele”, disse Múcio em audiência na Câmara.

Aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) em novembro, a PEC tem se arrastado no Senado mesmo tendo atingido o número mínimo de sessões exigido por regimento para votação de emendas constitucionais.

PÉ NO FREIO – Apesar das tratativas, o próprio governo tem colocado freio na tramitação. Sempre que é questionado sobre o assunto pela imprensa, Wagner afirma que a proposta é talvez “a trigésima” prioridade do Palácio do Planalto.

O próprio pedido de audiência pública, feito por Mourão para ganhar tempo, contou com aval do relator, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), um dos vice-líderes do governo. Kajuru afirma que não vai fazer mudanças no texto elaborado pelo Ministério da Defesa e que Mourão está em minoria.

“Só está tendo resistência do Mourão porque ele sabe que perde. Se eles soubessem que ganhariam, eles iam ter resistência? Por isso que eles querem debate”, disse. “Vai ser um dia só de debate, no outro dia já vai para votação e eles vão perder. Essa é a realidade.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. Defender os militares não é novidade para Mourão, que tem vocação autoritária e se diz admirador de Brilhante Ustra, o coronel que comandou as torturas e assassinatosno regime militar. Conheço o general pessoalmente, até simpatizo com ele, mas é um tremendo radical. (C.N.)

Cidades inteiras têm de ser reconstruídas em outros locais, afirma especialista

Vista de drone mostra barco com voluntários em busca de pessoas isoladas em casas no bairro de Mathias Velho, em Canoas, Rio Grande do Sul

Não adianta reconstruir as cidades nas mesmas áreas de risco

 

Ligia Guimarães
BBC News Brasil

O ecólogo Marcelo Dutra da Silva, doutor em ciências e professor de Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que vem estudando a mudança climática, afirma que cidades inteiras que existem em áreas de risco agora terão de ser reconstruídas em outros locais mais seguros.

“Não adianta querer reconstruir tudo o que foi destruído nesse evento de agora tentando fazer como era antes. Isso já não dá mais”. A reconstrução do Rio Grande do Sul, diz o acadêmico, precisará ser planejada considerando quais as áreas mais seguras e resistentes às variações climáticas extremas, que vieram para ficar.

MUDAR DE LUGAR – “Cidades inteiras vão ter que mudar de lugar. É preciso afastar as infraestruturas urbanas desses ambientes de maior risco, que são as áreas mais baixas, planas e úmidas, as áreas de encostas, as margens de rios e as cidades que estão dentro de vales”, diz.

“Tem várias cidades inteiras que estão em região de vale: áreas sujeitas a receber grandes cargas de água em um evento extremo como esse. E aí não adianta reconstruir aquela cidade dentro do vale, porque ela vai continuar ameaçada. Porque os eventos climáticos vão se repetir”, afirma.

Ele cita o exemplo de Muçum, cidade no Vale do Rio Taquari, afetada por inundações três vezes durante 2023 – a primeira em junho, que vitimou 16 pessoas no estado; em setembro, quando 53 pessoas morreram em decorrência da passagem de um ciclone extratropical; e em novembro, quando mais de 700 mil pessoas foram afetadas por chuvas torrenciais.

TRAGÉDIA REPETIDA – “Temos exemplos de cidades que foram atingidas em 2022, 2023, e as pessoas perderam as coisas pela quarta vez, como Muçum, Lajeado. Algumas pessoas já estão tão desalentadas que já dizem em entrevistas que nem compraram mais móveis, mais carro, porque sabem que vão perder de novo”, diz, destacando que nesse caso, a falha do poder público foi permitir que as famílias reconstruíssem suas vidas no mesmo lugar, sem oferecer planos de moradia mais seguros.

“Esse novo plano de reconstrução precisa vir com um plano de adaptação às mudanças climáticas”, afirma o especialista.

O acadêmico, que defende que todas as cidades atingidas revisem seus planos diretores antes de reconstruir tudo o que foi perdido, diz que “não adianta mais querer construir, ou reconstruir tudo o que foi destruído nesse evento de agora tentando fazer como era antes”.

ESTIMULAR REVISÃO – Para o professor, tanto governo estadual quanto federal poderiam estimular tais revisões, talvez colocando-as como requisitos para que as prefeituras tenham acesso aos recursos para financiamento da reconstrução.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), já declarou que o Estado vai precisar de um “plano Marshall”, fazendo referência ao plano de reconstrução na Europa após a Segunda Guerra Mundial.

O plano de reconstrução das cidades, alerta o pesquisador, não poderá mais se basear em edificações nas áreas baixas, planas e úmidas e ambientes de margem de rios, lagos e córregos, como acontece em muitas cidades da costa, como Pelotas, e mesmo em bairros de Porto Alegre próximos ao Lago Guaíba.

OLHAR TÉCNICO – “O olhar daqui para a frente precisa ser mais técnico, e pensar em adaptar a cidade para situações tão extremas”.

“Críticos vão dizer que estamos preocupados só com a biodiversidade, e argumentam que é preciso pensar na vida das pessoas, no desenvolvimento. Se eu estivesse só preocupado com a biodiversidade tudo bem, mas nem estamos mais falando disso, neste caso”, afirma. “Estamos falando de sobrevivência, porque significa você colocar lá um empreendimento e ele ficar debaixo d’água.”

Outro aspecto importante da reconstrução do Estado, que será longa e árdua, será investir em estruturas mais preparadas para eventos climáticos. “Vamos ter que reconstruir, sim, só que agora pensando em pontes que são muito mais elevadas e robustas, estradas que são muito mais preparadas e resilientes a processos tão extremos de presença de água”.

FLUIR A ÁGUA – Em outra frente, o pesquisador diz que é preciso investir em formas menos centralizadas de construir as cidades, de modo a permitir que a água flua com mais facilidade para o oceano. “Precisamos permitir que a água passe, que a água flua, em vez de tentar barrá-la. Temos que recuperar, por exemplo, a vegetação natural nas áreas de preservação permanente e de produção”.

Outra recomendação, considerando que os eventos climáticos extremos também prevêem períodos de intensa seca, é aproveitar os períodos de chuva para armazenar água em sistemas de açudes ou outros reservatórios hídricos.

“Boa parte dessa água toda chovendo agora está simplesmente sendo perdida e em algum momento vai fazer falta, porque está chovendo muito agora e vai chover muito pouco depois”. Convencer a população de que a nova realidade climática veio para ficar, diz, é parte importante do trabalho de evitar novas tragédias ambientais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A matéria de Ligia Guimarães é uma aula de política urbana. Deveria ser manchete em todos os jornais. (C.N.)

63% acham que Lula não está cumprindo promessas de campanha, diz a Quaest

Charge do Zé Dassilva: censura nas pesquisas - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Gabriel de Sousa
Estadão

Pesquisa do instituto Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 8, mostra que 63% dos brasileiros avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está cumprindo aquilo que prometeu na campanha presidencial de 2022. O estudo aponta ainda que só 32% acham que o petista está entregando o que se comprometeu a fazer no comando do País.

A Quaest ouviu 2.045 eleitores presencialmente em 120 municípios, entre os dias 2 e 6 de maio. A margem de erro é 2,2 pontos porcentuais e o nível de confiança é de 95%.

DUAS VISÕES – Os brasileiros que vivem no Sudeste são os que mais acreditam que Lula não está conseguindo cumprir o que prometeu durante a campanha (74%). Os que vivem no Nordeste, reduto petista, são os que mais consideram que ele está entregando o que garantiu que faria na disputa contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 50%.

Há dois meses, quando pesquisas de avaliação atestaram uma queda da popularidade do petista, Lula admitiu que não estava cumprindo aquilo que prometeu na campanha eleitoral.

“Eu falei: ‘Tudo bem’. É porque eu estou aquém do que o povo esperava que eu estivesse (fazendo), não estou cumprindo aquilo que eu prometi. E eu tenho consciência que não estou cumprindo”, disse o presidente, durante um evento realizado no Rio Grande do Sul em 15 de março.

JABUTICABA – Lula justificou que o não cumprimento daquilo que prometeu na campanha presidencial se dá pelo pouco tempo de mandato. “Quando eu planto um pé de jabuticaba, eu não chupo a jabuticaba no dia seguinte. Tenho que esperar ela crescer, ela brotar”, afirmou.

A Quaest também perguntou aos entrevistados se eles acham que Lula governa para o Brasil inteiro. Mais da metade (52%) das pessoas acredita que ele está fazendo um governo que busca atender às necessidades de todos os brasileiros. Outros 35% acham que o petista está trabalhando apenas para quem votou nele em 2022. Outros 13% não souberam responder.

A Quaest também mostrou que a população brasileira está dividida sobre a avaliação do governo Lula.

POSITIVO E NEGATIVO – Consideram positiva a gestão petista 33% dos entrevistados, enquanto 33% avaliam o trabalho como negativo. Na última pesquisa feita pelo instituto, em fevereiro, os índices eram de 35% e 34%, respectivamente. Os que julgam a gestão como regular eram 28% há dois meses e, agora, são 31%.

A pesquisa é a terceira de avaliação de governo divulgada nesta semana. A CNT/MDA apontou que a avaliação positiva do governo caiu 5,3 pontos porcentuais na comparação com janeiro, mês do levantamento anterior.

O instituto AtlasIntel, por sua vez, mostrou que a avaliação melhorou cinco pontos porcentuais em relação ao mês de março. As pesquisas não são diretamente comparáveis pois tem métodos distintos e períodos diferentes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quem acredita em pesquisas tem um prato feito para fazer reflexões. Na minha opinião, Lula não está bem e não diz coisa com coisa. O número de asneiras ditas por Lula já chegou a 97. Mais um pouco e ele pode comemorar a centésima bobagem. Não vai demorar. (C.N.)

Se o bolsonarismo quer ser “conservador”, precisará deixar de lado sua vulgaridade

Sociedade precisa do debate entre conservadores e progressistas | Um Brasil

Charge do Galhardo (Um Brasil)

Fabiano Lana
Estadão

Países, assim como pessoas, convivem com contradições. Em maio de 2024, no Brasil, por exemplo, ao mesmo tempo em que nos deslocamos, aos centenas de milhares, para presenciar a uma apresentação de uma cantora norte-americana, Madonna, nas praias de Copacabana, podemos estar de luto pelas chuvas intensas que causam destruição e dor no Rio Grande do Sul.

É um dilema humano equilibrar a tristeza e o júbilo. Mas se as pessoas cancelarem suas celebrações sempre que houver uma tragédia concomitante, melhor nunca mais comemorar qualquer coisa. Sempre, em algum lugar do Brasil ou do planeta, haverá algo que merece ser pranteado. Só nos resta conviver com essa incoerência.

CONSERVADORISMO – Mas certas contradições são notáveis e talvez incompatíveis. Uma dela são os representantes do chamado bolsonarismo rotularem a si mesmo como “conservadores”.

Do ponto de vista dos mais representativos pensadores sobre o conservadorismo, o rótulo não se sustentaria para os apoiadores do ex-capitão. Desde sua primeira elaboração, por pensadores como Edmund Burke, no século 18, ou dos mais recentes como Roger Scruton, ou Russel Kirk, existe um certo dogma dessa corrente de pensamento que o bolsonarismo não costuma admirar: o respeito absoluto às instituições e a manutenção, digamos, da civilidade e do decoro.

Para o conservadorismo, se as instituições enfrentam desequilíbrios, mesmo que graves, as respostas devem ser sempre dentro delas, nunca fora. Um verdadeiro conservador jamais aceitaria um golpe, uma revolução ou uma “intervenção militar”.

FALTA RESPEITO – Fica aqui um pequeno desafio petulante: quem se diz “conservador” e é bolsonarista alguma vez tentou ler as obras que fundamentaram essa doutrina, de acesso fácil e traduzidas ao português? Da mesma forma, quem acusa os outros de “conservadores”, de maneira pejorativa, sabe do que está falando?

Respeito. Esse seria o ponto fulcral do conservadorismo. Seja às tradições, seja às pessoas. Cada vez que alguém parte para a ofensa, para a injúria, para a agressão, estaria fora do terreno do conservadorismo.

A convivência civilizada dentro de regras escritas ou mesmo não escritas da sociedade marcaria essa linha de reflexão sobre como deveriam ser as sociedades do ponto de vista de uma vida menos turbulenta e mais segura.

E AS MUDANÇAS? – Conservadores são contra as mudanças? Não. Mas as mudanças sempre deveriam ocorrer dentro de um marco legal (a rigor, é possível ser conservador e ser a favor da liberação das drogas leves, dentro das regras vigentes). Ao contrário de bolsonaristas, muita gente é conservadora, mas não o sabe.

No Brasil há tantos acontecimentos de impacto a nos surpreender continuamente que passou praticamente desapercebido mais um exemplo de como o bolsonarismo não tem a ver com conservadorismo e, na verdade, são até conflitantes.

Partiu do ex-ministro do Meio-Ambiente e atual deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que comparou o ex-governador de São Paulo, José Serra, ao falecido tio Paulo, o ser humano que infelizmente virou meme pelo caso de uma sobrinha ter sido acusada de tentar manipulá-lo, já morto, para assinar um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal. O caso está na Justiça. Já Serra, sofre de uma doença, Parkinson, que acomete milhões no mundo.

MAIS UMA AGRESSÃO – Trata-se de uma grosseria do ex-ministro. Que se soma às tantas deselegâncias já proferidas por Bolsonaro, que vão desde palavrões em reuniões ministeriais, agredir parlamentares, repórteres, e quase qualquer um que não comungue com as mesmas visões ideológicas – e até mesmo correligionários.

Os 200 anos da República brasileira ficaram marcados por multidões gritando “imbrochável” para o então presidente. Houve o deputado Nikolas Ferreira, o mais votado do Brasil, falar em testosterona para os políticos brasileiros na mesma Copacabana em que Madonna, celebrada como progressista, simulou sexo oral para milhões (empoderamento ou grosseria?).

Não é preciso repetir aqui que os antípodas ideológicos de Bolsonaro fazem o mesmo em termo de grosseria, como no caso de apoiadores de Lula que, nas redes, celebram a tragédia no Rio Grande do Sul pelo fato de lá eles não votarem majoritariamente na esquerda. O próprio Lula também nos brinda, constantemente, com seus exemplos de incivilidade com os adversários.

OFENSAS E AGRESSÕES – Quem já resolveu dar uma espiada em princípios de filosofia talvez saiba que ofensas e agressões não possuem valor argumentativo.

Estão no campo das falácias – os falsos raciocínios que servem para convencer de maneira desonesta e não chegar a uma conclusão verdadeira sobre algum tema (O filósofo alemão Arthur Schopenhauer tem um livro sobre isso: “Como vencer um debate sem precisar ter razão”).

Desafortunadamente, do ponto de vista prático, falácias são bastante eficientes quando o objetivo é político. Ofender faz mais barulho do que provar um ponto por meio de argumentos objetivos e racionais. Tivemos recentemente um caso aí envolvendo um famoso Youtuber, que agride muito e argumenta bem menos.

SEM CHILIQUES – Rompantes agressivos e mesmo vulgares fazem parte do humano demasiado humano. Mas costumam, ou pelo menos deveriam, ser exceções no transcorrer da vida (deveríamos ter vergonha disso, não é mesmo?). Com pessoas públicas, muito mais.

No Brasil Real não é isso o que ocorre. Nesse aspecto, a verdade é que a chamada direita que prevalece no País precisa decidir: se quer de fato merecer a etiqueta de “conservadora”, precisará renunciar aos insultos e às hostilidades pessoais. Senão, ficará apenas no espaço com o qual pode ter identificação: o dos reacionários vulgares – e não dos conservadores.

Não é questão de censura ou limites à liberdade expressão, que não deveriam ocorrer, mas de autocontenção e respeito a quem pensa diferente.

Enchente no Sul traz emergência climática para dentro do debate fiscal do País

Enchentes no Rio Grande do Sul: Porto Alegre decreta racionamento de água |  CNN Brasil

Centro de Porto Alegre está totalmente tomado pelas águas

Silvio Cascione
Estadão

De repente, a catástrofe no Rio Grande do Sul diminuiu a importância de todo o resto. As brigas entre governo e Congresso ficaram em segundo plano em meio aos esforços conjuntos para enviar ajuda emergencial ao Estado, que ainda não sabe quando poderá voltar à normalidade. Discussões sobre a meta fiscal também mudaram instantaneamente de foco: o debate agora é sobre a necessidade, ou não, de um novo regime de emergência para lidar com situações de calamidade pública, que tendem a ficar mais frequentes e mortais com a escalada do aquecimento global.

As enchentes no Sul vieram justo quando a agenda política em Brasília vivia uma espécie de transição. Começava a sair de cena a agenda fiscal de curto prazo, baseada em medidas de elevação de receita para redução do déficit primário, e começavam as tratativas para a regulamentação da reforma tributária.

POUCO ESPAÇO – A equipe econômica percebia haver pouco espaço para novas medidas de arrecadação nos próximos meses. A única pendência era a reoneração da folha de pagamentos, que fora trazida de volta à pauta por liminar do Supremo Tribunal Federal. Com a agenda passando para a reforma tributária, tema de maior consenso entre Congresso e governo, a tendência era a de diminuição pontual dos atritos entre a base do governo e o Centrão, pelo menos até o recesso de julho e o início das eleições municipais.

Essa agenda econômica não ficará totalmente paralisada nas próximas semanas. Porém, caminhará em segundo plano, com risco de maiores atrasos, dada a atenção necessária ao Rio Grande do Sul.

Nesse ponto, duas questões se colocam. Para o curto prazo, a grande pergunta é como atender à promessa de Lula aos gaúchos, de que não haverá limites para a ajuda ao Estado, dentro das regras fiscais atuais.

CRÉDITOS EXTRAS – A equipe econômica defende que a Lei de Responsabilidade Fiscal já dispõe de mecanismos para lidar com exceções, e se esforçará para enviar todo o dinheiro que for necessário por meio de créditos extraordinários dentro do regime atual.

Dessa forma, toda a ajuda estaria circunscrita às enchentes no Sul, sem abertura de precedentes para gastos em outras áreas. Mas essa é uma posição que pode ser difícil de sustentar em um ambiente de enorme incerteza sobre a extensão dos danos.

Na pandemia, com o envolvimento direto do governo e do Congresso, o Brasil foi um dos países que mais garantiu ajuda emergencial a indivíduos e famílias dentre todas as economias emergentes – com R$ 524 bilhões em gastos emergenciais da União apenas em 2020. O possível agravamento da situação nos próximos dias, com a continuidade das cheias, pode ainda levar a um novo conjunto de regras para mitigação de desastres naturais.

MELHOR PREVENÇÃO – A segunda pergunta, para o longo prazo, é sobre a capacidade de resposta aos próximos desastres. Seja com as regras atuais, seja com um novo regime de exceção, o fato é que a política econômica precisará considerar a vulnerabilidade crescente do País às mudanças climáticas – tema que aflige não só o Brasil, mas todas as nações.

 No passado recente, o País já flertou com racionamento de energia e com falta de água em grandes cidades. É no mínimo prudente considerar que os danos à infraestrutura e à atividade econômica podem ser ainda maiores nos próximos anos, com a ocorrência de eventos extremos ainda mais graves.

Ter uma política ambiental forte é apenas uma precondição para se preparar para esse futuro – mas a preparação adequada depende de iniciativas em todas as outras áreas, especialmente no planejamento de infraestrutura e na coordenação de Estados e municípios, com envolvimento direto dos parlamentares e suas vultosas emendas.

Desembargador que mandou soltar um chefão do PCC continua impune

Desembargador Divoncir se aposentou após o escândalo

Gustavo Bonotto e Anahi Zurutuza
Campo Grande News

Investigação contra o desembargador aposentado Divoncir Schreiner Maran aponta que ele decidiu conceder o habeas corpus que soltou o “chefão” do PCC (Primeiro Comando da Capital), Gerson Palermo, antes mesmo de a defesa fazer o pedido. Trechos que apontam para a decisão antecipada, além de “gambiarra”, como classificou a servidora Gabriela Soares Moraes, foram destacados pela ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Maria Isabel Gallotti, na decisão que remete os autos para a Justiça sul-mato-grossense.

De acordo com o despacho ao qual o Campo Grande News teve acesso, na tarde desta segunda-feira (6), o então chefe do gabinete de Divoncir havia pedido para que a servidora investigada iniciasse uma minuta de decisão que ele daria antes da distribuição processual.

FOI ALERTADO – A investigação da PF (Polícia Federal) mostra que outro assessor do desembargador, chefe de Gabriela e que tinha acesso direto a Divoncir, guardava consigo, por exemplo, a senha única para assinar as decisões produzidas pelos servidores sob o comando do magistrado.

Ainda segundo o documento, Gabriela alertou o assessor dizendo que haveria a supressão de instância para dar decisão favorável a Palermo. Avisou ainda que a defesa do narcotraficante alegava doenças para pedir a prisão domiciliar do cliente sem anexar laudos médicos.

A ministra pincelou na decisão trechos dos relatórios da investigação, que corre em sigilo. Um dos destaqueS mostra que a servidora comunicou ao chefe sobre a “gambiarra” para minutar a decisão.

CLARAS EVIDÊNCIAS – “Qualquer assessor pode divergir da posição jurídica adotada por seu chefe. No caso concreto, contudo, o desembargador teve acesso à petição inicial do habeas corpus antes da sua distribuição, o que nunca havia acontecido antes. Ao que tudo indica, o investigado buscou acesso ao documento porque já sabia que seria impetrado, mesmo não havendo comprovante da doença alegada e ainda que o réu fosse multireincidente e um dos líderes do PCC”, ponderou a ministra do STJ sobre os indícios contra Maran.

Além disso, a ministra lembra que, segundo a investigação, Divoncir apagou todas as mensagens trocadas com o chefe de gabinete de seu aparelho celular.

SUSPEITA DE VENDA – Divoncir é investigado pela decisão que concedeu prisão domiciliar ao narcotraficante Gerson Palermo. Com pena de 126 anos de prisão, ele acabou fugindo. Primeiro, a legalidade da decisão passou a ser apurada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Em 21 de abril de 2020, ainda no início da pandemia do coronavírus e feriado de Tiradentes, Palermo foi enquadrado no grupo de risco para a covid e obteve prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico. A decisão aconteceu durante o plantão de Divoncir.

No habeas corpus, a defesa alegou que Palermo tinha mais de 60 anos, sofria de diabetes, hipertensão e por isso corria risco de contrair a covid-19 no cárcere. No dia seguinte, 22 de abril, o desembargador Jonas Hass Silva Júnior, relator do processo, revogou a liminar e restabeleceu a prisão. Oito horas após o benefício do regime domiciliar, o chefão do tráfico rompeu a tornozeleira eletrônica e desapareceu.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Reveladora matéria, enviada por José Guilherme Schossland. Mostra que nada vai acontecer com esse desembargador criminoso. A Justiça Federal, que deveria acelerar o processo, alega que o problema é do Tribunal de Justiça estadual, sabe-se lá o motivo, porque, se tráfico é crime federal, libertar chefão do tráfico é pior ainda. Mas a ministra devolveu o processo à Justiça do Mato Grosso do Sul, para que o processo fique engavetado pelos colegas do desembargador e o crime acabe prescrevendo. Quanto ao traficante Palermo. é piloto de avião, acumula passagens pela polícia desde 1991 e é chefe do tráfico de cocaína. O crime mais ousado foi no ano 2000, quando sequestrou um Boeing da Vasp. Está livre, leve e solto, porque no Brasil a Justiça é uma vergonha nacional. (C.N.)