
Collor interpreta papel de maluco com a maior facilidade
Carlos Newton
Depois de anos e anos de recursos e apelações, em 20 de dezembro de 2017 o deputado Paulo Maluf enfim foi preso pelo Supremo e imediatamente assumiu um novo personagem. Além de político hábil e desonesto, Maluf demonstrou ser também um extraordinário ator.
Com impressionante desenvoltura, passou a interpretar o papel de preso idoso e doente, cujo estado de saúde começou a preocupar os companheiros de cela e a diretoria do presídio.
Maluf tinha dificuldades para se locomover, não dormia direito à noite, precisava urinar a todo momento, era um problema ir até a privada, os outros detentos precisavam ajudar, a cela se tornou um inferno.
CÂNCER MALIGNO – Sua defesa então ingressou com um pedido de prisão domiciliar, alegando que Maluf tinha câncer maligno e precisava se tratar fora da penitenciária. Antes mesmo de receber os prontuários e exames médicos, o emotivo ministro Dias Toffoli concedeu habeas corpus em 28 de março, colocando o deputado em prisão domiciliar.
Em tradução simultânea, o espertíssimo Maluf ficou menos de 90 dias preso, porque Toffoli não examinou o caso, foi logo aceitando o habeas corpus. Se tivesse exigido os atestados médicos e exames oncológicos, teria ficado sabendo que Maluf teve câncer, mas retirou a próstata em 1990 e não houve remissão. Desde então, era considerado sadio e nem tomava medicamento.
A única punição veio pela Câmara, que cassou o mandato de Maluf, que desde então está fora da política, vivendo como um nababo com o dinheiro que extraiu dos cofres públicos.
AGORA É COLLOR – Sete anos depois, aparece Collor no mesmo papel interpretado por Maluf. Mas ele dobrou a aposta – além de doenças graves, Collor demonstra também desequilíbrio mental, que é o seu forte. Assim, chegou sozinho ao aeroporto de Maceió em plena madrugada, quando não há voos, dizendo ter passagem para viajar a Brasília e se entregar à Justiça.
Preso na Polícia Federal, Collor disse ao juiz de custódia que estava sadio, não tinha nenhuma doença. Ao mesmo tempo, seus advogados alegavam no Supremo que ele está com Mal de Parkinson, bipolaridade e apneia do sono grave. Afirmaram que ele toma diariamente oito remédios pesados.
Mas Collor chegou ao aeroporto sem nenhum remédio no bolso, desacompanhado, como se não tivesse mulher, filhos e empregados, ninguém que se preocupasse com um idoso tão doente que faz pena. “Oh, coitado!”, diria a comediante Gorete Milagres.
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P.S. 1 – Collor já venceu o primeiro round, pois o procurador-geral Paulo Gonet aceitou prontamente a prisão domiciliar, antes mesmo de analisar os prontuários médicos. Gonet ficou impressionado com o deplorável estado de saúde daquele outrora atlético presidente da República. Só faltou pedir desculpas por ter concordado com a prisão de Collor pelo desvio de parcos R$ 20 milhões.
P.S. 2 – Falta agora o round decisivo, contra o ministro Alexandre de Moraes, que está exigindo histórico médico, prontuários, laudos e exames que comprovem as comorbidades. Alguns documentos já foram entregues pela defesa, mas não será fácil vencer a reticência de Moraes. Essa bagaça pode não acabar bem. (C.N.)