Roberto Nascimento
Em qualquer governo militar, o líder é um general. Trata-se do princípio da hierarquia, um dogma das Forças Armadas, respeitado por gregos e troianos, sejam generais, brigadeiros e almirantes.
Aqui no Brasil, começou com o marechal Deodoro da Fonseca, que deu o golpe. Um ano e meio depois, o marechal Floriano Peixoto deu o golpe dentro do golpe e assumiu o governo ilegalmente, sem convocar novas eleições.
PÓS-VARGAS – O único golpe que fugiu à regra foi em 1930, quando os militares sabiamente entregaram o poder a um civil, o líder gaúcho Getúlio Vargas.
Durou 15 anos, até Getúlio Vargas eleger o marechal Eurico Gaspar Dutra, seu ministro da Guerra, como era chamado na época o todo poderoso chefe do Exército.
Quando o presidente-general Costa e Silva sofreu um AVC em 31 de agosto de 1969, houve um golpe dentro do golpe para impedir a posse do jurista e vice presidente Pedro Aleixo. Assumiu uma Junta Militar, composta pelos ministros do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. Um ano depois, a caserna entronizou o novo presidente, o general Emílio Garrastazu Médici.
GOLPE DE FROTA – No governo Ernesto Geisel, (1974-1979) também houve mais uma tentativa de golpe dentro do golpe, sob liderança do ministro do Exército, general Silvio Frota, integrante da linha dura. Geisel soube da trama, convocou o Alto Comando para reunião em Brasília e comunicou a demissão do general Frota.
Na mesma hora, se dirigiu para o Forte Apache, quartel-general do Exército, e comunicou a demissão ao general. Ordenou que ele voltasse imediatamente para o Rio de Janeiro, porque a mudança iria depois.
O golpe tinha sido descoberto pelo general Hugo de Abreu, chefe de gabinete de Geisel e primeiro na lista de promoção do Exército. Mas o presidente preferiu promover o general João Figueiredo, para que pudesse ser presidente.
ABREU NA RESERVA – O general Hugo de Abreu foi automaticamente para a reserva, ressentido, magoado com Geisel, e escreveu um livro devastador: “O Outro Lado do Poder”.
Logo, não é uma ação isolada a tentativa de golpe dentro do golpe, agora novamente vivenciada. Neste golpe fracassado, o chefe de governo provavelmente seria o general Braga Netto. Acho que Bolsonaro intuiu esse desfecho, de bobo ele não tem nada.
Afinal, quem foi mais poderoso no governo Bolsonaro, o general Braga Netto ou o general Augusto Heleno? Como todos sabem, Braga Netto era mais poderoso e radical do que Heleno. Assim, seria ele o autor do golpe dentro do golpe. Mas Bolsonaro percebeu, fugiu para os Estados Unidos e o golpe fracassou. Foi isso o que aconteceu.