Eduardo Gonçalves
Correio Braziliense
A relatora da CPI de 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), classificou como “gravíssima” a informação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro supostamente participou da elaboração de uma minuta golpista. A palamentar viu no episódio elementos que configuram o crime de abolição ao Estado Democrático de Direito.
A participação de Bolsonaro consta em um trecho da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e foi revelada pelo Globo nesta quarta-feira.
ENGENHARIA TRAÇADA — “A informação que vem à tona sobre a delação de Mauro Cid é gravíssima, pois revelaria os detalhes sobre como se daria a engenharia traçada para tentar abolir o Estado Democrático de Direito. A CPI, ao longo desses meses de investigação, já recebeu outros dados que também sustentam essa operação golpista” — afirmou a parlamentar.
Eliziane Gama deve entregar na semana que vem o relatório final da CPI atribuindo responsabilidades pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Ela não revela os nomes, mas integrantes da base do governo declaram ver elementos suficientes para pedir o indiciamento de Bolsonaro como mentor intelectual dos ataques.
Interlocutores da relatora avaliam que o caminho seria solicitar à Procuradoria-Geral da República o aprofundamento das investigações sobre a suposta participação de Bolsonaro na trama. Procurada, a defesa do ex-presidente não quis comentar porque não teve acesso ao conteúdo da delação de Cid.
DISSE O HACKER – Para destacar o papel de Bolsonaro, Eliziane relembrou o depoimento do hacker Walter Delgatti, dado à comissão. Delgatti relatou que o ex-presidente lhe pediu pessoalmente para assumir um grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, fato que Bolsonaro nega.
“São fatores importantes que exigem a ampliação de toda essa investigação” — diz ela.
Para a base governista, que tem maioria dos votos na CPI, o conteúdo da delação de Mauro Cid reforça a tese de que Bolsonaro deve ser indiciado pela comissão.
RESPONSABILIZAÇÃO — “O depoimento é alarmante. Esses atos foram praticados durante o exercício do mandato do ex-presidente. Por isso, é essencial que todos os envolvidos nesses planos antidemocráticos, incluindo o próprio ex-presidente, sejam responsabilizados perante a lei. Há possibilidade de indiciá-lo por organização criminosa, abolição ao Estado Democrático de Direito e incitação a inúmeros crimes” — disse o deputado Duarte Júnior (PSB-MA).
Também da ala governista, o deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou que a delação de Cid é “peça fundamental” para “elucidar o que foi essa tentativa de golpe e como trabalhou o entorno de Bolsonaro”.
“Além de ter conhecimento das tratativas, Bolsonaro atuou fortemente para construir, viabilizar, articular e insuflar a intentona golpista” — acusou o parlamentar do PT.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É tudo conversa fiada e jogo de cena, pois houve um acordo para blindar os militares e não incriminar ninguém. Segundo o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, houve uma reunião, na qual o ex-presidente pediu alteração na chamada minuta do golpe. Não existe prova material, somente a delação de Cid, que precisa ser corroborada por depoimentos de outros participantes da reunião. A minuta teria sido entregue a Bolsonaro por Filipe Martins, então assessor da Presidência, amigo dos filhos de Bolsonaro. (C.N.)