Estatais acumulam déficit de R$ 6,35 bilhões e rombo já ameaça as contas públicas

Uso de celular na visita a Bolsonaro abre brecha para pode prejudicar Nikolas

Cena de Nikolas com celular foi flagrada pela TV Globo

Ana Gabriela Oliveira Lima
Folha

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) pode ter complicações na Justiça por ter descumprido decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), ao usar celular durante visita ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O cenário, porém, é considerado improvável por parte dos especialistas ouvidos pela Folha. Eles também se dividem quanto à adequação de solicitação de busca e apreensão do celular do parlamentar, requerida em uma notícia-crime levada ao Supremo pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP).

CRÍTICA – A cena de Nikolas com celular em visita a Bolsonaro, que estava em prisão domiciliar, foi flagrada pela TV Globo no último dia 21. Nas redes sociais, o parlamentar criticou a emissora pela filmagem e afirmou que não teve intenção de descumprir a decisão de Moraes, de agosto, que proíbe visitantes do ex-presidente de “utilizar celulares, tirar fotos ou gravar imagens”.

O fato, porém, já trouxe repercussão para Bolsonaro, com Moraes intimando seus advogados para que expliquem a utilização do aparelho. Nas redes sociais, Nikolas afirmou não ter recebido comunicação prévia da restrição. “Sem comunicação oficial, não existe como alegar descumprimento. Reitero que em momento algum tive qualquer intenção de descumprir decisão judicial”.

A visita do deputado ao ex-presidente se deu horas antes de Bolsonaro tentar romper a tornozeleira eletrônica. A tentativa de danificar o equipamento com ferro de solda fez com que Moraes determinasse a prisão preventiva de Bolsonaro, ocorrida no sábado (22). Na terça (25), foi decretado o início do cumprimento de pena do ex-mandatário, de 27 anos e 3 meses com regime inicial fechado, por liderar uma trama golpista.

NOTÍCIA-CRIME – Depois de divulgadas as imagens de Nikolas com o ex-presidente, a deputada Erika Hilton apresentou uma notícia-crime ao STF. O texto diz haver “fortes indícios de que os atos praticados pelo Noticiado [Nikolas], especialmente o uso de telefone celular junto ao réu e a interação em ambiente de custódia, não apenas descumprem ordem judicial, como também sugerem participação ativa na articulação que antecedeu a tentativa de fuga, configurando auxílio, instigação ou facilitação de descumprimento de medida judicial”.

A peça sustenta haver indícios suficientes do crime de desobediência à ordem legal de funcionário público, previsto no artigo 330 do Código Penal e com pena de 15 dias a seis meses, além de multa. Cita, ainda, a possibilidade de que Nikolas tenha incorrido no artigo 351 do mesmo código, sobre promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa. Nesse caso, a pena é de detenção de seis meses a dois anos.

Por fim, a representação pede a instauração de inquérito policial e a busca e apreensão do celular de Nikolas, dentre outras solicitações. Nesta quarta (26), a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados também afirmou ter protocolado um pedido de investigação à PGR (Procuradoria-Geral da República).

IMPLICAÇÃO – Segundo Luisa Ferreira, professora de direito penal da FGV-SP, o flagra de Nikolas usando o celular pode trazer implicação jurídica, mas o cenário é pouco provável. Ela entende que o objetivo da proibição judicial é evitar que Bolsonaro use terceiros para acessar o aparelho. Por isso, um descumprimento traria implicação ao próprio ex-presidente, se ele já não tivesse tido a cautelar agravada com a prisão preventiva e, agora, com a condenação definitiva.

De acordo com Luisa, apenas o fato de o deputado ter mexido no celular no mesmo dia em que o ex-presidente tentou tirar a tornozeleira não é indício suficiente de crime. Por isso, ela também diz achar “frágil e temerário” o pedido de apreensão do aparelho, se não houver outros indícios que associem Nikolas a uma tentativa de fuga.

Para Ricardo Gueiros, professor de direito da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), o episódio não deve trazer consequência penal. Segundo ele, o crime que melhor se enquadraria no caso é o 349-A do Código Penal, sobre ingressar com aparelho telefônico, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.

RESTRIÇÃO – “Se o Nikolas tivesse entrado em um estabelecimento prisional típico, o crime estaria categoricamente manifesto”. O especialista argumenta que o tipo penal poderia se estender ao caso, uma vez que o recolhimento domiciliar é um tipo de prisão. Uma ressalva a essa lógica, porém, é que, “no direito penal, há uma restrição a qualquer tipo de interpretação que venha a ser extensiva demais”, completa o especialista. Por isso, ele entende que o uso do celular nesse caso específico tenderia a não ser penalizado.

Já o pedido de apreensão de celular é razoável, para Gueiros, “por cautela, e até mesmo para a proteção do próprio Nikolas [no sentido de resguardá-lo de uma acusação de tentativa de fuga]”.

Para Marcelo Crespo, coordenador do curso de direito da ESPM, o parlamentar pode ter incorrido no crime de desobediência, se de fato estava ciente da proibição. Nesse caso, uma implicação na Justiça e a configuração de crime seria provável.

DESOBEDIÊNCIA – “Se tinha ciência dessa decisão, tem que responder por desobediência. Mas a questão é: ele tinha essa ciência?”, questiona Crespo. “Se fosse uma decisão em um processo do Nikolas, não haveria dúvidas. Mas, nesse caso, o processo envolve uma terceira pessoa. Por isso a resposta neste caso não é tão objetiva”.

Crespo entende que, se o parlamentar sabia da vedação, é necessário que as autoridades instaurem um inquérito para apurar a conduta. Sobre o pedido de apreensão do aparelho, o especialista afirma fazer sentido no contexto, envolvendo pedido de vigília que, segundo autoridades, poderia facilitar a fuga de Bolsonaro, e tentativa de rompimento da tornozeleira.

Prisão de Bolsonaro expõe guerra por comando da direita e reação da família

Eis a questão: Deus criou o bem, mas ao mesmo tempo também criou o mal

Artes visuais Desenho Linha artística, bem contra o mal, branco, cara png |  PNGEgg

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Luiz Felipe Pondé
Folha

Sensibilidade gnóstica implica um drama moral na criação e no criador

Ideia passa pela revelação de que uma crise atravessa ambos

Tese é de que o mal está enraizado na dimensão divina

A espiritualidade gnóstica é marcada, desde a Antiguidade, pela tese de que o mal está enraizado em alguma dimensão divina. O termo está ligado à heresia gnóstica cristã histórica, mas o adjetivo ganhou autonomia analítica. Toda sensibilidade gnóstica passa pela revelação —gnose— de que uma crise atravessa a criação e o criador, atribuindo-lhes um componente trágico.

Segundo o historiador David Flusser, no seu “Judaism of the Second Temple Period: Qumran and Apocalypticism, Vol. 1”, há elementos gnósticos nos escritos do mar Morto. Os qumranitas acreditavam numa predestinação divina para a existência dos filhos da luz e os filhos das trevas. Há um conflito ontológico e espiritual, causado pela própria divindade. Elemento gnóstico.

NA CABALA – O historiador da mística judaica Gershom Scholem, no seu “Kabbalah”, identificará elementos gnósticos no dualismo interno ao “Ein Sof” — o infinito divino anterior ao Deus propriamente criador. Conceito eminentemente cabalístico que desempenhará um papel importante na leitura que o “profeta” Nathan de Gaza fará do personagem conhecido como Sabatai Tzvi, o falso messias do século 17.

Essa dualidade divina era vista por Nathan de Gaza como sendo a causa do que hoje poderia ser chamado de bipolaridade do falso messias: numa hora, ele assumia esse papel, noutra o recusava sob crises depressivas. Quando Sabatai integrasse esses dois polos, a criação repousaria em paz.

Essa leitura do “Ein Sof” pressupunha dois polos internos à mesma divindade, em que um era a luz criadora e o outro, as trevas, sendo este resistente às formas criadas pelo princípio da luz criadora, gerando uma inércia interna ao princípio divino, materializada nas agonias e imperfeições da criação. Elemento gnóstico.

O ARCANJO CAÍDO – A literatura especializada também debate a presença de elementos gnósticos no yazidismo. Meses atrás, passei por esse tema e um leitor apontou uma inconsistência na identificação sumária entre Melek Ta’us, o arcanjo caído e redimido yazidi, e o mal.

O arcanjo representaria a potência tanto para o bem quanto para o mal, tanto para a luz como para as trevas, que habita o coração humano.

A fácil assimilação do arcanjo a figuras demoníacas, nas críticas islâmicas e cristãs, seria fruto de interpretações que não fazem jus à complexidade da mitologia oral yazidi, que atravessa a história religiosa, política e social desse povo, vítima de massacres, o último deles nas mãos do Estado Islâmico.

PLANO DIVINO – Nas palavras do historiador e anarquista Peter L. Wilson, no seu fascinante “Peacock Angel: The Esoteric Tradition of the Yezidis”, “de fato eles se afastam do islã e já no século 15 a seita era conhecida por cultuar o anjo pavão Melek Ta’us, uma figura frequentemente identificada com ‘o Diabo’ ou Satanás — daí a seita ser conhecida como ‘adoradores do Diabo’.

Como veremos, entretanto, a real situação é bem mais complexa do que isso”. Se o arcanjo yazidi cai em desgraça, num dado momento, como o anjo Lucífer, à diferença deste, ele se arrepende e volta a Deus — esse enredo acaba sendo um plano divino.

Mas, ao mesmo tempo, os yazidis creem que o mal é fruto do coração humano e não “culpa” do seu arcanjo, líder dos sete anjos que cuidam de uma criação abandonada por Deus, que perdeu o interesse na sua obra —esse desinteresse marca outro elemento gnóstico.

NO ALCORÃO – Outro nome do arcanjo é Shaytan, apontado por Wilson como o nome dado ao Satanás no Alcorão. Outra pista possível para a acusação falsa de que eles adorariam Satanás.

Mais uma referência importante sobre a religião yazidi, que a aproxima do gnosticismo, é a obra de 2010 da acadêmica húngara especialista em religião yazidi Eszter Spät, da Universidade Centro-Europeia, em Budapeste, “Late Antique Motifs in Yezidi Oral Tradition”.

Portanto, segundo a autora Eszter Spat, é possível se pensar numa origem gnóstica para a religião yazidi.

PRÉ-ISLAMISMO – No artigo “The Song of the Commoner: The Gnostic Call in the Yezidi Oral Tradition”, a pesquisadora húngara diz, ao apontar as influências pré-islâmicas na tradição yazidi, que “tais influências pré-islâmicas incluem o gnosticismo e o maniqueísmo”. Sendo o maniqueísmo, por sua vez, uma forma de gnosticismo com forte influência do zoroastrismo persa, que carrega na sua concepção cósmica um dualismo entre bem e mal no plano divino.

Satanás e Melek Ta’us não são a mesma entidade. Mas as relações entre gnosticismo e yazidismo permanecem como objeto consistente de debate entre especialistas. A criação abandonada por Deus e o drama moral do arcanjo marcam essa espiritualidade gnóstica.

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Moraes é acusado de encerrar processo antes do prazo

Teo Cury
CNN Brasil

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou nesta sexta-feira (28) um novo recurso, chamado de embargos infringentes, ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a condenação na trama golpista.

Os advogados de Bolsonaro afirmam que a decisão que antecipou o trânsito em julgado da ação penal enquanto ainda transcorria prazo para a apresentação de embargos infringentes “caracteriza-se como erro judiciário e deve ser revista”.

VOTO DE FUX – Pedem que prevaleça o voto do ministro Luiz Fux, único a defender a absolvição de Bolsonaro e a nulidade do processo durante o julgamento na Primeira Turma do STF. Um mês depois o ministro deixou o colegiado.

Os advogados reiteram argumentos apresentados inúmeras vezes durante o processo – como cerceamento de defesa com falta de acesso às provas da investigação, incompetência do STF e incompetência da Primeira Turma para julgarem o caso. Os fundamentos foram todos rejeitados pela maioria do colegiado nos últimos meses.

A ação penal da trama golpista foi concluída na terça-feira (26) desta semana. Isso significa que todos os recursos à disposição da defesa foram apresentados e analisados pelo tribunal. O trânsito em julgado, como é chamado, abre caminho para o início de cumprimento da pena.

NOVO RECURSO – A defesa do ex-presidente apresentou um recurso contestando pontos da sentença dias após a publicação do acórdão do julgamento. Os embargos de declaração foram rejeitados por unanimidade pelos quatro ministros da Primeira Turma do STF.

Os advogados de Bolsonaro poderiam apresentar um novo recurso, chamado de segundos embargos de declaração, em até cinco dias. O prazo para apresentação terminava na noite de segunda-feira (25). A defesa optou por não apresentar este recurso, mas contestar a decisão com embargos infringentes, cujo prazo de apresentação é de 15 dias.

As regras internas do STF preveem que o recurso escolhido pela defesa de Bolsonaro cabe apenas contra decisões não unânimes. O entendimento consolidado no STF é o de que os embargos infringentes só podem ser apresentados quando houver dois votos pela absolvição de um réu.

APENAS FUX – No julgamento de Bolsonaro, apenas Fux votou para absolvê-lo das acusações da PGR (Procuradoria-Geral da República). Fux migrou para a Segunda Turma do STF depois da conclusão do julgamento e com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso.

Os advogados de Bolsonaro rechaçam a tese de que a apresentação de embargos infringentes seria um movimento “protelatório”, ou seja, com o objetivo de atrasar o início do cumprimento da pena.

O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, citou 68 casos em que o tribunal rejeitou a apresentação de embargos infringentes na decisão que determinou o cumprimento da pena por Bolsonaro.

RAZÕES PARA DIVERGIR – A defesa afirmou que não desconhece o entendimento firmado pelo STF, mas ressaltou ter razões para divergir – especialmente porque o regimento interno do tribunal não prevê “qualquer condicionante”.

“Não há qualquer disputa quanto ao teor da norma, que não exige número mínimo de votos absolutórios para o cabimento do recurso quando se tratar de decisão proferida por Turma”, diz a defesa.

O ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão acusado de liderar uma organização criminosa que buscava se perpetuar no poder mesmo com a derrota nas eleições de outubro de 2022.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A defesa apresentou o recurso necessário, mas o relator Moraes vai recusá-lo liminarmente, por não ter adequação. Mesmo assim, o processo ainda não acabou, porque o Regulamento do Supremo é claríssimo a respeito. Diz que cabe agravo contra decisão que não aceitar embargo. Vamos aguardar, portanto. (C.N.)

Moraes vota para condenar ex-cúpula da PM-DF por omissão no 8 de janeiro

Foragido e com segredos da Abin, Ramagem preocupa oficiais da inteligência

STF considera o deputado Ramagem foragido da Justiça

Octavio Guedes
G1

A permanência do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) nos Estados Unidos para fugir e ficar longe do alcance da justiça brasileira está preocupando oficiais de inteligência do Estado brasileiro, tanto civis quanto militares.

O deputado federal, condenado a 16 anos de prisão por tentativa de golpe, deixou o Brasil em setembro – mês em que a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o núcleo crucial da trama golpista. A decisão do STF determinou que ele não poderia deixar o país e que deveria entregar o passaporte, e o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva dele após pedido sigiloso da PF.

FORAGIDO – Nesta semana, o STF determinou o cumprimento de pena de todos os condenados do núcleo crucial da trama golpista, considerou que Ramagem está foragido e determinou a perda de mandato do deputado.

Ramagem dirigiu a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entre 2019 e 2022, e como diretor-geral teve conhecimento de informações relevantes para a soberania geral. Ele participou da Operação Paraguai por haver suspeitas de que o governo de Donald Trump estivesse por trás de uma campanha movida por ONGs para que o país vizinho parasse de vender energia excedente da hidrelétrica Itaipu para o Brasil.

ENERGIA DE ITAIPU – O próprio secretário Marco Rubio manifestou publicamente o interesse dos EUA na energia de Itaipu para alimentar as datas centers americanos de inteligência artificial.

Um oficial de inteligência explicou o risco: “Como diretor da Abin, ele teve acesso liberado a todas as investigações e informações. Quem vai negar uma informação para o DG, ainda mais que não entende os protocolos de compartimento das informações, já que veio de outra instituição, a Polícia Federal”, disse.

Ramagem pode ter em seu poder a identidade de fontes humanas da Abin que estão em outros países, informações de serviços de inteligência de outros países que colaboram com o Brasil, além de documentos classificados, de acesso restrito. Um militar da área de inteligência lembra que ao deixar a Abin, levou consigo um notebook da agência. ”Quem garante que não levou também informações ou cópias de documentos sensíveis?”, afirma essa fonte.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É impressionante o massacre que a imprensa faz em relação a Ramagem. O ministro Moraes e o procurador Gonet não acharam nada contra ele e absolveram de irregularidades na Abin. Mas acabaram condenando por golpe, abolição do Estado democrático e organização criminosa armada, sem levar em conta que durante a prática desses supostos crimes em Brasília, ele já tinha deixado o governo e morava no Rio. Ou seja, Ramagem se tornou o único réu no mundo a ser condenado por estar a mais de mil quilômetros da cena do crime. (C.N.)

PF mira rede de apoio e rota de fuga de Ramagem após apreender celular da mulher

Flávio Bolsonaro ensaia candidatura e disputa o espólio político do pai preso

O destino cigano que faz Raimundo Fagner seguir sempre em frente

Fagner fala de fama de briguento e de status de relacionamento: 'Sempre sozinho, sempre acompanhado'

Raimundo Fagner se mantém fiel às suas origens

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor, instrumentista, cantor e compositor cearense Raimundo Fagner Cândido Lopes, o popular Fagner, fez uma autobiografia com versos em que alude o seu destino instável, que não lhe permite prever onde poderá chegar. A música “Cigano” foi gravada por Fagner no LP Quem Viver Chorará, em 1978, pela CBS.

CIGANO
Fagner

Eu não vivo guardado em segredo
Nem no medo, um receio sequer
A não ser quando a morte vier
E me pegar sorrindo querendo ficar
Eu não sei viver de outro jeito
A não ser desse jeito

Destino cigano
Comigo não dá
Pra ficar amargando
Esperando o tempo passar
Até sonhando
E sem saber onde posso chegar
E ficar…

Sem saída jurídica, Bolsonaro mira recursos simbólicos após condenação no STF

Alternativas à disposição dos advogados são escassas

Arthur Guimarães de Oliveira
Folha

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode tentar reverter a condenação no STF (Supremo Tribunal Federal) pela trama golpista após o ministro Alexandre de Moraes encerrar a ação e determinar o cumprimento da pena, mas a probabilidade de sucesso é baixa.

O magistrado declarou na última terça-feira (26) o trânsito em julgado (expressão usada para uma decisão da qual não se pode mais recorrer), com base em um entendimento cuja jurisprudência, embora alvo de questionamento, está consolidada na corte.

CHANCES ESTREITAS – As alternativas à disposição dos advogados do ex-presidente para tentar reformar essa decisão são escassas, e as chances de uma solução jurídica prevalecer com base no cenário atual são no mínimo estreitas, dizem especialistas consultados pela Folha.

Em nota, a defesa de Bolsonaro se disse surpresa com a oficialização do fim do processo. À coluna da Mônica Bergamo o advogado Celso Vilardi, que representa o ex-presidente, afirmou que vai opor embargos infringentes a despeito do trânsito em julgado.

Embargos infringentes são um recurso exclusivo da defesa para o caso de decisões não unânimes. No Supremo, a interpretação já sedimentada é que eles só são cabíveis em ações nas turmas quando houver dois votos pela absolvição.

MOTIVAÇÃO POLÍTICA – O advogado criminalista Lucas Miranda, professor de Direito Penal, considera que a decisão de Moraes torna inviável qualquer novo recurso. Isso não impede que os embargos sejam protocolados, mas significa que eles não devem nem ser recebidos.

“Tem uma questão política relacionada a entrar com esses recursos, porque, logicamente, vai ter um discurso de que não houve toda a possibilidade recursal. Isso serve mais para uma motivação política do que para uma motivação jurídica”, afirma.

A alternativa após o trânsito em julgado é a revisão criminal. Trata-se de uma ação, não um recurso, destinada a corrigir erros judiciais, como decisões ilegais, baseadas em provas falsas ou que possam ser revistas diante de elementos novos. Por exemplo, descobre-se um vídeo, que não estava anexado ao processo, anos depois, mostrando que o assassino é uma pessoa, e não outra. Ou, verifica-se que a Justiça condenou alguém por tráfico simples e unicamente pela posse de cafeína.

LIMITAÇÃO – “Me parece pouco provável que esse argumento tenha grande chance de êxito. Isso não só por causa do caso, mas por causa do tipo de análise jurídica que é feita em cima dessas opções”, afirma o advogado e professor Ivan Zonta.

Segundo ele, essas ações são cabíveis em situações bem limitadas. “Geralmente tem que ser algo muito gritante mesmo para que caiba nessa opção, para que caiba nessas possibilidades de ajuizamento da revisão criminal”, afirma.

O regimento interno do Supremo estabelece que, se a revisão criminal é ajuizada contra decisão de uma turma, a distribuição da ação é feita dentre os ministros da outra —no caso de Bolsonaro, a Segunda Turma. Mas a competência para julgar é do plenário.

O advogado Christiano Falk Fragoso, professor do departamento de Direito Penal da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), cita ainda outra opção: acionar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Esta foi uma hipótese aventada pelo advogado José Luis Oliveira Lima, que representa o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro. Lima citou uma “violação sistemática ao direito de defesa”.

“NÃO PERDE NADA” – O rito para acionar a comissão, que poderia levar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, exige o esgotamento de todas as vias judiciais disponíveis no Brasil. Até por isso, entrar com os infringentes e a revisão criminal é importante, diz Fragoso. “[A defesa] não perde nada”, diz o professor. “Ele pode dizer: ‘Entrei com o recurso e não o admitiram’, disputando se a jurisprudência do Supremo que exige dois votos [para os infringentes] não violaria o princípio do duplo grau de jurisdição.”

A Corte Interamericana de Direitos Humanos se baseia na Convenção Americana de Direitos Humanos. A análise foca se houve violações a algum direito previsto na carta, como direito de defesa ou ao silêncio, além do princípio do duplo grau de jurisdição.

Uma decisão do tribunal internacional pode reconhecer uma situação de violação, mas não tem o poder de anular ou reverter uma decisão judicial no Brasil. Na prática, é algo mais político e simbólico que uma ferramenta jurídica para reverter uma condenação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É uma reportagem tipo peneira, cheia de furos. Até cita o Plenário do Supremo como palco dos recursos, algo que non ecziste, diria Padre Quevedo. Leiam e esqueçam tudo, por favor. (C.N.) 

Depois de superado o golpismo, é preciso impor limites severos ao Supremo

Juízes auxiliares do STF ganham mais que os ministros da corte - Espaço  Vital

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Malu Gaspar
O Globo

A prisão definitiva de Jair Bolsonaro e dos generais da trama golpista é prova da força da nossa democracia. Derrotou-se o golpismo há décadas latente na caserna, e pela primeira vez na História puniram-se os chefes de um complô por ruptura institucional. Está posto que, no Brasil, atentar contra o regime democrático pode sair muito caro. Mas o ciclo que se encerra com essas prisões também prova que a depuração democrática é uma tarefa que nunca termina. E não estará completa sem uma revisão profunda do papel do Judiciário.

Uma das ideias que passaram a ser repetidas nos últimos dias é que, findo o julgamento, está na hora de o Supremo voltar para seu quadrado, ser mais contido, exercer mais comedimento. Embutido no raciocínio está o reconhecimento de que o tribunal, Alexandre de Moraes em especial, foi além de suas atribuições em vários momentos — e tudo bem, porque foi por “boa causa”, mas agora chega.

EXCESSOS REAIS – O debate sobre até onde Moraes e o Supremo falharam é importante e ainda durará algum tempo. Decisões monocráticas e de ofício, sem ouvir previamente o Ministério Público, prisões preventivas por meses sem acusação formal, a morte na cadeia de um réu que poderia ter ido para casa de tornozeleira, a manobra que transferiu à turma e tirou do plenário o julgamento do ex-presidente serão sempre apontadas como máculas no processo.

Há ainda fios soltos a puxar se porventura mudar o contexto político e jurídico, abrindo espaço para tentar anular o caso — como se fez na Lava-Jato com sucesso. Há até uma versão golpista da Vaza-Jato, com mensagens nada abonadoras para Moraes. Os excessos dele, porém, não tornam menos concreto o golpismo de Bolsonaro, da mesma forma que os desvios de Moro não apagaram a corrupção revelada pela Lava-Jato.

O que deveria preocupar é o que o Supremo fez com o salvo-conduto recebido. O inquérito das fake news, ou “do fim do mundo”, é simbólico. Foi aberto em 2019 por Dias Toffoli, inconformado com uma reportagem a respeito da investigação da Receita Federal sobre sua mulher e a de Gilmar Mendes, ambas advogadas. Toffoli entregou a investigação a Moraes, sem sorteio e contra a Procuradoria-Geral da República, que defendeu o arquivamento.

NADA A VER – Na origem, portanto, nada tinha a ver com Bolsonaro. Com o passar do tempo, Moraes deixou para trás a história da reportagem e mudou o foco para apurar a disseminação de fake news por bolsonaristas. Por isso, muita gente bateu palmas. Sempre que pode, Gilmar faz questão de dizer que, sem o inquérito das fake news, o Brasil poderia ter virado uma ditadura.

Vitaminado pelo combate ao golpismo, em agosto de 2023 os ministros também mudaram as regras para permitir que juízes de todo o país pudessem atuar em processos dos escritórios de advocacia de seus parentes, um liberou geral para a promiscuidade no Judiciário. Considerando que ao menos sete dos 11 ministros têm parentes em escritórios que cobram fortunas para representar interesses junto ao Supremo, foi uma decisão em causa própria, que numa canetada jogou por terra noções de republicanismo vigentes no mundo todo. Quem criticasse, porém, era implicante — ou pior, golpista.

Eis que o processo do golpe está no fim e o escândalo do momento é do Banco Master — de acordo com MP e PF, nos últimos anos uma fábrica de fraudes que enganou mais de 1 milhão de investidores, além de drenar dezenas de bilhões de reais e a credibilidade do sistema financeiro.

CASO MASTER – Uma das principais razões de o esquema durar tanto tempo foi a blindagem política e jurídica do Master, que financiava variantes do Gilmarpalooza no Brasil e no exterior. Entre as estrelas desses eventos estavam Gilmar, Toffoli, Luís Roberto Barroso e Moraes. No balanço de 2024, o Master informou ter gastado mais de R$ 260 milhões com consultorias e advogados. Inclui-se aí a mulher de Moraes, Viviane Barci, agraciada com um contrato.

Dadas as relações do dono do Master, Daniel Vorcaro, com políticos de diferentes calibres, não será surpresa o caso acabar no Supremo. Nessa hora, que farão esses ministros? A prisão de Bolsonaro e companhia foi histórica, mas o golpismo não é o único fator capaz de minar uma democracia. Sem a garantia de que as instituições servem unicamente ao interesse público e de que nenhum juiz está acima da lei, ela se enfraquece um pouquinho a cada dia.

Protegidos pela capa de “heróis da democracia”, os supremos magistrados foram aos poucos derrubando os controles para se tornar intocáveis. Claro que mais comedimento seria muito bem-vindo, mas acreditar que isso ocorrerá sem custo equivaleria a comprar, a esta altura, um CDB do Master.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo. Mas é preciso fazer ao menos um reparo. O fato de ser por foi por “boa causa” não pode servir de justificativa para erros e exageros propositais dos ministros, porque isso é sintoma de ditadura. Na democracia, a lei tem de ser igual para todos. (C.N.)

STF inicia processo de extradição de Ramagem e decisão caberá ao governo Trump

O fim da blindagem: a democracia derrota, enfim, o projeto golpista

Dirceu assume comando ideológico para atualizar o PT sem abrir mão do socialismo

Dirceu fará a atualização do documento programático da legenda

Deu na Folha

O ex-ministro José Dirceu diz que o PT precisa atualizar seu programa político para incluir as mudanças tecnológicas e geopolíticas da última década, mas sem perder a essência socialista. Na última segunda-feira (17), ele foi nomeado coordenador de um grupo de trabalho que fará a atualização do documento programático, espécie de bússola política do partido para os próximos anos.

A última versão é de 2016, antes de surgirem temas como o poder das big techs, a uberização do mundo do trabalho e a ascensão da extrema direita no mundo. “Temos de posicionar o partido para as próximas décadas e decidir como lidar com o novo poder da China, os Brics, a nova maneira de atuação dos EUA no contexto do governo Trump, as novas formas de trabalho, entre outros pontos”, diz Dirceu.

FIGURA HISTÓRICA – O ex-ministro deverá apresentar sua proposta no congresso do partido, marcado para abril do ano que vem. Ele foi escolhido para o cargo pelo secretário-executivo do congresso, o deputado federal Jilmar Tatto (SP), por ser uma figura histórica dentro do PT.

O documento que Dirceu coordena não é pensado para conter propostas específicas para o programa de governo de Lula em um eventual quarto mandato, que serão objeto de outro grupo de trabalho no congresso. Entre os pontos a serem debatidos pelo grupo coordenado pelo ex-ministro está inclusive a identidade ideológica do PT —se seguirá sendo um partido socialista ou vai se aproximar mais da social-democracia.

Para Dirceu, não deveria haver mudança no caráter socialista. “Esse é um assunto que sempre volta ao debate no PT. Eu particularmente não vejo razão para alteração”, diz. Ele pretende promover seminários e reuniões presenciais e online para debater os pontos do novo documento. “Vai ser um documento debatido de baixo para cima”, diz.

Sóstenes se projeta como nova voz do bolsonarismo no Congresso