Assim como o próprio país, a imprensa está vivendo uma fase altamente negativa

ReproduçãoCarlos Newton    /   Ilustração: Alexandre Beck

Conversando com um grande amigo, ele fez reflexões que me incomodaram intensamente. Reclamou que o planeta Terra corre sérios riscos de não só implodir ecologicamente, mas até mesmo explodir, em virtude da guerra-invasão da Rússia contra a Ucrânia, das instabilidades diplomáticas entre China e Estados Unidos, do crescente descrédito do sistema bancário-financeiro internacional, com reflexos em outros países.

Disse também que o capitalismo brasileiro está desmoralizado, com os empresários mais ricos do país (Lemann, Sicupira e Telles) dando golpe na praça nas inexplicáveis inconsistências contábeis de cerca de R$ 50 bilhões não auditadas nos balanços das Lojas Americanas.

MAIS PROBLEMAS – Referiu-Se à tragédia que destruiu parte do Litoral Norte, em São Paulo, com mais de 50 mortos e prejuízos bilionários, sem recomposição e previsão de reconstrução urbana, a curto prazo. E citou também o quase extermínio sofrido por indígenas ianomâmis, a profusão de ministérios para negociações.

Tudo isso para reclamar que o assunto mais divulgado na imprensa é a ilegalidade do apossamento de joias e presentes recebidos por Jair Bolsonaro, na condição de presidente da República, em valores próximos a R$ 20 milhões.

Disse que há telejornais que repetem a matéria o dia inteiro, transformando o espectador em um idiota. E pior, será que Michelle sairá candidata à presidência da República em 2026? “Menos, por favor…”, pediu o amigo, como se eu fosse responsável por esse comportamento dos jornalistas.

NADA DE NOVO – Respondi que a imprensa é assim mesmo. Lembrei a célebre obra do economista John Kenneth Galbraith, “A Era da Incerteza”, na qual ele dedica um capítulo inteiro a analisar as distorções da imprensa, cujo principal objetivo é simplesmente causar impacto.

Além disso, há os interesses financeiros. Com a volta de Lula, que distribui generosas verbas de publicidade, a corrupção saiu do radar das principais publicações, que hoje são absolutamente contra a Lava Jato e aceitam passivamente a libertação de Sérgio Cabral, vejam a que ponto chegamos.

Não há tempo e espaço para manter acesa a crítica à imoral transferência de bilhões para emendas parlamentares. Em busca de faturamento com a publicidade estatal, a imprensa inteira apoia a possível nomeação do advogado e particular amigo de Lula, Cristiano Zanin, para ocupar uma vaga na Suprema Corte.

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P.S.
 – As notícias que meu grande amigo comentou são todas deprimentes e me senti arrasado. Ao se despedir, ele citou mais uma, dizendo que a imprensa faz pouca carga contra as nomeações de esposas de ministros do governo Lula para o exercício do cargo de conselheiras de Tribunais de Contas estaduais, sinecuras vitalícias, com mais de R$ 40 mil por mês. E arrematou, dizendo que o fato de o jornalista William Bonner ter afirmado a Lula, em nome da TV Globo, “que o senhor nada deve à justiça”, não pode ser interpretado como um habeas corpus permanente para o cometimento de abusos por ação ou omissão no exercício do mandato presidencial, como a intenção de nomear o próprio advogado para o Supremo, com apoio da imprensa. “Realmente, é demais”, respondi. (C.N.)

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