Carlos Newton
O presidente Lula da Silva não gosta nem nunca gostou de Aloizio Mercadante. Fez o possível e o impossível para evitar que o economista se tornasse uma importante liderança no PT. Por isso, mandou esconder Mercadante na Fundação Perseu Abramo, o centro de estudos do partido. Na campanha eleitoral, porém, Lula teve de se valer de Mercadante, por ser o único dirigente petista com capacidade de esboçar um plano de governo.
Foi por isso – apenas por isso – que depois de eleito Lula aceitou Mercadante como condutor do processo de transição dos governos. Mas lhe negou assento no Ministério e somente o escolheu para presidir o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) na chamada undécima hora, quando já estava pegando mal o boicote ao economista.
NOVA INDÚSTRIA – Na segunda-feira, no Planalto, o dirigente do BNDES anunciou um amplo programa (Nova Indústria Brasil) para incentivar seis importantes setores. O presidente Lula ouviu calado, engoliu em seco. Quando acabou a solenidade, interpelou duramente Mercadante, indagando sobre a única sugestão que fizera – o apoio à construção naval.
O presidente do BNDES respondeu que a proposta estava incluída no programa, a ser desenvolvido em 9 anos. Lula ficou furioso e mandou Mercadante anunciar imediatamente um programa específico para a construção naval, e fim de papo.
Foi uma queda do céu ao inferno, sem escalas. Mercandante viajou para Brasília superanimado com o programa industrial, que realmente é de primeira linha, para orgulhar qualquer governo. Mas voltou ao Rio de Janeiro cabisbaixo e introspectivo, arrasado como a forma agressiva com que Lula lhe tratara.
REUNIÃO DE EMERGÊNCIA – Na terça-feira, pela manhã, reuniu a equipe, prepararam um programa emergencial, combinaram uma solenidade com a Marinha e na quarta-feira era anunciado o plano de R$ 2 bilhões para o setor naval por meio do FMM (Fundo da Marinha Mercante).
O anúncio foi feito a bordo do navio H-39, da Marinha, no Rio de Janeiro. O chamado BNDES Azul é voltado para o desenvolvimento econômico e sustentável da navegação marítima, com recursos para construção naval, inovação e descarbonização da frota naval, incentivos para a infraestrutura portuária e apoio para recursos hídricos.
É claro que R$ 2 bilhões só atendem as iniciativas básicas, e o BNDES terá de desembolsar muitos outros bilhões, mas nada disso interessa a Lula, porque ele sabe que o dinheiro vai sair de onde está e ser investido onde deveria estar.
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P.S. – Mercadante é certamente o melhor quadro do PT. Demorou a deslanchar e enfim está mostrando serviço. Mas caiu num impasse. Tem de trabalhar sem alarde, não pode aparecer muito. Todos os programas do BNDES e suas realizações terão de ser anunciados por Lula. Se Mercadante começar a aparecer no noticiário, haverá reação contra ele, porque no PT só quem pode aparecer e ganhar liderança é o próprio Lula.
P.S. 2 – Assim, Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Geraldo Alckmin estão na mesma situação – precisam mostrar serviço, mas não podem se projetar. Têm de ficar na moita, como Simone Tebet está fazendo. Essa é a regra imposta por Lula, que consegue boicotar o próprio governo. (C.N.)