Carlos Nejar identifica uma ameaça de devastação poética neste mundo

CARLOS NEJAR, NOSSO POETA-MOR

Carlos Nejar é um dos maiores poetas gaúchos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, ficcionista e poeta gaúcho Luís Carlos Verzoni Nejar, no “Poema Devastação”, membro da Academia Brasileira de Letras, fala da existência de um fenômeno destrutivo nas coisas, nas águas, nas plantas e nos seres, que parece não ter mais fim.

POEMA DA DEVASTAÇÃO
Carlos Nejar

Há uma devastação
nas coisas e nos seres,
como se algum vulcão
abrisse as sobrancelhas
e ali, sobre esse chão,
pousassem as inteiras
angústias, solidões,
passados desesperos
e toda a condição
de homem sem soleira,
ventura tão curta,
punição extrema.

Há uma devastação
nas águas e nos seres;
os peixes, com seus viços,
revolvem-se no umbigo
deste vulcão de escamas.

Há uma devastação
nas plantas e nos seres;
o homem recurvado
com a pálpebra nos joelhos.
As lavas soprarão,
enquanto nós vivermos.

A romântica irrealidade poética de Cecilia Meireles

Cecília Meireles: Obras e melhores poemas da jornalista brasileira - THMais  - Você por dentro de tudoPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, jornalista e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “Irrealidade”, sente que não existe passado nem futuro, pois tudo que ela compreende está no presente e ela sorri diante da ausência do amado.

IRREALIDADE
Cecília Meireles

Como num sonho
aqui me vedes:
água escorrendo
por estas redes
de noite e dia.
A minha fala
parece mesmo
vir do meu lábio
e anda na sala
suspensa em asas
de alegoria.

Sou tão visível
que não se estranha
o meu sorriso.
E com tamanha
clareza pensa
que não preciso
dizer que vive
minha presença.

E estou de longe,
compadecida.
Minha vigília
é anfiteatro
que toda a vida
cerca, de frente.
Não há passado
nem há futuro.
Tudo que abarco
se faz presente.

Se me perguntam
pessoas, datas,
pequenas coisas
gratas e ingrata,
cifras e marcos
de quando e de onde,
– a minha fala
tão bem responde
que todos crêem
que estou na sala.

E ao meu sorriso
vós me sorris…
Correspondência
do paraíso
da nossa ausência
desconhecida
e tão feliz.

Hoje, em quero a rosa mais linda que houver, a primeira estrela que vier…”

Por Causa de Você Tom Jobim e Dolores Duran - Letra e Música

Dolores Duran, grande compositora

Paulo Peres
Poemas & Canções

A cantora e compositora carioca Adiléa da Silva Rosa, conhecida como Dolores Duran (1930-1959), foi uma das maiores representantes do samba-canção.

“A Noite do Meu Bem” é talvez o maior sucesso de Dolores Duran, em cuja letra, composta em estrofes de três versos, há um eu-lírico esperando ansiosamente o seu amor, para uma noite romântica, bela e apaixonada, com sentimentos puros expostos, até que no fim, cansada de esperar, a personagem se mostra desesperançada e amargurada.

A música foi composta e lançada, em 1959, por Dolores Duran, pela gravadora Copacabana.

A NOITE DO MEU BEM
Dolores Duran

Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero, o alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ai eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Ai! como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que quero lhe dar.     

Um olhar deslumbrante que o poeta Raul de Leoni não esqueceu

Leoni morreu jovem, de tuberculose

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta Raul de Leoni (1895-1926), nascido em Petrópolis (RJ),  foi o  maior realce na última fase do simbolismo, e justamente considerado como uma das figuras mais notáveis do soneto brasileiro de todos os tempos.

Ele expressa nos versos de “História Antiga” tudo quanto um olhar pode acarretar pela vida afora: otimismo, inocência, dúvida, indiferença, amor, fantasia, incompreensão e demora para dizer algo.

HISTÓRIA ANTIGA
Raul de Leoni

No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi… um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era… Não sabia…

Desde então, transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para frente…

Nunca mais nos falamos… vai distante…
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,

E eu sinto, sem, no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la…

Um noturno de Chopin, que enlevava o amor de Pedro Nava

Pedro Nava na Companhia das Letras | Autores e Livros

Pedro Nava, poeta e memorialista

Paulo Peres
Poemas & Canções

O médico, escritor e poeta mineiro Pedro da Silva Nava (1903-1984), no poema “Noturno de Chopin”, fala da noite em Belo Horizonte, onde a música enlevava seu grande amor.

NOTURNO DE CHOPIN
Pedro Nava

Eu fico todo bestificado olhando a lua
enquanto as mãos brasileiras de você
fazem fandango no Chopin

Tem uma voz gritando lá na rua:
Amendoim torrado
tá cabano tá no fim…
Coitado do Chopin! Tá acabando tá no fim…

Amor: a lua tá doce lá fora
o vento tá doce bulindo nas bananeiras
tá doce esse aroma das noites mineiras:
cheiro de gigilim manga-rosa jasmim.

Os olhos de você, amor…
O Chopin derretido tá maxixe
meloso
gostoso
(os olhos de você, amor…)
correndo que nem caldo
na calma da noite belo horizonte.

Um bolero imortal, na genialidade de João Bosco e Aldir Blanc

João Bosco e Aldir Blanc

João Bosco e Aldir Blanc, no início da parceira

Paulo Peres
Poemas & Canções

O bolero “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá” é considerado uma de nossas músicas mais sensuais, cuja letra do psiquiatra, escritor e compositor carioca Aldir Blanc Mendes (1946-2020) refletia a arte de amar tropical: quente, dolente, de pele suada etc.  O bolero “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá” foi gravado por Elis Regina no LP Elis, em 1974, pela Philips, e fez enorme sucesso.

DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ
João Bosco e Aldir Blanc

Sentindo frio em minh’alma
te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
são dois pra lá, dois pra cá

Meu coração traiçoeiro
batia mais que um bongô
tremia mais que as maracas
descompassado de amor

Minha cabeça rodando
rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
e não me pergunte mais

A tua mão no pescoço
as tuas costas macias
por quanto tempo rondaram
as minhas noites vazias

No dedo um falso brilhante
brincos iguais ao colar
e a ponta de um torturante
band-aid no calcanhar

Eu hoje me embrigando
de uísque com guaraná
ouvi tua voz murmurando
são dois pra lá, dois pra cá

A verdade é que ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais…

Prato Decorativo Belchior com Suporte para Parede | Elo7

Belchior, um dos maiores compositores brasileiros

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor cearense Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, na letra de “Como Os Nossos Pais”, fala da eterna discussão presente na relação entre pais e filhos, ou seja, quando somos jovens sempre achamos que nossos pais estão errados na educação que recebemos, porém quando crescemos e temos filhos geralmente repetimos o mesmo que nossos pais faziam conosco.

“Como Os Nossos Pais” é um hino à juventude que amadurece percebendo que o mundo é uma constante, porque é feito de homens que se acomodam e de outros que lutam por mudanças. A música foi gravada por Belchior no LP Alucinação, em 1976, pela Polygram.

COMO OS NOSSOS PAIS
Belchior

Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos…

Quero lhe contar
Como eu vivi
E tudo o que
Aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
E eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa…

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens…

Para abraçar meu irmão
E beijar minha menina
Na rua
É que se fez o meu lábio
O seu braço
E a minha voz…

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção
Vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
E eu sinto tudo
Na ferida viva
Do meu coração…

Já faz tempo
E eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança
É o quadro que dói mais…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como Os Nossos Pais…

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências…
As aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou enganando…

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem…

E hoje eu sei
Eu sei!
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Está em casa
Guardado por Deus
Contando seus metais…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais…

Vinicius transformava amor em poesia e recitava seu verbo no infinito

40 ideias de Vinicius de Moraes | pensamentos, citações, palavrasPaulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata, advogado, jornalista, dramaturgo, compositor e poeta Marcus Vinícius de Moraes (1913-1980) foi um poeta essencialmente lírico, tanto que afirmava esquecer tudo ao encontrar um novo amor, para vivê-lo até a morte, conjugando o “Verbo no Infinito”.

VERBO NO INFINITO
Vinícius de Moraes

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor: nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar.

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito.

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito…

No Dia da Consciência Negra, a presença eterna de Zumbi dos Palmares

Consciência Negra: conhecer o passado para projetar um futuro diferente | CRT-RNCarlos Newton

Símbolo da luta negra contra a escravidão e pela liberdade de seu povo, Zumbi dos Palmares foi morto no dia 20 de novembro de 1695. A data de seu falecimento é lembrada nacionalmente como o Dia da Consciência Negra, um momento de reflexão sobre a relevância da população africana e seu impacto nos mais diversos campos da cultura brasileira, como política, cultura, ciência e religião.

Neste sentido, o advogado, jornalista, analista judiciário aposentado do Tribunal de Justiça (RJ), compositor, letrista e poeta carioca Paulo Roberto Peres, criou letra de “Atabaque”, que lembra o tempo da escravidão e foi musicada por Jorge Laurindo.

ATABAQUE
Jorge Laurindo e Paulo Peres

Este bocejo da noite é banzo
Engasgando profecias na senzala
Como as mãos da África, África,
Silenciou no adeus

“Atabaqueia” atabaque distante:
Axé, agô-iê, axé com fé….

Esta força/raça canta e luta
Como Zumbi nos Palmares lutou.
Este gemido do açoite na alma
Qual sentinela de preço vil
Moldurou o libertar futuro

Era rei virou escravo
Quão errante terra branca
Soluçou-lhe cativeiro

Poeticamente, o poeta Waly Salomão assistia à vida copiar a arte

Tribuna da Internet | Ritmo era o que mais desejava para seu dia-a-dia o  poeta baiano Waly SalomãoPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta baiano Waly Dias Salomão (1943-2003), uma das figuras mais fecundas e heterogêneas da vanguarda brasileira, explica em forma de poema por que “A Vida é Cópia da Arte”.

A VIDA É CÓPIA DA ARTE
Waly Salomão

Areia
Pedra
Ancinho
Jardins de Kioto

Alucinado pelo destemor
De morrer antes
De ver diagramado este poema
Ou eu trago Horácio pra cá
Pra Macaé-de-Cima
Ou é imperativo traí-lo
E ao preceito latino de coisa alguma admirar

Sapo
Vaga-lume
Urutau
Estrela

Nestes ermos cravar as tendas de Omar
Ler poesia como se mirasse uma flor de lótus
Em botão
Entreabrindo-se
Aberta

Anacreonte
Fragmentos de Safo
Hinos de Hörderlin
Odes de Reis
El jardín de senderos que se bifurcan
Jardim de Epicuro
Éden
Agulhas imantadas & frutas frescas  para a vida diária.

Um desesperado poema de amor, na inspiração de Adalgisa Nery

FCO-2940 - Retrato de Adalgisa Nery | Obras | Portinari

Adalgisa, retratada por Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções

A jornalista e poeta carioca Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (1905-1980), mais conhecida como Adalgisa Nery, por seu casamento como pintor Ismael Nery, criou o “Poema da Amante”, em que faz ardentes confissões amorosas.

POEMA DA AMANTE
Adalgisa Nery

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

O amor distante, a meio pau, na poesia ousada de Adélia Prado

Frases, - Boa Noite !!! 🌙🌟 “Estremecerei de susto até dormir. E no  entanto é tudo tão pequeno. Para o desejo do meu coração, o mar é uma  gota.” Adélia Prado (1935) #Paulo Peres
Poemas & Canções

A professora, escritora e poeta mineira Adélia Luzia Prado de Freitas, no poema “A Meio Pau”, fala sobre um amor distante e não correspondido, que não aconteceu.

A MEIO PAU
Adélia Prado

Queria mais um amor. Escrevi cartas,
remeti pelo correio a copa de uma árvore,
pardais comendo no pé um mamão maduro
– coisas que não dou a qualquer pessoa –
e mais que tudo, taquicardias,
um jeito de pensar com a boca fechada,
os olhos tramando um gosto.
Em vão.
Meu bem não leu, não escreveu,
não disse essa boca é minha.
Outro dia perguntei a meu coração:
o que há durão, mal de chagas te comeu?

Não, ele disse: é desprezo de amor.

João amava Teresa, que amava Raimundo que amava Maria, que não amava ninguém…

A minha vontade é forte, porém minha... Carlos Drummond de Andrade - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Coligações, campanhas, promessas, pesquisas e debates com acusações, até certo ponto criminosas, trocadas entre os políticod são elementos que, ironicamente, lembram-me muito o poema “Quadrilha”, do bacharel em farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira.

Detalhe: décadas depois, Chico Buarque praticamente repetiu o poema de Drummond na música Flor da Idade, sem registrar a parceria.

QUADRILHA
Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili

que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos,
Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

####  ####
Na letra de “Flor da |Idade”, Chico Buarque termina a canção incluindo os seguintes versos:

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo que amava Juca que amava Dora que amava
Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha

Não basta um grande amor para fazer poemas, dizia Affonso Romano

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O jornalista e poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna (1937-2025), no poema “Arte Final”, explica que não é somente um imenso amor que nos leva a poetizar.

Tribuna da Internet | Affonso Romano confronta seus desejos poéticos com  essa dura realidadeARTE FINAL
Affonso Romano de Sant’Anna

Não basta um grande amor
para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
que o amor da gente.

O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.
Uma coisa é a letra,
e outra o ato,
quem toma uma por outra
confunde e mente.

Conheça um grande compositor, que já teve mulheres de todos os tipos

Crítica: Toninho Geraes capricha mais no meio do que na mensagem - Jornal O  Globo

Toninho Geraes é criador de grandes sucessos

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor mineiro Antônio Eustáquio Trindade Ribeiro, conhecido como Toninho Geraes, revela na letra de “Mulheres” que, após ter vários relacionamentos, sem encontrar a felicidade em nenhuma delas, finalmente, encontrou a pessoa certa que um dia sonhou ter para si. Este samba foi gravado por Martinho da Vila no CD “3.0 Turbinado ao vivo”, em 1999, pela Sony Music, fazendo enorme sucesso.

MULHERES
Toninho Geraes

Já tive mulheres de todas as cores
De várias idades. de muitos amores.
Com umas até certo ponto fiquei,
Com outras apenas um pouco me dei.

Já tive mulheres do tipo atrevida,
Do tipo acanhada, do tipo vivida,
Casada, carente, solteira e feliz
Já tive donzela e até meretriz.

Mulheres cabeças e desequilibradas
Mulheres confusas, de guerra e de paz,
Mas nenhuma delas, me fez tão feliz
Como você me faz.

Procurei, em todas as mulheres a felicidade
Mas eu não encontrei fiquei na saudade
Foi começando bem, mas tudo teve um fim.

Você é o sol da minha vida, a minha vontade,
Você não é mentira, você é verdade,
É tudo que um dia eu sonhei pra mim!

O desesperado amor de Murilo Mendes, que leva o poeta ao fanatismo

Mendes, retratado pelo pintor Ismael Nery

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O notário e poeta mineiro Murilo Monteiro Mendes (1901-1975), no poema “Fanático”, expõe seu exacerbado amor por uma mulher, que o leva ao fanatismo.

POEMA DO FANÁTICO
Murilo Mendes

Não bebo álcool, não tomo ópio nem éter,
Sou o embriagado de ti e por ti.
Mil dedos me apontam na rua:
Eis o homem que é fanático por uma mulher.

Tua ternura e tua crueldade são iguais diante de mim
Porque eu amo tudo o que vem de ti.
Amo-te na tua miséria e na tua glória
E te amaria mais ainda se sofresses muito mais.

Caíste em fogo na minha vida de rebelado.
Sou insensível ao tempo – porque tu existes.
Eu sou fanático da tua pessoa.

Da tua graça, do teu espírito, do aparelhamento da tua vida.
Eu quisera formar uma unidade contigo
E me extinguir violentamente contigo na febre da minha, da tua, da nossa poesia.

“Acorda patativa, vem cantar, relembra as madrugadas que lá vão…”

Quem foi Vicente Celestino, voz famosa da música brasileira | VEJA SÃO PAULO

Celestino, o maior galã de sua época

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor (tenor), ator e compositor carioca Antônio Vicente Felipe Celestino (1894-1968) lançou um estilo caracterizado pelo romantismo exacerbado, comovendo e arrebatando um grande público durante a primeira metade do século XX, através do teatro, do rádio, de discos e do cinema nacional.

Esta característica do romantismo embeleza a letra de “Patativa”, valsa de Vicente Celestino gravada pelo próprio, em 1937, pela RCA Victor. “Patativa” é o nome de uma espécie de pássaro existente no Brasil, que tem um canto muito bonito e variado. A partir do sucesso da valsa de Celestino, o termo “patativa” passou a ser atribuído às pessoas de bela voz.

PATATIVA
Vicente Celestino

Acorda patativa, vem cantar
Relembra as madrugadas que lá vão
E faz a tua janela o meu altar
Escuta a minha eterna oração

Eu vivo inutilmente a procurar
Alguém que compreenda o meu amor
E vejo que é destino o meu sofrer
É padecer, não encontrar
Quem compreenda o trovador

Eu tenho n’alma um vendaval sem fim
E uma esperança que hás de ter por mim
O mesmo afeto que juravas ter
Para que acabe este meu sofrer
Eu sei que juras cruelmente em vão
Eu sei que preso tens o coração
Eu sei que vives tristemente a ocultar
Que a outro amas, sem querer amar

Mulher, o teu capricho vencerá
E um dia tua loucura findará
A Deus, a Deus, minha alma entregarei
Se de outro fores, juro morrerei
Amar, que sonho lindo, encantador
Mais lindo por quem leal nos tem amor
E tu tens desprezado sem razão
A mim que choro e busco em vão
O teu ingrato coração.

Pensem na Rosa de Hiroshima: sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Paulo Peres
Poemas & Canções

O diplomata, advogado, jornalista, dramaturgo, compositor e poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), no poema “Rosa de Hiroshima”, chama à atenção para a barbárie da guerra, sem esquecer as consequências da estupidez (da rosa radioativa) que mata a todos. A mensagem é direta, a fim alertar e despertar consciências para a liberdade do desejo de viver.

Rosa de Hiroshima foi musicada por Gerson Conrad e gravada no primeiro e antológico LP que leva o nome do Secos & Molhados, em 1973, pela Continental.

ROSA DE HIROSHIMA
Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas

Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária

A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

Uma canção especial, para salientar a beleza das montanhas

Coragem (Marcelo Soares e Johnny do Matto). - YouTube

Johnny do Matto, cantor e compositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e poeta  João Batista Gomes do Amaral, natural de Campos dos Goytacazes (RJ), mais conhecido como Johnny do Matto, tem mais de duzentas músicas, entre elas, “Degraus Para As Nuvens”, que mostra a sua alegria de estar e encontrar amigos pelas montanhas das cidades mencionadas na letra. Esta música foi gravada pelo grupo Cambada Mineira, em 2000, no CD Cambada Mineira 2, produção independente.

DEGRAUS PARA AS NUVENS
Johnny do Matto

Nunca me falta alegria
Quando eu estou na montanha
Nunca me faltam amigos
Pra abraçar

Quero morar
Em São Tomé das Letras, Sana,
Maringá, Mauá, Maromba,
Em São Pedro lá da Serra!
Também na serra do Bocaina,
Ouro Preto, Tiradentes, Mirantão e no Vale do Pavão.

As coisas que rolam na serra,
São fortes como suas pedras,
Ficam gravadas em tantos corações!

Vou viajar
Pra Pouso Alegre, pra Serrinha,
Em Floriano as ruazinhas
São tão lindas de se olhar e andar.
Santa Isabel, Conservatória, Itatiaia,
Japuíba, Papucaia,
A noite em Maria da Fé.

As coisas que rolam na serra,
São fortes como suas pedras,
Ficam gravadas em tantos corações!

Se Roberto Carlos quiser falar com Deus, tem de consultar Gilberto Gil?

Gilberto Gil canta com Roberto Carlos e faz homenagem a Preta Gil em último  show em SP - Novabrasil

Roberto Carlos e Gilberto Gil são grandes amigos

Paulo Peres
Poemas & Canções

Em 1981, Roberto Carlos pediu uma canção a Gilberto Gil, para gravar. “Do que eu vou falar?” – perguntou-se Gil. “Ele é tão religioso… E se eu quiser falar de Deus? E se eu quiser falar de falar com Deus?”

Com esses pensamentos e inquirições,  Gil deu início a uma exaustiva enumeração: ‘Se eu quiser falar com Deus, tenho que isso, que aquilo, que aquilo outro’. E saiu de casa. À noite, voltou e organizou as frases em três estrofes.

Roberto não gravou, porque sua concepção de Deus é diferente. Elis Regina e o próprio Gil gravaram. Hoje em dia, mais de três décadas depois, Gil é pouco religioso, mas de vez em quando reza um “Pai Nosso”, por via das dúvidas.

SE EU QUISER FALAR COM DEUS
Gilberto Gil

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar