Carlos Newton
O polêmico e destrambelhado pastor Silas Malafaia, que comanda a igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, causou uma revolução nesse período eleitoral, ao dizer algumas verdades sobre as indecisões de Jair Bolsonaro na condução da ala política que o ex-presidente ainda lidera.
Com a sinceridade e a aspereza que caracterizam seus pronunciamentos, o líder evangélico deu entrevista à Folha de São Paulo, falando à colunista Mônica Bergamo para acusar Bolsonaro de ser covarde e ter se omitido na eleição da capital paulista, por medo de ser derrotado por Pablo Marçal (PRTB), caso o ex-coach vencesse o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).
BOLSONARO – Malafaia ultrapassou todos os limites da amizade que diz ter com Bolsonaro e levou-o ao ridículo, ao revelar que o ex-presidente chorou durante cinco minutos ao conversarem por telefone, quando teve medo de ser preso, porque o ministro Alexandre de Moares já mandara prender vários auxiliares de seu governo.
As porradas de Malafaia foram tão bem dadas que nem coube resposta. Bolsonaro ficou calado sobre as críticas. “Meu Posto Ipiranga não tem gasolina, só tem água”, afirmou o ex-presidente, em rápida conversa por chamada de vídeo com o colunista Igor Gadelha, do portal Metrópoles, quando Bolsonaro confirmou não ter respondido às várias mensagens de WhatsApp enviadas a ele por Malafaia no final da campanha eleitoral.
Seus filhos parlamentares, sempre tão valentes, também se pronunciaram com a maior cautela. Mais cedo, o senador Flávio e o deputado Eduardo Bolsonaro já tinham emitido notas evitando confronto com Malafaia e dizendo que “roupa suja se lava em casa, e não em público”.
DIZEM OS FILHOS – “O presidente Bolsonaro fez o que tinha que ser feito, no momento certo, e foi decisivo para o cenário em São Paulo. Se não fosse Bolsonaro, Ricardo Nunes não estaria no segundo turno. Assim como foram decisivos Tarcísio e Malafaia, cada um na sua função, como um time de futebol, que não ganha só com atacantes. A fase agora é de distensionamento e, sem orgulho e vaidade, vamos juntos vencer a extrema esquerda em São Paulo. 2026 já começou e precisamos ser mais racionais que emotivos”, disse nota assinada por Flávio.
Eduardo, por sua vez, afirmou que Malafaia “é uma pessoa que eu considero e tem muita importância para diversas pautas conservadoras, notoriamente a anistia dos presos políticos”.
“Sem ele, muito disso não teria ido adiante. Se ele nos critica hoje por algum motivo, ainda que eu possa entender absurdas certas palavras usadas por ele, cabe a mim ter a maturidade de interpretar e resolver com ele internamente. Sigo desejando saúde e tudo de bom a ele”, disse o deputado.
MALAFAIA RESPONDE – Após a entrevista, Malafaia afirmou à coluna de Igor Gadelha, que permanece sendo aliado e apoiador de Bolsonaro, mas ressaltou que não é “bolsominion” nem “alienado”.
“Continuo apoiando o Bolsonaro, o maior líder da direita. Não vou julgá-lo definitivamente por um ato errado. Ele tem uma história. Ele continua tendo meu apoio. Só que eu não sou bolsominion. Só que eu não sou alienado, sou aliado de primeira hora. Ninguém, nesses dois últimos anos, defendeu tanto Bolsonaro e se arriscou tanto por ele quanto eu. Tenho muita moral para falar”, afirmou o pastor paulista.
Em tradução simultânea, Malafaia está anunciando que ele e os outros líderes evangélicos não estão a serviço de nenhum partido. Do mesmo jeito que já apoiaram Lula e Bolsonaro, os pastores estão livres para aderir a outro candidato, que, no caso, poderia ser o governador paulista Tarcísio de Freitas, que Malafaia tanto exaltou na entrevista incendiária.
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P.S. – Esse é o tom da estratégia dos evangélicos. Eles ainda não têm um candidato próprio, mas vão escolher um para chamar de seu na eleição de 2026, que já está quase chegando. O resto é folclore, como dizia nosso amigo Sebastião Nery. (C.N.)