Vinicius Torres Freire
Folha
Nesta semana, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva deve dizer que sua meta de poupar dinheiro em 2025 vai ser menor do que previa desde o ano passado. A meta de superávit primário vai ser menor —trata-se da diferença entre o que se arrecada e o que se gasta, afora despesas com juros.
Mesmo menos ambicioso, o objetivo será ainda assim difícil de cumprir, entre outros problemas que vão afetar o novíssimo teto móvel de gastos de Lula-Haddad.
ALTO RISCO – As contas do governo do Brasil estão em situação perigosa, rara desde que se estabeleceu um regime baseado nas ideias de meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário, ideias na prática muita vez furadas, e desde que há estatísticas comparáveis. Desde 2002.
Que perigo é esse? A taxa média de juros que incide sobre a dívida pública é alta. Não se poupa o bastante (ou nada) a fim de que se possa pagar os juros e, assim, evitar que a dívida cresça sem parar. Desde 2002, tal conjunção ruim aconteceu nos anos da Grande Recessão (2014-2016) e na epidemia.
Com o teto de gastos de Michel Temer e a recessão, a taxa de juros começou a cair rapidamente. O teto era ruim e marcado para morrer, mas conteve o aumento explosivo da dívida.
AUMENTO DA MISÉRIA – Depois do aumento de gastos da epidemia, houve a contenção de 2021 —precoce, o que causou grande aumento da miséria. Mais importante, houve uma inflação inesperada enquanto as taxas de juros eram muito baixas.
Em termos reais, a taxa de juros (implícita) da dívida ficou negativa de março de 2021 a junho de 2022. Foi um motivo importante de a dívida pública cair rapidamente do pico da Covid.
Agora, há perspectiva de juros reais altos por anos (mesmo com queda da Selic). Não há perspectiva de superávit primário relevante antes de 2026. Começa a se difundir no governo a ideia de que o próprio teto móvel de gastos de Lula 3, aprovado no ano passado, tenha de ser relaxado.
DÍVIDA DESCONTROLADA – O custo médio nominal da dívida, a taxa de juros implícita que incide sobre a dívida pública total, está em 11,2% ao ano (nos últimos 12 meses até fevereiro), uma taxa real de 6,4%. Como resultado, o setor público, o “governo”, pagou o equivalente a 6,8% do PIB em juros (R$ 747 bilhões em 12 meses, o equivalente a uns cinco anos de Bolsa Família).
Na prática, não pagou nada: fez mais dívida para rolar essa conta. Também teve de pegar emprestado para pagar as contas corriqueiras, pois tem déficit primário: mais R$ 268 bilhões em um ano. O déficit total (nominal), pois, passa de R$ 1 trilhão (9,24% do PIB, da produção anual da economia).
Desde 2002, houve déficits desse tamanho ou maiores apenas no momento excepcional da epidemia e na Grande Recessão ou por efeito dela, em 2016 ou em 2017.
TUDO AO CONTRÁRIO – Nos demais anos, a taxa de juros média da dívida era menor ou não muito maior do que a de agora. Mas havia grandes superávits primários, como sob Lula 1 e Lula 2. Pagava-se parte da conta de juros. A dívida até caiu, dado também o crescimento do PIB.
Agora, o teto móvel de gastos de Lula 3 já periclita. O “arcabouço fiscal” de Lula-Haddad permite um certo aumento real de gastos a cada ano. Mas há despesas que crescem ainda mais: Previdência (também por causa do aumento do salário mínimo), saúde e educação. O aumento dessas despesas achatará as demais (como a de investimento em obras). Haverá pressão, pois, para se relaxar o teto.
A não ser em caso de crescimento excepcional do PIB ou de impostos, inviáveis no futuro previsível, a dívida aumentará por muitos anos.
RECEITA DE CONTENÇÃO – Não há um nível de dívida a partir do qual se desencadeia necessariamente uma crise. Mas a situação é de perigo (em caso de nova rodada de aumento de juros por causa de inflação alta, por exemplo); implica crescimento econômico mais baixo.
Dívidas são contidas com combinações de crescimento econômico rápido, inflação, contenção de despesa e repressão financeira (achatamento de juros, viável apenas em certos países e em certos contextos internacionais).
O que Lula 3 vai fazer?
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Excelente artigo. É pena que Lula não consiga entender nada do que está escrito aqui. Se tentar ler a análise. não chega à décima linha. E vai responder: Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe… (C.N.)
Caro Newton,
É uma pena que você não goste de Roberto Campos ( avô). Ele nos alertou lá em 01 de julho de 1.994 quando FHC trocou a URV pelo Real. ” ” ” Deveria ter havido uma transição de meses entre a moeda velha e a nova, como foi feita no Governo Castelo Branco. Agora, só restou a arma dos juros positivos”.
Amigo Victor Feres, quem lhe disse que não gosto do Roberto Campos avô?
Viajávamos juntos toda terça-feira, às 9 horas, com o assessor dele, grande jornalista Nelson Teixeira, no DC-10 da Varig. E até trabalhei com ele na defesa da reserva de mercado na informática.
Abs.
CN
A dívida absoluta sempre aumentou, mesmo com superávit primário. Pode ter diminuída em certos períodos em relação ao PIB, quando o país cresceu bastante. Mas o déficit nominal persiste e se isso acontece a dívida aumenta. Isso em qualquer país.
Estimado CN, esse vinicius torres freire,
do alto (?) escalão dos 3829 colunistas da Fôia, é um verdadeiro pé-no-saco. Nem orando!
Um destes jornalistas que falam sobre economia disse que Haddad aumenta imposto pra juntar dinheiro pra Loola gastar.
E o Gordinho Oportunista não se faz de rogado, achando botina larga enfia dos dois pés de vez.
Qual é a razão o receio e o medo de se auditar a ” dívida pública ” ?
Não rende comi$$õe$!
Se auditarem a dívida pública, José Carlos, terão de explicar as Operações Compromissadas que enriquecem os bancos diarimente.
Abs.
CN