The Economist
Se Trump destruiu a velha ordem, o que tomará seu lugar? Enquanto a velha América defendia o livre comércio, Trump acelerará o retorno ao mercantilismo pré-guerra. Ele é um firme defensor das tarifas. Déficits comerciais, ele afirma, são prova de que os estrangeiros estão tratando os americanos como tolos e perdedores.
Sob sua supervisão, os EUA provavelmente serão perdulários, enquanto ele e seu partido pressionam por cortes de impostos, o que aumentará ainda mais o déficit orçamentário.
Trump prometeu desregulamentação massiva. Isso pode muito bem trazer benefícios, mas o próximo presidente anseia por bajulação. Há um risco de que ele consiga acordos especiais para seus apoiadores, como Elon Musk, o homem mais rico do mundo.
PODE CONSEGUIR – Nossa esperança é que Trump consiga evitar essas armadilhas, e reconhecemos que em seu primeiro mandato ele conseguiu. Nosso medo é que durante esta presidência ele esteja no seu momento mais radical e desenfreado, especialmente se, como o presidente mais velho dos EUA, suas faculdades mentais começarem a falhar.
Tendo aprendido com Trump 1, sua equipe se empenhará para garantir que ninguém que provavelmente o conteria seja nomeado para o governo. Trump, portanto, poderá usar ao máximo seu controle do Congresso e seu mandato popular.
GANHAR DINHEIRO – Nas décadas após Franklin Delano Roosevelt, a política externa americana funcionou por meio de alianças de longa data. Em contraste, os instintos de Trump são tratar cada encontro como um acordo onde se pode ganhar dinheiro.
Ele gosta de dizer que é tão imprevisível que os adversários dos EUA ficarão intimidados demais para tentar qualquer coisa. Ele pode realmente conseguir fechar um acordo com Vladimir Putin em relação à Ucrânia que não acabe com tanques russos em Kiev.
Ele também pode conseguir pressionar o Irã e impedir a China de usar o poder militar para dominar a Ásia. Mas, se mandar quem pode, as dúvidas em relação à confiabilidade de Trump podem igualmente incitar a agressão chinesa e russa.
CUSTOS AOS ALIADOS – O que é certo é que sua imprevisibilidade imporá custos aos aliados dos EUA, especialmente na Europa. Se temerem que não poderão depender de Trump para apoiá-los se forem ameaçados, eles tomarão medidas para se proteger.
No mínimo, os aliados dos EUA precisarão gastar mais em sua própria defesa. Se eles não conseguirem reunir armas convencionais suficientes para deter o agressor local, mais deles, além do Reino Unido e da França, podem obter armas nucleares.
Parte da liderança global dos Estados Unidos se deu pelo poder do exemplo. Em sua própria política e em sua conduta internacional, eles estavam atentos aos precedentes que estavam estabelecendo. O que era notável não era que os presidentes americanos às vezes quebravam as regras, mas o quanto eles as seguiam. Com Trump, o inverso será verdadeiro. Sua vitória terá um efeito de demonstração em outros lugares.
EXEMPLO PERIGOSO – No Brasil, Jair Bolsonaro foi eleito dois anos depois que Trump venceu em 2016. Na França, Marine Le Pen agora parece uma presidente mais provável em 2027.
O movimento internacional de populistas nacionalistas que parecia estar diminuindo após 2020 será revivido, e Trump inspirará novos imitadores. Se ele usar o sistema de justiça contra seus oponentes, como prometeu, isso dará um exemplo perigoso.
A vitória de Trump mudou os Estados Unidos, e o mundo precisará entender o que isso significa. Os EUA continuam sendo o poder preeminente.
PODER ECONÔMICO – Apesar da degradação de sua política, sua economia continua a superar o mundo — pelo menos por enquanto. O país domina a inteligência artificial. É rico, e suas forças armadas são inigualáveis, mesmo que o Exército de Libertação Popular tente alcança-as.
No entanto, sem o interesse próprio esclarecido americano como princípio organizador, a temporada de caça estará aberta para os valentões. Os países serão mais capazes de intimidar seus vizinhos, econômica e militarmente, sem medo das consequências. Suas vítimas, incapazes de recorrer aos EUA em busca de alívio, estarão mais propensas a fazer concessões ou capitular. Iniciativas globais, desde o combate às mudanças climáticas até o controle de armas, acabaram de ficar mais difíceis.
Trump sem dúvida retrucaria que esse é um problema do mundo, não dos EUA. Sob ele, os americanos podem seguir com suas vidas livres do peso das responsabilidades estrangeiras. No entanto, duas guerras mundiais e o colapso ruinoso do comércio na década de 1930 dizem que os EUA não podem se dar esse luxo. Por um tempo — possivelmente por anos — os EUA podem se sair bem. Em algum momento, o mundo vai alcançá-los