Uma genial canção de Chico Buarque, que servia ao amor e também era protesto contra a ditadura

Blog do Mello: Domingo com Música. Chico e Milton, 'O que será, À For da Pele'

Chico gravou esta música em dueto com Milton

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, escritor, poeta e compositor carioca Chico Buarque de Hollanda, na música “O Que Será (À Flor da Pele)”, usou temas diferentes para fazer a letra. Na primeira estrofe, “O Que Será”, refere-se ao período da ditadura militar, então, vigente no Brasil, quando tudo era censurado e o governo tramava às escondidas formas de repressão ao povo. Enquanto que a segunda estrofe “O que será (À Flor da Pele)”, foi feita para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, razão pela qual fala de sexo, mas de forma sensível e romântica, ou seja, mostra o desejo e a necessidade do amor literalmente à flor da pele. A música foi gravada por Chico Buarque, cantada em dueto com Milton Nascimento, no Lp Meus Caros Amigos em 1976, pela Phonogram.

O QUE SERÁ (À Flor da Pele)
CHICO BUARQUE

O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho…

O que será, que será?
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos…

Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido…

O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Por que todos os risos vão desafiar
Por que todos os sinos irão repicar
Por que todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo…

II

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
E nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo      

Um poema de Gilberto Freyre que homenageia as velhas janelas do Recife e de Olinda

Gilberto Freyre: biografia e Casa-Grande & Senzala - Toda Matéria

Freyre, ligado na beleza das janelas dos velhos casarões

Paulo Peres
Poemas & Canções

O  sociólogo, antropólogo, historiador, pintor, escritor e poeta pernambucano Gilberto de Mello Freyre (1900-1987), além de se consagrar como um estudioso da história e da cultura brasileiras, também dedicou-se à poesia, conforme esta sua visão poética das “Velhas janelas do Recife e de Olinda”.

VELHAS JANELAS DO RECIFE E DE OLINDA
Gilberto Freyre

Velhas janelas do Recife e de Olinda
últimos olhos para as cidades que se transformam.

Da janela escancarada no nicho da Igreja do Livramento,
todas as noites desce sobre o bairro, sobre o Recife todo um
longo olhar de queixa; e outro olho de queixa é o do nicho
do Convento do Carmo, que às vezes também se escancara
e se ilumina.

Nas ruas napolitanas
do bairro de São José
com as roupas a secar
ainda se encntram antigas
janelas quadriculadas
os xadrezes dos postigos
que outrora amouriscavam
todo o Recife.

Em Olinda, na rua do Amparo,
existe o abalcoado levantino
que romantiza toda a rua, à noite.
Na varanda parece debruçar-se
doce figura de mulher que chama
o cauteloso amante em capa negra
para um encontro como nas estampas
do tempo de Romeu e Julieta.
Através do xadrez
dessas velhas janelas
as mulheres de outrora
de um saber quase árabe
gulosamente olhavam
o que ia lá fora.

Essas velhas janelas
tomavam ar de festa
apenas durante os
dias de procissão.
Botavam-lhe as sanefas
de damasco e de seda,
ou de veludo, orgulho
das arcas e baús
dessas casas fidalgas,
as mulheres então
olhavam nas varandas
ou ficavam de joelhos
sobre os abalcoados
benzendo-se e rezando
diante da procissão.

Imagens tristes de Nossos Senhores
e de Nossas Senhoras cujos olhos
eram de queixa e dor; santos, andores,
padres gordos de murças e de rendas;
frades com seus cordões, os irmãos de opas
e escapulários de variadas cores.

Ficavam na varanda
e no abalcoado, as mulheres
entre o pelo-sinal
e entre a rua e as sanefas.
Essas velhas janelas…

Ferreira Gullar avisava que determinadas coisas importantes não cabem em seu poema

Artes Depressão on Twitter: ""A arte existe porque a vida não basta"  Ferreira Gullar #ArtesDepressão #RIPGullar https://t.co/bvEUBUQG1H" /  TwitterPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico de arte, teatrólogo, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e poeta maranhense José Ribamar Ferreira, o famoso Ferreira Gullar (1930-2016), explica por que “Não Há Vagas” para os dramas diários.

NÃO HÁ VAGAS
Ferreira Gullar

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerilha seu dia
de aço e carvão
nas oficinas escuras.
– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

Na poesia de Flora Figueiredo, um amor abençoado pela oração “Ave Maria dos amantes”

Retrospectiva | Um poema de Flora Figueiredo - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

A tradutora, cronista e poeta paulista Flora Figueiredo, no poema “Reza”, suplica pela existência de um espaço em que o cotidiano do amor e suas contradições possam coexistir, abençoados por uma oração “Ave Maria dos amantes”.

REZA
Flora Figueiredo

Tem que haver um espaço pra nós dois
onde caibam nossos amores,
nossos temores,
nossos dilemas.

Tem que haver pra nós um tema
que fale de flores.
Tem que haver uma canção
de versos sofridos, amargos e doces.

Tem que haver uma oração
que fale de ciúme, de saudade, de perdão,
que abençoe os beijos
e os desejos retumbantes.

Para quando declinada ao fim do dia,
possa ser a Ave Maria dos amantes.

A beleza agreste de uma menina do interior, inspirando Geraldo Azevedo e Carlos Fernando

TRIBUNA DA INTERNET | No tempo em que Carlos Fernando era menino e brincava  tangendo carneiros no sertão

Carlos Fernando, compositor pernambucano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor, compositor e cantor pernambucano Carlos Fernando (1938-2013), na letra de “Beleza do Agreste”, celebra os encantos de uma menina do interior do Nordeste. Essa música faz parte do CD Raízes e Frutos lançado por Geraldo Azevedo, em 1998, pela BMG.

BELEZA AGRESTE
Geraldo Azevedo e Carlos Fernando

Sempre bonita
Sempre cantando
Sempre na dela
Essa menina vai ficando
Sempre sorrindo
Sempre chorando
Sempre naquela
Essa menina vai levando

Nos corações
Na onda azul
Dos carnavais
À flor da pele
Os impulsos naturais
A olho nu
Vertentes
Claras tropicais
Fluindo a vida
Banhando o mundo
Vasto mundo
Seu Raimundo
O poeta já falou

Valença
Gema de ovo
Branco leite
De uma vaca cor de rosa
Qualquer dia mamarei
Beleza agreste
Cheirinho gostoso de fazenda
O aveloz do pé da serra
Tem a cor do seu olhar

Tem a cor do teu viver
Tem a cor do teu cantar
Tem a cor do mestre Rina
Numa noite de luar
A cor do teu sofrer
A cor do teu penar
Tem a cor de Ringo e Lennon
Num galope à beira mar

Um desesperado poema de Fagundes Varella, diante de seu amor impossível

Fagundes Varella, por Lula Palomanes

Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Luís Nicolau Fagundes Varella (1841-1875), nascido em Rio Claro (RJ), implora “Deixa-me” agora repousar tranquilo, porque segui seus passos e dei-te sublimes versos numa vigília insana.

DEIXA-ME
Fagundes Varela

Quando cansado da vigília insana
declino a fronte num dormir profundo,
por que teu nome vem ferir-me o ouvido,
lembrar-me o tempo que passei no mundo?

Por que teu vulto se levanta airoso,
tremente em ânsias de volúpia infinda?
E as formas nuas, e ofegante o seio,
no meu retiro vens tentar-me ainda?

Por que me falas de venturas longas,
por que me apontas um porvir de amores?
E o lume pedes à fogueira extinta,
doces perfumes a polutas flores?

Não basta ainda essa existência escura,
página treda que a teus pés compus?
Nem essas fundas, perenais angústias,
dias sem crença e serões sem luz?

Não basta o quadro de meus verdes anos
manchado e roto, abandonado ao pó?
Nem este exílio, do rumor no centro,
onde pranteio desprezado e só?

Ah! não me lembres do passado as cenas,
nem essa jura desprendida a esmo!
Guardaste a tua? A quantos outros, dize,
a quantos outros não fizeste o mesmo?

A quantos outros, inda os lábios quentes
de ardentes beijos que eu te dera então,
não apertaste no vazio seio
entre promessas de eternal paixão?

Oh! fui um doido que segui teus passos,
que dei-te em versos de beleza a palma;
mas tudo foi-se, e esse passado negro
por que sem pena me despertas n’alma?

Deixa-me agora repousar tranquilo,
deixa-me agora dormitar em paz,
e com teus risos de infernal encanto,
em meu retiro não me tentes mais! 

Em “Versos Solitários”, uma comovente lição de vida do poeta carioca Evanir Fonseca

Plenae O que é a solidão?

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, administrador de empresas e poeta carioca Evanir José Ribeiro da Fonseca (1955-2017), no poema “Versos Solitários”, faz uma reflexão sobre a vida.

VERSOS SOLITÁRIOS
Evanir Fonseca

O mundo é obscuro para quem só sente a egoísta vontade de se livrar de tudo,
como num mar de lava que a terra cobre, deixando um rastro de destruição.

A vida inexiste onde a felicidade é utópica e a vontade de amar
é só um vulgar prazer, onde o tudo se transforma em nada,
além de um viver numa estática frigidez,
fingidamente escondida por um sorriso ou uma lágrima,
que nas faces rolam ou secam, parados na desfaçatez gélida,
refletidos no espelho do destino, da verdade incontida
e nas rugas de um grito calado que ecoa na surdez do silêncio,
alertando-nos que o fim nos espreita como abutres,
expresso pela indescritível falta do som
da batida de um coração solitário.

Deus, como se tentasse camuflar as perdas sutis do desconhecido destino, dá-nos opções, sem violar o direito do livre arbítrio, numa compensação sem diretrizes evidentes ou outra forma de expressão compensatória e cúmplice, nos nossos erros e acertos, sempre apresenta-nos oportunidades e mostrando ao julgar nossos sentimentos tristes, atormentados, egoístas ou sufocantes, nunca se afasta dos que, a ele, suplicam por novas oportunidades.

Pedimos que nomes ou apelidos sejam afastados dos indivíduos,
em contrapartida do que ocorre na realidade socialmente
quando, como uma tatuagem, ficam gravados e encrustados
nas almas estigmatizadas, numa busca tênue e discreta da sensatez
fazendo com que logo caiamos no esquecimento, criado pelo labirinto de comportamentos resumidos pelo “tempo”, que, sem pena,
nos cobra sob uma sentença arrogantemente imposta,
apagando todos os nossos créditos, virtudes e lembranças,
deixando vívidos os defeitos que maculam nossos eternos deslizes.

Gostaria de ver as pessoas completas e resignadas,
podendo despedirem-se da vida, dizendo a cada um dos outros seres:
“Perdoem-nos, pelos erros cometidos
e rezem para que nós nunca mais renasçamos
com mágoas e rancores, sem conhecermos a palavra perdão!…”

Lembremo-nos sempre que “amar” não é o pecado maior,
e reconheçamos, assim, que fazer outros te amarem é imperdoável!

No hoje, nos vangloriamos da saudade
que acreditamos ter causado em outras pessoas.
Porém, quando a tristeza na incerteza do amanhã nos alcança
é aí, então, o momento… que já deveremos ter sido esquecidos
e na veracidade de que agora, sarcasticamente, seremos os que sofrerão…!

Joguem-se pela janela chamada poesia, como suicidas!
Este é o meu conselho para acabarmos espatifados em versos e prosas, atirados, largados nas solitárias noites, com ou sem luar.

Nunca sejamos hipócritas! Mas sim, seres que se encontram
à espera do perdão incondicional e eterno, se permitido,
num grande acalento no “Adeus”.

Do que é feito o poema? Bem, o poema pode ser só palavra, e o poeta: inconsequente…

TRIBUNA DA INTERNET | Sob o signo da Liberdade

Eurídice, num encontro de poetas em Petrópolis

Paulo Peres
Poemas & Canções

A professora e poeta Eurídice Hespanhol, nascida em Santa Maria Madalena (RJ), registrou em versos sua versão sobre o que realmente significa um poema, ou melhor, ela explica qual é “A Razão do Poema”.

A RAZÃO DO POEMA
Eurídice Hespanhol

Do que é feito o poema?
Barro de essência invisível?
Nuvem de tons arcoirizados?
Elementos dispersos,
Pelo poeta magnetizados?
Ou densa identidade
de expressão incontida?

O poema é amante,
Sentimento levitante.
Viagem santa e atrevida,
Pulso de um sonho em prece.
Aborto, parto, nascente.
O poema é só palavra
E o poeta: inconsequente…

Uma desesperada valsa do amor fracassado, por Pixinguinha e Cândido das Neves

Pixinguinha e Cândido, dois mestres da MPB

Paulo Peres
Poemas & Canções

O instrumentista, cantor e compositor carioca Cândido das Neves (1899-1934), apelidado de “Índio”, na letra de “Página de Dor”, relembra um amor platônico. Essa valsa foi gravada por Orlando Silva, em 1938, pela RCA Victor.

PÁGINA DE DOR
Pixinguinha e Cândido das Neves

Página de dor
Que faz lembrar
Volver as cinzas
De um amor
Infeliz de quem
Amando alguém
Em vão esconde
Uma paixão

Lágrimas existem
Que rolam na face
Há outras porém
Que rolam no coração
São essas que ao rolar
Nos vem uma recordação
Página de dor
Que faz lembrar
Volver as cinzas
De um amor

O amor que faz sofrer
Que envenena o coração
Para a gente esquecer
Padece tanto
E às vezes tudo em vão
Seja o teu amor o mais
profano delator
Bendigo porque vem do amor
Tendo o pranto amenidade
De aljofrar minha saudade
Glórias tem o pecador no amor

Um estranho mundo imaginário, descortinado pelo poeta Emílio Moura ao cair da tarde

emílio mouraPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, professor e poeta mineiro Emílio Guimarães Moura (1902-1971), ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, fez parte da célebre geração que renovou a literatura na Belo Horizonte dos anos 20 e 30. Neste poema, Moura revela uma visão melancólica sobre seu “Mundo Imaginário”.

MUNDO IMAGINÁRIO
Emílio Moura

Sob o olhar desta tarde,
quantas horas revivem
e morrem
de uma nova agonia?

Velhas feridas se abrem,
de novo somos julgados,
o que era tudo some-se
e num mundo fechado
outras vigílias doem.

A noite se organiza e, no entanto,
ainda restam certas luzes ao longe.
Ah, como encher com elas
este ser já não-ser que se dissolve
e deixa vagos traços na tarde?

Ser poeta, buscando atingir o núcleo da ideia essencial, na visão de Efigênia Coutinho

Efigênia Coutinho | Oceano de Letras

Efigênia Coutinho, poesia em Petrópolis

Paulo Peres
Poemas & Canções

A artista plástica e poeta Efigênia Coutinho, nascida em Petrópolis (RJ),  criou sua definição de “Ser Poeta”. A seu ver, a poesia será sempre um meio de comunicação de sentimentos na escrita. “Tenho um ritmo pessoal, operando desvios de ângulos, mas sem perder de vista a tradição, procurando atingir o núcleo da ideia essencial, a imagem mais direta possível, abolindo as passagens intermediárias”, revela.

SER POETA
Efigênia Coutinho

A noite sempre cálida me espera,
Tenho em versos a recente emoção
Da inquietude que abraça a quimera,
Enquanto no meu peito pulsa a oração.

A noite ouve o acalanto, esta voz
Que brada a rima solta, e então viajo;
E busco o sopro terno do ninar em nós,
Onde se farta o frêmito voraz, que trajo.

Lá, ao vento espalhado, e envolto,
Meu verso solto, que diz: mortal, eu sou
Na arte que te fecunda e faz devoto…

Porque ser poeta é ser alguém que embelezou
A prosa e o lado vil do caso vário,
E deu-se a Deus que equilibra este rosário.

Sérgio Cabral promoveu almoço no Vasco para comemorar sua volta ao carnaval

Carnaval 2024: Escolas de samba do Rio valorizam a cultura brasileira

Cabral e amigos, vestindo a camisa da escola de samba

Paulo Peres

Para quem acha que já viu tudo em matéria de política, é bom conferir essa pequena reportagem publicada no Twitter News Almirante, relatando que o ex-governador Sérgio Cabral reuniu amigos e admiradores para uma feijoada na sede do Vasco no Calabouço, para comemorar a escolha de seu nome como enredo da Escola de Samba União Cruzmaltina.

Além de aturar o desempenho do Vasco da Gama neste Brasileirão, os torcedores ainda têm de suportar a volta de Sérgio Cabral ao clube carioca, depois de condenado a 245 anos e 20 dias de cadeia. É demais.

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CABRAL FESTEJA COM AMIGOS E ADMIRADORES
News Almirante

O ex-governador Sérgio Cabral continua transitando com desenvoltura no Rio de Janeiro, cumprindo intensa agenda social. Neste domingo, os convidados especiais o aguardam, na sede do Vasco Calabouço, no centro da Cidade, à beira de uma paisagem paradisíaca.

Ao fundo, a baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, a Marina da Glória e a Igreja do Outeiro da Glória, abençoando o domingo iluminado.

De acordo com fontes do SRzd que já estão no local, o almoço bem carioca será servido para 200 pessoas. Sérgio Cabral chegou às 14h30 da tarde, com semblante leve e despreocupado. O que se comenta no local é que o feijão amigo teria sido financiado pelo próprio ex-governador.

ENREDO DA ESCOLA – A sua única orientação teria sido não distribuir convites abertamente, antes deste domingo (23), para não atrair a visita de indesejáveis.

Eufórico com a escolha do seu nome como enredo da Escola de Samba da Avenida Intendente Magalhães, Cabral se sentiu na necessidade de agradecer aos amigos unindo o que mais ama: futebol, Vasco, Carnaval, feijoada e política.

Alegria dos convivas é pela boca livre e poder curtir a festança regada a cerveja e muita caipirinha. Só entrou quem recebeu o convite pelo celular.

Uma canção de amor às contradições e belezas de São Paulo, na visão de Caetano

Cover Sampa- Caetano Veloso - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, músico, produtor, escritor, poeta e compositor baiano Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, na letra de “Sampa”, traduz as impressões que a capital paulista causa ao imigrante, criando num hino de amor à cidade, pois a letra também deve ser analisada levando-se em conta o contexto da época e do próprio momento da vida do autor. A música foi gravada por Caetano Veloso no LP Muito (dentro da estrela azulada), em 1978, pela Philips.

SAMPA
Caetano Veloso

Alguma coisa acontece
No meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga
E a Avenida São João…

É que quando eu cheguei por aqui
Eu nada entendi
Da dura poesia
Concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta
De tuas meninas…

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga
E a Avenida São João…

Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio
O que não é espelho
E a mente apavora
O que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes…

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho
Feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te
De realidade
Porque és o avesso
Do avesso, do avesso, do avesso…

Do povo oprimido nas filas
Nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue
E destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe
Apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas
De campos e espaços
Tuas oficinas de florestas
Teus deuses da chuva…

Panaméricas
De Áfricas utópicas
Túmulo do samba
Mais possível novo
Quilombo de Zumbi
E os novos baianos
Passeiam na tua garoa
E novos baianos
Te podem curtir numa boa…               

Não há nada que domine e vença  a alma romântica do poeta, dizia Cruz e Sousa

Do apartamento de Dora Ouve-se o ruído lá fora Do carnaval que ...Paulo Peres
Poemas & Canções

O poeta e jornalista João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Era filho de escravos e se tornou conhecido nacionalmente. Quando morreu de tuberculose, seu corpo foi transportado para sepultamento no Rio de Janeiro, onde tinha grandes amigos, como José do Patrocínio. No poema “Inefável”, Cruz e Sousa fala da invencibilidade de sua alma romântica.

INEFÁVEL
Cruz e Sousa

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda…
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas.

“Se essa rua que me atravessa a vida fosse minha, eu afastava a tristeza desse lugar…”

Cacaso - poemas - Revista Prosa Verso e Arte

Cacaso, um letrista verdadeiramente genial

Paulo Peres
Poemas & Canções

O professor, poeta e letrista mineiro Antônio Carlos de Brito (1944-1987), conhecido como Cacaso, na letra de “O Dono do Lugar”, em parceria com Edu Lobo. revisita uma antiga trova do folclore brasileiro para dizer o que faria para viver melhor, caso fosse o proprietário da rua que atravessa sua vida. A música faz parte do LP Tempo Presente, gravado por Edu Lobo, em 1980, pela Philips.

O DONO DO LUGAR
Edu Lobo e Cacaso

Se essa rua que atravessa a minha vida
Fosse minha
Eu queria então cantar
Pra afastar a solidão da minha vida
E a tristeza ir bater noutro lugar

Se essa rua que me deixa de partida
Fosse minha
Eu mandava te buscar
Pra acalmar uma paixão da minha vida
E a tristeza ir bater noutro lugar

Se essa rua que caminha sem saída
Fosse minha
Como dono do lugar
Não falava do amor nessa modinha
Pra tristeza ir bater noutro lugar

“Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração…”

Orquestra Ouro Preto celebra Milton e Brant com show no parque das  Mangabeiras | SUPER NOTICIA

Brant e Milton, geniais amigos e parceiros

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, compositor e poeta mineiro Fernando Rocha Brant (1946-2015), na letra de “Canção da América”, lembra o desejo de “frátria”, devido aos laços histórico/afetivos que unem os países americanos, em especial, os latino-americanos. Pelo potencial confraternizador que carrega, a canção tornou-se o hino de celebração das amizades, mormente, para retratar os encontros e as despedidas existentes em nossa vida. Esta música foi gravada por Milton Nascimento, em 1980, no LP Sentinela, pela Ariola. E deve ser cantada sempre, como se fosse um hino do Dia do Amigo, que se comemora hoje, 20 de julho.


CANÇÃO DA AMÉRICA

Milton Nascimento e Fernando Brant

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi

Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam “não”
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente
Vai se encontrar.

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DIA DO AMIGO
Paulo Peres

Não existe palavra
Que possa definir
O real significado,
A bênção Divina
E a felicidade infinda
De tê-lo como amigo.