Carlos Newton
Em meio à confusão gerada nesta sexta-feira com as revelações da Veja, o advogado Cezar Bitencourt, que defende o tenente-coronel Mauro Cid, tentou evitar que seu cliente fosse novamente preso e procurou também a salvar a delação premiada, que ficou inteiramente inepta em função da gravação divulgada pela revista.
Cezar Bitencourt, que é especializado em Justiça Militar, emitiu uma nota à imprensa, em que buscou diminuir a importância das afirmações de Cid sobre as pressões que vem sofrendo ao depor na Polícia Federal. Segundo o advogado, a denúncia feita pelo tenente coronel foi apenas “um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando”.
NOTA DA DEFESA – Eis o texto distribuído pelo advogado Ceza Bitencourt nesta sexta-feira:
“Mauro César Barbosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador, aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios.
Referidos áudios divulgados pela revista Veja, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade.”
DALLAGNOL IRONIZA – O ex-procurador da Lava Jato e ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo-PR) ironizou a situação, ao afirmar que o tenente-coronel Mauro Cid – que atuou como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – “destruiu a credibilidade” dos trabalhos da PF (Polícia Federal) e do STF (Supremo Tribunal Federal) na investigação que envolve o antigo chefe do Executivo.
O comentário foi feito em referência aos áudios atribuídos a Cid divulgados pela revista Veja. “Como temos denunciado há anos, parece que o verdadeiro pau-de-arara do século 21 e a verdadeira tortura de presos para obter delações, como disseram os senhores Dias Toffoli e Gilmar Mendes, não estavam, como nunca esteviveram, na Lava Jato. Estavam o tempo todo no STF”, declarou Deltan em seu perfil no X (antigo Twitter).
CONCLUSÃO ÓBVIA – Ao contrário do que afirma o advogado Cezar Bitencourt, a fala de Mauro Cid destrói por completo a seriedade com que a Polícia Federal vem conduzindo seus depoimentos e liquida a delação premiada.
Além de denunciar o abuso de autoridade dos delegados federais que o interrogaram, crime com pena de detenção de um a quatro anos, envolvendo também crime de constrangimento ilegal, com mais um ano de detenção, Cid relatou uma reunião secreta entre o ministro Alexandre de Moraes e Jair Bolsonaro.
Bem, não é possível que, diante de tamanho escândalo, o ministro Moraes prenda novamente o tenente-coronel e mantenha o sigilo da íntegra das gravações dos depoimentos de Mauro Cid. Se permitir o acesso, essa simples medida demonstrará onde está a verdade, que o cidadão-contribuinte-eleitor tem direito de saber, como dizia Helio Fernandes.
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P.S. – Ao prender novamente o réu, antes de apurar a denúncia dele, o ministro Moraes agiu como um juiz parcial e virulento. Antes de prender quem faz uma denúncia de tamanha gravidade, o bom senso recomenda que sejam apurados os acontecimentos. A meu ver, Moraes tem um temperamento absolutamente descompensado. (C.N.)