Duarte Bertolini
Dizem os mais lúcidos e antigos que podemos mudar pela incorporação de conhecimentos, experiências e vivências, mas nossos valores pouco mudam, porque seriam herdados geneticamente ou talhados pelos exemplos dos nossos primeiros anos.
O editor da Tribuna da Internet demonstra isso. Além da costumeira lucidez e isenção na análise de nosso trágico e conturbado teatro político, Carlos Newton mostra uma fé inabalável no ser humano, na capacidade de aprendizado, na possibilidade de que o bem vença o mal, para que novos e risonhos horizontes possam surgir. Que bom que ainda tenhamos CN e alguns poucos, que acreditam em futuro risonho possível para o Brasil e brasileiros.
DE CÉTICO A DESCRENTE – Eu, feliz ou infelizmente, passei de cético a pessimista e de pessimista a descrente convicto, porque a polarização tomou conta absolutamente de todas as ações. Impossível acompanhar qualquer acontecimento sem esta praga se manifestar.
Análises coerentes, fundamentais, equidistantes das paixões, praticamente inexistem, o que é até compreensível, mas insuportável e desanimador.
Pessoalmente, credito o início desta nefasta situação ao PT, seus líderes, seus seguidores, e também à imensa e avassaladora “massa de militantes, jornalistas, estudantes, homens públicos formados em décadas de ensino ideológico puro, ao lado de aproveitadores de toda ordem, que asfixiaram o pensamento e a inteligência nacionais, com constantes e incansáveis apedrejamentos da lucidez, do bom senso pela grande causa da esquerda.
UNS CONTRA OS OUTROS – Fomos jogados, em ações milimetricamente planejadas, ao confronte de pobres contra todos os outros, e todos contra os brancos, com extinção do homem hétero, a língua português substituída pelo linguajar ideológico comprometido.
Isso tudo vem misturado ao engajamento permanente das mulheres numa luta sem fim por todos os direitos possíveis e imagináveis, lavagem de valores criminosos em crianças, destruição das formas tradicionais de ensino e aprendizado, ridicularizacão de quaisquer valores morais, sejam quais forem, índios sendo exaltados, mas continuando vitimizados ao extremo etc., etc., etc.
Para sobreviver, a direita acordou, se organizou, contra-atacou e criou suas próprias hordas de bárbaros. Isso foi até necessário, Porém, despertou um autoritarismo inconveniente, começou a gostar desse, passou da conta e se perdeu
CAVALO E JUMENTO – Não é possível contar aqui, mas vivemos a piada clássica do impasse” entre um cavalo e um jumento, acidentalmente conectados um ao outro e sem possibilidade de sair da situação.
Pensávamos (eu, pelo menos…) que, afastando o PT do poder, evitaríamos sua consolidação eterna e poderíamos voltar à racionalidade.
Ledo engano. Acordamos o monstro e ele gostou do gosto do sangue. Mais uma vez, resignadamente aceitamos a volta do PT , em nome da necessidade de escapar do novo lobo. Mas aí tudo virou de cabeça para baixo.
DESTRUIR TUDO – A nova ordem é atacar, atacar, criar hordas de mercenários em todos níveis e destruir não o outro lado, mas sim a plateia.
É como se, no antigo Coliseu, os gladiadores, ao invés de lutarem e se mataram, resolvessem se unir e atacar o público. A este, Inerte, cansado, sem forças ou armas, só resta ao povo juntar-se a um dos lados, sabendo que cedo ou tarde fará parte do banquete novamente, sem esperanças num imaginário mundo de dias melhores.
Abandonaria meu desencanto, se tivéssemos uma luz no final do túnel. Se aparecesse uma ou várias lideranças lúcidas, não comprometidas, para liderar movimentos de busca efetiva de mudanças etc. Mas nada disso surge. A vulgarização, a banalização, a manipulação constante armam uma reação avassaladora.
POUCO RESTA – Vi alguns vídeos do jovem deputado Kim Kataguiri, que me parece um dom quixote em meio às hordas de bárbaros, mas pouco o conheço e certamente não tem o necessário perfil de liderança.
Ainda temos CN e a Tribuna, com sua serenidade e equilíbrio, numa luta constante pela razão e coerência, mas certamente parecemos os antigos desfiles de expedicionários da FEB no 7 de setembro. Somos cada vez menos, mais velhos e com menor capacidade e possibilidade de desfilar e ver progredir nossas ideias.
Vida longa aos otimistas e visionários. Precisamos deles – e como precisamos…